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PONTO CEGO – PARTE 3

Entenda o ponto cego que bloqueia progressões consistentes

Intrigado pelas instabilidades recorrentes que prevalecem em constante renovação nos clubes de futebol do território brasileiro devido às frequentes decisões superficiais voltadas a tão somente desqualificar treinadores profissionais, este estudo se orientou em revelar os efeitos colaterais desencadeados por transições de comando técnico durante o período competitivo. Curiosamente, muito embora a expectativa original por trás das decisões de mudança de liderança técnica condicione o pensamento convencional a acreditar que exista um suposto atalho ao sucesso, as experiências práticas testemunhadas por 30 profissionais ligados a uma múltipla variedade de comissões técnicas ao longo de suas carreiras no futebol brasileiro e internacional manifestaram uma direção oposta à expectativa dos dirigentes e da opinião pública. Isto é, contrário aos argumentos superficiais defendidos por quem frequentemente descarta treinadores sem embasamento objetivo no país, o desempenho e o rendimento esportivo de uma equipe profissional de futebol tendem a se reprimir, e não a progredir, mediante a volatilidade do seu comando técnico.

Ao encarar uma série de restrições e limitações desafiadoras durante as trocas de treinadores, os profissionais que operam nos bastidores da estrutura esportiva cultivam alternativas inovadoras para assimilarem, lidarem e se ajustarem tanto às rupturas de suas rotinas quanto aos distúrbios causados no processo de evolução coletiva. A escala e a direção desses distúrbios são impulsionadas por distintas combinações de expectativas, práticas de trabalho e comportamentos conflitantes nos domínios individual e coletivo da organização. Fundamentalmente, (uma ou mais) alterações de comando técnico ao longo da mesma temporada moldam uma cultura de restrições contraprodutiva para o clube, cujos efeitos colaterais afetam a mútua colaboração necessária para um melhor desenvolvimento esportivo com o capital humano que sustenta a cadeia de valor da instituição.

Líderes organizacionais que confiam no processo emergente de excelência coletiva tendem a empoderar o potencial humano e promover uma comunicação autêntica, a fim de apoiar uma mudança organizacional positiva. Nesse sentido, uma “mudança positiva” para um clube de futebol profissional representaria uma oportunidade de superar limitações pré-existentes, como os obstáculos já mapeados, antecipados e até bem conhecidos dentro de uma temporada competitiva. Para efeitos práticos, o treinador – aquele que foi inicialmente selecionado e empregado para liderar a equipe principal – receberia a confiança e o respaldo necessários para otimizar as interações com a cadeia de profissionais pertencente à estrutura esportiva da organização. Desse modo, uma “mudança” não deveria ser entendida como uma reposição de nomes em diferentes cargos, seja no posto do treinador ou qualquer outra função dos bastidores, pois tal decisão apenas se manifesta com a finalidade de transferir uma suposta culpa a uma única pessoa (ou grupo de pessoas, no caso de uma demissão de toda a comissão técnica) frente a cenários desafiadores durante a temporada. Pelo contrário, a “mudança” deveria se relacionar ao realinhamento de atitudes e/ou comportamentos entre os colaboradores do clube. Tal situação pode ser percebida como uma tensão positiva que fomenta padrões de aprendizado e inteligência coletiva. Ou seja, quando tratado devidamente como um organismo coletivo, um clube de futebol representa um sistema de tensões que alavanca possibilidades de progressão, em vez de uma entidade estática bloqueada pela reincidência de restrições.

Com base nesse raciocínio, os entrevistados reconheceram que os treinadores dependem prioritariamente de relações prósperas, tanto dentro como fora de campo. Para influenciar os padrões comportamentais de suas equipes, assim como o seu estilo de jogo competitivo mais desejado no contexto do futebol profissional, espera-se que os treinadores tenham condições de se envolver com treinamentos e métodos fluídos, sequenciais e reflexivos como parte do processo esportivo. Dessa forma seria possível oferecer um potencial de construção consistente dentro do clube. Entretanto, tão logo alterações de liderança técnica são impulsionadas com frequência durante a competição, o rendimento esportivo evidentemente demonstra uma contradição entre os distúrbios desencadeados por comandos voláteis e o cenário ideal defendido pelos especialistas das áreas de saúde e desempenho humano.

Dado o senso de urgência, impaciência e vulnerabilidade em que os treinadores profissionais de futebol operam, tensões fundamentais são originadas a partir de diferentes prioridades na relação de um novo treinador com os bastidores da estrutura esportiva. Embora o novo treinador carregue a expectativa de produzir sinais de melhoria imediata (a todo momento enquanto permanecer empregado), os profissionais do clube reconheceram que tensões podem vir à tona devido ao fato do seu foco estar voltado ao desenvolvimento dos jogadores em prazos superiores ao do novo treinador. Além disso, os profissionais também identificaram que, ao invés de transformar tensões em possibilidades de progressão, as trocas de treinadores involuntariamente criam uma cultura de restrições que permeia todos os participantes do processo esportivo. Nesse tipo de cultura contraprodutiva, comportamentos (auto)defensivos que visam reter o poder e o controle prevalecem nítidos entre os líderes da organização, como no caso dos dirigentes de clubes de futebol. Frequentemente, tais comportamentos contribuem para a formação de um sistema subdesenvolvido, cujo rendimento insatisfatório espelha os receios da liderança organizacional em atender novas normas e superar pressões internas. Ou seja, em vez de aceitar os desafios e possibilitar progressões com consistência, a cultura de restrições representa um contexto que reduz o potencial de colaboração humana.

Não se trata tão somente de cessar as oscilações de comando técnico ou de manter o(s) mesmo(s) treinador(es) empregado(s) ao longo da(s) temporada(s). Tal alegação se posicionaria tão superficial e irrealista quanto as decisões de descartes recorrentes e já proliferadas no território brasileiro. Na prática, a continuidade de um processo esportivo se baseia menos na estabilidade e mais na adaptabilidade de interações entre os agentes e suas estruturas. Sem testemunhar esforços mútuos entre a liderança e a rede de conexões internas da organização esportiva, torna-se menos provável que as restrições organizacionais sejam reformatadas rumo a possibilidades de transformação por meio da inteligência coletiva. Por exemplo, um novo treinador pode querer repetir a mesma escalação na sua equipe, utilizando os mesmos jogadores em partidas consecutivas, mas os profissionais da estrutura esportiva devem contabilizar e ponderar as demandas competitivas anteriores, assim como qualquer excesso de viagem ou ausência de descanso que possam conjuntamente afetar a recuperação dos jogadores entre as partidas em questão. Do mesmo modo, um novo treinador pode tentar persuadir um jogador que esteja se recuperando de uma lesão a pular etapas no seu período de transição e logo participar de sessões de treinamento mais intensas no campo, porém os profissionais da estrutura esportiva devem seguir rigorosamente os protocolos e critérios definidos pelas áreas de saúde responsáveis, a fim de assegurar que o jogador retorne ao campo somente quando apresentar as condições mais adequadas e realistas aos seus parâmetros individuais.

