Categorias
Sem categoria

Romário e paixão – Como o sentimento apaixonado pode superar as limitações biológicas

Há pouco mais de um ano em um artigo sobre envelhecimento e longevidade no futebol, comentávamos que em 2007 Romário estaria ainda, aos 41 anos de idade, em sua busca obstinada pela feitura do milésimo gol.
 
E isto ocorreu, finalmente, no último dia 20 de maio, no Estádio do Vasco em São Januário no Rio de Janeiro, onde o atleta começou sua vitoriosa carreira.
 
Tenho alguns amigos que se dizem cansados em ouvir falar em Romário e sua contagem própria para alcançar a marca dos mil gols, até agora só ultrapassada pelo incomparável Pelé.
 
De fato, quem acompanha o futebol de perto sabe que Romário já não consegue mais empolgar o torcedor pela sua velocidade, potência e habilidade que o caracterizou ao desfilar seu talento por 10 equipes pelo mundo afora, além, é claro, da seleção brasileira, em uma carreira que dura já mais de 20 anos.
 
O que não se pode negar, entretanto, é a beleza deste jovial sentimento apaixonado que Romário demonstra, ao longo do tempo, pelo futebol.
 
Com inteligência, maturidade, equilíbrio, autoconfiança, mas, sobretudo com uma enorme paixão, o Baixinho consegue superar as dificuldades e limitações biológicas impostas pelo tempo de forma extraordinária.
 
Como alguém já disse, a paixão é um sentimento mágico que torna nossas ações mágicas e nos permite alcançar objetivos também mágicos.
 

Este é um dos legados que nos deixa Romário. Ele nunca foi considerado um modelo de profissional exemplar. E talvez o gol 1.000 não tenha sido exatamente o gol 1.000. Mas acho que isso é o que menos importa. Sua paixão pelo que faz, isso sim é exemplar e merece ser comemorado.

 

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Imagem também é informação

Muitas vezes imaginamos que o jornalismo compreende apenas o trabalho do repórter, que vai atrás da informação, entrevista a fonte, relata uma história. Mas, desde sempre, além do trabalho de apuração da notícia, existe um outro tipo de jornalismo, que é aquele produzido por fotógrafos e cinegrafistas.
 
A imagem é, sem dúvida alguma, informação, e dessa forma pode ser compreendida como jornalismo. E de fato é. Sempre temos uma imagem que consegue captar um momento único, que consegue fazer com que a informação seja transmitida sem o auxílio de qualquer outro recurso, seja ele uma entrevista, uma legenda, um relato.
 
Mas a imprensa, principalmente a que cobre o futebol brasileiro, tem se especializado cada vez mais em ocultar algumas informações dos seus telespectadores. Especialmente quando esse tipo de informação tem de ser transmitida por imagens.
 
Em nome de seu padrão de jornalismo, a Globo tem como obrigação não citar os nomes de marcas que investem em patrocínio. A regra não vale apenas para o esporte. Todo o jornalismo da casa é proibido de falar o nome de empresas que patrocinam alguma coisa. O próprio convidado de programas como o “Jô Soares” têm sua entrevista editada para que não seja falado o nome do patrocinador de uma peça teatral, por exemplo.
 
Da mesma forma, a emissora tenta impedir que as marcas se aproveitem de sua enorme audiência para fazerem promoções. Com isso, a Globo também levou a seus câmeras a obrigação de ocultar as marcas que aparecem em backdrops de entrevistas, por exemplo.
 
Como a Globo é a dona do jornalismo de maior qualidade da TV brasileira, o modelo que ela criou no relacionamento com o esporte acabou fazendo com que essa regra se expandisse para todas as outras emissoras do país.
 
Só que, ultimamente, a criatividade dos departamentos de marketing tem feito com que os cinegrafistas sofram para manter intacto o “padrão Globo de qualidade”. E, nessa disputa, quem mais sofre é o telespectador.
 
Na última quarta-feira, após o empate do Santos contra o América, no México, o goleiro Fábio Costa se posicionou para dar entrevista, ainda no gramado do estádio. Prontamente, uma elegante mulher, vestida com a marca da cerveja Corona, patrocinadora da equipe mexicana, se colocou atrás de Fábio Costa. O objetivo não era ela aparecer na TV, mas sim a marca da cerveja, que inclusive tem baixíssima participação no mercado brasileiro.
 
