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Ausência

Caro leitor,

Informamos que a coluna de Erich Beting não será publicada nesta segunda-feira e aproveitamos o espaço para pedir desculpas pelo infortúnio.

Esperamos que a situação seja normalizada na próxima semana e estamos trabalhando para isso.

Obrigado!

Equipe Cidade do Futebol

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Os meias que marcam e os volantes que armam: continuam fragmentando nosso futebol (até os mestres)!

No futebol brasileiro predomina o não-profissionalismo. Poucas são as ações que poderiam me fazer pensar o contrário. Claro, minorias existem e não por acaso têm tido maior êxito que seus pares majoritários.

E vejam, não estou nem sequer me referindo a ações e decisões no “campo político-administrativo”.

Já presenciei “presidente” de clube de futebol, em campeonato profissional de 1ª divisão ligando do celular ao banco de reservas para exigir do treinador a substituição deste e daquele atleta. Normal. Isso nem causa mais espanto, nem chama mais a atenção. Óbvio, existem aqueles que se submetem e aqueles que não se submetem a esse tipo de situação.

Já vi treinador “convidando” dirigente a se retirar do vestiário em dia de jogo dando três segundos de prazo para o ato ou senão… Já vi clube dispensar atleta por causa da estatura, do peso e até por cisma.

No futebol predomina o “eu acho”. E de tanto “achar” parece que foi aumentando também o número de coisas a se perder.

Pois bem. Dia desses Wanderley Luxemburgo, em um programa esportivo na TV, disse que hoje existem problemas nas categorias de base, no processo de formação dos atletas de futebol e que isso de certa forma tem atrapalhado muito a evolução e formação das equipes profissionais do futebol brasileiro. Deixou “escapar” entre linhas que os treinadores na “base” estão muito mais preocupados em vencer o jogo do próximo final de semana (ou conquistar o campeonato) do que com a real “formação de jogadores de futebol”.

E ainda que seu pensamento a respeito não tenha sido aprofundado no debate, o seu “entre linhas” é fato.

Pois bem. Gostaria, a partir desse fato, destacar três pontos:

1)     Treinadores das categorias de base talvez não tenham claro qual o seu papel;

2)     Dirigentes e coordenadores de categorias de base talvez também não tenham claro qual o papel e objetivos de treinadores e equipes nas categorias de base;

3)     Bons projetos de formação real de jogadores foram, são e continuarão sendo assassinados por investidores, dirigentes amadores, coordenadores e treinadores presos a paradigmas ultrapassados e crenças baseadas em achismos dos mais diversos tipos.

É ponto pacífico que treinadores de equipes sub-13 (sub-15, sub-17 etc e tal), por exemplo, enxerguem suas “crianças” como atletas adultos em miniatura e, por falta de conhecimento e preparo, ajam (conforme modelam em suas abstrações) como treinadores em final de Copa do Mundo falando com atletas experientes e aptos a entendê-lo (sem se aterrorizar com os gritos desprovidos de inteligência e razão).

É fato que treinadores querem vencer a qualquer custo. Mas é fato também que o mesmo dirigente que o contrata sob a “ladainha” (que ele mesmo diz em frente ao espelho para tentar se convencer) de que resultados de jogos não são importantes, é o mesmo que meses depois quer “decapitar” o treinador que não foi lá tão bem com as vitórias.

Como o dirigente não entende de processo e nem mesmo sabe o que é formação, acaba sendo comum que ele, no final das contas, queira saber somente das vitórias. E o treinador, para se proteger, assume o pacto da mediocridade e vai até as últimas conseqüências com seu plano “maquiavélico” rumo às conquistas.

Não senhores!

Não estou eu aqui a dizer “esqueçam as vitórias; ou formamos jogadores, ou vencemos campeonatos”. Simplesmente porque não acredito que uma coisa está desconectada da outra, ou que uma desabone ou elimine a outra.

Conquistar vitórias também faz parte do PROCESSO de formação. Mas elas vêm (ou deveriam vir!) com o próprio PROCESSO (ao seu tempo – e se falamos de categorias de base, o tempo é algo importante; muito importante!).

Mas o problema é muito mais amplo e profundo do que parece. Estamos vendo apenas a ponta do iceberg.

