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O preço da vitória

Santos, Grêmio, Flamengo e Atlético-MG sagraram-se campeões estaduais na tarde do último domingo. Nem mesmo três dias depois de festejarem a conquista, os jogadores desses quatro times entrarão em campo para mais uma decisão: a classificação para a fase seguinte das competições que disputam.
 
O Santos se desgastou para alcançar os 2 a 0 no São Caetano. O Grêmio passeou no Olímpico em cima do Juventude. O Atlético se preocupou com a derrota por 2 a 0 para o baleado Cruzeiro, atropelado na semana anterior. O Flamengo só superou o Botafogo nos pênaltis numa eletrizante decisão no Maracanã.
 
Talvez è exceção do Galo mineiro, os outros três times não puderam pensar em poupar jogadores e muito menos se pouparem dentro de campo para a disputa das decisões no meio de semana. E por que isso acontece?
 
Imagine se Vanderlei Luxemburgo abrisse mão de escalar todos os titulares na árdua tarefa santista de derrubar o fantasma azul de São Caetano. Ou, então, que Mano Menezes deixasse Lucas de fora da batalha regional no Olímpico. Que Levir Culpi entrasse com o time reserva depois de enfiar quatro no primeiro jogo. E, por fim, que o Flamengo abrisse mão da conquista carioca para estraçalhar o Defensor na quarta-feira.
 
Choveriam críticas ao comportamento “antiesportivo” dos treinadores dessas equipes. Pelo menos até o meio de semana, quando o time vencesse e, então, os treinadores seriam transformados em gênios.
 
Normalmente a imprensa critica a falta de planejamento e de trabalho de longo prazo dos clubes de futebol. Não faltam vozes para desancar o dirigente que demite o treinador só porque os resultados não aparecem. Mas quem é o primeiro a se levantar contra a falta de resultados de uma equipe?
 
A pressão exercida pela imprensa no dia-a-dia da cobertura dos clubes de futebol é, sem dúvida alguma, uma das grandes responsáveis pela falta de cumprimento ao planejamento dentro dos clubes.
 
Muricy Ramalho foi duramente criticado pelos jornalistas por não mudar o time do São Paulo no empate contra o São Caetano na primeira semifinal do Campeonato Paulista. Talvez Muricy estivesse pensando no jogo da quarta-feira seguinte, quando, com o time reserva (que estava descansado), bateu o Alianza Lima e ficou em primeiro do seu grupo, em posição de vantagem para decidir a vaga em casa e pronto para enfrentar o Azulão.
 
Mais fácil dizer que Muricy era “teimoso” ao manter o time jogando daquela forma do que tentar ouvir dele uma explicação plausível para a “teimosia”.
 
A obrigação dos resultados é, acima de tudo, uma exigência que a opinião pública coloca para dentro dos clubes de futebol. É raro vermos um jornalista defender um treinador quando ele poupa o seu time numa partida decisiva pensando numa decisão futura.
 
Imagine o estardalhaço que seria se o Santos tivesse optado por deixar escapar o título paulista e preservasse seus atletas para seguir firme na Libertadores? Será que a imprensa entenderia isso?
 
Obviamente que o torcedor age de maneira irracional quando vê seu time perder uma decisão. Mas, às vezes, é melhor estabelecer prioridades. E já passou da hora de a imprensa entender isso quando vai criticar a decisão de um treinador…
 
Do contrário, a vitória sempre terá o ônus do cansaço para a decisão da partida seguinte.

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O Exemplo do Leeds United

Dias atrás, foi confirmada a queda do Leeds United para a Terceira Divisão do Campeonato Inglês. Sim, o Leeds. Aquele que certa vez contratou o Roque Júnior e que entrou na disputa pra levar o Ronaldinho Gaúcho do Grêmio. O mesmo Leeds que há seis anos atrás brigava com o Valencia nas semifinais da Liga dos Campeões. Há seis anos, o Leeds era pro mundo esportivo o que hoje são Liverpool, Chelsea, Manchester United e Milan. Hoje, parece mais com o Bahia.
 
O declínio do Leeds é resultado da convergência de uma série de fatores técnicos, mas todos derivados essencialmente de uma questão econômica.
 