Em nome de seu padrão de jornalismo, o cinegrafista da Globo tratou de fechar a câmera ainda mais no rosto de Fábio Costa, na tentativa de esconder a marca da cervejaria. O que se viu, a partir daí, foi um rosto distorcido do goleiro santista, enquanto a garota no fundo ficava com o boné mostrando apenas uma parte da marca mexicana.
 
A imagem, porém, não transmitia qualquer informação. Para quem via de relance, não era possível sequer saber direito quem era o entrevistado. E, para aqueles que viram a cena desde o início, ficou óbvia a tentativa de esconder a marca da cerveja, o que indiretamente ajudou a marca a ser reconhecida.
 
No final, a estratégia de burlar as marcas em nome do bom jornalismo mostrou-se mais eficiente para o departamento de marketing do que para o telespectador. Mas o trabalho não deveria ser pensando no bem do telespectador?

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Sobre Clubes-Empresa

De um modo geral, impera um sentimento no futebol brasileiro que a salvação para os clubes é a transformação do status de associação desportiva em empresa ou, no caso, em clube-empresa.
 
Não sou jurista e também não sei muito sobre os diversos aspectos legais que envolvem tal transformação. Porém, isso não impede que tal transformação não possa ser analisada sob um aspecto mais amplo.
 
Aparentemente, a grande questão que permeia a discussão é sobre quem incide a responsabilidade pela suposta má administração de boa parte das maiores organizações esportivas do país, que na sua maioria funcionam quase que exclusivamente em razão do futebol.
 
Confesso que não consigo entender exatamente por que uma empresa seria melhor que um clube nesse aspecto.
 
Tudo bem que uma associação desportiva tenha lá diversos benefícios fiscais e tudo mais, mas não são todas as associações, acho, que possuem dívidas e cometem irresponsabilidades ficais. Assim como as empresas brasileiras não são necessariamente um exemplo de comprometimento e responsabilidade social.
 
Talvez aí esteja o ponto mais importante.
O problema, possivelmente, está muito menos na característica societária da organização do que nas ações daqueles que possuem o controle dela.
 
Quantas empresas você conhece que já faliram?
Quantas empresas você conhece que praticam atos condenáveis e irresponsáveis?
 
Não são poucas, imagino.
Nem por isso, elas deixam de existir no Brasil.
Nem por isso, seus acionistas são presos.
Tal qual acontece com as associações desportivas.
 
Pra piorar, ao se transformar em empresas, os clubes se fecham em si.
Só entra quem for convidado.
E olhe lá.
 
Tudo bem que isso também não acontece no Brasil. Boa parte dos clubes não possui liberdade associativa. Mas alguns, grandes, possuem.
Acabar com a possibilidade de se vincular a uma associação esportiva, e eventualmente poder participar do controle da mesma, seria um crime contra a liberdade do torcedor.
 
Uma grande crítica que se faz a clubes europeus que viraram empresas é a falta de interação entre eles e o seu público. Questiona-se, e muito, modelos como o do Manchester United, por exemplo. Um clube, argumenta-se, não é de uma só pessoa, e deve sempre existir a possibilidade do mínimo controle pelo seu torcedor. Pelo menos o direito a voto. Coisa que não existe numa empresa.
 
O debate sobre esse assunto é muito extenso e não é limitado ao que aqui foi exposto, tampouco àquilo que você normalmente lê.
Prometo que volto abordar esse assunto caso, é claro, você ache necessário.
 
Porém, tal transformação não pode ser vista de maneira simplista e descabida.
É preciso ponderar os prós e contras de cada situação.
Afinal, são coisas desse tipo que podem mudar os rumos do futebol nacional, para pior ou para melhor.
 
É preciso parar pra pensar.
É preciso parar pra analisar.
E é preciso, de uma vez por todas, parar de achar que o Manchester United serve de exemplo pra alguma coisa.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Kaká, Ronaldinho Gaúcho e o não a seleção

Em 1880, o cubano e genro de Karl Marx, Paul Lafargue publicou um texto clássico denominado “O Direito à Preguiça”, uma crítica contundente ao regime capitalista.
 
