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Caros amigos da Universidade do Fubebol,
Como sabemos, o DRC (Dispute Resolution Chamber) da FIFA decidiu recentemente punir o jogador romeno Adrian Mutu com uma multa no valor record (para atletas de futebol), no valor de 17.17 milhões de euros.
Referida decisão foi proferida em decorrência de reclamação protocolada pelo seu ex-clube, FC Chelsea, da Inglaterra, após a confirmação de alegados exames positivos de substâncias ilícitas no organismo do jogador.
O clube alega que o jogador, com esse teste, descumpriu os termos de seu contrato de trabalho (o qual determina que o jogador tenha uma conduta digna de acordo com a sua profissão), o que obrigou o clube rescindir o contrato.
Essa decisão revela uma grande tendência do futebol moderno. Como sabemos, e repetimos insistentemente neste espaço, após a decisão do jogador Bosman, os atletas de destaque passaram a se beneficiar com uma inflação desmedida de seus salários e respectivos valores de transferência.
Hoje chegamos ao ponto de tamanho disparate entre os grandes salários (nas mãos de poucos jogaodores – topo da pirâmide), e os incontáveis atletas que praticamente pagam para jogar futebol, constituindo a grande base da pirâmide.
Diversas reações, por parte de diversas organizações, hoje tentam minimizar esse “gap” entre jogadores (e de clubes por conseguinte). Custo de controle, governança corporativa nos clubes, proteção a clubes formadores, etc.
Mas a que podemos observar com o caso Mutu é que, os jogadores passam a ter maior responsabilidade. Os jogadores, principalmente aqueles em destaque, são cada vez mais cobrados por manter uma imagem condizente com a imagem e história do clube que atuam, e também que possam servir de exemplo aos milhares de fãs que o acompanham ao redor do mundo.
Por outro lado, não vemos essa responsabilidade como uma excludente para que a estrita legalidade esteja presente. Por trás de toda a atividade punitiva de organizações desportivas ou de tribunais administrativos ou arbitrais, há que se verificar a existência de uma prévia disposição legal, regulatória ou contratual válida.
No caso do atleta Mutu, por exemplo, aparentemente existe disposição contratual clara que ampare uma reação punitiva por parte do clube. Em outros casos, a questão pode se debruçar na disposição legal da responsabilidade civil e consequente obrigação de reparar um dano causado a outrém (no caso, o clube).
Outra questão interessante, é a forma de cálculo dessa punição. Esse cálculo também deve estar claramente estabelecido, quer no listema legislativo ou regulatório aplicável, quer na relevante jurisprudência. A multa de Adrian Mutu foi calculada com base no salário do jogador e no tempo restante para o término de seu contrato (uma clara correspondência, guardadas as devidas proporções e especificidades) às recentes decisões dos casos Webster, além de Bayal e Soto (todos do CAS).
Dessa forma, considerando que o caso Mutu foi também levado ao CAS, grandes chances de se manter a multa conforme determinado pelo DRC. Mas tudo dependerá do que for alegado pelas partes, especificidades do caso, etc.
Sobretudo, temos que ficar atentos à nova realidade do atual futebol. Os jogadores devem se precaver, pois uma maior liberdade, maiores oportunidades e maiores remunerações, trazem consigo maior responsabilidade. E eles devem estar preparados para isso.
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C'est la vie
Dependência excessiva dos direitos de televisão, pouca qualidade em campo, poucos jogadores de renome internacional e, acima de tudo, péssima estrutura comercial dos estádios.
E um relatório mostrando tudo isso e pedindo mudanças por longas cento e sessenta e algumas páginas.
Poderia parecer algo da Itália, mas não é. Poderia também parecer alguma coisa do Brasil. Também não é.
O relatório é um panorama geral do estado atual do futebol francês. É. Francês. O país que sediou a Copa do Mundo há dez anos atrás. O país que remodelou seus estádios para hospedar o maior evento futebolístico do planeta. Esse mesmo país clama hoje por reformas em seus estádios.
O documento, entitulado “Accroître la compétitivité des clubs de football professionnel français”, foi escrito por Éric Besson, Secretário do Estado de Prospecções e Avaliações de Políticas Públicas da França. Lá, ele fornece números para provar que o futebol francês precisa de mudanças urgentes. Além dos estádios, ele reclama dos patrocínios, do desequilíbrio do campeonato e da baixa qualidade de performance das equipes francesas nas competições européias.
Em determinado momento, ele disserta sobre o fato dos impostos afastarem jogadores mais qualificados do território francês, o que possui reflexo direto na performance das equipes nos campeonatos europeus. Mas chega à conclusão de que não tem como mudar isso.
No fim das contas, o relatório é muito semelhante a qualquer outro relatório produzido em qualquer outro lugar do mundo que não Inglaterra e Alemanha. Sinal de que não basta estar em um país rico para se ter um futebol aparentemente saudável, ainda que existam incontáveis reclamações da comunidade local.
