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Mês: setembro 2006
Quando Tevez e Mascherano ainda se encontravam no Corinthians, era muito comum ver e ouvir relatos sobre confusões nos vestiários e rachas no elenco. As últimas colocações do time no Campeonato Brasileiro não eram surpresa pra ninguém. Porém, por causa daquelas forças capitais que não precisam ser enumeradas, os dois foram transferidos e, ao que tudo indica, o Corinthians começou a ter mais paz, respirar melhores ares e conseguiu momentaneamente escapar da área da degola para a segunda divisão.
Ambos, como se bem sabe, rumaram para a Inglaterra, também em busca de melhores ares e, possivelmente, maiores cifrões. Curiosamente, tanto para mim quanto para você e, principalmente, para os ingleses, os dois foram anunciados como reforços do West Ham, clube londrino também conhecido como “Martelos”, que tem muita tradição em revelar jogadores de suas categorias de base. Tanta tradição que se proclama “A Academia do Futebol”. Não pra menos, afinal do clube já saíram diversos figurões do futebol inglês. Basta ver que na seleção inglesa da Copa de 2006, três dos principais jogadores haviam sido revelados por eles: Frank Lampard, Joe Cole e Rio Ferdinand. Além desses, destacam-se atualmente na Premier League, Michael Carrick, do Manchester United, e Jermaine Defoe, do Tottenham.
É natural que um time que revele tantos jogadores também possua uma política muito clara para privilegiar os jogadores formados em casa. E é exatamente aí que começam os problemas entre Tevez, Mascherano e West Ham. Do mesmo jeito que começaram os problemas no Corinthians.
Já está sendo noticiado que o vestiário do West Ham não é mais o mesmo depois da chegada dos argentinos. Primeiro porque o West Ham é um time de base, ou seja, não está lá muito acostumado a jogadores estrangeiros. Dos 27 jogadores do atual elenco, nada menos do que 22 são britânicos. E a Grã-Bretanha e a Argentina não são exatamente dois países amigos, tanto que entraram em guerra na década de 80 por causa de uma ilha.
Mas tudo bem, rivalidade regional por rivalidade regional, possivelmente o ambiente brasileiro seja pior e os dois argentinos se deram relativamente bem por essas bandas. Mas esse não é o pior problema, nem de longe. Pra variar, o problema está justamente no lugar que foi a solução do West Ham ao longo de sua história: as categorias de base.
Com a súbita chegada das duas estrelas, os jogadores formados na casa se sentiram desprestigiados. Nada de inesperado. Afinal, foram eles que na temporada passada ralaram pra conseguir uma vaga pra Copa da Uefa e chegar à final da Copa da Inglaterra, que escapou entre os dedos nos pênaltis para o Liverpool.
Alan Pardew, técnico da equipe londrina, diz que o problema todo está na adaptação para o futebol inglês e assim que os seus jogadores latinos se adequarem ao sistema, começarão a produzir o futebol de qualidade que se espera deles. É bom que ele esteja certo e que essa adaptação seja rápida, porque os resultados indicam que o problema talvez seja maior do que o imaginado.
O início dos Martelos na temporada não é dos melhores. Em seis jogos somou apenas cinco pontos, uma vitória, dois empates e três derrotas. Antes da chegada de Tevez e Mascherano, o clube havia ganhado uma, empatado outra e perdido uma. Depois dos dois, apenas um empate na primeira partida, que Tevez entrou como substituto e Mascherano não jogou, e duas derrotas. Mascherano, até agora, só perdeu. E, enquanto Tevez esteve em campo, o West Ham ainda não marcou um gol sequer.
Aliás, o clube não tem marcado muitos gols até agora. Em seis partidas, o West Ham marcou apenas seis gols. Bobby Zamora, companheiro de Tevez no ataque, foi responsável por cinco deles. Curiosamente, ou não, Zamora é cria da “Academia do Futebol”.
É difícil dizer exatamente onde a parceria entre o West Ham e a MSI pode levar o clube e os jogadores, mas é fato que algumas tradições no futebol mundial estão sendo rompidas, e isso não significa necessariamente uma coisa boa. É uma clara demonstração do poder do capital dos grupos de investimento, que se antes tinha tamanha explicitação reservada a mercados periféricos como o nosso, agora começa a dar as caras até no campeonato nacional de clubes mais poderoso do mundo.
