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Futebol e política

Futebol e política sempre se misturaram. Não é de hoje e não acabará nunca. Afinal, quer melhor instrumento de manipulação das massas do que o esporte que reúne o maior número de adeptos, com quase 3 bilhões de fiéis seguidores?
 
Se cerca da metade da população mundial faz de tudo por uma bolinha, por que nossos políticos não podem fazer dela uma boa condição de se aproximar do eleitor? E foi isso que Lula fez quando, a três dias das eleições, recebeu o presidente da Fifa, Joseph Blatter, para uma conversa sem nexo sobre a possibilidade de a Copa do Mundo de 2014 ser no Brasil.
 
Sem nexo porque a realidade política no Brasil não está para se discutir a Copa de 2014. Sem nexo porque o Brasil é virtualmente o país-sede escolhido politicamente para abrigar o Mundial. Sem nexo porque não dá mais para se discutir sobre a Copa de 2014 no Brasil.
 
Não dá para discutir porque é preciso, mais do que nunca, trabalhar, e muito, para que o país consiga fazer um Mundial dentro de sua realidade. Se a vontade política (dentro e fora do país) já está estabelecida, porque não termos vontade de trabalhar?
 
A Alemanha se preparou desde 1993 para a Copa de 2006. A África do Sul só conversou desde 1998 (quando estranhamente perdeu para a Alemanha a disputa para 2006) para o Mundial de 2010. O resultado pode ser visto agora, com aumento no orçamento, dificuldade em cumprir o cronograma de obras de infra-estrutura, etc.
 
A mistura de futebol e política continuará a existir, mas o que não podemos esquecer é o trabalho, que sempre acompanha os projetos vencedores. Enquanto não houver uma disciplina no que se refere ao planejamento para organizar a Copa do Mundo no Brasil, só haverá política para fazer o sonho do Mundial vingar.
 

E, do jeito que a mistura tem sido feita, o sonho da Copa de 2014 se materializará num terrível pesadelo para o futebol. No Brasil e no mundo.

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De novo

Pelo portão de desembarque do Aeroporto Afonso Pena, localizado em São José dos Pinhais – cidade satélite de Curitiba – desembarcam diariamente centenas e centenas de pessoas. Passam pelas portas que se abrem automaticamente, graças a alguns sensores de movimento, trabalhadores em busca de rápida hospedagem na capital paranaense, jovens estudantes retornando das mais diversas partes do país e do mundo, e outros indivíduos indo visitar algum parente ou conhecido, ou então para tratar de algum assunto que bem lhe caiba. À espera de todos esses, estão lá os motoristas de empresas segurando suas pequenas placas ou folhas de papel em que se lê o nome de algum desconhecido, as famílias aos prantos carregando balões, flores e faixas de boas vindas, e os parentes e/ou amigos saudosos em reencontrar velhos companheiros.
 
Nessa quarta-feira, porém, algumas coisas estavam um pouco diferentes. O cenário continuava igual: o mesmo aeroporto, a mesma porta automática com os mesmos sensores, e a mesma idéia de pessoas estarem esperando por outras pessoas. Mas essas pessoas eram diferentes. Os trabalhadores pertenciam a uma superclasse profissional, a de jogadores de futebol. E as pessoas saudosas também pertenciam à outra escala de qualificação. Primeiro porque elas eram torcedores, e depois porque elas não estavam tão saudosas assim.
 
Um pouco antes da equipe do Coritiba desembarcar no Aeroporto Afonso Pena, a torcida já se aglomerava em frente ao portão de desembarque, com a excitação típica daqueles que aguardam ansiosamente o retorno de alguém. As faixas e cartazes, tão comuns a essa área, faziam-se presente. Porém, ao invés de mensagens de boas-vindas, podia-se ler em uma delas “Nosso time é pior que o Tabajara”. Não é exatamente o tom hospitaleiro que se espera de pessoas que aguardam saudosamente por alguém. O mesmo tom não hospitaleiro que se ouvia quando a torcida gritava o bastante famoso “Vergonha, vergonha, time sem vergonha”.
 
