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Refém

IWL. Sim, essas três letras podem lembrar o “Instituto Wanderlei Luxemburgo”, propagado como o mais “profissional” curso sobre gestão no futebol do país. Mas as mesmas três letras podem significar “Investir em Wanderelei Luxemburgo”, algo que o Palmeiras tomou, no começo deste ano, como sendo a solução para seus problemas.

Luxemburgo pegou uma base montada por Caio Jr. com um time que bateu na trave para se classificar para a Libertadores em 2007. Teve essa equipe extremamente reforçada com os milhões do Grupo Traffic e, como num passe de mágica, fez do Palmeiras um clube que voltou a sonhar com títulos após quase dez anos de secura.

Mas investir no treinador carioca tem os seus reflexos. Com Luxemburgo, a diretoria do Palmeiras perdeu o poder que tinha sobre o futuro dos seus jogadores. Alguns que custaram milhões de dólares, como Valdívia, ou que demoraram anos para serem descobertos, como Wendell. 

Dois atletas que, com Luxemburgo, deixaram de ter espaço cativo na equipe e que, durante o Brasileirão, deixaram o Palmeiras. No caso do meia chileno, uma proposta milionária dos Emirados Árabes serviu de justificativa para que o maior ídolo da torcida desde Marcos fosse embora num piscar de olhos. Mas, com Wendell, a coisa foi diferente. 

Luxemburgo adora se vangloriar de que é capaz de recuperar qualquer jogador. Apostou em Léo Lima, que por ele mesmo havia sido dispensado do Santos, para ser titular no meio-campo já formado com Pierre e Wendell. Léo Lima acertou o pé na vitória sobre o São Paulo na semifinal do Paulistão. E Luxemburgo, após erguer a taça estadual, ganhou a carta branca que lhe faltava.

Depois disso, chegaram Sandro Silva e Jumar, dois volantes, para atuarem no meio-campo, então já formado por Pierre e Léo Lima e tendo em Wendell e Martinez duas ótimas opções para o banco de reservas.

Jumar e Sandro Silva foram levados ao Parque Antarctica pelo dinheiro da Traffic. E, como num passe de mágica, Luxemburgo os considera hoje titulares no lugar de Pierre e Léo Lima, sendo que Léo é a primeira opção para o banco de reservas. E Wendell? Bem, esse está comendo a bola no Santos…

No domingo, Luxemburgo não tinha Jumar, suspenso. Optou por Léo Lima e Sandro Silva para o meio-campo. Em menos de cinco minutos, Léo Lima deu um pontapé em Jean, e o São Paulo saiu na frente no clássico. Depois, aos 45, errou o passe que deu o segundo gol para Dagoberto.

No intervalo, Luxemburgo sacou Léo Lima e colocou Pierre. A marcação melhorou, e o jogo terminou empatado em 2 a 2. 

Investir em Wanderlei Luxemburgo não pode significar que o Palmeiras se tornou refém das decisões do seu treinador. E, ao que tudo indica, também do seu parceiro. Um time campeão não começa com um bom treinador, mas com uma diretoria que não é refém de técnico, patrocinador, torcida, etc.

Que o digam Grêmio, Cruzeiro e São Paulo…

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Seleção brasileira de futebol: tendências

Gosto muito de ler os livros do professor de matemática John Allen Paulos. Primeiro por sua habilidade em transformar matemática em contos e contos em matemática. Segundo pela perspicácia na abordagem de assuntos que envolvem a “complexidade do dia-a-dia”, usando, claro, a matemática.

Em um de seus livros (A lógica no mercado de ações) fala sobre fractais, redes e fobias psicológicas que atormentam e direcionam o comportamento de investidores no mundo dos negócios.

Não irei aqui falar nem sobre matemática, nem sobre o mercado de ações. Não é essa a idéia. Gostaria sim de fazer uma rápida discussão sobre algo muito, mas muito mais angustiante, agonizante, incômodo e que claro, que faz mais pessoas perderem o sono do que a “grande crise financeira 2008, USA parte 1“: a seleção brasileira de futebol do treinador Dunga.