Os recentes pedidos de dispensa por parte dos atletas Kaká e Ronaldinho Gaúcho da Seleção Brasileira que irá disputar a Copa América 2007 nos próximos meses de junho e julho, provocaram algumas críticas e comentários questionando a atitude desses dois craques brasileiros e me fizeram lembrar deste ensaio.
 
Lafargue no final do século XIX queria combater os exageros do trabalho. Havia trabalhador que chegava a trabalhar 14, 15 e até 16 horas por dia. Um verdadeiro absurdo na opinião deste médico e militante socialista. Defendia que o ideal seria trabalhar cerca de 3 ou 4 horas por dia.
 
Na verdade um jogador de futebol, em média, não treina muito mais do que 3 ou 4 horas por dia. Entretanto a alta competitividade que cerca o futebol profissional neste século XXI exige muito mais de cada atleta do que as poucas horas que ficam dentro do campo. É preciso cuidados especiais com a alimentação, com o repouso, com a cabeça para enfrentar a enorme pressão e cobranças que vem de toda a parte, além claro das preocupações com inúmeros compromissos que cercam o profissionalismo hoje em dia.
 
Portanto, nada mais natural do que respeitar o direito que um jogador de futebol, famoso ou não, tem de usufruir de tempos em tempos de um merecido descanso ou férias, sem qualquer tipo de moralismos ou inveja.
 
O direito ao lazer, o direito ao ócio, ou se quiser o direito à preguiça é um direito de qualquer trabalhador. Por que não de um jogador de futebol?   

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

O poder do microfone

Uma das máximas que consagrou a imprensa mundialmente é aquela referente ao poder que o microfone exerce na vida das pessoas. Uma frase mal-colocada a um microfone pode, certamente, arruinar o autor da entrevista.
 
No futebol, a emoção que contagia uma partida acaba sendo um prato cheio para que o microfone passe a ter ainda mais poder na vida do esporte. Declarações repletas de emoção acabam sendo interpretadas de forma errônea ou, mais recentemente, servem de prova para julgar e condenar um atleta que fere o comportamento desportivo.
 
Na última quinta-feira, porém, o técnico Vanderlei Luxemburgo, do Santos, levou ao pé da letra o conceito do poder do microfone. Na entrevista coletiva para a imprensa após a suada vitória sobre o Caracas, assegurando vaga nas quartas-de-final da Copa Libertadores, Luxemburgo usou o microfone para protestar.
 
Após ser questionado sobre o jogo por um repórter da ESPN Brasil, Luxemburgo usou o momento que tinha para falar para abrir a boca contra um comentarista da emissora. Sem citar nomes, simplesmente aproveitou a presença de um repórter da ESPN para reclamar publicamente de críticas que lhe são feitas durante programas do canal.
 
A resposta ao repórter não foi feita. O protesto, também, soou como oportunismo barato do comandante santista, sem certamente surtir o efeito esperado. Afinal, as críticas não vão cessar, muito menos após uma reclamação pública contra elas.
 
O microfone tem poder, sem dúvida alguma. Mas esse poder só consegue ser efetivo quando usado com inteligência. Luxemburgo não soube ter calma para se comportar como o devido na entrevista coletiva. Seria mais simples se o comandante santista tivesse deixado para conversar com o repórter após a entrevista, tentando encontrar uma solução para o impasse. Uma resposta em público só serve para fomentar a antipatia.
 
O preço da vitória
 
Santos campeão paulista e classificado para as quartas-de-final da Libertadores. Grêmio campeão gaúcho e também com vaga nas quartas do torneio continental. Atlético-MG campeão mineiro e eliminado polemicamente na Copa do Brasil.
 

Das previsões catastróficas feitas neste espaço na última semana, só mesmo a do Flamengo, que era quase caçapa cantada, se concretizou. Mostra de que o treinador é que sabe mesmo quais são os limites de sua equipe e qual jogador pode render mais ou menos. O jornalista pode até ter uma boa visão de fora de campo. Mas, dentro dele, quem sabe de todos os detalhes, sem qualquer dúvida, é o treinador.
 

