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Caro leitor,
O colunista João Paulo Medina não pôde publicar seu texto semanal.
Enquanto ele estiver ausente, será substituído neste espaço por Antonio Afif, coordenador de gestão de carreiras do projeto Campus Pelé.
Formado em economia pela Universidade Mackenzie, Afif já foi diretor de marketing e assessor da presidência do Corinthians. Além disso, prestou assessoria e consultoria a diversos clubes do país e escreveu os livros “Futebol 100% Profissional”, em parceria com José Carlos Brunoro (1997), e “A Bola da Vez – O Marketing Esportivo como Estratégia de Sucesso” (2000).
A coluna de João Paulo Medina voltará dentro de algumas semanas.
A Deloitte, uma das mais conceituadas empresas de consultoria financeira em todo o mundo, divulgou seu relatório anual (base 2006) da movimentação do futebol na América Latina, intitulado “Latin American Football Money League”. O documento faz uma análise das informações patrimoniais e financeiras dos clubes da primeira divisão de cinco países: Argentina, Brasil, Chile, México e Uruguai.
De acordo com o relatório, a América Latina ocupa “posição preponderante no plano esportivo e também no que se refere à indústria do futebol, sobretudo como exportadora de jogadores de futebol para as equipes economicamente mais poderosas do mundo”.
O estudo da Deloitte apresenta dados referentes aos valores obtidos com transferência de jogadores, direitos de TV, venda de ingressos e publicidade, entre outros.
Os times argentinos faturaram US$ 160 milhões com transferência de jogadores, contra US$ 100 milhões dos clubes tupiniquins. Este tópico no balanço dos clubes representa a principal fonte de divisas, tanto das agremiações argentinas (50% do total da receita), quanto brasileiras (30%).
Outro item de peso na renda dos clubes é a televisão. Na Argentina este tópico representa 22% do faturamento dos times, enquanto que no Brasil este número varia de 15% a 40%, de acordo com o porte do clube.
O relatório elaborado pelo Sport Business Group da Deloitte recomenda que os envolvidos com o esporte na América Latina “tenham consciência de que, para conseguir que os torcedores lotem os estádios e que haja novas oportunidades de negócios para os clubes, é necessário investir na consolidação de suas bases patrimoniais e financeiras”.
Fácil, né?
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Com que roupa?
Fatal Surf, Ongobongo, Radical… As marcas são as mais variadas e, geralmente, não têm absolutamente nada a ver com o futebol. Todos nós já vimos, pelo menos uma vez, durante um interminável programa de debates, os jogadores de futebol vestidos com roupas dessas marcas. Nessas horas, esqueçam o patrocinador pessoal, o do clube ou até mesmo o bom senso na hora de se vestir.
A invasão dessas roupas de surfe nos jogadores de futebol que participam das mesas-redondas no domingo à noite revela, mais do que uma espécie de falta de amor à camisa ao estilo Dunga, o descaso com que as assessorias de imprensa, do clube e dos jogadores, tratam o seu ativo mais valioso.
Apenas quando Carlitos Tevez apareceu numa coletiva de imprensa do Corinthians usando um agasalho do Manchester United, em 2005, que a discussão sobre como o jogador deve se vestir na hora de dar entrevista para a televisão foi levantada.
O que nós vemos no dia-a-dia é uma salada de marcas, estilos e vestimentas usadas pelos atletas, especialmente aos domingos, quando eles são convidados para irem às mesas-redondas. Mas quem perde e quem ganha com isso?
Bom, sem dúvida que os maiores beneficiados são essas marcas que, em troca da entrega de roupas aos jogadores, conseguem uma grande exposição na TV. Antes, não sabíamos sequer que determinadas fabricantes existiam. Hoje, lembramos facilmente de seu logotipo e do nome da empresa.
Para o atleta, o maior risco que existe é associar a sua imagem a um produto de baixa qualidade, que não condiz com sua classe em campo ou até mesmo com o seu estilo de vida. Em troca de roupas para a família inteira, ele acaba prejudicando até mesmo negócios mais interessantes para ele, que envolvesse, além de roupa, dinheiro.
