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Conhecimento no futebol

Depois de um período ausente, retorno para escrever as colunas com uma periodicidade de 15 em 15 dias. Entendo que poderei abranger temáticas pontuais e que realmente adentrem o cotidiano e o contexto dos leitores. Bem, vamos ao que interessa.
O mundo em si é uma diversidade, o futebol mais ainda. Pontos de vistas são levantados a todo instante, palavras e expressões são pronunciadas com seus únicos, poucos ou muitos significados. Dentro deste ambiente, um mundo definitivamente “circular” surge. E o futebol, apesar de ter seus desenhos gerais marcantes, é um pouco isso: um fenômeno antropológico em que cada contexto abarca alguns traços culturais exclusivos, hábitos e costumes.
E no Brasil, evidente, temos isso e uma maneira de assistir o jogo, organizar um clube, um processo de treinar, de jogar, de formar jogadores e encarar a derrota ou a vitória. É algo que vem de gerações, de anos, não é certo ou errado, apenas singular. Isso acentua uma “determinada construção de conhecimento”. Ademais, julgar se é correta ou não comparativamente a outras culturas não é o predicado da questão.
Mas apesar desse mapa, atualmente vivemos numa rede e numa proliferação informacional que temos que reconhecer que há uma cultura “macro global”, ou o entendimento que o mundo não acaba no final da minha rua. Isso proporciona uma permuta e uma correlação de ideias que se bem concebidas criam cenários que não desvirtuam a cultura local e sua identidade. Essa sintomática do velho com o novo e da cultural local com a cultura não local, ainda é um paradoxo. Entender que atualmente temos que estar com “os demais” para nos sustentar como ser humano em transformação, abre horizontes variados.
Até por que a humanidade, a espécie humana, além desses aspectos regionalizados mais particulares, também está evidenciada pelos códigos ambientais globais que carregamos desde quando nascemos, ou seja, fomos criados e estruturados por uma simbologia reducionista, pelo parcelamento e pela diminuição em qualquer parte do mundo. Desde as primeiras instruções de nossos pais, a escola e nossos primeiros conhecimentos de treino e de jogo, fomos orientados pela e para unilateralidade e redução sem nos darmos conta de nada.
Bom, essa tendência da cultura que cega e dos códigos ambientais que paralisam, são evidências que dificultam o entendimento da realidade, instante e unidade. Então, essa combinação entre cultura e códigos ambientais arrasta repercussões no conhecimento de todas as áreas, mas especialmente para as principais do futebol: jogador-jogador, jogador-treinador e treinador-jogador.
Assim, o conhecimento de jogo e sua expressão dentro das quatros linhas é baseado pelo que expressamos e o que conhecemos, e não é uma interpretação apenas dos diferentes meios e diferentes formas de jogar, mas sim uma interpretação da raiz etnológica, axiológica e praxiológica dessa construção do conhecimento e sua transferência com realidade, instante e unidade. Dessa identificação, alguns perfis de “conhecimento” que temos no futebol podem ser vistos na sequência.
Conhecimento por chavões (sempre a mesma coisa)
No futebol temos verdades absolutas que ficarão eternizadas até a extinção do esporte. Independente do que está acontecendo e das particularidades contextuais, aquelas mesmas expressões ou definições pronunciadas a vida toda, sempre estarão à tona. Basicamente são aspectos repetidos que viraram verdades e servem de protocolos para qualquer área, sem reflexão ou evolução, podendo ser oriundos de experiências passadas, de pessoas que treinaram daquela forma ou venceram daquela forma no passado algumas vezes.
Conhecimento por que ouvi alguém falar (escuto e faço sem contexto)
Habitualmente quando ouvimos alguém falar algo, especialmente pessoas que tem um currículo vencedor, pessoas em cargos superiores, pessoas que têm um peso em escolhas, pessoas do momento, amigos ou até mesmo pessoas que formam opinião com veículos informativos, começamos a balançar algumas ideias que temos e submergimos um pouco naquilo. Se alguém falar que é certo, é bom, vai resolver e colocar aquilo como fundamental sem conhecer a realidade, o dia a dia pode perder suas circunstâncias naturais. Essa excitabilidade de ouvir algo e querer aplicar negligenciando a realidade, é um problema sintomático que enfrentamos atualmente muito pela falta de coragem e convicção.
Conhecimento por modinhas (copio da internet)
Nossa geração está obcecada pela busca. Isso é fantástico. A globalização no futebol vem gerando cada vez mais materiais e possibilidades. Mas ao mesmo tempo em que lemos e assistimos com muito mais frequências, copiamos também mais. Esse é o problema: como o copiar afeta na transferência de conhecimento? Essa utilização da cópia pela cópia não reproduz fidedignamente o conhecimento e transfere muito pouco pra a prática. A internet, dependendo como usada, ao mesmo tempo em que é importante para as novas concepções, é também um cancro para a alienação da tarefa principal de um processo que é a criatividade.
Conhecimento por conceitos mecanizados (desnaturalizo o jogador)
Nos últimos anos começamos a abordar com frequência a palavra conceito. Mas o que é realmente um conceito? Acredito que estamos num processo de persuasão conceitual que aparentemente demonstra supostas vantagens momentâneas para o ambiente envolvido ou para a formação de jogadores. Apenas ensinar uma somatória de conceitos, intervindo nisso sem levar em consideração que os jogadores em si carregam conceitos e o quanto isso tira sua autonomia, parece algo conflitante. Por mais que pareça transcendental, dependendo da forma como o conceito é abordado e planificado, pode ser danoso. Os melhores conceitos estão na realidade, nas relações gerais e no jogo, ou seja, nas relações dos jogadores e na simplicidade da interação com o tempo-espaço-bola-companheiro-adversário.
Conhecimento por interpretação real do que realmente está acontecendo em cada treino e cada jogo (enxergo realidade, instante e unidade)
Uma das questões difíceis do futebol é olhar para o aqui e agora e viver nele. Identificar a atividade atual, as novas adaptações no curso das interações, levando em consideração a subjetividade do jogador que constrói seu contexto local com novas experiências, é um grande dilema. O dia a dia é o maior referente evolutivo-vivo como fonte de compartilhamento de informações e interpretações. Não podemos ficar o tempo todo atrelado em papéis, em ideias passadas e certezas conceituais mastigadoras. A co-construção entre jogadores e treinadores, gera uma interpretação que todas as mudanças que ocorrem dentro do ambiente, terão uma consciência interpretativa que é mutável todo o tempo, elevando o nível de conhecimento sobre o jogo em todos os pormenores e em todas as coordenações pretendidas. Merleau-Ponty fala que “a percepção não é apenas consagrada no mundo que a rodeia ou simplesmente restrita por ela; ela contribui para a interpretação deste mundo circundante. O corpo dá forma ao seu ambiente ao mesmo tempo em que é harmonizado por ele”.
Não há verdades absolutas em cima do conhecimento, mas o grande desafio atual é ter uma sensibilidade mais aguçada do que realmente está acontecendo com a realidade, o instante e a unidade e perceber se sua escassez, inércia ou transformação (aí depende da transformação do conhecimento), representa realmente um contexto natural que se comunica harmonicamente.
O conhecimento não é único ou pré-existente em um só lugar, ele está expresso em cada situação peculiar. O conhecimento é uma arte, a aquisição do conhecimento é uma busca sem fim. Podemos ter diversos estímulos, mas todo o conhecimento do mundo nunca será suficiente se não interpretarmos o que realmente está acontecendo. Como treinadores, interpretar o jogo ou o treinamento é uma revelação criativa que pode melhorar se suprimirmos duas questões: abolir nosso ego inflado dominador de certezas inegociáveis e reconhecer que as interações potenciais dos jogadores em cada dia e em cada jogo nunca serão as mesmas, ou seja, o verdadeiro conhecimento, o conhecimento transformador, vem da inteligência contextual e situacional de um caminho que não existe de antemão, que vai emergindo enquanto os passos são dados.

