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Como vencer no futebol

O sucesso no futebol, assim como em qualquer outra esfera de atividade humana, deixa pistas, deixa rastros. Existem padrões, comportamentos, atitudes e ações que comprovadamente já deram certo e que se replicadas podem levar a vitória. Não se trata de cópia. Até porque cada indivíduo é diferente do outro. Se falarmos em time, então, as especificidades e conjunto de relações tornam ainda mais única cada situação. Me refiro aqui a ver o que funciona. O que dá certo. E buscar meios para replicar isso.
Começo falando de ambiente e espírito de grupo. Sempre vai haver exceção, mas times campeões apresentam relações saudáveis entre seus membros. Não estou defendendo que todos dentro de um sistema de quarenta pessoas entre jogadores, comissão técnica e staff, sejam melhores amigos. Porém, complementaridade de perfis e personalidades, comprometimento, metas comuns claras e bem definidas e um contexto de cooperação entre todos faz a vitória estar mais próxima. Técnico, executivo de futebol e presidente de clube têm que ‘falar a mesma língua’. Algo divergente entre eles e a chance de exito cai. Claramente foi o que aconteceu com o Santos neste reta final de Brasileirão.
Dentro de campo também há padrões de comportamentos individuais e coletivos que fazem um time estar mais próximo de cumprir a lógica do jogo, que é fazer mais gols que o seu adversário. Com o estudo tão avançado de hoje em dia, não é muito difícil reconhecer que a equipe que finaliza corretamente mais vezes tem mais chances de marcar. Ações ofensivas rápidas sem que haja muita disputa de bola, onde a defesa costuma se sobressair, também é vantajoso para marcar. E para defender quanto mais pressão for colocada no adversário em seu terço final menor a chance de ele marcar.
É claro que cada contexto, cada ambiente e principalmente cada característica de jogador potencializa um jeito de jogar e de treinar específico. Não existe certo no futebol. Não existe fórmula pronta. Até o conceito estético é bem relativo e depende do ponto de vista de cada um. Porém, é dever de todos nós observar e tentar compreender quais são os elementos que levam uma equipe a vencer a outra.
 

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Sobre os sabores do futebol

Juanma Lillo, ao lado de Jorge Sampaoli: valem mais os saberes ou os sabores do futebol? (Divulgação: These Football Times)

 
Leio na página 63 do admirável Variações Sobre o Prazer, do Rubem Alves, uma citação de Friedrich Nietzsche, que gostaria de trazer para esta conversa. Aqui, Nietzsche escreve sobre Tales de Mileto. Tales, como sabemos, viveu por volta do século VII a.C e é tido, genericamente, como o ‘fundador’ daquilo que hoje chamamos de Filosofia. Segue o trecho:

“A palavra grega que designa o ‘sábio’ se prende, etimologicamente, a sapio, eu saboreio, sapiens, o degustador, sisyphos, o homem de gosto mais apurado; um apurado degustar e distinguir, um significativo discernimento, constitui, pois, […] a arte peculiar do filósofo […]. A ciência, sem essa seleção, sem esse refinamento de gosto, precipita-se sobre tudo o que é possível saber, na cega avidez de querer conhecer a qualquer preço; enquanto o pensar filosófico está sempre no rastro das coisas dignas de serem sabidas…”

Há cerca de um ou dois meses, tomei conhecimento da divulgação do relatório técnico da Copa do Mundo, pela FIFA. Mesmo antes de lê-lo, decidi que poderia ser de grande utilidade para esta coluna. Há duas semanas, ainda durante o UFMG Soccer Science Congress – que tangenciou o mesmo tema que abordo neste texto -, decidi folhear com menos desatenção o relatório, e me surpreendi com a quantidade intimidadora de informações: área média de ocupação espacial com e sem a posse da bola para cada equipe (em m²), distância média percorrida acima de 20km/h e 25km/h por equipe, média de entradas no último terço, número médio de cruzamentos e etc. Para minha segunda surpresa, em várias dessas estatísticas a França, campeã, tinha um desempenho simplesmente mediano. Por exemplo, das 32 seleções, a França foi apenas a vigésima no quesito posse de bola: 48% em média.
É evidente que números, quando frios, não nos dizem muito, mas não é este meu ponto. Meu ponto é que, com alguma pressa, poderíamos considerar todos os números que lá estão como uma expressão simplesmente maravilhosa, um exemplo do que nos acostumamos a chamar de progresso no futebol, ainda que a real utilidade de vários daqueles números seja bastante questionável. Ok, nós sabemos que a Suécia, quando ataca, ocupa um espaço médio de 712m². Mas até que ponto essa informação é realmente útil não para entender a Suécia – não é disso que se trata– mas, a partir do entendimento da Suécia, resolver os eventuais problemas oferecidos pelo jogo? Ou, por outro lado, se a Suécia é uma equipe que me agrada, seria então inteligente treinar minha equipe para jogar o mais próximo possível de 712m²?
Minha desconfiança é que, ao contrário do que Nietzsche nos sugere, nós estamos nos tornando cada vez mais devoradores, vorazes consumidores de informações quaisquer, sem sequer se preocupar com a digestão, sem selecionar, com o devido esmero, o que merece e o que não merece ser consumido. A ânsia pelos dados, a objetividade desvairada – que se estende em direção à imprensa especializada – se espalham pelo futebol e, na minha modesta opinião, contribuem para equívocos importantes, uma vez que o que se vê, no jogo, é muito pouco. O jogo está para muito além do visível.
Portanto, talvez o caminho não seja mais o do saber, talvez seja o do sabor. É preciso afiar nosso paladar, deixá-lo mais aguçado para que, de fato, possamos sentir os devidos sabores do jogo. Separar o essencial do acidental também é uma arte. Quantas das informações a que temos acesso não são absolutamente secundárias e servem apenas para aparentar um suposto progresso?
Por fim, repare que afinar o paladar é tarefa particularmente interessante porque é contraditória: é preciso sair do jogo para entendê-lo.
Mas, sobre isso, falamos posteriormente.
 

