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Caso Portuguesa – repercussões

Na semana que passou houve o julgamento pela Justiça Desportiva acerca da irregularidade de atleta da Portuguesa que pode levar o clube paulista ao rebaixamento.

A Comissão Disciplinar da Justiça Desportiva do Futebol decidiu pela punição da Portuguesa, o que a levará à série B em 2014 e salvará o Fluminense.

Sobre isto constata-se que:

1. Decisão da JD de hj foi coerente com entendimentos anteriores.

2. Decisão da JD aplicou a lei na sua maneira bruta e matemática.

3. A decisão foi lida donde se presume que o caso foi pré-julgado.

4. JD perdeu a chance de agir como uma verdadeira "Justiça.

5. Princípios Jurídicos não foram observados. Interpretação sistêmica foi ignorada.

6. No final de tudo, quem mais perdeu foram a moralidade, a hermenêutica jurídica, a credibilidade e o futebol brasileiro.

7. Certamente haverá recurso e o Pleno terá a chance de arejar a JD.

8. Se não o fizer, quem sabe o Tribunal Arbitral do Esporte (TAS/CAS) não o faça?

Além disso, paira sobre a demanda a possibilidade de se utilizar a Justiça Desportiva.

Ora, o Estatuto do torcedor estabelece que as decisões da Justiça Desportiva devem ser, em qualquer hipótese, motivadas e ter a mesma publicidade que as decisões dos tribunais federais, sob pena de nulidade.

Logo, se as decisões dos tribunais federais tornam-se públicas com a publicação no Diário Oficial, a ausência da publicação conforme determinação legal pode levar à sua legalidade.

Dessa forma, em tese, poderia se alegar, na Justiça Comum, nulidade da decisão proferida pela Justiça Desportiva.

Pelo visto, esta história está longe de acabar.

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Soluções pela emoção

Ainda que a pauta da semana seja a punição de perda de pontos imposta a Portuguesa e ao Flamengo, que culminou, até o presente, com o rebaixamento da equipe lusitana pelo STJD e a manutenção do Fluminense na primeira divisão, vou me abster de qualquer comentário, por enquanto, neste sentido.

Pretendo retomar e reiterar o debate da semana anterior, que diz respeito à violência protagonizada pelos marginais que vestiam as camisas de Atlético Paranaense e Vasco na última rodada do Campeonato Brasileiro, uma vez que as soluções e medidas que estão sendo tomadas, com boa dose emocional em face do caso, tendem a contribuir para a involução de muitos dos processos relativos à melhoria do espetáculo dentro do recinto esportivo.

Na minha última coluna falei de “Sintomas e Doenças”, mostrando como temos a cultura de tratar alguns “Sintomas”, achando que eles podem solucionar os problemas de algo mais complexo. Agora, para piorar, e visando “dar resposta” à sociedade, começam a surgir “soluções” completamente desprovidas de uma análise técnica racional para os desafios que a indústria do futebol deve enfrentar para combater certos desvios.

O discurso midiático igualmente pouco contribui para a evolução deste debate. Ao invés de procurar defender soluções construtivas, com bases sólidas, clama por decisões e ações de curto prazo. Toma partido de um único caso para servir como base para todos, quando o problema é muito mais complexo.

Em breve, após baixar a temperatura e os ânimos estiverem menos exaltados, não se entenderá os porquês de uma ausência de solução mais efetiva e definitiva. Como não estudamos o fenômeno, o resultado é quase que, invariavelmente, a proposição de uma ação rápida, pouco eficaz e “politicamente correta”. Para esclarecer tudo que foi abordado, vamos ao cenário, por enquanto, que se está desenhando:

1) Briga entre torcedores de Vasco e Atlético Paranaense é creditada totalmente à falta de Policiais Militares na arquibancada do estádio para separar as torcidas após uma deliberação do Ministério Público de Santa Catarina;

2) O foco passa a ser este, parecendo uma equação matemática: Segurança Particular + Torcidas Rivais = Briga Generalizada;

3) Surge, portanto, associação viciada de que a ausência de Polícia Militar em estádios é igual a violência, transformando tal premissa em verdade absoluta;

4) No fim das contas, nos esquecemos de que, no caso em voga:

a. Haviam apenas 6 seguranças privados (não vou nem entrar no mérito do Estatuto do Torcedor, que deveria ser modificado para atender a conveniência de um evento privado) que, convenhamos, não daria conta de resguardar pela segurança de 100 torcedores, quem dirá de 10.000;

b. O estádio dispunha de área reservada para torcida visitante, com gradil de proteção. Por vontade do clube mandante, venderam-se mais ingressos do que o recomendável, obrigando a abertura deste gradil para a acomodação dos torcedores vascaínos;

c. Ninguém perguntou se o estádio ou o mandante possuem Plano de Segurança – senhores, os clubes de futebol do país (e respectivos estádios) realizam (ou recebem), ao menos 30 eventos por ano nas mesmas proporções. Será que ninguém nunca discutiu esse problema com todos os cuidados necessários? Qual o “Caderno de Encargos” de que um administrador de estádio de futebol entrega para a entidade que loca seu espaço?

5) Por fim, a natural e populista solução política dos “JÊNIOS” (isso mesmo, com J, para bem caracterizá-los) para dar uma resposta que não deveriam dar: jogos, agora, só com policiamento público.

Devemos responsabilizar, a bem da verdade, os organizadores da competição, solidariamente com os clubes participantes e integrantes do campeonato. São eles que devem pensar e procurar encontrar as soluções definitivas para seus problemas – sei que isso é um tanto quanto utópico à medida que conhecemos o modus operandi das entidades que desenvolvem esporte neste país. Mas o fato é que estamos dando uma responsabilidade ao governo quando este deveria apenas estabelecer diretrizes visando a ordem pública.

Fazendo uma analogia simples: um restaurante que tenha sido identificado com problemas de higiene em sua cozinha, após ser fiscalizado pela “Vigilância Sanitária”, acabará por ser fechado até que consiga corrigir seus problemas internos para fazer jus a uma reabertura. Não será, portanto, a “Vigilância Sanitária” que irá, no dia seguinte, consertar a pia, arrumar a rede de esgoto ou comprar freezer para melhor conservar os alimentos. O que este exemplo significa? Que o governo procurou garantir e preservar pelo bem da sua população, mas não colocou efetivamente a mão na massa.

É isso que precisamos ter em mente. Se o futebol quer ser respeitado como indústria, proporcionando melhores serviços e ampliando suas receitas, precisará assumir melhor suas responsabilidades.