Lá se foi o jogo contra a Colômbia. Maracanã, torcida. Eliminatórias da Copa do Mundo. A vitória garantiria o Brasil em 2º lugar.

Empatou. O Brasil ficou em 2º lugar. Vaias. Críticas. Nada de novo.

Pela TV alguém disse que já não cabiam mais as críticas; afinal a seleção brasileira de futebol estava em 2º lugar. Que local no mundo não se valorizaria o 2º lugar?

Pois bem.

O Brasil não está mal na tabela de classificação. Também não fará diferença para o chaveamento de grupos no sorteio da Copa do Mundo FIFA de Futebol 2010 terminar as eliminatórias em 1º ou em 4º lugar.

Pois mal.

Sob o ponto de vista lógico-matemático, claro, o raciocínio acima descrito está correto, nenhum problema. Problema mesmo é mascarar com tal justificativa o desempenho da equipe brasileira e de seu treinador; ou pior ainda, atribuir à casual “normalidade” das críticas que toda seleção de futebol do Brasil recebe (jogadores e comissão técnica) ao fato de existirem tais críticas.

O que quero dizer é simples.

Nosso treinador diz que é normal às atribuições do cargo receber críticas. Alguns setores da imprensa dividem a responsabilidade entre jogadores e comissão técnica pelas dificuldades da seleção brasileira em alguns jogos (e é só ganhar um de quatro a zero para mudar tudo). Outros apontam que o Brasil é 2º e que não há motivos para alardes (só no Brasil mesmo o 2º lugar ser uma coisa ruim).

O matemático Paulos (John Allen) do início do texto, em um dos capítulos do seu livro já mencionado, aponta que as tendências do mercado financeiro estão atreladas também (viva a complexidade!) a comportamentos que geram tendências, que por sua vez condicionam comportamentos, que reafirmam tendências; e aí…

Bom, aí é como aquela estória em que um rei vai até a feiticeira saber a sorte de seu filho que está para nascer. A feiticeira lhe diz que o bebê quando mais velho acabará por matar o pai. Sem pestanejar, quando o filho nasce, o rei manda um de seus soldados matá-lo e jogá-lo no rio. O soldado com pena do pobre menino, ao invés de cumprir a ordem, coloca o garoto em uma cesta dentro do rio (na esperança de que as correntezas o carregassem para um lugar bem distante onde pudesse ser encontrado e ter uma vida nova).  A criança é encontrada por uma senhora que cuida dela como se fosse seu filho. Mais velho, já depois de vinte e tantos anos eis que o jovem se apaixona pela rainha e mata o rei para poder viver seu amor.

O que quero dizer com isso?

Quero dizer que se não tivermos cautela, acabaremos, como sempre, tendo nosso comportamento moldado e moldando uma tendência:

a.     Formação da tendência no. 1 à Dos chefões do futebol brasileiro: Cobrar o treinador, demiti-lo? Como assim, o Brasil é 2º colocado nas eliminatórias da Copa.

b.     Formação da tendência no. 2 à Da torcida: Criticar é hábito. Não importa a crítica, importa criticar.

c.      Formação da tendência no. 3 à Da imprensa: segundo os meus interesses, o melhor a fazer é? Qual o melhora fazer mesmo?

d.     Formação da tendência no. 4 à Do treinador: no meu cargo receber críticas é normal (Será que eu realmente sei o que estou fazendo?)

É que no final das contas a conversa se resume ao seguinte: não importa o método, não importa a conduta, não se pode dizer se é esse ou aquele o melhor; afinal de contas bom no futebol (e no mundo dos negócios) é somente aquele que ganha.

E por isso volto a dizer; chefões do futebol brasileiro, torcida, imprensa e treinador; estamos criando a tendência errada, e assim teremos muitos problemas na Copa de 2010 (não me acusem de exercício de futurologia – aliás essa (a acusação) é uma outra tentativa de construir tendências).

No futebol a lógica é simples: buscar o 1º lugar sempre.

