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Uma crise para o futebol brasileiro

Parece estranho acreditar que uma crise possa fornecer algum tipo de auxílio no desenvolvimento de uma área qualquer de atuação, em uma sociedade como a nossa, já tão cheia delas. Mas é exatamente isso que nosso futebol parece está precisando, caso queiramos que ele evolua enquanto instituição.
 
A crise é um instante decisivo que traz à tona praticamente todas as anomalias que perturbam um organismo, uma instituição, um grupo ou uma pessoa. E esse é o momento crucial em que se exigem decisões e providências rápidas e sábias, se é que pretendemos debelar o mal que nos aflige.
 
Muitas vezes, por trás de certas situações de aparente normalidade, escondem-se as mais variadas distorções ou patologias, que em virtude daquela aparência não são colocadas em questão. 
 
O futebol, considerado por alguns sociólogos como uma representação simbólica da própria vida em um sentido mais amplo, nos fornece ricas demonstrações neste aspecto.
 
Basta, por exemplo, que uma equipe comece a perder as possibilidades ou esperanças de chegar ao fim do campeonato na posição em que seus torcedores esperam, para que o ambiente comece a piorar e as críticas se multiplicarem. A partir daí, tudo é questionado. Dirigentes, treinador, comissão técnica e jogadores são colocados em xeque.
 
O lado bom desse ambiente tenso e desfavorável é que a partir daí, todos começam a perguntar, de uma forma mais séria e profunda, sobre o que estaria errado e o que poderia ser feito para que tudo pudesse melhorar.
 
A crise, portanto, impõe certas medidas que favorecem as mudanças.
 
Neste sentido, se desejamos mudanças radicais na organização do nosso futebol, não seria legítimo afirmar que para isso ocorrer precisaríamos, antes, vivenciar uma profunda crise nesta instituição?

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Questão de ética

Faz muito tempo que a palavra ética deixou de figurar em nosso cotidiano. Assolado pela crise política de mensalões, conchavos e desvios de verbas, o Brasil assiste hoje a uma enxurrada de condutas moralmente questionáveis que não chegam a ser sequer discutidas como algo fora da normalidade.
 
A saída de Christian do Corinthians é um desses casos. O jogador foi contratado no início do ano, era o artilheiro do time, sensação de um início pífio do Campeonato Paulista. Havia encontrado finalmente seu espaço na equipe de Emerson Leão e caminhava para finalmente se afirmar no futebol de São Paulo.
 
De uma hora para outra, Christian rasgou a camisa corintiana e voltou a vestir o vermelho do Internacional, clube onde despontou para o futebol brasileiro. Tal qual nossos políticos trocam de partido conforme a nota cintila mais alta, o atacante corintiano virou colorado da noite para o dia.
 
E o compromisso assumido no início do ano com o Corinthians? E a lisura no tratamento entre os clubes? E o respeito aos torcedores do clube?
 
Ninguém chegou a questionar nada disso. O Inter pagou ao Corinthians, então Christian está livre para fazer o que quiser. Esse foi o resumo da ópera. Para o alvinegro, foram R$ 500 mil entrando no clube de uma hora para outra. Para o Inter, um esforço necessário após a lesão de Fernandão e a saída de Rentería.
 
E o torcedor continua com cara de tacho. Vendo o seu novo ídolo tornar-se uma espécie de amor de verão, sem qualquer compromisso com a vida do dia-a-dia.
 
Em casos como esse que voltamos a perceber na necessidade de se criar um código de ética para o futebol brasileiro. Nele, temos de discutir o papel de clubes, jogadores e imprensa no exercício de suas profissões. Mas, se nem quem tem de dar o exemplo se presta a isso, fica difícil achar que casos como o de Christian possam afetar alguma ética de nosso futebol.

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A eleição de Platini e as conseqüências para o futebol brasileiro

Enquanto a Conmebol discute se deve ou não permitir que dois times de um mesmo país se enfrentem nas finais da Copa Libertadores, a Uefa se preocupa em adequar a nova política de democratização do poder do recém-eleito presidente Michael Platini às demandas do mercado, que eventualmente acabarão afetando todo o mundo do futebol.
 
A diferença entre essas duas preocupações dá mais ou menos o tamanho da distância evolutiva entre as duas confederações em questão.
 