Apesar dos entrevistados terem reforçado a importância em saber inspecionar e orientar uma equipe de jogadores como uma complexa rede de interações humanas e movimentos comportamentais no campo (tanto em treinos como em competição), eles também enfatizaram como um novo treinador tende a se guiar por uma mentalidade defensiva na confecção do seu estilo de jogo, utilizando um pensamento convencional que o faz acreditar ser preferencial (e mais provável) evitar derrotas a fim de proteger o seu emprego. Contraditoriamente, entretanto, jogar com o foco na defesa costuma gerar menos controle da bola e condicionar espaços mais apertados para minimizar as ações do adversário, afetando as possibilidades de movimentos criativos com a bola para aumentar a precisão das oportunidades ofensivas durante os jogos.

Seguindo a argumentação dos entrevistados, conforme os novos treinadores priorizam os seus próprios métodos e preferências com o objetivo de reafirmar a sua posição hierárquica na instituição, os profissionais alertaram que repentinas modificações metodológicas representam um fator de risco desnecessário para o desenvolvimento dos jogadores. Particularmente durante a temporada competitiva, há relatos na literatura acadêmica sobre redirecionar a periodização de treinos de força com alternativas mais eficientes na aplicação de cargas segundo as condições individualizadas de cada jogador. Contudo, tanto o tempo disponível para treinamentos quanto o monitoramento de cargas nas sessões de treino são substancialmente afetados no contexto do futebol brasileiro, o que potencialmente leva os especialistas das áreas de saúde e desempenho humano a testemunharem maiores riscos de lesão, danos musculares e estresse fisiológico. Na prática, o processo voltado a monitorar as cargas de treinamento se destaca como um aspecto primordial nos bastidores de uma equipe de alto rendimento, sobretudo a fim de apoiar efetivamente a recuperação fisiológica e psicológica dos jogadores. Portanto, quando as prioridades do clube são subestimadas devido ao favorecimento orientado por trocas de treinadores, a impaciência míope que força resultados inevitavelmente compromete as estratégias de prevenção de lesões e controle de cargas durante a competição.

Canalizando os efeitos colaterais ao domínio individual dos entrevistados, tornou-se revelador como as alterações de comando técnico refletem um fenômeno problemático aos colaboradores do clube, tanto por uma perspectiva profissional quanto pessoal. De um modo geral, os membros dos bastidores da estrutura esportiva absorvem múltiplas ramificações que restringem o seu tempo, a sua confiança e os seus incentivos. Tais restrições travam a condução de tarefas de alta relevância para a organização. Por exemplo, monitorar e instruir apropriadamente os jogadores, resguardar os protocolos internos entre as áreas de apoio à comissão técnica, assim como estimular decisões com base em evidências contextualizadas aos jogadores e à equipe. Na realidade, a pressão absorvida pelos profissionais tende ainda a sofrer sobrecargas devido à incerteza da continuidade de seus empregos, à subjetividade dos estilos de liderança, além de contradições metodológicas originadas pela sucessão de comandos técnicos vulneráveis.

Ameaças iminentes são expostas ao entendimento dos entrevistados tão logo eles compartilham necessidades de apoio junto a novos treinadores que extrapolam a sua resistência frente às práticas já implementadas no clube, prejudicando a qualidade da comunicação interna no processo esportivo. Contraídos por um comportamento que limita o potencial humano ao invés de alavancar oportunidades rumo ao melhor rendimento, torna-se plausível reconhecer como lideranças que favorecem a imposição de metas e opiniões precipitadas acabam por gerar um senso de dúvida, impactando as relações interpessoais entre os profissionais que tentam preservar algum nível de consistência durante a temporada. Lamentavelmente, até mesmo os efeitos prejudiciais às condições de saúde dos colaboradores do clube aparentam passar despercebidos (tanto a eles próprios quanto aos líderes da instituição) conforme as trocas de treinadores se materializam, transportando desafios que ameaçam iniciativas de cuidado pessoal em longo prazo. Nesse cenário de descuido com o ser humano que ocupa distintas funções na estrutura esportiva, destacaram-se o enfraquecimento da (auto)confiança e da motivação, além de potenciais sintomas de esgotamento (burnout).

As noções de colaboração e aprendizagem mútua são reiniciadas a cada substituição de comando técnico. Sobretudo em cenários mais agravantes, caso o novo treinador centralize as decisões e articule ideias conflitantes, os profissionais da estrutura esportiva testemunham restrições em suas tentativas de estabelecer rotinas de trabalho, temporariamente repriorizando suas responsabilidades de modo a se adequarem ao novo regime de liderança. Além disso, o receio imposto por relações menos familiares e o desequilíbrio de poder na hierarquia do clube também atrapalham os esforços dos colaboradores em suas tentativas de harmonizar o ambiente e minimizar discordâncias com a maior cautela possível.

Essencialmente, o inevitável desentrosamento de práticas e comportamentos no trabalho conjunto entre o treinador, a comissão técnica e os demais especialistas das áreas de saúde e desempenho humano empregados pelo clube acaba por exigir e depender do “tempo” como um componente chave à sinergia. A partir do “tempo” como recurso prioritário, o processo que fomenta a excelência coletiva na rede de conexões que circunda o comando técnico poderia, enfim, progredir rumo a um desenvolvimento mais integrado e consistente. No entanto, a realidade que impulsiona as frequentes trocas de treinadores no território brasileiro oferece o “tempo” como um recurso renovável apenas nas oportunidades em que as especulações de curto prazo sejam atendidas com resultados numéricos favoráveis. Caso contrário, os profissionais que transitam nos bastidores demonstraram estar cientes que uma próxima mudança de comando torna-se previsível e que, novamente, acarretará distúrbios nas suas tentativas de construção de hábitos dentro do clube. Visto como os colaboradores são capazes de antecipar a repetição desse mecanismo, eles próprios aparentemente revisam a sua compreensão de práticas institucionais e passam a desempenhar comportamentos adaptáveis às transições de liderança. Isto é, enquanto os efeitos colaterais são negligenciados pelos dirigentes do clube, a ilusão de um atalho ao sucesso é renovada conforme os treinadores entram e saem do comando.

CONCLUSÃO

Este estudo buscou explorar uma área de notável relevância ao desempenho esportivo de uma equipe de futebol no contexto do alto rendimento brasileiro, direcionando o foco da investigação a um ângulo tipicamente ignorado pelas discussões sobre trocas de treinadores profissionais. Em suma, ao analisar os efeitos colaterais que são involuntariamente desencadeados aos domínios coletivo e individual da organização (nesse caso, um clube de futebol), o estudo fez-se valer de depoimentos substanciais para explicar as ramificações escondidas pelas mudanças de comando técnico, cuja reincidência inevitavelmente afeta o desempenho dos jogadores e dos profissionais que transitam nos bastidores da estrutura esportiva do clube. Fundamentalmente, uma cultura de restrições imposta por práticas de trabalho e comportamentos conflitantes revelou como os jogadores tendem a interagir, treinar e atuar durante a temporada competitiva mediante oscilações no regime de liderança. Ademais, os colaboradores que integram a comissão técnica e as áreas de saúde e desempenho humano demonstraram como novos treinadores frequentemente desafiam os seus compromissos, dificultando a construção de rotinas e práticas comportamentais que possam solidificar uma consistência interna ao desenvolvimento de longo prazo.