O clube e seus patrocinadores, porém, acabam sendo os maiores prejudicados com toda a história. Afinal, no momento em que teriam uma grande exposição de suas marcas, eles vêem os atletas renegarem seus símbolos.
Deveria ser uma norma do clube exigir que o atleta, quando representasse a instituição em programas de TV ou entrevistas, trajasse o uniforme do próprio clube. Afinal, o salário do jogador é pago pelo clube, que por sua vez consegue dinheiro dos seus patrocinadores. Nessa hora, o atleta daria uma recompensa de exposição às marcas a ele ligadas.
Deveria ser uma preocupação do atleta saber qual é a impressão que os torcedores e, especialmente, os patrocinadores, têm desse estilo de roupa. Será que vestir roupas tão extravagantes não acaba prejudicando a imagem desse atleta?
Deveria ser uma preocupação dos assessores (de imprensa e de marketing) dos atletas e dos assessores do próprio clube determinar qual tipo de roupa o jogador deve usar quando está a serviço do seu empregador.
Não à toa, os jogadores que mais faturam no mundo são atletas que têm contratos severos de exploração de imagem. Kaká e Ronaldo, por exemplo, só usam roupas do estilista Giorgio Armani quando estão fora do Milan. Julio Baptista tem acordo semelhante com a Hugo Boss. E todos esses contratos foram fechados quando esses jogadores atuavam no Brasil.
Faz parte do marketing pessoal do atleta preocupar-se com o tipo de roupa que ele tem de usar durante as entrevistas na televisão. Parece tolice, mas a imagem ainda é mais importante do que o conteúdo. Infelizmente.
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Sabe todos aqueles problemas do futebol brasileiro?
Não?
Relembro: violência, estádios mal cuidados, falta de estrutura, fraco atendimento, fraco rendimento, corrupção, escândalos, jogos fracos, péssimos horários, falta de acessibilidade, falta de transparência e por aí vai.
Lembrou?
Legal. Agora esqueça.
Sim, esqueça.
Quer dizer, ou esqueça, ou tolere, ou crie e lidere um movimento radical por mudanças.
Afinal, nada vai se transformar – pelo menos dentro de um curto espaço de tempo.
Os problemas do futebol brasileiro estão profundamente ligados a todos os problemas que pairam sobre o nosso país. Achar que o futebol será diferente do resto é acreditar que existe uma espécie de aura protetora ao redor do esporte. Se existe, ela não está funcionando.
Toda vez que se debate algum aspecto da estrutura do futebol nacional, sugere-se exemplos do além-mar. Algumas vezes, faz-se menção ao exemplo do funcionamento do esporte-entretenimento norte-americano. Em outras, utiliza-se o exemplo europeu como um estudo de caso. Mas são raras as vezes em que o próprio Brasil é utilizado como referencial, que seria de fato a coisa mais óbvia a se fazer.
De qualquer maneira, o meu argumento de que nada vai mudar tão cedo parte do princípio de que o desenvolvimento do futebol é uma conseqüência de outras mudanças sociais. Não a causa, como alguns preferem entender. Não. Jamais. Futebol vem depois. Primeiro as coisas mais básicas: saúde, segurança e educação. Depois uma outra montoeira de coisas, para que então todas essas elementares evoluções forneçam a conjuntura sobre a qual o ambiente do futebol brasileiro possa se desenvolver.
Analisando a partir dessa ótica, fica fácil prever um futuro não muito brilhante para o esporte nacional. O carro-chefe disso é o fato de que o público do futebol profissional brasileiro, no seu sentido defendido por legisladores, articuladores e afins, está cada vez mais deixando de existir.
Há no Brasil uma clara defesa de que o futebol é um produto subvalorizado, na mão de administradores incompetentes, e que carece de uma série de melhorias para que o público possa voltar aos estádios.
Bom, primeiro é preciso quebrar essa idéia de que o público um dia vai voltar aos estádios. Isso é mentira. O público nunca foi ao estádio. Salvo alguns raros anos, que podem muito bem ser entendido como exceção, a média de público dos campeonatos brasileiros não é muito maior do que a de hoje. Quatro ou cinco mil, no máximo, talvez. Nada de muito exuberante. Em geral, a média sempre foi pífia, ou seja, o público nunca foi muito chegado em ir ao estádio, por mais que afirme gostar de futebol.
