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A Missa e a Massa do Galo: Nós Acreditamos! Atlético Mineiro 2 (4) x 0 (3) Olimpia

Casal conversa em um quarto de uma casa em Belo Horizonte…

– Dario, pode dormir, querido.

– Não, meu amor. Vai que tudo isso é sonho. Vai que o Galo perde a Libertadores quando eu acordar.

– Você me chamou de “amor”, Dadá?

– Foi sem querer, mulher. Você sabe que você é meu “bem”, benhê. “Amor” é o Galo. Só o Atlético.

– Sabia… já estou acostumada… Mas é bom você dormir, Dario. Você vai acabar morrendo disso.

– Eu vivo pelo Galo, bem. Jamais vou morrer por ele. Só não posso é fechar os olhos. Só tenho medo de tudo que eu vi no Mineirão não ser verdade. Tudo que eu senti na Libertadores e no Horto se perder se eu fechar os olhos. Medo de que não poderia olhar diferente para aquelas mesmas traves malditas dos pênaltis do Brasileirão de 1977! As traves que agora viram a bola do título estourar em uma delas.

– Vai por mim, Dadá. O Jô vai fazer um gol deitado de pé direito. O Leo Silva vai fazer um gol de cabeça contra o grande goleiro Martín Silva. A bola vai bater um milhão de vezes na trave. Vai ter um pênalti não marcado para nós. O Alecsandro vai perder um gol no final. O Victor vai defender um pênalti com o pé esquerdo de novo. Vai adiantar desta vez se adiantar. O Cuca vai comer grama no último pênalti. A torcida vai gritar que acredita até quando ninguém mais acredita. Eu conheço vocês, atleticanos. Eu amo um atleticano. E sei que ninguém ama como um atleticano.

– Você não entende, benhê. São muitos anos em que eu fechei os olhos por não acreditar no que fizeram com meu Galo. Gente de fora, gente boa, gente ruim, gente de dentro. Todo mundo depenava meu time. Muitas vezes dormi campeão e acordei sem nada. Só com o Galo.

– Mas ele é tudo para você, Dario. Não precisa de título, meu amor.

– É. Mas faltava sempre alguma coisa. Não para eu ser mais atleticano, que isso é impossível. Mas faltava alguma coisa para os campeonatos serem mais atleticanos.

– Fecha os olhos, Dario. Você merece.

– Quem merece são os atleticanos. Todos eles. Todos nós. Já perdemos muitos títulos. Mas poucos clubes ganharam o torcedor, o respeito e o amor que nosso clube tem. Poucas Libertadores tiveram um time tão campeão quanto o nosso. Raras tiveram tanta gente torcendo por um time como o nosso.

– Mas você bem que não estava mais acreditando no time, né? Fala a verdade!

– Nunca! Eu sabia que dava para eliminar o São Paulo depois da derrota no Morumbi na fase de grupos.

– Sei…

– Eu sabia que o Victor defenderia aquele pênalti contra o Tijuana!

– A-ham…

– Eu sabia que alguém faria o gol que o Guilherme fez.

– Claaaaro…

– Eu tinha certeza que iríamos virar nos pênaltis contra o Newell´s…

– Sim, queridinho…

– Eu sabia que iríamos devolver a derrota no Paraguai! Que “cavalo paraguaio” era alguma cavalgadura do bairrismo brasileiro.

– Dario, pode fechar os olhos. Juro que fecho os ouvidos para o que você está inventando…

– Eu sabia que com o papa no Brasil estava no papo! Eu sabia que a Missa do Galo começa sempre no dia 24 e faz a festa divina por todo o dia 25! A missa e a massa do Galo são eternas!

– Menos, Dario, menos…

– Bem, você não entende de futebol. Menos ainda de Galo.

– Dario, amando um atleticano eu comecei a amar um pouco mais o futebol. Comecei a entender que a gente não entende nada de futebol.

– Mas, benhê, você entende mais que os maldosos que acham que todas as derrotas são eternas. São nada! Eternas são as vitórias! Eterno é meu amor que não precisava ser campeão da América. Não precisa ser campeão do Brasil. Não precisa ser campeão mineiro. Não precisa ser campeão de Belo Horizonte. Nem do Horto e nem de Lourdes. Eterno é ter no coração o Galo.

– Dario, e agora? Como vai chamar nosso primeiro filho: ainda bem que não é menina, por que Kafunga ou Mussula seriam dose… Então… Que tal Reinaldo Victor?

– Eu quero mesmo um nome de santo.

– Ou Reinaldo Ronaldo?

– Eu quero um nome de craque.

– Reinaldo Bernard?

– Eu quero um menino bom de tudo.

– Reinaldo Leo?

– Eu quero um filho que use bem a cabeça.

– Reinaldo Réver?

– Eu quero um cara que defenda tão bem a nossa família.

– Reinaldo Guilherme?

– Eu quero um filho predestinado.

– Reinaldo Jô?

– Eu quero um menino bem posicionado.

– Reinaldo Diego?

– Eu quero um moleque que acredite em todas.

– Reinaldo Pierre?

– Eu quero um garoto que se mate por nós.

– Reinaldo Leandro Donizete?

– Eu quero um garoto que faça tudo certo com discrição.

– Reinaldo Richarlyson?

– Eu quero um filho que faça tudo em vários lugares.

– Reinaldo Marcos?

– Eu quero um moleque que ataque o tempo todo.

– Reinaldo Rosinei?

– Eu quero um cara para virar o jogo.

– Reinaldo Gilberto?

– Eu quero um grande atleticano campeão do mundo e da América.

