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A inveja européia

Demorou, mas aconteceu. Finalmente a Uefa baixou a bola e resolveu aceitar os fatos como eles são. Aconteceu aquilo que todos nós grandes nacionalistas sempre soubemos. Valeu a pena não desistir. Nunca. Jamais!
 
O futebol brasileiro é um exemplo para o mundo.
 
E não sou eu quem tá dizendo, é a Uefa.
 
Sim. Arregale os olhos e continue lendo, pois vou me repetir: a Uefa admitiu que o Brasil é um exemplo a ser seguido pelo mundo do futebol. Sério. Quem disse isso, na verdade, foi Andy Roxburgh, diretor técnico da Uefa, no editorial da quinta edição da Uefa Grassroots Newsletter.
 
Para contextualizar, Andy Roxburgh é diretor-técnico da Uefa desde 1994, cargo que começou a desempenhar um ano depois de ter largado o papel de técnico da seleção escocesa de futebol, que havia assumido em 1986, sucedendo o hoje Sir Alex Ferguson. E sim, as datas estão corretas. Andy Roxburgh foi de fato o técnico da seleção escocesa na Copa de 90, aquela que tinha sete titulares com o sobrenome MacAlgumacoisa, que enfrentou o Brasil de Lazaroni e foi derrotada por 1 a 0, gol de Muller aos 37 do segundo tempo.
 
Curiosamente, Andy Roxburgh enfrentou uma seleção que muitos consideram como a pior seleção brasileira da história do futebol moderno, que jogava de uma maneira extremamente desfigurada daquilo que se entende como o padrão brasileiro de futebol. Ainda assim, Roxburgh mostra-se um apaixonado pela capacidade nacional de revelar grandes talentos. Ou, pelo menos, mostra-se apaixonado pelo país. Diz ele no começo do seu texto:
 
“Pense no Brasil: sol, mar, samba e futebol. Pense no sorriso do Ronaldinho – um sorriso que epitomiza o amor do brasileiro pelo jogo e a alegria de jogar futebol. Pense no fato direto para o futebol europeu de que o país com o maior número de representantes na primeira rodada da Liga dos Campeões da Uefa desse ano foi o Brasil. Como reportado por um jornal alemão, a equipe titular das 32 equipes incluíam 65 brasileiros, 37 franceses, 24 portugueses, 22 italianos, e apenas 12 alemães. O Brasil pode não ter ganhado a Copa de 2006, mas sem dúvida alguma continua como o maior exportador de talento futebolístico do planeta. E, com o seu ambiente natural e sua população apaixonada, é um modelo para o desenvolvimento do futebol de base”.
 
Aí ele disserta sobre como é bacana estar na beira do mar e ver as pessoas com roupas de praia e jogando futebol por brincadeira. Depois pondera sobre a influência do futebol de praia e do futsal no jeito de jogar brasileiro. Nada lá de muito brilhante.
 
Mais pro final do editorial, Andy Roxburgh diz que – obviamente – “(…) poucos países na Europa podem reproduzir as condições do ambiente natural brasileiro. Mas, de qualquer maneira, lições podem ser aprendidas. Associações de futebol que são sérias quanto à saúde e o crescimento do jogo são necessariamente obrigadas a promover a participação e o interesse em massa. Futebol de base que age como veículo de integração social, saúde e alegria é o objetivo. Por conseqüência, talentos irão emergir. No Brasil, o amor pela bola, expressão pelos jogos em campos diminutos, e a alegria absoluta de jogar foram tão cultivados que a paixão e criatividade do futebol começaram a fazer parte do DNA da nação. A Europa pode ter tido os quatro finalistas da Copa de 2006, mas em um mundo altamente competitivo, complacência não é uma opção. É imperativo o desenvolvimento constante do jogo e a fundação de todo o crescimento e desenvolvimento do futebol está na sua base”.
 
Basicamente, Andy Roxburgh sugere que o Brasil tem tantos jogadores de futebol de qualidade por causa dos campos pequenos, das praias e da alegria do povo. Obviamente, não se preocupa em ver exatamente o que está por trás de todo esse processo. Mas tudo bem, afinal o cara é diretor-técnico da Uefa. Merece, pelo menos, algum respaldo em suas ponderações, leviandades ou não.
 