Uma coisa é entender que as categorias de base fazem parte de um processo de formação de jogadores de futebol. Outra é entender o que é jogar futebol (sem fragmentar o que é tático do que é técnico, do que é físico do que é mental – e isso até alguns dos “mestres” que nos encantam tem dificuldade para entender, conceber, discursar/agir), o que ensinar, porque, como ou quando e principalmente o que é processo.

E aí termino então com um trecho de um texto do Tostão (“Estatutos do futebol”). O que eu quero dizer com ele? As entrelinhas dirão por si só…

“(…) Repito, pela milésima vez, que muito mais importante que esquemas táticos é a qualidade dos jogadores. Porém eles brilham muito mais quando jogam em equipes organizadas.

A solução mais urgente para formar talentos no meio-campo é os técnicos, desde as categorias de base, pararem de escalar volantes que só marcam e de colocar armadores habilidosos para jogar somente como meia-atacantes. É preciso descobrir solistas, pianistas. O meio-campo está saturado de carregadores de piano (…)”

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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Alterações nas janelas de transferência

Caros amigos da Universidade do Fubebol,

Como sabemos, os jogadores de futebol profissional somente podem ser transferidos de um país para outro dentro do prazo das chamadas “janelas de transferência”. Cada federação nacional pode eleger duas janelas de transferência por temporada devendo, para tanto, notificar a Fifa a respeito.

Agora, ao chegar próximo ao final do ano, teremos abertas as janelas de transferência de verão no Brasil, bem com a de inverno (e menor) na Europa. Essa próxima janela não deverá ser tão movimentada como do meio do ano, uma vez que, na Europa, estamos no meio do campeonato e apenas alguns ajustes nas equipes são feitos em termos de novas contratações.

Esse tema é muito importante para os clubes no Brasil. Sabemos que grande parte da receita dos principais clubes (e muitas vezes de clubes intermediários) decorrem da venda de jogadores. Há que se planejar com eficiência a projeção de venda de atletas, para que o clube não perca o “timing” dos clubes europeus.

O mercado pode, de tempos em tempos, esfriar. Porém, o apetite por jogadores brasileiros nunca se esgotará. Basta que os clubes brasileiros, além de formar bons jogadores, aprimorem (e profissionalizem) seus departamentos de relacionamento internacional. A partir de então, lucrar será uma questão de tempo e oportunidade.

Tivemos nesta semana uma notícia na Europa de que técnicos de clubes europeus estão querendo evitar transferências nas janelas de inverno (ou também conhecidas como mid-season transfer windows). Isto porque os técnicos obviamente não gostam de perder seus jogadores ao longo da competição.

Ou seja, apesar do pouco movimento que a próxima janela costuma propiciar, os técnicos já sentem a necessidade de evitá-la. E isso poderia corresponder a uma oportunidade a menos dos clubes brasileiros de efetuarem bons negócios na Europa.

Qualquer tentativa nesse sentido, e que alterasse o número de janelas permitidas, deveria passar por deliberação do Exco da Fifa para efetiva alteração do Regulamento. O que, acredito, não deva acontecer no curto prazo.

Porém, devemos sempre acompanhar. E, enquanto essas janelas não são alteradas, resta-nos aguardar para que as próximas especulações se iniciem.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Caro leitor,

Informamos que a coluna de Oliver Seitz não será publicada nesta quinta-feira e aproveitamos o espaço para pedir desculpas pelo infortúnio.

Esperamos que a situação seja normalizada na próxima semana e estamos trabalhando para isso.

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Equipe Cidade do Futebol

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Motricidade Humana: para esclarecer algumas dúvidas…

Estrugiu grande risota entre os “sábios” que vão repetindo até ao cansaço aquilo que lhe ensinaram  (não passam daí), quando publicamente comecei a discordar, com alguma originalidade (passe a imodéstia), da Educação Física e do Treino Desportivo que me pareciam ser aceites maioritariamente entre os profissionais destas duas áreas. Já lá vão mais de 30 anos! E recordo com emoção o colorau doce das críticas de Nelson Mendes, professor do Instituto Nacional de Educação Física (INEF) de Lisboa, à ginástica tradicional e ainda a publicação do livro de João Paulo S. Medina, A Educação Física Cuida Do Corpo… E Mente, em 1983.