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Seleção (que não é) Brasileira

Londres é a cidade que mais recebeu jogos da seleção brasileira masculina adulta durante este século. Desde 2006, por exemplo, a capital inglesa sediou 12 partidas. Mais que qualquer cidade brasileira no mesmo período. Já foram apontados diversos motivos para isso, como país de origem dos futebolistas convocados, o que facilita a logística; o câmbio da Libra Esterlina em relação a outras moedas; o poder aquisitivo da população local e a paridade do poder de compra: os custos relativos a organizar um evento como este por lá que muito mais em conta do que no Brasil. 

Há um outro motivo que pode ser considerado. Talvez não tão valorizado quanto aos mencionados no parágrafo anterior, mas o futebol do Brasil é produto e a seleção brasileira, cinco vezes campeã do mundo e com muitos considerados os melhores do mundo na história, seus principais expoentes. Claro que a grande maioria do público daquele jogo era de sul-americanos, muito mais brasileiros do que uruguaios. Mas, sim, algo bacana para ser consumido independentemente do país de origem do torcedor.

Um jogo como este, com equipes que somam sete conquistas de Copas do Mundo, se fosse realizado na América do Sul como mero amistoso, não atrairia tanto público assim. Com a estrutura que precisam estas seleções, para treinamento e despesas com colaboradores, uma partida em Montevidéu ou no Rio de Janeiro, São Paulo, não garantiriam uma renda satisfatória. Salvo se realizadas em circunstâncias como Copa América ou apuramento para um mundial.

O futebol brasileiro é, há muito, “produto de exportação”. Um jogo do Brasil em Londres, depois nos Estados Unidos, outrora na Austrália, é uma “Disneylândia” itinerante Tupiniquim. Vamos nos acostumar a isso! Jogos na América do Sul, apenas aqueles organizados pela CONMEBOL. E olha lá, não se sabe até quando eles ainda serão realizados por estas bandas do planeta, que são as mais isoladas do globo.

Anúncio da digressão global da seleção brasileira masculina, auspiciada por marca parceira. (Foto: onefootball.com)

 

Portanto, é este o caminho natural. Não é de hoje que o futebol possui um alcance global. Aquele que vem do Brasil tem um grande potencial de consumo por um público espalhado por todo o mundo. A CBF percebeu isso e faz o seu trabalho com a seleção. Não há nada de errado nisso. É preciso agora que o futebol do nosso país, sobretudo o dos clubes, percebam isso a adquiram cada vez mais uma postura estratégica e mercadológica. No Brasil e no mundo.

 

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Entre o mercado e o digital

Bem-vindos ao nosso Entre o Direito e o Esporte” dessa semana nesse novembro que a gente dá uma olhada “Entre o Futebol e o Digital”. Nesse mês dos eSports aqui na nossa coluna a gente já viu o que a gente encontra “Entre o Jogo e o Campeonato”, conversando um pouco sobre como é a organização do eFutebol. Nesse mês do eFutebol aqui na nossa coluna a gente já foi atrás do que tem “Entre o Digital e a Competição”, trocando uma ideia sobre as regras de jogo, competição e campeonato nos eSports.
E, continuando esse mês aqui, a gente vai ver quando jogo, competição e campeonato vão da regra para o dia a dia. Nessa quarta coluna de novembro a gente vai ver quando o esporte sai da tela. A gente vai ver o que a gente acha entre o mercado e o digital. Para deixar tudo mais tranquilo, esse é o nosso guia de hoje: primeiro vamos dar uma olhada no registro, depois vamos conversar sobre o atleta, e daí a gente chega no mercado de transferência do nosso eFutebol.
Bora lá?