Mas que parece um papo típico de turista que chega na beira do mar, degusta uma caipirinha, petisca um camarão, pega um bronzeado pra ficar como um camarão, filosofa sobre como é bacana o lugar, como as pessoas são bonitas e como isso tudo se relaciona com o futebol, ah, isso parece.

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A volta da fórmula do mata-mata: uma forma de premiar a incompetência

 

 

 

Para aqueles que gostam e acompanham o futebol, a ordem do dia é a discussão do formato de disputa dos campeonatos brasileiros.
 
O futebol por aqui já experimentou várias fórmulas ao longo do tempo.
 
Entre as diferentes opiniões há os que defendem o campeonato de pontos corridos nos moldes que vem sendo realizado deste 2003, com turno e returno, e os que defendem o chamado “mata-mata”, anterior a este período.
 
É bom deixar claro, antes de qualquer coisa, que ao se colocar o foco no modelo de disputa de nossos campeonatos não significa que, escolhida esta ou aquela fórmula, todos os problemas do nosso futebol estarão resolvidos.
 
Não há fórmula de campeonato que isoladamente vá tornar nosso futebol superavitário, organizado, bem administrado, com garantias de segurança e com boa qualidade técnica.
 
Enquanto não se resolver as questões estruturais que afetam a CBF, Federações, clubes e conseguirmos manter nossos melhores jogadores aqui no Brasil, dificilmente sairemos deste estado de verdadeiro sucateamento pelo qual passa o futebol do país, não obstante o retrospecto repleto de títulos mundiais conquistados pela seleção brasileira.
 
Mas, voltando ao formato de disputa dos campeonatos, todos os argumentos em favor do mata-mata, de que é mais motivante, causa mais emoção, dá oportunidade para os times que não estavam tão bem na primeira fase possam se recuperar e até tornarem campeões na segunda etapa, entre outras justificativas, não se sustentam simplesmente pelo fato de que esse formato geralmente provoca injustiças que poderiam muito bem ser evitadas.
 
Somente os campeonatos de pontos corridos valorizam o trabalho das equipes mais técnicas, preparadas e equilibradas e é capaz de destacar e premiar os clubes que possuem planejamento e organização.
 
Qualquer outra proposta fica parecendo casuísmo para premiar a incompetência, mesmo que garanta eventualmente mais emoção em sua fase final.

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O fator sorte no esporte

Diversas vezes abordamos aqui na Universidade do Futebol discussões sobre a profissionalização da gestão dos clubes. Quase sempre a conclusão é de que é preciso, quando se fala no trabalho dentro do esporte, que se tome atitudes racionais, mesmo num ambiente dominado pela emoção.
 
Exemplos que comprovem essa tese não faltam. Vão desde o mais óbvio, que é a questão de manter um trabalho com a manutenção de um treinador dentro do clube o maior tempo possível, até mesmo coisas mais detalhistas, como a necessidade de se fazer um trabalho integrado dentro e fora de campo para que uma equipe tenha um desempenho esportivo acima da média.
 
E, racionalmente, quanto mais os clubes investem nesse estilo de conduta fora de campo, mais resultados aparecem. Hoje, São Paulo, Inter e Santos são os clubes com as maiores receitas do Brasil. Será que isso acontece por eles serem os clubes que mantêm há mais tempo os seus treinadores, que investem na formação e contratação de atletas e, ainda, dão boas condições de treinamento a seus astros?
 
Bom, sem dúvida que tudo isso influencia. Mas, mesmo com essas evidências que os clubes no topo da tabela do Brasileirão nos trazem, muitas vezes o investimento no esporte não é norteado pela lógica do mercado. Se uma empresa é rentável, apresenta bons resultados e domina o mercado em que atua, eu vou querer investir nela. Se, ao contrário, ela só me traz prejuízo, não consegue bater a concorrência e tem apenas uma história de marca forte, não valeria tanto a pena investir meu dinheiro nela.
 
Se é assim na vida real da economia brasileira, por que não conseguimos que seja assim na realidade do patrocínio no futebol de nosso país? Aí é que entra o tal do fator sorte que envolve a competição esportiva.
 
São Paulo e Inter foram apostas feitas pela Reebok no começo de 2006. A empresa ia voltar ao mercado e decidiu investir pesado em alguns clubes. Encontrou o atual campeão do mundo à época, o São Paulo, em busca de um novo parceiro. Já no Colorado gaúcho viu a chance de colocar a marca num time que tinha potencial para ir longe na temporada.
 