Na temporada seguinte após a surpreendente chegada às semifinais da Liga dos Campeões, o Leeds se reforçou em campo. Para tal, colocou em campo jogadores como Paul Robinson, Woodgate, Rio Ferdinand, Danny Mills, Dacourt, Bowyer, Robbie Fowler, Robbie Keane, Viduka, Kewell e Alan Smith. A aposta era ir bem no Campeonato Inglês e conseguir a classificação para a Champions League da temporada seguinte.
 
No final da temporada, cinco míseros pontos separaram o Leeds da Liga dos Campeões. Com o quinto lugar do campeonato, o time conseguiu apenas a classificação para a Copa da Uefa. Foi o começo do desastre. Tão logo o time perdeu a vaga, a diretoria anunciou que no começo da temporada, ela havia realizado um empréstimo gigantesco para conseguir bancar as contas do time. A idéia era que tal time conseguiria a classificação para a Liga dos Campeões, e o empréstimo eventualmente seria pago com a enorme soma de dinheiro que viria de patrocinadores, direitos de televisão e dos dias de jogos. Foi uma aposta arriscada. Que não deu certo.
 
O time perdeu a vaga e, consequentemente, toda a receita futura projetada. No final das contas, o time não conseguiu bancar o empréstimo e muito menos o salário dos jogadores. Como resultado, atletas foram vendidos por conta do desespero fiscal, que implica diretamente em menor poder de barganha, e os novos contratados correspondiam à realidade do caixa do clube. Deu-se início a um espiral de declínio. O clube entrou num ciclo vicioso de péssima performance e péssimo fluxo de caixa.
 
O Leeds até conseguiu escapar do rebaixamento na temporada imediatamente seguinte. Mas na outra não deu. O time caiu pra segunda divisão e, com o enorme montante de dívidas, que quase bateu nos R$ 500 milhões, começou a ser passado de mão em mão, de dono em dono.
 
Com alguns sacrifícios, a direção do clube resolveu zerar a dívida, ou seja, fechou a torneira para maiores pagamentos. No sistema futebolístico um pouco mais racional que é o futebol inglês, isso significa em imediata perda de performance. Culminou, agora, com o rebaixamento para a terceira divisão.
 
A idéia, porém, é que o clube possa se reerguer em breve, com as dívidas zeradas, e alcançar a glória de outrora. Talvez tenha chegado ao fundo do poço, mas foi a conseqüência natural de uma aposta financeira extremamente arriscada. Qualquer pessoa que pense com o mínimo de lógica dentro do mundo do futebol sabe que não se contrai dívidas pensando que estas serão pagas a partir da receita gerada pelos resultados em campo. Contrai-se dívida que possam ser controladas, em investimentos mais palpáveis e não tão dependentes da ação do acaso.
 
O Leeds é um caso clássico que uma boa parte dos maiores clubes do Brasil deveria prestar atenção. Eles pagam um preço caro por uma atitude racionalmente errada, mas que tende a não ser tão incomum por terras tupiniquins.
 
É claro que uma dívida aqui talvez não signifique a mesma coisa que uma dívida por lá. Porém, com a ascensão do mercado financeiro por essas bandas e com a responsabilidade fiscal passando a desempenhar um intenso papel no mercado nacional, os clubes que ainda se arriscam nesse tipo de aposta podem começar a pagar caro, assim como o Leeds vem pagando há um bom tempo.
 
Esqueçam o Manchester United, o Chelsea, o Liverpool ou o Arsenal. O melhor exemplo do futebol inglês para o futebol brasileiro, acredite, é o Leeds United.

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São Caetano, o campeão paulista de 2007

Em minha coluna da semana passada brinquei com os leitores da Universidade do Futebol dizendo que o Santos seria o campeão paulista de 2007. A idéia, na verdade era questionar as análises simplistas que costumam fazer os aficionados do futebol, prevendo os resultados dos jogos com certezas que quase sempre não correspondem à realidade. E comentei que o favoritismo no futebol costuma desmobilizar os favoritos e desmoralizar os entendidos.
 
Não sei se o favoritismo do Santos desmobilizou o time para o jogo com o São Caetano, mas que desmoralizou alguns entendidos, isso não tenho dúvidas.
 
