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A tática de enganar

“Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.
 
Pensando assim, porque assim o é, acabo de refletir sobre nossa condição (minha, sua e dos outros) de seres humanos brasileiros e pesquisadores aficionados por esporte.
 
Saudoso das minhas conversas com João Freire, o grande João (grande em idéias, em observações, em soluções, em “sacadas” interessantíssimas), lembro-me das discussões sobre os “aspectos cognitivos da motricidade humana” em que ainda hoje me esforço a recordar algum detalhe qualquer que pode ter ficado perdido na memória, tamanha riqueza de idéias e informações que foram discutidas. Numa dessas falamos sobre imaginação. Pode parecer estranho ou óbvio, mas quero destacar que nós seres humanos temos a capacidade de imaginar!
 
Certamente o seu cachorrinho de estimação não tem, nem o rei das selvas ou o elefante do circo. Então poder imaginar nos faz animais diferentes. Isso nos possibilita muitas vantagens. “Desenhar” na mente uma idéia antes de construí-la é algo que nos permite projetar ferramentas, levantar prédios, construir rodas, carros, trabalhos, instituições, teses, antíteses, enfim misturar o concreto e o abstrato crescendo com isso.
 
Tecnicamente, penso que imaginar pode facilitar muitas situações pessoais. No esporte assim como no cotidiano, imaginar é preciso. Nos esportes coletivos, imaginar é fundamental. Desde a abstração de desenhos táticos até a execução em uma situação adversa, é muito importante notar o problema, imaginar a solução e depois tentar construí-la (já que imaginar e não poder ou conseguir executar não resolve os problemas).
 
Na condição de brasileiro pesquisador e observador, noto que um aspecto fundamental precisa ser acusado nas reflexões sobre os esportes coletivos com bola (futsal, futebol, vôlei, basquete, handebol, etc.). Para não causar nenhum tipo de interpretação errônea, tomarei cuidado com as palavras.
 
No dicionário, imaginar significa idear, fantasiar, inventar, representar na imaginação. Já imaginação é a faculdade de criar a partir da combinação de idéias. A combinação de idéias funciona como uma mistura de ingredientes para bolo, colocados em doses certas e preparados de maneira precisa. Quero dizer com isso, que idéias ao léu não necessariamente resultarão em uma imaginação passível de execução.
 
Vejamos outro termo que me será útil na explanação. Falo da palavra enganar. Enganar significa induzir ao erro, iludir, burlar. Em linhas gerais, quem engana (o enganador) engana para o mal (pelo próprio conceito da palavra na indução ao erro). Quando pensamos nos esportes coletivos, podemos alcançar uma forma diferente de encarar o ato de enganar. No vôlei, por exemplo, quando a bola chega até as mãos do levantador ele tem a exata missão de iludir o bloqueio da equipe adversária para que o seu atacante possa realizar uma “cortada” (um ataque) com mais facilidade. A “paradinha” das cobranças de pênalti surgiu tão somente para induzir os goleiros ao erro.
 
Lembremos que “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Mas imaginação, por definição envolve criação, e certamente não haveria por que existir a palavra criar se fosse apenas para a definição dessa lei (mas deixemos essa discussão para outra oportunidade).
 
O ponto a que quero chegar é: principalmente em esportes coletivos com bola (que não são previsíveis!), enganar é uma forma de conseguir vantagens. Podemos pensar até em uma conceituação diferente para o ato de enganar, associando-o a uma imaginação que leva a iludir o adversário.
 
Grandes jogadas do futebol (a bicicleta, por exemplo) foram “inventadas” por brasileiros (ainda que haja controvérsia). E a “jornada nas estrelas” do vôlei? Pura criatividade, pura imaginação, pura ilusão aos adversários…
 
Penso que no nosso país, onde faltam oportunidades para a prática esportiva e onde talentos sobrevivem dentro de erros de preparação e falta de estrutura, algo se torna singular e nos permite ainda assim ter grandes equipes em esportes coletivos com bola. Se é mérito do jeitinho brasileiro eu não sei, mas que nossa capacidade de imaginar para iludir é algo surpreendente, nem duvido mais.
 
Obviamente que não estou aqui, eu brasileiro, querendo dizer que somos grandes enganadores. Já disse antes que o ato de enganar por definição parece algo mau, mas alertei também que transferido aos esportes (dentro do contexto que evidenciei), poderíamos alcançar um entendimento diferente para tal.
 