No fim do ano, a empresa contabilizará só lucros com o investimento inicial de R$ 11 milhões que fez nos dois clubes. Afinal, a disputa do título da Copa Libertadores, torneio televisionado para todo o mundo, envolveu São Paulo e Inter. Agora, o Brasileirão tem as duas equipes como únicas candidatas à conquista do campeonato. A boa fase dentro de campo reflete nas vendas da empresa fora das quatro linhas.
 
Na outra ponta da tabela, a Adidas, marca há mais tempo ligada ao futebol em todo o mundo, assiste os seus dois patrocinados, Palmeiras e Fluminense, lutarem desesperadamente contra o rebaixamento. E tão mal quanto os clubes ficam as vendas de camisas pela empresa.
 

Mas, antes de o ano começar, Palmeiras e Flu tinham, potencialmente, as mesmas chances de conquistas de São Paulo e Inter. Mas, ao longo da temporada, o Palmeiras foi eliminado na Libertadores pelo rival da capital paulista num jogo decidido pelo árbitro, que interrompeu um toque de bola e armou o contra-ataque fatal são-paulino. A partir daí, o time alviverde degringolou. E a sorte sorriu para São Paulo e Reebok.

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O clássico dos clássicos

Na última terça-feira aconteceu o maior clássico do futebol contemporâneo, e entenda a contemporaneidade mencionada como algo de três anos pra cá. Jogaram pela Champions League – até porque esse jogo não pode acontecer em nenhum outro campeonato (por favor esqueça a Copa da UEFA, se é que alguém se lembra dela) – Barcelona e Chelsea, o sexto confronto entre os dois times nos últimos três anos.
 
A grandeza desse confronto fica explícita na formação em campo, quando é possível enxergar boa parte da nata dos jogadores de todo o mundo. Além disso, as duas equipes são as atuais campeãs, e líderes, de seus respectivos campeonatos nacionais, que são também dois dos mais importantes campeonatos do planeta.
 
A rivalidade é nítida, e os últimos jogos entre as duas equipes têm correspondido à expectativa que se cria em torno dos grandes clássicos. Os jogos são pegados, corridos e nervosos. São dois times com características bem diferentes. O Chelsea é um time que faz um jogo muito físico e relativamente técnico, muito estruturado na mistura entre a escola européia com a escola africana. O Barcelona, por sua vez, faz um jogo muito técnico e relativamente físico, baseado na mistura entre a escola européia e a escola sul-americana. O conflito, entretanto, vai muito além do gramado.
 
Chelsea e Barcelona representam hoje duas realidades distintas e conflituosas existentes no mundo do futebol. São dois modelos de clubes baseados em estruturas e representações bastante diferentes.
 
O Barcelona gosta de dizer que é muito mais do que um clube, e talvez seja mesmo. São poucos os exemplos atuais que assumem tanta representação da comunidade na qual está inserido. O Barcelona é a Catalunha e a Catalunha é o Barcelona.
 
O Barcelona não tem dono, é comandado pelo corpo de mais de cem mil sócios, e não tem torcedores, tem membros. Quem torce pro Barcelona, de verdade, torce por um ideal, e não apenas pelo simples sucesso futebolístico. Sinal disso é que os jogadores que atuam no Barcelona são contratualmente obrigados a aprender catalão. Oleguer, jogador barbudo do clube que é meio zagueiro e meio lateral, é um atuante na política catalã de esquerda e em sua biografia recém lançada chega a fazer alguns devaneios a respeito da intromissão da Espanha nas guerras do Golfo. O Barcelona é a representação extrema do sucesso do modelo associativo dentro do futebol.
 
O Chelsea, por sua vez, não é nada mais do que um clube de futebol. Sequer isso. Mal possui torcedores, diga-se bem a verdade. A torcida do clube do bairro de Fulham nunca foi das maiores, e parte dela hoje rejeita o clube devido ao rumo tomado nos últimos anos. Uma nova leva de torcedores surgiu, mas mais influenciados pelos efeitos cosmopolitas de tantas estrelas reunidas em uma mesma camiseta do que exatamente por aquilo que o clube significa, que – como eu disse antes – é quase nada.
 
Um clube de relativamente pouca história e tradição, principalmente quando comparado ao exemplo citado no parágrafo acima, a equipe londrina estava afundada em dívidas e ameaçada de falência quando foi abocanhada por um bilionário russo que viu ali uma grande oportunidade de comprar simbolicamente sua cidadania inglesa e, dizem, o seu seguro de vida. Abramovich comprou o clube, os jogadores, e – indiretamente – os torcedores.
 