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

O Tapetão Inglês

Quando o West Ham anunciou a contratação de Tevez e Mascherano, no apagar das luzes da janela de transferência européia de verão, o mundo do futebol foi pego de surpresa. Afinal, ninguém esperava que os jogadores argentinos do fundo internacional MSI que atuavam no Corinthians do Brasil fossem parar num clube mediano da mais rica liga nacional de clubes do planeta, a Premier League inglesa. Um sinal da forte internacionalização do futebol mundial.
 
Depois de um começo conturbado, as coisas começaram a se ajeitar para os dois argentinos. Após apenas alguns jogos pelo West Ham, Mascherano foi repassado ao Liverpool, onde acabou assumindo a posição de titular e chegando à final da Liga dos Campeões. Tevez, por sua vez, permaneceu em Londres e assumiu posição de destaque da equipe, tendo sido inclusive escolhido pela torcida como o melhor jogador da temporada, e ajudou o time na escalada para escapar do rebaixamento. Aparentemente, depois da tormenta, havia enfim chegado a calmaria.
 
Entretanto, a calmaria parece ser apenas ilusória. No horizonte do West Ham, e do próprio campeonato inglês como um todo, começa a se formar uma densa e temerosa tempestade.
 
Logo após surpreendente transferência entre Corinthians, MSI e West Ham, a Premier League investigou como ela tinha transcorrido, e chegou à conclusão que algumas normas haviam sido quebradas, que papéis foram omitidos, e que mentiras foram contadas. O principal problema, aparentemente, foi o clube ter acordado uma transferência com jogadores que pertenciam a terceiros, o fundo de investimento, coisa que é proibida no regulamento do campeonato inglês. Com isso, a Premier League multou o West Ham em cinco milhões de libras, cerca de 20 milhões de reais, a maior multa já aplicada a um clube inglês.
 
Vinte milhões de reais podem parecer muita coisa. Porém, apesar do alto valor aplicado, alguns clubes ingleses acreditam que a punição foi muito branda, tudo porque a multa só foi financeira, e não teve dedução de pontos do time, o que contraria um certo padrão de punições da Premier League, que normalmente multa em dinheiro e deduz alguns pontos. Esses pontos que não foram deduzidos permitem que o West Ham possa ter a possibilidade de escapar do rebaixamento para a segunda divisão na próxima temporada, uma vez que ele está três pontos na frente do Wigan, o primeiro da lista da degola. O argumento de defesa da Premier League, e do West Ham, é que a multa de cinco milhões de libras já é uma punição suficientemente grande, e não há a necessidade de tamanha soma de dinheiro vir conjunta à dedução de pontos.
 
Entretanto, no ano que vem entra em vigor o novo contrato de transmissão da Premier League, o maior da história. Com ele, um clube com uma boa performance na próxima temporada pode receber até sessenta milhões de libras. E, mais importante pro assunto dessa coluna, um clube que cair de divisão nessa temporada deve perder em torno de vinte milhões de libras, quatro vezes mais do que o valor da multa aplicada ao West Ham.
 
Não é por acaso que o West Ham não vai recorrer da multa. E também não é por acaso que seis clubes da Primeira Divisão estão estudando maneiras de entrar na justiça contra o West Ham e contra a Premier League. Colocando de uma maneira resumida, caso a batalha jurídica realmente aconteça, será uma briga por oitenta milhões de reais. E brigas que envolvem tamanho montante tendem a não ser lá muito pequenas.
 
Essa briga, apesar de localizada, pode ter reflexos no mundo inteiro. Primeiro porque vai afetar o maior mercado de futebol do mundo, o que consequentemente já gera grandes efeitos para a rede integrada do mundo do futebol. Segundo que pode ser o princípio de alguma revolução maior no mercado de clubes, podendo inclusive dar margem a maiores rompimentos entre clubes, ligas e federações. E por último, e mais importante para o Brasil, o imbróglio pode levar os órgãos governamentais do futebol a tomar atitudes enérgicas para com a origem de toda essa confusão: os fundos de investimentos e a posse de direitos econômicos sobre transferência de jogadores.
 
É difícil dizer o que vai acontecer. Prevendo as possíveis danosas conseqüências de tudo isso, o ministro dos esportes britânico, Richar Carbon, urgiu os clubes a tentarem chegar a um acordo comum e não procurarem a justiça para resolver a discussão. É um sinal de que os efeitos dessa briga podem ser maiores do que se imagina.
 