E se assim o é; então, viva o Paraguai (e claro a lógica do mercado financeiro).

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Perigo em vista

Caros amigos da Universidade do Fubebol,

Antes de mais nada devo ao menos uma explicação aos nossos leitores, tendo em vista minha ausência das últimas duas semanas. Como já havia anunciado, a EPFL (Associação Européia das Ligas de Futebol Profissional), onde atualmente atuo, esteve reunida em Assembléia Geral na última semana, o que demandou ao menos um mês de intenso trabalho em torno das questões a serem lá discutidas.

De fato, existe atualmente grande preocupação das ligas européias no desenvolvimento sustentável do futebol e na manutenção da integridade do jogo. Diversas são as frentes de discussão que permeiam o tema, incluindo a saúde financeira dos clubes, a atenção para as apostas ilegais, regras específicas para o investimento estrangeiro direto nos clubes, as interferências de terceiros nas transações de jogadores, a proteção contra a exploração de menores, etc. 

O futebol enfrenta atualmente um momento crítico, em que precisa definir qual é o melhor modelo de gestão de clubes e de competições tendo em vista a globalização e, mais recentemente, a crise econômica mundial. Com relação a esse último tema, felizmente, o futebol poderá ter menor impacto negativo do que outros setores da economia, como o imobiliário, por exemplo.

Um dos holofotes dessa discussão diz respeito à propriedade intelectual das ligas e clubes e a gravidade das respectivas ações ilegais de terceiros, como a chamada “pirataria online”.

Sabemos que a principal fonte de recursos dos clubes é proveniente dos seus direitos de imagem, especialmente “ao vivo”, que são comercializados com emissoras de televisão por valores historicamente crescentes (no Brasil, vide o atual acordo realizado entre Rede Globo e Clube dos 13). Esses recursos são indispensáveis aos clubes para que haja o reinvestimento em categorias de base, ações sociais, distribuição solidária entre clubes para desenvolivmento das ligas e manutenção do equilíbrio competitivo entre as equipes, etc.

O que o fenômeno da internet está propiciando, entretanto, é uma grande usurpação dos direitos de imagem das ligas e clubes por parte de sites que se organizam para oferecer transmissões online de imagens ao vivo ao público em geral, sem a devida autorização dos detentores dos respectivos direitos de imagem.

Por ora, a incidência é baixa no Brasil em comparação com a Europa. Mas a tendência é de crescimento mundial desta prática indesejável. Em grande escala, ela pode por em risco toda a forma de negócio atual dos clubes e ligas e estabelecer uma crise sem precedentes no nosso mercado.

Temos que batalhar por regras mais rígidas. Tanto por parte das autoridades públicas, como por parte dos reguladores do esporte. Todos têm que se unir contra esse mal.

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Você acha bonito ser feio? Até as casas de apostas usam softwares baseados em análise de performance…

Amigos leitores, começo me desculpando com vocês. Não gostaria de ser extremamente repetitivo, mas, tenho tentado trazer algumas questões que têm cercado nosso ambiente a partir de várias ilustrações do que vem acontecendo, tenho procurado novidades no mundo da tecnologia e futebol para trazer para vocês e propiciar um debate, uma discussão, a fim de aprofundarmos cada vez mais nossos conhecimentos acerca do tema.

Mas… Sempre há um porém… Ainda que alguns aspectos tenham notórias evoluções, sobretudo no quesito da tecnologia do espetáculo no futebol, o pessoal do marketing tem aberto cada vez mais a mente para as possibilidades tecnológicas em torno do show chamado futebol, lógico que em busca sempre da otimização (olha essa palavrinha de novo aí) dos lucros e das possibilidades mercadológicas, aumentando receita, consumo e assim sucessivamente.

Ainda assim, as pessoas que atuam no campo prático do futebol, cada vez mais, criam barreiras para manter-se distantes, e sabem o que é pior?… Acham isso o máximo, têm orgulho de tomarem tais atitudes. Dá vontade de perguntar mais ou menos aquilo que costumamos ouvir muito em conversas de alunos quando fazem brincadeiras entre si…Você acha bonito ser feio?