Mas por que isso?
Basicamente porque o futebol, desde que ganhou contornos mais comerciais a partir do fim do século passado, passou a se sustentar na classe média, aquele limbo que fica entre a pobreza e a riqueza. E não só na Europa. Processos de globalização e evolução tecnológica fizeram com que esse caráter fosse assumido por todos os lugares onde existe futebol profissional que se preze, inclusive o Brasil.
A classe média é a classe essencial para o futebol profissional atual, pois é nela que residem pessoas com poder aquisitivo e tempo suficientes para conseguir consumir produtos relacionados ao seu clube de futebol regularmente, mas que não têm muito mais tempo e dinheiro para gastar com outras formas de entretenimento mais atraentes – como viagens, por exemplo.
E o problema é que no Brasil a classe média vem diminuindo cada ano mais. Não são muitos os que estão por aí. É um número muito baixo para sustentar toda a estrutura do futebol nacional. Além disso, existe uma série de outros empecilhos que inibem o potencial de consumo desse já escasso público. Essa, por exemplo, é a classe econômica que mais sofre com as tributações, ou seja, tem menos dinheiro livre para aplicar onde bem entender. Futebol, no caso.
Enquanto o Brasil não conseguir se resolver socioeconomicamente, o futebol não vai evoluir. Não tem como.
Se você quer lutar pelo futebol brasileiro, lute pela classe média.
Ou lute pela melhoria das condições sócio-econômicas.
Mas lute com afinco. Afinal, você é brasileiro.
E brasileiro…
Bom, você sabe o resto.
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Qual é a do Leão?
Caro leitor,
O colunista João Paulo Medina não pôde publicar seu texto semanal.
Enquanto ele estiver ausente, será substituído neste espaço por Antonio Afif, coordenador de gestão de carreiras do projeto Campus Pelé.
Formado em economia pela Universidade Mackenzie, Afif já foi diretor de marketing e assessor da presidência do Corinthians. Além disso, prestou assessoria e consultoria a diversos clubes do país e escreveu os livros “Futebol 100% Profissional”, em parceria com José Carlos Brunoro (1997), e “A Bola da Vez – O Marketing Esportivo como Estratégia de Sucesso” (2000).
A coluna de João Paulo Medina voltará dentro de algumas semanas.
O empresário Paulo Garcia, da Rede Kalunga, é o novo diretor de futebol do Corinthians. Sua entrada é uma aposta para conter os ímpetos destemperados de Leão com a mídia.
Porém, o buraco é mais embaixo. A verdade é que não há mais clima para o técnico continuar à frente do time do Corinthians. Leão mostrou suas limitações na função. Treinos táticos parecem não ser do agrado do treinador mosqueteiro, num momento em que a equipe precisa contar com o dedo estratégico de um treinador.
Não é segredo que Leão não é fã da fisiologia do esporte e também da tecnologia. Certa vez o técnico corintiano chegou a dizer que não era “computadorizado”. Aliás, o Corinthians é um dos poucos clubes que possui um setor bem equipado para dar apoio ao futebol.
Aí fica a pergunta: será que ainda há espaço no futebol para um técnico que não consegue dar um padrão de jogo num time que possui um bom elenco (ou não?), que pouco se preocupa em treinar as variantes táticas que podem acontecer num jogo, que não utiliza os recursos humanos e tecnológicos à sua disposição e sempre arranja um culpado para os resultados negativos?
Como no futebol o que vale ainda é o resultado, esperemos então pelo clássico contra o Palmeiras.
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O poder do microfone
Pirambu era, até a última quarta-feira, um desconhecido time de Aracaju. Mais incógnito ainda era Alan, o goleiro da equipe sergipana. Até que o Pirambu cruzou no caminho do Corinthians…
Mais do que a glória de empatar com o poderoso alvinegro, o que surpreendeu mesmo no Pirambu não foram os driblres de Saci nem as defesas seguras de Alan durante os 90 minutos.