O horizonte é tenebroso na Inglaterra. Os efeitos da tempestade são imprevisíveis para o mundo. E a origem disso tudo, curiosamente ou não, está no futebol brasileiro.
 
Culpa da globalização.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Os campeões e os vices

Santos, Paranavaí, Grêmio, Atlético Mineiro, Atlético Goianiense, Flamengo, Vitória, Sport de Recife são alguns dos campeões estaduais de futebol em 2007. São Caetano, Paraná Clube, Juventude, Cruzeiro, Goiás, Botafogo, Bahia, Náutico são os vices.
 
Mas bem que poderia ser o contrário. E caso isso acontecesse, haveria justificativas para todos os resultados. Entretanto essas justificativas ou explicações são, quase sempre, anunciadas após os fatos consumados. As previsões antes dos eventos são quase sempre superficiais e inconsistentes.
 
São poucos os observadores, jornalistas ou aficionados, que procuram analisar todos os elementos que compõem a complexidade do futebol e buscam luzes para conscientemente prever o futuro.
 
Como se pode ler no livro “Desafio aos Deuses – A Fascinante História do Risco” de Peter Bernstein “a idéia revolucionária que define a fronteira entre os tempos modernos e o passado é o domínio do risco: a noção de que o futuro é mais do que o capricho dos deuses e de que homens e mulheres não são passivos diante da natureza”.
 
O futebol, como tudo na vida, é um sistema complexo e dinâmico. E para entendermos o que isso significa talvez precisássemos estudar um pouco mais sobre as teorias que analisam o risco e o caos.
 
Essa teoria tenta nos explicar como e por que as coisas acontecem. E sinaliza no sentido de que os resultados, embora instáveis, são passíveis de previsão. A simples formação de uma nuvem no céu, por exemplo, é conseqüência de vários fatores como o calor, o frio, os ventos, o clima, a evaporação da água entre outros e, portanto, passível de ser prevista.
 
E assim também pode ser um jogo de futebol. Seu resultado pode ser causado por um incidente na concentração, uma palavra bem ou mal colocada pelo treinador, um placar positivo ou negativo no jogo anterior, um lance inesperado da equipe adversária e assim por diante.
 
Provavelmente é a somatória desses fatores objetivos e subjetivos que determinam o resultado final de uma partida. Bastaria conhecê-los para que pudéssemos prever que Santos, Paranavaí, Grêmio, Atlético, Flamengo, Vitória, Sport, seriam os campeões estaduais de 2007.
 
Mas será que quando isso puder acontecer o futebol não perderá um pouco do seu encanto?

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

O preço da vitória

Santos, Grêmio, Flamengo e Atlético-MG sagraram-se campeões estaduais na tarde do último domingo. Nem mesmo três dias depois de festejarem a conquista, os jogadores desses quatro times entrarão em campo para mais uma decisão: a classificação para a fase seguinte das competições que disputam.
 
O Santos se desgastou para alcançar os 2 a 0 no São Caetano. O Grêmio passeou no Olímpico em cima do Juventude. O Atlético se preocupou com a derrota por 2 a 0 para o baleado Cruzeiro, atropelado na semana anterior. O Flamengo só superou o Botafogo nos pênaltis numa eletrizante decisão no Maracanã.
 
Talvez è exceção do Galo mineiro, os outros três times não puderam pensar em poupar jogadores e muito menos se pouparem dentro de campo para a disputa das decisões no meio de semana. E por que isso acontece?
 
Imagine se Vanderlei Luxemburgo abrisse mão de escalar todos os titulares na árdua tarefa santista de derrubar o fantasma azul de São Caetano. Ou, então, que Mano Menezes deixasse Lucas de fora da batalha regional no Olímpico. Que Levir Culpi entrasse com o time reserva depois de enfiar quatro no primeiro jogo. E, por fim, que o Flamengo abrisse mão da conquista carioca para estraçalhar o Defensor na quarta-feira.
 
Choveriam críticas ao comportamento “antiesportivo” dos treinadores dessas equipes. Pelo menos até o meio de semana, quando o time vencesse e, então, os treinadores seriam transformados em gênios.
 