As respostas, já que não vem do governo, aparecem da iniciativa privada, após a brilhante decisão da Nissan em romper o contrato de patrocínio com o Vasco da Gama, entendendo que as confusões causadas pelos torcedores cruzmaltinos tendem a manchar a imagem corporativa da montadora.

O fim melancólico da principal competição da principal modalidade esportiva do país só atesta a incoerência e mostra que algo permanece muito errado no futebol brasileiro… A mudança deve ser iminente, especialmente dentro dos estádios e arenas esportivas do país, que é o local onde efetivamente se produz e consome o espetáculo do futebol.

Quem sabe, no futuro, deixaremos de ser o país dos jogadores de futebol para nos tornarmos, definitivamente, o país do futebol. Um dia, quem sabe, chegaremos lá!!!

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Inversão de Valores

Desde os primórdios, para sobreviver e evoluir em nosso planeta os seres vivos precisam se esforçar. Dessa forma, sobrevivem os que lutam com mais garra, os que aprendem mais rápido e são mais adaptados, os que exercitam suas habilidades e usam suas experiências para melhorar etc. No mundo natural, esta lógica continua válida, ou seja, esta é a conduta que leva qualquer espécie a alcançar o sucesso.

No entanto, na vida prática das pessoas, tenho visto esta lógica ser desafiada dia a dia. Em um tempo não muito distante, observávamos os mais esforçados sobressaírem-se. Os que nasciam com algum talento e que eram dedicados e perseverantes eram reconhecidos como gênios e outros com menos talento – mas não menos dedicação – eram reconhecidos como guerreiros.

O que tinham em comum os gênios e guerreiros? Ambos recebiam seus “prêmios” pelo esforço e perseverança e, por esta razão, ocupavam posições de destaque na vida. Esses eram os líderes de comunidades, comandavam tribos, controlavam a produção, enfim, eram pessoas admiradas.

Dentro desta lógica podemos concluir que o funcionário mais esforçado é valorizado e serve de inspiração aos outros, o estudante mais dedicado é a referência da turma, o atleta mais comprometido e aplicado é reconhecido pelo público. Obvio e certo, não é? Não!

Hoje, no campo das atividades humanas, esta lógica vem se invertendo radicalmente, seja em empresas, ambientes de ensino, clubes esportivos ou outras instituições.

Hoje o funcionário mais dedicado e comprometido virou o chato, “puxa-saco” dos superiores, o aluno dedicado que deveria ser a referência da turma virou o nerd, "CDF" e o atleta mais aplicado virou o “vilão”, pois faz elevar o nível de exigência dos outros membros do grupo.

Tenho certeza que, ao lerem esses exemplos, automaticamente se lembrarão de pessoas bem próximas, que ao invés de serem admirados e servirem como referências como acontecia no passado, hoje são taxados por adjetivos pejorativos. Esses acabam, muitas vezes, até excluídos de seus grupos e privados das oportunidades que fariam jus pela ordem natural das coisas.

Para ficar mais claro, dou dois exemplos de pessoas públicas que atuam no esporte e que pagam um preço alto por serem muito dedicados e, acima da média, são fatos recentes e que mostram claramente esta realidade:

1) Um é o Tite, técnico do Corinthians. Trata-se de um profissional vencedor, que permaneceria em qualquer clube da Europa por muito tempo. No entanto, não teve seu contrato renovado com a justificativa de que o clube precisa "reciclar o ambiente". Na verdade, ele trabalha muito e incomoda muita gente, então criaram um motivo!

2) Outro exemplo é o Rogério Ceni, lendário goleiro do São Paulo. Ele acaba de estabelecer a marca de 1.117 jogos pelo clube, um recorde mundial. Alguém que deveria ser orgulho para o nosso esporte, é taxado como "fominha" que joga até amistoso, que não quer ficar de fora nunca. Isso é ruim? Claro que não, isso é ótimo, mas não para os dias de hoje!

É fácil entender porque estas coisas acontecem não só em clubes de futebol mas também nas empresas, por isso divido com vocês minha visão sobre o tema:

Excluindo quem se destaca, automaticamente o nível fica mais baixo e todos ficam mais confortáveis, sendo mais simples justificar as incompetência e a falta de esforço.

Esta é uma atitude natural de auto-preservação da incompetência, que limita a evolução em todos os sentidos e claro isso afeta empresas, educação, esporte e todos os segmentos onde se pratique essa "barbárie" de comportamento.

No caso de nossos exemplos, vale lembrar que o Tite ganhou a Libertadores, o Mundial de Clubes, a Recopa, o Campeonato Brasileiro entre outros. O Ceni fez mais de 1.117 jogos pelo seu São Paulo e, mesmo sendo goleiro, fez mais de 100 gols.

Ser reconhecido é um desejo natural, mas lembro que para atingir resultados diferenciados ambos tiveram que abdicar de muitos prazeres da vida para se destacarem em suas profissões.

Recompensar de maneira diferenciada os mais esforçados, acreditem, é a ordem natural das coisas. Tanto que as empresas descobriram que as pessoas ficam mais felizes quando existe meritocracia, que significa simplesmente valorizar quem se destaca, quem se esforça mais.

A boa notícia é que, mesmo com essa inversão de valores, noto que quem se esforça, tem vontade e perseverança, trabalha com amor, é curioso e estudioso acaba se destacando entre tantos outros indivíduos. Para os demais, os que não se esforçam, restará continuar se lamentando e criticando quem faz acontecer.

Escolha de que lado prefere estar. Reflita sobre isso e lembre-se que você pode fazer a diferença sempre!

 

*Cezar Antonio Tegon é graduado em Estudos Sociais, Administração de Empresas e Direito. É Presidente da Elancers e Sócio Diretor da Consultants Group by Tegon. Com experiência de 30 anos na área de RH, é pioneiro no Brasil em construção e implementação de soluções informatizadas para RH. Palestrante em vários congressos e universidades sobre temas relacionados à Gestão de Pessoas, Tecnologia da Informação e Perfil Comportamental

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A mensagem que o esporte transmite

O Vasco ainda sofre as dores decorrentes da última rodada do Campeonato Brasileiro. No dia 8 de dezembro, jogando em Joinville, o time carioca perdeu para o Atlético-PR por 5 a 1 e foi rebaixado à segunda divisão do certame nacional. Mais do que isso: os torcedores das duas equipes protagonizaram cenas de batalha nas arquibancadas do estádio catarinense. Naquele dia, o futebol inteiro perdeu.

Prova disso foi dada na última segunda-feira pela montadora Nissan. A empresa, que havia assinado em julho um contrato de patrocínio ao Vasco, decidiu romper o vínculo porque não aceitou ter sua imagem associada às cenas de barbárie ocorridas em Joinville.