É claro também que Lavoisier (1743-1794), ao contextualizar a lei de que “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, o fez no pensamento da conservação de energias. Visto assim, até mesmo nossa combinação de pensamentos (a imaginação) é uma decodificação (transformação) de uma série de reações e impulsos que em um estágio final a resultaram.
 
Mas mesmo pensando assim, creio que algo que também se transforma, mas que desta vez sim, se cria, nos permite evidenciar o talento de imaginar para iludir, de transformar para vencer, de criar para sobreviver… Afinal de contas, somos brasileiros.
 
Pena mesmo que no nosso bom futebol o “iludir-enganar” não se mantenha dentro das quatro linhas norteado pelos benefícios das regras ou pela imprevisibilidade do jogo. Pena que o “iludir-enganar” não seja uma forma inteligente e positiva de se traçar táticas e estratégias de um treinador e sua equipe.
 
Por fim, pena que o “iludir-enganar” extrapole as virtudes (que de obrigação básica, passaram a ser diferenciais sociais) dos homens e caminhe para fazer do jogo e do esporte um teatro de marionetes em que o desfecho é conhecido antes mesmo de o público chegar.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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Ausência

Caro leitor da Cidade do Futebol,
 
Infelizmente, informamos que a coluna de Oliver Seitz não será publicada nesta quinta-feira.
 
Pedimos desculpa por esse infortúnio e estamos trabalhando para que ele não volte a acontecer na próxima quinta-feira.
 
Obrigado pela atenção!
 
Sem mais,
 
Equipe Cidade do Futebol
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Ausência

Caro leitor da Cidade do Futebol,
 
Infelizmente, informamos que a coluna de Oliver Seitz não será publicada nesta quinta-feira.
 
Pedimos desculpa por esse infortúnio e estamos trabalhando para que ele não volte a acontecer na próxima quinta-feira.
 
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Equipe Cidade do Futebol
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A necessidade da polêmica

Palmeiras e Ponte Preta fizeram, em São Paulo, a mais chocha final de campeonatos estaduais pelo Brasil. Nada como o eletrizante Cruzeiro 5×0 Atlético-MG, ou como os emocionantes Flamengo 1×0 Botafogo e Juventude 1×0 Inter, na bacia das almas.
 
E a imprensa em São Paulo entrou no clima. Ficou chocha, não discutiu, não criou polêmica, não teve o que discutir diante de um jogo em que o Palmeiras foi bem na primeira etapa, sofrível na segunda e, mesmo assim, deixou claro o óbvio: será campeão estadual após 11 anos.
 
A polêmica não existiu, as mesas redondas não tiveram nenhum lance questionável na insossa partida para debater. O jogo não teve algo de diferente. Resultado: vamos falar dos outros Estaduais!!!!
 
Pois é: o domingão das mesas redondas ganhou um espaço para a depenada do Galo em Minas, para o cada vez mais polêmico Flamengo x Botafogo no Rio, até para o Ba-Vi na Bahia! Existe uma necessidade pela polêmica na imprensa esportiva que não há espaço para aquilo que é banal.
 
Ok, também somos assim quando estamos no nosso dia-a-dia. Prova disso foi o recente tremor de terra em cinco estados brasileiros. Quem sentiu o tremor sem dúvida contou em todos os detalhes o que viu, o que sentiu, o que pensou naquela hora.
 
É da mente humana querer fugir do que é o banal, do que é o dia-a-dia, do que é o cotidiano insosso. A imprensa age da mesma forma. Se Palmeiras e Santos (ou Corinthians) estivessem definindo o título paulista, mais uma vez os outros estaduais seriam ignorados pelas emissoras paulistas. Assim como, no Sul, as resenhas ficaram em cima da vitória no minuto derradeiro do Juventude. Ou, no Rio, só se discutiu a entrada decisiva de Obina no clássico.
 
Não tem como. A imprensa, assim como as pessoas, sente necessidade pela polêmica. E, num domingo em que não se teve polêmica no estado de São Paulo, o jeito foi buscar outros lugares para dar pano à discussão.
 
Ainda se o Valdívia tivesse levado o terceiro amarelo num lance discutível…

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Defender com bola

Em uma das muitas e boas discussões científico-futebolísticas no Café dos Notáveis, ressurgiu uma das questões mais divergentes desde os tempos da inauguração do Café: a posse de bola.
 
Há tempos estudos científicos em todo o mundo, avaliando competições profissionais de futebol em diversos países, apontam para o fato de que o tempo de posse de bola de uma equipe em um jogo não tem boa correlação com o resultado da partida (nem com o número de gols feitos por uma equipe).
 