Após o heróico empate, Alan, eleito o melhor da partida, foi alvo das entrevistas de todas as emissoras de TV. E por lá estavam Band e Globo, representando cerca de 60% do território nacional em termos de visibilidade.
E então Alan, driblando a mesmice que cercam entrevistas de atletas de times menores contra os grandes, marcou um golaço. Quando questionado sobre a quem dedicava a partida, usou o microfone da TV para alertar o país sobre o assassinato de seu pai no interior da Bahia.
“A Justiça no país deixa a desejar. Três meses após o assassinato, descobriram quem matou meu pai, mas pessoas que conheciam o culpado o encobriram”, afirmou o atleta, referindo-se ao crime ocorrido em Olindina, na Bahia.
O repórter Fernando Fernandes, da Band, se surpreendeu com a resposta nada comum à batida pergunta. Mais do que dedicar a atuação ao pai morto, Alan culpou a morosidade da Justiça do país e advogou em causa própria, pedindo a solução para mais um crime num país que não soluciona 95% dos seus homicídios.
Porém, mais do que advogar em causa própria, Alan mostrou o poder que tem o microfone.
Seu protesto nunca seria ouvido se não fosse o jogo contra o Corinthians. E, agora, a discussão de seu caso pode ser agilizada na Justiça brasileira. Tudo isso só foi possível depois que o goleiro usou a TV para desabafar.
O poder que a imprensa adquire, muitas vezes, é maior que o de qualquer outra esfera pública. Alan percebeu isso e usou o microfone para alertar sobre o seu problema. Mas, o que mais assusta, é a maneira como a imprensa encara um assunto como esses.
A irresponsabilidade de muitos jornalistas com a veracidade da informação, ou com o próprio impacto que uma informação errônea pode ter, acaba sendo responsável por um descrédito das pessoas com a notícia que recebe.
Se mais Alans trabalhassem nos veículos de comunicação, quem sabe evitaríamos debates infindáveis nas mesas-redondas de domingo…
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Dificuldades acadêmicas
Estudar futebol não é fácil.
Parece, mas não é.
Principalmente para quem, como eu, estuda o seu aspecto industrial.
Primeiro porque ninguém respeita.
Quando me perguntam o que eu ando fazendo da vida, respondo que tenho desenvolvido uma pesquisa por uma universidade inglesa. As pessoas se impressionam. Aí, no afã por maiores especificidades, elas me perguntam qual é o tema da minha pesquisa. Confesso que eu não sei exatamente qual é a resposta que elas esperam ouvir, se é a solução para a desigualdade social brasileira, a busca pelo equilíbrio sustentável do planeta ou a procura pela cura da enxaqueca.
Fato é que quando eu respondo que pesquiso a indústria do futebol, é possível perceber uma mudança na expressão de quem perguntou. Uma boa parte me encara com um ar de incerteza, diz que o tema é interessante e muda de assunto. Outra boa parte dá risada e pergunta de novo, exigindo uma resposta séria. Com a confirmação de que a pesquisa é realmente sobre a indústria do futebol, diz que o tema é interessante e muda de assunto. Uma minoria realmente se importa e vê algum valor latente no trabalho. Uma parcela menor ainda diz que nunca tinha pensado que dava pra pesquisar futebol e que tem vontade de largar tudo pra fazer isso. Esses, em geral, estão bêbados.
Tirando um certo preconceito acadêmico em relação ao tema, de um modo geral, o grande problema de se pesquisar a indústria do futebol é a carência de fontes de informação sobre o assunto, e de metodologia e imparcialidade nos estudos já realizados.
Não é nada fácil encontrar no Brasil dados confiáveis que possam servir como embasamento inequívoco para a elaboração de teorias a respeito do funcionamento da indústria do futebol brasileiro. Quase tudo necessita de desconfiança e crítica, e, pela característica multidisciplinar do objeto futebol, essas dificuldades de estudo se multiplicam.
