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A questão dos ‘home-grown playersé na Europa

Caros amigos da Universidade do Futebol,
 
Todos nós sabemos que o mercado Europa infesta-se de jogadores de futebol brasileiros. E não é à toa. Nossos jogadores, via de regra, mostram no Velho Continente que possuem uma qualidade técnica que em média é muito superior aos demais jogadores, eu diria, do mundo (exceção talvez feita aos jogadores argentinos).
 
De toda forma, o que temos notado é que aqueles jogadores formados fora da Europa terão, a cada dia, maior dificuldade de atuar em clubes europeus.
 
A Uefa (confederação continental européia) tem grande preocupação com a formação de jogadores europeus (os chamados “home-grown players”). Para se ter uma idéia, durante a temporada 08/09 nas suas principais competições de clubes (Liga dos Campeões e Taça Uefa), adotar-se-á a regra de que, do limite de 25 jogadores que podem ser inscritos, oito obrigatoriamente devem ser formados na Europa (entenda-se formado na Europa, em linhas gerais, o jogador que tenha sido registrado por um clube europeu durante três temporadas no período entre seus 15 e 21 anos).
 
O número parece pequeno de home-grown players, porém tem sido gradualmente elevado. Na temporada 06/07 eram quatro. Na temporada 07/08, foi aumentado para seis.
 
A Fifa também apóia essa iniciativa. Vimos o Presidente Blatter dizer na cerimônia de entrega de da Copa de 2014 ao Brasil: “Jogadores brasileiros, fiquem em seu país.”. A grande justificativa é o receio de que se perda a identidade local dos clubes, com o excesso de jogadores que, por terem sido formados fora daquele país, não colaborariam para manter viva a cultura local através do futebol.
 
Interessante notar que essa regra nada diz respeito com relação à questão da cidadania do jogador. Ou seja, o que importa é que a quota mínima de jogadores tenha sido treinada na Europa, podendo ser de outra nacionalidade. Brasileiros poderiam “driblar” essa regra caso tenham sido treinados pelo menos três temporadas nas suas formações em clubes europeus.
 
Para a questão da cidadania, lembramos que existe outra regra que limita o número de estrangeiros dentro das quatro linhas, dependendo da competição.
 
A questão interessante a se pensar é até que ponto chegará esse limite mínimo de home-grown players que vem crescendo a cada temporada? Poderá um dia haver uma tentativa de não se admitir jogadores formados no exterior? Além disso, questões de ordem legal saltam aos nossos olhos: não seria uma regra que limitaria o direito de trabalhar dos jogadores? E o direito a livre concorrência? Ou essas questões estariam cobertas pela especificidade do esporte?
 
E não seriam apenas os jogadores os prejudicados. Do outro lado da balança temos os clubes e as ligas européias, que obviamente querem times mais competitivos, e, portanto, recheados de estrangeiros de qualidade. Essas partes igualmente se oporiam a uma limitação exagerada de jogadores formados no exterior.
 
Até onde temos notícia, não há julgados nas Cortes européias sobre essa matéria. Mas, certamente, caso o limite mínimo de home-grown players continue a subir, muitos casos deverão surgir.
 
Vendo a questão pelo lado do mercado brasileiro, essa potencial confusão jurídica pode dar mais uma deixa para que os clubes e federações aproveitem para manter bons jogadores por maior período no Brasil, e assim colaborar para o desenvolvimento do futebol pátrio.

Para interagir com o autor: megale@149.28.100.147

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A questão dos 'home-grown playersé na Europa

Caros amigos da Universidade do Futebol,
 
Todos nós sabemos que o mercado Europa infesta-se de jogadores de futebol brasileiros. E não é à toa. Nossos jogadores, via de regra, mostram no Velho Continente que possuem uma qualidade técnica que em média é muito superior aos demais jogadores, eu diria, do mundo (exceção talvez feita aos jogadores argentinos).
 
De toda forma, o que temos notado é que aqueles jogadores formados fora da Europa terão, a cada dia, maior dificuldade de atuar em clubes europeus.
 
A Uefa (confederação continental européia) tem grande preocupação com a formação de jogadores europeus (os chamados “home-grown players”). Para se ter uma idéia, durante a temporada 08/09 nas suas principais competições de clubes (Liga dos Campeões e Taça Uefa), adotar-se-á a regra de que, do limite de 25 jogadores que podem ser inscritos, oito obrigatoriamente devem ser formados na Europa (entenda-se formado na Europa, em linhas gerais, o jogador que tenha sido registrado por um clube europeu durante três temporadas no período entre seus 15 e 21 anos).
 
O número parece pequeno de home-grown players, porém tem sido gradualmente elevado. Na temporada 06/07 eram quatro. Na temporada 07/08, foi aumentado para seis.
 
A Fifa também apóia essa iniciativa. Vimos o Presidente Blatter dizer na cerimônia de entrega de da Copa de 2014 ao Brasil: “Jogadores brasileiros, fiquem em seu país.”. A grande justificativa é o receio de que se perda a identidade local dos clubes, com o excesso de jogadores que, por terem sido formados fora daquele país, não colaborariam para manter viva a cultura local através do futebol.
 
Interessante notar que essa regra nada diz respeito com relação à questão da cidadania do jogador. Ou seja, o que importa é que a quota mínima de jogadores tenha sido treinada na Europa, podendo ser de outra nacionalidade. Brasileiros poderiam “driblar” essa regra caso tenham sido treinados pelo menos três temporadas nas suas formações em clubes europeus.
 