Tenho verdadeiro horror por fórmulas, cânones de escola e tiranias da moda. Demais, quando em 6 de Outubro de 1968, pisei, pela primeira vez, o chão lajeado do INEF, já eu estudara Gaston Bachelard (1884-1962) e sabia portanto que era também descontínua a  História das Ciências, ou melhor: que os momentos mais significativos da história de uma ciência acontecem com as rupturas ou cortes epistemológicos, onde, respeitando-o embora, se considera muito do que é Passado um verdadeiro obstáculo epistemológico. Durante a década de 70, com Louis Althusser, aprenderia  depois que o corte deveria ser epistemológico porque era político, ou político porque era epistemológico. Por isso, quando defendi a minha tese de doutoramento, em 1986, tinha (tenho) declarados objectivos epistemológicos e políticos. Para mim, conhecer é fundamentalmente encontrar novas vias de acesso à transformação social!

 

Em Novembro-Dezembro de 1979, na revista Ludens, do Instituto Superior de Educação Física da Universidade Técnica de Lisboa, escrevi um artigo intitulado “Prolegómenos a uma nova ciência do homem”, sucedâneo de uma descoberta por mim efectuada (como sei bem dos meus limites, admito que outras pessoas o tenham visto antes de mim – só que, por defeito meu, as não conheço) que a Educação Física nasce do dualismo antropológico cartesiano. A educação do físico, dentro da perspectiva mecanicista do tempo e a educação do espírito decorriam de costas voltadas, ou seja, para sermos breves, dominava então o “erro de Descartes”. Não foi por acaso que a expressão Educação Física nasceu, depois deste filósofo que viveu entre 1596 e 1650. Os gregos, pura e simplesmente, ignoravam-na. Jerónimo Mercurialis, na sua De Arte Gymnastica (1569), sustenta que, na Grécia Clássica, eram três os tipos de ginástica: a militar, a médica e a atlética.

A Medicina racionalista destinava-se também àquilo que em nós era físico ou matéria tão-só. Por isso, aos médicos lhes chamavam os físicos. Demeny (1850-1917), na sua obra Les Bases Scientifiques de l’Éducation Physique define assim a Educação Física: “O conjunto de meios destinados a ensinar o homem a executar um trabalho mecânico qualquer, com a maior economia possível, no emprego da força muscular”. O cartesianismo, endomingado pela ciência positiva, atingia o século XX  e, porque se arrogava de voz activa, prepotente, na Educação Física, de igual modo se assenhoreou do Desporto que passou a reger-se pelos principios em que abunda o Discurso do Método. Demais, os tratadistas da especialidade consideravam o Desporto um dos aspectos da Educação Física…

 

E em 1968, quando conheci o INEF mais de perto, até pude gracejar para o Prof. Nelson Mendes: “Aqui, o Descartes continua vivo!”. Tinha (tenho) por Descartes grande respeito e admiração. Ele é um dos marcos da História da Filosofia. Denunciava, sem quaisquer outras exprobações, tão-só o referido dualismo antropológico de que a Educação Física é um dos produtos. Até que, no dealbar da década de 80, da releitura atenta e meticulosa da Fenomenologia da Percepção, de Maurice Merleau-Ponty,  encontro a motricidade como intencionalidade operante, como movimento intencional da pessoa humana. E, a partir daqui, compus a seguinte definição de motricidade: a energia para o movimento intencional da transcendência (ou da superação). Portanto, para mim (e neste ponto não estou só) motricidade é mais do que movimento – é movimento intencional da complexidade humana!

É afinal o movimento típico da prática desportiva. Fundamentado na motricidade humana, criei uma teorização original (porque não é plágio) da Ciência da Motricidade Humana (CMH), que se desdobra nas especialidades de desporto, dança, ergonomia, educação especial e reabilitação, actividade motora adaptada, etc. Fundamentado ainda na CMH, como ciência humana, pus em causa o treino analítico e sugeri a inexistência do preparador físico, no treino, que seria substituído por um metodólogo do treino, dado que o treino, em todas as circunstâncias, teria em mente a complexidade humana e não só o físico. Mais tarde, descobri, com alegria, que o actual treinador do Inter de Milão também assevera que não tem preparador físico, no seu departamento de futebol. Fui professor de filosofia, não de futebol, de José Mourinho, em 1981! Se alguns dos meus antigos alunos aplicam ao futebol o conteúdo das lições que me escutaram, tal se deve ao facto de (como eu acentuava nas aulas) só saber de futebol quem sabe mais do que futebol

 

Por fim, como ciência humana (e não me alongo mais sobre o tema), a CMH quer ser um conhecimento-emancipação, contra a exploração dos poderosos e a tirania do Estado. Sou socialista e democrata. Sei bem onde levam as democracias sem socialismo e os socialismos sem democracia! Neste momento em que o neoliberalismo entrou em crise agónica, estou a ressoar o que também já assumo, sem equívocos, há muitos anos! A CMH é um saber qu
e exige a acção: não propõe apenas um ideal, postula também a procura de meios concretos, para realizá-lo!

