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A terra é vermelha. O sol é vermelho. O Brasil é vermelho. O colorado pintou na manhã de domingo o Brasil de vermelho, porque na noite de Yokohama o branco que vestia o Inter era campeão do mundo.
Uma vitória que consagra a raça, a vontade, a valentia e, sem dúvida, a sorte de um time campeão. Uma vitória que tem a marca do futebol gaúcho, muito mais do que o futebol brasileiro. Futebol que alia técnica à tática. Força à habilidade. Paixão à arte.
A vitória contestável de um time que se defendeu por 75 minutos, e só depois de fazer o seu gol passou a jogar com a grandeza internacional, torna-se inconteste quando coroa um trabalho que não envolve apenas o campo, mas também a gestão racional de um clube de futebol.
A conquista do Mundial de Clubes pelo Internacional é a prova de que um trabalho de longo prazo pode trazer resultados. É a personificação daquilo que sempre ouvimos os teóricos da gestão esportiva dizer: com um trabalho racional, o impensável acontece.
Foi assim que o Inter chegou ao Japão e saiu de lá com a taça de dono do mundo.
Sem cometer loucuras após ganhar a Libertadores e deixar Tinga, Rafael Sóbis e Bolívar, figuras fundamentais na conquista da América, partirem do Beira-Rio. Afinal, seria impossível reunir condições financeiras para mantê-los no clube.
Ou, então, do clube que soube repor as peças perdidas, sem fugir daquilo que planejava, sem trocar muitos jogadores, sem mudar a metodologia de trabalho.
Em time que está ganhando não se mexe. E foi assim que o Inter trabalhou para vencer ainda mais. Uma vitória digna das tradições gaúchas. Uma vitória de entrega de corpo e alma durante 90 minutos.
Uma conquista que não começou no apito inicial em Yokohama, mas há seis anos, quando um clube à beira da falência passou a ser repensado por sua diretoria, que foi substituída, mas que deixou seu plano de trabalho para os sucessores. E que agora, mantendo a fórmula do ano 2000, quando depois de quase ser rebaixado no Brasileirão-99 passou a olhar as categorias de base, a racionalizar os gastos e a investir em marketing, dá seu mais verdadeiro fruto.
Dentro e fora do campo, a vitória do Inter não foi típica do brasileiro. A garra bateu o talento. A razão superou a emoção. E o futebol brasileiro mostrou que, em se planejando, tudo dá. Dá até para sonhar.
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A estatização do futebol
Como você já bem deve saber, o poder público brasileiro está para sancionar a Lei de Incentivo do Esporte. Se você não sabia disso e não faz a menor idéia do que eu estou falando, leia mais a Cidade do Futebol. Ou, nesse caso mais específico, leia qualquer coisa. Porque qualquer veículo de informação que se preze falou, e bastante, sobre esse fato.
Só pela repercussão da medida, já dá pra se ter uma idéia sobre como as coisas estão fora de ordem. Era pra passar batido, sem alardes. Mas não. Todos acreditamos que, como em um ato de puro altruísmo, as soluções dos problemas do país têm que vir do poder público, e não das nossas próprias mãos. Não importa quantas vezes o Estado tente, muito menos quantas vezes ele fracasse.
A verdade é que, no Brasil, esportes são bens públicos, em todos os seus níveis. O futebol principalmente. Por mais que o país tenha aberto o seu mercado na década de 90 e ingressado de vez na economia global, o futebol ainda se alimenta dos incentivos diretos e fiscais do Estado. Se durante a época do Regime Militar existia o ditado “Aonde a Arena vai mal, mais um time no Nacional”, hoje poderia se dizer que “Não precisa pensar em melhorar o produto, porque no Brasil o futebol é cobrado no seu tributo”.
Ao incentivar o patrocínio esportivo no país através da vinculação dessa iniciativa à redução tributária, o governo adota práticas típicas de mercados fechados, uma vez que será um dinheiro indiretamente público sendo utilizado para beneficiar um setor da sociedade que não necessariamente influencia a todos. Muitas vezes, aliás, organizações esportivas são restritas a um número bastante exclusivo de pessoas.