Isso em outras palavras quer dizer que ter a bola sob posse da equipe por mais tempo durante os diversos momentos do jogo não será garantia de vitória na partida.
 
Claro, estou eu aqui generalizando o conceito “posse de bola”, não “destrinchando-o” de acordo com as regiões do campo em que ocorre, nem com a circunstância temporal da partida (por temporal entenda-se momento do jogo).
 
O fato é que, ela que já foi vedete de narradores e “especialistas” desportivos, tem no Brasil uma variedade de treinadores com propostas distintas de modelo de jogo relativas ao seu conceito.
 
Aí recorro então a um velho colega, que por seus afazeres nunca pode freqüentar as reuniões dos notáveis do Café: sir Istvi. Ele gostava de dizer aos seus alunos da faculdade de educação física que não utilizassem apitos em aulas e treinos de esportes em geral. Dizia que isso seguia na contramão da história porque resgatava tempos de repressão política em que as pessoas de não tinham liberdade para expressarem seus pensamentos.
 
Ora, quanto poder sir Istivi julgava ter um apito? Obviamente em nossas conversas eu tentava mostrar a ele que o problema não estava no objeto em si, mas qual o uso era feito dele. Um dia acabou por se render à minha fala quando combinei com um grupo de alunos seus uma intervenção prática daqueles argumentos que eu usava.
 
Gosto de lembrar essa história para falar sobre a posse de bola porque é exatamente o mesmo problema conceitual: ela e a questão do uso do apito.
 
A posse da bola em um jogo já foi tida como variável determinante do atacar e do defender. Em outras palavras, pesquisadores e especialistas brasileiros, franceses, portugueses e espanhóis sempre atribuíram o estar atacar às equipes com a bola sob sua posse, e o defender para as que não a tinham em seu poder.
 
É claro, somos tentados e induzidos a pensar assim. Mas pensar assim é não compreender o jogo em sua complexidade. Sem ter que me aprofundar nisso neste momento, posso dizer que novas frentes de pesquisa são contrárias a essa fragmentação conduzida pelo estar ou não estar com a bola.
 
Estar com a posse da bola pode ser uma estratégia de controle do jogo. Não necessariamente para buscar atacar e fazer o gol. Mas também para “descansar” enquanto se joga e para se defender através da posse da bola.
 
É claro. O desgaste físico-técnico-tático-emocional de uma partida pode ser influenciado pelo ritmo do jogar. E o ritmo do jogar, pode se bem incorporado a estratégia e ao modelo de jogo, ser controlado pela equipe que tem a posse de bola (independente desta estar ou não a buscar o ataque).
 
Da mesma forma, para fazer um gol a bola precisa ser “atirada” de alguma forma contra ele (o gol, a meta, etc.). Se partirmos do pressuposto de que os jogadores da própria equipe não farão isso contra sua própria meta, então o adversário só o conseguirá fazer se algum dos seus jogadores puder “tocar” na bola. Se a equipe conseguir, para tanto, manter a posse da bola sem necessariamente buscar o ataque, poderá estar eficientemente se defendendo com a bola.
 
Esse conceito já pode por diversas vezes ser visto com sucesso no futebol inglês, em alguns momentos do jogo, em algumas equipes comandadas por treinadores não ingleses. Obviamente, essa não é a única forma de se defender ou “descansar”. Mas é uma proposta diferenciada dentro dos modelos de jogo que normalmente vemos por aí.
 
Estou certo, porém, que desenvolver tal conceito não é tarefa das mais fáceis dentro da cultura “futeboleira”. Nem tão pouco é assunto totalmente “pacífico” em ambientes como o Café dos Notáveis. O fato é, que dentre as tantas coisas que dizem que não podem ser mais “inventadas” no futebol (porque nele já não há mais nada a se inventar – segundo os “boleiro-especialistas”) está aí um conceito com espaço para ser desenvolvido.
 
É claro que, como tantas outras questões tático-estratégicas do futebol, paira sobre a idéia de que a posse de bola nessa perspectiva pode deixar o jogo desacelerado e menos interessante; argumento com o qual não posso concordar.
 
O conceito de se defender com a bola, como vejo, não preconiza o simples ficar por ficar com a bola. Incentiva sim a percepção e a significação do estar coletivo e individual com a posse da bola. E perceber e dar significado possibilita a todo tempo ler o jogo para tomar qualquer decisão que promova o jogar bem (que é diferente do jogar bonito, mas não o exclui). E isso quer dizer que a qualquer desequilíbrio adversário a possibilidade de se buscar mais um ataque é parte da estratégia.
 