*Antigo professor do Instituto Superior de Educação Física (ISEF) e um dos principais pensadores lusos, Manuel Sérgio é licenciado em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa, Doutor e Professor Agregado, em Motricidade Humana, pela Universidade Técnica de Lisboa.

Notabilizou-se como ensaísta do fenômeno desportivo e filósofo da motricidade. É reitor do Instituto Superior de Estudos Interdisciplinares e Transdisciplinares do Instituto Piaget (Campus de Almada), e tem publicado inúmeros textos de reflexão filosófica e de poesia.

Esse artigo acima foi mantido em seu formato original, escrito na língua portuguesa, de Portugal.

Para interagir com o autor: manuelsergio@universidadedofutebol.com.br

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Zezinho do Scout: O Fluminense descobriu como explorar os avanços do palmeirense Leandro?

Olá amigos, como combinado, na última terça-feira de cada mês, sou eu, Zezinho, que apresento a coluna falando sobre o scout de um jogo acompanhado ao vivo, para ilustrar que informações poderiam ser extraídas no decorrer da partida. Na coluna de hoje vamos falar de Fluminense 3 x 0 Palmeiras.

Vamos começar pelo gol de falta polêmico de Carlinhos, (aos 14 minutos), identificando a situação do jogo nos 10 primeiros minutos, observando o que o scout nos mostrava como tendência, focando especificamente no que a equipe podia oferecer de risco.

Lembramos que, de acordo com nossa proposta de facilitar e ilustrar como veríamos o jogo com o auxilio do scout* no decorrer da partida, não vamos fazer uma análise aprofundada nos muitos quesitos possíveis. Vamos focar nossa compreensão naquilo que muitos defendem que devem exclusivamente  servir de parâmetros para uma análise, os gols.

Ainda que na minha visão uma finalização não convertida deva ser considerada tanto como outros fatores, que não só o gol. Isso porque entendemos que o fato dela não ter sido convertida em gol pode derivar de questões técnicas, questões psicológicas do momento, o que não muda a tendência e padrão ali encontrados sobre os riscos oferecidos.

Com a falta que originou o gol, o  Fluminense somava três faltas recebidas, sendo duas no Everton, indicando uma  provável dificuldade do Palmeiras em parar o atacante tricolor.

Quanto a circulação de bola da equipe, a exceção de Arouca que detinha um pouco da articulação das jogadas do Fluminense através de passes mais curtos, a equipe utilizava-se até então de bolas longas e da ligação direta a partir de seus jogadores com funções mais defensivas – Thiago Silva, Wellington Monteiro e Fabinho, os três responsáveis por 33% dos passes da equipe tricolor e pelos quatro lançamentos tentados até então (sendo três certos).

Vejam o fluxo de passe** dos primeiros 10 minutos, destaque para o volume de bolas saídas dos pés de Thiago Silva (nº 4) Fabinho (nº 5) e Wellington Monteiro (nº 7):

Lembrem que a jogada que originou a falta surge de um lançamento de Fabinho para Everton, uma tendência identificada, ainda que com poucos minutos de jogo.

Com 1 x 0 no placar, imaginamos que o jogo ia sofrer alterações, mantemos nosso foco ainda no que o Fluminense poderia oferecer de risco.

O segundo gol

Dos 15 aos 30 minutos, o fluxo de passes de jogo do fluminense mudou:

Nota-se uma modificação sensível com a participação mais efetiva do lateral direito Carlinhos. Aproveitando bastante os espaços deixados pelo lateral esquerdo Leandro, do Palmeiras. Sendo Carlinhos e Arouca quem se destacam na circulação de bola, responsáveis por 35% da organização do jogo, principalmente, com bolas longas para Everton Santos pela direita.