Para a questão da cidadania, lembramos que existe outra regra que limita o número de estrangeiros dentro das quatro linhas, dependendo da competição.
 
A questão interessante a se pensar é até que ponto chegará esse limite mínimo de home-grown players que vem crescendo a cada temporada? Poderá um dia haver uma tentativa de não se admitir jogadores formados no exterior? Além disso, questões de ordem legal saltam aos nossos olhos: não seria uma regra que limitaria o direito de trabalhar dos jogadores? E o direito a livre concorrência? Ou essas questões estariam cobertas pela especificidade do esporte?
 
E não seriam apenas os jogadores os prejudicados. Do outro lado da balança temos os clubes e as ligas européias, que obviamente querem times mais competitivos, e, portanto, recheados de estrangeiros de qualidade. Essas partes igualmente se oporiam a uma limitação exagerada de jogadores formados no exterior.
 
Até onde temos notícia, não há julgados nas Cortes européias sobre essa matéria. Mas, certamente, caso o limite mínimo de home-grown players continue a subir, muitos casos deverão surgir.
 
Vendo a questão pelo lado do mercado brasileiro, essa potencial confusão jurídica pode dar mais uma deixa para que os clubes e federações aproveitem para manter bons jogadores por maior período no Brasil, e assim colaborar para o desenvolvimento do futebol pátrio.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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The Champions

Tava demorando para a Inglaterra conseguir encaixar dois clubes na final do principal campeonato de clubes do planeta. Tava demorando, mas não tardaria. Como não tardou.
 
Tanto o Manchester quanto o Chelsea são dois dos mais ricos clubes do planeta que, aliados ao fato de estarem dentro da Liga mais poderosa do mundo, também se tornam duas das maiores potências do futebol mundial. O Real Madrid é, de fato, o clube mais rico do mundo. Entretanto, a La Liga sofre com a falta de dinheiro dos outros clubes, principalmente quando comparada com a Premier League, o que naturalmente compromete o fortalecimento de mercado dos clubes que fazem parte dela. Por conta disso, e de tantas e tantas outras coisas, ninguém consegue competir muito com os clubes ingleses. A única imprevisibilidade que se dá na Champions League é originária do formato eliminatório. Fosse pontos corridos, normalmente daria Inglaterra na cabeça.
 
Apesar desse poderio econômico e fortalecimento mercadológico, nem o Manchester e muito menos o Chelsea podem ser considerados grandes modelos a serem seguidos.
 
O primeiro, o Manchester, foi comprado a alguns anos atrás por um investidor americano, o tal do Glazer. A princípio, imaginava-se que ele tinha uma grana e que tava pensando em fazer dinheiro. Depois, descobriu-se que ele não tinha tanta grana assim, mas que tava pensando em fazer dinheiro. Basicamente, Glazer convenceu um monte de instituição a lhe emprestar dinheiro para comprar o Manchester. Quando ele comprou, ele transferiu a dívida que ele havia contraído para o próprio clube. Hoje, a dívida do Manchester é gigantesca. Só de juros, são quase 250 milhões de reais por ano. A previsão pro futuro, entretanto, permanece otimista. O problema é que caso haja maiores conseqüências na crise de crédito americana, os efeitos podem migrar para o Reino Unido e aumentar ainda mais os juros e os montantes devidos. Aí, se o time começa a perder e as pessoas começam a deixar de ir ao jogo, a receita diminui e deixa de cobrir a despesa. Aí gera problema, que gera problema, que gera problema. Nada que sirva de exemplo para o mundo.
 
O segundo, o Chelsea, também serve como exemplo para pouca coisa. Era um clube a beira da falência, próximo de fechar as portas, quando foi salvo por um tetralionário que não parou de injetar dinheiro até transformar o clube numa das grandes potências do futebol europeu e mundial. Ainda não tem uma torcida forte, tampouco serve como modelo de desenvolvimento sustentável de um clube de futebol. Talvez em dez anos sirva como modelo de gestão. Hoje, não. Definitivamente não.
 
Que o melhor conquiste o tão cobiçado título, mas que ninguém acredite que o campeão de Europa deverá servir de modelo para alguma coisa.
 

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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A importância da concentração

A psicologia já é uma realidade no dia-a-dia do esporte há muitos anos. No futebol, venceu a barreira do preconceito e se torna, hoje, fundamental para aqueles que enxergam a modalidade de uma maneira profissional, completa, integrada. Não é possível falar em equipe vencedora sem antes imaginar a presença de um psicólogo para auxiliar na preparação dos atletas.
 
Talvez só um psicólogo pudesse explicar o que se passou entre Carlos Alberto e Fábio Santos na concentração são-paulina. Ou só ele conseguisse evitar uma situação dessas dentro de uma equipe.
 
Felipão fez excelente uso, na Copa do Mundo de 2002, das informações de psicólogos sobre o perfil de seus atletas, sobre o que serviria como motivação para uns e o que seria contra-producente para outros. Mas fez isso do próprio bolso, depois de em vão tentar convencer a CBF a separar uma verba para um profissional da psicologia em sua equipe.
 
O psicólogo não é a finalidade numa equipe de futebol, mas sem dúvida pode ser visto como um meio importante para se alcançar uma vitória. Afinal, suas análises podem ser usadas para se saber quando um atleta corre o risco de desiquilibrar, para o bem ou para o mal, numa partida. E, principalmente, seu trabalho é o suporte para manter a equipe com o foco no jogo, no campeonato, no alcance de um objetivo.
 