Eu, sinceramente, acredito que eles achem bonito ser feio. Essa minha revolta, caros amigos, pode seguir para vários rumos, mas ela germinou em cima de estudos que venho desenvolvendo sobre o campo de tecnologias de análise do jogo, de identificação de tendências, etc, etc.

E cada vez que buscamos desenvolver uma transposição para o campo prático temos de ouvir desses caras que acham bonito ser feio que essas coisas não se aplicam ao futebol.

Por quê? Que magia é essa que faz com que o futebol viva num mundo alheio, logo logo eles estão falando que essa crise econômica vai passar longe do futebol, porque o futebol é diferente.

Bom, vamos ser mais específicos. Minha indignação com tais pessoas do futebol germinou (ou diria que foi o que arrebentou minha úlcera imaginária) com base nessa onda de site de apostas que tomou conta do futebol em muitos casos com estouro de corrupção e máfias do apito pelo mundo, mas, cada vez mais, sendo normatizada e aceita como elemento do business futebolístico, seja patrocinando clubes, placas em estádios e outras possibilidades. Mas, não entrarei no mérito, pois não me considero um expert nesse assunto, que envolve desde questões jurídicas à questões éticas e de mercado.

Você pode se perguntar: e aí Eduardo, não entendi aonde você quer chegar, qual é a relação? Bom, é que esses sites de apostas entraram em meus estudos em dois aspectos diferentes nos últimos dias.

1.    Em matéria recente, a equipe cidade do futebol anunciou a reivindicação das ligas européias em relação as casas de apostas

2.    Tem aumentado cada vez mais estudos científicos, muito bem fundamentados, sobre tendências de vitórias baseadas nas escalações e nas ações de jogo

Essa crescente perspectiva, tanto do ponto de vista financeiro como do ponto de vista cientifico, refletem uma valorização desses aspectos, afinal, ciência, tecnologia e dinheiro, estabelecem diversas possibilidades de interação com infinitos propósitos positivos e negativos.

A questão é… Se baseadas em ações técnicas, táticas, baseadas em histórico de jogos, scout, analises de tendências e por aí vai, tais estudos têm surgido e ganhando valor no mercado, com softwares, sites de predição, etc… Por que ninguém no futebol pensa em analisar, adaptar, tirar proveito em relação a estratégias e planejamento de jogo?

Lógico que não podemos confiar cegamente num scout ou num relatório, mas se estudarmos possibilidades e confiarmos nosso planejamento em função de alguns elementos destacados por esses softwares e recursos tecnológicos, podemos diminuir as muitas “surpresas” que definem um jogo. O que falta ao futebol é os feios acharem bonito planejar, estudar, ainda que dê um pouco mais de trabalho.

O uso de dados, tendências, estatística, scout não é alheio ao esporte, sabemos que, na NBA, um técnico estuda para que lado o jogador gira e tem maior aproveitamento, com intenção de criar armadilhas e forçá-lo a ações pelo seu lado mais fraco.

E, convenhamos falar que futebol é algo completamente diferente do basquete, que a imprevisibilidade é maior, não é uma saída justificável. Basta vermos quanto tempo um jogador de futebol pode ter para desenvolver uma ação e quanto um jogador de basquete tem. Alias para desenvolver uma ação ofensiva eles tem 24 segundos no basquete, mas sempre virão alguns dizendo que no basquete é mais fácil pontuar, e blá… blá… blá.

Talvez se os feios do futebol resolvesse abrir a mente como abrem as pessoas do marketing, do bu$ine$$, do espetáculo e do financeiro futebol, talvez eles achariam bonito apostar algumas fichas em tecnologia e ciência.

Enquanto isso no que você aposta?

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Ausência

Caro leitor,

Informamos que a coluna de Erich Beting não será publicada nesta segunda-feira e aproveitamos o espaço para pedir desculpas pelo infortúnio.

Esperamos que a situação seja normalizada na próxima semana e estamos trabalhando para isso.

Obrigado!