Há tempos, a governança do futebol europeu vem sendo colocada em cheque devido ao constante crescimento do poder comercial dos principais clubes e ligas do continente. Um dos sinais mais claros do confronto entre a governança interna (Fifa, Uefa e demais federações) e a governança externa (clubes, ligas, investidores e Estados) do futebol europeu foi o surgimento da atual Champions League, uma remodelagem da antiga European Cup. O atual formato da principal competição interclubes da Europa favorece claramente os clubes e ligas com maior poderio econômico, e surgiu depois da ameaça de rompimento protagonizada pelos maiores clubes europeus, que planejavam migrar para uma liga fechada organizada pelo grupo Mediaset, do famoso e tão falado Silvio Berlusconi.
 
A partir do momento em que esse rompimento foi manifestado, a Uefa percebeu que já não dava mais pra governar o futebol do mesmo jeito de sempre. Era preciso dar mais espaço a quem possuía mais dinheiro, ainda que esse espaço fosse bem, bem pequeno. Dessa forma, mudou a competição e passou a adotar uma visão mais capitalista de governar.
 
Essa foi a fórmula achada por Lennart Johansson para agradar tanto os donos do dinheiro (os clubes) quanto os donos dos votos (as federações). Presidente da entidade desde 1990, Johansson assumiu a rédea do futebol europeu justamente no período em que o esporte começou a passar por sua maior transformação comercial, deixando de ser apenas um ambiente em que se envolviam interesses primordialmente esportivos para se tornar um ambiente em que se envolvem interesses primordialmente comerciais.
 
Durante os 17 anos da Era Johansson, o futebol europeu cresceu – e muito. Cresceu tanto que a própria União Européia começou a achar que estava na hora de começar a regulamentar o clima de faroeste que predomina dentro do ambiente futebolístico. O mercado, de um modo geral, ficou feliz, porque é muito melhor investir num lugar estável do que num instável. Óbvio. O Brasil que o diga. A Fifa, entretanto, nunca gostou da intromissão de outros poderes naquilo que ela considera seu feudo. E começou a prestar bastante atenção no caminhar da Uefa, até a hora em que achou que as coisas estavam começando a fugir do controle e decidiu bancar o seu próprio candidato. E ganhou.
 
Platini assume a Uefa nas mesmas condições que Havelange e Blatter assumiram a Fifa, com a retórica da justiça e da sustentabilidade do futebol. Discurso rejeitado pelos donos do capital, mas fácil de ser assumido por federações menores, que – dentro do sistema democrático de eleição da Fifa e da Uefa – são quem realmente possuem o poder decisório. Só por isso que você ouve tanto falar de Jack Warner, presidente da Concacaf, que comercialmente representa pouco no mundo do futebol, mas que na verdade controla quase trinta por cento dos votos no colegiado da Fifa.
 
Mantendo a política de atender ao voto da maioria, o ex-jogador francês declarou que pretende tornar o futebol europeu mais justo para todos. Um dos carros chefes da sua campanha é justamente mexer na estrutura da Champions League, aumentando e redistribuindo o número de vagas para a competição, tornando-a mais acessível para países com menor poder aquisitivo, justamente aqueles que o elegeram. Além disso, Platini pretende implementar o sistema 6+5 sugerido pelo próprio Blatter, em que todos os times precisarão contar com, no mínimo, seis dos onze jogadores em campo formados em casa.
 
Se isso vai dar certo ou não, não sou eu quem vai dizer. Mas o que dá pra tentar prever são os efeitos disso para a indústria do futebol brasileiro.
 
Não existe mais como dizer que o futebol brasileiro não depende do futebol europeu. Depende, e muito. E a dependência é baseada essencialmente na exportação de jogadores. Isso é fato consolidado e não há muito que ser feito, pelo menos por enquanto.
 
A democratização platiniana implica na abertura de novos mercados para os jogadores. Países com pouca tradição precisarão construir times minimamente competitivos para a disputa continental. Obviamente que eles não conseguirão formar em casa um time inteiro de jogadores em um curto período de tempo. Nem um time, nem seis jogadores, como quer a nova política. Dessa forma, faz sentido que eles passem a importar mão de obra que seja boa e barata. E isso pode ser entendido como jogadores africanos ou sul-americanos. Como a África não ganhou nenhuma Copa ainda, a preferência tenderá a ser para brasileiros e argentinos. E como a regra dos jogadores formados em casa se baseia essencialmente na idade, e não no local de nascimento dos atletas, é possível que as novas regras da Uefa acentuem a exportação de jogadores brasileiros mais jovens, destinados a mercados menos explorados. Mercados mais batidos, como o espanhol e o italiano, podem eventualmente fechar algumas das portas, mas nada que não possa ser compensado na outra ponta.
 