– Reinaldo Josué?

– Eu quero um campeão de tudo.

– Reinaldo Alexis?

– Eu quero alguém que seja ótimo, e responda pela bola, e não pela boca, com muita Cuca e muita alma.

– Reinaldo o que mais, Dario?

– Podia ser Reinaldo Telê. Atleticano campeão em 1971. Atleticano que também um dia foi chamado de pé-frio…

– Bem, eu quero que ele seja Reinaldo, sim. Como eu quero sempre a felicidade que você tem todo dia não por ser campeão, Dario. Mas por ser Galo a vida toda.

– Mais que tudo, benhê, eu quero que quando nascer o nosso primeiro filho, que está nessa barriguinha desde fevereiro, eu possa pegá-lo no colo como o nosso time pegou a taça de campeão de América, e embalá-lo com a mesma emoção e paixão. Para poder falar no ouvidinho dele:

– “Você é campeão, filho”.

– Não, benhê. Só vou dizer uma frase…

– “Você é atleticano, filho”.

– Isso, mulher! Você é meu amor!

– Você é atleticano, Dario.

– Nós somos agora o que sempre fomos. Campeões. Eu, você, e o Reinaldo Libertador.

(P.S.: Eu, Leonardo Bertozzi e Mario Marra lançaremos em semanas “Nós Acreditamos”. Pela BB Editora. Um livro de dois atleticanos jornalistas, um palmeirense jornalista. Uma obra que sairia mesmo se não desse Atlético. Por que o que valeu foi a jornada. Campeã de tudo.)

 

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

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O espetáculo (e o lucro) está no estádio

As minhas últimas 3 colunas na "Universidade do Futebol" versaram sobre a relação dos ingressos com os novos estádios de futebol no Brasil: a "Ocupação nos Estádios" (https://universidadedofutebol.com.br/Coluna/12215/Tudo-novo-Parte-1-3); o "Valor do Ticket Médio" (https://universidadedofutebol.com.br/Coluna/12221/Tudo-novo-Parte-2-3) e o "Season Ticket" (https://universidadedofutebol.com.br/Coluna/12226/Tudo-novo-Parte-3-3).

Por uma excelente coincidência, nesta semana, Ferran Soriano, ex-dirigente do Barcelona (considerado o profissional que revolucionou o pensamento do clube catalão para uma visão mais ampla de negócios), deu entrevista à Revista Veja, corroborando com alguns destes argumentos: http://veja.abril.com.br/noticia/esporte/ferran-soriano-os-torcedores-sao-os-donos-do-espetaculo?utm_source=redesabril_veja&utm_medium=twitter&utm_campaign=redesabril_veja&utm_content=feed&.

Mesmo no Brasil, não são poucos os especialistas que tem reiterado a necessidade de se administrar melhor esta unidade de negócio – os ingressos, suas entregas e o seu sistema de precificação – pelos clubes daqui.

O grande fator é o do entretenimento, em que o cenário e a atmosfera criada dentro de arenas lotadas é que faz com que o espetáculo seja mais disputado (em termos de consumo) e a satisfação de todos os presentes seja plenamente atendida.

Na TV, tal e qual Soriano lembra, é fundamental apresentar um estádio cheio e vibrante, para que a transmissão se torne mais rica. Precisamos, mais do que nunca, avançar a passos largos no processo de aprendizagem e entrega dos jogos como uma experiência única, a preços condizentes (de mercado) e que ofereça bons serviços sob a perspectiva de cada tipo de cliente.

 

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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Djalma Santos 8.0… Nós jogamos com ele!

Há algumas semanas, fomos agraciados com uma série de reportagens alusivas aos 80 anos de Djalma Santos…
 
Para os mais moços que não o viram jogar, talvez o episódio tenha passado despercebido, mas tanto para aqueles que tiveram essa felicidade, como para os outros atentos à história do futebol brasileiro, o fato foi daqueles de brindar a vida!… Afinal, não é todo o dia em que temos notícia de um octogenário jogando sua peladinha todo domingo, seguido de um bom papo – às vezes regado a uma cervejinha, por que não? – com os amigos… E mais ainda quando se trata de alguém que aprendeu com a vida o que é de fato vivê-la…
 
Vejam o que disse ele em certo momento: "Não se para de jogar bola porque se é velho, mas sim nos tornamos velhos porque paramos de jogar bola"!
 
E pensar que ainda tem em nossa meio quem se reporte à saúde enfocando-a exclusivamente em sua dimensão bio-fisiológica!
 
Bem… Mas todo esse preâmbulo foi escrito para que pudesse dizer que tive o privilégio de jogar com Djalma Santos!
 
Pois é… Estávamos no ano de 1976 em São Luis do Maranhão… Nós – um grupo de professores de Educação Física repleto de utopias – e ele, então contratado como técnico do Sampaio Corrêa Futebol Clube, um dos grandes do futebol maranhense, ao lado do Moto clube e do MAC (Maranhão Atlético Clube).
 
Boa parte de nosso grupo trabalhava vinculado ao Departamento de Esporte do governo daquele Estado, basicamente envolvido com os afazeres de duas modalidades esportivas, o handebol e o voleibol.
 