Assim que as portas com sensor de movimento se abriram e os jogadores do Coritiba apareceram, começaram os protestos da torcida. De repente, o aeroporto – um dos maiores símbolos de modernidade de uma cidade – virou cenário de uma peleja medieval. De um lado, torcedores organizados. De outro, jogadores e dirigentes de uma equipe de futebol profissional. No meio, nada. Por ordem, aconteceram os gritos, as provocações, os pedidos, os gritos, as provocações, os pedidos, os gritos, as provocações, os gritos, os gritos, as provocações e as provocações. Aí veio a primeira porrada. Depois, várias outras. Alguns pontapés. Uma lixeira voando. Alguns pedaços do aeroporto também voando. Por fim, caos. Que só teve fim quando os jogadores de futebol – profissional, vale sempre lembrar – recuaram e o sensor de movimento não sentiu mais nenhum movimento e fechou o portão de desembarque. Ninguém foi preso, nem advertido, nem nada.
 
Era um problema que estava anunciado. No dia anterior, era possível ler no site de uma torcida que “Grupos de torcedores do Coritiba estão se organizando para receber a delegação que viaja na manhã desta quarta-feira de Fortaleza rumo a Curitiba”. Não precisa ser vidente pra antever que essa recepção não seria das mais afetuosas. Deu no que deu.
 
Mais uma vez o futebol brasileiro voltou a flertar com o perigo, no antigo, longínquo e velho conflito entre a torcida organizada e os jogadores de futebol. Parecem, em casos como esses, duas gangues adversárias. Difícil acreditar que as ambas as partes tão freqüentemente conflituosas estão supostamente trabalhando por um bem comum. Há algo de muito errado nisso tudo, e não me parece que algo vai mudar num futuro próximo.
 

Sempre digo que uma grande tragédia está à espera do futebol brasileiro. Cada vez mais tenho certeza disso. Infelizmente, parece que as coisas só mudarão quando ela acontecer. E, tenha certeza, essa espera causará danos muito maiores do que a espera das torcidas organizadas nos aeroportos.

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Política, futebol e Copa do Mundo

Dois temas têm ocupado o espaço nas conversas de boa parcela dos brasileiros nos últimos tempos.
 
Um dos temas centrais, neste período eleitoral, como não poderia deixar de ser, refere-se à preocupação sobre a forma mais adequada de se buscar dias melhores para todos nós e a construção de uma sociedade mais desenvolvida e justa. Por conseqüência, discutimos como podemos escolher melhores representantes políticos que sejam capazes de contribuir para a superação da atual situação de nossa economia, política, cultura, educação e saúde.
 
Outro tema, principalmente para aqueles que gostam e acompanham o futebol, tem sido sobre a possibilidade de o Brasil poder ou não sediar a realização da Copa do Mundo de 2014.
 
Embora os temas pareçam diferentes são, na verdade, bastante convergentes.
 
A política como ciência, arte e atividade que interfere nas condições básicas da existência humana, deveria estar presente, pelo menos como pano de fundo, na maior parte dos temas que elegemos para debater.
 
Lamento quando ouço pessoas dizerem que tem nojo de política e que não querem discuti-la. Na verdade poderiam dizer que têm nojo dos políticos que desempenham mal o seu papel, sem ética e sem competência. Mas nunca dizerem que desprezam a política em si.
 
Como nos ensina o dramaturgo, poeta e pensador alemão Bertolt Brecht, o pior analfabeto é o analfabeto político, pois não é capaz de ler criticamente as condições sociais que interferem em quase todos os setores e aspectos de nossas vidas, e com isso se incapacita no sentido de ajudar na superação deste estado de coisas.
 
Evidentemente podemos discutir se o São Paulo ou o Grêmio vão ser campeões brasileiros ou se Corinthians ou Flamengo vão ser rebaixados para a Série B, sem que isso tenha qualquer conotação política. Entretanto seria ingênuo querer discutir sobre a estrutura e destino do nosso futebol e dos próprios clubes, sem entendermos minimamente os meandros políticos que costuram nossas relações institucionais e sociais.
 
Da mesma forma, discutir os prós e contras da realização de uma Copa do Mundo no Brasil sem considerarmos seriamente as questões políticas e econômicas que cercam um evento deste porte, significa rebaixar o tema a uma simples e descompromissada conversa de botequim.

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Base é primeiro desafio de Parreira na África

Carlos Alberto Parreira já detectou seu primeiro desafio como treinador da África do Sul. O técnico do país anfitrião da próxima Copa do Mundo pressionou a federação local para que as categorias de base da seleção sul-africana sejam desenvolvidas.
 
“Será preciso começar do primeiro passo, que é criar uma boa base dentro do país. A África não tem divisão de base. Então precisamos criar times sub-20 e sub-17. Categorias mais jovens não precisam, já que para a Copa não dá tempo de formar um jogador”, disse Parreira.
 