E para quem acredita que, por ser um esporte coletivo, o futebol não necessita tanto da concentração absoluta de todos os seus jogadores, façamos um exercício de análise. Vou tomar como exemplo algumas partidas que aconteceram no país nas últimas semanas e que mostram o quanto o fator concentração interfere no desempenho de uma equipe.
 
O exemplo mais bem acabado é o Maracanazzo flamenguista na Libertadores. Fizeram tanta festa antes da saída de Joel que o time esqueceu que ainda faltava enfrentar o América mexicano. Resultado: humilhante derrota por 3 a 0 e queda na mais ganha oitavas-de-final da competição.
 
Mais ou menos o mesmo efeito sedativo que tomou conta do Palmeiras, em meio à disputa da final do Paulistão, contra o já campeão pernambucano Sport. Um 0 a 0 insosso dentro de casa e uma goleada fora: 4 a 1, com direito a olé e eliminação da Copa do Brasil.
 
O mesmo Sport enfrentou depois o Inter, pós título gaúcho com 8 a 1 na final sobre o Juventude. No primeiro jogo, no Beira-Rio, apenas 1 a 0, e a sensação de que o time não rendeu nada do que seria possível.
 
Situações que também ilustram o sentimento da importância da concentração dos jogadores num time foram as derrotas de São Paulo e Santos no final de semana de estréia do Nacional. Cabeça na Libertadores = derrota no Brasileiro.
 
Para alcançar a vitória, uma equipe precisa estar consciente do objetivo, ter a firmeza do que é preciso ser feito dentro de campo para isso. A psicologia ajuda. Por ela é possível saber o perfil de cada atleta, o atalho para deixá-lo concentrado em sua meta. Sem ela, tudo vira “achismo”, e a falta de concentração pode custar a cabeça de muita gente. Além da dor de cabeça no torcedor…
 

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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O trabalho integrado e a mensagem escondida do ‘Eu-Bola João 8:32’

Poderíamos destrinchar os fundamentos técnicos de futebol e um sem número de divisões e subdivisões. Para tornar clara a minha linha de raciocínio me aterei aos “principais” (ou conceitualmente mais conhecidos pelas pessoas em geral).
 
Em um jogo temos, para os jogadores de linha, o passe, o cruzamento e o lançamento (que são formas de passe), o desarme, a interceptação, o cabeceio, o controle, o domínio de bola, a condução, o drible e o chute.
 
Segundo Júlio Garganta (1998), no capítulo “Para uma teoria dos jogos desportivos coletivos” do livro “O ensino dos jogos desportivos coletivos”, o jogo coletivo, e aqui especificamente o futebol, sob o ponto de vista didático, apresenta diversos níveis de relação entre jogadores da mesma equipe, adversários, bola e alvo. De forma hierárquica essas relações respeitariam a seguinte ordem acumulativa:
 
1 – Eu-bola: atenção e controle sobre a bola.
2 – Eu-bola-alvo: atenção sobre o objetivo do jogo.
3 – Eu-bola-adversário: combinação de habilidades, conservação da posse da bola e busca da finalização.
4 – Eu-bola-colega-adversário: combinação de habilidades de desmarcação, apoio, contenção e coberturas.
5 – Eu-bola-colegas-adversários: desenvolvimento de conceitos de linhas de passe, penetração, coberturas ofensivas.
6 – Eu-bola-equipe-adversários: aplicação formal dos princípios do jogo ofensivos e defensivos.
 
Essas relações estão intimamente ligadas aos fundamentos técnicos do jogo. O eu-bola, especialmente ao controle e condução de bola. Ao eu-bola-alvo acrescentamos a finalização. O eu-bola-adversário, especialmente ao drible e o desarme. O eu-bola-colega-adversário, passes e interceptações. O eu-bola-colegas-adversários, formas mais elaboradas de passes (cruzamentos e lançamentos) e outros fundamentos. O eu-bola-equipe-adversários, a aplicação de todos os fundamentos dentro dos princípios do jogo de ataque, defesa e transição.
 
Então, a estruturação para ensino ou treinamento dos fundamentos pode passar por uma lógica que se constrói a partir do próprio jogo. Isso é vantajoso por diversos motivos. Um deles (talvez o menos pedagógico, porém mais “entendível”) é o fato de que no futebol profissional, com o excessivo número de jogos, faz-se necessário otimizar o tempo de treinos para que se alcance máximos ganhos com mínimos desgastes. Se assim o é, fica evidente a necessidade de se trabalhar valorizando o tempo.
 
Assim, conceber o desenvolvimento técnico, construído na lógica do jogo, permitirá ganhos táticos, que se periodizados, planejados e organizados podem estar integrados ao desenvolvimento físico específico para o tipo de jogo que se quer jogar.
 
E é aí que a vida de treinadores e comissões técnicas costuma emperrar. Para conseguir treinar o jogo que se quer jogar, nada menos trivial do que se refletir a partir das relações apresentadas, para poder alcançar aquilo que é concebido como modelo para o jogar. Em outras palavras, é difícil construir “jogos que treinem o modelo que se quer jogar”. Nem tanto porque a teoria é difícil (também não é fácil; mas é acessível); talvez mais porque não se busca conhecê-la realmente.
 
