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A “pedagogia da fila” em escolas de futebol

Rafael Castellani & João Batista Freire

Cansamo-nos de ler reportagens, artigos e comentários sobre o fim do futebol brasileiro, aquele futebol que conquistou o mundo por cinco vezes e em tantas outras o encantou, e que se parecia com os jogos de bola nas ruas e campinhos brasileiros. As pessoas falam sobre isso como se não houvesse uma razão para o fim do futebol que tanto fascinou o mundo todo. E quando essas pessoas se tornam responsáveis por ensinar futebol às crianças e adolescentes, quer seja nas chamadas Escolas de Futebol, projetos sociais ou nas equipes de base dos clubes profissionais, não sabem ou não querem que seus alunos aprendam a jogar futebol do mesmo modo como aprenderam nossos maiores craques.

Uma rápida caminhada pelas ruas é suficiente para ver que em muitos dos espaços onde, anos atrás, as crianças brincavam de futebol, quais sejam, os campinhos de várzea, as praças e as próprias ruas, atualmente vê-se escolas de esporte, as famosas “escolinhas” de futebol, com seus campos de grama sintética e mensalidades, muitas vezes, exorbitantes. Onde havia crianças se divertindo, driblando umas às outras, fazendo tabelinhas e gols, hoje há crianças em fila, esperando sua vez de driblar cones.   

Já falamos em textos anteriores sobre a “A diferença entre driblar e fintar um cone e uma pessoa”. Nosso objetivo, neste texto, é abordar as frequentes filas nas quais crianças e jovens aguardam sua vez para tocar e brincar com a bola. É impensável para nós, que apreciamos um futebol lúdico, livre e criativo, que professores/treinadores ainda tenham a fila como, praticamente, a base de sua pedagogia.

A fila, recurso pedagógico muito utilizado, inclusive, em escolas de educação formal, nos ciclos iniciais (Infantil e fundamental 1), é predominante em escolas de futebol e projetos sociais. Ao colocar seus alunos (e atletas) em filas, professores e treinadores buscam manter o controle sobre eles, garantindo uma determinada organização. Pretendem manter, a todo custo, a disciplina de seus alunos/atletas. Enquanto isso, crianças que vão às escolas de futebol para “brincar de bola”, aguardam ansiosamente o momento para tê-la aos seus pés, mesmo que por poucos segundos.   Há, certamente, ocasiões em que filas são necessárias. Reconhecemos que não é fácil manter uma disciplina mínima entre os alunos quando se trata de uma quantidade grande deles em uma turma. Porém, se for absolutamente necessário manter filas, que elas sejam formadas de modo a não tirar das crianças e jovens o tempo tão aguardado de contato com a bola. O que temos presenciado, principalmente, em escolas de futebol, é crianças, depois de aguardarem muitos minutos em uma fila, realizarem uma corrida controlando a bola e dando um chute ao gol para, em seguida, retornarem à fila. Isso é altamente frustrante e, sem dúvida, nada tem a ver com aprendizagem do futebol.

Imaginemos duas situações. Na primeira, uma professora tem uma turma de 30 alunos em uma escola de futebol e pretende, em uma determinada aula, ensinar condução de bola para as crianças, que possuem uma média de idade de dez anos, meninos e meninas. Ela decide organizá-los em uma fila única, atrás de uma sequência de oito cones. Ao sinal da professora, o primeiro aluno da fila sai correndo, contorna os cones e, ao final, recebe uma bola da professora, que ele deve chutar em direção a um gol vazio. Como se trata de trinta alunos, esse processo demorará, até que o último realize sua ação, cerca de oito minutos. A aula tem uma hora de duração. Se os alunos fizerem apenas esse exercício, cada um deles realizará a ação aproximadamente sete vezes.