É interessante constatar que fazer previsões, definir favoritos, adivinhar o que vai ocorrer numa partida parece ser tão estimulante quanto o jogo de futebol propriamente dito.
 
E estas reflexões sobre favoritismo no futebol nos remete a pensar um pouco sobre a afirmação de que o futebol é uma coisa muito simples.
 
Sob certo ponto de vista o futebol, como fenômeno cultural e humano, pode ser considerado tão complexo quanto entender o significado da própria vida.
 
O sociólogo e pensador francês Edgar Morin nos ensina que complexidade é efetivamente o tecido dos acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações e acasos, que constituem o nosso mundo.
 
Se o futebol é parte constituinte deste mundo em que vivemos, não temos como fugir à constatação que de que entender o futebol é tão complexo quanto entender o mundo.
 
Portanto, para aqueles que achavam que o Santos seria o campeão, resta buscar novas explicações e fazer novas previsões.
 
Com a vitória contundente por 2 a 0 no primeiro jogo da final, já há pesquisas de opinião demonstrando que mais de 80% das pessoas acham que o São Caetano será o campeão paulista deste ano.
 
Mas seja lá quem for o novo campeão o fato é que estas discussões e previsões só conseguem nos mostrar o quanto é complexo entender realmente o que é o futebol.
 
E de qualquer forma quero dar os parabéns ao São Caetano que sendo campeão ou vice nos permitiu refletir um pouco sobre o fenômeno da complexidade que envolve o futebol.

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A importância do ídolo – 2

Na semana passada abordamos aqui neste espaço os retornos que um clube pode ter quando investe na manutenção de seus ídolos. Na última quarta-feira, deparei-me com uma nova e interessantíssima situação que mostra a falência que encontramos no modelo de gestão do futebol brasileiro.
 
No início deste ano, a cidade de Juiz de Fora, a mais carioca das cidades de Minas Gerais, recebeu um torneio das nações indígenas. A competição envolvia jogos de futebol entre tribos de índios dos mais diversos pontos do Brasil. O grupo de estudos em Comunicação, Sociologia e Esporte da Universidade Federal de Juiz de Fora fez um levantamento sobre o impacto da globalização do futebol no comportamento dos índios.
 
O maravilhoso documentário mostra que os índios são afetados diretamente pela mídia e, a partir disso, traçam o seu comportamento em relação ao futebol. Tanto é que o modelo, para os indígenas, são jogadores que estão na mídia o tempo todo.
 
Mas o que chamou mais atenção foi a vestimenta usada pelos atletas para disputar o campeonato. Em meio a camisas de futebol próprias, apenas um time usava um uniforme igual a de uma equipe conhecida mundialmente. Sim, isso mesmo. Havia um time inteiro usando o uniforme do Chelsea, da Inglaterra.
 
A camisa azul falsificada da Adidas. A marca da Samsung no peito. Nas costas, no lugar de nomes como Drogba, Schevchenko, Ballack e Lampard, as grafias dos craques da tribo.
 
Nenhum time, porém, usou a camisa de um Flamengo, Fluminense, Palmeiras, Vasco, Santos, São Paulo, Corinthians, Internacional, Grêmio, Atlético, Cruzeiro e tantos outros times que sempre permearam o imaginário popular.
 
Qual a explicação para esse “descaso” dos indígenas com os nossos times. A resposta, muito provavelmente, está em outro dado levantado pela pesquisa. Os ídolos dos jogadores são atletas como Ronaldinho Gaúxho, Kaká e Ronaldo. Beckham, Zidane e até Canavaro foram lembrados pelos indígenas.
 
O único jogador que atua no Brasil e teve seu nome citado foi Rogério Ceni.
 
Sem grandes atletas em atuação no país, até mesmo o povo indígena passa a torcer para os astros que estão lá fora. Desse jeito, o futuro do futebol no Brasil será torcer para Milan, Manchester, Barcelona. E, às vezes, ter um ídolo fugaz dentro do seu próprio clube.
 
Ídolo é importante não apenas para conquistar títulos. Mas, também, para fabricar sonhos e, conseqüentemente, gerar receita para os clubes que mantiverem os seus craques.