E já que as tradições daqui estão sendo levadas para lá, é bom o Alan Pardew começar a ficar preocupado e dar um jeito do time mostrar serviço logo. Em mais de cem anos de história, o West Ham só teve dez técnicos diferentes. Em menos de dois anos de parceria com a MSI, o Corinthians já teve seis.
Carlos Alberto Parreira já detectou seu primeiro desafio como treinador da África do Sul. O técnico do país anfitrião da próxima Copa do Mundo pressionou a federação local para que as categorias de base da seleção sul-africana sejam desenvolvidas.
“Será preciso começar do primeiro passo, que é criar uma boa base dentro do país. A África não tem divisão de base. Então precisamos criar times sub-20 e sub-17. Categorias mais jovens não precisam, já que para a Copa não dá tempo de formar um jogador”, disse Parreira.
Segundo o treinador, a federação local se prontificou a estruturar em conjunto com ele uma liga local para os jogadores mais jovens.
“Será a reserve league, que é a liga dos jogadores reservas. É até uma exigência deles para dar motivação, criar uma competição. E isso vai ajudar o time na Copa”.
Além de criar uma liga para categorias de base, Parreira quer dar mais bagagem internacional a seus jogadores. Para isso, o treinador quer que a África jogue o maior número de partidas amistosas possíveis contra seleções fortes.
“Não tem que se preocupar com o resultado, mas sim jogar contra times como Brasil, França, Itália, Alemanha”, afirmou.
Outro desafio que Parreira acredita ter na África é em relação ao time principal. Para ele, haverá problemas semelhantes aos enfrentados na seleção brasileira no que diz respeito aos jogadores convocados.
“Assim como no Brasil, a maior parte dos jogadores atua no exterior. São 70 jogadores atuando fora. E a África fica muito ao sul do continente, o que faz com que qualquer viagem para lá dure 11 horas”.
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Um ano escrevendo sobre futebol
Em setembro do ano passado escrevi minha primeira coluna na Cidade do Futebol. Semana após semana, por 54 vezes, fui exercitando forma e conteúdo e, talvez, um pouco também da paciência dos leitores que se dispuseram a acompanhar minhas idéias.
Lembro-me que em um dos primeiros textos tentei demonstrar que o futebol não é como muitos pensam sinônimo de saúde, cultura ou educação, se os seus protagonistas não tiverem a intenção de transformá-lo em verdadeiro instrumento de desenvolvimento humano.
Um ano escrevendo sobre futebol.
Os valores mais caros que devem permear o futebol e o esporte de uma forma mais ampla, como solidariedade, cooperação, busca de superação dos limites, espírito democrático, respeito aos nossos oponentes etc., não caem do céu e devem ser construídos por todos que participam de atividades lúdicas, educativas ou competitivas.
Em outra oportunidade procurei falar sobre a inteligência dos jogadores de futebol e entender como atletas, às vezes analfabetos e ignorantes, conseguem encontrar soluções motoras geniais dentro dos problemas e dificuldades que surgem dentro do campo.
Mas um dos meus temas preferidos é refletir sobre que tipo de saber deve ter os profissionais que trabalham no futebol. Para serem competentes bastaria ao treinador, preparador físico, nutricionista ou psicólogo apenas estar muito atualizados em suas especializações.
Porém, há algo que perpassa estes conhecimentos específicos que precisa ser devidamente compreendido por todos, para que se entenda a complexidade do ser humano que está por trás do atleta.
Um ano escrevendo colunas e tentando a cada semana buscar novos olhares sobre este fenômeno cultural chamado futebol, me reforçou o sentimento de que falar sobre este esporte é falar sobre a vida.
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“Foi um tsunami que passou”. Assim o técnico Carlos Alberto Parreira justificou a derrocada da seleção brasileira na Copa do Mundo. O treinador do Brasil na última Copa do Mundo disse que houve uma pressão sobre os jogadores brasileiros muito maior do que se poderia esperar durante a preparação e disputa do Mundial.
“Claro que a gente esperava um assédio grande. Mas foi muito maior do que a gente poderia esperar. Eram duas mil pessoas nos treinos da seleção, era até mesmo revista de cosméticos procurando o Ronaldinho para colocá-lo na capa”, afirmou o treinador no Rio de Janeiro, onde esteve como ouvinte do II Fórum Internacional Marketing Esportivos de Resultados, organizado pela Associação Brasileira de Anunciantes do Rio de Janeiro (ABA-Rio).