O Chelsea é um clube de um homem só, e se bobear pode virar o clube de uma mulher só. A esposa do bilionário russo descobriu esses dias atrás uma escapadinha sua e entrou com processo de divórcio que pode custar algo em torno de cinco bilhões e meio de libras ao décimo primeiro homem mais rico do mundo. Isso pode eventualmente incluir o clube de futebol. Por causa de uma loira de vinte e três anos, o Chelsea pode mudar de dono, e de rumo. Mas, no momento, ninguém contesta a solidez financeira do clube. O Chelsea é a representação extrema do sucesso do modelo empresarial contemplado com o investimento de um benfeitor.
 
Chelsea contra Barcelona é um contra a rapa. É o dinheiro do suor dos trabalhadores das indústrias siderúrgicas da Rússia contra o dinheiro do suor dos trabalhadores da Catalunha. É a nova onda do futebol contra o seu sentido tradicional contemporâneo.
 
Chelsea contra Barcelona é, de longe, o maior clássico do planeta.
 

Pelo menos enquanto a mulher do Abramovich não ganhar seus bilhõezinhos na justiça.

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Habilidades, conhecimentos e atitudes

É comum associarmos o talento de um jogador de futebol quase que exclusivamente à sua habilidade corporal. Ou seja, a sua capacidade de executar alguns gestos técnicos, como driblar, chutar, controlar, dominar e passar a bola.
 
Num sentido mais amplo, entretanto, a habilidade envolve muitos outros aspectos. Segundo Howard Gardner, famoso psicólogo americano, há pelo menos oito tipos de habilidades as quais ele chamou de inteligências múltiplas. São elas: as inteligências lógico-matemática, verbal-lingüística, espacial, musical, corporal-cinestésica, intra e interpessoal, naturalista e existencial.
 
Daniel Goleman, outro psicólogo americano, completando este rol de habilidades, popularizou os conceitos de inteligência emocional e mais recentemente o conceito de inteligência social.
 
Portanto quando falamos em habilidades, se pretendemos desvendar um pouco da complexidade humana e em particular entender o atleta, temos que superar algumas simplificações que costumamos fazer no futebol.
 
Outro componente necessário para que um jogador possa expressar sua competência e suas habilidades é o conhecimento. Conhecer regras, normas e valores que norteiam o futebol, por exemplo, é fundamental para se obter o sucesso.
 
Mas, como os antigos já nos ensinavam, “a coisa principal da vida não é o conhecimento, e sim o uso que fazemos dele”. Isto quer dizer que talvez a mais importante qualidade necessária a um atleta não seja nem suas habilidades, nem seus conhecimentos, mas as suas atitudes. Atitude aqui entendida como a predisposição para reagir aos diferentes estímulos de maneira positiva ou negativa.
 

O atleta ou qualquer pessoa que não tenha atitudes proativas, adequadas e necessárias à superação de seus limites, dificilmente conseguirá projetar e alcançar metas ambiciosas, por mais amplo que sejam seus conhecimentos ou por mais aguçadas que sejam suas habilidades.

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O abismo brasileiro

Domingo de eleição em São Paulo. Enquanto Luiz Inácio Lula da Silva comemorava sua reeleição à presidência da República, o teatro Abril ficava relativamente cheio para mais uma exibição da peça O Fantasma da Ópera. Com 1.533 lugares, a sala deveria, às 20h do domingão de votação, estar com pelo menos 65% da capacidade lotada.
 
Nas cadeiras, um grupo da cidade catarinense de Criciúma esperava atentamente o início do espetáculo. Era uma família com cerca de dez pessoas. Irmãos, primos, tios, pais e o avô, feliz por poder proporcionar aos familiares um final de semana que se encerraria com chave de ouro. O preço de cada um daqueles ingressos? Cento e dez reais.
 
Só aquela família deve ter deixado cerca de mil reais no teatro. Outros milhares nas passagens aéreas. Mais umas centenas de reais no hotel. Isso sem contar os restaurantes e lojas de uma cidade gigantesca como São Paulo, que a cada dia aprende a explorar o potencial de consumo que tem, tal qual Nova York sabe fazer.
 