O que Burkina Faso pode ensinar ao futebol
 
Tenho um amigo Burquinabê (também conhecido como “O Burquina de Uagadugu”) do Café dos Notáveis. É daquelas pessoas apaixonantes que não se tem meio termo. Ou a gente gosta muito ou desgosta intensamente.
 
Trabalha com futebol já faz algum tempo. Conheceu o mundo. Aprendeu diferentes línguas. Um dia foi para a Nova Zelândia, levou junto consigo a felicidade.
 
Ah, felicidade… Que um dia lá lhe escapou e veio parar no Brasil (e aqui se diluiu na alma de amigos do peito, quase que se transformando em eterna tristeza).
 
O Burquina acredita em honra, ética, lealdade, respeito e coragem, coisas que trouxe consigo quando saiu de casa para viajar o mundo “em busca das coisas de dentro de si”.
 
Estranhou o nosso futebol, no qual como se não bastasse jogadores tecnicamente capazes e treinadores conhecedores das táticas, estratégias (enfim do jogo), também notou a necessidade de se re-ensinar valores perdidos, que de condição básica da vida moral e cívica acabaram se tornando adjetivos diferenciais do ser humano.
 
Nem sei se em Burkina Faso tem futebol (que o Burquina me perdoe a ignorância). O que sei é que lá tem uma coisa de sobra, que falta muito aqui (e não são os burquinenses!).
 
Mas vou contar em uma próxima, porque hoje tenho alguns livros de futebol (em russo) para ler. Como meu russo não é muito bom, vou parando por aqui.
 
E como aquilo que não me mata me faz mais forte (Nietzsche), estou certo de que dia desses fico mais forte e consigo transformar esse futebol.
 
Para interagir com o autor: rodrigo@149.28.100.147
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O trabalho integrado e a mensagem escondida do 'Eu-Bola João 8:32'

Poderíamos destrinchar os fundamentos técnicos de futebol e um sem número de divisões e subdivisões. Para tornar clara a minha linha de raciocínio me aterei aos “principais” (ou conceitualmente mais conhecidos pelas pessoas em geral).
 
Em um jogo temos, para os jogadores de linha, o passe, o cruzamento e o lançamento (que são formas de passe), o desarme, a interceptação, o cabeceio, o controle, o domínio de bola, a condução, o drible e o chute.
 
Segundo Júlio Garganta (1998), no capítulo “Para uma teoria dos jogos desportivos coletivos” do livro “O ensino dos jogos desportivos coletivos”, o jogo coletivo, e aqui especificamente o futebol, sob o ponto de vista didático, apresenta diversos níveis de relação entre jogadores da mesma equipe, adversários, bola e alvo. De forma hierárquica essas relações respeitariam a seguinte ordem acumulativa:
 
1 – Eu-bola: atenção e controle sobre a bola.
2 – Eu-bola-alvo: atenção sobre o objetivo do jogo.
3 – Eu-bola-adversário: combinação de habilidades, conservação da posse da bola e busca da finalização.
4 – Eu-bola-colega-adversário: combinação de habilidades de desmarcação, apoio, contenção e coberturas.
5 – Eu-bola-colegas-adversários: desenvolvimento de conceitos de linhas de passe, penetração, coberturas ofensivas.
6 – Eu-bola-equipe-adversários: aplicação formal dos princípios do jogo ofensivos e defensivos.
 
Essas relações estão intimamente ligadas aos fundamentos técnicos do jogo. O eu-bola, especialmente ao controle e condução de bola. Ao eu-bola-alvo acrescentamos a finalização. O eu-bola-adversário, especialmente ao drible e o desarme. O eu-bola-colega-adversário, passes e interceptações. O eu-bola-colegas-adversários, formas mais elaboradas de passes (cruzamentos e lançamentos) e outros fundamentos. O eu-bola-equipe-adversários, a aplicação de todos os fundamentos dentro dos princípios do jogo de ataque, defesa e transição.
 
Então, a estruturação para ensino ou treinamento dos fundamentos pode passar por uma lógica que se constrói a partir do próprio jogo. Isso é vantajoso por diversos motivos. Um deles (talvez o menos pedagógico, porém mais “entendível”) é o fato de que no futebol profissional, com o excessivo número de jogos, faz-se necessário otimizar o tempo de treinos para que se alcance máximos ganhos com mínimos desgastes. Se assim o é, fica evidente a necessidade de se trabalhar valorizando o tempo.
 
Assim, conceber o desenvolvimento técnico, construído na lógica do jogo, permitirá ganhos táticos, que se periodizados, planejados e organizados podem estar integrados ao desenvolvimento físico específico para o tipo de jogo que se quer jogar.
 
E é aí que a vida de treinadores e comissões técnicas costuma emperrar. Para conseguir treinar o jogo que se quer jogar, nada menos trivial do que se refletir a partir das relações apresentadas, para poder alcançar aquilo que é concebido como modelo para o jogar. Em outras palavras, é difícil construir “jogos que treinem o modelo que se quer jogar”. Nem tanto porque a teoria é difícil (também não é fácil; mas é acessível); talvez mais porque não se busca conhecê-la realmente.
 
O que Burkina Faso pode ensinar ao futebol
 
Tenho um amigo Burquinabê (também conhecido como “O Burquina de Uagadugu”) do Café dos Notáveis. É daquelas pessoas apaixonantes que não se tem meio termo. Ou a gente gosta muito ou desgosta intensamente.
 
Trabalha com futebol já faz algum tempo. Conheceu o mundo. Aprendeu diferentes línguas. Um dia foi para a Nova Zelândia, levou junto consigo a felicidade.
 