O treinador rechaçou a idéia de que faltou planejamento e foco para que o Brasil se sagrasse campeão na Alemanha. Segundo Parreira, a condição de favoritismo da seleção foi algo até certo ponto natural, dados os resultados obtidos.
“Não tinha como não admitir o favoritismo. Mas foi algo de fora para dentro muito grande”, disse o treinador, que ainda ressaltou ter havido uma “falta de química” dentro de campo para a seleção.
“Nos Estados Unidos fala-se muito em ter química para a coisa. E no momento da Copa, dentro de campo, não veio a química ideal. Dentro de campo não se traduzia o ambiente que havia fora dele”, disse.
Para o ex-comandante brasileiro, o maior problema para alguns jogadores foi a “overdose” de futebol. Segundo Parreira, houve um desgaste físico e emocional muito grande nos atletas por conta do calendário.
“Talvez isso tenha contribuído. O Ronaldinho, por exemplo, jogou no dia 17 de maio a final da Liga dos Campeões e no dia 22 já teve de se apresentar para jogar a Copa”.
Na próxima semana Parreira embarca para a África do Sul. O treinador foi contratado para coordenar a preparação da seleção local para a Copa de 2010, que pela primeira vez será realizada no continente africano.
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“Foi um tsunami que passou”. Assim o técnico Carlos Alberto Parreira justificou a derrocada da seleção brasileira na Copa do Mundo. O treinador do Brasil na última Copa do Mundo disse que houve uma pressão sobre os jogadores brasileiros muito maior do que se poderia esperar durante a preparação e disputa do Mundial.
“Claro que a gente esperava um assédio grande. Mas foi muito maior do que a gente poderia esperar. Eram duas mil pessoas nos treinos da seleção, era até mesmo revista de cosméticos procurando o Ronaldinho para colocá-lo na capa”, afirmou o treinador no Rio de Janeiro, onde esteve como ouvinte do II Fórum Internacional Marketing Esportivos de Resultados, organizado pela Associação Brasileira de Anunciantes do Rio de Janeiro (ABA-Rio).
O treinador rechaçou a idéia de que faltou planejamento e foco para que o Brasil se sagrasse campeão na Alemanha. Segundo Parreira, a condição de favoritismo da seleção foi algo até certo ponto natural, dados os resultados obtidos.
“Não tinha como não admitir o favoritismo. Mas foi algo de fora para dentro muito grande”, disse o treinador, que ainda ressaltou ter havido uma “falta de química” dentro de campo para a seleção.
“Nos Estados Unidos fala-se muito em ter química para a coisa. E no momento da Copa, dentro de campo, não veio a química ideal. Dentro de campo não se traduzia o ambiente que havia fora dele”, disse.
Para o ex-comandante brasileiro, o maior problema para alguns jogadores foi a “overdose” de futebol. Segundo Parreira, houve um desgaste físico e emocional muito grande nos atletas por conta do calendário.
“Talvez isso tenha contribuído. O Ronaldinho, por exemplo, jogou no dia 17 de maio a final da Liga dos Campeões e no dia 22 já teve de se apresentar para jogar a Copa”.
Na próxima semana Parreira embarca para a África do Sul. O treinador foi contratado para coordenar a preparação da seleção local para a Copa de 2010, que pela primeira vez será realizada no continente africano.
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Diz o ditado que, quem fala o que quer, ouve o que não quer. A situação bizarra vivida pelo Palmeiras na última semana é a prova de que a comunicação é o último item numa lista de prioridades dentro de um clube de futebol.
Pode parecer repetitivo, mas sem dúvida que os exemplos que colhemos no cotidiano nos mostram que a preocupação com a imagem do clube é o que menos interessa dentro da estrutura da maioria das agremiações brasileiras.
Salvador Hugo Palaia, diretor de futebol, e Tite, então treinador, trocaram farpas pela imprensa sobre o comportamento do time do Palmeiras na derrota para o lanterna Santa Cruz. Como se não houvesse vestiário. Como se eles não tivessem o número do telefone celular de um e de outro. Como se o Palmeiras não importasse, mas sim suas preferências pessoais, seus pensamentos, seu sangue fervendo.
E é esse o grande drama da comunicação clubística nos dias de hoje. Não há uma hierarquia interna de relações públicas. Os dirigentes falam o que quer, os jogadores se sentem no direito de também fazê-lo, o técnico idem. E a imagem do clube que se lixe.