O contrato de trabalho era de 40 horas… Não deu outra: montamos um time de futebol e demos a ele o nome de… Handvô-40, homenagem ao handebol, ao voleibol e às 40 horas de trabalho – qualquer semelhança com outra expressão…
 
Pois foi nesse time que Djalma Santos foi convidado a jogar e… Jogou! Se nossas conversas o assustavam às vezes (chegamos perto de comprar uma ilha, embalados pelas idéias de A.S. Neill, fundador da escola de Summerhill), a de participar do time foi recebida com o mesmo sorriso que ele estampa hoje em seu rosto…
 
Duvidam? Pois aí vai a prova! O primeiro da fila é o diretor – presidente do CEV, Centro Esportivo Virtual… O último, este ponta-esquerda que vos escreve! No meio dela, Djalma Santos, junto com Viché, Sidney (ambos professores da UFMA) Gil, "Zé Pipa", Marcão – o "véio" – e outros cuja lembrança surge enevoada em minha cabeça…
 
Não sei dizer se Djalma Santos tem recordação desses tempos… Penso que sim, pois foram dias que não se repetem todos os dias…

*Publicada originalmente no dia 26 de março de 2009

Leia mais:
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No ventilador

Quando feito de forma correta, o processo da comunicação é extremamente simples: é um jogo em que dois personagens trocam mensagens enquanto alternam as funções de emissor e receptor.

O problema é que nem sempre esse processo é tão direto. Há vários fatores que podem colocar em risco a total compreensão do conteúdo transmitido em uma conversa. Com isso, o que parece natural pode se transformar em armadilha.

Pense na brincadeira infantil do telefone sem fio, por exemplo. O jogo consiste em uma mensagem que parte de uma pessoa e vai passando para outras, de ouvido a ouvido, até que o último da fila tenha de relatar o que ouviu. O que chega raramente é fiel à versão original.

A lógica da brincadeira infantil serve também para outros segmentos. Serve, por exemplo, para nortear os processos de comunicação em empresas, instituições e até clubes de futebol.

Reduzir a crise do São Paulo a um problema de comunicação seria um reducionismo extremamente infeliz. O clube vive um problema institucional, e esse cenário é agravado pela sequência de resultados negativos em campo.

Contudo, é impossível ignorar os deslizes de comunicação cometidos pelo São Paulo durante o momento ruim. O time tricolor não vence há dez jogos (sete vitórias e três empates), mas, esse período também foi suficiente para acumular uma incontável série de exemplos negativos.

O maior deles foi a discussão pública entre o goleiro e capitão Rogério Ceni, um dos principais ídolos da história do clube, e o diretor de futebol da equipe paulista, Adalberto Baptista.

A celeuma começou quando o goleiro foi questionado sobre o atual momento do São Paulo. Passional e competitivo, o camisa 01 foi taxativo: "O clube parou no tempo".

A afirmação de Ceni foi especialmente dolorosa para Baptista, diretor que conduz o futebol do clube. Ele escancarou todo o incômodo ao usar o mesmo expediente do goleiro, aproveitar uma entrevista coletiva e fazer críticas técnicas ao capitão da equipe.

No depoimento, Baptista disse que Ceni tinha uma lesão no pé e que isso estava comprometendo o desempenho do goleiro, inclusive em aspectos técnicos. Ele citou especificamente a reposição de bola como forma de exemplificar.

A tréplica de Ceni também foi pública. O goleiro disse que não sente mais dores no pé e negou conviver com limitações físicas decorrentes da lesão. Ele também fez uma crítica velada a Baptista, que deixou de acompanhar o São Paulo em uma viagem para a Bolívia neste ano, em jogo da primeira fase da Copa Bridgestone Libertadores, porque tinha uma corrida da Porsche Cup.

A troca de acusações entre Ceni e Baptista é um exemplo do que não fazer em qualquer processo de gestão de crise. Sobretudo porque os dois discutiram publicamente, agravando a percepção pública de que o São Paulo vive um momento ruim.

Em horas assim vale a máxima: roupa suja se lava em casa. Entre todas as acusações e críticas públicas trocadas por Ceni e Baptista, o mais grave foi uma frase do goleiro na última sexta-feira. "Eu não falei com o Adalberto depois da entrevista dele", disse o capitão tricolor.

Além de terem exposto uma divergência que devia ser interna, o goleiro e o diretor mostraram que não há diálogo entre eles. Quando o principal dirigente e a maior estrela da equipe entram em uma colisão tão contundente, a crise é muito maior do que os dez jogos sem vencer.

Outro exemplo negativo de comunicação do São Paulo durante a crise foi dado pelo presidente Juvenal Juvêncio. Ele tentou tomar as atenções na apresentação do técnico Paulo Autuori, contratado após a demissão de Ney Franco. Para isso, fez um discurso enfático, cheio de frases fortes.

O show de Juvêncio foi baseado em estratégia. No entanto, o resultado foi triste. Quando apelou ao estilo folclórico e até a comparações com rivais para chamar atenção, o presidente do São Paulo escancarou o quanto está descolado da atual realidade do clube.

Pode até parecer paradoxal, mas gestão de crise começa quando não há crise. Nesses momentos é que a comunicação deve se preparar para abafar problemas e construir discursos que sejam condizentes com os objetivos da instituição.

No São Paulo, a crise mostrou que não havia soluções prontas. Não havia sequer diálogo entre diferentes esferas do clube.

Se a comunicação não estiver pronta, o trabalho de contenção de uma crise é muito mais complicado. Ainda assim, é fundamental que ele seja feito sem omissão. O São Paulo não podia assistir a um confronto público entre um diretor e o capitão do time.

O mesmo vale para o embate político que tem crescido em espaço na mídia. Há notícias pululando constantemente, sejam elas contra a situação ou contra a oposição. E o processo eleitoral do clube, lembremos, será realizado apenas em abril do próximo ano.