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O Marketing do Futebol do Interior

Futebol de rendimento requer muito investimento. As cifras são infinitas. Há pouco mais de duas décadas o cenário não era tanto assim. Havia mais competitividade entre o futebol de clubes de grandes centros com os do interior. Em textos anteriores desta coluna foi mencionado que os clubes com mais torcida têm mais oportunidades de receita em função do número de torcedores que possui. Ou seja, esta relação entre número de torcedores é diretamente proporcional ao rendimento financeiro da instituição.
Ao longo da história, alguns fatores foram determinantes para concepção de um clube com torcida numerosa: estar estabelecido em uma grande cidade, que possui inúmeras comunidades étnicas, religiosas e sociais que favorecem o surgimento de associações esportivas, além da criação de rivalidades e o poder econômico e político que a urbe possui, para fins de obtenção de patrocínios e viabilização de sedes sociais e estádios. Com mais recursos, maiores as possibilidades de investimento na formação de futebolistas, plantel e infraestrutura. E os clubes que não possuem uma massa associativa capaz de gerar receitas para se manterem na elite do futebol? Podem viver em uma – nada saudável – “gangorra”, num vai-e-vem prejudicial à estabilidade financeira e institucional do clube: vulneráveis a investimentos de terceiros e interesses alheios aos da organização. À prazo isso pode ter uma terrível consequência.
Entretanto, existem sim soluções. Sabe-se que o modelo norte-americano do esporte profissional é baseado em um sistema de não-rebaixamento e promoção de clubes, bem como da igualdade de condições de competitividade entre os seus participantes. Em outras palavras, as piores equipes da temporada têm benefícios a fim de estabelecer uma equipe competitiva para a disputa da próxima. Há também o teto salarial que contribui para a saúde financeira da liga, seus integrantes e os atletas, que têm seus contratos cumpridos por toda a temporada. Um modelo como o norte-americano, adaptado ao futebol do interior do Brasil (conforme suas condições, contexto e realidade) é sim possível: a formação de ligas. Para que isso seja viável é preciso antes de tudo que os interesses dos clubes sejam convergentes com esta ideia.
Portanto, com uma regularidade dos jogos e adversários, a atratividade do torneio a partir das rivalidades que existem dentro do futebol do interior, estabeleceriam um produto interessante para torcedores e potenciais patrocinadores. Com uma estabilidade de recursos e austeridade nas finanças, maiores as chances de investimento em categorias de base, infraestrutura (estádio) e plantel. O clube respira e sobrevive. Evita-se a gangorra e o vai-e-vem de divisão (muitos vão dizer que isso é que dá a graça). Entretanto, preserva-se a instituição, o torcedor e, sobretudo, o atleta.