Isso tudo acaba gerando um ciclo vicioso para a produção acadêmica que trata a respeito da indústria do futebol. Pouca produção gera, obviamente, conhecimento leviano que acaba desqualificando futuros orientadores, que por sua vez se tornam incapazes de conduzir melhores pesquisas. No fim das contas, a academia acaba perdendo a sua função de existência, ou seja, deixa de servir como fonte de referências para as tomadas de decisões da sociedade.
Com isso, perde o futebol, que fica sem saber o que fazer para se integrar à sociedade, e a sociedade, que fica sem saber o que fazer com o futebol.
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Trabalho inédito no Paulista
Caro leitor,
O colunista João Paulo Medina não pôde publicar seu texto semanal.
Enquanto ele estiver ausente, será substituído neste espaço por Antonio Afif, coordenador de gestão de carreiras do projeto Campus Pelé.
Formado em economia pela Universidade Mackenzie, Afif já foi diretor de marketing e assessor da presidência do Corinthians. Além disso, prestou assessoria e consultoria a diversos clubes do país e escreveu os livros “Futebol 100% Profissional”, em parceria com José Carlos Brunoro (1997), e “A Bola da Vez – O Marketing Esportivo como Estratégia de Sucesso” (2000).
A coluna de João Paulo Medina voltará dentro de algumas semanas.
Na quarta-feira que antecedeu o Carnaval os novos contratados para o projeto Campus Pelé foram apresentados a todos os funcionários, jogadores e comissões técnicas do Paulista.
É um projeto inédito no país e que, certamente, poderá servir de modelo para quem quiser investir no futebol com seriedade, como fez o Grupo Fator. Ao lado do clube de Jundiaí, juntam-se o Litoral FC de Santos (time criado por Pelé) e o Lausanne, da Suíça.
Pela primeira vez num clube de futebol, vi os conceitos de interdisciplinaridade serem discutidos. No Paulista, os profissionais trabalharão de forma integrada e com liberdade para contribuir, quando possível, com os responsáveis de outras áreas.
Como coordenador de gestão de carreiras, estou dando o pontapé inicial para podermos implantar uma nova forma de trabalharmos junto aos jovens atletas, abrangendo não apenas os aspectos técnicos e físicos, mas também emocionais, sociais e culturais, entre vários outros.
Espero conseguir pôr em prática tudo aquilo que está sendo planejado e comandado com maestria por João Paulo Medina e tendo ao lado gente do mais alto quilate, como a psicóloga Regina Brandão, o professor de pedagogia do futebol Alcides Scaglia, o experiente Marcos Biasotto (que retorna ao clube, depois de ser “arrancado” do Atlético Paranaense)… Enfim, só “fera”.
Mas, de uma coisa os investidores e Pelé podem ter certeza: faremos de tudo para que nossas ações sejam um verdadeiro gol de placa que até o rei poderá assinar embaixo.
A coluna de João Paulo Medina voltará a ser publicada dentro de algumas semanas
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Tiro no pé
Romário é o maior jogador do futebol brasileiro desde Pelé. De fato, os números comprovam a eficiência do Baixinho. Ele já venceu de tudo um pouco e, ainda por cima, consegue aos 41 anos de idade ser letal dentro da grande área. Mas não deveria ser por isso que a lei estivesse acima de Romário.
Em dezembro do ano passado, a Máquina do Esporte levantou a lebre de que Romário não teria condições de defender o Vasco antes de julho de 2007. A repercussão do caso aumentou, e a discussão foi parar na Fifa, estância máxima para resolver os problemas do futebol. No final das contas, a Fifa lavou as mãos. Deu à CBF a incumbência de decidir se Romário poderia ou não entrar em campo pelo Vasco, mesmo que isso desrespeitasse uma de suas normas.
No final das contas, Romário já reestreou pela milésima vez no Vasco, em busca do milésimo gol. Pelas contas dele, faltam dez. Por algumas outras contas, podem faltar mais de cem… O fato é que a Fifa burlou sua própria norma para conceder ao Baixinho o privilégio que até hoje apenas Pelé foi capaz de ter reconhecido o feito da ultrapassagem dos mil gols.