Faça-se ressalva, porém, à importância do futebol na cultura francesa, que nem chega perto de países como a Espanha e as supracitadas Alemanha e Inglaterra. O fato de Paris ser uma cidade com pouca cultura futebolística também não ajuda em nada o desenvolvimento do futebol local.
De qualquer maneira, é uma leitura elucidativa. Para achar o documento, basta colocar o nome no Google. É tão bom quanto qualquer documento público sobre o futebol. Vários dados e inúmeras informações. Resta saber se servirá para alguma coisa.
Na Inglaterra, um documento público mudou o rumo do futebol local. No Brasil, nem tanto.
É a vida.
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Carta aberta ao João Paulo Medina
Meu muito querido amigo,
Depois de conhecê-lo e de consigo dialogar fraternalmente, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde o João Paulo era, há 21 anos, o professor de futebol; depois de reler o seu livro, A Educação Física cuida do corpo… e “mente”; depois de ter sentido a inquietude contínua do Lino Castellani Filho e do João Batista Freire, depressa concluí, nesse Brasil, eterno caminhante da Esperança: que era preciso analisar, com atenção, a interpretação latino-americana de Marx; que, filho de uma Europa debilitada por um profundo cepticismo, nascia um pensamento novo, na franca disponibilidade e profunda curiosidade da América Latina; que o futebol brasileiro não se distinguia unicamente pela valia técnica dos seus jogadores, mas também pela qualidade invulgar de alguns dos seus treinadores. Posso acrescentar, hoje, sem leviandade, que entre os técnicos de futebol mais qualificados com que fiz amizade, em toda a minha vida, está o seu nome.
Eu já me tinha doutorado e defendia, contra uma multidão de plumitivos, que a área da impropriamente denominada “educação física” se fundamentava num novo paradigma científico, a ciência da motricidade humana (CMH), onde cabiam a Educação, a Saúde, o Trabalho, o Lazer e o Desporto; que não havia necessidade de preparadores físicos, mas de metodólogos do treino que criassem exercícios onde a complexidade humana do jogador estivesse presente e… não só o físico; que, pela CMH, o ser humano deve. Deve lutar contra todas as formas de alienação e de exploração; deve lutar contra o positivismo que separa os factos dos valores; deve lutar em prol da utopia e da esperança.
O meu amigo escutava-me e, com liberdade crítica, acrescentava ao meu discurso mais uma ou outra ideia, onde o meu teoricismo não chegava. Tendo nascido e vivido, até aos 50 anos, à beira de um estádio de futebol, convivi com muitos dos nomes maiores da história do futebol português. Só que nunca pratiquei futebol profissional, como jogador ou treinador. E quem não pratica não sabe! Como modestíssimo filósofo, tento redescobrir aquilo que esclarece o presente e anuncia o futuro. Quando me ocupo do futebol (a minha modalidade preferida) não o faço como especialista do futebol, mas como filósofo que interpreta, no futebol, os sinais do tempo. E o João Paulo de tal forma se sintonizava com um futebol-emancipação que ousei classificá-lo como o primeiro verdadeiro intelectual que conhecera, no mundo do futebol! E, para além do mais, pessoa de admirável formação moral em quem passei a confiar como se de um irmão se tratasse! Recordo que ambos realçávamos (porque conferíamos primazia à complexidade Humana sobre o físico, isolado do todo) a importância da liderança, no trabalho quotidiano do treinador desportivo. É o homem (a mulher) que se é que triunfa no treinador que se pode ser.
Em conversas com antigos alunos meus que não têm êxito, como treinadores, na alta competição, não tenho dúvidas em declarar a cada um deles: “O que você aprendeu, na Universidade, não lhe basta para ser treinador, com êxito. E porquê? Porque é bem possível que você não seja um líder; porque muitos dos seus professores desconheciam a alta competição; porque os currículos escolares, na Universidade, podem fazer estudiosos do desporto, mas líderes não fazem, com toda a certeza”.
Não basta um conhecimento livresco, é preciso viver. Os médicos, os advogados, os engenheiros, etc., etc. não são experientes e competentes, logo no dia em que findam os seus cursos universitários, mas após muitos anos de prática profissional. Por isso, nos cursos universitários de desporto, bem é que se promova o respeito pelo saber de treinadores de grande prática e sucesso, embora não tenham passado pela Universidade. Demais, o principal objectivo de uma disciplina não é tanto acumular conhecimentos, mas contribuir ao nascimento de novos modos e novas estruturas de pensamento. O meu amigo sabia tudo isto, porque trabalhava, no futebol, com os melhores treinadores brasileiros. Não, nem o meu amigo, nem eu, defendíamos a ausência do ensino escolar, na profissão de treinador de futebol. Éramos universitários, com honra e prazer. Acentuávamos tão-só o primado da realidade objectiva sobre a idealidade das formas cognoscitivas.