No sábado, véspera da eleição, nenhum time de futebol jogou em São Paulo pela Série A do Campeonato Brasileiro. No dia em que toda a cidade não viajou por conta das eleições, nenhum clube ficou na capital para receber o seu público. E a culpa não poderia nem ser atribuída à tabela armada pela CBF. Afinal, para a 31ª rodada do Brasileirão estava programado o clássico Corinthians x Palmeiras.
 
O confronto, remarcado para a quarta-feira, dia 25, atendeu às exigências da televisão. Por isso, foi realizado às 22h e teve um público de 16.593 torcedores pagantes, cerca de 20% da capacidade do estádio do Morumbi. Isso gerou uma renda bruta de R$ 229.770,00. Com os descontos, o Corinthians, mandante da partida, arrecadou pouco mais de R$ 35 mil.
 
Naquele mesmo final de semana que uma família de Criciúma gastou no mínimo cerca de R$ 5 mil para assistir a uma peça de teatro em São Paulo, jogadores de Palmeiras e Corinthians descansavam após o jogo da quarta-feira, sem ter o que fazer.
 
Num exemplo banal como esse que se percebe o abismo que separa a gerência do futebol brasileiro daquela que é aplicada em todas as outras áreas do país. Inclusive no próprio futebol, em que o investimento em qualificação se refere apenas ao profissional que atua diretamente dentro de campo.

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Descanso de Ronaldinho evidencia diferenças entre Brasil e Europa

Ronaldinho Gaúcho pediu, a diretoria e a comissão técnica do Barcelona aceitaram, e o jogador iniciou nesta semana um trabalho de recondicionamento físico. Sentindo uma queda de rendimento físico, Ronaldinho fez algo que raramente um jogador de futebol pede publicamente, que é ficar sem atuar para trabalhar a parte física.
 
Mas, dentro da comissão técnica da seleção brasileira, a atitude tomada pelo camisa 10 do Barcelona não é uma surpresa. Ronaldinho apenas fez algo comum aos atletas brasileiros que atuam na Europa, mesmo que informalmente.
 
“Muitas vezes os jogadores conversam pela gente por e-mail e pedem para passarmos um exercício que geralmente damos na seleção, para fazer algum trabalho de fortalecimento”, afirma Odir de Souza, fisioterapeuta da seleção brasileira na última Copa do Mundo.
 
Segundo o preparador físico do time sub-20 brasileiro, Paulo Camello, quando o atleta é convocado para a seleção, o primeiro trabalho feito em conjunto com a comissão técnica é o de readequação do jogador para a realidade de treinamento implantada no Brasil.
 
“Na Europa os times treinam em apenas um período, geralmente pela manhã, e depois os jogadores são liberados, só voltando a fazer algum trabalho de condicionamento no dia seguinte”, diz.
 
Durante apresentação no Congresso Carioca de Educação Física, organizado pelo Fiep-RJ, Camello afirmou que tão logo o atleta se junta ao grupo, a primeira providência é fazer uma avaliação geral de todos os jogadores. Na seqüência, os convocados são divididos em alguns subgrupos, com o objetivo de condicioná-los conforme o nível que estão.
 
“Além disso, fazemos um trabalho de reforço muscular. Os jogadores intercalam os treinos com exercícios de musculação. Eles não gostam muito, mas depois entendem que é importante”, afirma Odir de Souza.
 
Segundo os dois profissionais envolvidos no trabalho da seleção brasileira, outro grande problema que existe na Europa é a falta de investimento na formação de uma comissão técnica com profissionais das mais diversas áreas.
 
“Muitas vezes é o treinador ou o seu auxiliar que executa o treinamento físico, sem saber se o atleta pode ser submetido àquela carga de exercícios”, diz Camello.
 
Além da falta de profissionais de outras áreas nas comissões técnicas européias, os especialistas afirmam haver uma falta de cultura dos dirigentes e jogadores europeus para entender a importância de se investir num novo estilo de treinamento físico.
 
“O Vanderlei [Luxemburgo, ex-técnico do Real Madrid e atualmente no Santos] tentou fazer isso na Espanha, fazer o time treinar em dois períodos, dar mais exercícios físicos, mas acabou, em pouco tempo, sendo boicotado”, afirmaram os dois em suas palestras.

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Manifesto pelas olas nos estádios brasileiros

Uma das poucas, pouquíssimas coisas que diferem um jogo de Copa do Mundo de um jogo do Campeonato Brasileiro da série A é a ola.
 