O acordo com a Nissan renderia ao Vasco um total de R$ 28 milhões em quatro anos. Em comunicado oficial, porém, a montadora classificou as imagens de Joinville como “inaceitáveis” e “incompatíveis com os valores e princípios sustentados e defendidos pela empresa em todo o mundo”.

A Nissan não deixou de investir no esporte brasileiro. A marca ainda é a montadora oficial dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016, que serão realizados no Rio de Janeiro, e conta com um grupo de mais de 30 atletas patrocinados no país. A empresa não perdeu a fé no esporte, mas mitigou a aposta no futebol.

Nesse caso, a resiliência é difícil a ponto de não ser necessariamente uma virtude. O esporte é uma plataforma de comunicação extremamente eficiente, sobretudo porque lida com emoções muito afloradas. Mas o esporte não está imune a ser abespinhado por mazelas do mundo.

Atlético-PR e Vasco faziam um jogo que valia muita coisa – o time paranaense jogava por classificação para a Copa Bridgestone Libertadores, e os cariocas tentavam evitar a queda para a segunda divisão nacional. Era um duelo com elementos suficientes para ser muito lembrado por tudo que aconteceu em campo. Agora, desafio rápido: se alguém pedir a você para citar imagens da partida, quanto tempo você leva até pensar em um gol ou lance que aconteceu dentro das quatro linhas?

O que fica do jogo é a selvageria. O que fica é o confronto entre as duas torcidas nas arquibancadas. O que fica é o saldo de cinco feridos: quatro adeptos e o futebol, que ainda está em estado grave.

É essa a principal mensagem que a Nissan transmitiu ao romper contrato com o Vasco. Afinal, outros patrocínios de outras empresas sobreviveram a uma enorme lista de polêmicas. Chegar ao inaceitável é a maior prova do quanto a imagem do esporte pode ser abalada pelo que acontece fora do campo de jogo.

O golfista Tiger Woods perdeu patrocínios quando explodiu um escândalo de casos extraconjugais – ele chegou a ser internado para tratar o vício em sexo. O nadador Michael Phelps também findou contratos após ter sido flagrado fumando maconha em uma festa. Nenhum deles, contudo, fechou tantas portas quanto o ciclista Lance Armstrong, cuja carreira foi inteiramente manchada por um extenso esquema de doping.

Pessoas são passíveis de erro. Instituições são feitas de pessoas. Instituições também são passíveis de erros. Escândalos existem em muitos segmentos. O que assusta é chegar a um ponto em que essas celeumas debelam o potencial de comunicação de todo um segmento.

Porque é esse o efeito das cenas de Joinville. A Nissan não deixou apenas o Vasco, mas reduziu a confiança na plataforma futebol. Já passou da hora de o esporte começar a se perguntar o porquê disso.

Um paralelo pertinente nesse caso é o mercado de mídia. A Globo não é a TV que mais atrai patrocinadores apenas porque tem as maiores audiências. Isso também acontece porque a emissora oferece estabilidade. Antes de colocar dinheiro no canal, uma marca consegue ter uma noção clara do que esperar como retorno.

Que estabilidade oferece um segmento em que as cenas que mais repercutem na rodada decisiva aconteceram na arquibancada e não tiveram nada a ver com futebol? Que estabilidade oferece um segmento em que o principal evento nacional vai ser decidido nos tribunais, ninguém sabe ao certo quando? Mais de uma semana depois dos jogos, a última rodada do Campeonato Brasileiro ainda não acabou.

Todos os casos devem ser analisados com a profundidade que merecem, é claro. Mas é impossível ignorar que esse pacote (violência, STJD e mudanças que o tribunal faz na classificação dos times) causa um dano indelével à imagem do futebol.

A primeira coisa que qualquer um (pessoa ou empresa) busca ao decidir fazer um investimento é justamente a estabilidade. É saber que o seu dinheiro vai render e saber qual será essa valorização. Atualmente, com quais argumentos eu convenço alguém a apostar no futebol brasileiro?

A meses de receber uma Copa do Mundo, o futebol brasileiro precisa urgentemente pensar nisso. O país viu em 2013 a Copa das Confederações, que já podia ser usada como exemplo nesse sentido. A despeito de manifestações fora dos estádios e de conflitos descabidos entre público e agentes responsáveis pela segurança, o evento teve nível de excelência: boa organização, estádios cheios e pessoas bem tratadas no interior desses aparatos.

Os eventos “padrão Fifa” estão longe da perfeição. Estão longe de outros segmentos, como o mercado de shows musicais. Mas já estão a anos-luz do que é feito no futebol do Brasil.

Ouvi recentemente uma entrevista do cantor Marcelo D2 que serve como exemplo nesse aspecto. Preocupada com a queda de vendas de CDs, a equipe dele mudou radicalmente a estratégia de comercialização do novo lançamento. A principal aposta foi a criação do que eles chamaram de pocket stores.

O conceito funciona da seguinte maneira: a equipe aluga por poucos meses um espaço pequeno em uma cidade. O local funciona como uma loja para o novo CD, mas também reúne produtos promocionais ligados ao músico. E mais importante: tem uma agenda de eventos ligados a Marcelo D2. Uma pessoa pode entrar na loja e se deparar com um show intimista dele ou da banda dele. Ou pode simplesmente comprar um produto das mãos do artista, com autógrafo e um tempo para interação. Além de apresentações musicais e sessões de autógrafos, o cantor chegou a trabalhar como caixa e vendedor nesses equipamentos.

Com tudo isso, as pessoas ganharam um argumento para a compra do CD. O consumidor pode seguir desacreditando no produto, mas a chance de investir cresce muito depois de ele ter tido acesso a um conteúdo exclusivo e emocional. É a tal da venda da experiência.

Tente pensar no potencial que o esporte tem para isso. Quanto o segmento venderia se soubesse usar a interação das pessoas com ídolos e com os times que eles amam?

A imagem do futebol podia ser essa. Em vez disso, o Brasil prefere batalhas em arquibancadas e decisões arbitrárias em tribunais. Enquanto for assim, é compreensível que marcas como a Nissan escolham outros caminhos. É compreensível que elas saiam do segmento pensando em todo o potencial desperdiçado.

O Brasil podia ser o país do futebol. Podia
ter o maior mercado consumidor de futebol no planeta. Mas isso não vai acontecer enquanto as pessoas esperarem que o próprio mercado se regule e entenda como fazer a comunicação adequada.