Embora o estudo justifique a continuidade, a harmonia e o entrosamento das lideranças técnicas junto às instituições que decidiram empregá-las para a condução de (pelo menos) uma mesma temporada, o conteúdo apresentado não pretende acomodar qualquer ingenuidade que possa desconsiderar trocas de profissionais em cenários onde líderes e colaboradores interagem por objetivos coletivos. Visando equipar uma plataforma de argumentação baseada em experiências confiáveis, este estudo revela o impacto colateral gerado por mudanças de treinadores durante a temporada competitiva. Portanto, os líderes organizacionais (nesse caso, os dirigentes dos clubes de futebol do Brasil) deveriam defender, preferencialmente, uma avaliação substancial nos bastidores da estrutura esportiva antes de uma eventual tomada de decisão sobre o treinador do momento. Isto é, ao questionar as potenciais ramificações e consequências internas que podem comprometer o presente e o futuro esportivo da instituição, torna-se mais realista evitar uma turbulência desnecessária aos domínios que valorizam efetivamente as prioridades do clube.

Dentro e fora de campo. Com e sem a bola. O futebol reflete, enfim, um jogo de comportamentos cujo progresso depende do entrosamento entre os seres humanos que colaboram pela mesma cadeia de valor.

“A prosperidade é a melhor protetora de princípios.”

Mark Twain

Para acessar o estudo completo, clique aqui.

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PONTO CEGO. ENTENDA OS EFEITOS COLATERAIS DAS MUDANÇAS DE TREINADORES NO BRASIL

PARTE 1 – Sinapses do desempenho humano e coletivo

No âmbito dos esportes coletivos, os treinadores atuam como líderes técnicos enquanto colaboram com especialistas das áreas de saúde e desempenho humano em uma estrutura multidisciplinar focada no desenvolvimento esportivo das suas equipes. Nesse sentido, os treinadores de futebol profissional buscam avaliar regularmente o fluxo de informações relacionadas aos comportamentos e posicionamentos dos seus jogadores, a fim de tornar possível o desenho de sessões de treinos que apoiem os seus estilos de jogo preferenciais durante um processo gradual de aprimoramento coletivo. Sobretudo a respeito da prática, um processo efetivo de treinamento no futebol desafia os treinadores a encontrarem intervenções apropriadas ao desenvolvimento de sinergias coletivas, as quais se sustentam por dinâmicas não-lineares e sistemas adaptáveis. Fora de campo, os mesmos treinadores também procuram usufruir do conhecimento e do fluxo interno de processos que integram a estrutura esportiva de seus respectivos clubes, beneficiando-se, por exemplo, pela intersecção de estratégias de controle de cargas e prevenção de lesões. Ao monitorar o equilíbrio entre desgaste e recuperação, os treinadores conduzem o retorno de jogadores lesionados mediante à reaproximação de suas condições ideais. Caso contrário, tanto os indivíduos quanto a equipe podem apresentar menor desempenho físico e técnico numa competição de alto rendimento.

Em consonância com esse raciocínio, existe uma interação contínua entre o treinador e os bastidores da estrutura esportiva em um clube de futebol, uma vez que o seu trabalho compartilhado impacta as decisões em torno do aprimoramento dos jogadores que compõem a equipe. Para exemplificar, muito embora os analistas de desempenho possam fornecer evidências contextualizadas para apoiar o trabalho dos auxiliares técnicos, tais informações ainda estão suscetíveis à interpretação final do treinador que lidera o processo esportivo. Ademais, os protocolos internos devem ser observados e respeitados de modo a proteger o fluxo de trabalho coletivo entre fisiologistas, fisioterapeutas e preparadores físicos, especialmente em situações que sinalizem indícios de alto risco de lesão em jogadores específicos. Ao reforçar tais procedimentos, melhores níveis de comunicação interna tendem a ser decisivos para aprimorar a disponibilidade de jogadores tanto em sessões de treinos como em competições. Portanto, entendendo como o treinador compartilha os
seus domínios profissionais com a comissão técnica e os especialistas das áreas de saúde e desempenho humano, optar por mudanças de comando técnico significa assumir riscos de perturbação, alteração e interrupção de rotinas de treinamento já estabelecidas e influentes nos bastidores da estrutura esportiva.

Apesar de pertencerem a um processo de treinamento complexo, dinâmico e interativo, onde o rendimento esportivo depende prioritariamente da cooperação existente entre os profissionais das áreas de saúde e desempenho humano, aliado às suas respectivas condições contextuais, os treinadores ainda permanecem submetidos a julgamentos superficiais que se baseiam estritamente no placar e no resultado numérico dos jogos de suas equipes. Considerando as típicas limitações de conhecimento técnico e esportivo por parte do corpo diretivo de um clube profissional no Brasil, tornou-se comum testemunhar a arbitrariedade de dirigentes que despacham frequentes demissões e alterações de comando técnico em todo o território. Sobretudo durante a temporada competitiva, tal decisão tende a ser defendida como uma marca registrada para supostamente solucionar situações momentâneas e renovar a esperança de placares favoráveis. Um selo de (in)eficiência para atender os anseios da opinião pública, cultivando a repetição de descartes sem a necessidade de apresentar análises substanciais sobre as consequências que uma eventual troca de treinadores ocasiona para os seres humanos diretamente envolvidos no processo de desenvolvimento coletivo de uma equipe de futebol profissional. Na realidade, entretanto, a alteração de um comando técnico inevitavelmente desencadeia uma série de efeitos colaterais devido à rede de conexões estabelecida em torno do treinador e a partir dele com relação aos demais colaboradores.

Ao analisar períodos sequenciais às trocas de treinadores, a literatura acadêmica tem identificado diferenças significativas em métricas de condicionamento físico, reportando declínios no Brasil e na Espanha, enquanto na Alemanha e na Polônia constatou-se apenas uma evolução muito limitada. Já na Inglaterra, oscilações frequentes de comando técnico costumam acarretar reações emocionais e comportamentais entre os profissionais ligados às áreas de medicina e ciências do esporte, além de mudanças no estado psicológico dos próprios treinadores envolvidos nas ocasiões. Coletivamente, os depoimentos ingleses apontaram para um caminho que reduz a confiança, o comprometimento e a motivação em seus ambientes de trabalho. Ainda assim, a maior parcela das investigações acadêmicas segue examinando o cenário pós-troca por meio de estatísticas que se concentram em resultados de jogos (via pontos, gols, sequência ou ausência de vitórias) e de tabelas competitivas (via posição momentânea ou final na competição, percentual de aproveitamento, classificação ou queda em torneio eliminatório).