É difícil prever exatamente os efeitos concretos dessa nova política democrática da Uefa. Aliás, é difícil prever até se a retórica de Platini vai surtir de fato algum efeito. É bem provável que ele esteja subestimando o poder da governança externa do futebol europeu ao protestar tão efusivamente contra a crescente comercialização do jogo bretão. Mas, de qualquer maneira, é certo que algumas coisas serão alteradas.
 
E tudo isso mexe, e muito, com o atual formato da indústria do futebol brasileiro. Mais do que, inclusive, qualquer discussão a respeito do formato das semifinais da Copa Libertadores.
 
As decisões da Uefa, enfim, influenciam o futebol brasileiro muito mais do que qualquer idéia leviana e política da Conmebol. Platini influencia mais do que Leóz.
Mas também, o que esperar de qualquer organização que tenha um presidente vitalício?
 
Perguntarei ao Chávez.

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PAC, educação e futebol

O governo brasileiro lançou neste início de 2007 o Programa de Aceleração do Crescimento – ou PAC, como tem sido chamado. Trata-se de um conjunto de medidas que promete mobilizar cerca de R$ 500 bilhões em quatro anos e prevê investimentos em infra-estrutura, principalmente nas áreas de energia, saneamento, habitação e transportes.
 
É sempre frustrante ouvir falar em crescimento ou desenvolvimento quando se aborda apenas as questões diretamente ligadas à economia.
 
Como nos ensina o filósofo português Manuel Sérgio, o verdadeiro desenvolvimento de um país não deve ser entendido apenas como o processo de acumulação de riquezas materiais ou pecuniárias, mas, sobretudo, as possibilidades de ascensão de todos os homens e mulheres ao mais humano, quer no aspecto econômico, como também nos aspectos biológico, psicológico, ideológico, cultural, espiritual e social de uma forma mais ampla.
 
Assim compreendido, qualquer plano ou programa que visa acelerar o crescimento de uma nação não poderia deixar de considerar prioritariamente as questões ligadas à educação. Qualquer plano que trate de economia ou infra-estrutura dissociado de uma base educacional que lhe dê sustentação está fadado ao fracasso.
 
Vivemos hoje em pleno século XXI, na era da informação. Entretanto, só com claros investimentos em educação é que seremos capazes de transformar os dados e as informações, disponíveis em toda parte, em conhecimentos e sabedoria úteis ao nosso real desenvolvimento.
 
Esse raciocínio vale para qualquer área, inclusive o esporte e particularmente o futebol.
 
Não podemos criar um plano de aceleração do crescimento para o futebol, ou seja, um PAC para essa modalidade esportiva, apenas pensando nos investimentos em infra-estrutura ou em melhorias em suas condições econômicas e financeiras. Não são os estádios ou as arenas modernas, por exemplo, que darão novos horizontes ao futebol brasileiro.
 
O que mais precisamos para continuarmos a crescer na era do conhecimento é, portanto, educação. No caso do futebol, educação para os dirigentes; educação para os treinadores; educação para os jornalistas; educação para os jogadores e educação para os torcedores.

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Direito de resposta

Na última semana, mais uma vez o técnico do Corinthians, Emerson Leão, foi alvo de uma polêmica da imprensa. O treinador alvinegro decidiu rugir mais alto na sede da Rede Bandeirantes, exigindo um direito de resposta por conta de uma matéria publicada dias antes na emissora.
 
Leão tentou fazer uso do famoso “direito de resposta”, previsto na Lei de Imprensa. Sentindo-se prejudicado pela reportagem, Leão foi à Band exigir seu direito de se defender e dar sua versão sobre o fato. Após esperar um pouco até ter a entrada liberada na emissora, Leão obteve o que queria: deu a sua versão para a reportagem.
 
O episódio envolvendo o treinador corintiano permeia o cotidiano do jornalismo, especialmente o esportivo. A diferença é que, diferentemente de Leão, quase nenhum personagem se dá ao luxo de exigir resposta para uma matéria que não lhe agrada.
 