Equipe Cidade do Futebol

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Modelo de Jogo, estreitamento do campo e plataformas de jogo: o que uma equipe juvenil tem a nos ensinar sobre futebol

Hoje comentarei sobre um jogo muito interessante e didático. Diferente de outras vezes não vou falar sobre o Chelsea, Barcelona, Milan ou qualquer grande equipe de futebol profissional da Europa ou do Brasil.
Tamanha riqueza de possibilidades e estratégias oferecidas pelo jogo, comentarei hoje sobre uma “partida” entre duas equipes de futebol sub-17 do estado de São Paulo, em jogo válido pelo Campeonato Paulista de Futebol da categoria.
Se isso leitor, o desinteressou, pedir-lhe-ei um exercício de “boa fé”; leia até o final (porque não é só dos jogos do Milan e outras equipes profissionais que podemos tirar lições – e aí vou tirando as minhas).
Chamemos as equipes de equipe “A” e equipe “B”.
A equipe “A” (visitante) precisava da vitória no jogo. A equipe “B” (já classificada para a próxima fase da competição) com uma vitória seria a 1ª colocada do grupo (o que lhe traria algum benefício na fase seguinte).
Clima quente e muito úmido; sem vento. O campo de jogo não muito comprido (~92m) possuía uma largura proporcionalmente avantajada (~68m) . Em outras palavras, campo “pequeno e largo”.
A equipe “B” (a mandante), tinha como modelo de jogo:
Na organização ofensiva:
·         Progressão vertical (por vezes horizontal) ao campo de ataque (independente da região do campo de jogo).
Na organização defensiva:
·         Recuperação da posse da bola, com “ataques” e pressão (e não pressing) ao portador da mesma (alternando estratégias de marcação individual e mista) a partir da linha 1.
Na transição ofensiva:
·         Ações rápidas em progressão ao campo de ataque, sem retirar a bola da zona de pressão (alternando passes longos e curtos – e com estrutura de balanço ofensivo fixa).
Na transição defensiva:
·         Ações imediatas de ataque a bola (com estrutura de balanço defensivo fixa, alternando momentos de jogo com “sobra” e “sem sobra”).
A equipe “A” (visitante), tinha como modelo de jogo:
Na organização ofensiva:
·         Progressão ao alvo, com jogo vertical de passes curtos (independente da região do campo de jogo).
Na organização defensiva:
·         Pressing zonal (com predomínio da variável espaço em relação a variável tempo), alternando horizontalmente linhas 1 e linha 3 (predominando a linha 3), impedindo progressão ao alvo até a linha vertical “b” e buscando a recuperação da posse da bola após essa linha.
Na transição ofensiva:
·         Rápida ação de retirar a bola da zona de pressão (horizontalmente) e busca posterior imediata de progressão ao alvo.
Na transição defensiva:
·         Alternando no jogo ações de recomposição da estrutura defensiva com ações de “ataque” a bola.
Em resumo, as equipes tinham nos seus sistemas organizacionais, propostas distintas. Analisemos um pouco mais a fundo a organização da equipe “A”.
Precisando vencer (e dadas as dimensões do espaço de jogo), a equipe “A” definiu como organização espacial inicial (quando se defendia) os estreitamento do campo de jogo. Então deixava a equipe “B” jogar pelas faixas laterais até a linha “b”, permitindo-lhe chegar até a linha de fundo (e dificultando-lhe os cruzamentos).

Como o pressing foi orientado para o domínio do espaço, a equipe “A” induzia a equipe “B” às regiões do campo que lhe fossem vantajosas para roubar a bola (mais especificamente forçando erros de passes).
Para a torcida “da casa” na arquibancada, a impressão de que os jogadores de sua equipe estavam “lentos” (o que na verdade estava acontecendo é que a equipe “A”, com seu pressing e estreitamento do campo, dava mais tempo do que o normal [para um pressing] para o jogador adversário permanecer com a bola, mas restringia-lhe opções espaciais para o desenvolvimento ofensivo do jogo [para depois roubar-lhe a bola]).
Como o pressing da equipe “A” era zonal, quando recuperava a posse da bola tinha melhor distribuição espacial no campo de jogo. Isso facilitava a retirada da bola da zona de pressão e a posterior progr
essão ao alvo.
A alternância de linhas horizontais de marcação (3 e 1) e dos princípios operacionais de defesa para essas linhas (equipe “A”) fizeram com que a equipe “B” não conseguisse encontrar equilíbrio ofensivo no jogo.
No 2º tempo da partida (o jogo já estava 3 a 1 para a equipe “A”) a equipe “A” teve um jogador expulso aos 10 e outro aos 30 minutos. Alterou sua plataforma de jogo mas não seu modelo.