A ola, ou la ola, ou ainda the mexican wave, é um fenômeno próprio de grandes eventos de massa em estádios, que surge no momento em que uma determinada coluna de torcedores nas arquibancadas simultaneamente se levanta com os braços pra cima, muitas vezes gritando algo parecido com “ôôôôôôêêêêêê” e em seguida se senta, no mesmo momento em que a coluna de torcedores ao lado se levanta e repete todo o ritual, e assim por diante até o processo rodar o estádio inteiro, simulando o efeito de uma onda que passa por todos os presentes no evento em questão.
 
A ola, porém, aceita algumas variações. Quando o movimento é de frente para trás, ao invés de ir para a direita ou para a esquerda, a ola é denominada transversa. Caso ela volte ao lugar de origem pelo sentido de partida, chama-se reflexiva. E se ela for para duas direções opostas ao mesmo tempo, ela é conhecida como bidirecional ou oposta. A maior ola já registrada aconteceu nas Olimpíadas de Sydney, em 2000, quando 110 mil pessoas realizaram uma ola duplo-reflexiva.
 
Em 2002, dois pesquisadores húngaros e um alemão estudaram a fundo o fenômeno da ola para tentar tirar conclusões a respeito de controle de movimentos de massa. Depois de analisar diversos vídeos, chegaram à conclusão que uma ola em geral é iniciada pelo movimento conjunto de não muito mais do que uma dúzia de pessoas e que a partir daí, dependendo das variáveis de excitação e de pessoas envolvidas no processo inicial, ela pode tomar o estádio inteiro em um movimento estável e de forma quase linear.
 
Ainda de acordo com eles, uma ola geralmente roda no sentido horário – provavelmente devido ao fato da maioria das pessoas serem destras -, a uma velocidade estável de 12 metros por segundo, ou 43,2 km/h, o que dá mais ou menos uns 20 assentos por segundo, e possui uma largura entre 6 e 12 metros, mais ou menos uns 15 banquinhos.
 
Há atualmente uma intensa discussão a respeito do surgimento da ola. A idéia mais aceita é que ela apareceu no começo da década de 80 nos estádios de hóquei sobre o gelo do Canadá, mas que logo migrou para os estádios de beisebol dos Estados Unidos. Fato é que ela ganhou notoriedade mundial em 1986 durante a Copa do Mundo do México, daí a homenagem ao país em um de seus nomes de batismo.
 
Aliás, Copa do Mundo e ola são duas coisas que combinam bastante. Em geral, as olas surgem em estádios lotados, quando ou o jogo está muito chato, ou as pessoas que foram ao estádio não estão lá muito interessadas na partida. Em jogo de Copa do Mundo, é bastante comum acontecer os dois ao mesmo tempo. Aí como a torcida tende a fazer o que for preciso para aparecer na televisão, mesmo aqueles que não vão fantasiados ou pelados, ela vai lá e começa uma ola. É batata que a montoeira de braços levantados será transmitida para os bilhões de espectadores ligados no jogo da Copa. A manha é começar a ola quando alguém precisar de atendimento médico em campo.
 
No Campeonato Brasileiro, porém, é raro uma ola aparecer. Existem suas razões para isso. Primeiro porque não dá. Dos vinte clubes jogando a primeira divisão, cinco possuem estádios em que é impossível acontecer uma ola normal, uma vez que vai aparecer um buraco no meio do caminho, já que os estádios não possuem arquibancadas cercando os quatro lados do campo. Ainda assim, mesmo nos estádios que possuem a volta completa, falta gente. Na maioria dos jogos, uma ola estaria fadada ao desaparecimento uns três segundos depois que for iniciada. Ou, no caso, 36 metros. 60 colunas de cadeiras. Talvez nem isso.
 
Ainda assim, o ambiente é propício. O jogo, na maioria das vezes, é de pouquíssima qualidade, e alguns dos torcedores nunca vão ao estádio muito interessados em ver o jogo. O problema é que ao invés de esses torcedores se concentrarem em criar olas, o desinteresse é convertido em pancadaria pra tudo que é lado. Ao invés de se levantar e jogar os braços pra cima, o torcedor se levanta e dá um soco no outro.
 
Os órgãos públicos responsáveis vêm se empenhando em resolver o problema da violência dentro dos estádios. Talvez eles devessem começar a incentivar as olas durante os jogos do Campeonato Brasileiro. Aí sim ficaria tudo igual à Copa do Mundo.
 