Para perder um jogo, talvez tenhamos quatro possibilidades conceituais (que se ramificam). Ou perde-se por erro de estratégia, ou por qualidade do adversário (individual e/ou coletiva), ou por erro na ação (individual do jogador ou coletiva da equipe), ou por fatores externos à lógica do jogo (exemplo, erro da arbitragem).
 
 
O erro de estratégia tem relação direta com a qualidade do adversário (individual e coletiva) porque a elaboração da estratégia deve levar em conta a tal “qualidade”.
 
As ações individuais e coletivas também podem ter relação com a atuação do treinador, mas não necessariamente com sua estratégia de jogo. Então a estratégia do treinador e a qualidade do adversário são variáveis diretamente relacionadas e dependentes da atuação do treinador através de sua estratégia de jogo (e portanto, da sua leitura do jogo).
 
A ação individual e coletiva de seus jogadores e equipe também estão atreladas a atuação do treinador, porém mais ao seu modelo de treino e processo de trabalho.
 
A última grande variável “fatores externos a lógica do jogo” é aquela de menor ou nenhuma responsabilidade do treinador e sua estratégia de jogo (ainda que particularmente poderia contestar essa afirmação – deixemos para outro momento).
 
Em resumo, das quatro grandes varáveis, duas (50%) têm relação direta com as decisões do treinador sobre sua estratégia de jogo. Os outros 50%, aparentemente ainda denotam a ele menor responsabilidade (mas volto a dizer: isso pode mudar!).
 
Defender-se com bola é uma estratégia dentro do modelo de jogo – que é proposto pelo treinador e que pode potencializar erros no início do processo. Os erros quando aparecem, são muitas vezes suficientes para fazer com que o planejamento tome outra direção. Mas o que deveria ocorre
r na verdade é o correto entendimento do processo para diagnóstico exato dos porquês dos erros. Somente assim eles podem ser corrigidos; e somente assim a vitória virá.
 

Mais uma vez eu insisto: quando não se sabe por que se ganha, também não se saberá por que se perdeu. E aí, o fundo do poço é o limite…

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Mais do mesmo

Mais uma publicação nacional, dessa vez uma mais especializada – a Exame – ressalta os avanços das classes econômicas do país. Mais precisamente, a última edição da revista apresenta algumas tendências de padrão de perfil dos novos consumidores que surgirão caso o momento econômico atravessado pelo país se consolide. Farei, aqui, uma breve análise do reflexo que cada um desses perfis pode ter no futuro do futebol nacional:
 
Tendência 1: O avanço das mulheres no mercado
 
A coisa boa: Gera um novo público para o futebol, que tende a exigir maiores condições de conforto e segurança, além de também atrair mais o público feminino. Na medida que clubes reconhecem o valor econômico desse público, eles devem criar mecanismos para atraí-lo, o que acaba sendo bom pra todo mundo. Além disso, o reflexo na venda de merchandising pode ser muito poderoso.
 
A coisa ruim: Com maior poder de decisão econômica familiar concentrado na mulher, o futebol arrisca perder o público jovem caso não ofereça condições de segurança necessárias, além de substituir o estádio por um outro passatempo em família mais cômodo. Além disso, possíveis conexões com jogadores ícones podem fortalecer o mercado externo e estagnar o mercado interno.
 
Tendência 2: Mais casais jovens sem filhos
 
A coisa boa: Casais novos tendem a ter mais dinheiro disponível para gastar com lazer. Entretanto, esse lazer precisa privilegiar o casal, e não os indivíduos, portanto precisa oferecer condições básicas, também, de segurança e conveniência. Além disso, a união com o clube pode ser mais uma maneira de expressar a união do casal e de criar uma identidade própria.
 
A coisa ruim: Sem filhos, não existe muito a necessidade de repassar tradições, um importante componente da cultura do futebol. Casais jovens sem filhos também são mais descompromissados e podem preferir uma viagem a um jogo de futebol. Caso o casal vá a um jogo e não goste da experiência, dificilmente eles voltarão ao estádio.
 