Enquanto diferentes esferas se digladiam, o São Paulo não planeja. A comunicação não seria a solução para nenhuma crise, mas ao menos teria um potencial enorme para diminuir o impacto do mau momento.

O exemplo Guardiola

No Brasil, é comum que treinadores façam mistério sobre estratégias ou questões táticas de suas equipes. O debate costuma ser vazio, raso, e muito disso é consequência da falta de cultura de discussão sobre a questão técnica.

Mas essa característica não é exclusividade do Brasil. Contratado para comandar o Bayern de Munique a partir da temporada 2013/2014, o espanhol Pep Guardiola chamou atenção ao conversar com um jornalista da rede Sat.1.

O técnico viu um papel em que o jornalista havia desenhado a formação do Bayern de Munique em um amistoso contra o Hamburgo. Guardiola analisou e corrigiu uma série de aspectos, como o posicionamento do meio-campista Tony Kroos.

"Ele mostrou que eu não tenho ideia", disse Holger Pfandt ao jornal alemão "Bild".

Muitos classificaram a atitude de Guardiola como arrogante, mas o treinador estava fazendo gestão de crise. Ele foi prevenido, explicando questões sobre o posicionamento para evitar que o jornalista fizesse críticas infundadas no futuro.

Guardiola é um dos técnicos mais eficientes na história recente do futebol. Os exemplos do São Paulo e da Alemanha mostram, porém, que o espanhol também podia dar aulas em outras áreas.

 

Para interagir com o autor: guilherme.costa@universidadedofutebol.com.br

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Aquecer pra jogar e jogar pra aquecer

Criar um ambiente de treino propício à melhoria de desempenho e às exigências do futebol moderno requer o envolvimento da comissão técnica em todos os elementos relacionados à sessão de treinamento que podem alterar o rendimento individual e/ou coletivo.

Desta forma, atentar-se inclusive aos pormenores pode contribuir sistemicamente no produto final da equipe (nível de jogo apresentado) e na busca constante do todo maior que a soma das partes.

Um dos elementos que compreende a sessão de treino e pode ser facilmente negligenciado é o aquecimento. O tempo para este tipo de procedimento varia de 5 a 20 minutos e costumeiramente é feito de diferentes maneiras/combinações: trotes, coordenativos de corrida, bobinhos, “dois sem coxa”, gestos técnicos, acelerações, campos reduzidos, brincadeiras, core, estafetas, saltos, etc.

Como a preparação para o componente principal do treino é uma atividade cotidiana e, de certa forma, semelhante, muitas vezes os jogadores (talvez entediados por esta necessidade que se repete dia após dia em toda a carreira) não se concentram o suficiente para sua realização. Ao invés de se prepararem fisiológica e mentalmente da maneira mais adequada possível, muitos optam por colocar a “resenha” em dia, com conversas totalmente descontextualizadas ao trabalho e “economizar” energia, poupando ou roubando nos movimentos determinados (ou não) pela comissão.

Uma vez que a parte principal de uma sessão de treino de quem utiliza o jogo como essência da periodização serão os fractais, em maior ou menor escala, do jogar pretendido, uma boa alternativa para aumentar o nível de concentração do aquecimento e, consequentemente, ficar melhor preparado, é estimular as competências essenciais do jogo (Relação com a Bola, Comunicação na Ação e Leitura de Jogo) em pequenos grupos (no máximo até 3 jogadores).

Após uma pré-ativação sem bola, em jogos com ou sem alvos, restrição ou não de toques na bola, utilização obrigatória da perna não dominante, ou quaisquer outras variações/adaptações nas regras do futebol, é possível criar desde o aquecimento um ambiente de “estado de jogo” indispensável para o jogar plenamente, como menciona o Dr. Alcides Scaglia. Em comissões técnicas bem planejadas, as regras do aquecimento servem até para direcionar os atletas aos macro-objetivos do treino.

A composição de uma atividade com poucos elementos e num espaço significativamente menor que o campo de futebol proporciona uma elevada densidade de ações técnicas que, se corretamente orientadas e conduzidas, influenciarão positivamente o desempenho global de cada atleta no jogo formal.

Além disso, por envolver a capacidade de decisão, a velocidade complexa de jogo (termo utilizado pelo treinador Rodrigo Leitão) é estimulada em especificidade.

Nossos atletas continuarão aquecendo seja com as atividades tradicionais, seja com os jogos que estimulem as Competências Essenciais. Porém, nos últimos 15 anos de envolvimento diário com futebol, incontáveis aquecimentos realizados, orientados ou observados e com o óculos que enxergo o futebol atualmente, tendo a afirmar que a segunda opção é mais eficaz.

Afinal, se vamos aquecer pra jogar talvez devamos jogar pra aquecer!

Abraços e até a próxima semana.

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br
 

 

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Proibição de bebidas alcoólicas nos estádios de futebol: ilegalidade

A empresa Parlamento Restaurante Ltda propôs ação contra a CBF sob o fundamento de que teria firmado contrato com a FBF (Federação Brasiliense de Futebol) para fornecer bebidas e comidas no estádio Mané Garrincha em qualquer evento realizado pela entidade.

Como a CBF proíbe a venda de bebidas alcoólicas nos estádios de futebol, requereu a antecipação de tutela para que fosse permitida a venda de cerveja no Mané Garrincha, em alguns “Jogos teste”. O pedido antecipatório de tutela foi deferido.

Em razão desta decisão, o Ministério Público apresentou recurso contra a decisão, sob o fundamento de que a permissão seria temporária é só valia para os eventos organizados pela Fifa, por isso, os demais jogos deveriam seguir o Estatuto do Torcedor.