Ok, a repercussão mundial do feito de Romário será importante para a Fifa, para o Vasco, para Romário. Mas o “jeitinho” dado por todos para que Romário jogasse foi um tiro no pé da gestão do futebol mundial. O Baixinho mais uma vez foi genial, conseguindo burlar uma norma da Fifa com o aval da própria Fifa! Mas seu caso abre um grave precedente.
A partir de agora, cairá o veto às transferências internacionais dos atletas. Ainda mais com o fim do passe no mundo inteiro, o futebol vai virar um festival de idas e vindas, chegadas e saídas. E, com isso, quem perde é a organização do espetáculo. É, mais ou menos, como uma peça de teatro ter o seu elenco substituído a cada show. E o entrosamento? E a qualidade do espetáculo?
Romário chegará aos mil gols. Mas a um custo grande demais para o futebol mundial.
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Sejamos sinceros. Se a Copa do Mundo de 2014 for realmente no Brasil, quem você acha que vai pagar a conta?
Sem chance de qualquer erro, é possível dizer que atualmente quem financia qualquer investimento válido em estrutura esportiva no Brasil, direta ou indiretamente, é o governo, principalmente o federal. Basta ver o Pan.
2014 pode parecer longe. Afinal, no filme ‘De volta para o Futuro’, o futuro mais distante imaginado – que possuía carros e skates voadores, tênis e roupas auto-ajustáveis com secadores, outdoors holográficos e hidratadores de pizzas – era 2015. De acordo com idéia, portanto, a Copa do Mundo de futebol no Brasil será realizada um ano antes disso tudo.
Porém, 2014 não é tão longe assim. São apenas sete anos. É logo ali, como a África. E é bastante possível dizer que boa parte dos diversos problemas do Brasil não será solucionada até lá. É claro que a tendência, ainda que incerta, é que o mercado evolua, que o nível educacional médio suba e que a estrutura do país como um todo melhore. Mas muito daquilo que atravanca o desenvolvimento nacional irá continuar acontecendo, principalmente se levar em conta que dificilmente o Estado diminuirá de tamanho de maneira significativa. Isso quer dizer que quem vai financiar a Copa de 2014 será ninguém que não o Poder Público. Muito provavelmente, será o dinheiro proveniente dos tributos que irá pagar a conta final do investimento realizado para sediar o evento.
O fato de o Estado ser o principal financiador de um evento esportivo como a Copa do Mundo gerará grandes distorções na aplicação dos investimentos. Projetos serão escolhidos com critérios subjetivos, os materiais utilizados podem não ser da qualidade necessária, e a avaliação final dos resultados será muito mais política do que técnica. Problemas como estouros orçamentários e atraso de obras serão comuns, além de possíveis mudanças nos projetos durante a execução. E, talvez o pior de tudo isso, os projetos serão pensados muito mais pelo viés do retorno político da obra do que pela sua sustentabilidade.
Um caso clássico desse tipo de posicionamento foi o estádio Delle Alpi, da Juventus de Turim. Construído pelo poder público para a Copa de 1990 na Itália, o estádio virou uma dor de cabeça para o futebol italiano, principalmente para a Juventus, que se tornou dona do espaço. O estádio é enorme, suntuoso e bonito por fora. Porém, é frio, extremamente disfuncional, e tem lugares onde não é possível ter uma visão completa do gramado, que por sua vez fica longe das arquibancadas por conta de uma pista de atletismo que, pelo que me consta, foi utilizada uma única vez desde que o estádio foi inaugurado, quase vinte anos atrás. Não por acaso, a média de público da Juventus é pífia, quase no mesmo nível de jogo do Campeonato Brasileiro. O estádio foi parte do legado deixado pelo investimento público na Copa do Mundo.
Além desses problemas práticos de se investir o dinheiro público na realização de um evento do tamanho da Copa, há de se questionar como que um torneio como esse pode gerar um legado estrutural para o país. Afinal, melhorias estruturais, transporte, segurança, et al, são obrigações do Estado. É pra isso que eu e você pagamos impostos. Não precisa que aconteça um evento desse tipo para que o poder público pense em se mexer. Se, por exemplo, disserem que a Copa do Mundo trará melhorias na segurança pública do país, quem está pagando a Copa é o governo e todo mundo sabe que o país precisa de melhorias na segurança, por que esperar uma Copa do Mundo pra fazer isso? A mesma coisa vale para melhoria nas estradas e nos aeroportos. Todo mundo sabe que precisa melhorar. Precisa realmente da motivação futebolística para desamarrar os nós e fazer a coisa funcionar?