O conhecimento (e portanto o conhecimento do futebol) assenta e radica, primordial e determinantemente, na própria realidade objectiva. Ocorre-me, neste passo, o Karl Marx de A Ideologia Alemã: “A consciência não pode ser outra coisa senão o ser consciente e o ser dos homens é o seu processo de vida real”. Há uma falsa consciência em quem teoriza e não pratica, porque não tem em conta as relações entre o ser e o pensar. Volto a uma frase que eu, com alguma felicidade, criei: não é pensando que somos, mas é sendo que pensamos!
A carta vai longa. Sou forçado a terminá-la. E faço-o com gratidão, admiração e amizade. Seu amigo,
Manuel Sérgio
*Antigo professor do Instituto Superior de
Educação Física (ISEF) e um dos principais pensadores lusos, Manuel Sérgio é licenciado em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa, Doutor e Professor Agregado, em Motricidade Humana, pela Universidade Técnica de Lisboa.
Notabilizou-se como ensaísta do fenômeno desportivo e filósofo da motricidade. É reitor do Instituto Superior de Estudos Interdisciplinares e Transdisciplinares do Instituto Piaget (Campus de Almada), e tem publicado inúmeros textos de reflexão filosófica e de poesia.
Esse texto foi mantido em seu formato original, escrito na língua portuguesa, de Portugal
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Ausência
Caro leitor,
Informamos que a coluna de Eduardo Fantato não será publicada nesta terça-feira e aproveitamos o espaço para pedir desculpas pelo infortúnio.
Esperamos que a situação seja normalizada na próxima semana e estamos trabalhando para isso.
Obrigado!
Equipe Cidade do Futebol
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Justa-causa
Imagine você, caro leitor, assistir ao jogo do seu time ouvindo os comentários do próprio treinador da sua equipe. Mas não com ele à beira do campo, cumprindo a função para o qual é remunerado (aliás, o mais alto salário do país para o cargo), e sim na telinha, vendo assim como você o jogo pela televisão.
Na quarta-feira insossa das quartas-de-finais da Copa Sul-Americana, Wanderlei Luxemburgo atacou de comentarista no jogo do Palmeiras! Sim, isso mesmo. Ele deu folga aos jogadores titulares, mandou o auxiliar técnico para a Argentina junto com outros 14 atletas e, em vez de ficar em casa e observar a partida, meteu-se a comentarista da principal emissora do país.
Sacada de mestre da Globo? Mais um acesso de vaidade de Wanderlei?
De fato um pouco dos dois. Mas esse não é o questionamento que deve ser feito num caso como esse. Porque o fato já está consumado. Luxemburgo já foi à Globo e palpitou até no desempenho dos times que são seus rivais diretos na disputa do título nacional.
No dia seguinte, na maior naturalidade do mundo, mídia, torcida e diretoria do clube apenas comentaram a atuação do pseudo-comentarista, ou, mais precisamente nesse caso, do pseudo-treinador.
Nada de questionar a validade do ato em si, ou então a magnitude do descalabro que foi o episódio.
Via de regra, é como um médico ir à televisão comentar a cirurgia de um paciente, ou dar palpite sobre o procedimento cirúrgico de seus colegas. E, para agravar, o paciente é dele!!!! Ou, ainda, um advogado que naquele dia pediu recesso do tribunal, decidir ir à TV Justiça comentar o caso que está em julgamento!
Simplesmente o ato de Luxemburgo fere qualquer questão ética que se possa ter já colocado no relacionamento transmissão de jogo, treinador de futebol, etc. Uma coisa é, num período fora do trabalho, Wanderlei decidir comentar um campeonato. Outra, muito diferente, é ele deixar de lado uma competição para focar em outra e, num determinado dia, comparecer à TV para falar sobre o desempenho do time que dirige!
É
tão absurdo quanto colocar ponto eletrônico em jogadores como o mesmo Wanderlei fez com o time do Corinthians em 2001. Ou, ainda, tão errado quanto mentir a data de nascimento e adulterar o nome no documento de identidade, como feito pelo até então Vanderlei Luxemburgo para se tornar Wanderley Luxemburgo e jogar no Flamengo. Se o futebol fosse um meio mais sério no Brasil, no dia seguinte Luxemburgo seria demitido por justa-causa do trabalho. Mas como foi o próprio Wanderlei quem criou o conceito de “super-técnico”, ou de “manager”, é impossível contrariá-lo… Nesse caso, a justa-causa é para quem deixou o “monstro” ser criado.Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br
Em belo texto escrito pelo professor Lucas Leonardo, intitulado “O fim da Preparação Física“, ele, o autor, faz uma reflexão interessante sobre a fragmentação do jogo de futebol.
“(…) Para agüentar o jogo, treina-se o físico. Para executar o jogo, treina-se o técnico. Para movimentar-se no jogo, treina-se o tático.”
E questiona: “(…) Para agüentar, executar e movimentar-se no jogo basta treinar o jogo, afinal se é jogo que tenho que agüentar fisicamente, executar tecnicamente e movimentar taticamente, qual seria a melhor ferramenta para isso do que usar do jogo para preparar para o jogo?
E se através do jogo eu serei capaz de agüentar, executar e movimentar uma partida de futebol, os treinos físicos, técnicos e táticos isolados acabam. Treina-se o JOGO.”