Tendência 3: Cresce o número de pessoas morando sozinhas
 
Coisa boa: Indivíduos com mais tempo livre, o que acarreta na busca por algum tipo de passatempo, e o futebol é um dos principais existentes. Sem responsabilidade, o solteiro pode ir a um jogo de futebol para confraternizar com os amigos, além de buscar maiores laços de aproximação com o clube, principalmente através da compra de produtos.
 
Coisa ruim: Como o indivíduo está teoricamente mais livre, ele pode buscar outras formas de entretenimento. Além disso, ao morar sozinho, o indivíduo concentra todos os seus custos, o que diminui a parcela que eventualmente pode ser utilizada para gastar com o futebol.
 
Tendência 4: Mais consumidores de meia-idade com alta renda
 
Coisa boa: Quanto mais velho, para o futebol, melhor. Quanto mais dinheiro, também. Se o futebol conseguir se aproximar, ganha não só a receita direta, mas também através de patrocínio e direitos de transmissão, além de outras parcerias.
 
Coisa ruim: Quanto mais dinheiro, mais opções para entretenimentos mais refinados. Quanto mais idade, também. E futebol não é uma coisa exatamente refinada.
 
Tendência 5: Uma vida mais longa e melhor
 
Coisa boa: Quanto mais velho, como dito acima, melhor. Afinal, depois de aposentados, sobra tempo e espaço para preocupações na cabeça das pessoas. Tempo e espaço que o futebol preenche muito bem.
 
Coisa ruim: Quanto mais velho, mais exigente a pessoa fica, principalmente com relação a conforto, comodidade e segurança. E, como se sabe, o futebol brasileiro dificilmente consegue oferecer isso.
 
O Brasil vai mudar. Mudará também o futebol?

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Direção responsável

No final, deu a lógica. Dentro de campo, Palmeiras e São Paulo fizeram um jogaço, com grandes chances dos dois lados e vitória na bola. Sem polêmica de arbitragem, com emoção de sobra e vitória daquele que foi melhor no cômpito geral.
 
Fora de campo a lógica também prevaleceu. Inflamados a semana toda pela imprensa e pelos dirigentes remunerados de cada um dos clubes, o clássico decisivo foi cercado pelo amadorismo e hostilidade, incompatíveis com a profissionalização do futebol.
 
Spray de pimenta no olho dos outros é refresco. O que falaremos então sobre a luz “acabar” justamente quando o Palmeiras sacramenta sua vitória? Ou quando os dois times entram na proteção de um túnel para não sofrerem com a torcida?
 
Em 1942, Palmeiras e São Paulo decidiram o Paulistão. Na véspera da partida, o então Palestra Itália acabava de deixar de existi. Líder invicto do torneio, o clube era pressionado, principalmente pelos são-paulinos, a mudar de nome para não ser fechado, sob a acusação de ligação com o fascismo italiano. Pura balela, mas que obrigou o time da colônia a deixar de ser Itália. Naquele jogo, o Palmeiras ganhou na bola. Irritado com o árbitro que marcou um pênalti, o São Paulo decidiu abandonar o jogo, e o Palmeiras nasceu campeão.
 
Junto com ele nasceu uma das rivalidades mais estúpidas do futebol. Se, em 1942, poucos anos após o início do profissionalismo, já era ridículo um time abandonar o campo, o que diremos em 2008, com mais de um século de Campeonato Paulista, quando um time joga spray de pimenta no vestiário do visitante?
 
Já que os dirigentes não conseguem se profissionalizar, cabe à imprensa assumir a direção responsável. Mas parece que os jornalistas necessitam da superficialidade para fazer o seu trabalho. Vide o “caso Isabella”. A cobertura do julgamento do pai e da madastra da menina teve efetivo quase tão grande quanto o de policiais para o clássico paulista de domingo.
 
A troco de quê? Qual a necessidade de mostrar as pessoas entrando e saíndo da delegacia? Qual o impacto disso na vida dos outros? O máximo que se conseguiu foi atrair um bando de pessoas revoltadas para colocar em risco a vida de quem mais estivesse por lá.
 
As duas semanas que antecederam os jogos de Palmeiras e São Paulo foram marcadas por uma overdose de cobertura desnecessária dos jornalistas. Em vez de focar em quem jogaria ou como os times jogariam, a imprensa decidiu acirrar aquela rivalidade de 60 anos atrás.
 
E os dirigentes morderam a isca, fazendo de um dos jogos que mais marcou a volta do charme do Paulistão um festival de bobeiras e amadorismo completo. Se a imprensa não tivesse perdido tanto tempo com bobagens será que o espetáculo não teria sido outro?