O terceiro gol

Os quatro minutos que separam os gols apresentam pouca variação, mantendo a tendência de jogo pela direita, apenas aumentando a bola passada pelos pés de Arouca e Conca, visando já uma cadência maior de jogo juntamente. São quatro minutos que consolidam a tendência iniciada após o primeiro gol e que culmina com o segundo e terceiro gol, lembrando que a finalização pela esquerda de Junior Cesar decorre toda de uma jogada que percorre o setor direito do ataque tricolor. Vejam o quadro do consolidado dos 15 até o final do primeiro tempo:

O gol do Fluminense surge de uma roubada de bola, insistindo na arma bastante utilizada (lançamentos para o setor direito, nas costas de Leandro), Arouca lança, jogada de Everton Santos, Leandro e Mauricio não conseguem fazer falta, expediente utilizado muito no começo do jogo para parar Everton, a jogada segue passando por Conca e finalizada por Junior Cesar entrando pela esquerda.

Todo esse desequilíbrio causado na defesa palmeirense ocorreu algumas vezes durante a partida a partir das jogadas pelo setor direito e lançamentos para Everton Santos.

Será que o Fluminense, achou a forma de encarar o lateral esquerdo Leandro, do Palmeiras, ou será que Luxemburgo sempre sofre com Everton Santos, afinal não é a primeira vez que ele dá um trabalhão ao técnico palmeirense.

Abraços,

Zezinho do Scout

* utilizando a Prancheta Eletronica da ScoutOnline

** cada jogador recebe uma cor, a linha da mesma cor indica para quem ele passou, e a espessura o volume de passes destinado a determinado jogador

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Estresse coletivo

A cada dia que passa fica cada vez mais a certeza de que, o que era para ser uma grande sacada do futebol como negócio, se transformou no maior vilão da bola neste século XXI. A tal entrevista coletiva pós-jogo é uma das coisas que mais atrapalham e irritam o bom andamento do noticiário esportivo e, também, do dia-a-dia de um clube.

Que o digam Muricy Ramalho, Dunga, Renato Gaúcho, Wanderley Luxemburgo e tantos outros treinadores, carismáticos ou não, que estão atualmente saturados com um modelo adotado no futebol pelos ingleses em meados dos anos 1990.

A entrevista coletiva serve para “livrar” o treinador e os jogadores do calor do jogo. Sim, é muito mais seguro você ter uma entrevista coletiva realizada cerca de uma hora após uma partida do que ali, ainda à beira do campo, irritado ou emocionado pelo resultado.

Quando os ingleses decidiram adotar o padrão de entrevistas coletivas, a idéia era facilitar o trabalho da imprensa e, ao mesmo tempo, reduzir o risco de algo der errado numa entrevista mais acalorada ainda no gramado. Da mesma forma, a coletiva permite agilizar a saída do time para casa após o jogo, uma vez que a imprensa só tem aquela oportunidade para entrevistar os protagonistas da partida.

Mas, num fenômeno mundial, a entrevista coletiva caiu num grande vazio, que destrói o bom jornalismo e altera os ânimos de seus interlocutores. Ainda mais quando o time perde e, à exceção de Muricy Ramalho, quase todo treinador coloca a culpa no árbitro.

Hoje, a coletiva virou também sinônimo para uma enxurrada de repetição de perguntas e respostas com palavras diferentes (ou não!!!) para cada uma delas. “Por que o time perdeu?” e “O time perdeu por que os desfalques fizeram falta” são, necessariamente, a mesma indagação feita com palavras diferentes.

Para piorar, a popularização da TV a cabo, aliada ao fenômeno dos programas pós-jogo, destroçou de vez com qualquer tipo de “glamour” que o futebol tinha no imaginário popular. Hoje é tão banal ouvir os treinadores após uma partida que a opinião deles (e dos comentaristas, claro!) caiu na mesmice.

Atualmente é obrigação um técnico dar entrevista coletiva após o jogo. Os jogadores ainda conseguem se esquivar, mas o treinador nunca pode deixar passar. Isso valoriza a imagem de super-poderosa que é atribuída à classe, mas ao mesmo tempo revela o estado de tensão em que hoje se encontra o relacionamento entre imprensa e clube de futebol.

Nem mesmo quando foi pentacampeão brasileiro Muricy Ramalho aliviou de tom com os jornalistas. Da mesma forma, a cada triunfo ou a cada derrota na seleção, Dunga distribui farpas bem ao seu estilo de quando era jogador.