Tim-tim por tim-tim.

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Longevidade de um técnico pode contribuir para o sucesso do time

Não é só pela questão cronológica, que é vantajoso um treinador ficar muito tempo em um clube de futebol. A permanência e seqüência de um trabalho só fazem sentido se houver uma clara proposta política, administrativa e metodológica do que diretoria e treinador pretendem executar ao longo de meses ou anos (se é que no Brasil se pode falar em anos de trabalho no mesmo clube para um treinador).
 
Há clubes que chegam ao absurdo de trabalhar com quatro, cinco ou até mais treinadores em uma única temporada de 11 meses. Mas existem algumas raras exceções.
 
Sábado passado assisti ao jogo entre Paulista de Jundiaí e Coritiba, pelo Campeonato Brasileiro da série B, ao lado do treinador do Paulista, Vagner Mancini.
 
Suspenso, ele teve de assistir ao jogo em uma cabine, acompanhado de alguns auxiliares e do consultor Evandro Mota, que faz palestras motivacionais ao grupo. No banco de reservas ficou o treinador de goleiros, recebendo instruções do técnico.
 
Foi curioso verificar como Mancini pôde realizar um trabalho coordenado com seu grupo interdisciplinar, sem que jamais fosse fragilizado ou comprometido seu papel de treinador, verdadeiro líder da equipe técnica e dos jogadores.
 
Entre várias ocorrências interessantes, a mais marcante deu-se perto dos 30 minutos do primeiro tempo, quando o Paulista vencia por 1 a 0 e passou a ter problemas em seu sistema defensivo. Atento, o treinador decidiu mexer no esquema tático da equipe, o que exigia alterar a postura e posicionamento de vários jogadores.
 
Constatei, impressionado, que entre a decisão de mudar e sua correta aplicação prática, não se passaram mais de dois minutos.
 
Várias razões podem contribuir para que uma ordem do treinador seja cumprida com tanta agilidade. Mas uma delas, com certeza, é que Vagner Mancini é o treinador que há mais tempo está no cargo, entre as 40 equipes que disputam o campeonato brasileiro das séries A e B.
 
Considerando que mais da metade dos treinadores está no cargo há menos de três meses, é de se comemorar que Mancini esteja caminhando para o terceiro ano como treinador do modesto, mas sensato e organizado Paulista de Jundiaí.

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Profissionalizaçáo total

O detalhe é, a cada dia que passa, ponto fundamental dentro da estrutura de uma equipe de futebol. Atualmente, os mais diversos estudos são usados para auxiliar o atleta em sua performance e conduzir as equipes às vitórias.
 
A antiga estrutura de uma comissão técnica de um clube é coisa do passado. O grupo formado pelo técnico, o médico, o massagista e o preparador físico já não tem mais condição de ser usado na disputa de alto nível.
 
O clube não pode mais se dar ao luxo de brincar quando o assunto é trabalhar a performance do atleta. E o Brasil talvez seja, atualmente, o país que mais dá abertura para que o treinamento esportivo seja estudado ao máximo, elaborado nos mínimos detalhes.
 
Mas por que ainda não conseguimos levar esse pensamento para além das quatro linhas?
 
Se é certo hoje que a performance esportiva é tudo, ainda não ficou tão claro dentro da estrutura de um clube que a performance financeira pode potencializar todo o restante. Geralmente temos, na presidência dos clubes, empresários bem-sucedidos, que trabalham em grandes empresas ou na sua própria companhia. Mas que ainda acham que o clube é um espaço de lazer.
 
Em alguns clubes brasileiros existe uma consciência de que é fundamental se ter uma excelente estrutura de treinamento, recuperação e formação de atletas. O conceito é básico. Quanto mais eu invisto no meu jogador, mais rendimento ele pode ter. Mas, ao mesmo tempo, na área gerencial tal pensamento não faz parte do cotidiano do clube. E aí a questão que se coloca é simples: será que investir na gestão não traz resultados?
 
Hoje, cartolas e profissionais do esporte se vangloriam de que a medicina esportiva brasileira é a mais avançada do mundo. Mas não conseguem enxergar além disso. O resultado é que, salvo raras exceções, o Brasil continua a achar que investir na profissionalização plena do clube não é fundamental.
 
Enquanto isso o país continua a ser exportador de pé-de-obra. Quando passar a exigir excelência na gestão, a coisa pode mudar. Mas antes disso temos de mudar a cabeça.

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