Foi assim que o Palmeiras saiu de uma confortável situação para o inferno na noite de quinta-feira. Numa declaração infeliz de um dirigente mais preocupado em polemizar do que em pensar no bem da instituição para a qual trabalha.
Assessoria de imprensa nos clubes de futebol significa, hoje, um profissional sem expressão no mercado jornalístico, que tenha bom relacionamento com jogadores, que consiga frear o ímpeto dos colegas sedentos por notícia, que jogue ao lado do time.
A comunicação estratégica, tal qual funciona numa grande empresa, não faz parte da prioridade de um clube. Investir 15 a 20 mil reais por mês numa grande equipe de comunicação, é algo impensável nos dias de hoje. A função do assessor não é apenas cuidar da atualização do site oficial, não é só fazer o meio-campo com a imprensa, não é simplesmente levar o atleta para dar entrevista depois do jogo ou do treino.
Comunicação é uma ferramenta primordial dentro dos clubes. Todos os diretores devem falar a mesma língua. O treinador tem de respeitar uma hierarquia. O jogador tem de se comportar de maneira a dar o exemplo.
Afinal, o grande charme do esporte é proporcionar emoções inesquecíveis. Mas essas emoções não podem se tornar motivo para a derrocada moral de um clube. E o primeiro passo para se corrigir isso é investindo na comunicação estratégica, que vai muito além do fornecimento de estatísticas sobre os jogadores.
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Cartão torcedor – peça já o seu
Não é preciso ser nenhum exímio observador pra perceber o tamanho do problema da violência dentro, e fora, dos estádios do futebol. Tão grande ele é que o poder público vem há tempos tentando criar medidas e ferramentas para que esse problema seja amenizado.
Em 2003, todos recordam, foi criado o Estatuto do Torcedor. Na ocasião do anúncio da medida, o presidente Lula disse que no Brasil existem algumas leis que pegam, e outras que nem tanto. Era a sentença do não muito esperançoso futuro do conjunto de regras que buscavam, entre outras coisas, salvaguardar o mínimo de segurança para cada torcedor que ia a um estádio.
Três anos depois, em uma ação conjunta do Ministério dos Esportes com o Ministério Público, CBF e Federação Paulista, é anunciada uma nova proposta contra a violência nos estádios, o Projeto Piloto da Comissão de Paz no Esporte. De acordo com o site do Ministério do Esporte, o projeto junta “as medidas do Estatuto do Torcedor com a experiência de combate à violência nos estádios de futebol”. Isso é meio estranho. O próprio Estatuto do Torcedor já não havia sido criado baseado na tal da ‘experiência de combate à violência nos estádios de futebol’? Se sim, isso quer dizer que o no projeto envolve a ‘experiência de combate à violência nos estádios de futebol’ ao quadrado?
Bom, tudo bem. Experiência nunca é demais.
Porém, a própria experiência contradiz um pouco o novo projeto, que tem como carro chefe o cadastramento dos ‘torcedores organizados’ com a criação de uma espécie de ‘cartão do torcedor’, que contará com RG, foto, endereço, etc, do indivíduo.
Em meados da década de 80, no auge da crise do hooliganismo na Inglaterra, o governo da primeira-ministra Margaret Thatcher tentou passar o “Football Spectators Act”, que dentre outras coisas buscava instituir uma espécie de ‘cartão torcedor’, de modo a controlar o comportamento individual dos torcedores, e prevenir a entrada dos hooligans nos estádios. A medida foi rechaçada pelos clubes, torcedores e até pela polícia, que acreditava que a proposta era leviana, não atingia a essência do problema e possivelmente potencializava os confrontos violentos. Alguns anos depois a idéia foi definitivamente enterrada pelo Relatório Taylor, o divisor de águas da cultura hooligan, que comparou a implementação do cartão como “quebrar uma noz com uma marreta”.
Tudo bem, as realidades ao diferentes, e a situação das torcidas organizadas não são o espelho exato do fenômeno do hooliganismo. Seguramente, as entidades envolvidas no projeto brasileiro possuem lá suas razões para acreditar que essa é a melhor das soluções. Mas é preciso ficar atento, uma vez que é sempre possível contestar a atitude autoritarista que o Estado está tomando e até que ponto os torcedores organizados devem ser tratados como pessoas ausentes da sociedade. Além disso, o próprio presidente da Comissão de Paz no Esporte disse para o diário Lance! que “o projeto do cadastramento é o melhor amigo das organizadas”, e que a Comissão quer “quebrar o anonimato dos organizados, identificar os inimigos do futebol”.