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Os Conflitos da Copa do Mundo

Já existe no momento um certo movimento nacional em busca de estruturação para que a Copa do Mundo de 2014 possa ser realizada com sucesso no Brasil, apesar de até agora não haver nenhuma garantia maior que isso vai acontecer. A única coisa palpável até o momento é a palavra da FIFA, o que por si só não é certeza pra nada. Em 1998, o então presidente da FIFA, João Havelange, se reuniu com o primeiro ministro britânico, Tony Blair, e disse que era seu desejo pessoal que a Copa de 2006 fosse sediada na Inglaterra. A Copa de 2006, como bem se sabe, foi na Alemanha. Tudo bem que o presidente da FIFA era diferente e que o próprio cenário político interno da organização era outro, mas vale a menção como um alerta para a comoção que vem tomando conta do país.
 
Essa comoção é gerada, principalmente, por dois fatores. Primeiro por ser a Copa do Mundo considerada o maior evento global contemporâneo, o que faz com que qualquer lugar que a hospede seja visto, conhecido e destacado por quase todo o planeta. Para países como o Brasil, historicamente obcecado em se apresentar e ser reconhecido pelo mundo, a Copa é um prato cheio. O segundo fator que gera tanto burburinho em torno da possibilidade do país hospedar o evento é a própria constituição da sociedade brasileira, que nos idos tempos pós República Velha, teve o futebol como um dos principais pilares de construção da identidade nacional. Com esses dois fatores em mente, pode-se facilmente perceber que não foi à toa que já em 1950 a Copa do Mundo foi utilizada para disseminar para todo o planeta a idéia do Brasil-Potência, e que também não é por acaso que a possibilidade real de o país sediar o evento já gere tanta discussão, e discórdia, mesmo estando ele a sete anos de distância.
 
Passada a Copa do Mundo de 50, o Estado brasileiro passou a investir pesado na criação de uma estrutura nacional para a prática do futebol. Foi aí, mais precisamente nas décadas de 60 e 70, que houve um boom na proliferação de estádios por todo o país, sem que houvesse necessariamente um estudo de sustentabilidade do investimento. Ao somar o populismo da ocasião com uma certa demanda momentânea pelas praças esportivas, o resultado foi uma previsível superestruturação do futebol brasileiro. Construiu-se muito para pouco. O Estado entregou uma mansão para quem deveria ter ganhado uma kitnet. A partir disso, não foi nenhuma surpresa que os estádios brasileiros tenham ficado abandonados ou bastante subutilizados, o que colabora de maneira crucial para o baixo desenvolvimento da indústria do futebol nacional.
 
Quando se pensa em hospedar uma Copa do Mundo no Brasil, é preciso definir exatamente qual a linha de pensamento que será seguida: ou uma linha que se preocupa com a estrutura e o evento esportivo em si mesmo, ou uma outra linha que entende a Copa como um evento crucial para a afirmação mundial da sociedade brasileira, que, portanto, é assunto e objeto de todos inseridos no sistema democrático vigente.
 
Na linha esportiva, o ideal é que a racionalidade seja a maior direcionadora do processo decisório. As instalações a serem utilizadas devem obedecer a critérios que busquem a otimização dos espaços, a redução dos recursos empregados, a minimização dos riscos e a sustentabilidade do projeto como um todo. Dessa forma, o melhor seria utilizar estruturas que já ofereçam condições mínimas de sediar um evento e que demandem poucas mudanças, que eventualmente devem ser bancadas exclusivamente pelo setor privado. O problema, claro, é que reduzirá o apelo popular que as grandes inovações sempre atraem, além de jogar o nível da Copa para aquele que o Brasil de fato pode oferecer, que não é muito alto. Como resultado, têm-se instalações medianas, pra dizer muito, mas adequadas ao tamanho do mercado do futebol brasileiro.
 
Por outro lado, caso se busque na Copa do Mundo a afirmação do Brasil como nação super-desenvolvida, na mesma premissa da Copa de 1950, os projetos tenderão a ser maiores e pensados de forma efêmera, ou seja, com a sua utilização pautada exclusivamente para atender aos anseios de um evento de tamanho porte, e não com aquilo que virá depois. Aí sim, dentro desse contexto, o Estado pode colocar os tanques na rua para garantir a segurança, fazer alianças com movimentos sociais potencialmente perigosos e assim por diante, de modo que durante o um mês de Copa do Mundo, o Brasil consiga se maquiar para os olhares externos da maneira que bem lhe apetecer. É dentro dessa filosofia que se pode defender os projetos megalomaníacos, com estádios para tudo e para todos, e financiados pelo poder público, uma vez que possuem um fim político e não necessariamente financeiro. Aí sim se justifica um estádio novo, neutro e democrático, feito não para um time, mas para todos. Mesmo que ninguém venha o utilizar posteriormente.
 