De qualquer maneira, é o que o governo consegue fazer pra dar um jeito de melhorar as coisas sem alterar aquilo que mais precisa, e que ao mesmo tempo mais lhe fere: a carga tributária. É irreal pensar que um país que possui tamanha incidência de impostos sobre a renda da população, ao mesmo tempo em que não consegue retribuir esse pagamento, consiga ter um mercado esportivo bem desenvolvido. Simplesmente não dá.
Antes de pagar por um ingresso para ir a um jogo de futebol, as pessoas precisam pagar pela escola particular de seus filhos, pelos pedágios das estradas, pelo serviço de segurança da sua casa, pelo seu carro, pelo plano de previdência privado e pelo plano de saúde da sua família. Futebol, acredite, é a menor das preocupações.
Menos para aqueles que acreditam que futebol é mais importante que a própria vida. Que levam o futebol mais a sério do que ele deveria ser levado. Que jogam bomba em alguém só por estar do outro lado da arquibancada.
É por isso que precisa ser financiado.
A coisa mais certa a se fazer pelo governo, ao invés de novas leis de incentivo a qualquer coisa, é reduzir os impostos. Simples, pelo menos de se concluir. Assim, a população terá mais liberdade de decidir onde aplicar o seu dinheiro, e quais as condições mínimas aceitáveis do serviço que lhe será ofertado. Aí aumenta o capital disponível, que aumenta o investimento, que gera receita, que gera mais investimento, e assim por diante.
O único problema é que essas medidas poderiam trazer à tona uma verdade que teima em aparecer, mas que também teima em ser suprimida: que, possivelmente, os brasileiros não gostem tanto de futebol assim. Que se deixasse o dinheiro na mão da população, ela poderia gastar com alguma outra coisa qualquer, que não o futebol. Com cultura, por exemplo.
Talvez, no Brasil, o futebol seja um imposto.
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Não é difícil perceber que o futebol reflete tudo aquilo que rola pela sociedade. Os valores que permeiam nossa cultura costumam influenciar os valores que cercam um grandioso espetáculo esportivo ou uma simples pelada de futebol de praia.
Se vivemos numa sociedade violenta, corrupta e preconceituosa, nada indica que no campo de jogo essas características deixem de existir como que por encanto. Nada nos faz crer que alguém que seja desonesto, egoísta e malandro fora de campo não o seja também dentro de campo.
Assim, o futebol, como o esporte de uma forma geral, não é bom, saudável ou educativo, por si só, independentemente dos princípios que norteiam nossos comportamentos e atitudes.
Estas considerações nos remetem a uma reflexão sobre as questões éticas que cercam o futebol e nossas vidas de uma forma mais ampla.
A ética pode ser considerada como a área do saber humano que procura entender e regular nossas condutas. Os princípios éticos envolvem uma atitude fundamental de escolha em direção a uma transformação de consciência em busca de crescimento e desenvolvimento. E esta atitude vale tanto para o indivíduo como para o coletivo.
E é justamente neste sentido que a prática do futebol, de simples reflexo dos valores sociais, pode representar uma poderosa ferramenta de transformação individual e social, considerada a sua importância neste mundo globalizado.
Mas para que isso ocorra é fundamental que os agentes que participam do processo de construção de uma sociedade melhor do que a que vivemos hoje, empenhem-se nesta direção, e procurem combater tudo aquilo que nos afaste do verdadeiro sentido do desenvolvimento humano.
Desenvolvimento que não pode se restringir apenas aos aspectos econômicos e financeiros, mas também aos aspectos biológicos, ideológicos, culturais, espirituais, sociais e éticos, contribuindo efetivamente para ascensão de todos os homens e mulheres ao mais humano.
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Nova velha ordem
Nove treinadores diferentes em 24 meses. Ou, na média, um comandante diferente a pouco menos de cada três meses. No caixa, um rombo de quase R$ 15 milhões, além de adiantamento de diversas cotas de patrocínio e televisão. No campo, simplesmente nenhum resultado expressivo alcançado.