Controlou sem bola o jogo e ainda teve chances de ampliar o resultado.
Apesar de ter a bola por mais tempo na 2ª etapa da partida, a equipe “B” não teve o domínio das ações do jogo (tinha uma falsa sensação!).
Final da partida, e o placar inabalável: Equipe “B” (mandante) 1 vs Equipe “A” (visitante) 3.
Foi um jogo de “gente grande”. Não dos vícios, maus exemplos ou velhos paradigmas dessa gente grande. Foi um jogo de jovens concentrados, determinados e versáteis, mas acima de tudo inteligentes e capazes de resolver “inusitadas” (inusitadas?) situações-problema do jogo.
Também oscilaram, tiveram seus momentos de desequilíbrio (não está aí um “fractal” da juventude?). Mas me “encheram” os olhos e por isso hoje, ao invés de discutir uma grande equipe européia resolvi discutir uma “adolescente equipe paulista”.

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Ausência

Caro leitor,

Informamos que a coluna de André Megale não será publicada nesta sexta-feira e aproveitamos o espaço para pedir desculpas pelo infortúnio.

Esperamos que a situação seja normalizada na próxima semana e estamos trabalhando para isso.

Obrigado!

Equipe Cidade do Futebol

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F-1, futebol e atualização tecnológica

“Nada funciona direito se não fizermos realmente funcionar “
(Dirt Wolker)
Olá amigos. Tivemos na outra semana um acontecimento que pode muitas vezes servir de justificativa para aqueles que são críticos de carteirinha da tecnologia. Mas, tal fato pode nos mostrar, também, mais uma afirmação da importância que devemos dar a atualização do profissional do envolvido com o esporte.

Estamos nos referindo ao episódio da F-1 que aconteceu com Felipe Massa. A equipe Ferrari, sinônimo de prestígio e modernidade, utilizava um aparato eletrônico no lugar do “bom e velho pirulito” (aquela placa que um dos mecânicos segura na frente do carro para indicar o momento de mudar o  giro do motor e sair do pit stop). Eis que o responsável pelo “pirulito” e que estava agora no controle do botão para acionar a luz verde errou e deu o sinal antes do tempo.

Ah! Isso é culpa da Tecnologia!!!!!!! Se fosse o “pirulito” ele o abaixaria e logo em seguida o piloto cessaria. Com o sinal luminoso, isso não foi possível.

Com certeza essa foi a opinião predominante para o restante do domingo, somadas ainda a crucificação do mecânico responsável que, com o passar do momento, foi “absolvido” pela cúpula e pelo próprio piloto brasileiro. Sorte que tal mecânico não é técnico nem jogador de futebol no Brasil. Porque senão…

A questão é bem evidente e explícita no caso, o erro humano. A tecnologia vem para otimizar os processos, mas como já comentamos ela é desenvolvida por nós humanos e para nós mesmos.

Falta de preparo? Falta de capacitação? Será? Causa-nos estranheza essas dúvidas em meio a esse ambiente da F-1, tão marcado pelos avanços tecnológicos e pela precisão necessária. Mas o fato é que os erros podem acontecer como já aconteceram com o próprio mecânico quando do uso do “pirulito” com o então piloto Michael Schumacher.

Isso nos remete a uma questão que deve ser bem esclarecida: tecnologia não é sinônimo de perfeição, e sim de otimização, de aperfeiçoamento e melhoria para atingir os objetivos de forma mais eficaz. E como tal, requer uma atualização constante dos envolvidos. Uma atualização que vai desde a ambientação e o desenvolvimento de “intimidade” com os recursos até a transição necessária para a intervenção prática.