Para clarificar esse conflito filosófico existente na estruturação para a Copa do Mundo, basta recorrer aos números. Historicamente, a média de público de um Campeonato Brasileiro da Primeira Divisão fica entre 10 e 15 mil pessoas. Em jogos da seleção brasileira no Brasil, a média sobe pra mais de 40 mil.Ou seja, por uma análise bastante superficial – porém lógica e apropriada -, se um estádio for feito pra Seleção jogar na Copa, assumindo assim um caráter público, ele deve ser erguido pensando em 40 mil lugares. Se ele for feito para servir o futebol brasileiro, assumindo então um caráter privado deve-se reduzir o seu tamanho pela metade.
 
Independente de qual for a escolha a ser seguida, é preciso que haja um comprometimento de todos em prol de uma concordância nas ações a serem tomadas. É uma excelente oportunidade para o país aprender a se portar como uma sociedade coesa, justa e racional. A Copa do Mundo é, de fato, um grande momento para se abrir as portas do país para a comunidade internacional. Entretanto, caso todas as partes envolvidas tentem aproveitar o momento para se beneficiar individualmente sem se importar muito com algum possível bem maior, o evento acabará trazendo diversos malefícios para si e outros com os quais todos da sociedade brasileira terão que arcar futuramente.
 
Infelizmente, já existem indícios de que este último cenário será o mais provável.
Sediar a Copa do Mundo de 2014 pode, enfim, mostrar ao mundo aquilo que verdadeiramente somos.

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Santos, o campeão paulista de 2007

Um dos exercícios preferidos dos jornalistas esportivos, bem como de muitos torcedores, parece ser o de querer adivinhar o que vai acontecer numa partida de futebol, num campeonato; saber, enfim, quem vai ser o campeão.
 
Foi muito divertido acompanhar os campeonatos pelo Brasil afora e ouvir as previsões sobre os prováveis campeões. Afinal a recente lição sobre o favoritismo do Brasil na Copa de 2006 já foi totalmente esquecida.
 
Em São Paulo, por exemplo, estávamos ainda em janeiro, o campeonato paulista mal começando e já se ouvia, devido às boas vitórias nas primeiras rodadas, que Corinthians, São Paulo, Santos e Palmeiras, seriam os quatro semifinalistas. A diferença entre estes quatro grandes times e os demais, dizia-se, era enorme.
 
Não demorou muito para que Corinthians e Palmeiras começassem a tropeçar e aí os discursos também começaram a mudar. A partir daí os “experts” apostavam todas as suas fichas em Santos e São Paulo. Boas estruturas, bons treinadores, bons jogadores. Parece que não havia mais dúvidas, um dos dois seria o campeão.
 
Faltava apenas saber quem seria os outros dois semifinalistas. Num certo período do campeonato, Noroeste e Paulista de Jundiaí, por possuírem estruturas mais profissionais e estáveis, seriam os adversários de São Paulo e Santos.
 
E eis que chegam as semifinais. São Paulo e São Caetano e Santos e Bragantino enfrentam-se em duas partidas. Não havia mais qualquer sombra de dúvidas. Santos e São Paulo eram disparadamente os grandes favoritos e fariam a grande final.
 
Daí vem a realidade dos fatos e os dois grandes favoritos em quatro jogos não ganharam uma partida sequer. A final ficou para Santos e São Caetano.
 
Mas agora não há mesmo nenhuma dúvida. Santos, o melhor time durante toda a competição será o campeão. Ou será que não?
 
Bom, a verdade é que eu não tenho nenhum palpite.
 
Afinal, o favoritismo costuma desmobilizar os favoritos e desmoralizar os entendidos.