Apropriando-me da idéia do autor, adicionaria mais um ingrediente nessa apimentada discussão. O jogo de futebol é jogo, é tático, é técnico, é físico e também mental. E é daí (do “mental”) que podem surgir algumas novas (velhas!) polêmicas.
A psicologia no e do esporte é, de certa forma, bem recente no futebol. Muitas barreiras já foram superadas e diversas discussões já foram realizadas sobre o tema. Avaliações de traço-estado, perfil “a”, “b” ou “c”, abordagem “x” ou “y”, presença ou não do psicólogo em treino, treinador-psicólogo, psicólogo-treinador, “stress-training”, “tracking”, etc e tal.
Interessante que, se sob a perspectiva da preparação física (que já não é tão nova no futebol) a fragmentação e a dificuldade de se compreender a complexidade do todo são enormes, no caso da psicologia (e/ou preparação psicológica) os equívocos têm tomado a mesma direção.
Fractalmente falando, em toda sessão de treinamento a cada dia de trabalho, toda e qualquer atividade elaborada e proposta pelo treinador tem que trazer à carga exigências táticas-técnicas-físicas-mentais, de tal forma que o tático esteja contido no físico, o mental no tático, o técnico no mental e assim sucessivamente a todo o tempo, o tempo todo.
Se a moderna e atual perspectiva das teorias do treinamento desportivo no futebol vêm nos preconizar que “deve-se treinar conforme se deseja jogar” (de tal forma que jogo seja treino e treino seja jogo), não faria (e não faz!) sentido algum desenvolver e treinar em separado (treinamento mental, ou tático, ou físico, ou técnico) aquilo que será exigido em conjunto em jogo formal.
Aí virão os “apegados de Decartes” que dirão “mas estão aí os papers científicos, mostrando que exercícios de mentalização, visualização e etc e tal; que o POMS isso e aquilo podem e são úteis na melhora do desempenho atlético do futebolista”.
Mas não darei espaço. Poderia recorrer a Damásio, Morin, Stewart, Piaget, Prigogine, João Freire, Manuel Sérgio, Medina, Scaglia. Não faltariam conteúdos e argumentos convincentes.
Vou porém sugerir uma reflexão proposta pelo texto “O fim da Preparação Física”, quando o autor aponta que os moldes da preparação física atual surgiram pela ineficiência que os treinos técnico-táticos da década de 50 apresentavam sob a perspectiva de intensidade, densidade e volume de exigências “físicas”.
Como os estímulos dos treinos que eram propostos, sob a perspectiva da dominante “física” (chamada assim por mim, apenas com objetivo didático), não proporcionavam grandes exigências (sobrecarga), também não preparavam o atleta de futebol em sua totalidade.
Desta problemática, duas soluções possíveis:
1) Redimensionar o treino técnico-tático, para que ele pudesse proporcionar as exigências físicas-técnicas-táticas do jogo; ou
2) Dar um “treino adicional” que “completasse” as lacunas deixadas pelo treino técnico-tático (decisão errada!).
Como a solução encontrada fora a segunda, estamos aí somando anos e anos caminhado em direção contrária a complexidade do jogo.
Com a psicologia, a mesma coisa.
Como os treinos hoje, em sua maioria, não contêm exigências mentais-táticas-técnicas-físicas ao mesmo tempo (fragmenta-se o treino e o indivíduo), abre-se uma lacuna e com ela a necessidade de se complementar os treinos com “abordagens psicológicas”.
Mais uma vez, problema certo, decisão errada.
Se não compreendermos a complexidade do jogo de futebol, correremos o risco de mais uma vez voltarmos atrás com a história.
Já percebemos que falta algo, que existe um problema a ser solucionado; isso é fato. Mas mais uma vez estamos a atacar os sintomas e não a causa do problema…
Então peço licença para terminar com um trecho de um texto lido pela cantora Ana Carolina (poema “Só de Sacanagem“) em um show com Seu Jorge (e se minhas fontes estiverem corretas, fora escrito por Elisa Lucinda):
” (…) Meu coração tá no escuro. A luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e todos os justos que os precederam. ‘Não roubarás!’, ‘Devolva o lápis do coleguinha’, ‘Esse apontador não é seu, minha filha’. Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar! Até habeas corpus preventiva, coisa da qual nunca tinha visto falar, sobre o qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará! Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear! Mais honesta ainda eu vou ficar! Só de sacanagem!
Dirão: ‘Deixe de ser boba! Desde Cabral que aqui todo mundo rouba!
E eu vou dizer: ‘Não importa! Será esse o meu carnaval! Vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos.’
Vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo, a gente consegue ser livre, ético e o escambal.
Dirão: ‘É inútil! Todo mundo aqui é corrupto desde o primeiro homem que veio de Portugal!’
E eu direi: ‘Não admito! Minha esperança é imortal, ouviram? Imortal!’