O rugido de Leão contra a Band pode levar a uma nova era no jornalismo esportivo. A cada dia que passa vemos atletas, dirigentes, árbitros e treinadores espernearem contra as famigeradas mesas-redondas que invadem nossa programação esportiva. O maior motivo de descontentamento é com o pouco comprometimento do jornalista em dar uma informação precisa, ficando ele muito mais comprometido com a audiência do programa.
 
Leão foi um que não pensou assim. Em vez de aceitar passivamente uma reportagem em que se sentiu prejudicado, saiu em busca de uma defesa. Assim como Rogério Ceni na folclórica discussão com Milly Lacombe.
 

Se mais Leões e Rogérios cobrassem dos jornalistas uma atitude mais consciente no exercício da profissão, sem dúvida que o universo do futebol ganharia em nível de debate nas suas mesas-redondas. Mas, enquanto isso, o direito de resposta fica só na teoria. E o discurso vazio segue a permear a TV quando o assunto é futebol.

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O futebol e a academia

No Brasil, o distanciamento entre a universidade e a sociedade impressiona. Não apenas pela escassez de instituições de qualidade ou pela falta de uma política mais apropriada para a área, mas principalmente pela pouca influência da produção acadêmica no cotidiano das pessoas.
 
Obviamente, esse problema faz parte de uma conjuntura deficiente muito maior. A falha não é concentrada apenas no ensino superior, mas isso não justifica o tamanho do desequilíbrio existente. Ao que me parece, e é bom frisar que eu não sou nenhum especialista no assunto, a universidade tende a se fechar nela mesma.
 
As já poucas pesquisas realizadas são muito mais focadas em agradar àqueles que fazem parte da estrutura acadêmica do que propriamente entregar algo de útil para o resto da sociedade, principalmente nas ciências humanas. Outras ciências, como as biológicas e exatas, tendem a entregar algo mais palpável.
 
No futebol, o exemplo é bastante claro. A universidade influencia, e muito, na produção de conhecimento para a prática de futebol, delegada principalmente à ciência da saúde. Os profissionais atuantes tendem a ter uma formação minimamente adequada, e existe um foco definido de atuação das pesquisas realizadas. Não à toa, o Brasil é – pelo que me disseram – uma das grandes referências do mundo no estudo dos assuntos relacionados ao jogo de futebol em si. Fora do limite do campo, entretanto, a coisa é bem diferente.
 
Existe muito, mas muito pouco conhecimento produzido que relacione o futebol às ciências humanas e sociais aplicadas. Talvez a exceção possa ser concedida ao estudo jurídico do futebol, uma vez que a situação não muito favorável em que boa parte dos principais clubes se encontra demandam bons advogados dos clubes e de quem firma contrato com eles, e ao estudo histórico e social do esporte, ainda que seja necessário aplicar uma série de ressalvas para esses últimos. Mas de resto, o cenário é decepcionante. Pouco é pesquisado e uma parcela ainda menor disso é realmente aproveitável. Na maioria das vezes, falta embasamento, fundamentação, referência e orientação.
 
Como a produção acadêmica é baixa e a qualidade deixa a desejar, as áreas que seriam afetadas por essas pesquisas ficam bastante comprometidas. Existe, por exemplo, uma clara e evidente carência de estudos mais aprofundados na área de administração do futebol.
 
Por causa dessa falta de teorias e conclusões que espelhem apropriadamente o cenário atual, o avanço fica deturpado e deficiente. Muito daquilo que se defende hoje para a administração do futebol brasileiro não foi seriamente estudado e fica baseado em reportagens da imprensa, que por sua própria natureza tende a fazer uma análise bastante superficial dos assuntos, e por tendências populares assumidas por legisladores.
 
Até hoje, por exemplo, não é possível achar um estudo que prove, com pouca margem de refutação, que o modelo empresarial é melhor para o futebol brasileiro do que o modelo associativo. O que significa, realmente, ser melhor para o futebol brasileiro? Alguém sabe dizer exatamente o que é o futebol brasileiro? O modelo empresarial é o melhor para o futebol de um modo geral? Existe uma forte vertente européia que diz que não, que o modelo empresarial significa na verdade o fim do futebol. Por quê? Quais são as variáveis que o conhecimento brasileiro está ignorando pra não ter chegado a essa conclusão? Estarão eles certos ou errados?
 