No ano em que o Brasil teve o campeão da Libertadores, bonitos gols e um time que “sobrou” no principal torneio nacional, os assuntos foram o menino Kevin Beltrán Espada, as brigas de torcedores e o STJD. E aí não há comunicação que sobreviva.

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A inteligência de jogo e a formação do jogador de futebol: mais uma vez, os chutões, a beleza do jogar e a inexorável lógica do jogo

Estreando hoje o “bate-bola” colunista-leitor (conforme descrevi na coluna anterior), vou começar com o competente professor, amigo e leitor B. P. (iniciais do nome dele), de São José dos Campos, que nos escreveu comentando o texto “Os chutões, o português José Mourinho, a beleza de jogar futebol e a Lógica do Jogo” (http://149.28.100.147/udof_migrate/Coluna/12349/Os-chutoes-o-portugues-Jose-Mourinho-a-beleza-de-jogar-futebol-e-a-logica-do-jogo), sugerindo um debate maior a respeito do mesmo tema, mas agora “conversando” com as categorias de base e formação de jogadores.

Ele diz: “Li sua Coluna e pude concluir, com base até nos exemplos que citou (Barcelona x Internazionale) que você se refere ao jogo de futebol profissional. Quanto às categorias de base, o texto mudaria o foco da crítica, correto?

Em linhas gerais o cerne do texto anterior foi o debate sobre o fato de que muitas vezes, apesar do resultado final de uma partida parecer dizer, à grande parte dos olhares, muito pouco a respeito daquilo que foi o jogo, é possível e provável, que haja grande necessidade de se ajustar, sintonizar e parametrizar jogo e olhares – e não que o placar final da partida não se relacione com aquilo que foi visto em campo.

Em outras palavras, muitas vezes o que observamos em campo nos faz pensar que o “acaso” e a “injustiça” prevaleçam um importante número de vezes sobre a competência e bom futebol.

Então, sobre isso, escrevi no texto anterior “(…) como já mencionei outrora, o futebol é mais um jogo de como aproveitar chances do que um jogo de como criar oportunidades (…)” e completei “(…) há beleza nisso… Mas tudo depende de como olhamos para essa “beleza”. E além de beleza, há muito, mas muito conteúdo de jogo nisso!!!”

Pois bem. O debate sobre formação de jogadores é um terreno amplo, rico e muitas vezes pouco concreto.

Em geral, não há um currículo formal que estruture e coordene conteúdos que possam e devam ser desenvolvidos ao longo de toda vida do jogador de futebol em sua passagem pelas categorias de base dos clubes.

Em muitos clubes não há nem sequer uma ideia clara do perfil de jogadores que se pretende formar. Isso pode (e tem sido), ou não, ser um enorme problema.

Vejamos:

1) Fato 1: Pode e tem sido problema porque em alguns casos, ao não se saber bem o perfil de jogador a ser formado, são criados modelos baseados nas primeiras equipes (as profissionais dos clubes). O problema é que algumas vezes, as “primeiras equipes” têm modelos subordinados ao pensamento e filosofia dos treinadores que as comandam, e não dos clubes como instituição. Sendo assim, quando sai o treinador, há uma apocalipse de processos construídos na formação de jogadores de base – e uma mudança quase que permanente de rumo.

2) Fato 2: Quando cultura, filosofia e modelo de jogo estão bem claros e definidos nos clubes, é então possível criar uma organização pedagógica de conteúdos que identifiquem os jogadores desenvolvidos e “formados” para jogar no primeiro time. E isso parece uma solução, e não um problema.

O certo é que, tanto no 1º apontamento (fato 1), quanto no 2º (fato 2) – descritos acima – podem haver lacunas de conteúdos ao longo do processo. Isso é relativamente simples de ser comprovado.

No apontamento 1, é como se, por exemplo (analogamente), alunos do ensino médio tivessem os conteúdos de uma disciplina da escola (Matemática, por exemplo) escolhidos segundo as preferências do professor – e não do currículo escolar. E mais ainda, como se esses conteúdos fossem ensinados de acordo com uma sequência definida por ele, e não pela escola e órgãos públicos reguladores responsáveis.

No apontamento 2, é como se os conteúdos para ensino das disciplinas, fossem definidos pela escola, de acordo com a maneira com que ela (a escola) enxerga o mundo e as suas necessidades – por exemplo: a escola “A” passa o ensino médio apresentando e formatando conteúdos preparando alunos de acordo com as exigências de vestibular da Universidade “X”. Já a escola “B” passa o ensino médio apresentando e formatando conteúdos preparando os alunos para uma experiência futura em um país diferente do dela.

Ao final dos anos de estudo, em qualquer um dos apontamentos sempre haverá algum tipo de lacuna – que deverá ser preenchida pelas experiências futuras e permanentes dos alunos fora da escola.

No caso do futebol, quando olhamos para o jogo propriamente dito, em sua essência, é razoável pensar que equipes como o FC Barcelona vem formando jogadores com perfil bem característico, que aprendem muito bem conteúdos bem particulares.

Mas, os conteúdos que aprendem os jogadores formados no FC Barcelona, por exemplo, abarcam o desenvolvimento amplo de uma inteligência de jogo, individual e coletiva?

Não tenho dúvidas que o processo de formação de base do time catalão é muito bem feito e organizado!

Não tenho dúvidas também que a inteligência de jogo é muito bem estimulada e desenvolvida!

A questão central é que quando penso em “inteligência de jogo” como conceito essencial para jogar bem futebol, penso nela como algo dinâmico e circunstancial (e por isso imprevisível), ou seja, que deve se manifestar para resolver problemas aleatórios, urgentes e emergentes a cada segundo durante o jogo.

O que quero dizer com isso, é que ao se fechar a formação de jogadores a uma única maneira de perceber o jogo e a um único modelo para se jogar, não estaremos explorando em sua totalidade as possibilidades criativas e autônomas do desenvolvimento da inteligência de jogo (individual e coletiva).

Assim, mencionei no último texto:

“(…) Estou querendo, mais uma vez (a terceira nesse ano!) chamar a atenção para o fato de que sob o ponto de vista da lógica do jogo, a beleza, os conteúdos, e a inteligência para jogar não estão subordinados as estratégias de jogo, modelos de jogo, ou ao que intimamente ou culturalmente achamos bonito – estão subordinados sim, ao JOGO propriamente dito, no cerne, na sua essência!”

O boa formação de jogadores de base ao longo dos anos que envolvem o processo, deveria ser aquela que desenvolve ao máximo uma inteligência circunstancial de jogo, individual e coletiva, autônoma e criativa!