Segundo o treinador, a federação local se prontificou a estruturar em conjunto com ele uma liga local para os jogadores mais jovens.
 
“Será a reserve league, que é a liga dos jogadores reservas. É até uma exigência deles para dar motivação, criar uma competição. E isso vai ajudar o time na Copa”.
 
Além de criar uma liga para categorias de base, Parreira quer dar mais bagagem internacional a seus jogadores. Para isso, o treinador quer que a África jogue o maior número de partidas amistosas possíveis contra seleções fortes.
 
“Não tem que se preocupar com o resultado, mas sim jogar contra times como Brasil, França, Itália, Alemanha”, afirmou.
 
Outro desafio que Parreira acredita ter na África é em relação ao time principal. Para ele, haverá problemas semelhantes aos enfrentados na seleção brasileira no que diz respeito aos jogadores convocados.
 
“Assim como no Brasil, a maior parte dos jogadores atua no exterior. São 70 jogadores atuando fora. E a África fica muito ao sul do continente, o que faz com que qualquer viagem para lá dure 11 horas”.

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West Ham não é mais o mesmo depois da chegada dos argentinos

Quando Tevez e Mascherano ainda se encontravam no Corinthians, era muito comum ver e ouvir relatos sobre confusões nos vestiários e rachas no elenco. As últimas colocações do time no Campeonato Brasileiro não eram surpresa pra ninguém. Porém, por causa daquelas forças capitais que não precisam ser enumeradas, os dois foram transferidos e, ao que tudo indica, o Corinthians começou a ter mais paz, respirar melhores ares e conseguiu momentaneamente escapar da área da degola para a segunda divisão.
 
Ambos, como se bem sabe, rumaram para a Inglaterra, também em busca de melhores ares e, possivelmente, maiores cifrões. Curiosamente, tanto para mim quanto para você e, principalmente, para os ingleses, os dois foram anunciados como reforços do West Ham, clube londrino também conhecido como “Martelos”, que tem muita tradição em revelar jogadores de suas categorias de base. Tanta tradição que se proclama “A Academia do Futebol”. Não pra menos, afinal do clube já saíram diversos figurões do futebol inglês. Basta ver que na seleção inglesa da Copa de 2006, três dos principais jogadores haviam sido revelados por eles: Frank Lampard, Joe Cole e Rio Ferdinand. Além desses, destacam-se atualmente na Premier League, Michael Carrick, do Manchester United, e Jermaine Defoe, do Tottenham.
 
É natural que um time que revele tantos jogadores também possua uma política muito clara para privilegiar os jogadores formados em casa. E é exatamente aí que começam os problemas entre Tevez, Mascherano e West Ham. Do mesmo jeito que começaram os problemas no Corinthians.
 
Já está sendo noticiado que o vestiário do West Ham não é mais o mesmo depois da chegada dos argentinos. Primeiro porque o West Ham é um time de base, ou seja, não está lá muito acostumado a jogadores estrangeiros. Dos 27 jogadores do atual elenco, nada menos do que 22 são britânicos. E a Grã-Bretanha e a Argentina não são exatamente dois países amigos, tanto que entraram em guerra na década de 80 por causa de uma ilha.
 
Mas tudo bem, rivalidade regional por rivalidade regional, possivelmente o ambiente brasileiro seja pior e os dois argentinos se deram relativamente bem por essas bandas. Mas esse não é o pior problema, nem de longe. Pra variar, o problema está justamente no lugar que foi a solução do West Ham ao longo de sua história: as categorias de base.
 
Com a súbita chegada das duas estrelas, os jogadores formados na casa se sentiram desprestigiados. Nada de inesperado. Afinal, foram eles que na temporada passada ralaram pra conseguir uma vaga pra Copa da Uefa e chegar à final da Copa da Inglaterra, que escapou entre os dedos nos pênaltis para o Liverpool.
 
Alan Pardew, técnico da equipe londrina, diz que o problema todo está na adaptação para o futebol inglês e assim que os seus jogadores latinos se adequarem ao sistema, começarão a produzir o futebol de qualidade que se espera deles. É bom que ele esteja certo e que essa adaptação seja rápida, porque os resultados indicam que o problema talvez seja maior do que o imaginado.
 