Ah, felicidade… Que um dia lá lhe escapou e veio parar no Brasil (e aqui se diluiu na alma de amigos do peito, quase que se transformando em eterna tristeza).
 
O Burquina acredita em honra, ética, lealdade, respeito e coragem, coisas que trouxe consigo quando saiu de casa para viajar o mundo “em busca das coisas de dentro de si”.
 
Estranhou o nosso futebol, no qual como se não bastasse jogadores tecnicamente capazes e treinadores conhecedores das táticas, estratégias (enfim do jogo), também notou a necessidade de se re-ensinar valores perdidos, que de condição básica da vida moral e cívica acabaram se tornando adjetivos diferenciais do ser humano.
 
Nem sei se em Burkina Faso tem futebol (que o Burquina me perdoe a ignorância). O que sei é que lá tem uma coisa de sobra, que falta muito aqui (e não são os burquinenses!).
 
Mas vou contar em uma próxima, porque hoje tenho alguns livros de futebol (em russo) para ler. Como meu russo não é muito bom, vou parando por aqui.
 
E como aquilo que não me mata me faz mais forte (Nietzsche), estou certo de que dia desses fico mais forte e consigo transformar esse futebol.
 
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Aurora

Às primeiras luzes da madrugada, Aurora me visitava. Não era sempre, pelo contrário, era raro. Mas valia a pena, tão ricos e memoráveis foram nossos encontros. Refiro-me, não à hora do dia, mas à ave; Aurora era uma coruja.  Morava à direita de quem sai da caverna, bem ao pé de uma árvore. Fazia o ninho no chão. Não tinha autorização para circular pelas galerias da caverna, por razões óbvias. Todos sabem que as corujas são aves de rapina. Oto, o morcego, arrepiava-se só de me ouvir dizer Aurora. Por isso, e por causa da aurora, nossas conversas ocorriam do lado de fora, às vezes até o sol caminhar mais de um metro no céu.
 
Numa dessas conversas, contou-me a coruja de sua afinidade com o esporte bretão. Durante anos fez seu ninho à beira de um campo de futebol, próximo à bandeira do córner. Ali ela foi feliz com seu companheiro. Tiveram muitas ninhadas. Tornou-se íntima de jogadores famosos, que chegaram a tê-la como mascote. Aurora adorava pousar sobre o travessão, no ângulo superior direito. Desse hábito nasceu a expressão ninho da coruja, quando um chute bem dado por um craque se aninha nos noventa graus entre o travessão e uma das traves. Seu marido, afoito e aventureiro, pousava no ângulo superior esquerdo durante os treinamentos de cobranças de faltas, servindo de referência aos cobradores. Numa fatídica tarde de maio, o petardo de um meia canhoto pôs fim às suas aventuras e Aurora viu-se repentinamente viúva, com três filhotes para criar. A vida não foi mais a mesma. Quando os filhotes amadureceram, abandonou o ninho e veio para cá.
 
Azar dela, sorte minha, que ganhei uma interlocutora à altura dos grandes especialistas no jogo da bola. De Aurora ouvi mais casos sobre futebol do que o tanto que pude contar a ela. Um deles tocou-me muito de perto.
 
Aurora admirava de maneira particular um treinador da equipe que lhe emprestava o gramado. A elegância, os modos gentis, a inteligência aguda desse treinador era de chamar a atenção. Quando ele chegou à agremiação, o time ia mal das pernas. A ameaça de rebaixamento rondava a equipe. Em pouco tempo, competente, ele baniu tal ameaça. A imprensa não poupava elogios ao trabalho do jovem técnico. E então vieram as cobranças. Já não podiam ser aquele time médio de sempre. As vitórias se sucederam e teria que continuar sendo assim. Mas, eis que num arroubo de ousadia, a equipe toda à frente buscando confirmar o favoritismo contra um time menor, a defesa desmorona, toma dois gols e o esquadrão sai derrotado, o treinador vaiado, uma semana inteira de imprecações. Estava em jogo a possibilidade de ascender à elite do futebol brasileiro, de disputar as finais de um grande torneio nacional, e só faltavam seis rodadas. 
 

Nesse ponto fizemos uma pausa. Os olhos de Aurora ardiam, irritados pelo sol que já subia mais de meio metro. Buscamos um lugar protegido e prosseguimos nossa conversa. No meu tempo de menino, eu disse, ainda assisti a jogos em que a pirâmide formada pelos jogadores em campo era o inverso de hoje; a base era o ataque. Havia o goleiro e, logo em seguida, à sua frente, dois beques. Depois, um pouco adiante, guarnecendo a defesa e alimentando o ataque, ficavam os chamados médios, em número de três. E, lá na frente, cinco atacantes. No linguajar de hoje, seria um inimaginável 2-3-5. Mais tarde um dos médios virou beque também, pouco à frente dois médios, mais adiante dois armadores e, só então, os três atacantes. Depois apareceu o 4-2-4, sucedido pelo 4-3-3, ou seja, a pirâmide foi invertida.

 
É verdade, disse Aurora, eu acompanhei todas essas mudanças, inclusive, o chamado 3-5-2 e o 4-4-2. Hoje em dia é mais que comum a gente assistir a jogos em que as equipes colocam apenas um atacante.
 