Segundo a juíza Grace Correia Pereira "a abrangência da antecipação de tutela deferida diz respeito somente aos "jogos teste", e atualmente não há qualquer evento futebolístico a ser realizado no Estádio Nacional de Brasília desta categoria".

Destarte, ao contrário do que afirmou a Magistrada, o Estatuto do Torcedor não proíbe a venda de bebidas alcoólicas. Destarte, art. 13-A do referido Estatuto estabelece como condição de acesso e permanência do torcedor no recinto esportivo não portar objetos, bebidas ou substâncias proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de violência.

Ora, não há qualquer vedação expressa à venda de bebidas alcoólicas e eventual proibição incorre em grave violação ao inciso II da Constituição Brasileira ao dispor que ninguém poderá fazer ou deixar de fazer algo senão em virtude de Lei.

Vale destacar que odocumento que originou a proibição de venda/consumo de bebidas alcoólicas é foi Termo assinado entre Conselho Nacional dos Procuradores Gerais do Ministério Público dos Estados e CBF.

O MP defende que as bebidas alcoólicas são causa da violência e apresenta citações, porém não há qualquer fonte ou documento que comprove cientificamente a redução na violência nos estádios de futebol a partir da proibição da venda e do consumo de bebidas alcoólicas.

Doutro giro, estudo publicado na Inglaterra por Geoff Pearson e Arianna Sale em 2011 ( PEARSON & SALE "’On the Lash’: revisiting the effectiveness of alcohol controls at football matches” in: Policing & Society, Vol. 21, No. 2, June 2011.) aponta que a política de restrição à bebida alcoólica nos estádios não é fator determinante para a redução dos índices de violência.

Segundo o estudo, devem-se buscar outros métodos para reduzir a violência no futebol e apresenta resultados de um estudo etnográfico de quinze anos nas torcidas inglesas e entrevistas com autoridades policiais do Reino Unido e da Itália.

A conclusão é de que, além de não impedir a violência nos estádios de futebol, a proibição da venda de bebidas alcoólicas podem aumentá-la pela seguinte razão:

1) Os torcedores aumentam a quantidade ingerida de bebida antes de entrar no estádio e passam a ingerir bebidas mais fortes;

2) Entram no estádio em cima da hora do jogo, dificultando o esquema de segurança e gerando tumulto;

3) Os torcedores se concentram nos bares dos arredores, aumentando a chance de encontro entre torcedores rivais, em espaços sem esquemas de segurança.

Ademais, a referida proibição gera uma série de problemas:

1) Concentra a entrada do público em cima da hora do jogo, gerando: Aumento de filas; Aumento de catracas utilizadas; Aumento de custos; Aumento de tumulto e violência no acesso ao Estádio;

2) Estádio perde receita (restaurantes, lojas, eventos antes do jogo…);

3) Torcedor consome ainda mais bebida, com maior velocidade, inclusive bebidas quentes, sabendo que a bebida é proibida dentro do estádio;

4) Pessoas circulando na rua, dificultando o tráfego e o acesso ao estádio

O fato é que o poder público na ânsia de dar uma reposta à sociedade e apontar soluções para a crescente violência nos estádios de futebol, escolheu a bebida alcoólica como vilã.

Tal indicação sem fundamentos torna-se ainda mais cristalina ao se buscar as reais causas da violência nos estádios de futebol e, sobretudo, quando constata-se que o Brasil possui índices de violência nos estádios de futebol largamente superiores aos de países como Inglaterra que permite a venda de bebidas alcoólicas.

 

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br

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Como a vida pessoal do atleta influencia na sua carreira?

O ser humano de maneira geral está sempre em busca da felicidade e esta pode ter e tem um sentido diferente para cada um de nós. Muitos dos que alcançam a dita felicidade pessoal e profissional acreditavam em si próprio e tinham, entre outras qualidades e competências, o foco, um propósito e a persistência. Pois como dizia Viktor Frankl: "Quem tem um PORQUÊ, enfrenta qualquer COMO!".

Mas, talvez um porquê não seja suficiente para nos mantermos no caminho que nos levem ao grande objetivo de vida e carreira. Muitos de nós, enquanto profissionais do esporte ou de outro nicho de atuação, passam por sérias dificuldades de desempenho profissional quando a vida pessoal nos coloca em situações de problema nos quais não temos habilidade para enfrentar tais momentos.

Acredito que a vida pessoal e profissional andam juntas e as decisões que tomamos em relação a nossa vida pessoal impacta o desempenho na carreira e vice-versa. Sendo esse pressuposto uma verdade, então como um atleta pode conseguir ter a competência comportamental para tomar as melhores decisões na vida e carreira, além poder preservar o desempenho em alto nível na vida profissional?!

Para responder essa pergunta, deveremos separar a resposta em duas partes: a primeira em relação à melhora na capacidade de tomar as suas decisões e a segunda em relação ao controle dos seus estados emocionais.

Quanto à tomada de decisão é necessário que o atleta possa ter congruência ecossistêmica na sua escolha, ou seja, ele necessita avaliar quais são os ganhos e perdas de sua possível escolha e ainda mais, avaliando uma determinada situação quanto a motivadores e sabotadores em relação ao propósito ou a decisão a tomar.