O início dos Martelos na temporada não é dos melhores. Em seis jogos somou apenas cinco pontos, uma vitória, dois empates e três derrotas. Antes da chegada de Tevez e Mascherano, o clube havia ganhado uma, empatado outra e perdido uma. Depois dos dois, apenas um empate na primeira partida, que Tevez entrou como substituto e Mascherano não jogou, e duas derrotas. Mascherano, até agora, só perdeu. E, enquanto Tevez esteve em campo, o West Ham ainda não marcou um gol sequer.
 
Aliás, o clube não tem marcado muitos gols até agora. Em seis partidas, o West Ham marcou apenas seis gols. Bobby Zamora, companheiro de Tevez no ataque, foi responsável por cinco deles. Curiosamente, ou não, Zamora é cria da “Academia do Futebol”.
 
É difícil dizer exatamente onde a parceria entre o West Ham e a MSI pode levar o clube e os jogadores, mas é fato que algumas tradições no futebol mundial estão sendo rompidas, e isso não significa necessariamente uma coisa boa. É uma clara demonstração do poder do capital dos grupos de investimento, que se antes tinha tamanha explicitação reservada a mercados periféricos como o nosso, agora começa a dar as caras até no campeonato nacional de clubes mais poderoso do mundo.
 
E já que as tradições daqui estão sendo levadas para lá, é bom o Alan Pardew começar a ficar preocupado e dar um jeito do time mostrar serviço logo. Em mais de cem anos de história, o West Ham só teve dez técnicos diferentes. Em menos de dois anos de parceria com a MSI, o Corinthians já teve seis.

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Um ano escrevendo sobre futebol

Em setembro do ano passado escrevi minha primeira coluna na Cidade do Futebol. Semana após semana, por 54 vezes, fui exercitando forma e conteúdo e, talvez, um pouco também da paciência dos leitores que se dispuseram a acompanhar minhas idéias.
 
Lembro-me que em um dos primeiros textos tentei demonstrar que o futebol não é como muitos pensam sinônimo de saúde, cultura ou educação, se os seus protagonistas não tiverem a intenção de transformá-lo em verdadeiro instrumento de desenvolvimento humano.
 
Um ano escrevendo sobre futebol.
 
Os valores mais caros que devem permear o futebol e o esporte de uma forma mais ampla, como solidariedade, cooperação, busca de superação dos limites, espírito democrático, respeito aos nossos oponentes etc., não caem do céu e devem ser construídos por todos que participam de atividades lúdicas, educativas ou competitivas.
 
Em outra oportunidade procurei falar sobre a inteligência dos jogadores de futebol e entender como atletas, às vezes analfabetos e ignorantes, conseguem encontrar soluções motoras geniais dentro dos problemas e dificuldades que surgem dentro do campo.
 
Mas um dos meus temas preferidos é refletir sobre que tipo de saber deve ter os profissionais que trabalham no futebol. Para serem competentes bastaria ao treinador, preparador físico, nutricionista ou psicólogo apenas estar muito atualizados em suas especializações.
 
Porém, há algo que perpassa estes conhecimentos específicos que precisa ser devidamente compreendido por todos, para que se entenda a complexidade do ser humano que está por trás do atleta.
 
Um ano escrevendo colunas e tentando a cada semana buscar novos olhares sobre este fenômeno cultural chamado futebol, me reforçou o sentimento de que falar sobre este esporte é falar sobre a vida.

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Parreira diz que 'tsunami' varreu seleção na Copa

“Foi um tsunami que passou”. Assim o técnico Carlos Alberto Parreira justificou a derrocada da seleção brasileira na Copa do Mundo. O treinador do Brasil na última Copa do Mundo disse que houve uma pressão sobre os jogadores brasileiros muito maior do que se poderia esperar durante a preparação e disputa do Mundial.
 
“Claro que a gente esperava um assédio grande. Mas foi muito maior do que a gente poderia esperar. Eram duas mil pessoas nos treinos da seleção, era até mesmo revista de cosméticos procurando o Ronaldinho para colocá-lo na capa”, afirmou o treinador no Rio de Janeiro, onde esteve como ouvinte do II Fórum Internacional Marketing Esportivos de Resultados, organizado pela Associação Brasileira de Anunciantes do Rio de Janeiro (ABA-Rio).
 
O treinador rechaçou a idéia de que faltou planejamento e foco para que o Brasil se sagrasse campeão na Alemanha. Segundo Parreira, a condição de favoritismo da seleção foi algo até certo ponto natural, dados os resultados obtidos.
 