Outro fator que é muito comum no esporte é a falta de percepção naquilo que é determinante, ou poderíamos em alguns casos (no futebol temos muitos) dizer que há um receio de reconhecer a contribuição de um elemento tecnológico para seu desempenho.

Num evento da FIA ( Federação Internacional de Automobilismo) foi feita uma pergunta ao piloto italiano Jarno Trulli sobre como a tecnologia melhorava o dia-a-dia dele como piloto de F-1. O piloto numa ilustração perfeita do que dissemos no parágrafo anterior respondeu que como qualquer pessoa utilizava a tecnologia para se divertir, ouvindo ipod, vendo filmes de DVDs, etc.

Oras, num meio imerso profundamente em tecnologia como é a F-1, um piloto que tem incontáveis contribuições dos recursos e aparatos tecnológicos para com o seu desempenho, classifica o uso de um mp3 player como fator importante para ação de pilotar. Não que isso não traga contribuições, sobretudo nas questões de relaxamento e concentração, haja visto que já apareceram alguns críticos tentando classificar o uso do walkman de Michael Phelps na natação em Pequim como doping psicológico, mas isso são outros quinhentos.

A tecnologia não é a salvadora da pátria (bem que o Vasco da Gama gostaria) mas ela é, sobretudo, a capacidade de aplicação e utilização por parte dos profissionais, que devem, cada vez mais, dar abertura a essas possibilidades, sobretudo, capacitando-se e ajudando a desenvolver outras inovações.

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A mídia como parceira

Nas duas últimas semanas, você provavelmente ouviu algo sobre o lançamento do Museu do Futebol, na cidade de São Paulo. Primeiro grande museu temático da maior paixão do país, o início das atividades do espaço foi uma das mais maciças divulgações de mídia que o esporte assistiu nos últimos tempos.

Mas de onde será que surgiu tanta vontade assim para falar do lançamento?

Primeiro de tudo é um grande barato termos um espaço que sintetize o fenômeno que é o futebol no Brasil. Depois, a obra é uma das mais modernas que já se viu no país, completamente antenada com os recursos visuais que temos na atualidade. E, por fim, o projeto é capitaneado por uma empresa de mídia.

Sim, porque foi a Fundação Roberto Marinho quem bancou boa parte dos R$ 37 milhões que foram gastos para construir o museu. E, por isso mesmo, as Organizações Globo decidiram usar toda a sua força de mídia de massa para promover o Museu do Futebol.

Matérias nos seus veículos de mídia impressa e internet e, principalmente, ancoragem de programas nos mais variados canais do grupo integraram um pacote completo de promoção e divulgação do museu que fez com que todo o país soubesse que, no último dia 1º, o Museu do Futebol começaria a funcionar no estádio do Pacaembu.

Com a Globo puxando a fila, todos os outros veículos foram atrás da cobertura da inauguração do museu. Sim, porque a força da Globo impulsiona a cobertura de diversos outros veículos. Por isso mesmo, apesar de sua abertura ter sido na quarta-feira, o espaço contou com a presença de diversos visitantes. E como soubemos disso? Também pela imprensa…

A inauguração do Museu do Futebol pode ser usada como exemplo em aulas de marketing esportivo de como deve ser pensado um evento em conjunto com a mídia. Para que algo tenha sucesso de público, é preciso a divulgação pelos veículos. E aí está o grande gargalo que o esporte tem: como conseguir essa divulgação?

O caso do Museu do Futebol mostra que, para a mídia, o esporte tem de ser um produto, em que haja comprometimento do veículo em divulgá-lo porque isso gera benefício também a ele. E, além disso, é preciso ter conteúdo, para reforçar a cobertura jornalística em torno dele.

Por conteúdo entenda-se um bom jogo, uma boa disputa, emocionante. Por parceria, podemos dizer que é preciso fazer da mídia parte do negócio, mostrando os benefícios de aumento de audiência e, conseqüentemente, de anunciantes que ela pode ter com um evento.