• O que o atleta ganha se obtiver o desejado? (Motivador – prazer)

• O que o atleta perde se obtiver o desejado? (Sabotador – dor)

• O que o atleta ganha se não obtiver o desejado? (Sabotador – prazer)

• O que o atleta perde se não obtiver o desejado? (Motivador – dor)

Tendo em vista as respostas para as questões acima, o atleta necessitará planejar ações que minimizem as perdas que são os sabotadores causados pela dor de não obter o resultado desejado. Além disso, o atleta também necessitará elaborar ações para manter os ganhos secundários, aqueles relacionados aos sabotadores do prazer no caso de não se conquistar o resultado desejado.

Indo adiante da avaliação de motivadores e sabotadores o atleta precisará obrigatoriamente realizar a congruência sistêmica de uma decisão, ou seja, avaliar se este objetivo desejado conquistado através de uma decisão, afeta negativamente outras pessoas ou o meio no qual o atleta faz parte?!

Esta avaliação de congruência é extremamente importante, pois aqui a vida pessoal e profissional se cruzam e a falta desta congruência pode levar a um descarrilamento da carreira, caso o impacto na vida pessoal venha a ferir algum valor do atleta.

E para complementar e apoiar na blindagem do desempenho esportivo o atleta precisa desenvolver a prática em pelo menos uma das inúmeras ferramentas de coaching para o controle das emoções negativas e desenvolver âncoras, mantendo o estado emocional e sua concentração sob total controle durante a prática esportiva de alto rendimento.

Penso que aliando uma competência em tomar as decisões na vida pessoal ou profissional com técnicas de controle dos estados emocionais todo atleta pode ter uma grande ajuda para manter o melhor de sua performance profissional, bem como promover grandes conquistas na sua carreira.

E você, amigo leitor, o que pensa a respeito?!

 

Para interagir com o autor: gustavo.davila@universidadedofutebol.com.br

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Tudo novo – Parte 3/3

Para fechar a terceira parte da temática estádios e valor dos ingressos sem, obviamente, se esgotar nelas, vou abordar a questão dos "Season Ticket" (ou ingressos para a temporada) ante os Programas de Sócio Torcedor.

Há uma ampla discussão sobre esse viés. Os defensores dos Programas de Sócio Torcedor alegam que não é cultural do brasileiro adquirir jogos para a temporada. Sim, é fato. Já falamos em outros momentos sobre o “drama” de qualquer tipo de mudança cultural – inclusive a modernização dos estádios é uma delas.

Lembro-me da minha adolescência, com meus 15-16 anos, quando comprei, com a mesada que meus pais me davam, o "Season Ticket" do Basquete de Joinville. Isso mesmo, em 1997 (ou 1998), a cidade se viu bastante envolvida com a modalidade e praticamente todos os jogos ficaram com lotação máxima, o que proporcionava um espetáculo ímpar quando comparado à experiência com outros jogos (incluindo o próprio futebol) – o sistema, à época, era muito simples: uma cartela de papel, com todo o calendário de jogos da 1ª fase, que era assinalado à medida que a pessoa passava pela portaria do ginásio, em cada partida.

Quero dizer com isso que, mesmo com a limitação orçamentária (minha mesada era suficiente apenas para breves atividades de entretenimento), se o produto entregue for bom, é possível sim melhorar de maneira significativa a rentabilidade de programas que melhor fidelizem o torcedor.

E a cada dia que passa vejo que o melhor caminho ainda é o "Season Ticket", embora, novamente, possa levar algum tempo para que o lançamento de um programa neste âmbito se consolide efetivamente. Explico:

1) A venda de bilhetes para toda a temporada permite fazer uma comercialização mais emocional. Apesar de todo o apelo emocional que existe no futebol, esquecemo-nos amplamente deste fator na hora de oferecer novos produtos aos torcedores;

2) Permite antecipar receitas e aproveitar momentos em que o consumidor está com mais dinheiro na sua conta – como, por exemplo, em dezembro, quando a maioria das pessoas recebe seu 13º salário – a antecipação de receitas permitirá investimento na qualificação da equipe (por exemplo), o que respaldará em credibilidade para o torcedor e o estimulará a comprar o “Season Ticket” ano após ano. Fazendo uma conta rápida e utilizando uma base de 20.000 bilhetes de temporada vendidos em dezembro (pensando em um grande clube, que possui hoje mais de 50.000 sócio-torcedores) a R$ 600,00 cada. Suponhamos que todos adquiriram de forma parcelada, com a 1ª parcela equivalente a R$ 300,00 e as demais divididas ao longo de 6 meses. Isso representa uma receita bruta na ordem de R$ 6 milhões, que é muito mais que muitos patrocínios de camisa que poluem os uniformes das equipes hoje em dia. Terá, ainda, outros R$ 6 milhões por vir no 1º semestre subsequente, fruto deste parcelamento;

3) O mês de dezembro casa, portanto, com o término da temporada e a expectativa da vinda de uma nova, que, se bem comunicada, tende a levar o torcedor para o tal "consumo emocional";

4) Ao comprar de forma antecipada, o consumidor, em pouco tempo, passa a ter disponibilidade orçamentária para outro tipo de compras durante os jogos – aqui é que temos um fator limitante dos Programas de Sócio Torcedor: eles estimulam um pagamento mensal, servindo quase que como uma "contribuição social ao clube". Não há, nestes casos, estímulo para que o torcedor frequente o estádio assiduamente. Por isso vemos taxas de ocupação pífias, totalmente sensíveis ao resultado esportivo. Depois, com o comprometimento mensal de parte de seu orçamento para a mensalidade do programa, acaba havendo uma restrição no consumo daquilo que chamamos de "Dia de Jogo" (de pipoca à camisa oficial do clube), reduzindo as possibilidades de ganho dos clubes;