Não sei quanto a você, mas eu não considero o melhor amigo do meu inimigo uma pessoa muito confiável.
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Desvendar mazelas no futebol tem sido um exercício cada vez mais comum, tanto no Brasil como em outros países considerados mais civilizados. Escândalos pipocam em toda parte.
Neste sentido a era da informação em que vivemos, cria ferramentas poderosas para revelar e denunciar as fraquezas humanas ao mesmo tempo em que nos ajuda a encontrar caminhos mais promissores para a nossa comunidade, sociedade e humanidade, de uma forma geral.
Falta de postura ética, corrupção, negociatas, são alguns dos temas mais comuns na mídia esportiva e policial.
O futebol precisa evoluir, assim como a sociedade. O futebol não pode ser considerado isolado do contexto social.
Mas uma coisa intrigante é constatar como uma manifestação cultural tão significativa como o futebol, tomada por paixões e emoções, desconsidera suas dimensões humanas.
Preocupa constatarmos que, em pleno século 21, uma ciência tão importante como a psicologia do esporte, por exemplo, ainda encontra tanta resistência para se estabelecer no futebol.
Aliás, não é só a psicologia que é rejeitada. Tantas outras áreas pertencentes às ciências humanas também não encontram espaço no futebol. O que ainda prevalece são as ciências biológicas e a técnica ou, pior, o tecnicismo.
Ao buscar o desempenho ótimo de suas equipes, treinadores, preparadores físicos, médicos e demais membros da Comissão Técnica de uma equipe deveriam entender que o atleta não é apenas feixes de músculo que exercem funções biológicas em busca de resultados.
O atleta é antes de tudo um ser humano e como tal deve ser entendido. Um ser que sofre que ri que chora que vibra que tem problemas e dificuldades e que tem, enfim, sentimentos como qualquer pessoa.
Como nos ensina o filósofo e pesquisador das ciências da motricidade humana, Dr. Manuel Sérgio, todos os profissionais que trabalham com jogadores e, portanto, com gente, deveriam entender que para saber sobre futebol é preciso entender mais do que futebol.
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O futuro do jornalismo esportivo
“Se você quiser ser jornalista no esporte, não vá para a televisão. Fique no jornal ou na revista”. Ouvi essa previsão durante um almoço em 1998, ainda com a careca que simboliza a entrada na faculdade (e não o sinal dos tempos) de meu tio, muito mais experiente e estabelecido na profissão.
O aviso desde então martela em minha cabeça. Jornalismo, no esporte, não existe na TV. Passados oito anos daquela “profecia”, é que cada vez mais claro que, na televisão, o esporte tem de ter o status de entretenimento.
Sim, com a importância que o esporte adquire nas grades de programação das emissoras, sem dúvida que o espaço para o jornalista diminui paulatinamente dentro das transmissões esportivas.
Não é difícil perceber isso no dia-a-dia. O que podemos falar sobre as mesas-redondas infindáveis dos domingos? Quantas informações são de fato transmitidas para os telespectadores nas noites de domingo? Apenas os gols da rodada são informativos. Do restante dificilmente extraímos alguma coisa.
E as transmissões esportivas são, cada vez mais, shows para entreter o público, para aumentar a audiência de quem transmite e assim ganhar a concorrência do filme, da mulher semi-nua do outro canal, do cinema com a namorada…
Por isso mesmo que, recentemente, a classe jornalística se pegou numa discussão sobre a proibição a comentaristas que são ex-jogadores de futebol. Por que eles não podem pegar os microfones e falar ao público com o gabarito de quem já esteve em campo?
Oras, deixemos a hipocrisia de lado. Qual a função do comentarista para a empresa que o contrata? Assegurar bons índices de audiência para o canal. Sendo assim, se na transmissão já existem dois repórteres de campo para levar as informações sobre os atletas, por que é preciso um jornalista para comentar e levar as mesmas informações ao telespectador? Não é melhor chamar alguém de renome para os comentários? Isso não garante índices maiores de audiência? Sem dúvida que sim…
Além disso, é importante lembrar que o futebol na TV, hoje, é um produto como é o filme da segunda-feira, o humorístico da terça e por aí vai. Ou seja, não é possível assumir uma visão crítica imparcial e detonar o produto, já que a emissora depende dele para ter receita com publicidade.