Assim então, sem me alongar mais, e respondendo a questão inicial do texto:

Não (!!!) o foco da “crítica” (construtiva, claro!!!) da coluna anterior, não deveria ser aplicado apenas aos olhares que observam atentos as partidas de futebol profissional…

Ela deveria se estender aos óculos que sobrepõem os olhos que olham para o futebol de base também.

Em geral, é normal que existam muitas maneiras de se resolver o mesmo problema. E é mais comum que exista uma maneira mais econômica, mais eficiente… e essa eficiência está no indivíduo (no jogador e suas particularidades) e não nos modelos e ideais pré-concebidos…

Então terminarei, utilizando argumentos finais da coluna anterior:

“(…) Não estou defendendo uma concepção “A” ou “B” de se jogar (e nem tão pouco os “chutões”)… Não, não é isso!!!
Estou querendo, (…) chamar a atenção para o fato de que sob o ponto de vista da lógica do jogo, a beleza, os conteúdos, e a inteligência para jogar não estão subordinados as estratégias de jogo, modelos de jogo, ou ao que intimamente ou culturalmente achamos bonito – estão subordinados sim, ao JOGO propriamente dito, no cerne, na sua essência!

O ambiente, a cultura, os modelos (e outras coisas mais) são caminhos (alguns dos inúmeros) para chegar ao jogo – eles não tem fim neles mesmos e portanto, não é para nenhum deles que devemos perguntar o que é o JOGO.

Devemos perguntar sobre o jogo ao próprio JOGO!”

Bom, por hoje é isso…

Fico no aguardo das questões dos leitores para as próximas colunas (rodrigo@149.28.100.147 ou facebook.com/rodrigo.azevedoleitao).

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O Desporto (o futebol) não é violência

O futebol, modalidade desportiva que é, nasce como pedagogia, nos colégios universitários da Inglaterra vitoriana. Portanto, o futebol, antes de tudo o mais, é pedagogia, ou seja, uma instância instauradora e promotora de valores. Quando surge travestido de violência, as causas localizam-se principalmente, no grau de instabilidade social, na degradação econômica e em muitos capitalistas e dirigentes, que o comandam.

Aliás, o paradoxo e a debilidade do desporto reside no facto de ele supor, em todos os cidadãos, virtudes que não se encontram senão em alguns. A violência do hooliganismo e das claques, um clubismo ou regionalismo facciosos, a guerrilha verbal dos opinadores, dos críticos e até de “respeitados” dirigentes, a corrupção que, de quando em vez , se conhece – não podem confundir-se com o futebol. O mesmo diríamos das estratégias de manipulação de alguns caciques, criando cisões nefastas entre as pessoas e as instituições.

É verdade que já escrevi que o desporto altamente competitivo reproduz e multiplica as taras da sociedade. Mas, não deixei de acrescentar que ele também tem condições únicas, para transformar-se em contra-poder ao poder das taras dominantes. Há uma mística de solidariedade, de espírito de grupo, na prática desportiva, que me parece um processo eficaz de operar a higiene mental das pessoas atolhadas de mitos, dogmas e falsas ideias, propugmados pelos poderes que nos governam. Continua válido o reparo de Montesquieu: apenas o poder limita o poder. O silêncio, o segredo, a expectativa dão mais força à demagogia, ao arrivismo, a ilusões artificiosas.

O sociólogo brasileiro Maurício Murad, no livro a violência e o futebol (editora FGV, Rio de Janeiro, 2007, pp. 39 ss.) relembra algumas das experiências bem sucedidas, em diversas partes do mundo, de uma prática desportiva que se transforma em generosa pedagogia social: o basquete da meia-noite, nos EUA, com equipas de “menores abandonados”; a Vila Olímpica da Mangueira, no Rio de Janeiro, que vem libertando do vício e do crime um número incontável de jovens expostos à marginalidade; o Deporte para los Desplazados, na Colômbia, situado na área central do narcotráfico, em Medelin; o futebol feminino no Irão, um espaço onde as mulheres se despem orgulhosamente de coberturas negras que as escondem, desde o rosto até aos pés, e assim denunciam hábitos e dogmas, que as mantêm como seres agónicos e humildes; o futebol de integração em Cabul, onde também as mulheres ousam enfrentar os estigmas de uma cultura milenar, que as subvaloriza, que as escraviza, que as quer acocoradas aos pés do marido, do pai ou do irmão; os clubes de “torcidas organizadas”, no Japão, “com um total de 67% dos seus integrantes, composto por crianças e por mulheres”, libertando assim os jogos de um ambiente nervoso, irascível, impulsivo; as “peladas” dos fins de tarde, no deserto do Egito, em Gizé, um autêntico lazer desportivo, que as mulheres acompanham e promovem, entre árabes escuros, já velhos, de grenhas lanudas e riçadas, onde não se descortina uma expressão de simpatia ou de grima; o futebol ecuménico no Líbano, com disputas ardorosas entre equipas das três grandes religiões monoteistas e em que um altíssimo grau de religiosidade se casa com uma sublime tolerância.

Maurício Murad, com um invulgar conjunto de qualidades exigíveis a um sociólogo, refere-se ainda a Marrocos, ao Sri Lanka, ao Paraguai, a Berlim (Alemanha) e a outros países ou cidades, onde o desporto, mormente o futebol, ensaia um humanismo em plenitude, e por isso com um futebol que pode ter violência, mas não é violento. Não deverá esquecer-se também o papel da UEFA e da Fifa, nas lutas contra o racismo e em prol do “fair play”, incluindo o financeiro. “A Uefa vai abrir um inquérito aos adeptos do CSKA, por cânticos racistas, no jogo da Champions com o City da passada quarta-feira” noticiou A Bola, de 2013/10/25.

Ao Padre António Vaz Pinto, José Saramago confessou: “Não sou crente. Para mim, Deus não existe mas, digo e repito, o facto de Deus existir para os outros faz com que exista para mim”. Contudo, “aquilo que somos ao Cristianismo o devemos” (in Brotéria, Abril de 1992, pp. 408/409). O desporto moderno nasceu num colégio universitário britânico, dirigido pelo cónego Thomas Arnold. Até o desporto tem, entre outras, raízes cristãs. Ora, o Deus de Jesus Cristo (ao contrário do Deus da inquisição e de alguns papas, reis e ditadores) não é o Moloc insaciável de sacrifícios sangrentos, mas o Deus-Pai que nos propõe o amor como a resolução de todos os problemas da vida: “amai os outros como a vós mesmos”. A transcendência, em direção ao amor, é o sentido da vida.