Não por acaso, a legislação pensada para a área tende a não emplacar. O discurso e as ações pela mudança da filosofia administrativa dos clubes já se alastram há duas décadas. Será que os dirigentes das organizações esportivas são tão intransigentes assim? Por que pessoas que defendem o discurso da modernização não atuam explicitamente nesse sentido quando assumem o poder decisório dos clubes? Existe tamanho cinismo? Ou será que o modelo apresentado como solução definitiva possui falhas na sua concepção?
 
É o mais provável.
 

É plenamente aceitado mundo afora que o futebol serve como uma das grandes metáforas da sociedade na qual está inserido. O explícito distanciamento entre a escassa produção universitária e o funcionamento real das coisas é só mais um exemplo disso.

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Jogos Pan-Americanos e Copa do Mundo

São sempre preferíveis as posturas cercadas de esperança que nos empurram à luta e nos fazem enfrentar os desafios do que as reclamações e lamentos que muitas vezes nos bloqueiam as ações.
 
Mas as recentes denúncias, reveladas por parte da imprensa brasileira, sobre os sucessivos estouros no orçamento das construções e reformas de obras para os Jogos Pan-Americanos de 2007 que serão realizados no Rio de Janeiro, nos dão claras demonstrações do quanto ainda falta ao Brasil para ser considerado um país que valoriza a seriedade e a ética.
 
Às vezes nos iludimos ao achar que nosso modelo de democracia caminha aceleradamente no sentido de garantir desenvolvimento sustentado para todas as camadas da população e capacidade operacional que beneficie a todos os brasileiros.
 
Acompanhando estes lamentáveis fatos sobre a organização do Pan-2007, é de se questionar se conseguiremos, em 2014, organizar com decência uma Copa do Mundo em nosso país.
 
A constatação de que o esporte de forma geral e o futebol particularmente são instituições ainda dominadas por forças conservadoras, antidemocráticas e de pouco apreço aos valores éticos e morais, só pode nos causar preocupação.
 
Quando será que os setores mais progressistas, democráticos e éticos da sociedade brasileira conseguirão se impor à frente de nossas instituições?
 
Quando finalmente seremos capazes de organizar eventos esportivos ou futebolísticos que não coloquem em dúvida nossa competência e, sobretudo, nossa credibilidade?

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Valdívia e a fixação monetária

Demorou, mas aos poucos os clubes brasileiros começam a adotar estratégias de marketing já consagradas no futebol da Europa. Nas primeiras rodadas dos campeonatos estaduais podemos ver alguns clubes engatinhando nesse processo de transformação da paixão do torcedor em lucro.
 
São Paulo e Corinthians, mais experientes no assunto, assistem agora o Palmeiras se juntar a eles numa pequena coisa básica, mas eficiente quando se fala em venda de camisas. A numeração fixa dos atletas. Se hoje já é difícil para o torcedor decorar os jogadores que atuam por seu time, o que dirá saber qual a camisa que ele joga? Então nada melhor do que estabelecer que aquele número é de determinado atleta. Como a 10 do Santos foi e para sempre será de Pelé.
 
Essa estratégia surgiu nos anos 90, na Inglaterra, quando o Manchester United tinha em seu quadro um grande ídolo, o francês Eric Cantona. Envergando a 7 dos Red Devils, Cantona inspirava uma legião de fãs, que gastavam libras e mais libras comprando produtos com a marca do explosivo atacante francês.
 
Em 2006, Corinthians, São Paulo e seus fabricantes de uniforme faturaram com a implementação de uma numeração fixa para os atletas. A camisa 1 de Rogério Ceni, a 5 de Lugano, a 7 de Mineiro e a 10 de Tevez foram as mais vendidas do país. No Sul, o número 9 de Fernandão, do Inter, também teve excelente procura.
 
Na semana passada, a diretoria do Palmeiras anunciou o uso de números fixos para seus jogadores. A 7 é de Edmundo, claro. Mas o que mais chamou a atenção foi o critério para a escolha do camisa 10 palestrino. O número que já foi usado por Ademir Da Guia agora ficará com o chileno Valdívia.
 

O motivo? A diretoria palmeirense quer fazer dele um ídolo da nova geração alviverde. Na loja oficial será possível comprar o uniforme com nome e número do chileno. Tal qual Cantona revolucionou o Manchester no início dos 90, Valdívia tem função semelhante no Palmeiras de 2007. Um pouco atrasado, é claro, mas vai ver que a fixação dos números na camisa ajude a produzir uma revolução monetária nos clubes.