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A ética no jornalismo

Recentemente abordamos neste espaço a questão do famigerado “direito de resposta” a ser dado pela imprensa. A reclamação do relacionamento imprensa-fonte é corriqueira, ainda mais no meio do futebol, em que as assessorias de imprensa ainda não se tornaram tão eficientes quanto nos outros setores da nossa sociedade, para alegria dos jornalistas e desespero das fontes.
 
Na última terça-feira, enquanto o Corinthians apresentava o técnico Paulo Cesar Carpegiani, o diário “Lance!” destacava em sua capa a comissão de R$ 150 mil paga ao empresário Orlando da Hora, que intermediou as negociações entre treinador e clube.
 
Até aí, nada de errado na matéria, fruto da apuração da repórter Marília Ruiz, também repórter da TV Record e profissional com passagens por “Folha de São Paulo”, “Band” e “RedeTV!”, entre outros. O “Lance!” obtivera os detalhes do contrato e havia reproduzido no jornal, dando um belo furo em toda a concorrência.
 
O desenrolar da história, porém, se tornou um fato inédito da história do jornalismo esportivo brasileiro. Na terça-feira, o presidente do Corinthians, Alberto Dualib, anunciou que registrou um boletim de ocorrência acusando o diário de furto do documento.
 
Segundo o mandatário, no domingo houve uma coletiva de imprensa para veículos de televisão em sua casa. Na noite daquele dia, Dualib deu conta de que o documento havia sumido e chamou a polícia, que o aconselhou a esperar qual veículo daria a notícia para, então, registrar queixa do furto.
 
O “Lance!” reiterou que, de sua equipe, apenas a repórter Marília Ruiz, que também trabalha para a Record, esteve presente na casa de Dualib. Mas, em entrevista à rádio Bandeirantes, o editor Fernando Santos afirmou que as informações foram obtidas por uma fonte, sem que o documento reproduzido no jornal tivesse sido feito a partir do contrato original.
 
Cabe à polícia, agora, encontrar culpados para a história. O fato é que o estrago já está feito. O “Lance!” conseguiu a melhor história sobre a contratação de Carpegiani. Afinal, Orlando da Hora, que faturou R$ 150 mil, é o mesmo empresário que há quase um ano briga com a direção corintiana para tirar Nilmar do clube.
 
No final das contas, o furo foi dado, o jornal vendeu bastante e obteve grande repercussão com a história. Mas a que preço?
 
Imaginemos que, de fato, o documento original tenha sido furtado da casa do presidente Dualib e, depois, usado para fazer a matéria. Jornalisticamente, o material resultou numa grande reportagem, que mostra no mínimo um caso de pagamento de comissão a uma pessoa que faz de tudo para tirar um dos melhores jogadores do Corinthians há quase um ano. Agora, porém, o “Lance!” e a repórter poderão ter de responder criminalmente pela história revelada.
 
Mas o maior problema que se coloca é a questão da ética no jornalismo. Não existe, na profissão, um código de ética, como aquele que regula os trabalhos de médicos e advogados. Não há um manual de conduta para a busca por uma boa história.
 
Ou seja, a ética no jornalismo é, na realidade, a ética do jornalista. E isso faz toda a diferença. Afinal, valores morais são passados de pais para filhos e se modificam ao longo do tempo. Mais do que isso, variam de pessoa para pessoa.
 
Acostumamos a ver matérias em vídeo de denúncia a más condutas em postos de saúde, em pagamentos de propinas, etc. É ético fazer a gravação de imagens sem anunciar que se está com uma câmera? Eu não estaria invadindo a privacidade do outro? Eu não estaria infringindo a lei da mesma forma que quando um documento é furtado? É permitido fazer grampo telefônico para conseguir uma grande matéria?
 
A questão não é quem roubou o documento, se é que de fato ele foi roubado. Só precisamos saber quando haverá um guia de regras para fazer com que o exercício do jornalismo não seja norteado pelas noções éticas de cada um.

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A Importância da Universidade do Futebol

Como você pode ver, o site mudou. Pra melhor.
 
É um sinal claro de desenvolvimento do produto, conseqüência direta do importante papel que a Cidade do Futebol começou a desempenhar no ambiente do futebol brasileiro.
 