(Divulgação: Fonte: Twitter, FIFA eWorld Cup)

 
Janela de registro. Afinal, só dá para saber quem vai jogar se a gente tiver tudo organizado, né? É bem por isso que tem essa ideia de registro no futebol e no eFutebol. Agora é que nem no nosso brasileirão de futebol (masculino e feminino) ou tem seu jeitão um pouco diferente? É isso que a gente vai conversar agora e – é, “lá vem o imagina” – imagina aquele supermercado de final de semana.
“Oi, supermercado?”, isso mesmo! Sabe quando a gente tem que fazer aquela comprinha básica (sabonete, detergente, e o treco que a gente usa para lavar roupa), então… a gente tem duas escolhas: aventura ou express. Na aventura a gente vai sem lista, no express a gente vai com lista. Se a gente vai sem lista, a gente corre o risco de se perder no porquê a gente foi lá (sabonete, detergente, e aquele treco que a gente usa para lavar roupa vai super bem com bolacha de chocolate. Né não?). Se a gente vai com a lista, é quase um “entrou e saiu”.
No esporte (e no eSport) o registro é a mesma coisa! Um jogo pode ser uma aventura, agora uma competição e um campeonato… hm, aí é mais difícil (bom, no caso dos eSports ainda rola se o jogo for uma aventura – ahá!). É por isso que no nosso eFutebol existe, também, um tal de registro – mesmo que não seja que nem o sistema do BID da CBF.
Agora que você me fala, “ah, beleza… registro do que, filho?”. Isso mesmo! Registro do que é aquela boa pergunta quando a gente pensa em esporte no geral. No futebol é fácil: masculino e feminino, profissional e base, tem sempre aquele contrato. Esse contrato é registrado e vira (sério?) o registro (na boa?) do jogador e aí a pessoa pode jogar em uma partida oficial.
Daí você me pergunta, “tá, mas eu era federado com meus 8 anos de idade e não tinha contrato nenhum!”. Opa, errei não foi pergunta, mas “tá valendo”! Realmente, não tinha contrato porque não tinha contrato para ter e, mesmo assim, você teve seu registro para poder jogar. Logo, aqui a regra geral é: não precisa de um contrato em si para jogar, só ter um registro.
Só que toda regra geral tem suas exceções, né? Então se a regra do campeonato diz que precisa de um contrato, precisa de um contrato. E, sim, sem analogia até aqui. Voltando para as últimas semanas: quem organiza um campeonato de eSports molda as regras do campeonato, logo é aí que a gente olha quando quer saber como é o registro de cada competição – tipo a eNations Cup desse ano da FIFA com a EA Sports.
“Tá Roberto… e o mercado e o digital? Esse é o tema de hoje e eu quero conversar sobre isso ainda nessa sexta-feira, menino!”. Ah, me empolguei aqui em todo esse caminho, agora juro que a gente entra aí. Só pode jogar com registro, certo? Se só pode jogar com registro, só pode jogar pelo time pelo qual você foi registrado (ou do jeito que você se registrou). Né? Então o que acontece quando, por algum motivo (dinheiro, exposição, bolacha de chocolate), alguém resolve investir num jogo, competição e campeonato “tirando” você de um lugar e te chamando para jogar por outro recebendo alguma coisa? Mesmo que esse alguma coisa seja uma cadeira.
É aí que entra a dinâmica do mercado de transferências: o registro em um campeonato que vale alguma coisa. Tipo o nosso jogo de sábado… quando vira campeonato, mesmo que entre amigos e valendo um churrasco, o “bicho pega” e tem sempre aquela história do “ei, quer jogar no meu time dessa vez? Eu te dou carona”. Nos eSports, e no nosso eFutebol, é a mesma coisa! Sabia que já teve até transferência de USD 1.2 milhões na China?
Exceção da regra, ou não, esse mercado de transferência existe e cada vez aproxima mais as famílias do futebol – digital ou não. E é bem aí que um pode influenciar o outro, ainda mais quando a gente dá uma olhada na ideia de free agents– sabe aquele amigo que nunca foi jogar, era do nosso time da escola, e a gente chama para completar o nosso time? Então, é bem isso!
No eFutebol, por exemplo, os campeonatos abertos e as Weekend Leagues são como os “catados”, campeonatos que não precisam de registro, e campeonatos que são “o fim do arco íris” para os olheiros. E aí aparece uma ou outra estrela (ou bom jogador, ou só jogador mesmo) que está livre para ser registrado em um campeonato.
Resumindo o dia: eFutebol é futebol, inclusive no mercado de transferências.
É isso, gente! Obrigado pela companhia e um bom final de semana para cada um de vocês e nos vemos semana que vem por aqui na Universidade do Futebol. Fica o convite para o nosso próximo “Entre o Direito e o Esporte” desse novembro, para fechar o nosso mês do “eFutebol” – doping? A gente vê por aqui também. Feito? Qualquer coisa é só me chamar por aqui, pelo meu LinkedIn ou pelo meu Twitter. Obrigado e até mais!
 