Na segunda situação, a professora organiza os alunos em seis filas com cinco deles em cada uma. Três filas de frente para três gols defendidos por três goleiros e três filas à frente dos gols. As três filas de frente para os gols serão de alunos atacantes; as três à frente dos gols serão de defensores. Ao sinal da professora, os três primeiros atacantes das três filas sairão conduzindo uma bola. Os três primeiros defensores se colocarão à frente dos atacantes e, sem tirar-lhes a bola, atrapalharão a condução dos atacantes. Os atacantes conduzem a bola por cerca de dez metros, ao final dos quais levam a bola para a direita ou para a esquerda e finalizam ao gol. Nessa situação, os alunos cumprirão uma roda completa de exercícios em apenas um minuto, aproximadamente. Em seguida os papéis são trocados e os defensores viram atacantes. Em uma aula de 60 minutos repetiriam os movimentos cerca de 30 vezes. Portanto, não precisariam fazer somente esse exercício, bastaria que gastassem, nele, apenas vinte minutos, por exemplo.

A primeira situação é um exemplo de mau uso da fila. Os alunos nada aprendem de futebol, primeiro, pelo pequeno número de repetições, o que faz com que o contato do praticante com a bola seja muito reduzido. Em segundo lugar, é consenso na literatura do campo da pedagogia do esporte a necessidade de ruptura com práticas pedagógicas como a que serviu de exemplo, tipicamente de natureza analítica/tecnicista, que fragmentam o jogo, a partir do entendimento de que o ensino do futebol se dá a partir da soma das partes que compõem o jogo, ou seus fundamentos. E isso em nada ajuda o atleta a resolver os problemas que o jogo impõe. Por fim, aprenderão aquilo que fazem, isto é, a esperar em uma “interminável” fila e a contornar cones, objetos que, num jogo de bola, não existem. Fintar cones não tem relação alguma com fintar pessoas. Não se trata, portanto, de uma escola para ensinar futebol.

Na segunda situação, a professora continua usando a fila, mas apresenta um exemplo de bom uso dela. As crianças não deixam de brincar de jogar bola, fazem uma brincadeira que adoram fazer, que é driblar. Driblam pessoas e não cones. A condução da bola com um adversário atrapalhando faz sentido para o jogo de bola, e tudo isso é feito para atingir o objetivo de chutar ao gol. O número grande de repetições dessa ação favorece a aprendizagem, neste caso, de meios técnico-táticos (condução de bola, drible/finta, defesa e finalização) que atuam em conjunto, e os ajudam a lidar com situações típicas de um jogo de futebol. Em uma aula, repetir a ação 30 vezes é bem diferente de repeti-la 7 vezes. Além disso, quando não estão conduzindo bolas e atacando, os alunos estão defendendo. Sem contar a atuação dos goleiros. Realizar conduções de bola, defesas, fintas e finalizações na segunda situação faz muito mais sentido que realizar ações apenas para obedecer aos comandos da professora.

As filas podem ser usadas, embora possamos lançar mão de outras alternativas mais lúdicas. Porém, como buscamos discorrer neste texto, é possível recorrer às filas, desde que elas não prejudiquem a aprendizagem e tampouco diminuam o prazer e interesse da criança pelo jogo de bola.

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Bibliofut, a literatura do futebol brasileiro – um livro sobre livros de futebol

No Brasil, nascemos, crescemos e vivemos com o estigma de que somos um país sem memória.  Quando o assunto é a literatura do futebol, a coisa é diferente!!!! Podemos comemorar uma bela conquista. A obra “Bibliofut: a literatura do futebol brasileiro”, lançada em 2019, rompe com a lógica do esquecimento e desrespeito com a nossa história e celebra a cultura do ludopédio, esporte dos mais tupiniquins.

O livro é o resultado de estudos e pesquisas de um bibliófilo, Domingos Antonio D’Angelo, e de um bibliotecário, Ademir Takara, sobre obras publicadas na temática do futebol.

A obra se divide em duas partes:

A primeira, “um relato da literatura do futebol brasileiro”, buscou indicar os livros que tratam do ludopédio, divididos em cinco fases históricas e que merecem ser conhecidas, segundo a visão de um dos autores, Domingos D’Angelo.