Futebol, como bem defendido por aqui, é um fenômeno extremamente multidisciplinar. Primeiro pela sua própria constituição natural, em que inúmeras variáveis acabam incidindo sobre o sucesso ou o fracasso dos objetivos estipulados dentro do jogo, e também, talvez principalmente, pela imensa popularidade alcançada com pouco mais de um século de existência do seu formato moderno.
 
Tanta popularidade fez com que o futebol se tornasse um fenômeno de grande importância nas mais diversas áreas, como medicina, direito, economia, educação física, administração, fisioterapia, odontologia, psicologia, marketing, comunicação, et al. Nada mais natural, uma vez que a fama gera disseminação do conhecimento, que por sua vez tende a gerar mais demanda desse mesmo conhecimento.
 
Entretanto, o mundo do futebol tende a se enxergar de modo singular, sem ampliar o seu escopo. Reside na atmosfera a premissa de que futebol é uma coisa sólida e homogênea. Quem entende de futebol, supostamente entende de tudo que acontece nele. Quem entende de futebol, aparentemente, sabe analisar o posicionamento tático dos times que jogam determinada partida, as forças, as fraquezas e o potencial de um atleta, a estratégia de marketing de um clube, as entranhas dos processos contratuais e até problemas cardiológicos em esportes de alto rendimento. Obviamente que ninguém sabe de tudo isso. E se diz que sabe, é porque sabe pouco. E, provavelmente, sabe errado. Não se pode saber tudo de futebol. Nem sobre um só assunto, muito menos sobre todos os assuntos juntos. Não é porque você assiste a todos os jogos do seu time que você possui capacidade para julgar o melhor tratamento físico pra curar a lesão no joelho do atacante titular. Futebol, repito e repete-se, é multidisciplinar e essencialmente referencial, ou seja, não possui uma verdade absoluta, tampouco alguma teoria plena.
 
Uma das grandes benesses do futebol à sociedade é justamente o fato de ele ser tão popular e passível de discussão. Por tal, ele desperta o interesse comum em torno de diversos objetos de estudo que servem para analisar o esporte, mas que também acabam sendo aplicados para a sociedade de um modo geral. Quer dizer, o futebol oferece isso, mas a sociedade não necessariamente o aceita como tal. E é bem aí que entra o importante papel que um portal como a Cidade do Futebol oferece. A Cidade acaba por reunir em um espaço, virtual e comum, diversos estudiosos do assunto, das mais diversas áreas de abrangência. Essas áreas muitas vezes não possuem uma ligação visível, mas o fator agregador do futebol permite que seja tudo colocado dentro do mesmo contexto, tal qual deve ser pensada a sociedade como um todo.
 
A Cidade do Futebol é um projeto ambicioso, que oferece uma oportunidade única para o universo do futebol brasileiro, e que tende a gerar diversos benefícios futuros. Espero e torço para que essa nova mudança seja mais uma etapa desse grande processo.

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As qualidades de um treinador

O papel do treinador em uma equipe de futebol tem sofrido mudanças ao longo dos tempos. Durante décadas foi um profissional eclético, um “sabe tudo”, onde além de ser um orientador natural na forma de jogar da equipe, era também, médico, nutricionista, psicólogo e assistente social.
 
Com a evolução dos conhecimentos no futebol, a responsabilidade pelo rendimento de uma equipe começou a ser dividida entre diferentes e inúmeros profissionais. Hoje há o preparador físico, os médicos especialistas, o fisioterapeuta, o fisiologista, o nutricionista, o psicólogo, o assistente social entre outros. Podemos assim dizer que a função do treinador neste início de século 21 começa a passar por uma metamorfose.
 
Na esteira da especialização o treinador, cada vez mais, tem que ser aquele profissional capaz de organizar a sua equipe, definindo um padrão de jogo e liderando seus atletas, sem abafar seu talento, mas ao mesmo tempo, disciplinando-os dentro de uma proposta tática.
 
Mas por outro lado, o treinador competente, tem que possuir uma visão de conjunto. Não pode mais ser aquele tipo de especialista que não entende ao menos um pouco a complexidade humana, cultural e social em que vive.
 
O treinador competente, portanto, para dar conta das demandas atuais do futebol contemporâneo, precisa de consistente liderança, formação acadêmica, conhecimentos diferenciados sobre tática, pensamento estratégico, metodologia que incorpore processos pedagógicos avançados, além de sólidos conhecimentos das ciências humanas para poder lidar com os atletas e todos aqueles que circundam seu trabalho.