Depois do tempo que fizemos para historiar a “evolução” dos sistemas táticos, minha amiga coruja prosseguiu. Seu amigo treinador, acossado pelas cobranças dos dirigentes, torcedores e imprensa, passou a temer cada vez mais as derrotas. Já não dormia direito. Acordava com pesadelos onde superatacantes desmoronavam seu esquadrão. Não perder jogos tornou-se uma obsessão para ele. Criticado pela imprensa como irresponsável por não guarnecer a defesa, mesmo assim insistiu no seu 4-2-4. E aí veio o desastre: certo é que o jogo era fora de casa, mas, depois de fazer 1 a 0, seu time tomou três. Os zagueiros pareciam baratas tontas dentro da área.
 
Na volta à cidade, o pelotão de choque da maior torcida organizada tentou linchá-lo, e aí ele não resistiu; montou um 4-3-3. Nem assim a imprensa lhe deu sossego: um louco jogando um título fora, diziam. Irresponsável, gritavam, como se alguma grande equipe do mundo ainda se arriscasse a usar três atacantes. Não adiantou ele explicar que seus três volantes eram duros na marcação.
 
O jogo seguinte era em casa e o adversário duro, ostentava dois títulos brasileiros. Jogava com dois atacantes altos e rápidos, um deles grande cabeceador, além de um armador talentoso. Com 20 minutos de partida as coisas até que iam bem: 0 a 0. Não tomar gols era fundamental. Porém, aos 26min veio o choque. O atacante mais alto subiu num cruzamento da direita, mais do que todo mundo, e testou para o fundo das redes. “Burro, burro”, o coro descia das arquibancadas. E o nosso técnico tremeu. Convocou seu volante mais duro, apesar de pouco técnico, e o colocou em campo, no lugar de um dos atacantes. Fortaleceu-se a defesa, os adversários paravam na muralha do meio do campo, a bola mal chegava à área. Agora, só faltava fazer o gol de empate. E foi no 1 a 0 que o primeiro tempo terminou.
 
Os 15 minutos de intervalo foram consumidos no vestiário com instruções para fortalecer a defesa. Tudo combinado, o segundo tempo começa, mas, logo aos 6min, o centroavante fez o pivô, rolou para o meia que veio de trás e a bola novamente se alojou nas redes do time da casa: 2 a 0. “Huuu, vai morrer, huuu, vai morrer”, o coro ecoou pelo bairro todo, não coube no estádio. Não tinha jeito: se o 4-4-2 não evitava os gols, a solução viria do último volante à disposição. O time tentaria o 4-5-1. Ora, bastaria um atacante, caso a defesa e o meio de campo cumprissem bem seus papéis. Afinal, 2 a 0 não era nenhum desastre para quem ainda tinha uns 40 minutos pela frente.
 
O time seguiu confiante: não havia como passar por seu paredão. Grande engano. Aos 15min do segundo tempo, o ala adversário entrou como um raio pela esquerda e cruzou. O centroavante subiu mais do que toda a defesa e guardou. A torcida ameaçou entrar em campo, sentenças de morte soavam a torto e a direito. O último atacante foi sacado. Armou-se um inédito, talvez, revolucionário, 5-5-0. O técnico adversário tirou dois volantes de sua equipe e colocou mais dois atacantes. O time da casa precisava marcar três gols; não havia quem os fizesse. O adversário também não conseguiu. Faltavam 30 minutos, que foram consumidos pelos visitantes com toques de bola da intermediária para trás.
 
“O que aconteceu depois desse jogo Aurora?”, perguntei à minha amiga coruja. Aconteceu, disse ela, que a equipe não perdeu mais nenhum jogo. Nos quatro jogos seguintes não tomou gols; terminaram, todos, 0 a 0. O plano zero do meu amigo treinador funcionou com perfeição. Não era possível a nenhuma equipe passar por seu paredão de volantes e zagueiros.
 
“E quanto ao resultado final do campeonato?”, insisti. A equipe não se classificou, prosseguiu a coruja, pois, sem marcar gol
s, não houve vitórias.
 
Aurora me disse que nos últimos 30 dias do campeonato ela acompanhou o drama de seu amigo no ocaso da profissão. Chegava ainda de madrugada ao estádio e caminhava sozinho pelo gramado, repetindo obsessivamente, como um mantra, “defesa, defesa, defesa…”. Depois do último 0 a 0 ela o viu sair com uma pequena mala em que deviam estar seus pertences. “Dizem”, ela me contou, que ele nunca mais foi visto, abandonou a profissão, retirou-se para algum canto de solidão habitado, talvez, somente por corujas e morcegos. Mas fez escola, concluímos.
 
Haverá dia em que seu 5-5-0 provará a eficiência do futebol moderno. Sem traves e travessões, obviamente.

* Bernardo, o eremita, é um ex-torcedor fanático que vive isolado em uma caverna. Ele é um personagem fictício de João Batista Freire.
 
Para interagir com o autor: bernardo@universidadedofutebol.com.br

Leia mais:

Trocando as bolas

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A CBF no Brasil e as ligas profissionais na Europa

Caros amigos da Universidade do Futebol,
 
Conforme prometido em minha última coluna e também atendendo a uma sugestão da organização da Universidade do Futebol, gostaria de dividir com vocês a grande mudança ocorrida em minha carreira profissional, que espero reverta em uma nova e proveitosa fonte de informação para este veículo de comunicação.
 