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O ambiente de jogo em Itaquera salva o Corinthians

Nenhuma visão atual do futebol pode desprezar elementos subjetivos, de “fora” do jogo em si para fazer qualquer tipo de análise. Por mais contraditório que possa parecer com o atual cenário, onde se estuda muito metodologia de treinamento, modelo de jogo, princípios e sub-princípios defensivos e ofensivos e outros aspectos táticos, é necessário um olhar mais apurado e até humilde – já que no passado isso fez a diferença e era muito mais valorizado – para entender que o conceito ambiente de jogo pode determinar um resultado.
Falo ambiente, mas se dissermos atmosfera, contexto, sinergia, etc, estamos falando da mesma coisa.
Essas relações no futebol envolvem diversos fatores: torcida, história e cultura do clube, entrosamento dos jogadores, bom relacionamento entre titulares e reservas e inúmeros outros elementos que interagem entre si o tempo todo e que podem ser decisivos para, exemplificando, a cobrança de um pênalti de um time entrar ou sair, ou até mesmo para a conquista de um título.
Como exemplo também cito o atual caso do Corinthians. Só não será rebaixado por conta da química que há em seu estádio entre o seu torcedor e qualquer jogador que vista a camisa do clube. A atmosfera que há ali intimida qualquer adversário. E faz crescer quem joga no Corinthians. Evidente que o melhor time terá sempre mais chances de vencer. Mas em condições parecidas, o Corinthians em sua casa sempre será favorito por conta disso.
Falando de individualidades e não de coletivos: o conceito é o mesmo. Por que Muricy Ramalho quando dirigiu o Palmeiras não teve o mesmo sucesso que teve no São Paulo? Ou o meia Ricardinho, logo após a Copa de 2002, por que não conseguiu jogar tão bem no São Paulo como jogou no Corinthians? Tudo é questão de analisar o ambiente e não puramente a qualidade. Romário sem Bebeto seria o mesmo? E vice-versa? Não havia nessa dupla um conjunto de características técnicas e comportamentais que potencializava ambos?
E dentro desse emaranhado de redes que corta o futebol não posso deixar de citar dois outros componentes: o mental e o ambiente de treino. Deixo algumas questões para refletirmos: o nível de confiança de um jogador interfere na maneira com que ele se apresenta para o jogo, abrindo linhas de passe? Não é mais fácil para um time recuperar a posse de bola se há união e solidariedade entre os atletas? E se no treino não há por parte da comissão técnica um estímulo a competição, ao desafio, a superação, enfim, a busca pelo estado de jogo pleno, apenas a presença do torcedor no estádio fará a equipe se comportar de maneira aguerrida em uma partida valendo três pontos?
São itens para olharmos o jogo por um outro viés. Porque aqui podem estar muitas respostas que buscamos na leitura de um jogo.
 

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A TV como força motriz

A temporada 2019 pode ser um marco para o futebol brasileiro. Existem diferentes conversas em curso com potencial para impactar significativamente a estrutura e a divisão de receitas no cenário nacional, o que teria consequências diretas no desempenho esportivo. E tudo isso, dada a inércia de clubes, federações, entidades de classe e profissionais, só tem acontecido na velocidade atual por interesse do principal parceiro comercial do esporte em âmbito local. No Brasil, qualquer mudança no status quo do futebol depende umbilicalmente da TV.
O poder da mídia como ator na negociação tem relação direta com o peso que a comercialização de direitos possui no faturamento dos clubes brasileiros. A fatia correspondente a contratos com a TV é mais significativa do que em outros países – o percentual chegou perto dos 50% em 2018, ainda que tenha sido um ano atípico.
Além do peso, existe uma questão de fluxo de caixa relacionada aos acordos de mídia no Brasil. É praxe no mercado local a antecipação de receitas dos contratos de cessão de direitos. Para as equipes, trata-se de uma fonte com juros abaixo do mercado. Para as emissoras, é um jeito de manter uma relação próxima com os dirigentes e obter vantagens em negociações seguintes.
Em 2019, contudo, o futebol brasileiro passará por mudanças significativas nesse aspecto. A primeira delas é a maneira de distribuir os recursos oriundos do contrato de mídia: ao contrário do modelo atual, alinhavado individualmente e distribuído em prateleiras de acordo com o tamanho das torcidas, o dinheiro da TV aberta será fatiado entre divisão igualitária (40%), número de partidas transmitidas (30%) e desempenho esportivo (30%).
A mudança de modelo tem duas consequências diretas: vai ser mais difícil prever o total amealhado em cada contrato de TV (já que ao menos 30% estão condicionados ao desempenho esportivo) e existe uma questão de prazo. Ao contrário do cenário atual, em que as equipes recebem todo o montante no início do ano, pelo menos 60% serão pagos do meio para o fim do ano. A dificuldade, portanto, é encontrar fluxo de caixa para bancar a operação do futebol nos primeiros meses do ano.
Outra mudança fomentada pela ação da TV é o modelo dos estaduais. O presidente do Atlético-PR, Mario Celso Petraglia, chegou a sugerir o fim das competições regionais a partir de 2020, hipótese bastante improvável, mas o fato é que o atual formato está com os dias contados. A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) criou um grupo de estudos para pensar em como reduzir o número de datas, equacionar os calendários e criar competições que sejam mais atraentes para a TV sem comprometer o calendário dos times pequenos ou o impacto político dos estaduais – o comando das federações é eleito por maioria simples, vale lembrar, e o voto de um clube grande vale o mesmo de um advindo de uma equipe de menor orçamento.
O grupo de trabalho para repensar os estaduais tem a ver com o desgaste do atual modelo. A Globo identifica queda de audiência e de interesse – isso sem falar na qualidade dos jogos, em baixa por fatores como a falta de tempo de preparação.
Os estaduais de 2018 tiveram 18 datas, o que é apenas uma forma de as federações negociarem com seus filiados em busca de estabilidade política. Para efeitos de calendário, não faz sentido o Brasil ainda trabalhar com monstrengos dessa envergadura no início da temporada, condensando a principal competição nacional em pouco mais de seis meses.
Há anos o futebol brasileiro discute o que fazer com os estaduais, competições que têm relevância histórica e que são fundamentais no atual sistema para garantir calendário às equipes pequenas. Esse debate, porém, nunca passou de algo inócuo. Ainda que iniciativas extremamente positivas tenham sido estruturadas, sempre houve barreiras intransponíveis.
O que tem acontecido agora é uma demonstração do poder que a TV exerce no futebol brasileiro. Por iniciativa e vontade dos detentores de direito, é possível que os principais times do país vivam em 2019 um ano focado em discussões sobre fluxo de caixa e futuro do calendário.
No entanto, a questão nesse caso é que a mudança que parte da TV submete-se ao interesse da TV. Ao demonstrar seu poder e agir diretamente para chacoalhar o cenário nacional, a Globo também assume uma posição de quem terá voz ativa e poderá conduzir o jogo.
Mais uma vez, os clubes, as federações e os profissionais do futebol brasileiro perdem uma chance de serem protagonistas. Atuam como vozes reativas numa discussão que terá enorme impacto em toda a estrutura do esporte nacional. Mais uma vez, forças políticas travaram e atrasaram mais do que possível as discussões que todos sabiam que eram necessárias.
Culturalmente e em termos de talento, o futebol brasileiro poderia ter em âmbito global um patamar bem superior ao atual. Enquanto todos os atores do país aceitarem papéis de coadjuvantes e trabalharem apenas para retardar mudanças, entretanto, seguiremos sempre pensando apenas na impossibilidade de competir com outros mercados.
 