Em suma, os sinais de aprimoramento qualitativo originados pelo trabalho dos treinadores e suas comissões técnicas têm sido desconsiderados, o que potencialmente desvaloriza as especificidades do desempenho esportivo em uma equipe de futebol profissional. Desconsidera-se, por exempo, o conteúdo das sessões de treinos, as movimentações e dinâmicas orientadas dentro e fora do campo de jogo, o desenvolvimento e a recuperação individual, a influência sobre comportamentos setoriais, além da progressão gradual de um estilo de jogo com base nas circunstâncias contextuais de cada clube. Consequentemente, torna-se prioritário enfatizar que, muito embora jogadores e equipes possam ser analisados com métricas que representem possíveis indicadores de sucesso, os reais efeitos provenientes do desempenho esportivo estão relacionados ao que acontece predominantemente em torno da equipe e dos seus adversários.

No contexto profissional, a modalidade exige práticas de treinamento voltadas a aprimorar comportamentos coletivos para otimizar variações técnico-táticas, assim como estratégias de condicionamento e recuperação que possam ser devidamente implementadas e controladas durante a temporada competitiva. Contudo, devido à prevalência de uma mentalidade especulativa que privilegia decisões superficiais no domínio organizacional, as mudanças de comando técnico durante o Brasileirão superam quaisquer parâmetros já calculados nas principais ligas de futebol da Europa, América do Sul e do Norte, ilustrando como os treinadores enfrentam desafios muito particulares no cenário brasileiro.

Nota: Entre 2011 e 2020, os treinadores profissionais permaneceram empregados por um período de 78 dias, em média, durante o Brasileirão, o que representa 37% da duração da competição nacional. Esse período inclui um total de 183 treinadores e 34 clubes.

Partindo para uma abordagem teórica, este estudo indaga a dimensão da instabilidade ocasionada pela sucessão de treinadores numa organização esportiva, utilizando os principais clubes de futebol do Brasil como uma referência para a investigação. Na medida em que os períodos voláteis de permanência na função de treinador difundem instabilidades recorrentes dentro de um clube de futebol, o objetivo desta pesquisa se volta a desmistificar a depreciação em cadeia acumulada entre as transições de treinadores. Para tal, ao entrevistar especialistas que participam diretamente do processo esportivo, o estudo se distancia de estimativas estatísticas e se concentra na realidade do alto rendimento em um esporte coletivo.

Ao todo, 30 profissionais com vasta experiência prática junto a comissões técnicas foram entrevistados no período entre 14/Janeiro a 25/Março de 2021. Todos os participantes trabalharam pelo menos um ano na Série A do Brasileirão durante a última década (2011 a 2020). A fim de atender o propósito central do estudo, uma atenção particular foi dedicada a atrair especialistas que já haviam testemunhado múltiplas trocas de treinadores no território brasileiro. Apesar da maioria dos entrevistados ter desenvolvido suas carreiras profissionais no Brasil, as suas experiências práticas também incluem passagens por ligas do exterior (Inglaterra, Espanha, Japão, China, Arábia Saudita) e participações em grandes competições internacionais (CONMEBOL Libertadores, UEFA Champions League, Jogos Olímpicos, Copa do Mundo da FIFA). Respeitando os princípios éticos da metodologia científica, todos os entrevistados e os seus respectivos depoimentos permanecem confidenciais e anônimos frente ao julgamento público.

Fundamentalmente, quando um clube de futebol toma a decisão de substituir o seu treinador profissional durante a competição, torna-se possível reconhecer como o domínio organizacional visualiza um efeito direto e intencional (por exemplo, vencer jogos). Entretanto, mudanças de comando técnico também desencadeiam efeitos indiretos e não intencionais, que por sua vez se espalham aos domínios coletivo (por exemplo, o ritmo de treinamento) e individual (por exemplo, a confiança de um colaborador). Tal interação entre diferentes domínios representa o conceito dos efeitos colaterais, também reconhecido popularmente como efeito cascata ou efeito dominó. Essencialmente, tão logo as ações se manifestem em um domínio superior, inevitáveis consequências tendem a ser disseminadas aos níveis inferiores da organização.

A fim de capturar os efeitos colaterais absorvidos indiretamente pelos especialistas que atuam ligados às comissões técnicas, bem como o impacto sentido pelos jogadores da equipe conforme os treinadores entram e saem do cargo durante a temporada competitiva, esta investigação revela, esclarece e acentua como as rotinas de trabalho tendem a ser desestabilizadas nos bastidores de uma mudança de comando técnico. Indagados a respeito das possíveis ramificações que uma alteração de liderança técnica gera em torno do desempenho da equipe, os entrevistados foram apresentados às seguintes questões sobre o domínio coletivo: Como as trocas frequentes de treinadores impactam o desenvolvimento da equipe na prática? O que acontece com os jogadores entre as transições de treinadores? Como a volatilidade do treinador realmente afeta o desempenho esportivo da equipe? Em seguida, partindo ao domínio individual, os entrevistados foram estimulados a compartilhar as percepções acerca das suas próprias experiências mediante o convívio com substituições de liderança técnica. As questões levantadas foram: Quais são os efeitos colaterais que uma troca de treinador ocasiona para o seu trabalho como profissional no clube? O que acontece com os especialistas ligados à comissão técnica entre as transições de treinadores? Como um novo treinador geralmente afeta a sua função?

Contemplando o contexto brasileiro, este estudo qualitativo responde exatamente às duas perguntas abaixo:

Interrogando os efeitos colaterais sobre o desempenho da equipe:

  • No domínio coletivo, como as mudanças de treinadores afetam o desenvolvimento dos jogadores?

Interrogando os efeitos colaterais sobre o desempenho individual:

  • No domínio individual, como as mudanças de treinadores afetam os profissionais ligados à comissão técnica?

A PARTE 2 revelará o cenário que acompanha as transições de treinadores nos domínios coletivo e individual, apresentando os principais efeitos colaterais que recaem sobre o desempenho da equipe e dos profissionais ligados às comissões técnicas.

Por fim, a PARTE 3 concluirá o estudo, refletindo acerca da importância em privilegiar o desenvolvimento progressivo e consistente na cadeia de valor que sustenta uma equipe competitiva no futebol profissional.

Para acessar o PDF do estudo completo, clique aqui.

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Dirigentes e Executivos dos Clubes Paulistas se capacitam em Workshops na Federação Paulista de Futebol

Crédito imagem: Rodrigo Corsi/Agência Paulistão

Os principais dirigentes e executivos dos clubes paulistas estão participando desde o início de 2022 do Programa de Capacitação MASTER FPF – LIDERANÇA E GESTÃO SISTÊMICA NO FUTEBOL. Esta é uma iniciativa organizada pela Federação Paulista do Futebol e Universidade do Futebol, com o apoio da LaLiga Business School.