A partir do dia 5 de maio último, iniciei minha participação como coordenador jurídico da EPFL – Association of the European Professional Football Leagues. Trata-se de uma associação que reúne as principais ligas profissionais de futebol da Europa (dentre elas as ligas inglesa, alemã, espanhola, francesa e italiana). O escritório da associação localiza-se em Lisboa, onde passei a residir.
 
Nas minhas próximas colunas, poderemos debater e esclarecer aos leitores as principais diferenças do conceito de futebol existente na Europa e aquele que conhecemos bem do Brasil. Mais do que isso, poderemos funcionar como uma ferramenta de transferência de conhecimento direto, da Europa para o Brasil.
 
Para iniciar esses debates, gostaria de estabelecer um conceito básico que diferencia o modo de organização das competições nacionais na Europa (via de regra) com o modo brasileiro.
 
Como muitos já sabem, o campeonato nacional brasileiro é organizado pela CBF, Confederação Brasileira de Futebol, filiada à Fifa e à Conmebol, que também é a organização responsável pela seleção brasileira de futebol em todos os seus níveis (principal, base, feminino, etc.).
 
O que ocorre na Europa não é isso. As chamadas FAs (ou federações nacionais de futebol) cuidam das seleções nacionais apenas, além do registro dos atletas de futebol que atuam no país. Não organizam competições.
 
A organização dos campeonatos europeus, em nível nacional, é feita por outra entidade (comercial ou não) totalmente independente da federação e dos clubes. Essas entidades, chamadas de ligas, são oficialmente reconhecidas pelas federações para que seus campeonatos contenham jogos oficiais da Fifa. A única atribuição das federações é o controle dos registros de jogadores e dos certificados para transferências de jogadores.
 
A diferenciação acima descrita tem uma explicação, que reside na peculiaridade brasileira. O Brasil é um país enorme, e o futebol está presente de forma massiva em todos os seus estados e territórios. Assim, a criação das federações estaduais acabou por preencher grande parte do papel que seria exclusivo das ligas na Europa.
 
Mas o estudo que faremos ao longo de nossas futuras colunas poderá nos mostrar se existe algum outro caminho que poderia ser traçado pelos dirigentes brasileiros que se aproximasse do modelo europeu, ou se o modelo já existente, pela mencionada peculiaridade brasileira, é de fato o mais eficiente.
 
Veremos.
 
Caso Ronaldo
 
Antes de concluir, gostaria de fazer rápida menção ao caso que recentemente vimos envolvendo o nosso Ronaldo Fenômeno. Em recente coluna, comentei sobre o peso da fama de certos atletas profissionais, chegando à conclusão de que ela leva a uma enorme responsabilidade social.
 
O Ronaldo é uma das principais figuras que se enquadra nesse exemplo. Milhares de crianças, não só do Brasil, projetam seu futuro no Ronaldo. Ele não pode deixar que esses episódios figurem em sua vida, para o bem de uma infinidade de fãs.
 
Como exemplo da repercussão desse caso, comento que existe uma pequena farmácia na esquina do escritório da EPFL aqui em Lisboa que mantinha uma grande imagem do Ronaldo. Mantinha. Porque depois do episódio a imagem foi imediatamente retirada.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Viver ou morrer

Nos idos tempos de Fernando Henrique Cardoso, o governo adotou o lema “Exportar ou Morrer”, que obviamente remetia à necessidade do país se posicionar com mais propriedade no mercado globalizado, principalmente como fornecedor de matéria-prima, produtos e serviços. Desde então, adotando uma política bastante ferrenha, o Brasil tem conseguido seguidos superávits da balança comercial, o que possivelmente ajudou no fortalecimento da economia nacional.
 
Esse fenômeno, curiosamente – mas não necessariamente diretamente atrelado, foi contemporâneo ao aumento de transferências internacionais de atletas brasileiros. Na medida em que o país exportava mais produtos e, principalmente, matéria-prima, mais jogadores deixavam o futebol nacional. Afinal, no futebol brasileiro, a matéria-prima é boa e o valor relativamente barato, principalmente por conta da defasagem dos poderes da moeda nacional em relação aos principais mercados compradores de jogadores.
 
Bom, com o tempo tudo isso foi mudando. Hoje, o superávit da balança já não é tão grande, uma vez que, com o mercado interno de consumo aquecido, o país começa a importar cada dia mais. Com o mercado bom, a moeda estabilizou em relação a outras mais importantes, ainda que tenha ganhado muito valor em relação ao dólar, mas hoje em dia qualquer um ganha do dólar. Porém, o pensamento reinante indica que o Brasil iniciou uma guinada ao desenvolvimento sustentável e, a não ser que algo mais radical aconteça, ele deve se estabelecer como uma das grandes potências mundiais em breve. Com isso, a tendência é que ele fortaleça ainda mais a sua moeda e enfrente maiores dificuldades de exportar produtos e matéria-prima, principalmente aquelas em que a grande competição se dá por conta do preço, que é o caso das commodities.
 
Jogador de futebol, para mercados menos desenvolvidos, pode ser considerado uma commodity. Não é a toa que os jogadores que mais saem dos seus países são jogadores com origens em localidades subdesenvolvidas. O preço é algo que importa, e muito.
 
Pois bem. Dado o momento que atravessa o Brasil e a possível valorização do Real no mercado internacional, como fica o mercado de transferência de jogadores? Haverá um efeito contrário ao “Exportar ou Morrer”? Ficará o jogador brasileiro tão caro que será melhor contratar jogadores de outros países menos desenvolvidos, principalmente da América do Sul?
 