“Não tinha como não admitir o favoritismo. Mas foi algo de fora para dentro muito grande”, disse o treinador, que ainda ressaltou ter havido uma “falta de química” dentro de campo para a seleção.
 
“Nos Estados Unidos fala-se muito em ter química para a coisa. E no momento da Copa, dentro de campo, não veio a química ideal. Dentro de campo não se traduzia o ambiente que havia fora dele”, disse.
 
Para o ex-comandante brasileiro, o maior problema para alguns jogadores foi a “overdose” de futebol. Segundo Parreira, houve um desgaste físico e emocional muito grande nos atletas por conta do calendário.
 
“Talvez isso tenha contribuído. O Ronaldinho, por exemplo, jogou no dia 17 de maio a final da Liga dos Campeões e no dia 22 já teve de se apresentar para jogar a Copa”.
 
Na próxima semana Parreira embarca para a África do Sul. O treinador foi contratado para coordenar a preparação da seleção local para a Copa de 2010, que pela primeira vez será realizada no continente africano.

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Clubes carecem de investimento em comunicação

Diz o ditado que, quem fala o que quer, ouve o que não quer. A situação bizarra vivida pelo Palmeiras na última semana é a prova de que a comunicação é o último item numa lista de prioridades dentro de um clube de futebol.
 
Pode parecer repetitivo, mas sem dúvida que os exemplos que colhemos no cotidiano nos mostram que a preocupação com a imagem do clube é o que menos interessa dentro da estrutura da maioria das agremiações brasileiras.
 
Salvador Hugo Palaia, diretor de futebol, e Tite, então treinador, trocaram farpas pela imprensa sobre o comportamento do time do Palmeiras na derrota para o lanterna Santa Cruz. Como se não houvesse vestiário. Como se eles não tivessem o número do telefone celular de um e de outro. Como se o Palmeiras não importasse, mas sim suas preferências pessoais, seus pensamentos, seu sangue fervendo.
 
E é esse o grande drama da comunicação clubística nos dias de hoje. Não há uma hierarquia interna de relações públicas. Os dirigentes falam o que quer, os jogadores se sentem no direito de também fazê-lo, o técnico idem. E a imagem do clube que se lixe.
 
Foi assim que o Palmeiras saiu de uma confortável situação para o inferno na noite de quinta-feira. Numa declaração infeliz de um dirigente mais preocupado em polemizar do que em pensar no bem da instituição para a qual trabalha.
 
Assessoria de imprensa nos clubes de futebol significa, hoje, um profissional sem expressão no mercado jornalístico, que tenha bom relacionamento com jogadores, que consiga frear o ímpeto dos colegas sedentos por notícia, que jogue ao lado do time.
 
A comunicação estratégica, tal qual funciona numa grande empresa, não faz parte da prioridade de um clube. Investir 15 a 20 mil reais por mês numa grande equipe de comunicação, é algo impensável nos dias de hoje. A função do assessor não é apenas cuidar da atualização do site oficial, não é só fazer o meio-campo com a imprensa, não é simplesmente levar o atleta para dar entrevista depois do jogo ou do treino.
 
Comunicação é uma ferramenta primordial dentro dos clubes. Todos os diretores devem falar a mesma língua. O treinador tem de respeitar uma hierarquia. O jogador tem de se comportar de maneira a dar o exemplo.
 
Afinal, o grande charme do esporte é proporcionar emoções inesquecíveis. Mas essas emoções não podem se tornar motivo para a derrocada moral de um clube. E o primeiro passo para se corrigir isso é investindo na comunicação estratégica, que vai muito além do fornecimento de estatísticas sobre os jogadores.

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Cartão torcedor – peça já o seu

Não é preciso ser nenhum exímio observador pra perceber o tamanho do problema da violência dentro, e fora, dos estádios do futebol. Tão grande ele é que o poder público vem há tempos tentando criar medidas e ferramentas para que esse problema seja amenizado.
 
Em 2003, todos recordam, foi criado o Estatuto do Torcedor. Na ocasião do anúncio da medida, o presidente Lula disse que no Brasil existem algumas leis que pegam, e outras que nem tanto. Era a sentença do não muito esperançoso futuro do conjunto de regras que buscavam, entre outras coisas, salvaguardar o mínimo de segurança para cada torcedor que ia a um estádio.
 