Lévinas (En découvrant l’existence, avec Husserl et Heidegger, Ed. Vrin, p. 27) assinala que “a intencionalidade é essencialmente o ato de emprestar um sentido”. O Desporto, como ação humana, implica necessariamente a inteligibilidade do que se faz e o Desporto é tanto mais inteligível quanto mais, nele, transcendência e amor surgirem como condições necessárias. É preciso, de uma vez por todas, afirmar que não basta correr, ou ir ao ginásio, para se ter saúde, porque a saúde só acontece numa sociedade diferente.

Tem razão o Padre Teilhard de Chardin, no seu Fenômeno Humano: “Quanto mais o Homem se tornar Homem, menos aceitará movimentar-se a não ser para algo de interminamente e indestrutivelmente novo” (p. 257). E aqui, sim, com o Homem novo e um Mundo novo, a saúde é a sua “consumação” e o Desporto um dos aspetos de uma saúde que não é física tão-só, ou seja, que sabe que o seu fundamento é muito mais do que uma simples atividade física.

Para mim, portanto, o futebol pode ter violência, mas não é violento A recusa de uma Filosofia do Desporto, em certos setores ligados ao estudo do Desporto, incluindo as universidades, confunde-se com a recusa de modelos metafísicos e a normatividade que deles emana. Além disto, alguns órgãos da Comunicação Social hipervalorizam o exibicionismo doentio e o donjuanismo estéril de alguns jogadores (o Balotelli é um exemplo), a ostentação faraônica de riqueza, a especialização precoce de jovens e crianças, fomentada quase sempre por empresários sem escrúpulos. Enfim, tudo o que venho de escrever faz do futebol um mundo polícromo, mas pungente, numa avassaladora sensação de ausência de certos valores.

Ora, foi com estes valores que o futebol nasceu; é com estes valores que os superdotados podem ser campeões. O campeão do futuro começa por ser Homem, para poder ser campeão. Já o tenho dito e repito: antes de cada um dos treinos, o técnico principal deve levantar, de si para si, esta questão: qual é o tipo de Homem que
eu quero que nasça deste treino?… Porque é com Homens que o futebol pode ser Futuro. O futebol e tudo o mais.

 

*Antigo professor do Instituto Superior de Educação Física (ISEF) e um dos principais pensadores lusos, Manuel Sérgio é licenciado em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa, Doutor e Professor Agregado, em Motricidade Humana, pela Universidade Técnica de Lisboa.

Notabilizou-se como ensaísta do fenômeno desportivo e filósofo da motricidade. É reitor do Instituto Superior de Estudos Interdisciplinares e Transdisciplinares do Instituto Piaget (Campus de Almada), e tem publicado inúmeros textos de reflexão filosófica e de poesia.

Esse texto foi mantido em seu formato original, escrito na língua portuguesa, de Portugal.

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Sim, é possível acabar com a violência no futebol!!!

O campeonato brasileiro de futebol acabou, mas as imagens que ficaram na memória em nada lembram a beleza do esporte. As imagens mais marcantes (e aterrorizantes) foram as lamentáveis e chocantes cenas de violência ocorridas na Arena Joinvile, na partida entre Atlético PR e Vasco da Gama.

O jogo de empurra-empurrar recomeçou. Na segunda pela manhã o “achismo” começou a tirar da cartola uma série de soluções. A necessidade de uma resposta imediata fez a presidente Dilma falar na criação de uma Delegacia Especializada na proteção do torcedor. Entretanto, poucos foram os estudos e/ou medidas efetivas para solucionar o problema.

Causa-me surpresa ninguém sequer mencionar o “Report Taylor”, um estudo realizado na Inglaterra no final dos anos 80 e que foi responsável por, praticamente, extirpar dos gramados ingleses a violência dos hooligans.

Percebe-se que no Brasil escolhe-se, ao sabor do vento, vilões. Primeiro foi a bebida alcoólica. Retiraram a bebida alcoólica e a violência ficou. Depois as punições desportivas. Clubes foram condenados a jogar em outra localidade, mas a violência ficou. Agora, apesar da inconstitucionalidade, fala-se em extinguir todas as torcidas organizadas. Nesta improvável hipótese, a violência permaneceria.

Ora, é indispensável a realização de um estudo que busque atacar as causas do problema. “Report Taylor” acima citado apontou questões que até hoje não foram sequer aventadas no Brasil, como a humanização do torcedor com a melhora das condições dos estádios; a punição rápida e efetiva aos torcedores violentos; ou medidas didático pedagógicas.

Aliás, quase não há incentivo ou oportunidades para aprofundamento no direito desportivo. Não existem cursos de mestrado ou doutorado na área e há poucas especializações ou cadeiras da matéria nos cursos de direito.

Ou seja, resta a opção de buscar conhecimento no exterior. Entretanto, o programa “Brasil sem fronteiras” não abrange a área de humanas, restando aos interessados a busca do conhecimento com recursos próprios. Não obstante isso, a busca de conhecimento no exterior é desestimulada pelo MEC que cria uma série de dificuldades para o reconhecimento da titulação.

Urge destacar que a criação de Delegacias não resolve o problema da violência, basta observar que existem delegacias de homicídios, furtos, etc e a criminalidade permanece em curva acendente. O Poder Público brasileiro parece mais preocupado em apresentar uma resposta popular à sociedade do que em resolver o problema.

Infelizmente, diante de tudo, as perspectivas não são boas e corrermos o risco de, em 2.014, a violência no futebol continuar sendo um assunto recorrente nas páginas desportivas.

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A Copa das Copas

O publicitário Nizan Guanaes, presidente do grupo ABC, não entende nada de futebol. Foram esses os termos que ele usou para admitir desconhecimento sobre o assunto em um texto publicado como anúncio na edição de sexta-feira do jornal “Folha de S.Paulo”. Ainda assim, foi justamente futebol o assunto escolhido pelo executivo – a Copa do Mundo de 2014, mais especificamente.

No anúncio, Nizan diz que amigos estão empolgados com a Copa de 2014. Como justificativas, o publicitário usa a presença de oito campeões mundiais e a paixão que o povo brasileiro tem pelo futebol.

Nizan também cita o perfil do público local: “O australiano vai ficar três horas esperando um avião num bar de aeroporto, onde ele vai conhecer um grupo de brasileiros cearenses, que vão ficar amigos dele para o resto da vida, inclusive Vilma, com quem o australiano vai casar e ter quatro filhos”.

Com base nessa argumentação, Nizan conclui que o Mundial de 2014 será “A Copa das Copas”. E essa afirmação, sobretudo no atual momento, não pode ser retirada de contexto.