O que vai acontecer, exatamente, é complicado dizer. Mas que vai haver alguma mudança, isso vai. Quer dizer, já ta acontecendo. É cada vez maior o número de jogadores estrangeiros presentes em clubes brasileiros. Entretanto, essa tendência não deve ser muito acintosa, afinal tem muito jogador de futebol no Brasil. E a partir do momento que os clubes de fora fecharem a porta por conta do preço, esses jogadores terão que se voltar ao mercado interno, que já está um pouco saturado. Com mais oferta e a mesma demanda, o preço cai. Jogadores ganharão menos e os valores de transferência serão menores. Talvez chegando ao ponto de voltar a valer a pena financeiramente para o mercado internacional. Aí a situação não se altera muito daquilo que existe hoje.
 

O problema é a hora que os jogadores em formação perceberem que dá pra ganhar dinheiro mais fácil em outros mercados de atuação. Aí sumirão jogadores e o futebol brasileiro precisará adotar uma política de importação ferrenha. Daí tudo muda. Afinal, o futebol brasileiro não irá mais exportar. Isso significará que ele pode morrer?

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Crise mal resolvida

O espaço deveria ter sido usado hoje para falar das incontestáveis conquistas estaduais pelo país afora. Incontestáveis tanto quanto os 8 a 1 do Inter sobre o Juventude, expurgando a eterna “pedra no sapato” do time colorado, naquela que deve ter sido a maior vantagem em decisões desde que o futebol é jogado (pelo menos não consigo puxar na memória outro placar tão dilatado assim). Ou falar da festa do bi do Flamengo, do gosto inédito de campeão do Itumbiara, ou ainda do fim do jejum de 11 anos palmeirense, com a sua nova versão da Parmalat.
 
Mas neste espaço o combinado é tentar trazer o tema da comunicação no futebol. E, nesse assunto, a notícia da semana foi ele, Ronaldo. Não pelos gols em profusão, não por mais um processo de recuperação de lesão, não por mais uma bela namorada que apresenta.
 
Ronaldo causou o maior estrago em sua imagem na segunda-feira passada, quando teve de ir para a delegacia após se envolver numa “festinha” com três travestis da Avenida Sernambetiba, no Rio de Janeiro. O Fenômeno acusa um travesti de extorsão. Do outro lado, o travesti acusa Ronaldo de calote, além de dizer que o jogador havia pedido para que um deles fosse comprar cocaína.
 
Agora, é velha história da palavra de um contra o outro. Na Justiça. A balança deve pender para o pentacampeão do mundo. Para o público e, especialmente, seus patrocinadores, o que pesou foi o silêncio de Ronaldo.
 
Desde segunda, o jogador não foi a público se pronunciar sobre o caso. Uma lacônica nota divulgada por sua assessoria de imprensa na terça-feira, um dia após o caso ser revelado, não falava diretamente sobre o caso e, o que é pior, não trazia nenhuma declaração de Ronaldo sobre o tema.
 
Na quinta-feira, feriadão do dia 1º, nova nota da assessoria de imprensa, com uma frase de Fabiano Farah, empresário de Ronaldo. Nela, o agente dizia que Ronaldo não perderia seus patrocinadores por conta da confusão, afirmando que o atleta não havia feito nada de ilegal em toda a história.
 
A nota, porém, chegou tarde. Na quarta-feira o jornal O Dia, do Rio, já trazia notícia dizendo que a Nike poderia romper o acordo avaliado em quase US$ 100 milhões anuais por atitude incompatível com a reputação da marca. A resposta de Ronaldo e seu staff, mais uma vez, veio com um dia de atraso.
 
No sábado, o colunista Ancelmo Góis, de O Globo, publicou nota dizendo que a TIM já havia desistido de patrocinar o atleta, para quem paga US$ 8 milhões ao ano.
 
E Ronaldo só foi dar as caras no domingo, em entrevista exclusiva ao Fantástico. Lá, confirmou que esteve com os travestis, disse que não é disso, mas que tinha tido uma crise no relacionamento e que vai ter de “reconstruir a casa devastada pelo furacão”.
 
Em vez de dar a cara para bater numa coletiva de imprensa, em que as mais diferentes perguntas poderiam ser feitas a ele, Ronaldo escolheu o conforto de uma entrevista exclusiva previamente combinada, em que pudesse ajustar a casa sem desajustar a compostura com perguntas indesejadas.
 
Ronaldo diz que não gosta de abrir sua vida particular para as pessoas. O que ele tem de entender é que sua imagem é pública, e que é praticamente obrigatório que ele tenha a vida aberta à população, que não quer saber apenas dos sorrisos na hora dos gols.
 
O gerenciamento da crise envolvendo o Fenômeno foi péssimo. Nunca houve pró-atividade de Ronaldo e seu staff na prestação do serviço aos fãs do jogador. As respostas sempre foram reativas, após mais alguma bomba estourar. Só depois de uma semana que Ronaldo deu a cara a tapa, e ainda assim numa insossa entrevista exclusiva, em que geralmente o jornalista não ataca o seu entrevistado.
 
Não é apenas por seu talento que Ronaldo conquistou tudo o que tem na vida hoje. O carinho da torcida por ele é parte de seu sucesso. Rivaldo, outro craque de bola, mas sem empatia com o torcedor, que o diga da diferença comercial que é ser um ídolo da torcida ou “apenas” um craque de bola. Ronaldo deve entender que, por mais que queira, sua vida é interesse da vida das pessoas.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br