Este programa provoca os principais tomadores de decisões do futebol paulista a pensarem sobre o FUTURO DO FUTEBOL, bem como as grandes e recorrentes questões da gestão de clubes de forma coopetitiva. Isto é, contempla a face competitiva dentro de campo e também a face cooperativa para tornar o futebol um negócio mais atraente para quem assiste, investe, trabalha e participa desta indústria.

Lucas D’Andrea (Inter de Limeira), Cleo Prado (São Paulo) e Tony Moreno (São Bernardo) durante o Workshop 3 na FPF. Foto: Rodrigo Corsi/Agência Paulistão

O programa contempla 6 Workshops presenciais na FPF, além de palestras online internacionais e extenso conteúdo de estudo a distância na plataforma da FPF Academia, com o suporte educacional da Universidade do Futebol. O objetivo deste programa é dar informações, gerar um ambiente de troca de conhecimentos e incentivar o networking e boa relação entre as principais lideranças que conduzem os clubes paulistas. Isto é fundamental para o desenvolvimento do futebol como um todo!

Foto do primeiro Workshop do Master FPF – Turma 1, ocorrido em Janeiro de 2022. Foto: Rodrigo Corsi/Agência Paulistão.

Nos workshops, os líderes estão vivenciando palestras nacionais e internacionais, exercícios individuais e em grupo, debates, trocas de experiências e conhecimentos sempre direcionados a pensar em conjunto a indústria do futebol como um todo.

Diogo Kotscho, Vice-presidente de comunicação do Orlando City, apresentando o Case do Clube para a Turma 1 do Master FPF ao longo do Workshop 2, ocorrido em Fevereiro. Foto: Anderson Rodrigues/FPF
Momento de atividade em grupo entre os participantes para co-criarem o FUTURO DO FUTEBOL ao longo do Workshop 2. Foto: Anderson Rodrigues/Ag. Paulistão.

Veja um exemplo mais específico. O Workshop ocorrido em 15 de Março foi o terceiro do MASTER FPF e teve como tema principal a Sustentabilidade do Futebol. Temas como SAF e demais formatos de clube-empresa, fair play financeiro e o diferente repertório de investimentos que deverão procurar os clubes foram trabalhados durante esse dia em que os gestores mergulharam intensivamente nesses temas. Todo este esforço levará esses gestores a conhecer o que há de mais novo e importante para levar o seu clube junto com o futebol paulista e brasileiro aos patamares mais elevados possíveis.

Tony Moreno (São Bernardo) fazendo uma pergunta aos debatedores durante exposição sobre os Impactos dos Clubes-Empresas no Brasil. Foto: Rodrigo Corsi/Agência Paulistão

Somado a esse rico ambiente presencial, no estudo online são ofertadas palestras ao vivo, de outros cases internacionais, com tradução simultânea, e um curso estruturado em 10 módulos com os temas mais importantes da gestão e do Futuro do Futebol profissional.

Registro da Palestra sobre o Case do Real Betis, com o Ramón Alarcon, Diretor Geral de Negócios do Real Betis.
Registro do Case do Atlético Nacional da Colômbia, contado pelo ex-presidente do clube, Juan Carlos de la Cuesta.
Esta ilustração mostra um trecho de uma aula disponível para os participantes do MASTER FPF, referente à Gestão Sistêmica do Futebol Feminino. Imagem: FPF ACADEMIA.

Este Master FPF é o início de um modelo de capacitação e formação de todos os dirigentes e executivos do Estado de São Paulo e que pode servir de inspiração e benchmarking para todos os centros do futebol brasileiro e internacional. É uma iniciativa inovadora que tem trazido excelentes percepções de valor pelos principais clientes desse programa, os próprios dirigentes e executivos. Leia alguns depoimentos de alguns deles sobre a importância do programa, o networking entre os dirigentes e o pensamento do futebol paulista como um todo.

Bruno Pessotti – Ferroviária S/A
Cleudimar Prado – São Paulo

O futebol precisa se cercar de todo conhecimento acadêmico para sistematizar o saber empírico que ele já acumula historicamente. O futebol precisa se organizar e acho que estruturar um conhecimento para isso é um passo fundamental para gente ter um modelo menos aleatório de gestão no futebol paulista e, com isso, diminuir as assimetrias que são características do sistema.

Muitas das coisas têm aplicação prática, é palpável isso, mas além da aplicação prática nos clubes, o objetivo do curso é promover uma reflexão em termos de analisar o sistema do futebol brasileiro, não só pensar no dia a dia prático do clube, mas analisar o produto de entretenimento que é o futebol.

Bruno Pessotti – Diretor Executivo da Ferroviária S/A

Acredito que primeiro é a capacitação, porque dentro de um clube, às vezes, você fica fechado dentro daquela função, dentro da sua diretoria. Aqui a gente está tendo a oportunidade de ter vários depoimentos diferenciados e isso é conhecimento que vamos agregando. A troca de experiência é sensacional, o networking é muito legal, e eu acredito que, à medida que o clube vai passando, você vai conseguindo se ver em algumas posições. Estava assistindo a palestra do Marcelo Paiva e eu me identifiquei, então você pode observar que está no caminho certo.”

Cleudimar Prado – Diretora do Futebol Feminino de Base do São Paulo
Genilson Santos – Grêmio Novorizontino
Lucas Balistiero – Inter de Limeira

A importância de um programa como esse, de um incentivo que a FPF sempre coloca a disposição dos clubes visando um crescimento profissional dos seus dirigentes e que isso seja transportado para a realidade dos clubes, fazendo com que, cada vez mais, se profissionalizem nas suas gestões, na maneira de conduzir o seu trabalho, fazendo com que esse futebol profissional possa ser bem representado em campo, cada vez mais valorizando as competições, mas, principalmente, fazendo um futebol melhor, mais rentável e sustentável.

Muito importante esse networking que é feito entre os clubes, porque, na verdade, vivemos problemas parecidos e com histórias de sucesso parecidas que devem ser compartilhadas, porque isso faz com que ninguém se sinta sozinho. Todos sabem que todos têm as suas dificuldades e as suas vitórias e isso, cada vez que é compartilhado, se torna muito rico em termos de conhecimento.

Genilson Santos – Presidente Executivo do Grêmio Novorizontino

O futebol como um todo precisa dessa evolução e o futebol paulista, nos últimos anos, vem na vanguarda desse processo e é muito importante que esse processo seja de duas vias, dos clubes e da federação, para que a gente possa alavancar o futebol paulista e brasileiro a níveis melhores, competindo melhor no mercado como um todo, não só no esporte, mas também com outras indústrias, como entretenimento e videogames.

A federação, além de estar puxando esse curso por ela, trazendo parceiros como a LaLiga e a Universidade do Futebol, que têm uma visão mais temática de todo o processo, ajudam muito aos clubes abrirem um pouco a visão e buscar soluções alternativas para elevar o nível do nosso futebol.