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Das literaturas sobre futebol

Cinco leituras, todas ótimas. Mas onde mais está o futebol na literatura? (Divulgação: Futebol Café)

 
Não foi uma, nem duas vezes: já posso contar nos dedos das duas mãos as vezes em que ouvi, apenas neste ano, uma observação que me parece bastante pertinente, ao mesmo tempo que alvissareira. O Brasil, há quem diga, ainda carece da produção de uma literatura mais ampla sobre futebol, especialmente do ponto de vista tático, e seria esta uma das razões que nos deixaram supostamente estagnados. Ou seja, precisaríamos produzir um material mais robusto, não exatamente herdeiro das literaturas estrangeiras, especialmente das ibéricas, mas sim baseado num olhar essencialmente brasileiro sobre o nosso próprio futebol.
É bem verdade que poderíamos interpretar este assunto de diversas formas, mas me satisfaço com uma: será que a suposta carência de uma literatura específica sobre o futebol brasileiro não seria fruto de uma igual carência de leituras? Veja bem, não digo que somos maus leitores, mas me pergunto se os ideais relativos ao nosso futebol, por muito tempo baseado em um empirismo incorrigível, não contribuíram para um olhar mais “prático” sobre o jogo, abrindo mão de uma reflexão teórica mais consistente. Não me admira que até hoje sustentemos o entediante debate entre boleiros e acadêmicos, por exemplo.
Em um outro texto, fiz uma citação do filósofo Arthur Schopenhauer, que retomo agora. Seu livro A Arte de Escrever é um primor para aqueles que desejam refletir sobre a natureza do ato de ler e de pensar. Schopenhauer faz uma crítica aos leitores compulsivos, uma vez que a leitura, segundo ele, é uma forma de se pensar não com a própria cabeça, mas com a cabeça de outrem, é uma forma de abdicar temporariamente do pensamento próprio em prol do pensamento alheio. Por isso, seria importante ler com parcimônia, pois a leitura excessiva seria uma forma de afrouxar os nossos músculos reflexivos, de modo que nossa capacidade de pensar por nós mesmos ficaria, no longo prazo, seriamente prejudicada.
Me parece evidente que o mesmo raciocínio também vale para o futebol, à sua maneira. Se, em algum dia, nos faltou algum tipo de leitura, isso não significa que agora devamos buscar o extremo oposto, e nos tornemos leitores tresloucados, que devoram conhecimento futebolístico, ainda que sem qualquer tipo de digestão e, especialmente, sem qualquer ajuste deste conhecimento à nossa própria realidade. Foi neste sentido a crítica que procurei tecer aqui, quando apontei que a idolatria que devotamos a um certo grupo de treinadores, especialmente estrangeiros, faz com que, na nossa prática, deixemos escapar uma parte de nós mesmos e nos tornemos uma espécie de dupla metade: metade do outro (que tentamos copiar) e metade de nós mesmos. É claro que essa conta não fecha.
É exatamente no desejo que tornar-se quem se é que faço meu apontamento literário: percebo que a minha geração está alimentando uma volúpia excessiva relativa às literaturas específicas sobre futebol. Via de regra, tenho a impressão que grande parte dos futuros treinadores e treinadoras estão lendo os mesmos livros, sobre os mesmos treinadores, nos mesmos círculos de debate, tecendo as mesmas críticas, nos mesmos espaços – sejam eles reais ou virtuais. Para além de meros leitores, desconfio que essa geração esteja formando mestres na arte de decorar biografias, esquemas, atletas e treinadores dos mais diversos clubes. Mas é disso que precisa o futebol?
Não, não é. São duas as críticas que podemos apontar aqui. A primeira: se nossos leitores e leitoras leem as mesmas coisas, sobre os mesmos assuntos, às vezes da mesma forma (acriticamente), é muito provável que todos e todas acabem por pensar de maneira muito semelhante. Este é um problema sério, pois reforça a monotonia ideológica que parece enevoar o futebol de tempos em tempos, expressa na ideia de que há uma única resposta, uma só melodia capaz de tocar a alma do jogo. A pluralidade de ideias parece desmanchar-se em nome de um único ideal, como se as próprias ideias estivessem globalizadas. Mas o jogo tem razões que escapam à racionalidade humana, ora. Se há um caminho que deve ser tomado, é exatamente o caminho contrário, do mosaico do pensar, do exercício da racionalidade própria, o que significa, portanto, que seria extremamente salutar se os novos treinadores e treinadoras não fossem submetidos aos mesmos estímulos, às mesmas leituras, mas fossem, portanto, protagonistas de leituras diferentes do mundo, de modo que o jogar de cada um fosse único, ao invés de um jogar pasteurizado, homogêneo.
A segunda crítica me ocorre das palavras do Professor Manuel Sergio, cuja contribuição é ouro puro. Para saber de futebol, é preciso saber mais do que apenas futebol. Quem só sabe de futebol, nem de futebol sabe. Para se saber de futebol, ao menos aos meus olhos, é preciso desvendar o humano, é preciso ter a coragem de mergulhar não apenas na luz, mas na escuridão da humanidade, claramente refletida na mais singular ação tático-técnica dentro de campo. É preciso e é saudável dedicar-se às mais diversas biografias de treinadores, mas não apenas a elas: também é preciso ler romance, é preciso ler poesia, é preciso ler filosofia. Para treinadores e treinadoras, também é preciso ler Rubem Alves, F. Scott Fitzgerald, Margaret Atwood, Machado de Assis, Fiodor Dostoievksi, Hermann Hesse, Cecília Meireles, George Orwell, Friedrich Nietzsche, é preciso ler os gregos, é preciso ler. É preciso porque nas grandes leituras, a despeito do gênero e dos autores, reside o humano que joga. Desvendar o jogo não necessariamente significa desvendar o humano que joga.
Mas desvendar o humano que joga é um passo enorme para o coração do jogo.
Talvez o passo que falta.