5) Os Programas de sócio-torcedor hoje são utilizados como mecanismo de pressão dos torcedores para com a diretoria: se o clube vai um pouco mal no campeonato, a "vingança" do torcedor é cancelar sua participação no projeto, principalmente por não perceber benefícios paralelos;

6) O "Season Ticket" permite também respaldar em credibilidade a precificação de ingressos – falha muito comum hoje nos principais clubes de futebol: não se percebe claramente os critérios utilizados para se determinar preços. A constante oscilação no valor dos ingressos é que gera essa desconfiança. Para exemplificar, veja o que o gigante Barcelona faz antes mesmo de começar a temporada (ao tabelar os preços de acordo com a categoria dos jogos): http://www.fcbarcelona.com/info-tickets/football-ticket-prices até o modesto Fulham, com estratégia muito similar: http://www.fulhamfc.com/tickets/season-tickets/pricing-and-stadium-map. Ser transparente nesta questão é a melhor forma para que o torcedor acredite em produtos que ensejam consumo de longa duração;

7) O "Season Ticket" gera, ainda, uma possível estratégia de fidelização para quem compra, ano após ano, os bilhetes de temporada. Basta, para isso, administrar, dentro de um banco de dados, a frequência do torcedor no estádio, além de adotar estratégias de CRM (Gestão do Relacionamento com o Consumidor – pela tradução da sigla em inglês). Quando este fica impedido de ir a um jogo (aniversário da família, doença, viagem a trabalho etc.), pode revender seu ingresso na bilheteria por meio do clube. Se tiver a venda efetivada, recebe bônus na aquisição do “Season Ticket” para o ano seguinte. Esse mecanismo acontece em clubes como o Real Madrid e, hoje, com as tecnologias que temos à disposição, não seria difícil trabalhar dentro de uma interface de aplicativos ou sistema de internet para comunicar o "no show". Reforça, também, a questão da credibilidade e do benefício para que se faça o tal "consumo de longa duração".

Em síntese: cada vez estou mais convencido de que há um caminho amplo a ser seguido no sentido de oferecer esse tipo de produto aos torcedores, reforçado, sobretudo, pelas novas arenas – que permitirão segmentar e diferenciar o atendimento para cada tipo de torcedor adquirente do "Season Ticket".

A transição da plataforma esportiva para uma oferta de entretenimento é o grande viés de um projeto neste âmbito e exige que se faça com uma visão de médio prazo, que garanta segurança para o comprador ao mesmo tempo que se deve demonstrar credibilidade sobre o processo de venda. É, portanto, uma mudança cultural de mão-dupla.

 

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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Questão de promoção

A vitória do Flamengo sobre o Vasco, no último domingo, atraiu 61.767 pessoas ao estádio Mané Garrincha, em Brasília. Com uma renda superior a R$ 4 milhões, o jogo ratificou o interesse que as equipes do Rio de Janeiro despertam no público da capital federal.

O Flamengo já havia atuado em um Mané Garrincha lotado quando encarou Coritiba (como mandante) e Santos (como visitante) no atual Campeonato Brasileiro.

A Copa do Mundo de 2014 vai despejar 12 novos estádios no futebol brasileiro, e alguns deles serão construídos em regiões com mercado totalmente incipiente no futebol. Atrair clubes de outros Estados pode ser uma solução para evitar total abandono de equipamentos em locais como Brasília, Cuiabá e Manaus.

Entretanto, essa receita não funciona sempre. No dia 7 de julho deste ano, Botafogo e Fluminense disputaram clássico pelo Campeonato Brasileiro. O jogo foi realizado na Arena Pernambuco, em São Lourenço da Mata, e o público foi decepcionante: 9.669 pessoas.

Entender a diferença entre os jogos lotados do Flamengo em Brasília e o abandono do clássico carioca em Pernambuco é fundamental para orientar a gestão dos novos estádios do Brasil. E muito do que separa os dois caminhos é responsabilidade da comunicação.

A realização de um evento esportivo não é diferente do estabelecimento de um ponto comercial. Antes de escolher um local é necessário conhecer o perfil e as necessidades do público que vive ali.

Botafogo e Fluminense não fizeram uma pesquisa para medir o potencial do clássico em Pernambuco. Apostaram apenas no inusitado de o jogo ser realizado no Estado, que nem sequer é carente de partidas da elite nacional – o Náutico está na Série A do Campeonato Brasileiro.

Depois de medir a necessidade de um clássico carioca na área, Botafogo e Fluminense precisavam refinar a pesquisa. Era preciso entender, por exemplo, se os torcedores das duas equipes podiam pagar mais ou em que tipo de serviço eles investiriam.

Na temporada 2011/2012, a receita de matchday, que soma todo o faturamento obtido em dias de jogos (bilheteria, venda de produtos e receitas de restaurantes, por exemplo), representou 23% de todo o dinheiro ganho pelos times da Premier League. A parte comercial, que inclui patrocínios, gerou 27%.

Agora tente transportar isso para a realidade brasileira: qual clube do país ganha com bilheteria e receita de estádios quase um quarto do faturamento total? Qual time equipara esse faturamento ao dinheiro amealhado com patrocínios e licenciamentos?

A resposta é nenhum. E isso não se deve apenas à estrutura deficiente dos estádios usados pelos times brasileiros até o ano passado. O advento das novas arenas mostrará que essa evolução não será suficiente para carregar o público.

O que falta no Brasil é cultura de promoção. Pergunte a qualquer torcedor, por exemplo, quando é o próximo jogo do time dele. Pergunte qual é o adversário e qual é o campeonato. As chances de ele conseguir responder corretamente são bem remotas.