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O futebol e a música

“Esse é o recado dessa dupla bad boy
Eu saí do Jacarezinho
Eu saí lá de Niterói
Romário e Edmundo pede a paz para a nação
Pare com a violência e não arrume confusão (sic)”
Romário e Edmundo, em “Rap dos Bad Boys”


“Gotta make the grade but I’m failing image 101
teacher says I got no style and something has to be done
there’s radio and video and how to look really bored
and where to go in Timbuktu when you need to score”
Alexi Lalas, em “Pop School”

“Nou dat van die horens dat ken ik ook.kijk mij nu hier
K’heb er altijd wel een bal aan hangen,riep de stier.
Jullie mogen nog niet klagen piepte een veel te grootte mol
Telkens als ik frisse lucht wil schopt er iemand voor m’n hol
Oei oei oei het valt niet mee, het valt niet mee oh nee,
Oei oei oei t is foute boel.. met de dieren rond veld”
Johan Cruyff, em “Oei oei oei”

A relação entre futebol e música vai muito além do fato de Julio Iglesias quase ter se tornado goleiro profissional pelo Real Madrid, não fosse um acidente de carro que o deixou paralisado por um ano e meio e fez com que se inclinasse para o mundo dos palcos e dos ternos brancos.

Futebol e música se inter-relacionam em diversos sentidos.

São bastante comuns, por exemplo, relatos de músicos que dizem que se não fossem o que são, certamente seriam jogadores de futebol. Fernando Pires, vocalista da banda de pagode Só Pra Contrariar, por exemplo, passou pelas categorias de base do Cruzeiro e chegou a jogar profissionalmente pelo Uberlândia Sport, antes de investir na sua sonoridade. Outro pagodeiro que também teve passagem pela categoria de base de um clube representativo foi Vavá, ex-vocalista da banda Karametade, que foi titular do time juvenil do Santos e até recebeu um convite para jogar no XV de Piracicaba.

Como conseqüência da semelhança de origens e – possivelmente – de algumas questões sociais, é natural que boa parte dos jogadores brasileiros possuam muita afinidade com samba/pagode, vide as reportagens feitas a respeito do que acontece nos bastidores dos jogos da seleção brasileira, que sempre possuem um tempo destinado à banda formada pelos jogadores.

Essa relação íntima entre futebol e o ritmo acaba gerando muitas amizades entre aqueles que fazem parte dos dois meios. Não obstante, é comum que jogadores mais famosos façam uso do alcance e penetração da sua imagem nos diversos ambientes midiáticos e apadrinhem ou empresariem bandas de amigos, como é o caso do Ronaldinho Gaúcho, padrinho da banda de pagode gaúcha Samba Tri.

Na música “Goleador” do álbum “Só Alegria“, Ronaldinho mostra “que também é bom de voz, pandeiro e tantã“. Palavras da gravadora da banda.

Oséas, o das trancinhas, também já deu seus pitacos no mundo musical. Foi empresário da banda de pagode/axé Temperatura que, pelo menos até onde eu sei, não emplacou. Muito diferente do grupo de pagode Raça Pura, empresariado por Edílson e apadrinhado por Vampeta, que já posou pelado. O primeiro álbum do grupo, que contava com o hit “O Pinto” – uma coincidência bizarra, acredito -, vendeu 250 mil cópias.

Alguns jogadores foram mais longe. Marcelinho Carioca e Amaral chegaram a criar a própria banda, Divina Inspiração, que se enquadrava num estilo definido como pagode/gospel. Na banda, Amaral cuidava do pandeiro e Marcelinho Carioca tocava repique e cantava.

Porém, não é só no pagode/samba/axé/gospel que o futebol e a música se misturam. Depois de abandonar a carreira de fera-neném, Juninho Bill, ex-bad boy do grupo infantil Trem da Alegria, passou pelas categorias de base do Corinthians e da Portuguesa de São Paulo. Chegou, inclusive, a fazer parte do elenco do Sinop, time do Mato Grosso do Sul que revelou Rogério Ceni, e do Rio Branco de Americana, time que revelou Sandro Hiroshi.

Já que falei de goleiro e do Corinthians, não tem como não falar do ex-goleiro corinthiano Ronaldo, que com sua banda Ronaldo e os Impedidos vendeu 40 mil cópias do álbum homônimo e emplacou o hit “O Nome Dela”, chegando a ter até uma considerável popularidade na MTV. Pouco tempo depois, a banda mudou de nome para Ronnaldo e os Fora Da Lei (sic).