Sei que não dá pra mudar o começo, mas, se a gente quizer, vai dar pra mudar o final!” Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br
Dirão: ‘Deixe de ser boba! Desde Cabral que aqui todo mundo rouba!
E eu vou dizer: ‘Não importa! Será esse o meu carnaval! Vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos.’
Vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo, a gente consegue ser livre, ético e o escambal.
Dirão: ‘É inútil! Todo mundo aqui é corrupto desde o primeiro homem que veio de Portugal!’
E eu direi: ‘Não admito! Minha esperança é imortal, ouviram? Imortal!’
Sei que não dá pra mudar o começo, mas, se a gente quizer, vai dar pra mudar o final!” Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br
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Novos Tempos
Caros amigos da Universidade do Fubebol,
Como temos visto, os tempos parecem ser outros. A soberania do capitalismo mundial parece estar sob grande ameaça, por conta da ganância e da falta de ética por parte daqueles que buscam lucros a todo custo, sob o manto do liberalismo. Por causa dessa irresponsabilidade descontrolada, a intervenção no sistema privado surge como a única solução para evitar a quebra de todo um sistema financeiro mundial.
A regra que vemos todos os dias no noticiário é a nacionalização de grandes instituições privadas, para, no final das contas, salvaguardar a poupança dos pobres cidadãos comuns.
Seguindo esse caminho, entendo que o mercado do futebol profissional carece de solução semelhante. Não que o futebol esteja em crise. E também não que o futebol não esteja sofrendo consequências da crise mundial. Mas sabemos que os campeonatos no mundo não vão parar. O futebol, de tão popular, passar de um simples jogo, um simples negócio, para uma fenômeno de utilidade (ou necessidade) pública, social e cultural.
Porém, sabemos que a administração dos clubes sempre foi encarada de uma forma peculiar. Muitos clubes acumulam dívidas milionárias. Não conseguem arcar com as dívidas fiscais e trabalhistas, e muitas vezes não honram com os compromissos salariais. É uma história que não parece ter fim.
O jogo de “gato e rato” que travam historicamente clubes e INSS daria para escrever um bom livro. E a impunidade é grande, como sabemos.
Faço aqui uma importante ressalva. Temos hoje grandes casos de dirigentes competentes e clubes saneados. Não se pode generalizar por completo a crítica.
De toda forma, uma excelente medida seria uma maior intervenção, não necessariamente estatal, mas principalmente das autoridades desportivas, que melhor conhecem o funcionamento dos clubes. Como disse recentemente o presidente francês Nicolas Sarkozy e atualmente na presidência francesa do conselho da União Européia, o “Laissez-faire” está acabado. Não tenho absoluta certeza disso, porém podemos aproveitar o momento para utilizar essa reflexão no futebol.
Na Europa, algumas propostas estão sendo estudadas para tentar “ajudar” na gestão dos clubes. Tópicos como um limite nas despesas com salários dos clubes, a obrigatoriedade de um maior budget para categorias de base e uma limitação no número de contratos de trabalho para clubes são comuns nas rodas dos “rulemakers”.
É claro que, nos tempos modernos, o futebol se aproximou muito do poder judiciário, que hoje o vê como um negócio como outro qualquer. Entretanto, como tanto defendemos, exitem especificidades no futebol que devem ser consideradas e respeitadas.
Assim, algumas dessas medidas, apesar de terem uma grande dificuldade de execução face a uma aparente ilegalidade, podem perfeitamente não o serem por conta do seu objetivo principal, de ordem pública. Esse objetivo é justamente possibilitar aos clubes que honrem dívidas fiscais, promovam inclusão social, desenvolvam as respectivas comunidades locais, etc. É a função social e cultural do futebol.
Assim, a discussão começa a ganhar corpo na Europa, e deve ser acompanhada de perto em países como o Brasil, para que haja um aproveitamento daquilo que de melhor pode ser extraído, observando-se as peculiaridades de cada país.
A batalha é longa, mas um dia chega-se lá.
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E a crise?
Há certo tempo atrás, o mundo passava por um momento de crescimento como poucos antes na história. Tudo ia muito bem. Todo mundo tinha muito dinheiro. Novos negócios eram sempre grandes oportunidades para ganhar dinheiro.
Obviamente, esse cenário era superestimado. Nem tudo estava bem. Nem todo mundo tinha dinheiro. Nem todo negócio era um bom negócio. Era, sim, uma onda de otimismo que alterava boa parte da percepção lógica das coisas. Coisas não muito boas pareciam ser excelentes. E tudo parecia que ia ser assim pra sempre.
Como bem se sabe, isso não aconteceu. Em determinado momento, a onda exagerada de otimismo deu lugar a uma onda exagerada de pessimismo. Do tudo ia dar certo, passamos para o tudo vai dar errado. Nada mais normal, uma vez que os movimentos obedecem ao padrão do equilíbrio de mercado. Um baque como esse serve para purificar um ambiente que se encontrava infestado de papéis e títulos não funcionais. Escaparemos todos bem, até que fiquemos otimistas demais para então nos tornar novamente pessimistas em exagero. É o ciclo natural do mercado.