Normalmente a imprensa critica a falta de planejamento e de trabalho de longo prazo dos clubes de futebol. Não faltam vozes para desancar o dirigente que demite o treinador só porque os resultados não aparecem. Mas quem é o primeiro a se levantar contra a falta de resultados de uma equipe?
 
A pressão exercida pela imprensa no dia-a-dia da cobertura dos clubes de futebol é, sem dúvida alguma, uma das grandes responsáveis pela falta de cumprimento ao planejamento dentro dos clubes.
 
Muricy Ramalho foi duramente criticado pelos jornalistas por não mudar o time do São Paulo no empate contra o São Caetano na primeira semifinal do Campeonato Paulista. Talvez Muricy estivesse pensando no jogo da quarta-feira seguinte, quando, com o time reserva (que estava descansado), bateu o Alianza Lima e ficou em primeiro do seu grupo, em posição de vantagem para decidir a vaga em casa e pronto para enfrentar o Azulão.
 
Mais fácil dizer que Muricy era “teimoso” ao manter o time jogando daquela forma do que tentar ouvir dele uma explicação plausível para a “teimosia”.
 
A obrigação dos resultados é, acima de tudo, uma exigência que a opinião pública coloca para dentro dos clubes de futebol. É raro vermos um jornalista defender um treinador quando ele poupa o seu time numa partida decisiva pensando numa decisão futura.
 
Imagine o estardalhaço que seria se o Santos tivesse optado por deixar escapar o título paulista e preservasse seus atletas para seguir firme na Libertadores? Será que a imprensa entenderia isso?
 
Obviamente que o torcedor age de maneira irracional quando vê seu time perder uma decisão. Mas, às vezes, é melhor estabelecer prioridades. E já passou da hora de a imprensa entender isso quando vai criticar a decisão de um treinador…
 
Do contrário, a vitória sempre terá o ônus do cansaço para a decisão da partida seguinte.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

O Exemplo do Leeds United

Dias atrás, foi confirmada a queda do Leeds United para a Terceira Divisão do Campeonato Inglês. Sim, o Leeds. Aquele que certa vez contratou o Roque Júnior e que entrou na disputa pra levar o Ronaldinho Gaúcho do Grêmio. O mesmo Leeds que há seis anos atrás brigava com o Valencia nas semifinais da Liga dos Campeões. Há seis anos, o Leeds era pro mundo esportivo o que hoje são Liverpool, Chelsea, Manchester United e Milan. Hoje, parece mais com o Bahia.
 
O declínio do Leeds é resultado da convergência de uma série de fatores técnicos, mas todos derivados essencialmente de uma questão econômica.
 
Na temporada seguinte após a surpreendente chegada às semifinais da Liga dos Campeões, o Leeds se reforçou em campo. Para tal, colocou em campo jogadores como Paul Robinson, Woodgate, Rio Ferdinand, Danny Mills, Dacourt, Bowyer, Robbie Fowler, Robbie Keane, Viduka, Kewell e Alan Smith. A aposta era ir bem no Campeonato Inglês e conseguir a classificação para a Champions League da temporada seguinte.
 
No final da temporada, cinco míseros pontos separaram o Leeds da Liga dos Campeões. Com o quinto lugar do campeonato, o time conseguiu apenas a classificação para a Copa da Uefa. Foi o começo do desastre. Tão logo o time perdeu a vaga, a diretoria anunciou que no começo da temporada, ela havia realizado um empréstimo gigantesco para conseguir bancar as contas do time. A idéia era que tal time conseguiria a classificação para a Liga dos Campeões, e o empréstimo eventualmente seria pago com a enorme soma de dinheiro que viria de patrocinadores, direitos de televisão e dos dias de jogos. Foi uma aposta arriscada. Que não deu certo.
 
O time perdeu a vaga e, consequentemente, toda a receita futura projetada. No final das contas, o time não conseguiu bancar o empréstimo e muito menos o salário dos jogadores. Como resultado, atletas foram vendidos por conta do desespero fiscal, que implica diretamente em menor poder de barganha, e os novos contratados correspondiam à realidade do caixa do clube. Deu-se início a um espiral de declínio. O clube entrou num ciclo vicioso de péssima performance e péssimo fluxo de caixa.
 