Desde a implosão do Clube dos 13, as equipes brasileiras adotaram um modelo individualizado de negociação de direitos de mídia. E nem assim conseguiram incluir nos contratos um espaço para a divulgação de seus jogos.

Porque a TV faz chamadas e inserções comerciais sobre as transmissões, mas não dos jogos. Esse é o ponto.

Seria extremamente simples para os times brasileiros estabelecer permutas ou acordos com diferentes veículos de mídia. Esse seria um primeiro passo importante.

Mas também é necessário extrapolar. Diz o jargão que todo jogo de um campeonato por pontos corridos é uma decisão. Se é assim, deveria ser promovido como tal.

O Campeonato Brasileiro não consegue ocupar 40% de seus estádios. A Premier League teve 95% de lotação na temporada passada, a 16ª consecutiva em que pelo menos 90% dos espaços foram preenchidos.

Uma das diferenças básicas entre as duas realidades é a promoção. Sem a venda adequada é impossível lotar qualquer espaço.

No Brasil, o excesso de jogos “que não valem nada” é sempre usado como argumento para os baixos índices de público. Ora, a temporada da NBA, a liga profissional de basquete dos Estados Unidos, tem mais de 80 jogos. Tente encontrar um deles em que o ginásio fica completamente vazio.

Para estabelecer uma franquia, a NBA exige um estudo sobre o potencial do mercado local. Esse estudo é uma das bases para desenvolver ações voltadas a levar esse público para o ginásio.

Pense no seguinte paralelo: quando participa de um programa de rádio ou de TV, um artista sempre aproveita para promover os próximos shows. Quando você viu um atleta aparecer em qualquer mídia e avisar ao público sobre o jogo da semana seguinte?

Outro exemplo: shoppings, que são uma verdadeira mania do consumidor brasileiro, realizam várias promoções durante o ano. Essas promoções são comunicadas no próprio centro de compras, mas normalmente elas também ocupam um grande espaço na mídia. Se o público não for até lá, não adianta reduzir os preços.

O futebol brasileiro tem inúmeros defeitos de gestão. Um deles é achar que a venda depende exclusivamente do amor. Qualquer venda, independentemente do segmento, depende de uma comunicação bem feita.

 

Para interagir com o autor: guilherme.costa@universidadedofutebol.com.br

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Clubes punidos por atos de seus torcedores?

O Projeto de Lei nº 3.095/2012 que tramita na Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais tem por obetivo autorizar o Poder Executivo a aplicar multa às entidades de prática esportiva de qualquer natureza ou modalidade em razão de ilícitos praticados por seus torcedores.

As penalidades seriam aplicadas também às torcidas organizadas, definidas no art. 39-A da Lei Federal nº 10.671, de 15 de maio de 2003 (Estatuto do Torcedor), , no que concerne aos seus membros ou associados.

De iniciativa do deputado estadual Arlen Santiago, a lei teria por justificativa os recentes episódios de violência protagonizados por torcedores.

Do ponto de vista jurídico, o proponente defende que os Estados e o Distrito Federal podem legislar concorrentemente com a União sobre desporto conforme art. 24, IX, da Constituição Federal e art. 37, § 2º, do Estatuto do Torcedor (Lei Federal nº 10.671, de 2003) que permite a todos os entes da Federação a instituição de multa pelo descumprimento de suas disposições.

Segundo o projeto, a entidade de prática esportiva de qualquer natureza ou modalidade que permitir, incentivar, colaborar ou deixar de coibir ilícitos praticados por seus torcedores ficará sujeita às penalidades de advertência; multa e; suspensão de repasses de verbas públicas ou incentivos fiscais estaduais por até seis meses.

A lei caracterizaria ilícito como a promoção de tumulto ou a prática ou a incitação à violência; ou a invasão de local restrito aos competidores, árbitros, fiscais, dirigentes, organizadores ou jornalistas.

A advertência seria aplicada quando o ilícito não fosse consumado e não houvesse vítimas ou danos patrimoniais.

A multa, por sua vez, seria aplicada nas hipóteses de reincidência ou no quando houvesse vítimas ou danos patrimoniais. O valor da multa seria de 1.000 Ufirs (mil Unidades Fiscais de Referência) a 10.000 (dez mil) Ufirs, graduada de acordo com a gravidade da infração, a natureza do evento e a condição econômica da entidade, mediante processo administrativo em que seja assegurada ampla defesa e contraditório.

Finalmente, a suspensão de repasses de verbas públicas seria aplicada, sem prejuízo da multa, na hipótese de reiterado descumprimento das disposições da lei.

O referido projeto recebeu parecer favorável da Comissão de Constituição e Justiça e sua tramitação pode ser acompanhada pelo sítio http://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/tramitacao_projetos/interna.html?a=2013&n=2281&t=RQS .

Trata-se de iniciativa interessante, eis que, conforme amplamente mencionado, o torcedor compõe o patrimônio do clube. Ademais, o Código Brasileiro de Justiça Desportiva tem previsão para a punição disciplinar ao clube por atos de violência de seus torcedores e tal medida tem obrigado os clubes a adotaram meios efetivos de coibir os excessos dos aficionados. Aliás, os próprios torcedores, temerosos de que atos de um colega possam prejudicar seu clube, acabam por impedir a ação dos maus torcedores.

Vale destacar que a Confederação Sul-americana possui dispositivos semelhantes e que, em um caso recente o Corinthians foi punido disciplinarmente em razão da morte causada por fogo de artifício oriundo de sua torcida.

 

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br