O esporte na televisão é, acima de tudo, um espetáculo de entretenimento. Resta ao jornalista ter discernimento para não cair na bobeira de achar que ele faz parte do show. Sua função é informar. Deixa a representação para outros palcos.
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Caros e eventuais leitores,
Venho nesta minha primeira coluna conclamá-lo a fazer um ato público de cidadania. Bem se sabe que estamos no meio do período em que nos lembramos que vivemos em uma democracia direta e universal, e que precisamos estar conscientes de fazer o que estiver ao nosso alcance para que consigamos manter um sistema equilibrado que respeite a nossa liberdade e a do próximo, de modo a estabelecer uma convivência pacífica em uma sociedade organizada. Convoco-o, portanto, a exercer o seu papel de cidadão.
E se você é um brasileiro no pleno exercício de sua cidadania, que possivelmente não desiste nunca, não mais vá a jogos de futebol. Não se dê ao trabalho.
Não pelo alto risco envolvido para a segurança pessoal, não pelas dificuldades de acesso, não pela falta de estrutura, nada disso. Não vá porque não é pra você ir.
Acredite, você não precisa.
No Brasil, aparentemente, futebol não foi feito pra ser visto pela torcida, e a maior evidência desse fato acabou de ser aprovada por parte do Poder Legislativo e sancionada pelo Poder Executivo.
A Timemania, a tão falada nova loteria federal destinada a tirar os clubes de futebol do buraco, traz à tona o significado dos clubes de futebol para o Estado brasileiro e expõe, em parte, algumas razões do porquê do cenário atual da indústria do futebol local.
Na nova loteria, essencialmente, o apostador escolhe alguns escudos de alguns clubes e torce para que a combinação escolhida seja sorteada. É um pouco semelhante à Mega-Sena, a mais famosa das loterias nacionais, que possui uma probabilidade de acerto de 1/50.063.860. Não sei exatamente qual será a chance de acertar na Timemania, mas fácil não vai ser, nem um pouco. Possivelmente seja muito mais provável o Santa Cruz ser campeão brasileiro desse ano.
Com a Timemania, o governo federal descobriu um jeito de desemperrar parte do caixa dos clubes sem ter que perdoar a enorme dívida pública que eles contraíram ao longo dos anos. É uma situação em que, aparentemente, todos saem vencendo. Mas como pra alguém ganhar um outro alguém precisa invariavelmente perder, sobrou pro de sempre, pro cidadão brasileiro. É ele que, através da ilusão do enriquecimento simples e fácil, pagará pelas improbidades administrativas cometidas pelos clubes ao longo de diversas gerações.
Isso porque eu tenho uma firme convicção de que quem eventualmente comprar uma cartela da Timemania estará se preocupando bulhufas em ajudar os clubes. Aliás, é provável que uma boa parte dos apostadores da Timemania sequer gostem de algum clube de futebol e jamais tenham ido a um estádio na vida. Ninguém vibrará com jogadas de efeito e gols, apenas com símbolos sorteados. No fim, o que interessa mesmo é o dinheiro da premiação, principalmente para as classes mais desfavorecidas da população, que tendem a ser as grandes consumidoras de loterias. E dinheiro é o que também, no fim, interessa ao governo, que sabe que dificilmente conseguirá reaver a dívida de outra forma.
Curiosamente, a Timemania não envolve em momento algum o jogo de futebol em si, apenas as marcas dos clubes. E isso demonstra claramente o papel que os clubes de futebol exercem hoje no país: meros símbolos. Um fomento ao jogo de azar. Um instrumento de um esquema ilusório que faz uso da omissão estatística, do débil ambiente nacional e das quase intransponíveis barreiras de escalada social para pagar a conta de terceiros.
No Brasil, clubes de futebol existem apenas para existirem. Não precisam se estruturar, não precisam oferecer um serviço que seja adequado ao valor pago, não precisam nada, talvez nem mais disputar uma partida de futebol minimamente decente. Não, basta existir.
Aqui, também, o torcedor sequer precisa se preocupar em comprar um ingresso e ir ao estádio. Afinal, quem paga a conta do futebol não é ele, é o cidadão comum. Se possível, na lotérica mais próxima.
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