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O espetáculo de Neymar

#tamojuntoNeymar era a inscrição na parte superior das costas de todos os jogadores do Santos no último domingo (04), no Pacaembu, em clássico contra o Corinthians. Quatro anos mais tarde, a despeito da desconstrução anímica que a seleção brasileira vivenciou na Copa do Mundo após a lesão do atacante, sua condição física voltou a movimentar o noticiário e interferir no cotidiano de outros atletas. Ele pode ter evoluído em campo ou fora das quatro linhas, mas o “espetáculo Neymar” segue sendo parcela fundamental do que é o personagem Neymar.
Em 2014, o camisa 10 da seleção brasileira teve um problema nas costas após disputa de bola com um jogador da Colômbia em partida das quartas de final. Perdeu as duas últimas partidas do país na Copa, e sua ausência foi uma das histórias mais relevantes para a derrota dos anfitriões por 7 a 1 para a Alemanha. Os dias que precederam aquele acachapante também foram dias de “espetáculo Neymar”: cobertura ostensiva de tudo que acontecia com o jogador, dos deslocamentos aos procedimentos médicos; discussão frequente sobre os efeitos técnicos e emocionais que sua ausência poderia acarretar; debate intenso sobre os possíveis substitutos e a responsabilidade que esses atletas teriam; criação da hashtag #ForçaNeymar, que chegou a ter mais de uma foto publicada por segundo na rede social Instagram. Durante alguns dias, a condição física do atacante assumiu grau de protagonismo que contribuiu sobremaneira para fomentar o mito em torno dele, mas que também aumentou consideravelmente a pressão sobre o entorno.
Há muitos elementos paralelos entre as duas histórias. Assim como em 2014, Neymar sofreu uma lesão antes de um jogo extremamente decisivo. Após derrota por 3 a 1 no primeiro duelo do mata-mata da Liga dos Campeões da Uefa, o Paris Saint-Germain jogará a temporada contra o Real Madrid no dia 6 de março, em Paris. Contratação mais cara da história do futebol, o camisa 10 também era a grande aposta dos franceses para uma reação no confronto – um ano antes, ele já havia dado sinais de que poderia liderar reações assim ao comandar uma vitória do Barcelona por 6 a 1 sobre o próprio PSG na mesma competição.
Além do impacto técnico e da evidente carga emocional que um protagonista carrega em momentos assim, as duas histórias têm em paralelo a espetacularização do pós-lesão de Neymar. Em 2014, jornalistas, torcedores, curiosos e o séquito mantido pelo atacante participaram de cada momento entre a joelhada que ele levou nas costas e o 7 a 1 que o Brasil levou no Mineirão. A comoção tem muito a ver com a relevância dada ao fato (e vice-versa).
Um exemplo disso é uma entrevista recente do zagueiro Kimpembe, que tem alternado jogos como titular e reserva no PSG. Depois de uma vitória por 3 a 0 sobre o Olympique de Marselha em jogo da Copa da França, o defensor ficou irritado com a enorme quantidade de perguntas sobre Neymar: “Mais uma vez? Neymar aqui, Neymar ali. Já não tenho mais o que falar. Se não pode atuar, não pode. O treinador vai escalar outro”.
Existe um circo em torno da lesão de Neymar, mas é pertinente questionar: a notícia é reflexo do interesse ou o interesse é reflexo da ostensiva aparição do conteúdo? O dilema Tostines desse caso é uma das chaves para entender o mercado de celebridades no mundo atual. Quando tentamos humanizar as mensagens e dar mais atenção aos personagens, criamos uma cultura de consumo de informação que superestima dados pessoais e que muitas vezes ultrapassa limites do que é privado.
A cobertura em torno da lesão de Neymar também alicerça uma parte fundamental da personalidade de Neymar. Esse interesse e a supervalorização de tudo que acontece com o jogador são facetas de um ambiente totalmente descolado da realidade. É até possível que o contexto não contamine o protagonista, mas isso demandaria um esforço e um desgaste que Neymar não parece disposto a oferecer.
Você pode até estar espantado com o fato de a operação de Neymar ter recebido mais atenção do que a Guerra da Síria, que começou há quase uma década e nunca encontrou enorme espaço no noticiário brasileiro. Discutir a pauta de noticiários, porém, é enfrentar apenas parte do problema. Neymar é um exemplo extremamente bem acabado de uma geração mimada, que tem problemas para desenvolver empatia ou pensar no outro.
O problema de Neymar nunca foi o espaço que ele ocupa; o que assusta é como esse espaço é ocupado.

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Desenvolvimento de longo prazo: Quem ensina? Quem aprende? Do que se trata?