Esse é o saldo de dois anos da gestão de Afonso Della Monica no Palmeiras. Eleito após 12 anos de presidência exercida por Mustafá Contursi, o atual presidente palmeirense, mesmo com saldo tão tenebroso, deverá continuar no clube por mais dois anos.
Em pouco mais de um mês as urnas eletrônicas da eleição alviverde deverão apontar a reeleição do atual mandatário. Ao que tudo indica, Contursi ficou politicamente com a minoria, após mais de uma década de controle total e irrestrito sobre o clube.
O motivo? Della Monica, apesar de não seguir nenhuma cartilha de boa administração esportiva, consegue representar o “modernismo” dentro do Palmeiras.
Durante todo o tempo que ficou à frente do Palmeiras, Mustafá ganhou dentro e fora do clube a fama de não gostar de futebol. Prova disso foi o rebaixamento do time à Série B do Brasileiro em 2003, ou a política de não cometer loucuras financeiras na política de contratações e salários praticados dentro do clube.
O embate que deve apresentar o Palmeiras é aquele que permeia a cabeça de todo administrador esportivo. É preciso cometer alguma loucura para conseguir ter resultado esportivo ou é melhor eu ser mais bem sucedido nas finanças?
A (i)lógica do esporte impede que o ideal seja seguir a cartilha do capitalismo. O mais importante não é ter dinheiro em caixa, mas sim uma equipe vencedora. Só que, para isso, ironicamente, o dirigente deve ser um bom administrador e manter uma racionalidade nos seus gastos. Sem um equilíbrio, as coisas simplesmente não se encaixam.
Equilíbrio é a palavra que mais combina com Caio Jr., o novo treinador palmeirense. Assim como, historicamente, Gilberto Cipullo administrou sempre com maestria o futebol do clube (tudo bem que, na sua época, a Parmalat havia acabado de entrar no Palmeiras). Resta, agora, a presidência ter o controle da situação. Do contrário, a nova ordem se mostrará, aos poucos, mais temerária que a velha…
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Especulações imprevisíveis
Com o fim de mais um Campeonato Brasileiro, chega um péssimo período para os profissionais da crônica esportiva, que vêem a oferta de assuntos constantes proporcionada pelas partidas quase diárias reduzida a um ínfimo difícil de ser buscado. E quando você não tem mais do que falar, você faz o quê? Inventa, óbvio.
Não por acaso a entressafra dos campeonatos e dos assuntos é a época em que mais surgem especulações a respeito do futuro de clubes e jogadores. Eu, que sou avesso a especulações desde o meu primário, quando numa brincadeira de pêra-uva-maçã-salada-mista acabei dando uma pêra no amor da minha vida e uma salada-mista na menina mais feia de toda a escola, prefiro sempre me ater a números concretos. E número concreto do futebol brasileiro, hoje, é a classificação final do campeonato que se encerrou.
Eu até poderia dissertar aqui sobre os melhores jogadores do campeonato, porém isso também é mera especulação. Eu não sei quem foi o melhor jogador do campeonato. Aliás, é bem possível que você também não saiba. Nós podemos especular, mas jamais saberemos ao certo. As variáveis são quase infinitas, o que torna a análise concreta algo quase impossível. Mas eu, você e o cara do seu lado sabemos que o São Paulo foi campeão, que o Inter foi vice e que o São Caetano foi rebaixado. Por quê?
Não sei, mas posso especular. Dizem, por exemplo, que o São Paulo foi campeão porque tem a melhor estrutura e o melhor planejamento. Certo. Mas, e o Corinthians ano passado? Foi campeão por causa do planejamento? Não sei. Talvez o Tevez. Há! De qualquer maneira, esse tipo de análise é, novamente, meramente especulativa.