Quando esse ciclo chega na parte negativa do processo, a tendência é que todo mundo fique com um pé atrás com qualquer coisa que envolva dinheiro. Essa desconfiança, portanto, possui reflexo direto na oferta de crédito, que acaba ficando escassa, o que por sua vez mina ou encarece alguns investimentos.
O maior problema da atual crise, ao que parece, é justamente a cessão da intensa oferta de crédito ao qual todos estavam acostumados. Você tem um projeto muito doido na cabeça? Dois anos atrás, não tinha problema. Alguém, em algum lugar, ia acabar te emprestando dinheiro por juros relativamente baixos. Hoje, existe uma dificuldade enorme de se encontrar dinheiro para emprestar, e quando se encontra, os juros vão lá em cima.
Os efeitos dessa lógica no mercado do futebol estão ficando visíveis, principalmente naquilo que tange projeto de novos estádios, em especial na Europa. Alguns clubes estavam finalizando os projetos e tiveram que adia-los por conta da dificuldade de achar alguém que o financiasse. Projetos megalomaníacos tiveram que ser redesenhados e ainda aguardam investidores interessados. Ninguém sabe ainda quando os novos estádios ficarão de pé, se é que isso irá acontecer.
Outro efeito para clubes europeus é a necessidade da re-adequação de preço dos ingressos. Alguns clubes começaram a perder público, uma vez que, em época de crise, a tendência é que as pessoas poupem o máximo de dinheiro possível. Isso implica no corte de gastos supérfluos. E futebol é uma coisa meio supérflua, pelo menos para a maioria das pessoas.
Isso significa menos dinheiro para os clubes, o que também significa menos dinheiro para salários e transferências. Nunca o mercado por jogadores que têm o contrato acabando foi tão concorrido. Não só porque as receitas de dia-de-jogo dos clubes diminuíram, mas também porque o financiamento bancário para transferências também desapareceu, no processo semelhante aos estádios.
A crise certamente terá conseqüências em novos projetos e no mercado de transferências, mas dificilmente afetará diretamente a maioria dos clubes. Os grandes clubes são tão grandes que dificilmente sofrerão muito com a diminuição da gigantesca demanda ou problemas de uma ou outra empresa. Sempre haverá alguém disposto a colocar dinheiro em clubes poderosos. Os clubes menores, que certamente sofrerão mais com a perda do dinheiro de transferências e com a diminuição da demanda, possuem como grande fonte de receita os contratos de transmissão dos campeonatos, que já estão assinados e continuarão a dar dinheiro para as equipes. É pouco provável que haja uma quebra sucessiva de clubes e afins. Um ou outro não deve escapar, mas a maioria deve ficar onde está.
Resta saber se isso é bom ou ruim. Um re-equilíbrio mais drástico de mercado poderia fazer muito bem às estruturas do futebol.
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Entardecia com mais tranqüilidade que de hábito em minha caverna, geralmente ensandecida àquela hora com a movimentação dos animaizinhos voadores saindo para a caça. Os morcegos recuperavam-se do lauto banquete da noite anterior, quando uma nuvem de mariposas, vindas de não sei onde, atiravam-se como loucas contra a entrada da caverna, atraídas pela chama vermelha da tocha que mantenho acesa até a madrugada. Segundo Oto, bastava abrir a boca durante o vôo. De barriguinhas cheias, os pequenos quirópteros perderam a hora, esqueceram do entardecer.
Sem nada para fazer, meu hábito mais constante, eu tomava um chá de jasmim. De repente eis que chega Oto, meu morcego confidente. Ainda esfregando os olhinhos perguntou-me do que era o chá, e eu disse – De jasmim. – Detesto – disse ele – não tem de outra coisa? Fez-me levantar e providenciar um de canela que eu guardava de minhas andanças pelo mundo. Sentei-me, ele pendurou-se, e iniciamos uma conversa sobre qualquer coisa, deixando-nos levar pelas palavras. Talvez inspirados pelo chá, o assunto pendeu para o futebol truculento, dos beques de fazenda, dos brucutus da bola. – Como aumentaram – disse Oto – há mais canelas de pau que craques. – Mais, bem mais – completei – aqui no Brasil então, nem se fala. Os poucos craques que restaram bandearam-se para a Europa.
Enquanto a água fervia percebi a barriguinha saliente de Oto, vestígios do banquete de mariposas.
– E a ciência Bernardo, ela não ajuda a formar craques? – perguntou o morcego, alisando o abdômen. – Parece que não – respondi – os craques dependem de habilidades especiais, de coordenações finas, de gestos sutis, de equilíbrio, de uma visão muito apurada do espaço de jogo, e disso a ciência pouco se ocupa. – É impossível! – disse Oto – Outro dia, estive na universidade e vi pilhas e pilhas de revistas com artigos científicos sobre esporte.