A segunda, “bibiliografia brasileira de futebol”, é o resultado de uma ampla pesquisa de Ademir Takara que relaciona 4.570 livros publicados no Brasil até o ano de 2018. Temos, de acordo com uma classificação que respeita o conteúdo e as normas da biblioteconomia, um levantamento preciso da literatura especializada no futebol.

“Uma mina de ouro” – É com essa expressão que o jornalista e escritor Maurício Stycer intitula o “Prefácio” da obra. Ele afirma: “Pesquisadores interessados em futebol vão encontrar neste livro um mapa do tesouro para as mais variadas investigações. Editores atentos vão perceber que seu Domingos e Ademir estão colocando à disposição uma verdadeira mina de ouro, com sugestões de reedições de obras hoje esquecidas ou menos valorizadas do que mereceriam.”

Não pensem em obra com um viés acadêmico, muitas vezes maçante e de difícil leitura. Pelo contrário, com uma linguagem acessível e com belas ilustrações de capas dos livros que contam diversas histórias do futebol brasileiro, o alfarrábio é fruto de um trabalho de dois pesquisadores que amam este esporte jogado com os pés. O objetivo, segundo os autores, é permitir que outros pesquisadores, acadêmicos ou não, possam aprofundar a leitura ou identificar alguma publicação para suas pesquisas.

Na minha visão, além dos pesquisadores, os professores, jornalistas, bibliotecários, historiadores, atletas, técnicos, dirigentes, torcedores, curiosos e fãs da modalidade têm, neste livro, acesso a um conhecimento organizado e sistematizado que nos permite conhecer a linda trajetória do futebol canarinho.  

Uma boa leitura!!!

Ficha Bibliográfica

D´ANGELO, Domingos Antonio; TAKARA, Ademir. Bibliofut: a literatura do futebol brasileiro. Jundiaí: Editora In House, 2019. 386 p.

Domingos Antonio D’Angelo Jr., Consultor de Relações do Trabalho e Conselheiro Vitalício do São Paulo F.C. Chegou a ser um razoável volante/quarto-zagueiro do Estrela da Saúde F.C., mas preferiu seguir ligado ao futebol através da literatura e do estudo, tornando-se bibliófilo, dono de uma das principais bibliotecas particulares sobre futebol do Brasil e fundando o Memofut – Grupo de Literatura e Memória do Futebol.

E-mail para contato: bilvera@terra.com.br

Ademir Takara, Bibliotecário do Centro de Referência do Futebol Brasileiro (CRFB), do Museu do Futebol, desde 2011. Bacharel em Biblioteconomia e História pela Universidade de São Paulo (USP). Sua Seleção Brasileira de todos os tempos joga com Gilmar; Djalma Santos, Mauro, Domingos da Guia e Nilton Santos; Didi e Zizinho; Garrincha, Leônidas, Pelé e Friedenreich.

E-mail para contato: ademirbiblio@bol.com.br

O sumário da obra permite um melhor conhecimento do seu conteúdo:

SUMÁRIO

Prefácio, por Mauricio Stycer

Apresentação

1ª PARTE – UM RELATO DA LITERATURA DO FUTEBOL BRASILEIRO

Pré-Temporada

O Preconceito

Divisão Histórica

Preliminar

1º Tempo do Jogo: 1ª Fase – Era Amadora (1895-1930)

36 anos – Charles Miller/São Paulo Athletic Club; Friedenreich/Club Athletico Paulistano.

Destaques: Mario Cardim; João do Rio; Monteiro Lobato; Lima Barreto; Antônio Figueiredo; Leopoldo Sant’Anna; Graciliano Ramos; Mário de Andrade; Oswald de Andrade; Linguagem da Bola; Coelho Neto; Alcântara Machado.