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Pressing alto ou defesa em linhas baixas?

Até o final da década de 80 e ainda em meados dos anos 90, não era incomum equipes de menor “qualidade técnica” assumirem, em jogos contra equipes tidas como mais fortes, uma postura extremamente defensiva e recuada com exacerbada preocupação em não sofrer gols.
Ainda que isso continue ocorrendo nos dias de hoje, aparece numa escala bem menor. O fato é que no futebol (como já mencionei outras vezes) a defesa sobressai ao ataque. Proporcionalmente a esportes como o basquete, handebol ou vôlei, o sistema ofensivo no futebol mostra ser de pouquíssima eficácia.
Então, se a idéia é não perder um jogo (e isso não significa ganhar), reforçar a idéia de dedicar as atenções à defesa parece ser tarefa não muito complicada.
Pois bem. É muito comum e típico de treinadores e jogadores de equipes tidas como mais fortes ressaltar a maior dificuldade de se enfrentar adversários que jogam recuados, fechados com o único e aparente objetivo de se defender. Sinceramente não posso concordar com isso.
Complicado, sem dúvida; mais difícil, não.
O jogo de futebol é matriz de um sem número de imprevisíveis situações-problema. Algumas exigem velozes e pontuais respostas; outras não precisam ser dadas tão rapidamente assim. O fato é que quanto menos tempo um jogador tem para responder a uma situação problema, maiores serão as dificuldades e exigências para sua melhor resposta. Quanto mais tempo maiores as chances de que ela (a resposta) seja satisfatória.
Como diria um membro antigo do Café dos Notáveis (“El Zago”), quando uma equipe joga com bloco recuado para marcar, consegue antes de mais nada, tornar o jogo ofensivo do adversário mais lento. Ora, espaço reduzido, muitos jogadores a marcar, resultado: velocidade de circulação da bola comprometida.
Isso me faz lembrar a lenda do “Guepardo raptado”. Segundo ela o mais rápido dos animais terrestres (de nome científico: Aciononyx jubatus ou em inglês “cheetah“), que faz da velocidade a sua principal arma de caça, certo dia fora raptado por cientistas curiosos. Os cientistas queriam saber como o guepardo, animal veloz das savanas, se comportaria em uma floresta de mata fechada. Depois de algumas horas, faminto, o guepardo avistou sua primeira possível presa a uns quinze metros de distância. Pronto para degustar seu almoço, armou o bote e acelerou em direção a sua “vítima”. Três metros depois “trombou” com uma árvore. A presa assustada tentou fugir. O guepardo, determinado, não se incomodou com o primeiro acidente e se arremessou novamente em direção a presa. Nova colisão (e assim sucessivamente até almoço se distanciar). Os dias se passaram e o musculoso, forte e veloz animal não conseguia caçar. Certos de que o guepardo morreria, os cientistas resolveram devolvê-lo ao habitat natural. Descuidados e certos da fraqueza do animal, o subestimaram e acabaram devorados por ele.
Podemos analisar a situação e as possibilidades dadas ao guepardo para sobreviver transferindo-as para o nosso bom e “velho” futebol.
Veloz, o guepardo era bom caçador no ambiente que lhe era natural. Sua principal característica; a velocidade. Ao mudar de ambiente, novas regras (novo jogo). Sua velocidade não podia ser desenvolvida; o espaço e os obstáculos não lhe permitiam. Deveria então se adaptar a nova situação. Teria pelo menos cinco opções. Uma delas, encontrar regiões da floresta onde “clareiras” pudessem ser aproveitadas para melhor desenvolvimento da velocidade (mas aí teria que esperar a presa “passar” pela região, ou criar uma estratégia para atraí-la). Outra seria criar emboscadas, para que ao invés de necessitar do desenvolvimento de grandes velocidades, fosse possível “pegar a vítima” de surpresa. Uma terceira seria adequar o paladar a cardápios que se movessem tão lentamente, que não fizesse diferença desenvolver grandes ou pequenas velocidades na caça. Por fim poderia mudar o ambiente, “derrubando” algumas árvores e criando um novo habitat, mais próximo daquele que era o seu natural – ou simplesmente em última instância, se entregar a situação e morrer nela.
No jogo de futebol, quando uma equipe enfrenta um adversário que tem como estratégia principal defender-se de forma recuada, em bloco e com todos os jogadores, como já mencionado, terá seu “jogo de velocidade” prejudicado.
A desaceleração do jogo interfere diretamente na estabilidade dos sistemas de defesa. Isso quer dizer que um jogo de ataque desacelerado proporciona menores dificuldades para a defesa se manter equilibrada. Se as possibilidades de desequilíbrio diminuem, menores as chances de desenvolvimento de situações de gol por parte da equipe que ataca.
Por outro lado, o tempo para tomar decisões e resolver situações-problema aumenta consideravelmente porque também aumentam as áreas do campo livres de pressão (já que o adversário que se defende acaba por concentrar suas dinâmicas de pressão no – e somente no – seu próprio campo defensivo).
Então o que fazer?
Antes de mais nada, alargar o campo de jogo. Isso por si só não resolve, mas é o início. Depois, outras alternativas:
a)     Buscar as “clareiras” no sistema defensivo adversário (o que não me parece muito eficiente, levando em conta que elas podem não existir, e se existirem podem ser transitórias – aí é necessário sincronizar seu aparecimento com a ação ofensiva);
b)     Criar emboscadas para as quais o adversário não esteja tão preparado porque estará a passar por momentos de maior instabilidade organizacional. Em outras palavras, investir em um jogo que ele não esteja preparado para jogar (por exemplo: equipes com essas características defensivas tendem a não estarem preparadas para transições ofensivas e/ou defensivas, e isso pode ser uma brecha);