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O que a Fórmula 1 pode ensinar ao futebol do Brasil

O Brasil recebeu há alguns dias uma etapa da principal categoria do automobilismo mundial. Nos últimos anos ela tem sido um exemplo de como comunicar um produto, ao valorizar os bastidores e as entrelinhas do “circo” da fórmula um (F1). Tudo isso feito também dentro do nosso país.

Diálogos pelo rádio durante a corrida. Provas antigas. Construção de novos circuitos. Parada dos pilotos, ao vivo, com estrelas do passado a entrevistarem as atuais, em uma “resenha de boleiro” mas do esporte-motor. As polêmicas. O espírito esportivo. Estes são alguns exemplos de como a “Liberty Media”, grupo que há poucos anos assumiu a gestão da Fórmula 1, trabalha a comunicação da modalidade. Transformar os pilotos em superestrelas e trazê-los para mais perto do público. Humanizá-los. Como consequência, a imagem do evento melhora e se conecta com a torcida.

Não que esta conexão não exista no futebol do Brasil. Sim, há. No entanto, é preciso potencializar isso. Sem redundância, há bastante potencial para. Em primeiro lugar, os clubes, os campeonatos são donos de um produto que oferece um ‘banquete’ para este tipo de ação. Os futebolistas são funcionários de um clube, vivem um dia a dia de trabalho e são pessoas que possuem rotina, família, amigos e ídolos. Dentro e fora de campo. As pessoas querem saber destas relações porque isso as conecta com os protagonistas da paixão que possuem: o futebol, o clube. Em segundo lugar, este tipo de comunicação ajuda a posicionar o produto dentro de um mercado de entretenimento esportivo cuja concorrência cresce a cada dia, ou seja, colabora com o marketing (inserir um produto em um ‘mercado’ para ser adquirido/consumido). Por que a F1 resolveu inovar? Por que perdia torcedores, quer seja pela falta de competitividade (Schumacher, Alonso e Vettel por anos campeões consecutivos) e atratividade (burocrática e distante da torcida).

Como comparação, uma vez disseram isso (desculpas à ausência de referência ao autor desta máxima, mas realmente este colunista não se lembra) e faz todo o sentido: “A Disney não vende o Mickey Mouse, e sim os desenhos animados”. Ora, pela lógica, se o Mickey é vendido, não há mais desenho. Com o futebol do Brasil passa o mesmo. A ganância dos agentes e ausência de uma gestão profissional – voltada para o mercado – dos clubes, faz com que os melhores futebolistas brasileiros partam para o estrangeiro. Por que não vemos tantos mexicanos nas principais ligas da Europa? Talvez porque quem organiza o campeonato mexicano seja um conglomerado de mídia (Televisa). Coincidência ou não, o atual gestor da F1 veio da indústria da televisão, e não do meio do esporte-motor.