Em primeiro lugar, tudo no texto deve ser relativizado: o grupo ABC controla contas de empresas que patrocinam futebol e a Copa do Mundo, e Nizan é um defensor contumaz do país, do mercado e do esporte como ferramenta de comunicação.

No entanto, é no mínimo curioso que um dos principais executivos de comunicação do país diga algo como: superem os problemas, resgatem o amor pelo futebol e curtam a Copa do Mundo. É quase um slogan integralista.

A mídia britânica tem uma visão muito mais cética sobre essa linha de pensamento. A Inglaterra dividirá o Grupo D da Copa do Mundo com Uruguai, Costa Rica e Itália. Na primeira fase, os súditos da Rainha jogarão em Belo Horizonte, Manaus e São Paulo.

A previsão dos ingleses é que essa sequência causará um desgaste gigantesco por causa das viagens e das mudanças climáticas. Se sobreviver a um grupo tecnicamente forte, a seleção britânica carregará ao mata-mata o peso dessas intempéries.

A Copa do Mundo de 2014 será a Copa do extracampo. Será a Copa em que as seleções serão afetadas por aspectos como mudanças climáticas, torcida e viagens. No altíssimo rendimento, pequenos fatores são preponderantes para a resolução de qualquer partida. Sim, a discussão é muito mais densa do que horário, quantidade de jogos ou desgaste gerado apenas no torneio.

Mas, a organização de uma Copa do Mundo não depende apenas do que vai acontecer em campo. Um evento desse tamanho é uma chance de escancarar virtudes e vender um projeto de todo o país.

E qual é o projeto do Brasil para o futebol, afinal?

Você não sabe responder, aposto. Ninguém sabe, na verdade. Durante anos, todas as autoridades envolvidas em eventos como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos argumentaram que o investimento nos eventos seria justificado pelo retorno e pelas possibilidades que eles abririam. Mas como auferir retorno se você não sabe qual é o objetivo?

O risco que o Brasil corre é mostrar ao mundo o quanto é incompetente. O país tem potencial para ser o maior mercado consumidor de futebol no mundo, mas não aproveita.

Essa é a análise que precisa ser feita após tudo que aconteceu nas últimas semanas. Depois de um acidente, a previsão de término do novo estádio do Corinthians, em Itaquera, foi postergada para abril. Abril de 2014. Dois meses antes do início da Copa. “Em todos os casamentos em que eu estive, a noiva sempre atrasou. Mas a cerimônia nunca deixou de acontecer”, disse Aldo Rebelo, ministro do Esporte.

Além disso, torcedores de Atlético-PR e Vasco protagonizaram cenas de barbárie na Arena Joinville, na última rodada do Campeonato Brasileiro.

Até que o inquérito seja concluído, é impossível determinar culpados para o que aconteceu em Itaquera. Mas é possível dizer que quase ninguém é inocente sobre o atraso nas obras e pelas cenas tristes de Joinville.

Arrigo Sacchi, que foi técnico da seleção italiana na Copa do Mundo de 1994, disse uma vez que o futebol é “a coisa mais importante entre as menos importantes”. Já passou da hora de tratarmos o esporte como algo verdadeiramente relevante.

Só assim poderemos pensar em procedimentos e em todos os detalhes. Só assim a experiência toda do torcedor será levada a sério.

Casos como os de Itaquera e o de Joinville precisam ser discutidos em diferentes âmbitos, mas eu limito o debate aqui ao que eles representam para o produto futebol. É imprescindível que isso seja colocado em contexto.

A Copa do Mundo, nesse sentido, é uma vitrine. É uma chance de o Brasil vender o país e o futebol local. E qualquer problema que aconteça fora de campo pode comprometer essa “venda”.

É normal que eventos assim, até pela visibilidade que geram, atraiam manifestações populares. É natural que diferentes movimentos tentem aproveitá-los para aparecer. O que não pode acontecer é o torcedor ser prejudicado.

Se um torcedor vier ao Brasil e for roubado, isso vai repercutir. Se vier e participar de uma briga no estádio, isso vai repercutir. E o mercado nacional, que já está aquém do potencial, perderá a chance de usar uma alavanca enorme.

Tecnicamente, a Copa de 2014 pode até superar as adversidades do país e apresentar bons jogos. Nos outros segmentos, improvisar é mais difícil. É por isso que a previsão de Nizan pode se confirmar em campo, mas vai ser apenas parcial. A Copa das Copas depende de o Brasil começar a medir um pouco mais as consequências dos problemas que o país enfrenta.

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Nelson Mandela: um santo laico!

“Um homem que passa 27 anos, privado de liberdade, não enche a alma de ódio contra os seus captores? Um homem que é sujeito a sevícias e privações, durante décadas, não deixa morrer a sua crença, no ser humano? Um homem, roubado na sua vida, em mais de um quarto de século, não desiste de se bater pelos seus luminosos ideais?”.

Às interrogações do jornalista português Nicolau Santos, eu respondo: o homem superior não odeia, não tem nos seus lábios acusações, impropérios, mas antes as palavras de Jesus Cristo, no madeiro da cruz: “Pai, perdoa-lhes que eles não sabem o que fazem!”.

Para mim, o homem superior, entre todos os seus pares, é o santo – o santo, como Nelson Mandela (1918-2013). Se eu fosse Papa (perdoem-me a ousadia) passava por cima da pesada burocracia do Vaticano e canonizava o antigo presidente da África do Sul, que deixou uma palavra de perdão aos seus carrascos e, no exercício das suas funções governativas, assumiu uma política inspirada, não apenas nos legítimos interesses da sua Pátria, mas principalmente no culto dos grandes valores da humanidade.

A herança de Mandela ilumina o mundo todo. Depois da prisão, convidou o carcereiro que o vigiava, que o obrigava a trabalhos forçados, a partir pedra, a dormir em cela húmida onde contraiu tuberculose pulmonar – depois da prisão, convidou o carcereiro a visitá-lo em sua casa, onde lhe serviu um chá e lhe repetiu que não tinha por ele o mínimo ressentimento, um pouco que fosse de ódio.

Como presidente da República, vestiu o equipamento da seleção sul-africana de râguebi, a seleção que os “brancos” preferiam, para dizer, sem o dizer que, na Pátria que com ele nascia, brancos, pretos e mestiços tinham a mesma cor. Byron Hove, presidente da Cruz Vermelha do Zimbabwe, foi preso, durante poucos dias tão-só, pelo governo racista da Rodésia.