Explico: Oto, como vocês sabem, é um morcego. Morcegos têm hábitos noturnos e gostam de, eventualmente, visitar bibliotecas. Meu quiróptero confidente descende de um vetusto patriarca alado que residiu por largos anos em Coimbra, donde a tradição familiar é de todos se interessarem pelas letras. Oto mata dois coelhos com uma só cajadada: alimenta-se de tenros papirógrafos, isto é, de piolhos, cupins e traças que destroem livros, enquanto folheia, com agilidade incrível, as obras que lhe interessam. Fanático como é por futebol foi aos papers e saiu de lá impressionado. – Bernardo – disse-me ele – se toda aquela pesquisa se revertesse em prol do bom Futebol, que maravilha!
Senti desapontar meu amigo, mas tive que explicar-lhe que a tal ciência do esporte, com raros e esporádicos esforços, dedica-se, acima de tudo, a formar bólidos defensivos, que consomem suas vidas esportivas a destruir a refinadíssima arte de controlar a bola dos Pelés, Garrinchas, Zicos, Sócrates e seus congêneres dessa estirpe de craques que as ruas brasileiras produziram.
– Que pena! – lamentou Oto – com tanta ciência, imagine se eles pudessem melhorar ainda mais essa arte.
Na cabecinha do morcego, era difícil compreender o motivo que levava os pesquisadores a formarem exércitos de zagueiros e volantes truculentos. – Como fazem isso? – ele perguntava.
Sem muita esperança de elucidar-lhe o dilema, falei que, nos últimos anos, uma verdadeira obsessão pelo desenvolvimento de força muscular, um pouco menos pelo da resistência, tomou conta da pesquisa no esporte; quem quiser confirmar, pode consultar as publicações, que estão todas à disposição por aí, nas revistas, nos congressos, nos seminários. Com o desenvolvimento de conhecimentos sobre como tornar os atletas mais fortes e mais resistentes, foi possível colocar para jogar em grandes equipes jogadores que, sem isso, não passariam da várzea. Fortes como touros, fazem frente aos melhores craques e anulam suas tentativas de praticar futebol. Os canelas de pau estão por toda parte, até nas melhores equipes do mundo, ganhando salários altíssimos. Além disso, os métodos para hipertrofiar os músculos podem ser aplicados indistintamente a todos, porém, quando aplicados aos craques, tornam-nos duros, desengonçados, lerdos; aos poucos vão ficando mais e mais parecidos com os zagueiros. Quando relaxam um pouco no treinamento, engordam, contundem-se e aí, nunca mais, nunca mais praticam sua arte.
– E não daria para criar outra ciência, uma que favorecesse a arte do futebol? – perguntou, um tanto desconsolado meu pequeno amigo.
– Não sei Oto – respondi – teria que ser alguma coisa mais humana, alguma ciência que enxergasse a pessoa que joga e não somente músculos, metabolismos, tendões. Essa outra ciência teria que ir às ruas, inquirir os peladeiros, as crianças, a cultura popular; talvez tivesse que vir do campo de futebol para o laboratório, e não ir do laboratório para o campo. As ruas e os campos de várzea do Brasil guardam o maior acervo de conhecimentos sobre futebol do mundo, ignorado pela ciência. Se ela fosse boa, de 1970 para cá teríamos produzido, nos gramados, verdadeiras obras de arte. Pelo contrário, incapaz de enxergar o refinamento do gesto, a visão de campo, a sutileza da finta, a perfeição do passe, produziu paredes de músculos, locomotivas de resistência, como se anular o bom futebol fosse um objetivo a alcançar. “Mas, assim é o homem Oto, assim é a ciência feita pelo homem. Não difere muito da indústria de bebidas ou de sanduíches; quanto mais tratam os diferentes como iguais, melhor, mais lucro.” Essa última parte eu apenas pensava, fechado em meu silêncio. Não quis dizer tudo isso para Oto, já bastante triste. Porém, era preciso dizer-lhe algo mais.
– A ciência do esporte também é canela de pau Oto, por isso ela só ajuda jogador canela de pau.
Nisso passou um bando de mariposas enlouquecidas pela luz das tochas e meu amigo quiróptero, carregando sua barriguinha ainda cheia, atirou-se com enorme desenvoltura sobre o que prometia ser mais um banquete de luxo.
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Dando seqüência ao texto mito e verdade sobre scout, agradeço primeiramente aos amigos que enviaram suas opiniões, e compartilho com todos um pouco desse rico debate que estabelecemos.
Lembro que deixamos o desafio baseado nos itens a seguir.
Mito ou verdade: É muito melhor mandar alguém pessoalmente fazer uma análise porque fazer tal avaliação por vídeo, não permite observar algumas características imprescindíveis, que só quem estiver no campo, consegue avaliar.
Mito ou verdade: Os custos para a utilização do scout são muito altos para a realidade brasileira, os clubes não possuem condições de investir.