“Parada dos Pilotos” em Interlagos, neste ano. (Divulgação: foto: racefans.net |Copyright: Batchelor / XPB Images)

 
Esporte é entretenimento. É negócio. Em respeito sempre ao atleta e ao torcedor.
Com tudo isso, basta olhar todo o conteúdo produzido de sons e imagens pelo canal oficial da F1 para termos dimensão do quanto que se aproveita de um fimdesemana. Um festival que celebra a corrida. Enquanto isso, no futebol, não se celebra o jogo, mas sim discute-se a demissão de mais um técnico. Talvez tenha sido o principal assunto. É preciso romper com isso.
 

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Entre o digital e a competição

Bem-vindos ao nosso Entre o Direito e o Esporte”. Essa sexta-feira tem eSports. Nessa terceira coluna do mês a gente continua nosso caminho pelos esportes eletrônicos. Hoje a gente vai dar uma olhada em como as regras do jogo aparecem “Entre o Futebol e o Digital”. E aí já vem aquela primeira pergunta: “de onde vem as regras do nosso eFutebol?”.
Afinal, se alguém organiza uma competição, essa competição segue uma ou outra regra, e é aí que a nossa conversa dessa semana vai. Em outras palavras, o (e)futebol organizado. E aí a gente vai ver três pontes entre o futebol organizado pela FIFA e o futebol organizado pela… é, isso mesmo! Gostei de ver que lembrou da nossa conversa da semana passada. Três pontes que são: as regras do jogo em si, as regras da competição, e as regras para a competição. Essas três pontes fazem a diferença na hora de fazer muito mais do que só colocar gente para jogar um jogo – que nem no nosso futebol que a gente vê na televisão (ou smartphone,tablet, ou console).
Bora lá?

Fonte: Twitter, FIFA eWorld Cup

 
Começou, as regras do jogo em si. Um jogo é uma atividade ordenada, uma atividade ordenada que depende de regras, regras que dão a cara para esse jogo. Ou seja, são as regras de como se joga uma partida. É tipo marcar um gol no futebol com a mão… pode? Se a regra não diz nada, pode – mas a gente sabe que no nosso futebol não pode, né?
O nosso eFutebol também tem disso. Pode marcar gol com a mão do jogador? Não. Pode marcar gol com o jogador impedido? Não. Pode tomar um segundo cartão amarelo e mesmo assim não ser expulso depois de uma entrada por trás sem a bola? Não. Até aí é tranquilo e perto do que a gente entende por “regras do jogo”… agora, e se eu te disser que também fazem parte dessas regras alguns detalhes diferentes?
Imagina você jogado FIFA numa seletiva da sua Faculdade, imagina que nessa seletiva você resolveu jogar do jeito que você joga na sua casa, imagina que esse jeito era com a assistência na jogabilidade do jogo ligada (assist) para chutes, passes, cruzamentos… tudo. Pode? Pois é, a regra do jogo que vai trazer se isso pode ou não pode. Afinal, isso afeta o jogo em si.
O futebol é o mesmo futebol que aparece na TV, mas tem um pedaço aqui e ali que faz essa diferença aparecer – que nem doping de um atleta no jogo em si, o que não tem (do atleta virtual, e do mesmo jeito que na “versão física”) no eFutebol.
Que um jogo é um jogo ainda vai, e como esse jogo deixa de ser só um jogo e vira uma competição? Pois é, aí que entram as regras da competição. Em outras palavras, é como se joga a competição em si. Tipo no futebol que a gente vê na televisão… um time pode comprar a passagem e ir direto para o mundial de clubes? Ah, poder até pode… só que daí não vai jogar (quer dizer, quase sempre).
Essas regras aparecem na pontuação do campeonato, no critério de desempate dessa pontuação, número de times participantes… e por aí vai, igualzinho (na ideia) não importa de qual futebol a gente fala. Agora, e no eFutebol… tem mais alguma coisa que muda aí? Bom, faz já tanto tempo que a gente se vê por aqui toda sexta-feira que a gente já sabe que a reposta é sim, né? Hahaha.
Imagina esse campeonato que você estava jogando… isso, aquela seletiva. Imagina que lá você mudou tudo para o manual e foi para o jogo com a cara e coragem crente que ia arrasar e dar um 7×1 naquele mala – ainda mais que você estava com o seu controle da sorte… pera, controle da sorte? Isso, um teclado adaptado que você usa no dia a dia para treinar em casa!
Opa… rola não esse trem, amigo! O tipo de controle também faz parte das regras da competição, senão um jogador de futebol pode entrar em campo com tênis de corrida ou mesmo um de cravo de futebol americano. É aí que entram aqueles detalhes das regras da competição, o futebol é igual… e diferente também.
Tranquilo, agora fica aquela pergunta do “jogo, competição… já sei, campeonato agora. Né?”. Isso mesmo! Essas regras do campeonato são as regras de convivência que vão além do jogo e da competição em si. Aquelas regrinhas que evitam (ou tentam evitar) uma surpresa desagradável aqui e ali durante o calendário.
Falei grego, né? É tipo no futebol da televisão o seu time resolver contratar aquele atacante do rival do seu time no meio de outubro – a gente sabe que pode (mas que não vai poder jogar). E não pode porque tem um monte de regulamento que vai falar sobre mercado de transferência, marketing das equipes, modo de transmissão das partidas… e até, no caso do eFutebol, o tipo de patrocínio que pode aparecer no seu controle!
Sim, aí também tem seus detalhes divertidos que deixam o eFutebol como um futebol único e que chama a atenção por essas diferenças – mesmo quando na TV até que fica bem parecido, ainda mais se a gente assiste no streaming.
Futebol, com (e) ou sem (e), é futebol – assim, sempre vai ter as regras do jogo, as regras da competição, e as regras do campeonato. E quem decide as regras é, no fim do dia, quem organiza o campeonato, competição ou jogo. É que nem a nossa pelada de final de semana… lembra muito futebol, tem cara de futebol, e é futebol mesmo – só que não é igual ao que que a gente assiste na televisão.
É isso, gente! Obrigado pela companhia e um bom final de semana para cada um de vocês e nos vemos semana que vem por aqui na Universidade do Futebol. Fica o convite para o nosso próximo “Entre o Direito e o Esporte” desse novembro, para conversar mais sobre esse tal do “eFutebol”, e para fazer dessa coluna o nosso espaço. Nos vemos sexta-feira para dar uma olhada no mercado de transferência… dos eSports. Feito? Qualquer coisa é só me chamar por aqui, pelo meu LinkedIn ou pelo meu Twitter. Obrigado e até mais!