O vôlei construiu sua história mais ou menos desse jeito. O futsal caminha para alguma coisa parecida. Nos anos 20, o futebol só decolou no Brasil a partir da junção com a mídia, que começava a dedicar páginas e mais páginas nos jornais para a modalidade, transformando-se nesse grande fenômeno de comunicação que é hoje.

Se o esporte começar a tratar a mídia como uma parceira cada vez maior para os seus produtos, o crescimento poderá ser ainda maior. Resta entender-se como produto e entender qual a função que a mídia tem nessa história. E aí é que está a dificuldade…

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Pra frente Brasil!

Há 12 anos, após um dos muitos gols do selecionado brasileiro na Copa do México (aquela do tri), o então radiante Presidente Emílio Garrastazú Médici, plagiando o nosso D. Pedro I, saltou de sua poltrona, sob os olhares assustados de seus secretários, e lá do Palácio das Alvoradas, bradou: Ninguém segura mais este país.

 

Acredito não haver necessidade de lembrar a todos o significado do governo Médici para a história sócio-política brasileira… E mais do que nunca, a partir daquela época passou-se a crer que o futebol poderia, de fato, servir como válvula de escape ou até mesmo como anestésico para uma nação à procura de sua identidade e de seu futuro.

 

E assim foi. Não só o futebol, mas todo o desporto, em diversos momentos da vida social brasileira, tem servido como agente de controle de conflitos sociais, canalizando para si tensões que certamente explodiriam contra aqueles que possuem o interesse de manter e reproduzir o atual estado de coisas. Para muitos, a culpa era do futebol em particular, ou até mesmo do desporto como um todo, agente de alienação popular…

 

Mas de lá para cá esse mesmo povo começou a dar mostras de que tudo poderia ser diferente. As Associações de Bairros, as Comunidades Eclesiais de Base, os Movimentos estudantis começaram a ganhar corpo. Em 1978, às vésperas da cerimônia de abertura de mais outra versão da Copa do Mundo, eclodiu no ar, lá pelos arredores de São Bernardo do Campo, um grito uníssono.

 

Seria Gil, nosso ponta direita? Teria sido Rivelino, liberado pelo departamento médico? Não, não era mais nada disso. Simplesmente os ferramenteiros da Saab-Scania, em greve já fazia algum tempo, recebiam a notícia de que também os trabalhadores da Ford tinham aderido ao movimento grevista.

        

Parece importante fixar todos esses momentos, não porque ingenuamente devamos acreditar que, enfim, chegou a hora em que a Copa do Mundo possa vir a ser considerada, apenas, uma disputa esportiva, e não uma questão de honra e afirmações nacionais a fomentar as emoções de todos os brasileiros durante todos os minutos de todos os dias em que ela se desenvolver, ou ainda durante todas as semanas imediatamente seguintes (quem sabe, até novembro) caso a seleção tenha sucesso.

 

A importância está na constância cada vez maior de momentos iguais ou semelhantes àquele mencionado. A cada instante a sociedade se volta para o debate de mais um tema. É como se, enfim, o gigante adormecido começasse a despertar.

 

E com essa impressão, o medo de torcer para “o” (e não “um”) Brasil campeão esvai-se na certeza de que esses momentos de alegria não mais abafarão o acordar do povo brasileiro.

Para interagir com o autor: lino@universidadedofutebol.com.br

*Lino Castellani Filho é Doutor em Educação, docente da Faculdade de Educação Física/Unicamp, pesquisador-líder do “Observatório do Esporte” – Observatório de Políticas de Educação Física, Esporte e Lazer – CNPq/Unicamp, e foi Presidente do CBCE (1999/2003) e Secretário Nacional de Desenvolvimento do Esporte e do Lazer/Ministério do Esporte (2003/06).



[1] Publicado no periódico Panfleto, do Departamento de Educação Física da Universidade Federal do Maranhão, UFMA. São Luis, MA, Julho de 1982.