O que se pode dizer, sem especular, é que o São Paulo foi o quarto campeão diferente em quatro anos de campeonato por pontos corridos, algo extremamente raro em todo o planeta. E que o Internacional foi vice-campeão por dois anos seguidos, algo extremamente raro no Campeonato Brasileiro. Isso são fatos, que são apoiados numa característica bastante peculiar do campeonato nacional, a imprevisibilidade.
Um exemplo concreto dessa alta taxa de imprevisibilidade pode ser encontrado no Grêmio, que em 2003 quase foi rebaixado, em 2004 foi de fato relegado, ano passado disputou a segunda divisão e esse ano acabou na terceira colocação da primeira divisão. Foi, de longe, o time mais imprevisível do ano. Depois dele veio o Palmeiras, que após voltar à primeira divisão diretamente para o quarto lugar em 2004, repetido em 2005, esse ano acabou em 16º.
Tivesse ele sido de fato rebaixado, a seqüência de desempenho do time depois da adoção dos pontos corridos seria bizarra: rebaixado, Libertadores, Libertadores, rebaixado. Foi por pouco. Até o São Paulo, que antes do campeonato começar já era especulado por muitos como o campeão, pulou dez posições em relação ao ano passado, quando acabou em 11º.
Alguns times, porém, têm se mostrado bastante regulares desde 2003, como o supracitado Internacional, o mais estável de todos, o ultimamente intermediário Vasco da Gama, o ascendente Paraná Clube e o intermediário-ascendente Figueirense.
Entretanto, esses são exceções. A maioria dos times muda muito de posição de um ano para o outro. Na média, do ano passado pra esse, cada clube alterou seis posições na tabela.
Contudo, isso não quer dizer que o Campeonato Brasileiro seja competitivo. Imprevisibilidade e competitividade são coisas bastante diferentes entre si, e eu prometo explicar a diferença numa coluna futura. Mas fato é que não sabemos dizer quem será o campeão do ano que vem, não por causa do alto nível de competitividade e equilíbrio entre os clubes, mas simplesmente porque não temos a menor idéia de que jogador estará em cada clube.
Você tem idéia de quem vai ser o campeão brasileiro do ano que vem? Nem eu. Talvez, com sorte, a Mãe Dinah saiba dizer. E olhe lá.
É possível que ela esteja apenas especulando.
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Futebol e mudança
Um das máximas mais limitantes que conheço no futebol é aquela que nos diz que em time que ganha não se mexe. Ter este pensamento como norteador de nossas ações é um primeiro passo para que, após termos conquistado algo, comecemos a conspirar contra o próprio sucesso.
Talvez esta idéia seja fruto de nosso conservadorismo e da falta de um melhor entendimento sobre a complexidade humana e social. Diante deste cenário parece que o mais lógico seja mesmo simplificar, não mexer naquilo que está dando certo ou funcionando.
Entretanto no futebol como em tantas outras atividades que envolvem seres humanos é preciso entender o caráter dinâmico, transitório e provisório das coisas. Algo pode ser significativo hoje, mas não sê-lo amanhã.
Os jogadores que ganham um jogo não são exatamente os mesmos no jogo seguinte. Mudam os humores, os hormônios, a motivação, os sonhos, os relacionamentos. Num jogo também muda-se o clima, as expectativas, o adversário e as dificuldades. A estratégia e a mobilização devem ser reconstruídas em todos os seus detalhes.
Isso não quer dizer, contudo, que a mudança seja sempre benéfica ou positiva por si só. Estão aí os clubes sem projetos, sem princípios, sem filosofia e que demitem três, quatro, cinco treinadores por ano, para provar que mudança por mudança em nada contribui para o desenvolvimento do nosso futebol.
Procurar compreender o real significado das mudanças parece essencial para os líderes que conduzem seus trabalhos junto aos diferentes grupos, seja este líder um treinador, um atleta, um dirigente ou um médico.
A forma como encaramos a mudança vai determinar a qualidade do caminho que traçamos para as nossas profissões e para as nossas vidas.