E isso acontece pela tensão que uma entrevista coletiva carrega em si. Entre os entrevistados está o peso da derrota, a felicidade da vitória ou mesmo a encheção de sempre dizer a mesma coisa. Do lado de quem pergunta, está a ânsia em ser o primeiro, a necessidade em mostrar conhecimento, o desejo de fazer sua pergunta ser “repercutida”.

E o conteúdo, nessas e outras, entra no vazio, fazendo com que aquilo que era para ser uma grande idéia para facilitar o trabalho de todos e tornar a comunicação eficiente se transforme numa fonte constante de gerenciamento de crise.

Entrevista coletiva, hoje, é sinal de estresse coletivo. E a informação que vá para o lixo…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Futebol: um desporto tático-técnico-físico-mental

Creio que já escrevi, desde 2001 ou 2002, mais de 100 textos que de certa forma propuseram reflexões e críticas ao dualismo maniqueísta (transferido as diversas “construções humanas”) que ainda hoje numa escala menor continua sendo armadilha nas condutas científicas, especialmente na Educação Física e mais particularmente no futebol.

E por mais que se discuta, por mais que o mundo aponte caminhos e que a complexidade seja desvendada, ainda há problemas (atrasos) que insistem em não se render aos fatos, argumentos e por que não, as obviedades.

Existe ainda no futebol algo potencialmente perigoso no caminho do seu desenvolvimento. Por mais que se discuta em países como Portugal, Espanha e França e Inglaterra uma teoria para a “complexidade do complexo futebol” há ainda por exemplo em países como o Brasil (o país do futebol?!) uma fragmentação daquilo que é tático, do que é físico, do que é técnico, do que é mental.

Como acreditar que o treinamento em partes pode resolver problemas do todo? Como acreditar que em uma atividade que trabalhe conceitos táticos não contenha elementos técnicos, exigências físicas, controles mentais que se inter-relacionam? Como acreditar que um treinamento técnico isolado possa se transferir para as infinitas situações-problema do jogo tático-técnico-físico-mental em que a “técnica” é exigida?

Mas é assim que as coisas têm funcionado.

Por vezes o discurso até impressiona, mas não há aplicação dos conceitos sob a visão da complexidade. O pior ainda é quando a compreensão do que estou dizendo é tão rasa que não se torna possível enxergar o tamanho das armadilhas que estão na fragmentação do todo.

Há hoje (ainda!!!) no futebol quem acredite que “teoria” é uma coisa, “prática” é outra; e se esquece que uma só faz sentido pela existência da outra, ao mesmo tempo, sem fronteiras visíveis.

Para “provar” a coexistência das “coisas físicas-táticas-técnicas-mentais” trago à discussão um dos exercícios realizados em uma sessão de treino, por minha equipe sub-17 (juvenil) em março de 2008.

A sessão teve três jogos/exercícios, de acordo com os objetivos descritos na primeira figura (abaixo), e todos eles foram orientados pelo modelo de jogo da equipe (de acordo com o processo de formação).

O jogo/exercício foi realizado simultaneamente em dois mini-campos “desenhados” pela comissão técnica (para que todos participassem ao mesmo tempo).

Cada campo possuía duas equipes de sete jogadores cada, distribuídas de acordo com as inter-relações da plataforma tática 1-4-3-3.

Cada equipe tinha como objetivo marcar o gol pela mini-baliza (o que valia dois pontos) e/ou trocar o maior número de passes dentro da “zona protegida” (o que valia um ponto à equipe para cada jogador que recebia a bola dentro dela – na zona de ataque).

Todos os objetivos, de acordo com as Competências Gerais e Específicas a serem trabalhadas, estavam contidos na atividade (o tempo todo, em maior ou menor escala de incidência). O número de ações com bola, por unidade de tempo foi superior ao do jogo formal 11 vs 11 o que expôs os jogadores a uma freqüente e variada gama de situações-problema, com e sem bola.

Abaixo alguns dos “apontamentos físicos” obtidos a partir do rastreamento por GPS enquanto os jogadores jogavam o jogo tático-técnico-físico-mental.

A atividade teve duração de 10 minutos. Em mais de 30% da distância total percorrida o jogador rastreado esteve em velocidades acima de 16km/h ; o que, considerando as dimensões do campo de jogo, representa uma “intensidade física” bem alta (e levemente superior a do jogo formal 11 vs 11).