Todos nós experimentamos os efeitos da educação. Diariamente, assimilamos conhecimentos, corrigimos defeitos, adquirimos novos hábitos… e somos influenciados por outras pessoas em nosso modo de ser e agir. Em maior ou menor grau, exercemos um estímulo educador sobre os outros e vice-versa.
Olhando para a sociedade, percebe-se que ela forma o indivíduo segundo suas normas, regras, crenças e costumes, através de um processo permanente de impregnação e também de convivência com as gerações anteriores. Mas a educação também implica uma conscientização daquele que aprende, ou seja, para desenvolver suas potencialidades o indivíduo precisa estar disposto a isso. Este é um processo exclusivamente humano. Somente o homem é capaz de educar-se. A planta se cultiva e o animal se adestra.
Trazendo esta realidade para o futebol, na prática, o clube (sociedade) precisa se preocupar em transmitir os conhecimentos da forma mais adequada e eficiente possível, adaptando os métodos práticos às necessidades apresentadas. Para isso, precisa construir um conjunto de procedimentos e normas cujo objetivo primordial é orientar como o indivíduo será ensinado.
E como as pessoas aprendem a fazer bem somente aquilo que praticam; seguir os princípios que dão a identidade ao clube (diariamente e pelo maior tempo possível) é o primeiro passo para se atingir os objetivos propostos. Além disso, o modo de ensinar (forma de comunicação, recursos utilizados, gestos técnicos) direciona o aprendizado para algo mais adequado.
Seguindo esta estrutura (o que ensinar, como ensinar e por quanto tempo ensinar), esperamos então que a resposta individual e coletiva seja precisa, imediata e sincronizada. Mas a última coisa que queremos é limitar os jogadores à simples reprodução mecânica; por isso, aprender a encontrar a resposta mais adequada de acordo com os próprios princípios torna-se fundamental para o desenvolvimento cognitivo do jogador.
Pensando neste aspecto e ainda levando em conta que existem muitos fatores que incidem no ritmo e progresso de desenvolvimento de cada um, quais qualidades humanas e profissionais, aquele que transmite o conhecimento e conduz o ensino deve possuir? Organização, respeito às individualidades, coerência, responsabilidade, equilíbrio mental e emocional, conhecimento pleno do objeto de trabalho, são apenas alguns exemplos e certamente são bons requisitos para qualquer função. Entretanto, algumas questões relacionadas às ações do treinador antes, durante e depois dos treinos, podem e devem fazer parte do processo de ensino-aprendizado.
De forma sucinta, a elaboração do trabalho deve ser metodicamente organizada e realizada respeitando as etapas de aprendizado. Por isso, ao planificar e organizar uma sessão de treino, devemos considerar o planejamento anual e o que realizar de acordo com o objetivo principal do dia, respeitando sempre uma progressão lógica entre os exercícios.
Durante o treino, momento que necessita a participação integral de todos, cabe ao treinador reforçar jogadas e decisões corretas, se posicionar de forma que possibilite uma visão ampla do que se passa no campo, corrigir falhas com demonstrações corretas e dar feedbacks específicos e precisos. Nada que impeça a fluidez do treino, mas que o conduza para aquilo que se pretende.
Assim como o feedback é importante para o jogador, é também para o treinador, para coordenar e para o clube. Por mais que os objetivos do dia ou da semana tenham sido alcançados, há sempre algo a melhorar. Como podemos então, fazer melhor o que estamos fazendo? Qual é ou foi o nosso maior problema (no jogo ou em algum treino)?
Reproduzir diariamente os comportamentos que desejamos e buscar algo melhor mesmo quando já somos bons, torna menos difícil alcançar a excelência e menos custoso sair da zona de conforto. Então, respondendo a última pergunta do título, não importa o quanto seus jogadores sejam excelentes; os treinadores, supervisores, coordenadores… os líderes devem sempre buscar avançar no aprimoramento da qualidade e na uniformidade da condução do processo de desenvolvimento de longo prazo. Nada muito positivo acontecerá caso as possíveis ações não saiam do discurso. Portanto, todos precisam saber que seus líderes se dedicam diariamente, com fervor e responsabilidade pelo tempo que for, em relação aos princípios do clube.

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Entre o esporte e o trabalho