Lucas Balistiero – Presidente Executivo da Inter de Limeira

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Conheça a Escola de Futebol do FC Villanueva del Pardillo – Madri: entrevista com o diretor técnico Miguel G. Zárate

Crédito imagens: Arquivo João Paulo Medina

No último trimestre de 2021, a Universidade do Futebol teve a oportunidade de visitar na Espanha o F.C. Villanueva del Pardillo, município pertencente a comunidade autônoma de Madri. Nesta ocasião, João Paulo S. Medina, fundador da Universidade do Futebol, visitou o clube e pode conhecer suas instalações e funcionamento de sua Escola de Futebol. Foi recebido por seu Diretor Técnico, Miguel Garcia Zárate que apresentou alguns aspectos relevantes de seu projeto pedagógico, sintetizados na entrevista que se segue.

Miguel G. Zárate durante treinamento para jovens na Escola de Futebol do FC Villanueva del Pardillo

Observações: I. O conteúdo da entrevista conta com uma tradução livre do espanhol para o português. II. Existe uma versão desta matéria para os leitores e leitoras de língua espanhola. (Clique aqui para acessar).

Entrevista

1.  Conte-nos um pouco sobre a história do FC Villanueva del Pardillo e sua importância para o desenvolvimento do futebol para as crianças e jovens desta região da comunidade de Madri.

Nesta temporada (2021) o clube F.C. Villanueva del Pardillo celebra 30 anos de existência. Sem sombra de dúvida, trata-se de um clube de referência na prática do futebol para a população desta cidade, atendendo a uma grande demanda de meninos e meninas que cada vez mais querem jogar em nosso clube. Sobre a sua história tenho que destacar o nome de Juan Manuel Angelina, um aficionado que faleceu recentemente e que deixou um vazio enorme. Em sua homenagem mudamos o nome do estádio este ano.

Aula de futebol para crianças entre 08 e 10 anos
2. Quantos alunos tem a Escola de Futebol e quantas categorias existem hoje?

Atualmente contamos com mais de 300 alunos/jogadores inscritos, tendo a possibilidade de possuir mais de uma equipe em cada categoria. Temos desde a geração de 2015-2014 (pré-infantil) até 2005-2003 (juvenis) somando um total de 16 equipes da Escola propriamente dita e mais 4 equipes de aficionados, entre elas uma equipe feminina, a primeira da história do clube.

3. Qual é a estrutura da Escola de Futebol? Quantos funcionários tem?

No momento nos encontramos dentro de um processo de crescimento no qual estamos tentando profissionalizar mais os departamentos já existentes. Na Diretoria do clube temos como Presidenta a senhora Yolanda González e na Direção Esportiva dividimos o trabalho entre as equipes Seniors ou Aficionados e as equipes da Escola, como citado anteriormente.

A Diretoria Esportiva está formada por um diretor esportivo, Antonio Carcaño e um diretor da Escola, Miguel Garcia Zárate, com Pablo del Pino, como auxiliar da coordenação. Nosso principal objetivo é oferecer aos treinadores as melhores condições possíveis para poder fazer seu trabalho formativo com os alunos/jogadores. Além disso, contamos com um Departamento de Fisioterapia e Reabilitação, um Departamento de Captação e um Departamento de Goleiros.

4. E os professores? Quantos são? Que tipo de capacitação necessitam para trabalhar com os meninos e as meninas?  

Em nossas equipes da Escola temos um total de 25 treinadores, contando com os treinadores auxiliares, que ajudam os jogadores a melhorarem seu desempenho e a disfrutarem o dia a dia dos treinamentos e jogos.

Na Espanha a titulação mínima exigida para poder treinar a qualquer equipe é o Nível 1 de Técnico Superior Esportivo (Título Acadêmico), sendo o Nível 3 o máximo ou indistintamente a UEFA C (Título Federativo) que equivale ao Nível 1, sendo a UEFA PRO o nível máximo.

5. Que tipo de metodologia vocês utilizam para o desenvolvimento das aulas ou treinamentos? Existe um caderno de princípios?

Pelo contexto que se encontra o clube hoje em dia, é muito difícil seguir-se uma metodologia de trabalho unificada, ou seja, uma mesma linha de trabalho para todos os níveis, uma vez que em nossa realidade temos equipes que exigem um grau maior de complexidade em seus treinamentos diários e equipes competindo em um nível de maior competitividade que envolve uma complexidade mais alta e equipes de iniciantes em que essa complexidade tem que evoluir em progressão e adaptado ao grau de maturidade dos jovens jogadores. Por isso, seguir uma metodologia de trabalho comum é muito complicado. Assim sendo, preferimos que nossos treinadores sejam encarregados de transmitirem um modelo de jogo adaptado às suas necessidades. Mas ao mesmo tempo damos muita importância a que os treinadores não centrem seu trabalho nos resultados. Muito pelo contrário, entendemos que quanto maior é a formação individual e coletiva, além de um bom processo de ensino-aprendizagem calcado no ensino de valores, o resultado é algo que virá acompanhado no futuro.

Por outro lado, temos um Caderno de Princípios e fichas de Treinamento que utilizamos, sobretudo, nas categorias de iniciação, onde os jovens têm que aprender o futebol desde zero e, por isso, nos apoiamos em um caderno de trabalho com princípios de jogo mais básicos para que a progressão seja a melhor possível, sempre apoiando-nos nos jogos e no prazer de todos os alunos/jogadores.

Treinamento da equipe juvenil, ministrado pelo Prof. Miguel Zárate
6. Como vocês administram, de forma geral, o grande interesse competitivo, tanto dos alunos/jogadores, quanto dos seus pais, com a necessidade de que a criançada simplesmente desfrute o prazer de jogar? Este aspecto é tratado de maneira distinta com o passar dos anos? Qual é a filosofia da escola sobre este assunto?

Eu diria que, seguramente, este é um dos temas mais difíceis para se administrar. Temos que aprender a conviver com a derrota; no futebol se perde muito mais vezes do que se ganha e por isso é muito importante ensinar os jovens jogadores a canalizar o interesse competitivo, despertando neles o gosto pelo ato de jogar, por aprender e conhecer mais sobre o esporte que praticam. E isso só se pode conseguir com bons formadores, ou seja, educadores além de treinadores. O treinador de futebol de base tem que ser antes que tudo, um bom formador e despertar nos jovens o prazer de desfrutar o jogo e vontade de aprender antes de ganhar. Assim que quanto mais jovens sejam, mais tentamos desviar o trabalho competitivo e centralizarmos no formativo, fazendo-os perceber que se a equipe tem uma boa base de conceitos e que estão bem trabalhados, sendo uma equipe unida e que desfrutem o dia a dia de convivência, os êxitos chegarão mais cedo e serão mais duradouros que se focarmos nosso trabalho em ganhar a curto prazo. Há que se entender a formação como um processo de longo prazo, onde os únicos vencedores serão os garotos e garotas que praticam o esporte que mais gostam.

Aula de futebol para crianças de 6 a 7 anos de idade.
7. Como o clube se mantém econômica e financeiramente?  