Isso tudo quer dizer, em outras palavras, que em 10 minutos houve “sobrecarga” (usando um termo bem conhecido do treinamento desportivo) sob a perspectiva fractal de todas as dominantes do jogo (física-tática-técnica-mental), cumprindo com os princípios do jogo, do modelo de jogo, enfim da complexidade do jogo.

Obviamente esta foi apenas uma das atividades da sessão. Obviamente também, sua aplicação se fez oportuna de acordo com o planejamento processual da equipe (ou seja contextualizado ao ambiente, momento e desenvolvimento da equipe).

É claro que o jogo/exercício proposto alicerça conceitos que evoluem posteriormente para jogos/exercícios (táticos-técnicos-físicos-mentais) nas dimensões formais do campo de jogo (também com regras específicas para potencializar o desenvolvimento do modelo de jogo que se busca) em situações de 11 vs 11, 11 vs 10, 9 etc e tal.

E vejam, esse ainda não é o maior problema, pois superado o entendimento de que a atividade, se bem modelada, pode proporcionar sobrecarga física-tática-técnica-mental, há necessidade de compreender como criar modelos, regras e situações que permitam a construção de jogos/atividades que atuem sobre a zona de desenvolvimento proximal da equipe e de seus jogadores.

Assim, e somente assim tais jogos/atividades farão sentido, e só assim poderão alcançar, dentro do processo, o desenvolvimento e o jogo que se quer jogar.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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A transferência internacional de menores

Caros amigos da Universidade do Fubebol,

Os jovens talentos representam o futuro do nosso futebol. São a jóia mais preciosa que o nosso esporte pode ter. Mas tratam-se de jóias ainda não lapidadas, e que, portanto, merecem toda a atenção por parte das autoridades e organizações desportivas. 

Como já falamos anteriormente, esses jovens atletas são vistos, comumente, como excelente fonte de receita por parte de terceiros, intermediadores e oportunistas. É claro que sempre ressaltamos que existem excelentes agentes de jogadores no mercado (e que são indispensáveis para cuidarem dos assuntos extra-campo dos atletas). Porém existe também aquelas pessoas que buscam, a todos custo, o lucro máximo em cada uma das transações realizadas.

A Fifa, atenta a essa questão, introduziu em seus Regulamentos o famoso artigo 19, que veda expressamente a transferência internacional de menores de 18 anos, com algumas exceções.

Mas, como diz o ditado, “hecha la ley, hecha la trampa“. Ou seja, ainda que exista a proibição regulatória, os fatos muitas vezes são distorcidos pelas partes interessadas para que a transação seja enquadrada em uma das hipóteses de exceção.

Temos registro que muitos jogadores da América Latina e África são transferidos para países menos desenvolvidos da Europa, ou ligas menores dos grandes países. 

O problema não são jogadores como Messi, que são transferidos ainda menores dentro das exceções previstas com um futuro garantido. A nossa preocupação reside em agentes que carregam diversos jogadores intermediários para a Europa, mantendo-os em condições muitas vezes sub-humana, no aguardo de um ou outro conseguirem um bom contrato. A maioria desses jovens, além de serem marginalizados após o insucesso, acabam por terem perdido uma oportunidade de crescerem e se desenvolverem dentro de seus próprios países.

Algumas soluções já estão sendo estudadas pelas organizações desportivas na Europa. Alterar o artigo 19 da Fifa? Aumentar o controle para uma maior e mais extensiva aplicação do artigo com a redação atual?

Dentro das alterações possíveis, podemos vislumbrar o aumento da idade limimte, de 18 para 21 anos, ou uma maior restrição com relação às exceções previstas. Todas elas visam, de forma geral, desincentivar a transferência internacional (ou mesmo nacional em alguns casos) de menores.

Os jovens jogadores precisam permanecer em seus clubes formadores até que tenham de fato atingido a maturidade. Só nesse ambiente é que o futebol doméstico pode propriamente se desenvolver.

A discussão não é simples. De toda forma, entendemos que, além das providências, digamos, legislativas, temos que promover mudanças comportamentais efetivas nos países de origem (na América Latina e África principalmente), para que condições sejam de fato propiciadas para a permanência dos jovens talentos.

Os clubes formadores precisam ser indenizados pela formação. Temos que tentar minimizar com a polarização das receitas no futebol (na medida do possível).