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Justiça brasileira
Pergunte ao torcedor do Paraná se ele não viveu o clima de uma final de campeonato contra o São Paulo no domingo. Ou, ao vascaíno, se a bola na trave de Leandro Amaral aos 46 do segundo tempo contra o Figueirense não doeu tal qual o famoso gol de Rondinelli contra o Flamengo, na década de 70.
A edição de 2006 do Campeonato Brasileiro da Série A terminou com duas finais. Igualzinho ao ano passado. E, também, da mesma forma que em 2004. Na quarta vez que a fórmula dos pontos corridos foi usada, pela terceira vez tivemos ao menos mais de uma partida decisiva na rodada final.
Tudo bem, a “final” entre Vasco e Paraná não foi válida pelo título do campeonato, mas decidiu uma vaga na Copa Libertadores. Se não fosse um torneio por pontos corridos, o Paraná não teria a certeza de que estaria nas Américas com um empate contra o São Paulo. Assim como o Goiás, que terminou em oitavo lugar, poderia se classificar para a fase final mesmo tendo tido um desempenho de 46,5%. Uma nota que reprovaria qualquer aluno.
A conquista da vaga na Libertadores pelos paranistas mostra como é justo e emocionante um campeonato por pontos corridos. Tudo bem que o Brasileirão perde a sua imprevisibilidade, que coroou o campeonato nacional com mais campeões em todo o mundo. Mas será que o mata-mata na maior competição do país faz justiça?
O motivo básico para o sucesso de uma empresa está em seu planejamento estratégico. As pessoas trabalham para que tudo ocorra da forma mais previsível possível e, com isso, a empresa tenha ainda mais lucros ao término da temporada. Assim também funciona num torneio por pontos corridos. O trabalho de um ano inteiro será coroado com resultado dentro de campo da forma mais previsível que há dentro da ilógica do futebol.
Foi assim com o São Paulo, que se preparou para ser campeão. Foi assim com o Grêmio, que planejou uma volta à elite de maneira equilibrada e vencedora. Foi assim com o Paraná, que desde o ano passado mantém seu treinador no comando e tenta se virar com uma das menores verbas dentre os clubes da Série A.
Imagine se, após a 38ª rodada, começássemos um torneio em mata-mata com oito clubes, como era costume no país. O Goiás estaria entre os finalistas. Enfrentaria o São Paulo no primeiro confronto. Dois jogos de casa cheia, clima de decisão, tensão à flor da pele. Imagine se o Goiás ganhasse esse confronto e fosse campeão ao final das decisões.
O esporte é feito pelas grandes viradas, sem dúvida. Mas não podemos permitir que ele continue a ser de grandes injustiças.
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Inter-relações globais
Nesta semana que passou, o São Paulo recebeu a taça de Campeão Brasileiro da primeira divisão, o Barueri despontou pra Segundona, o Guarani caiu, o Nabi Abi Chedid morreu, o Grêmio anunciou planos para a construção de um novo estádio, o Internacional revelou o Pato, a Record continuou brigando com a Globo, o Ronaldinho fez um gol de bicicleta esquisito-porém-bonito, tipo a Uma Thurman, a Liga dos Campeões sumiu da TV aberta brasileira até o ano que vem, e mais uma porção de outras coisas.
Tudo isso importa, claro. Cada um desses fatos influenciou de alguma maneira a estrutura do futebol no país. E, de certa forma, está tudo interligado. Em tempos de globalização, tudo tem a ver com tudo. Algumas coisas em maior escala, outras nem tanto.
Mas nada, repito, nada nessa semana foi tão importante para a indústria do futebol brasileiro quanto a morte de Alexander Litvinenko.
“Quem?”, pergunta-se você.
Alexander Litvinenko, o ex-espião russo que foi assassinado na Inglaterra depois de ingerir um veneno radiativo.
“Ah, esse”.
Esse mesmo. E antes que você se indague que diabos tem o pobre do rapaz a ver com o futebol brasileiro, saiba que o ex-espião era um grande amigo de Boris Berezovsky, aquele mesmo. E agora que você já está inteirado a respeito do assunto, vamos às contextualizações:
Tempos atrás, Alexander Litvinenko foi preso por anunciar publicamente que a FSB, polícia federal russa que funciona como uma espécie de neo-KGB, havia ordenado que ele assassinasse Berezovsky, que de uns tempos pra cá virou um dos grandes inimigos do presidente russo, Vladimir Putin.