2º Tempo do Jogo: 2ª Fase – Era Romântica (1931-1950)

20 anos – Profissionalização; Leônidas; Zizinho; Pacaembu; Copa do Mundo no Brasil; Rádio.

Destaques: Carlos Drummond de Andrade; Max Valentim (Affonso Várzea); Paulo Várzea; Floriano Peixoto; Gilberto Freyre; Thomaz Mazzoni; Mario Filho; José Lins do Rego.

Prorrogação: 3ª Fase – Era de Ouro (1951-1970)

20 anos – Brasil Campeão do Mundo; Pelé; Televisão.

Destaques: Nelson Rodrigues; Armando Nogueira; Orlando Duarte; João Saldanha; João Máximo; Concurso Literário; Pedro Zamora.

Decisão por Pênaltis: 4ª Fase – A Geração Perdida (1971-1990)

20 anos – O Negócio Futebol X Futebol Espetáculo.

Destaques: Anatol Rosenfeld; Edilberto Coutinho; Homero Homem; Renato Pompeu; Roberto DaMatta; Waldenyr Caldas.

Fim de Jogo: 5ª Fase – Era do Futebol Moderno (1991-2018)

28 anos – Futebol “Globalizado/Grande Negócio” – Evento.

Destaques: Os Clássicos: História do Futebol no Brasil; Biografias: Ruy Castro; André Ribeiro; Marcos Eduardo Neves, Rafael Casé; História dos Clubes: Francisco Michielin; Celso Unzelte; Odir Cunha; Marcelo Duarte; Fernando Galuppo; História das Copas do Mundo; História da Seleção Brasileira: Ivan Soter; História de Competições: Roberto Assaf; Sociologia, Pedagogia, Psicologia: Arlei Sander Damo; Bernardo Buarque de Hollanda; José Paulo Florenzano; Luiz Henrique de Toledo; Mauricio Murad; Ronaldo George Helal; Simoni Lahud Guedes; Victor Andrade de Melo; João Batista Freire; Alcides José Scaglia; A Linguagem da Bola/Jornalismo: Luiz Cesar Saraiva Feijó; Antologias; Poesia; Romances, Ficções, Crônicas: Décio de Almeida Prado; Décio Pignatari; Paulo Mendes Campos; Luís Fernando Veríssimo; José Roberto Torero; Eduardo Galeano; A Literatura do Futebol em Minas Gerais; Humor, “Estórias e Causos”: Sandro Moreyra; Renato Mauricio Prado; Victor Kingma; Eduardo Galeano.

2ª PARTE – BIBLIOGRAFIA BRASILEIRA DE FUTEBOL

Introdução, 2ª parte

1 – Referência

2 – Regras e Arbitragem

3 – Treino, Tática e Categoria de Base

4 – Biografia

4.1 – Jogadores e Comissão Técnica

4.2 – Coletâneas

4.3 – Árbitros, Dirigentes, Jornalistas e Torcedores

5 – Copa do Mundo e Seleção Brasileira

5.1 – Copas do Mundo no Geral

5.2 – Copas do Mundo por Edição

5.3 – Seleção Brasileira

6 – Clubes Brasileiros

6.1 – Coletânea

6.2 – Por Clubes

7 – História e Competições

7.1 – História do Futebol Brasileiro

7.2 – Competições Nacionais

7.3 – História e Competições por Estado

8 – Letras

8.1 – Linguística e Literatura

8.2 – Crônica

8.3 – Ficção

8.4 – Poesia, Cordel e Teatro

8.5 – Infantil

9 – Jornalismo

10 – Filosofia, Ciências Sociais e Religião

11 – Torcida

12 – Estádios e Arquitetura

13 – Artes

13.1 – Catálogos

13.2 – Fotografia

13.3 – Ilustração e Quadrinhos

13.4 – Cinema e Música

14 – Economia, Gestão e Negócios

15 – Direito

15.1 – Direito e Legislação

15.2 – Corrupção

16 – Psicologia e Medicina

17 – Mulher

18 – Futebol Internacional