Não faz sentido.
Como também não faz sentido acreditar que os novos estádios serão uma benesse para o futebol brasileiro. O país ainda sofre com a herança da última vez que tentaram fazer estádios grandes e modernos, durante a ditadura militar. Criou-se, então, uma estrutura imaginária para o futebol nacional que acabou não se sustentando com a queda do regime. Desde então, o país sofre com o peso dos elefantes brancos. Ou melhor, com os amplos espaços vazios dos estádios, típicos de projetos feitos sem perspectiva de futuro e sustentabilidade, pensados unicamente no afã do momento político da inauguração. Igualzinho ao que provavelmente vai acontecer com a Copa de 2014.
O Pan indica que a iniciativa privada brasileira ainda não está muito disposta a investir em um evento esportivo. Em sete anos, dependendo, é possível que o cenário mude, mas não muito. Como a Copa do Mundo é imensuravelmente maior que o Pan, é óbvio que a boa vontade dos investidores privados deve aumentar. Entretanto, os ganhos políticos proporcionados pela Copa também serão enormes, principalmente se for levado em conta que 2014 é ano de eleição presidencial e para governador. Com isso, talvez a própria vontade de investimento público (dinheiro) por retorno político (voto) acabe sufocando o investimento privado. Dessa forma, pouca coisa deve mudar mesmo.
Quem vai acabar pagando a conta, é o governo federal.
Posteriormente, quem vai pagar é o futebol brasileiro, que terá que se virar pra sustentar uma herança desproporcional ao seu tamanho.
Estou louco para saber o que vai acontecer em 2014.
Vou pegar o meu De Lorean na garagem.
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A monocultura do futebol
Caro leitor,
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Antonio Afif
Há vários anos ouço o amigo e professor João Paulo Medina dizer que o futebol é tratado de forma fragmentada em suas comissões técnicas – multidisciplinares, é verdade, mas carregadas de uma cultura caracterizada pela visão especialista, com pouca ou nenhuma integração entre os profissionais das mais diversas áreas.
É aquela velha história que sempre ouvi nos clubes de futebol em que trabalhei: “cada um tem de fazer a sua parte; eu não entro em sua área e você não entra na minha”.
Agora, lendo um texto recente do professor Medina, encomendado pelo mestre português Manuel Sérgio, pai da Ciência da Motricidade Humana, pude notar que os preceitos preconizados por ambos, desde os anos 80, são cada vez mais necessários ao futebol atual, que conta com um número crescente de profissionais de diversas especialidades em seus quadros.
A visão especialista -que propiciou bons resultados práticos no futebol brasileiro- cria no mundo atual (e isto se aplica também ao futebol) um distanciamento de uma melhor compreensão global da realidade.
Para Medina “a especialização, entendida de forma isolada e desconectada de suas relações com o mundo, a natureza e o homem, da forma mais ampla possível, já não faz o menor sentido”.
É verdade. Vemos hoje que o futebol adota alguns princípios científicos como se fossem verdades absolutas e imutáveis, que aliados com uma boa dose de empirismo dificultam novos avanços deste esporte.
O filósofo e apaixonado por futebol, Manuel Sérgio, respeita os antigos treinadores, pelo que podem ensinar e pelo fato do esporte mais popular do planeta ser, em primeiro lugar, prática e só depois teoria.
No entanto, Manuel Sérgio (que é reverenciado por José Mourinho, um dos técnicos mais admirados da atualidade), observa que a monocultura do saber, praticada por alguns técnicos de futebol, é um erro. “É preciso saber mais do que futebol, no mundo do futebol”.
Por isso, devemos sempre ter em mente que para entendermos de futebol, apenas estudando futebol, sem observarmos a complexidade humana, jamais saberemos o que é futebol.
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