Sei lá eu o porquê do cara ter falado isso publicamente, talvez pelo seu alvo ser um dos caras mais ricos do mundo, mas fato é que, a partir de então, Litvinenko e Berezovsky viraram grandes amigos. Acredita-se, inclusive, que Berezovsky é o dono da casa ao norte de Londres onde Litninenko e sua família moravam. Ao comentar o assassinato, Berezovsky disse: “Estou muito sentido com a morte do meu grande amigo Alexander Litvinenko. Ele salvou a minha vida e foi um grande amigo e aliado desde então. Vou lembrá-lo pela sua bravura, determinação e honra”.
Cogita-se que o assassinato tenha sido encomendado pelo governo russo. Especula-se, porém, que ninguém vai conseguir descobrir nada, mesmo tendo o crime ocorrido na Inglaterra. Mas está bem claro que é um sinal de que a chapa do Berezovsky pode estar esquentando. E o Berezovsky, como se divulga por aí, é um dos caras que mais colocou dinheiro no futebol brasileiro nos últimos anos.
É também um claro sinal de que a Rússia passa por um período no mínimo turbulento, que já vem de tempos, mas que pode culminar com coisas não muito positivas. E a Rússia, além de ser uma grande importadora mundial de jogadores, tem um time que tem três atletas na atual seleção brasileira.
Berezovsky, inclusive, já foi sócio de outro bilionário russo, o Abrahmovic. Esse, por enquanto, cultiva ótimas relações com o governo russo.
Bom para o Chelsea, que já se garantiu na próxima fase da Champions League, que não vai mais passar na televisão aberta esse ano, no mesmo grupo do Barcelona de Ronaldinho do gol de bicicleta bonito-mais-esquisito, ex-jogador do Grêmio que quer construir um estádio novo, e que se prepara para jogar o Mundial de Clubes contra o Internacional, que vai levar o Pato pra disputa.
Não fossem as boas relações cultivadas pelo seu dono, talvez o Chelsea não pudesse ter pagado aproximadamente 30 milhões de libras ao Milan pelo Schevchenko, dinheiro que o clube italiano usou para segurar o Kaká e contratar o Ricardo Oliveira, ambos ex-jogadores do São Paulo, que levantou a taça de campeão no último domingo e que ano que vem vai jogar contra o Barueri, que subiu para a Segundona, pelo Campeonato Paulista, que deu início à briga entre a Globo e a Record, e que esse ano não vai contar com o Guarani, e que é organizado pela Federação Paulista de Futebol, que já foi presidida pelo póstumo Nabi Abi Chedid.
Como dito antes, tudo tem a ver com tudo.
Menos a Uma Thurman.
Ela é esquisita.
Bonita, mas esquisita.
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Na medida dos meus limites, procuro a cada semana trazer neste espaço uma reflexão diferenciada aos nossos leitores, sobre os aspectos mais gerais do futebol.
Encanta-me a idéia de buscar novos olhares sobre esta modalidade esportiva que é no meu modo de entender, uma das mais significativas manifestações culturais do século 20 e ao que tudo indica será também neste século 21.
Nesta perspectiva participei de um evento promovido pela Universidade do Futebol juntamente com profissionais formados em história, antropologia, jornalismo, economia, marketing, educação física, geografia e direito, todos vindos de instituições universitárias reconhecidas, como USP, PUC e Unicamp, entre outras.
A idéia era debater, dentro de uma abordagem interdisciplinar, algumas questões do futebol, buscando, entre outras coisas, caminhos que apontassem para a superação de um modelo tecnicista ainda vigente na prática deste esporte.