Bem-vindos ao mês de março aqui no “Entre o Direito e o Esporte”. Nessas próximas cinco semanas nós vamos conversar um pouco sobre o que a gente acha entre o esporte e o trabalho quando o seu clube traz um jogador. Ou melhor, a gente vai dar uma olhada no contrato de trabalho do jogador de futebol. E aqui no Brasil esse contrato tem uma base que é dada pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
A base desse contrato é um “modelão”, e por isso acaba sendo bem parecida para quase todos os jogadores – desde aqueles que ganham um salário mínimo, até aqueles que ganham bem mais que isso. E para conversar sobre essa parte básica, a gente vai ver nesse mês quatro temas: o que o jogador pode ou não pode fazer, o que o clube pode ou não pode fazer, como o mundo do futebol traz seus regulamentos para esse contrato, e como a legislação brasileira dá a sua cara também. Assim, quando der aquela (…) com o contrato do jogador, você vai poder soltar aquele “ah, já sei isso. Funciona assim”.
Bora conversar?
A gente sabe que não dá para fazer tudo o que quiser quando a gente trabalha e dá para imaginar que no caso de um jogador de futebol tem algumas regrinhas básicas, né? Pois é, o próprio contrato de trabalho do atleta fala um pouco do que o jogador pode ou não fazer enquanto for empregado do seu clube. É como aquele código de conduta (ou qualquer outro nome) que tem lá no seu Facebook quando você clicou naquela caixinha do “eu li e concordo”, sabe? Isso, aquela mesma que eu cliquei e não li!
Esse “modelão” traz o básico de orientação para o jogador manter o emprego. Se não respeitar esse básico, o bicho pega (ou o bicho não entra no bolso, dependendo do ponto de vista). E é por isso que é legal de saber um pouco mais sobre isso. Afinal, uma vez por temporada sempre tem aquela história do jogador e do clube que estão de mal, certo? Vamos ver isso semana que vem!
Nesse contrato também tem o lado do clube. Ou seja, o mínimo que o clube tem que fazer para manter o jogador e não perder ele “de graça” e “do nada”. Que nem aquele contrato de celular que a gente tem, sabe? Nós temos que fazer um mínimo para garantir a linha (ou número), sabe?
É aí que de vez em quando dá encrenca. Só lembrar de uns casos recentes do ano passado que ainda estão rolando esse ano – ainda mais se você é do Rio de Janeiro e teve um jogador que foi parar em outro estado, naquele estado. Aliás, ano sim e ano não tem disso… e é por isso que na terceira semana de março vamos conversar sobre isso.
Como a gente sabe, o mundo do futebol tem um monte de regulamento próprio – só lembrar do Licenciamento de Clubes. E a regra geral aqui não muda, os regulamentos da CBF e FIFA também vão parar dentro desse contrato. É como as regras da sua pelada de final de semana, acaba mudando como você pode jogar.
E no caso do futebol profissional no Brasil, muda o “jeitão” desse contrato com algumas regras próprias e algumas consequências lá fora. E a gente vai conversar sobre tudo isso no dia 23 de março. Fechou?
E… bom, a gente vive no Brasil e a gente sabe muito bem que tem lei para tudo, não é? No caso do futebol também é assim, e a Lei Pelé (Lei n. 9.615/98) é uma das bases de “modelão”. É tipo quando a gente é criança e vai passar um tempo na casa do amiguinho – valem as regras da casa dele, e não as da sua casa.
É por isso que a Lei Pelé acaba dando a cara do contrato do jogador do seu clube. E lá tem alguns pontos bem importantes quando a gente vê aquela notícia de jornal que tira a gente do sério ou faz a gente rir do rival. E é bem por isso que é bom pelo menos saber como a legislação brasileira aparece nesses contratos. Aliás, é com esse tema que vou fechar o mês de março.
Resumindo tudo isso: o futebol é uma caixinha de surpresa, só que o contrato do seu time com aquele jogador não deveria ser!
Por hoje é isso, pessoal. Como falei, hoje é só o “geralzão” do que a gente vai conversar nesse mês. Espero que tenham gostado, e vejo vocês por aqui na próxima semana! Deixo meu convite para falarem comigo por aqui, pelo meu LinkedIn, ou pelo meu Twitter. E aproveitem com moderação, fui!

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A resposta tática e mental do Corinthians

O Corinthians venceu o Palmeiras no último sábado em todos os aspectos: técnico, tático, físico e emocional – tenho certeza que neste momento aquele palmeirense mais fanático deve ter falado para eu incluir a arbitragem aqui. Ok, entendo a paixão do torcedor, mas discordo quanto a reduzir um jogo de futebol, com toda a sua complexidade, a qualquer decisão do árbitro. Por mais que eu reconheça que Raphael Klauss pecou ao demorar segundos, que no futebol são uma eternidade, para marcar a primeira penalidade, mas que no frigir dos ovos ele acertou na marcação e acertou também ao expulsar o goleiro Jaílson.
Diante da superioridade corintiana do começo ao fim em todas as vertentes, eu quero destacar duas: a tática e mental.
O técnico Fábio Carille foi ousado e sagaz. Ninguém imaginava a ocupação de espaço no 1-4-2-4-0. Faço questão de colocar o zero em uma imaginável última linha porque raramente havia um jogador sozinho no setor. Atacando, o Corinthians deixava os zagueiros do Palmeiras sem ter a quem marcar e defendendo também ninguém pressionava os defensores palmeirenses. Todos os movimentos eram coordenados coletivamente. Róger Machado demorou para entender essa novidade e não conseguiu responder eficazmente a essa situação. Não houve mudança de comportamento de ação do Palmeiras para tentar neutralizar a novidade que o Timão trazia. O domínio numérico no meio-de-campo por parte dos corintianos com certeza seria traduzido no placar. Como foi.
E no aspecto mental, mais uma vez, esse Corinthians de Carille respondeu positivamente. Toda vez que o ambiente pressiona esse grupo, eles reagem com grandeza e bravura. Foi assim no primeiro semestre do ano passado quando era apontado como a quarta força do estado. Mesma coisa no segundo turno do Brasileirão, quando o próprio Palmeiras ameaçava a até então incontestável liderança. E agora com o time tendo começado o ano cambaleante, sentindo demais as ausências de Jô e Guilherme Arana.  O futebol não é jogado apenas no campo de grama. Ele também é praticado no campo mental. Observe o comportamento dos jogadores sem a bola, o olhar deles quando o jogo está parado, a intensidade de cada bola dividida e outras atitudes que talvez não apareçam nos melhores momentos da partida. São nesses comportamentos que se vê quem está mais concentrado e mais forte emocionalmente.
A justiça foi feita no placar. Qualquer coisa diferente do que foi neste Corinthians x Palmeiras seria mais um daqueles acasos tão frequentes no futebol.