Depois de atravessarmos uma pandemia, bem como uma série de dificuldades econômicas, a principal fonte de receitas do clube é a Escola de Futebol. Por outro lado, seria muito importante a chegada de patrocinadores que pudessem dar um pequeno impulso e desta maneira podermos melhorar as condições gerais para nossos jogadores e alunos.

8.  Em sua opinião o que caracteriza uma boa Escola de Futebol?

Para mim – como diretor esportivo – o mais importante e que pode se caracterizar como um fator diferencial em relação a outras escolas, é o alto nível de seus formadores/treinadores. Neste sentido, as equipes são o reflexo de seus treinadores. Se eles têm o foco de trabalho na boa formação isto pode se constituir em um fator que irá fazer com que a Escola de Futebol tenha uma identidade própria e, consequentemente, suas equipes se diferenciam das demais.  

9. Considerando os aspectos pedagógicos, qual é a questão mais difícil de se administrar com os alunos e os pais ao mesmo tempo?

O aspecto mais difícil de lidar, sem sombra de dúvidas, é a hora de relacionar a lista dos jogadores escalados. Infelizmente, não se pode escalar 30 crianças para jogar em uma mesma equipe de futebol.  O fato de o treinador ter que comunicar aos demais jogadores que eles estão fora da lista é a coisa mais difícil para se fazer no futebol de base. Sempre tomamos essas decisões em função do que acreditamos que é o melhor para cada um, mas nem todos os pais e garotos e garotas aceitam este tipo de decisão. 

10.  Hoje em dia, o que se espera de um jogador de futebol de alto nível é que seja inteligente, seja capaz de tomar decisões individuais e coletivas, seja criativo, valente, que não tenha medo de correr riscos e que acima de tudo se divirta ou desfrute com suas práticas. O que fazer para garantir um tipo de ambiente que estimule estas complexas competências no treinamento e, sobretudo, nos jogos?

Creio que você não podia resumir melhor aquilo que se espera de um futebolista de alto nível. Sem entrar nos aspectos mais técnicos o que, de verdade, diferencia um jogador de outro é essa criatividade, sua capacidade para tomar decisões, sua valentia e personalidade dentro e fora do campo. Alguns desses aspectos são, as vezes, difíceis de se trabalhar devido ao tempo disponível de treinamento e os recursos que temos no clube, mas com conversas individuais ou coletivas, onde o treinador pode trabalhar alguns aspectos mentais e motivacionais, podem ser um fator importante de potencialização do rendimento e que sem dúvida ajuda os jovens. Por isso, acredito que o bom treinador não é aquele que só os ensina a marcar gols pela equipe, mas também trabalha os aspectos mentais, táticos, técnicos, físicos… Hoje em dia há que ser muito completo para que o jogador tenha um bom processo de formação e que ajude em sua melhora de rendimento.

Respostas em vídeo:

Pergunta 1 – Como é liderar jovens que hoje em dia têm muitos outros interesses além do futebol? Como garantir sua motivação para jogar futebol?
Pergunta 2 – Gostaria de falar sobre o tema da Criatividade. Observa-se que os jogadores espanhóis são muito bons no fundamento do passe e é claro que se pode ser criativo também com os passes, mas como criar um ambiente que se possa desenvolver a criatividade incluindo-se o drible como fundamento importante?
Pergunta 3 – Em sua opinião, quais são as principais virtudes do futebolista espanhol se comparados a outras nacionalidades europeias e mundiais?

Direção do F.C. Villanueva del Pardillo

Como curiosidade, e para encerrar esta matéria, apresentamos a atual composição diretiva do F.C. Villanueva del Pardillo, que tem como Presidente uma mulher, Yolanda González.

Veja a composição estatutária do clube.

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Entrevistas

Conoce la Escuela de Fútbol del F.C. Villanueva del Pardillo – Madrid: entrevista con el Director Técnico Miguel G. Zárate

Crédito Imágenes: Archivo João Paulo Medina

En el último trimestre de 2021 la “Universidade do Futebol” tuvo la oportunidad de visitar en España el F.C. Villanueva del Pardillo, en el municipio perteneciente a la Comunidad Autónoma de Madrid. En ésta ocasión, João Paulo S. Medina, fundador de la Universidade do Futebol, ha visitado el Club, conociendo sus instalaciones y el funcionamiento de su Escuela de Fútbol. Fue recibido por su Director Técnico, Miguel Garcia Zárate que presentó algunos aspectos relevantes de su proyecto pedagógico, sintetizados en la entrevista que sigue a continuación.

Prof. Miguel G. Zárate durante entrenamiento en la
Escuela de Fútbol do FC Villanueva del Pardillo

Observação: Existe uma versão desta matéria em português para os leitores brasileiros ou que falem o idioma (clique aqui para acessar).

Entrevista

1. Cuéntanos un poco sobre la história de F.C. Villanueva del Pardillo y su importancia para el desarrollo del fútbol para los jóvenes en este ayuntamiento.

Esta temporada el club celebra su 30 cumpleaños, sin lugar a dudas es el club referente del pueblo y así se demuestra año con una increíble demanda de chicos y chicas que cada vez más, quieren venir a jugar a nuestro club, sobre su historia tengo que destacar el nombre de Juan Manuel Angelina, un aficionado que falleció durante la cuarentena y que dejó un vacío enorme, en su honor este año han cambiado el nombre del estadio.

Clase de fútbol para niños entre 08 y 10 años
2. ¿Cuántos alumnos tiene la escuela de fútbol y cuántas categorías hay?

Actualmente contamos con un más de 300 jugadores inscritos, teniendo la posibilidad de tener más de un equipo en cada categoría. Tenemos desde la generación de 2015-2014 (Prebenjamines) hasta 2005-2003 (Juveniles) haciendo un total de 16 equipos de escuela y 4 equipos aficionados, entre ellos 1 equipo femenino, el primero de la historia del club.

3. ¿Cuál es la estructura de la escuela de fútbol? ¿Cuántos empleados hay?

Ahora mismo nos encontramos dentro de un proceso de crecimiento en el que intentamos profesionalizar los departamentos ya existentes.  Por un lado se encuentra la Junta Directiva con Yolanda González que actúa como Presidenta del club y por otro lado dentro de la Dirección deportiva dividimos el trabajo por un lado los equipos Senior o Aficionados y por otro lado los equipos de la escuela que ya he citado anteriormente.

El equipo deportivo esta formado por un director deportivo, Antonio Carcaño y un director de escuela, Miguel Garcia Zárate con un ayudante en la coordinación, Pablo del Pino. Nuestro principal objetivo es dotar a los entrenadores de los mejores medios para poder hacer su trabajo formativo con los jugadores lo mejor posible. Además podemos contar con un departamento de Fisioterapia y Readaptación, con un departamento de captación y con un departamento de porteros.

4. ¿Y profesores? ¿Cuántos hay? ¿Qué clase de capacitación necesitan para trabajar con niños o niñas?