O colega Pedro Assunção, que vem estudando a fundo a questão do scout, disse em seu comentário que “é necessário que se crie uma equipe de scout, como é na Europa, onde se tem várias pessoas para cuidar das variáveis estatísticas que ocorrem num jogo. uma pessoa só é impossível de se fazer um verdadeiro scout”, ressalta ainda a necessidade de profissionais que estudam scout capacitarem aqueles que serão os grandes beneficiários do seu uso, e considera também que o custo é menor quando se investe no suporte à esses profissionais.
Concordo com Pedro, sobretudo na condição da capacitação, é o que defendemos sobre o nome de atualização tecnológica, no sentido de que é necessário termos pessoas competentes nas interpretações acerca das informações extraídas de um scout, pois, por mais recursos tecnológicos que possamos desenvolver é a capacidade de transacionar entre dado e intervenção que fará a diferença.
O amigo Sinésio Capece… comenta que é: “fundamental enviar um representante para fazer este levantamento in-loco do adversário. Entendo que esta deveria ser uma prática freqüente no futebol, bem como em qualquer esporte. In-loco sim, é importante que seja. Os detalhes são melhor percebidos e o material muito melhor colhido. Não se pode fazer uma analise sanguínea através de um scanner, o indivíduo tem que estar presente em sua coleta e levar a picada da agulha.”. Considera ainda que não é um alto custo e sim um investimento, e entra também na questão de termos parâmetros e diretrizes para nortear tais observações, comentando que o observador “não pode ir (como já vi no próprio futebol profissional da 1ª divisão) com um pedaço de “papel de pão” para fazer umas anotações aleatórias”.
Riquíssimo esse debate com as colaborações de amigos, recebi outros textos que comentam a temática numa ótica bem similar e aproveito aqui para expor as minhas considerações, lembrando que esse debate não se encerra, pelo contrário apenas dá alguns passos rumo a uma compreensão conjunta acerca de suas possibilidades.
A metáfora levantada sobre a análise de sangue é muito boa, mas acredito que na questão da análise do scout podemos acreditar que as distintas ferramentas que já existem por ai, permitem que o profissional não precise espetar a agulha, uma vez que o sangue já pode vir no tubo para ele ser examinado.
Explico melhor:
1. Em termos de custos os dirigentes e comissões técnicas, não partem de um planejamento para avaliar as necessidades, realmente o custo não é alto, mas o que imagino baseia-se nos seguintes questionamentos: para mandar o olheiro para Argentina como no exemplo utilizado por nós no texto anterior, estão os gastos com viagem, alimentação, hospedagem, etc, etc, etc, em contraponto indago se esse custo é maior ou menor do que a utilização de uma tecnologia que permita ao profissional fazer a análise do sangue (do jogo), sem a necessidade dele próprio ir comprar a seringa (ir a Argentina), fazer a coleta e levar para os procedimentos de análise (papel de pão) , fazer a análise e a partir daí intervir (escrever o laudo).
2. Sem dúvida a presença do especialista no local pode passar uma confiança maior em relação às informações e detalhes pertinentes, mas faço minha avaliação com base nas ferramentas que estão no mercado, muito pouco utilizadas e ainda sim sublocadas, não se extraem 10% das possibilidades de informações que existem, ignorando a cientificidade por de trás dessas ferramentas.
Sabemos das capacidades tecnológicas em buscar, armazenar e traçar as informações de forma muito mais rápida que nós seres humanos, lembrando sempre que as máquinas só fazem aquilo que especificamos a elas. O que fundamenta minha visão é: porque não confiar nas informações tecnológicas uma vez que ela apenas vai buscar aquilo que os técnicos e auxiliares podem ter especificados para elas.Assim os custos estariam centrados na capacidade de extração dos dados, o que acontece também nos “papeis de pão”, mas a questão primordial é o tempo destinado a interpretação dos dados, na situação de deslocamento do olheiro até o local, a análise só poderá ser iniciada de fato com a tabulação das informações, em contrapartida tal tempo poderia ser melhor utilizado e distribuído na interpretação dos dados fornecidos por um scout tecnológico.
S
e o profissional puder confiar na capacidade de extração de dados de um scout, na confiabilidade de suas informações, o que vai fazer a diferença é a dedicação e habilidade de interpretação, obtendo elementos que talvez pudéssemos até alcançar numa análise manual (sé é que podemos chamar assim), mas que demandaria um tempo, tal tempo este que pode ser vital para a descoberta de algum outro detalhe ou desenvolvimento de estratégias que façam a diferença.Sabemos que nós temos nosso tempo de encarar um problema/enunciado (dados, informações) e buscar soluções (análise, estratégias, intervenção). Quanto mais rápido compreendermos o enunciado mais tempo teremos para pensar nas soluções.
Essa economia de tempo, reflete diretamente na economia financeira, isso ainda sem compararmos diretamente os custos, ou melhor investimento no scout, seja ele na capacitação do profissional, na formação de uma equipe especializada, ou na integração de recursos a tais profissionais, o que passa por uma questão de importância e prioridade que se dá ao scout no processo chamado futebol. Bom, a discussão como disse, não se encerra por aqui, com muitos profissionais dedicados a estudar e compreender o scout aplicado no futebol, a ciência agradece.Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br