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Porque eu não trocaria Aguirre agora. Mas sim dia 3 de dezembro

Não sou contra demitir treinador. Sou contra a análise superficial e a falta de conhecimento para avaliar de maneira sistêmica o complexo trabalho de um técnico de futebol. Cada caso é um caso. Cada clube possui redes de relações internas e externas que potencializam ou minam determinados perfis de comando. Ou seja, não é porque um técnico não deu certo aqui que ele não pode dar certo lá. E muito menos podemos admitir o famigerado ‘ganhou é bom, perdeu não serve’. Tudo deve ser relativizado, contextualizado e profundamente analisado.
Levanto essas questões para ponderar que se fosse dirigente do São Paulo não demitiria o técnico Diego Aguirre faltando cinco rodadas para o término do Brasileirão. Mas trocaria o comando assim que a temporada se encerrasse.
Um clube de futebol é um sistema cheio de elementos que interferem diretamente no resultado dentro de campo. Ou seja, o presidente tem influência direta no que a equipe entrega dentro das quatro linhas. Porém, todos também fazem parte: o financeiro que equaciona as contas, o jurídico que cuida de contratos, o marketing que gera receita, o departamento médico que trata os atletas. Até o pessoal da portaria, rouparia e cozinha dão sua parcela de contribuição no bom ambiente da instituição. Enfim, não dá para enxergar o futebol por apenas um ângulo.
O treinador deve ser um potencializador do que o clube tem. Mais do que entender de técnica, tática e metodologia de treinamento, ele deve fazer todos os departamentos trabalharem alinhados para que o resultado em campo seja positivo. Mas sempre ressaltando: o técnico não ganha sozinho e não perde sozinho. São todos os elementos do clube que produzem ou vitórias ou derrotas. E Aguirre foi engolido pelas arestas soltas que assolam o Morumbi.
O São Paulo não ganha nada de importante há muito tempo não porque troca muito de técnico. Mas sim porque, além de trocar muito o comando, ele virou uma bagunça política. Sem falar na falta de diretriz para uma série de escolhas envolvendo membros da comissão técnica permanente, análise de desempenho, diretoria de futebol, etc. Como exemplo próximo cito o Palmeiras: estabilizado como clube vai ganhar seu terceiro título nacional em quatro anos com três técnicos diferentes: Felipão em 2018, Cuca em 2016 e Marcelo Oliveira em 2015. De um jeito ou de outro, é a instituição que está forte, independentemente do técnico.
Aguirre teve grandes momentos no São Paulo neste ano, em que pese as eliminações no Paulistão, Copa do Brasil e Sul-Americana. Não foi à toa, que o tricolor liderou o Brasileirão por várias rodadas. Suas ideias de jogo claras potencializaram por um tempo o que o grupo de jogadores tinha de melhor. Por outro lado, é indiscutível que a equipe deixou de evoluir, principalmente tendo semanas cheias de treino. Algumas decisões de escalações e substituições se mostraram equivocadas e sentia nas últimas semanas um Aguirre desmotivado, sem força no discurso, sem explicações convincentes e sem o devido comando do grupo. Não consigo enxergar como Aguirre faria diferente em 2019 com o arsenal de atuações que mostrou em 2018.
Para o São Paulo voltar ao caminho das conquistas não bastará simplesmente manter um treinador. O clube tem que evoluir em todos os aspectos. Olhar para si mesmo é incômodo. Eu sei. Mas é o primeiro passo para melhorar.