Sò assim teremos, no futuro, clubes formadores mais fortes, e formando cada vez mais jogadores “internacionais” de fato preparados para enfrentar o mercado de trabalho com efetivas condições.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Mito ou verdade. A utilização de scout no futebol (parte I)

Nessa seqüência de texto, cuja primeira parte iniciamos hoje, vamos trazer uma reflexão simples, com um olhar crítico como sempre, mas que ilustra como acreditamos que deve ser encarada, nos clubes, a questão da utilização do scout, e diria, mais precisamente, da “tecnologização” do scout, porque muitas vezes a tão famosa resistência que encontramos no meio do futebol é fundamentada no embate perspicácia humana x falta de maleabilidade do scout.

É o que o psicanalista (lembrem que em um dos textos, eu falei que nem Freud explicava, mas a gente tenta…)Waldemar Zusman denomina de “inércia dos mitos”.  O termo “inércia” remete as nossas aulas no colégio, quando o professor de física definia como “a resistência encontrada por um corpo para deixar sua condição de conforto (movimento ou repouso)”. Bom, imagino que, como eu, muitos devem ter pavor das aulas de física, mas fiquem tranqüilos, paramos por aqui.

Em tempo, onde falarmos scout, a referência é feita em relação ao scout com amparo tecnológico.

Diz Waldemar Zusman: “A inércia de um corpo não significa sua imobilidade”, mas sim uma conformidade com o que está ocorrendo,  e é isso que vemos no futebol, talvez por excesso de confiança, talvez por falta de aptidão de lidar com tecnologia, o que é normal para gerações que não cresceram imersas nesse mundo moderno.

Há um receio em sair da zona de conforto, e essa tal mobilidade é dada a passos lentos que não significam segurança e pés no chão, mas sim, a falta de uma visão mais integrada e aberta às possibilidades. É como se houvesse um consenso que não podemos nem precisamos aprender mais, nada pode nos ensinar a fazer o que fazemos há tantos anos, há uma inércia, e essa está fundamentada nos mitos.

Zusman afirma que: “Não se pode subestimar o poder inercial dos mitos, vale dizer das crenças e das crendices a que há mais de 6.000 anos estamos submetidos. Os mitos são o poder de propulsão das inércias históricas, o seu combustível essencial, seu ímpeto”.Criam-se os mitos e, em função deles, vem a inércia, adquirem tanta importância que desenvolve-se uma força que os sustentam e impede mudanças.

Vou ilustrar com um exemplo recente, mas reforço que tenho profunda admiração e respeito pelo trabalho dos profissionais envolvidos nessa história, apenas tomo como referência por se tratar de assunto tão recente. E a competência dos profissionais envolvidos só nos realça que a  questão é mais profunda, para além da comissão técnica, que em algumas vezes deseja algo diferente mais esbarra nos interesses ou na falta dele  por parte de quem está nos bastidores  do futebol (dirigentes, imprensa, etc).

A equipe do Internacional, dirigida pelo excelente e competente técnico Tite (ainda que alguns não o considerem desta forma), vai enfrentar o Boca Juniors e enviou o auxiliar-técnico para a Argentina para observar o jogo do Boca contra o River Plate.

Importantíssimo, extremamente necessário para o futebol hoje, conhecer seu adversário, sua fase atual, não tenho a menor dúvida.

Mas aproveito tal notícia para refletirmos sobre os mitos e verdades, que estabelecem uma inércia marcante no futebol, e não é em relação aos profissionais (neste caso sem aspas mesmo) em questão, mas sim em relação a uma atitude comumente utilizada pelos clubes brasileiros.

Mito ou verdade: É muito melhor mandar alguém pessoalmente fazer uma análise porque fazer tal avaliação por vídeo, não permite observar algumas características imprescindíveis, que só quem estiver no campo, consegue avaliar.

Mito ou verdade: Os custos para a utilização do scout são muito altos para a realidade brasileira, os clubes não possuem condições de investir.

Bom, deixo aqui um desafio ao amigo que me acompanha, quero saber sua opinião, escreva para a coluna, o que você considera acerca desses dois itens indicados. Na próxima parte desse texto proponho-me a expor as idéias e debater com todos, a fim de que possamos enriquecer essa discussão conjuntamente.

Aguardo sua opinião, escreva.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br