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Aos americanos bicampeões – méritos incontestáveis

Nunca tive a pretensão de fazer deste espaço um tributo exclusivo aos treinadores e jogadores de futebol. Mas ao abordar questões táticas e outras nuances que acabam interferindo nas ações do campo, me vejo forçado a dar nome aos “pais das crianças” que impreterivelmente acabam sendo os treinadores e seus comandados.
Preciso me apressar em falar de dois campeões brasileiros que se juntaram para ser bicampeões com louvor. O América Mineiro, que teve a felicidade de encontrar outro mineiro, o treinador Enderson Moreira, num trabalho de alta performance no futebol. Em 2017 foram bicampeões brasileiros da Série B.
O América já levantara o troféu em 1997 e o Enderson em 2012 pelo Goiás.
Sou testemunha de tudo o que aconteceu e continua acontecendo no América desde o segundo semestre de 2016 e gostaria de dividir com o leitor pontos importantes do jogo de qualidade forjado pelo Enderson Moreira, seus jogadores e comissão técnica. Fiquei verdadeiramente impressionado com o alto nível de abordagem tática que frutifica no ambiente vivido hoje no América Mineiro.
Sei que é meio óbvio elogiar campeões! Não quero vulgarizar o conteúdo deste post passando mais um pouco do mesmo neste assunto. Quem me conhece mais de perto sabe o quanto defendo a causa de um “jogo brasileiro” bem jogado e acompanhando a modernidade do futebol. Estou assistindo de palanque esta transformação no jogo americano que segue as ideias de um treinador que demonstra ser um grande construtor de jogo moderno. Acompanho o Enderson Moreira há pelo menos trinta anos e sei o que estou falando!
Analisando à distância outras equipes, tenho sempre a dificuldade em conhecer detalhes da construção do jogo, métodos de treinos, perfil de liderança, conhecimento do jogo, qualidade da comunicação, dentre outros pontos importantes na competência dos treinadores. Fico somente com o jogo para fazer as conjecturas e projeções das análises. É sempre injusto julgar o comportamento tático das equipes e a qualidade dos seus treinadores e jogadores somente com o que vemos nos jogos. Ainda mais no Brasil onde seus treinadores quase nunca têm boas condições de trabalho para concretizarem suas ideias.
Sobre a conquista do América Mineiro em 2017 fico mais à vontade, pois estou lá todos os dias.
Poucas vezes vi no América um time tão consistente em termos táticos como em 2017. E podem acreditar, pois sou mineiro de BH e estou em minha quarta passagem pelo “Coelho das Gerais”. Os números americanos falariam por si só, mas a exemplo do que vi no Corinthians-2017, o América Mineiro foi muito inteligente e organizado em sua forma de jogar. Praticou o jogo moderno a exemplo do seu comandante que aplica concepção de jogo e métodos de treinos de ponta. Além disso, desenvolveu processos de comunicação muito interessantes para vender suas ideias: vídeos, treinos, verbal, etc.
Um dirigente americano revelou-me o comentário de um torcedor americano que corrobora com a reflexão que proponho neste espaço: o América joga da mesma forma contra um time fraco e um time forte! As palavras do torcedor podem não ter sido exatamente estas. Mas, o que quis dizer não deixa dúvidas! Ele falou com “todas as letras”, ainda que inconscientemente: o América tem uma ideia de jogo!!
Bingo!!! Pois é justamente isso o que acontece com todas as grandes e modernas equipes do mundo! Jogam um jogo construído sob orientação de conceitos táticos bem consolidados e varia em detalhes para o confronto de cada partida.
O treinador americano tem ideia de jogo, sabe o que quer dele, consegue ler e interferir na sua dinâmica com maestria. Sem isso, dificilmente teremos um jogo construído com qualidade. Tenho dito no ambiente de meu convívio diário que o professor Enderson Moreira é um dos melhores treinadores do Brasil e não me sentirei justo e confortável se não externar isso publicamente. As respostas que o futebol brasileiro está procurando para o seu jogo são justamente estas: valorizar treinadores que possuam o discernimento e a arte para construir o jogo moderno. Claro, em um ambiente futebolístico que permita o desenvolvimento destes construtores e suas obras.
Num país onde o treinador de futebol é uma figura tão maltratada, é preciso estar sempre decifrando os segredos desta profissão para, pelo menos, contribuir com parte do entendimento da sua importância.
Em quase todas as reflexões que faço neste espaço e interações com a mídia esportiva ao longo da minha carreira, enalteço os jogadores brasileiros como protagonistas de altíssimos níveis para o futebol mundial. Aos jogadores do América Mineiro que fizeram e ainda fazem parte do projeto atual digo que foram e continuam sendo “peças-chave” na construção deste momento. O treinador Enderson Moreira é quem o diz: – é o clube onde consigo melhor traduzir minhas ideias táticas do futebol graças, principalmente, aos jogadores que temos! Portanto, não se considerem menos valorizados porque falei um pouco mais do treinador neste espaço! Sem vocês as dificuldades seriam imensas.
Além do mais, não sou daqueles que procura dar mais ou menos importância a treinadores ou jogadores na construção de jogos moderno e de qualidade no futebol. Os dois são importantes em igual proporção nesta tarefa. Sempre foi assim e continuará sendo nos esportes coletivos em geral!
Será que estou atrasado na publicação deste post? Acho que não, pois uma das razões que me motivam escrever é divulgar minhas ideias a tempo e hora que me convier. Nunca estaremos fora do tempo esportivo quando reforçamos conceitos que só fazem solidificar um jogo de qualidade para o futebol brasileiro, hoje e sempre. Além do mais, estou com o meu tempo muito ocupado em alguns novos projetos literários e não quero, nem preciso ter pressa. Portanto, professor Enderson, jogadores e colaboradores americanos, também campeões brasileiros com todos os méritos, não considerem descaso e ou demora a publicação destas palavras. Foi apenas uma questão de organização das ideias e do tempo!
Abraço! Até a próxima!!