 
Alexi Lalas, ex-zagueiro da seleção americana e atual presidente do LA Galaxy, também era jogador e músico, e chegou a participar da trilha sonora do filme “Pisando na Bola” com a música “Kickin’ Balls“. Lalas investiu pesado na carreira artística e, não muito tempo atrás, lançou o álbum “Ginger“, uma compilação de músicas grudentas de rock leve, composto por guitarra, voz e bateria, e que foi muito bem recebido pela crítica, que disse que o jogador possui um certo talento musical a ser explorado. Lalas admite ter crescido ouvindo Bon Jovi e diz não ter vergonha disso. Um zagueiro com atitude.

Atitude também tem, de sobra, o atual técnico do Sunderland e ex-volante do Manchester United, Roy Keane, que sempre gritou, bateu e xingou muito em campo. Por tal comportamento, conseguiu atrair a si uma respeitável legião de fãs. Alguns desses o homenagearam montando uma banda com seu nome, Keane, que ficou famosa no Brasil por fazer parte da trilha sonora da novela “Como uma Onda“, com o hit “Everybody’s Changing“.

Por sua vez, a banda Pelé – ou Pele -, um grupo de rock alternativo americano, alega que o nome surgiu durante uma manifestação etílica de um dos componentes que – devido ao seu estado – não sabe dizer exatamente de onde veio a sua inspiração. Independentemente disso, ela provavelmente não teria vindo caso Pelé não tivesse jogado nos EUA na década de 70, época em que os gramados americanos atraíram diversas estrelas do futebol mundial.

 
Esse processo pode ter sido reativado agora, com o anúncio da transferência de Beckham do Real Madrid, time do Julio Iglesias, para o LA Galaxy, time do Lalas. Já até se relata que o ex-capitão da Inglaterra enviou sua mulher, a ex-Spice Girl Victoria, para comprar o rancho de Michael Jackson, que por sua vez já chegou a ser condecorado Diretor Honorário do Exeter City, clube da quinta divisão do futebol inglês, então comandado pelo entortador de garfos Uri Geller.
 
Ok, o Uri Geller não tem nada a ver com música.
Mas ele entorta garfos.

Não consegui resistir à deixa.

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O empresário no futebol

A figura do empresário no futebol existe no Brasil e no mundo há décadas. Dois fenômenos, entretanto, deram novos contornos a esta categoria profissional nos últimos anos.
 
No âmbito nacional surgiu a ainda pouco compreendida Lei Pelé, que extinguiu o passe do jogador e, pegando dirigentes de futebol em grande escala despreparados, permitiu que empresários mais competentes ou mais espertos ocupassem um espaço, onde antes era dominado pelos interesses, legítimos ou escusos, dos dirigentes dos clubes.
 
Já no âmbito mundial deparamos com o processo avassalador da globalização que principalmente após o final da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a extinta União Soviética, deu novo impulso ao capitalismo e impôs ao mundo novas regras de comercialização ou mercantilização a partir do início da década de 90 do século 20.
 
E é neste cenário que o nosso futebol vem se desenvolvendo. Sem entrar no mérito das questões políticas que envolvem este cenário, o fato é que o empresário, para o bem ou para o mal, é uma realidade. Uma realidade que os clubes, através de seus dirigentes, ainda não sabem como lidar com eles.
 
No atual momento em que vivemos, as distorções são visíveis. Há empresários que hoje são donos dos clubes. Outros que se não são donos, mas simplesmente tomam emprestados os clubes e o transformam em verdadeiras “barrigas de aluguel”, garantindo, assim, seus interesses em detrimento dos interesses dos clubes e do futebol de uma forma geral, já que pautam seus projetos exclusivamente nas questões financeiras ou nos interesses pessoais.
 
No embate entre clubes e empresários, o que se tem visto é que os clubes, de forma sistemática, têm levado desvantagem.
 
Se formos seguir este modelo globalizado e capitalista é preciso que urgentemente encontremos um formato que equilibre os interesses de empresários, clubes, atletas e principalmente do torcedor, que afinal é o personagem que dá vida ao futebol.
 

Particularmente acredito que se os empresários forem domados ou disciplinados em sua ganância por lucros fáceis, se os dirigentes forem mais honestos e preparados e os jogadores mais profissionais e menos ingênuos, estarão abertas as portas para a obtenção deste equilíbrio, beneficiando todos aqueles que admiram o futebol.

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