En nuestros equipos de escuela hay un total de 25 entrenadores contando con entrenadores auxiliares, que ayudan a los jugadores a mejorar y a disfrutar día a día. En España la titulación mínima que piden para poder entrenar a cualquier equipo es el Nivel 1 de Técnico superior Deportivo (Títulos Académicos) siendo el Nivel 3 el máximo o indistintamente el UEFA C (Titulo Federativos) que equivale al Nivel 1 siendo el UEFA PRO el nivel máximo.

5. ¿Qué tipo de metodología utilizan para desarrollo de las clases o entrenamientos? ¿Hay un cuaderno de principios?

La metodología de trabajo por el contexto que nos encontramos en el club, es muy difícil seguir una misma línea de trabajo en todos los equipos ya que nuestra realidad es que tenemos equipos compitiendo en máximas categorías que por tanto demandan un nivel de complejidad alto en sus entrenamientos diarios y equipos que se encuentran compitiendo en categorías más bajas y que esa complejidad tiene que ir en progresión y adaptada al nivel del equipo. Por ello el seguir una metodología de trabajo común es muy complicada, por ello los entrenadores son los encargados de transmitir a sus equipos un modelo de juego adaptado. Paralelamente damos mucha importancia a que los entrenadores no centren su trabajo en los resultados, todo lo contrario, entendemos que cuanto mayor es la formación individual y colectiva, además de una buena enseñanza en valores, obtener los resultados es algo que vendrá acompañado en un futuro. Tenemos un cuaderno de principios y unas fichas de entrenamiento que sobre todo las utilizamos en las categorías más bajas, donde los más pequeños tienen que aprender a jugar al fútbol desde 0 y para ello nos apoyamos en un cuaderno de trabajo con los principios de juego más básicos para que la progresión sea la mejor posible, siempre apoyándonos en los juegos y en el disfrute de todos los jugadores.

6. ¿Cómo se gestiona en general el gran interés competitivo (de los niños y de los padres) con la necesidad de que los chavales simplemente disfruten del placer de jugar? ¿Es esto tratado de manera distinta con el pasar de los años? ¿O sea, cuál es la filosofía en este tema?

Te diría que es de los temas mas difícil de gestionar, tenemos que aprender a convivir con la derrota, en el fútbol se pierde muchas más veces de las que se gana y por ello es muy importante enseñar a los jóvenes jugadores a canalizar el interés competitivo, despertando en ellos el gusto por el juego por aprender y conocer más sobre el deporte que practican. Esto solo se puede conseguir con buenos formadores, que no entrenadores. El entrenador de fútbol base tiene que ser antes un buen formador y despertar en los chicos ese disfrute por el juego y ganas de aprender antes que de ganar. Por lo tanto cuanto mas pequeños son, más intentamos desviar el trabajo competitivo y centrarnos en el formativo, haciéndoles ver a los jugadores que si el equipo tiene una buena base de conceptos y que están bien trabajados, además de que es un equipo unido y que disfrutar día a día, los éxitos llegarán antes y serán mas duraderos que si centramos nuestro trabajo en ganar a corto plazo. La formación se tiene que entender como un proceso a largo plazo donde los únicos ganadores son los chicos y chicas que practican el deporte que más les gusta.

7. ¿Cómo se mantiene económicamente la escuela de fútbol?

Después de atravesar una pandemia, y una serie de dificultades económicas la principal fuente de ingresos es la escuela, para nosotros sería muy importante la llegada de patrocinadores que puedan dar un pequeño impulso y de esa manera poder dotar de más medios a todos nuestros jugadores.

8. ¿En tu opinión, ¿qué caracteriza una buena escuela de fútbol?

Para mí lo más importante y que puede llegar a caracterizar o ser un factor diferencial respecto a otras escuelas es el nivel de formadores/entrenadores que hay. En este sentido los equipos son reflejo de los entrenadores que tiene y por ello un buen trabajo en la base con entrenadores donde su foco de trabajo este en la formación puede ser un factor que haga que una escuela de fútbol tenga una identidad propia y los equipos se diferencien de los demás.

9. ¿Cuál es el aspecto más difícil de se gestionar con los alumnos y con los padres a la vez?

El aspecto más difícil sin lugar a dudas es a la hora de confeccionar las plantillas, por desgracia no pueden jugar 30 niños en un equipo de fútbol y para los entrenadores, comunicar a otros chicos que tienen que jugar en otro equipo es sin dudas lo más duro del fútbol base. Siempre se tomarán esas decisiones en función de lo que creemos que es mejor para cada chico, pero no todos los padres y chicos respetan este tipo de decisiones.

10. Hoy en día, se espera que un jugador de fútbol de alto nivel sea inteligente, sea capaz de tomar decisiones individuales y también colectivas, sea creativo, valiente, que no tenga miedo de correr riesgos y que por encima de todo se divierta o disfrute. ¿Qué hacer para garantizar este tipo de ambiente que estimule estas complejas competencias en el entrenamiento y, sobretodo, en los juegos?

Creo que no podías resumir mejor lo que se pide en un futbolista de alto nivel, sin entrar en los aspectos técnicos, que muchos tienen un nivel altísimo, lo que de verdad diferencia un jugador de otro es esa creatividad y toma de decisión, jugadores valientes y con personalidad dentro y fuera del campo, es otro de los aspectos que a veces es muy difícil de trabajar por el tiempo de entrenamiento y los medios que tenemos en el club, pero a veces con charlas individuales o colectivas donde el entrenador trabaje eso aspectos mentales y motivacionales puede ser un factor de rendimiento importante que ayude a los jugadores. Por ello, el buen entrenador no es el que les enseña a meter goles por la escuadra sino también el que trabaje aspectos mentales, tácticos, técnicos, físicos… hoy en día hay que ser muy completo para que el jugador tenga un buen proceso de formación y que le ayude en su mejora de rendimiento.

Equipo técnico del la Escuela de Fútbol con Presidente de la “Universidade do Futebol”, João Paulo S. Medina y niños-alumnos.

Respuestas por vídeo:

Pregunta 1 -¿Qué es liderar a los jóvenes que en estos días tienen muchos otros intereses, además del fútbol? ¿Cómo garantizar su motivación para jugar al fútbol?
Pregunta 2 – Me gustaría hablar contigo sobre el tema de la creatividad. Se observa que los jugadores españoles son muy buenos en el fundamento del pase y seguro que se puede ser creativo también con los pases, pero, ¿cómo crear un ambiente en el que se pueda desarrollar la creatividad, incluyendo el regate como uno de sus importantes fundamentos?
Pregunta 3 – En tu opinión, ¿cuáles son las principales virtudes del futbolista español en comparación con otras nacionalidades europeas y mundiales?

Junta Directiva del F.C. Villanueva del Pardillo

Como curiosidad y para finalizar, presentamos la composición directiva del F.C. Villanueva del Pardillo, que tiene como Presidente a una mujer, señora Yolanda González.

Mire la composición estatutaria del Club.

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