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Marketing e comunicação do futebol eletrônico

Outrora passatempo de gerações, os jogos eletrônicos (vídeo-games) comunicam-se com centenas de milhares de torcedores, praticantes e simpatizantes, com poder aquisitivo de médio para alto. Um nicho de mercado bastante interessante para as marcas do futebol se comunicarem. De um lado, as empresas que produzem esses jogos querem torná-los mais reais. Do outro, clubes, seleções, atletas, ligas, estádios, narradores, comentaristas e emissoras de TV que querem comunicar seus produtos, a fim de potencializar suas marcas e atrair mais torcedores/consumidores.
É isto que este trigésimo texto da coluna trata. A tecnologia está cada vez mais presente nas vidas das pessoas. O crescimento das grandes cidades, a especulação imobiliária e a consequente redução dos espaços para lazer – infelizmente -, somado ao avanço das telecomunicações, levou a um aumento pelo consumo destes telejogos. E isso não tem volta. Só tem a crescer. É uma oportunidade para que todos façam parte do universo do futebol, independentemente das suas habilidades práticas. Em um primeiro momento, a falta de intimidade com o console não compromete a autoestima de um jovem do que a falta de intimidade, de fato, com a bola.

À direita, Guilherme Fonseca, o “GuiFera”, jogador do Santos FC no eletrônico PES (Pro Evolution Soccer) do e-Brasileirão (organizado pela CBF)| Foto: Santos Futebol Clube

 
Vê-se um movimento interessante – porém tardio – do futebol do Brasil em trabalhar com este nicho. Alguns clubes já envolveram algumas referências neste mercado eletrônico, como o Flamengo e o Santos. Para além disso, é uma oportunidade para os pequenos clubes brasileiros estarem mais em evidência. Atualmente, é inegável que o futebol de rendimento envolve recursos financeiros bastante inacessíveis para instituições sem tantas condições de tê-los. E os jogos eletrônicos, em comparação, não são tão caros assim. Ademais, há uma igualdade de gêneros maior do que no esporte de rendimento.
Com tudo isso, mesmo esta coluna ter demorado para tratar deste tema, ele é importantíssimo. Inclusive o Comitê Olímpico Internacional tem tratado de inseri-lo nos Jogos Olímpicos. Os jogos eletrônicos têm se mostrado cada vez mais ao alcance de todos, ou seja, universal, que por si só já é um dos princípios do esporte. Um tema polêmico e que vai render discussões, mas que não têm volta.

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Entre o direito, o sócio, e o torcedor