O Leeds até conseguiu escapar do rebaixamento na temporada imediatamente seguinte. Mas na outra não deu. O time caiu pra segunda divisão e, com o enorme montante de dívidas, que quase bateu nos R$ 500 milhões, começou a ser passado de mão em mão, de dono em dono.
 
Com alguns sacrifícios, a direção do clube resolveu zerar a dívida, ou seja, fechou a torneira para maiores pagamentos. No sistema futebolístico um pouco mais racional que é o futebol inglês, isso significa em imediata perda de performance. Culminou, agora, com o rebaixamento para a terceira divisão.
 
A idéia, porém, é que o clube possa se reerguer em breve, com as dívidas zeradas, e alcançar a glória de outrora. Talvez tenha chegado ao fundo do poço, mas foi a conseqüência natural de uma aposta financeira extremamente arriscada. Qualquer pessoa que pense com o mínimo de lógica dentro do mundo do futebol sabe que não se contrai dívidas pensando que estas serão pagas a partir da receita gerada pelos resultados em campo. Contrai-se dívida que possam ser controladas, em investimentos mais palpáveis e não tão dependentes da ação do acaso.
 
O Leeds é um caso clássico que uma boa parte dos maiores clubes do Brasil deveria prestar atenção. Eles pagam um preço caro por uma atitude racionalmente errada, mas que tende a não ser tão incomum por terras tupiniquins.
 
É claro que uma dívida aqui talvez não signifique a mesma coisa que uma dívida por lá. Porém, com a ascensão do mercado financeiro por essas bandas e com a responsabilidade fiscal passando a desempenhar um intenso papel no mercado nacional, os clubes que ainda se arriscam nesse tipo de aposta podem começar a pagar caro, assim como o Leeds vem pagando há um bom tempo.
 
Esqueçam o Manchester United, o Chelsea, o Liverpool ou o Arsenal. O melhor exemplo do futebol inglês para o futebol brasileiro, acredite, é o Leeds United.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

São Caetano, o campeão paulista de 2007

Em minha coluna da semana passada brinquei com os leitores da Universidade do Futebol dizendo que o Santos seria o campeão paulista de 2007. A idéia, na verdade era questionar as análises simplistas que costumam fazer os aficionados do futebol, prevendo os resultados dos jogos com certezas que quase sempre não correspondem à realidade. E comentei que o favoritismo no futebol costuma desmobilizar os favoritos e desmoralizar os entendidos.
 
Não sei se o favoritismo do Santos desmobilizou o time para o jogo com o São Caetano, mas que desmoralizou alguns entendidos, isso não tenho dúvidas.
 
É interessante constatar que fazer previsões, definir favoritos, adivinhar o que vai ocorrer numa partida parece ser tão estimulante quanto o jogo de futebol propriamente dito.
 
E estas reflexões sobre favoritismo no futebol nos remete a pensar um pouco sobre a afirmação de que o futebol é uma coisa muito simples.
 
Sob certo ponto de vista o futebol, como fenômeno cultural e humano, pode ser considerado tão complexo quanto entender o significado da própria vida.
 
O sociólogo e pensador francês Edgar Morin nos ensina que complexidade é efetivamente o tecido dos acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações e acasos, que constituem o nosso mundo.
 
Se o futebol é parte constituinte deste mundo em que vivemos, não temos como fugir à constatação que de que entender o futebol é tão complexo quanto entender o mundo.
 
Portanto, para aqueles que achavam que o Santos seria o campeão, resta buscar novas explicações e fazer novas previsões.
 
Com a vitória contundente por 2 a 0 no primeiro jogo da final, já há pesquisas de opinião demonstrando que mais de 80% das pessoas acham que o São Caetano será o campeão paulista deste ano.
 
Mas seja lá quem for o novo campeão o fato é que estas discussões e previsões só conseguem nos mostrar o quanto é complexo entender realmente o que é o futebol.
 
E de qualquer forma quero dar os parabéns ao São Caetano que sendo campeão ou vice nos permitiu refletir um pouco sobre o fenômeno da complexidade que envolve o futebol.

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br