Em diálogo com Mandela, confessou-lhe sentir ainda ódio pelos racistas que o prenderam. Mandela sorriu e acrescentou: “Se somos diferentes dos que nos perseguiram, não podemos odiar” E continuou: “Quem odeia gasta muita energia que é bem necessária às lutas que ainda temos de travar”.

Mandela foi libertado em 11 de Fevereiro de 1990. Embora sendo um advogado, Mandela não tinha a violência tribunícia dos ditadores, nem a a verborreia mentirosa dos sofistas – mas era um orador assombroso porque as suas palavras ressaltavam nítidas de uma vida inteiramente subordinada àqueles valores sem os quais impossível se torna viver humanamente.

Na vida, o que mais conta não é o fulgor das palavras, mas o mérito das obras. Acima da beleza da oratória, está o interesse da humanidade. Nas Teses sobre Feuerbach, de 1845, Marx afirmou: “os filósofos apenas têm interpretado o mundo de diversas maneiras. Mas trata-se de o transformar”.

É verdade, foi Lenine a dizê-lo, que “sem teoria revolucionária, não há movimento revolucionário”. Mas o lugar da teoria é subalterno, em relação à prática. Só a prática transforma!

Não se resolvem os problemas sociais unicamente com belos discursos. Indispensável se torna, sobre o mais, uma luta implacável contra o racismo, o colonialismo, o fascismo (de todos os matizes). E que desta luta nasça a igualdade, a solidariedade, a justiça social… para todos!

Nelson Mandela, lutador sublime dos mais puros ideais que fazem honra à humanidade, há poucos dias que te extinguiste, mas o teu exemplo permanece. És um santo laico, ou seja, já és santo, mesmo antes de a Igreja Católica te canonizar.

Com mais políticos, como tu, o mundo seria inevitavelmente outro, o desporto seria inevitavelmente outro. És um santo em que eu acredito, um santo daquela santidade onde há coragem e luta e solidariedade e amor e não só missas e rezas de terços e a prudência dos cobardes. Foste um tipo humano de incomparável dignidade.

Obrigado, Nelson Mandela! Mais teria a dizer? Muitíssimo mais! Mas as palavras são pálidas para exprimir os grandes sentimentos. A verdadeira eloquência da gratidão é o silêncio.


*Antigo professor do Instituto Superior de Educação Física (ISEF) e um dos principais pensadores lusos, Manuel Sérgio é licenciado em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa, Doutor e Professor Agregado, em Motricidade Humana, pela Universidade Técnica de Lisboa.

Notabilizou-se como ensaísta do fenômeno desportivo e filósofo da motricidade. É reitor do Instituto Superior de Estudos Interdisciplinares e Transdisciplinares do Instituto Piaget (Campus de Almada), e tem publicado inúmeros textos de reflexão filosófica e de poesia.

Esse texto foi mantido em seu formato original, escrito na língua portuguesa, de Portugal.

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As finalizações e o controle do jogo

Sabemos que a análise de desempenho é uma área do Departamento de Futebol que ano após ano avança significativamente. Programas sofisticados são capazes de traduzir o desempenho global da equipe e do adversário em tempo real.

A partir destas análises, muitas equipes têm conseguido realizar intervenções no decorrer do próprio jogo na tentativa constante de minimizar a influência do acaso e potencializar a da competência no resultado desportivo.

Cabe à comissão técnica utilizar todos os dados disponíveis, filtrá-los e transformá-los em informação relevante para o aperfeiçoamento do Modelo de Jogo da equipe.

Muitas destas ferramentas, por mais que apresentem excelente relação custo x benefício, ainda estão muito distantes da grande maioria das 641 equipes profissionais do futebol brasileiro. Restrições financeiras, desconhecimento e conservadorismo são alguns dos itens que limitam a propagação dos programas de análise.

É bem verdade que muitos clubes ainda estão num processo anterior à aquisição dos softwares de análise de desempenho. Precisam, inicialmente, dar vida ao Departamento e ter recursos humanos disponíveis (e capacitados) para o desenvolvimento do trabalho.

No ambiente corporativo é recorrente a afirmação de que os maiores ativos das empresas são seus funcionários. Sendo assim, investir em bons profissionais é a simples e eficiente receita para sobreviver na acirrada competição do mundo empresarial. Este conceito possui total transferência para o ambiente esportivo, no caso, futebolístico e permite grande vantagem na operacionalização do trabalho técnico dos clubes de futebol, pois mesmo com poucos recursos financeiros e tecnológicos é possível obter informações importantes sobre o desempenho apresentado por uma equipe.

Fotos, filmagens abertas, scouts quantitativos e relatórios qualitativos são apenas alguns exemplos de ferramentas que exigem poucos recursos financeiros, mas que podem compor uma ótima Análise de Jogo.

De acordo com os estudos publicados na obra Os números do Jogo (Anderson e Sally, 2013), uma equipe que finaliza certo (no alvo) mais vezes que seu adversário eleva para 58% a probabilidade de vitória. Se dedicarmos os outros 42% a derrota e ao empate, estimular a eficácia da equipe no fundamento de finalização parece ser bastante importante na busca pelo resultado positivo.

Na coluna desta semana será disponibilizada ao leitor que tiver interesse uma planilha qualitativa e quantitativa referente às finalizações. Desenvolvida pelo adjunto do Novorizontino, Paulo Victor, o objetivo da planilha é trazer informações precisas da equipe relativas às quantidades de finalizações, local de sua ocorrência, atleta que finalizou, tempo de jogo, característica da jogada que originou a finalização, além do produto final.

Não só a própria equipe mas também o adversário pode ser analisado. As intervenções podem ser imediatas ao informarem ao treinador um possível padrão (da equipe ou do oponente) a ser explorado no decorrer do jogo. O controle da finalização em toda a competição pode fortalecer o ambiente coletivo de uma equipe que busca o controle do jogo pela quantidade de finalizações certas (existem outras maneiras de buscar o controle de jogo). Pode também ser ferramenta extremamente útil do banco de dados do clube para renovar contratos, profissionalizar jogadores, entre outras ações técnico-administrativas.

A vitória no jogo de futebol não é e nunca será certa. Aproximar delas, no entanto, é extremamente possível! Cruzar os braços, depender do acaso, das análises empíricas ou dos ainda inacessíveis recursos tecnológicos é minimizar o reduzido, porém fundamental, papel da comissão técnica no desenvolvimento do trabalho.

Qual a média de finalizações da sua equipe nos últimos jogos? Quais as características das jogadas que originaram finalizações? Qual o jogador que mais finaliza? Quem é o mais eficaz?

Aguardo o contato por e-mail para a disponibilização da planilha.