Para aqueles que não estudam este assunto eu diria que tecnicismo é, em linhas gerais, uma visão que se apóia exclusivamente na busca de um conhecimento centrado na técnica. No futebol seria, por exemplo, o conjunto de conhecimentos tecnicamente necessários para a melhora do rendimento. Simplificando poderíamos dizer que, sob este ângulo, para ensinar futebol bastaria conhecer seus fundamentos técnicos, suas regras entre alguns outros poucos conhecimentos complementares.
O debate foi muito interessante e como não poderia deixar de ser o grupo interdisciplinar de profissionais envolvidos no evento conseguiu demonstrar a riqueza cultural e sociológica do futebol que permite infinitos tipos de abordagens.
O que surpreendeu, entretanto, foi o relato destes estudiosos de que mesmo nas discussões mais acadêmicas e científicas há aqueles (muitas vezes mestres e doutores) que resistem em dar ao futebol a sua devida importância enquanto fenômeno cultural.
Qualquer um tem o direito de não gostar de futebol. Até conheço alguns (poucos é bem verdade) que não gostam. Mas o difícil de entender é ainda encontrarmos professores, pesquisadores, intelectuais, enfim, que não consideram o futebol como uma instituição, patrimônio ou fenômeno cultural de destaque no mundo contemporâneo e que mereceria por parte desses estudiosos a atenção no sentido de se revelar alguns aspectos da alma humana.
Em minha opinião este fato se caracteriza como uma pobreza de nossa intelectualidade.
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O poder da palavra
O São Paulo foi campeão brasileiro com méritos de sobra. Foi, em 2006, o melhor time do Brasil ao lado do Inter. Teve um ataque arrasador, uma defesa sólida, um conjunto perfeito. Em todos os títulos que disputou, o São Paulo chegou pelo menos no segundo lugar. Ou seja, se 2005 já tinha sido de sonhos para o são-paulino, o ano de 2006 se encerra como sendo de continuação daquele sonho bom, no qual sempre tentamos voltar a ter e quase nunca conseguimos.
Mas a hegemonia são-paulina no futebol brasileiro não pode ser transformada em arrogância. Na última semana, os jogadores são-paulinos, desde os mais experientes até os recém-contratados, se excederam na confiança de ter um time acima de qualquer crítica.
Campeoníssimo e responsável direto por mais de 15 gols do time na temporada, o meia, lateral e volante Souza desabafou com a conquista do tetracampeonato. Falou mais do que manda a cartilha e, sem dúvida, criou alguns desafetos dentro do mundo da bola.
Na seqüência, o lateral Ilsinho, que surgiu no Palmeiras e se transferiu para o São Paulo a mando de seu empresário durante o campeonato, acabou extravasando o desprezo pelo ex-clube ao dizer que havia largado o “Titanic”, numa alusão a um dos maiores desastres da história da navegação mundial.
A semana se encerrou com o lateral-esquerdo Jadílson, que no dia de sua apresentação ao novo clube não deixou de alfinetar o rival Corinthians, ao dizer que agradecia aos céus por não ter fechado com o campeão brasileiro de 2005 e esperado surgir outra proposta, que acabou sendo a do São Paulo.
Que o São Paulo é o melhor time do Brasil e um dos melhores lugares para se trabalhar no futebol brasileiro hoje ninguém tem muita dúvida. Mas o que não pode são os seus jogadores exporem publicamente tal sentimento.
O atleta cobra profissionalismo da imprensa, dos dirigentes e até mesmo da torcida. Mas, muitas vezes, se deixa levar pela emoção do esporte e fala mais do que deve. Dentro do São Paulo o sentimento pode até ser de superioridade. Afinal, os números e as salas de troféus comprovam isso. Mas o jogador tem de respeitar os outros colegas de profissão que estão empregados nos outros clubes e saber que algumas coisas não são para serem ditas.
Até porque a imprensa adora uma frase bombástica para vender mais jornal. Mas e se amanhã não restar outra alternativa para o jogador a não ser ir para aquele clube que hoje ele trata com desdém? É melhor baixar a bola. Ou deixar para levantá-la só quando estiver dentro de campo. Fora dele, ganha mais quem fala menos, sem dúvida.
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