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A importância do ídolo

Leonardo foi ídolo do Flamengo e do São Paulo. Já se passaram 20 anos desde que ele surgiu no Rubro-Negro. E outros dez desde suas conquistas no São Paulo. Mesmo assim, os dois clubes costumam cativar Leonardo, conversam com ele, deixam-no informado sobre tudo o que acontece nos bastidores.
 
Muitos clubes consideram esse tipo de atitude desnecessária. Festas para ex-atletas, homenagens para os jogadores ainda em atividade. Utilização de ídolos em promoções para os torcedores. Tudo isso, para muitos clubes, parece um gasto desnecessário, um resgate de um passado que às vezes não foi tão brilhante assim.
 
Mas não para o São Paulo, por exemplo. O clube promove, há quase uma década, um encontro de ex-atletas no Centro de Treinamentos. Leva ídolos do passado para assistir aos ídolos do presente no estádio do Morumbi. Faz festa para antigos atletas.
 
E o que o São Paulo ganha com isso?
 
Além de manter seus ídolos próximos, o clube do Morumbi mostrou, na última semana, a importância que há em manter um ex-jogador ligado à vida do clube por onde passou.
 
O São Paulo anunciou na última quarta-feira, dia 11 de abril, o primeiro acordo de licenciamento exclusivo de sua marca com a Warner Bross. Por três anos e meio de parceria, o clube receberá R$ 2,9 milhões em luvas e ficará com 50% da receita obtida pela maior empresa do mundo em licenciamento de produtos.
 
A marca do clube do Morumbi será explorada no Brasil e no Japão num primeiro momento. Depois, poderá invadir outros países. Linha infantil, artigos para as mulheres e outros produtos para os adultos, além do uso da força da Warner no segmento de vídeo. Tudo faz parte de um complexo projeto que pretende romper com os trabalhos de licenciamento esportivo existentes no Brasil.
 
E onde é que entra Leonardo nessa história toda?
 
Bom, partiu de Leonardo, que também foi jogador ex-dirigente do Milan, da Itália, a iniciativa de aproximar o São Paulo da Warner. Após conhecer o trabalho do grupo com o time italiano, Leonardo decidiu levar a idéia para o Brasil. E, especificamente, para São Paulo e Flamengo, clubes por onde passou e onde tem grande simpatia.
 
Ídolo é importante para a vida de um clube. Tanto durante quanto depois de sua trajetória dentro do clube.
 
Direito de Resposta
 
Há algumas semanas temos abordado aqui neste espaço a questão do direito de resposta que as pessoas têm no relacionamento com a imprensa. Como lembra o leitor Diogo Paiva dos Santos, na última semana tivemos um bom exemplo de como acontecem as coisas para quem recorre às vias judiciais para obter o direito de resposta.
 
Segue o trecho da reportagem de Carolina Elustondo no site da Globo.com:
 
“Edmundo ganhou a capa da revista “Veja” mais uma vez. Agora, a publicação terá que se retratar com o jogador do Palmeiras por decisão judicial. O atacante ganhou uma ação que movia contra a revista por causa de uma reportagem feita em 1999, cujo assunto era o envolvimento de pessoas famosas em acidentes de trânsito.
 
O atacante entrou com uma ação por danos morais não pelo conteúdo da matéria, mas pela publicidade utilizada na divulgação desta. Na capa da revista, foi estampada uma foto do jogador fazendo cara de mau, que havia sido tirada para ilustrar uma reportagem sobre um clássico paulista. A “Veja” ainda estampou a capa em outdoors, com a seguinte frase: “Alguns animais tinham que ficar atrás das grades.” A Justiça considerou que a publicação abusou do direito de liberdade de expressão, e condenou esta a pagar R$ 75 mil ao atacante, além de ter que fazer uma capa com a sentença”.
 
Ou seja, o conteúdo da reportagem não foi o motivo do direito de resposta. Mas sim a publicidade em torno da matéria. Mas valeu o grito do Animal, que agora terá o espaço da capa novamente destinado a ele. Resta saber, porém, se a decisão já é definitiva…

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