c)     Criar situações que não tenham relação direta com a estratégia defensiva adversária; em que opor sua proposta de jogo não seja a principal questão (inve
stindo por exemplo em situações estratégicas de bola parada);
d)     Mudar o ambiente (no que já faz parte o “alargar o campo” através da distribuição geométrica dos jogadores em campo) através de estratégias que vou “preventivamente” não comentar.

Obviamente que essas são algumas alternativas (dentre tantas outras possibilidades possíveis a se discutir) que não necessariamente resultarão em gol – são só alternativas. Mas são elas, passos iniciais; importantes para não se entregar a situação.
A grande questão aqui é que jogar contra equipes que fazem “pressing alto” é mais complicado, na medida que esse tipo de jogo diminui o tempo entre o “pensar-agir”, proporcionando maiores dificuldades para construção do jogo e propiciando intensos e constantes momentos de instabilidade organizacional (de quem marca e de que é marcado). E isso pode potencializar as chances do perder, mas podem também as do ganhar.
Contra as equipes que marcam recuadas em bloco baixo, com grande número de jogadores (senão todos) seja talvez mais difícil o ganhar, mas também é mais difícil o perder. Por isso não se pode assumir serem maiores as dificuldades de enfrentar equipes com tal proposta de jogo.
Então colocar a “culpa” das dificuldades para se vencer, nos “blocos em linhas baixas” da estratégia defensiva de algumas equipes é o mesmo que se entregar a estratégia do adversário.
E aí nesse caso poderíamos concluir que até mesmo o guepardo deve estar mais bem preparado para resolver problemas do que equipes que confrontam as defesas das “linhas baixas” (porque não se sabe até hoje se ele – o guepardo – estava prestes a morrer, ou se estava fingindo para devorar os cientistas – estratégia!).
Para interagir com o colunista: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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Despedida de solteiro

Caros leitores da Universidade do Futebol,
 
Dedico-me nesta coluna a escrever a respeito do Campeonato Paulista da Série B, que terá seu início no próximo fim de semana.
 
A Série B (ou quarta divisão, pois encontra-se abaixo das séries A1, A2 e A3) ganhou nos últimos anos grande importância no cenário do futebol profissional brasileiro. Gradativamente, ela deve ganhar ainda maior relevância.
 
Para explicar o porquê de tal magnitude, voltamos o tempo para o final da década de 90, quando o Brasil deixou de adotar a lei do passe (em que os clubes perderam o vínculo desportivo com seus jogadores findo o contrato de trabalho). Remetemos o leitor também às recentes diretrizes editadas pela Fifa no sentido de evitar que terceiros interessados tenham qualquer direito sobre os direitos federativos (ou mesmo econômicos) dos atletas de futebol profissional.
 
Nesse cenário, equipes menores, sem grande expressão no cenário do futebol brasileiro atual, mas com menor nível de endividamento, tornaram-se atrativas ao negócio do futebol. Esses clubes passaram a desempenhar o papel de veículo para realização de negócios no futebol.
 