Três anos depois, em uma ação conjunta do Ministério dos Esportes com o Ministério Público, CBF e Federação Paulista, é anunciada uma nova proposta contra a violência nos estádios, o Projeto Piloto da Comissão de Paz no Esporte. De acordo com o site do Ministério do Esporte, o projeto junta “as medidas do Estatuto do Torcedor com a experiência de combate à violência nos estádios de futebol”. Isso é meio estranho. O próprio Estatuto do Torcedor já não havia sido criado baseado na tal da ‘experiência de combate à violência nos estádios de futebol’? Se sim, isso quer dizer que o no projeto envolve a ‘experiência de combate à violência nos estádios de futebol’ ao quadrado?
 
Bom, tudo bem. Experiência nunca é demais.
 
Porém, a própria experiência contradiz um pouco o novo projeto, que tem como carro chefe o cadastramento dos ‘torcedores organizados’ com a criação de uma espécie de ‘cartão do torcedor’, que contará com RG, foto, endereço, etc, do indivíduo.
 
Em meados da década de 80, no auge da crise do hooliganismo na Inglaterra, o governo da primeira-ministra Margaret Thatcher tentou passar o “Football Spectators Act”, que dentre outras coisas buscava instituir uma espécie de ‘cartão torcedor’, de modo a controlar o comportamento individual dos torcedores, e prevenir a entrada dos hooligans nos estádios. A medida foi rechaçada pelos clubes, torcedores e até pela polícia, que acreditava que a proposta era leviana, não atingia a essência do problema e possivelmente potencializava os confrontos violentos. Alguns anos depois a idéia foi definitivamente enterrada pelo Relatório Taylor, o divisor de águas da cultura hooligan, que comparou a implementação do cartão como “quebrar uma noz com uma marreta”.
 
Tudo bem, as realidades ao diferentes, e a situação das torcidas organizadas não são o espelho exato do fenômeno do hooliganismo. Seguramente, as entidades envolvidas no projeto brasileiro possuem lá suas razões para acreditar que essa é a melhor das soluções. Mas é preciso ficar atento, uma vez que é sempre possível contestar a atitude autoritarista que o Estado está tomando e até que ponto os torcedores organizados devem ser tratados como pessoas ausentes da sociedade. Além disso, o próprio presidente da Comissão de Paz no Esporte disse para o diário Lance! que “o projeto do cadastramento é o melhor amigo das organizadas”, e que a Comissão quer “quebrar o anonimato dos organizados, identificar os inimigos do futebol”.
 

Não sei quanto a você, mas eu não considero o melhor amigo do meu inimigo uma pessoa muito confiável.

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As ciências humanas precisam entrar em campo

Desvendar mazelas no futebol tem sido um exercício cada vez mais comum, tanto no Brasil como em outros países considerados mais civilizados. Escândalos pipocam em toda parte.
 
Neste sentido a era da informação em que vivemos, cria ferramentas poderosas para revelar e denunciar as fraquezas humanas ao mesmo tempo em que nos ajuda a encontrar caminhos mais promissores para a nossa comunidade, sociedade e humanidade, de uma forma geral.
 
Falta de postura ética, corrupção, negociatas, são alguns dos temas mais comuns na mídia esportiva e policial.
 
O futebol precisa evoluir, assim como a sociedade. O futebol não pode ser considerado isolado do contexto social.
 
Mas uma coisa intrigante é constatar como uma manifestação cultural tão significativa como o futebol, tomada por paixões e emoções, desconsidera suas dimensões humanas.
 
Preocupa constatarmos que, em pleno século 21, uma ciência tão importante como a psicologia do esporte, por exemplo, ainda encontra tanta resistência para se estabelecer no futebol.
 
Aliás, não é só a psicologia que é rejeitada. Tantas outras áreas pertencentes às ciências humanas também não encontram espaço no futebol. O que ainda prevalece são as ciências biológicas e a técnica ou, pior, o tecnicismo.
 
Ao buscar o desempenho ótimo de suas equipes, treinadores, preparadores físicos, médicos e demais membros da Comissão Técnica de uma equipe deveriam entender que o atleta não é apenas feixes de músculo que exercem funções biológicas em busca de resultados.
 
O atleta é antes de tudo um ser humano e como tal deve ser entendido. Um ser que sofre que ri que chora que vibra que tem problemas e dificuldades e que tem, enfim, sentimentos como qualquer pessoa.
 
Como nos ensina o filósofo e pesquisador das ciências da motricidade humana, Dr. Manuel Sérgio, todos os profissionais que trabalham com jogadores e, portanto, com gente, deveriam entender que para saber sobre futebol é preciso entender mais do que futebol. 

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