Bem-vindos a mais uma sexta-feira aqui no “Entre o Direito e o Esporte”. Hoje vamos continuar a falar sobre a festa das arquibancadas e a torcida nos estádios. Nesse mês de fevereiro a gente já conversou sobre o torcedor no estádio e sobre a torcida organizada no estádio, certo? E para fechar o mês do carnaval hoje vamos tratar daquele que é sócio e torcedor, e que de vez em quando parece que não é nem um nem outro.
Hoje vamos falar sobre o sócio-torcedor.
Para deixar um pouco mais organizado, vamos falar um pouco sobre como o Estatuto de Defesa do Torcedor deu essa abertura aos clubes, para entrar no que a gente encontra geralmente nesses planos, para então comparar o torcedor, a torcida organizada, e o sócio-torcedor em como tudo isso afeta o seu clube – pelo menos para o direito desportivo.
Fechou?
Começando pelo começo… o Estatuto de Defesa do Torcedor (EDT) surgiu lá em 2003 para deixar ainda mais claro o que é óbvio para quem vai aos estádios: o torcedor é um consumidor. Um consumidor do futebol. Um consumidor que tem seus direitos – e também seus deveres, né?
Pelo Estatuto os clubes têm que publicar um documento que tenha as informações básicas do seu relacionamento com os torcedores. E lá deve falar para o torcedor desde como é a entrada no estádio, até como é a comunicação com o torcedor. E, foi justamente ao falar da comunicação que veio a ideia do sócio-torcedor quando EDT reconhece (juridicamente) a existência de programas desse tipo – e que os sócios-torcedores poderiam ter direitos mais restritos que os demais sócios dos clubes (leia-se: sem direito a voto para a maioria quando das eleições presidenciais).
Mas, vamos lá, o que é um programa de sócio-torcedor para começar? Tudo bem, você é um e já sabe. Mesmo assim, te convido para continuar aqui comigo que tenho certeza que alguma coisa vai ser útil – mesmo que seja para reclamar com o seu clube que algum outro tem alguma ideia que você queria que o seu também tivesse.
Resumindo: o programa de sócio-torcedor é um programa de fidelização do consumidor. Ou seja, esse programa busca manter o torcedor cada vez mais próximo do seu clube – e, de preferência, cobrando um valor a mais por mês.
Sabe quando você vai naquela sorveteria tomar uma casquinha no fim de semana? Então, certeza que te dão um cartãozinho que depois de um número de casquinhas você ganha uma de graça. Esse é a base de um programa de fidelização, e o sócio-torcedor é uma versão bem mais cheia de opções do que esse “cartãozinho do sorvete”.
Como exemplo, em troca da mensalidade num programa de sócio-torcedor você vai achar descontos nos setores do estádio, clube de vantagens, pré-venda exclusiva de ingressos para partidas e shows, desconto em rede de parceiros – ufa, cansei. Vários acessórios para garantir que você torcedor continue torcendo e gastando com o seu clube.
E em troca você ainda ganha revistas, acesso a experiências (como dias de treino, conversa com jogadores, e por aí vai), e o tal do rating ou ranking. Falando a verdade, como sócio-torcedor eu adoro tudo isso (e aquele tal do Movimento por um Futebol Melhor), só que o que é bom mesmo é essa história de comprar o ingresso antes e me garantir. Né?
Só que como a gente sabe, não é bem assim que funciona já que tem a “prioridade relativa à frequência”. E os clubes restringindo certos direitos a certos torcedores podem dar preferência para quem paga mais – tipo aquela história do fim da neutralidade da internet para quem tem visto essas coisas de computador, sabe? Assim, tem torcedor que mesmo sendo sócio-torcedor continua “chupando o dedo” quando seu time vai para a Libertadores e só pode assistir de casa o jogo. E o EDT diz que isso é (juridicamente) legal, então segue o jogo!
Agora, o sócio-torcedor é tão diferente assim dos outros torcedores? Sim, é.
E, para muitos, acaba sendo até melhor assim. O torcedor mais presente fica feliz com os ingressos antecipados, o clube fica feliz com o dinheirinho extra no fim do mês, e os parceiros do clube ficam felizes com a exposição (né, Crefisa?). O torcedor comum continua indo ao estádio quando pode, a torcida organizada continua na sua (com o seu cartão da paz se você for de São Paulo). E todo mundo responde se fizer besteira no estádio – e o seu clube também, então se comporte mesmo quando os jogadores do seu time não ajudam!
Só que… a gente não está esquecendo de ninguém? Afinal, qual a diferença entre o sócio e o torcedor?! Aí sim tem uma bela diferença! O sócio-torcedor pode até ser torcedor, mas muitas vezes não é sócio de nada (fora do clube de vantagens). O torcedor não faz parte da vida política do clube e não faz parte da vida do clube social – salvo raríssimas exceções.
Assim, o sócio-torcedor não pode votar em eleições – para o bem (as decisões do seu clube podem te afetar sem você ter voz) ou para o mal (o seu voto não interfere na vida do clube social que o sócio-torcedor não faz parte). Em alguns casos, os sócios dos clubes sociais são também sócios-torcedores. O que deixa bem clara a diferença entre esses dois tipos na vida dos clubes brasileiros – e as vezes bem complicada na cabeça de quem é de fora do esporte ou não vai nos estádios.
É, meu amigo… torcer não é fácil, não (e é mais difícil ainda se você torce para o meu time). E é por isso que é importante a gente saber quando que a gente é um torcedor, um sócio-torcedor, ou se a gente faz parte de uma torcida (organizada ou não). É assim que a gente deixa a nossa festa nos estádios ainda mais bonita – e com paz e tranquilidade sempre, por favor!
Espero que tenham gostado de mais um “Entre o Direito e o Esporte”, nosso mês sobre os torcedores fica por aqui e em março vamos conversar sobre um novo tema que a gente adora comentar: o contrato de trabalho do seu ídolo no seu time. Que tal?
Por hoje é isso! Aproveitem essa sexta-feira de calor em quase todo o Brasil… um bom final de semana a todos! Como de costume, a porta de casa está aberta e deixo meu convite para falarem comigo aqui, pelo meu LinkedIn (só achar meu nome lá), ou pelo Twitter (@RBarracco). Até semana que vem e valeu pela companhia de todas as semanas!

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Análise contextualizada

A tecnologia mudou o mundo e por tabela mudou o futebol. O número de informações que se gera de um jogador, de uma partida e de uma equipe é estratosférico. Se antes o empirismo, o achismo ou o chamado ‘olho clínico’ imperavam, hoje não se pode mais analisar um jogo ou até mesmo o mercado da bola sem informações fidedignas.
Posto isso, vem o mais importante: o conhecimento de quem analisa essas informações geradas e a sensibilidade para contextualizar os números em um contexto mais amplo, formam a parte mais importante e valiosa de todo esse processo.
Pegando, por exemplo, a análise de mercado: quando o Palmeiras contratou por cifras milionárias o atacante Borja no ano passado criou-se uma expectativa gigantesca em função dos números. Uma passada de olhos nos gols marcados por ele no segundo semestre de 2016 garantia que cada centavo gasto havia sido bem pago. Mas em algum momento se analisou qual o modelo de jogo que privilegiava as características de Borja fazendo com que ele fosse a rede tantas vezes? O Palmeiras teria esse mesmo modelo? Observação: o verdão teve três treinadores no passado (Eduardo Baptista, Cuca e Alberto Valentim). Cada um com uma ideia de jogo. Sem falar no aspecto emocional e comportamental.
Fizeram essa análise? Borja tinha ido para o futebol italiano, mas voltou rapidamente para a Colômbia por não se adaptar. Como foi a adaptação dele no ano passado com a cultura, clima e idioma aqui no Brasil? Isso pode explicar muito o desempenho de um atleta dentro de campo.
Contratar os melhores nomes do mercado não garantem a formação de um grande time. São inúmeros aspectos a serem analisados em cada contratação, permanência de jogador e até transição de quem está chegando da base. Os números frios não vão responder as perguntas certas que devem ser feitas. Não é só o técnico, nem só o tático, nem o físico e nem o emocional. O todo é maior que a soma das partes. O valor maior não está na informação. E sim no conhecimento para avaliar o que é mais adequado ao momento.