Grandes empresas (como a Red Bull e a Traffic) e novos empresários da bola (como o ex-zagueiro Oscar e o atual Roque Júnior) vislumbram em times que disputarão neste ano a Série B uma oportunidade de formar adequadamente jogadores jovens e talentosos que acabarão por alimentar o nosso futebol doméstico.
 
O que as empresas faziam em outros tempos com certa tranqüilidade (aquisição de direitos sobre jogadores), hoje somente o fazem (com a mesma tranqüilidade) através do gerenciamento, de forma profissional e organizada, de um clube de futebol devidamente filiado às federações estaduais. E, por estarem na última divisão, reduzem-se os custos (comparado às séries A2 e A3).
 
Esse avanço na ideologia empresarial tende a fortalecer, e muito, o futebol local.
 
É claro que a transferência de jogadores desses pequenos clubes ao exterior renderia maiores lucros a esses empresários. Porém, sabemos que um mesmo jogador vale muito mais se jogar no Palmeiras do que no Desportivo Brasil, por exemplo. Assim, os bons negócios desses clubes serão firmados (ou já estão firmados) com clubes do Brasil.
 
Assim, o massivo investimento que vemos hoje na Série B deverá promover, em um médio prazo, melhores times locais de primeira divisão.
 
Em contrapartida, a legislação aplicável (incluindo as regulamentações desportivas) passa a proteger os clubes formadores e, a cada momento, melhora também os mecanismos de exercício dos direitos desses formadores. Ou seja, o investimento torna-se ainda mais atrativo.
 
Se esse movimento tornar-se sustentável e duradouro, o mercado brasileiro será fortalecido, com benefícios não só aos investidores, como também aos clubes de maior expressão e também os atletas, que terão maior oportunidade para o sucesso.
 
Gostaria de finalizar esta coluna expressando uma grande satisfação em escrevê-la, posto que é histórica para mim. Marca o fim de uma fase profissional e pessoal. Profissional pelos motivos que deixarei para apresentar na próxima coluna; e pessoal, pelo motivo auto-explicativo do título da coluna.
 
Até a próxima!

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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A conquista da derrota

O que você ganha com o futebol?
 
O que o futebol oferece para você?
 
Por que você paga para ter acesso ao futebol?
 
Ninguém sabe muito bem. Nem você, se bobear. E essas questões são fundamentais para uma perfeita compreensão do mercado. Afinal, qualquer mercado é estabelecido na inter-relação entre oferta e demanda. Agora, qual é a oferta e qual é a demanda do futebol?
 
Uma análise rápida, e talvez superficial, sugere que as pessoas pagam para ver o time ganhar um jogo. É para isso que elas gastam dinheiro e é isso que elas esperam poder consumir, uma vez que a vitória oferece sensações ímpares de satisfação e superioridade. Dessa forma, é possível entender o futebol como uma aposta: você investe na possibilidade de se sentir bem. Entretanto, o retorno não é garantido e depende de infinitas variáveis, tal qual uma aposta qualquer. E quanto mais dinheiro você gasta com um clube, maiores são as chances de ele conquistar a vitória, uma vez que com mais dinheiro disponível o clube consegue ter maior controle sobre as variáveis incidentes no resultado de um jogo. Portanto, quanto mais grana você gasta com o seu clube, maiores são as chances de você obter o que deseja, tal qual – novamente – uma aposta.
 
Mas como o público de um clube de futebol é muito grande, o seu dinheiro acaba significando muito pouco, logo o ideal é que você consiga angariar um número cada vez maior de torcedores, para que esses também possam gastar (e gerar) dinheiro, o que eventualmente também aumentará as suas possibilidades de obter o resultado desejado pelo dinheiro aplicado. Nesse caso, a torcida acaba virando uma grande aposta coletiva com fomento de base.
 
Entretanto, quando um apostador percebe que o dinheiro da sua aposta não incrementa as suas chances de ganhar, ele naturalmente deixa de apostar. Logo, quando um clube não consegue converter o capital proveniente da sua torcida em resultado em campo, ele está fadado ao fracasso.
 
Isso, porém, não é necessariamente verdade. Clubes conseguem sobreviver por um bom tempo mesmo sem apresentar resultado em campo, o que sugere que a idéia de que a torcida paga para ver o time ganhar não é necessariamente verdade. Muita gente tem estudado bastante sobre o que leva as pessoas a consumir futebol. Ainda não conseguiram chegar a uma resposta definitiva. Mas é certo que, no jogo, a vitória paga a aposta. Mas, aparentemente, a derrota paga também.

Para interagir como autor: oliver@universidadedofutebol.com.br