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CBF elabora relatório sobre Copa 2006

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) deverá apresentar até o início de novembro um relatório técnico sobre a Copa do Mundo de 2006. O documento está em fase final de elaboração e deverá servir de base para o técnico Dunga ter um estudo sobre as tendências táticas do futebol, assistidas durante o Mundial da Alemanha.
 
Baseado no relatório apresentado pela FA (Federação Inglesa de Futebol), o documento brasileiro será elaborado por Jairo Santos, observador técnico da seleção brasileira durante a Copa do Mundo. Com cerca de 100 páginas, o estudo pretende mostrar como atuaram as 32 seleções do Mundial, de que forma foram marcados os 147 gols da competição, num nível de detalhamento máximo.
 
“Em cerca de dez dias o relatório deverá ser apresentado. Informalmente uma parte já foi entregue, mas o grande objetivo é dar um caráter científico para evitar uma confusão na análise dos resultados”, afirmou Santos com exclusividade à Universidade do Futebol durante o Congresso Carioca de Educação Física, organizado pelo Fiep-RJ.
 
O observador, que desde 1978 atua na CBF, pretende agora criar uma metodologia de análise dos dados. O objetivo é evitar disparidades de interpretação, dando condição para que seja formado um estudo científico sobre o futebol e, especialmente, a Copa do Mundo.
 
“Tem que haver uma falsificabilidade do que for produzido. Quanto mais isso ocorrer, melhor”, disse.
 
Nas análises que serão apresentadas, Santos mostra que as seleções, na Copa do Mundo, tiveram de ser rápidas para marcar os gols. Dos 147 marcados em gramados alemães, 88% foram feitos com até sete passes dados entre os jogadores. A maior incidência foi de gols marcados após dois e três passes dados, com 31% do total. Além disso, a jogada de um gol na Copa foi construída, em sua maioria, em menos de meio minuto, sendo que a maior incidência é de gols criados em jogadas de até dez segundos.
 
Outro dado importante levantado pelo observador é sobre a origem dos gols na Copa. O estudo, feito por um profissional contratado especificamente para isso, mostra que cerca de 54% dos gols surgiram em cobranças de bola parada. O relatório aponta, ainda, que os dois finalistas, Itália e França, foram os líderes em gols desse tipo. O Brasil, que perdeu seu jogo contra os franceses numa cobrança de falta, ficou em oitavo lugar no ranking.
 
Para o ex-treinador da seleção brasileira na Copa de 90, Sebastião Lazaroni, os números mostram que o Mundial da Alemanha foi marcado pela profusão de sistemas defensivos.
 
“A bola parada passou a ser a principal arma. Por isso o time tem de conseguir se posicionar para não sofrer com esse tipo de lance”.

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Corinthians já está rebaixado

O significado mais direto de palavras como rebaixado, rebaixamento ou rebaixar é tornar-se mais baixo, descer de nível, abater-se, humilhar-se.
 
Neste sentido não há como negar que o Corinthians, um dos símbolos mais representativos do futebol nacional, a esta altura do campeonato, já pode ser considerado um time rebaixado.
 
Embora a maioria dos torcedores corintianos se preocupe apenas com a permanência do seu time no grupo de elite do nosso futebol, o que por sinal ainda pode perfeitamente ser alcançado, o fato é que mais relevante até do que isso é a atual situação administrativa e financeira em que se encontra o clube.
 
Ao buscar soluções fáceis para os problemas que afetam uma grande parcela dos clubes brasileiros, o Corinthians, através de sua diretoria, optou por uma parceria nebulosa, sem transparência e que nenhuma contribuição pode dar ao desenvolvimento do futebol em nosso país. 
 
O Corinthians tornou-se enfim um case, ou seja, um ótimo exemplo de como não se deve fazer a gestão de um clube de futebol. Mesmo que continue na Série A do Campeonato Brasileiro, com tudo que tem ocorrido, deve se reconhecer como um clube rebaixado, que desceu de nível, que se abateu e humilhou-se.
 
Mas onde há vida sempre haverá perspectivas de melhorias. E como nos ensina a milenar sabedoria chinesa, sempre é possível descobrir novos e promissores caminhos mesmo nos momentos mais desfavoráveis. Tanto que em chinês, crise e oportunidade se complementam numa mesma palavra.
 
Tomara que o Corinthians aprenda com seus erros e saiba aproveitar a crise e a oportunidade.

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Treinador-problema

Sempre inovador dentro de sua trajetória no futebol, Emerson Leão criou uma nova categoria de treinadores de futebol. A do treinador-problema. Tal qual o craque-problema, o treinador-problema é aquela pessoa competente, que mostra resultados, mas no longo prazo pode ser mais sinônimo de prejuízo do que de lucro para o time.
 
Desde que teve sua malfadada passagem pela seleção brasileira, em 2001, Leão adquiriu o status de treinador top de linha. O reforço veio com o título inédito do Brasileirão de 2002 conquistado pelo Santos, com o treinador revelando astros como Robinho, Alex e Diego para o futebol e lapidando outros bons jogadores como Renato e Elano.
 
Bastou a conquista no Santos e a conseqüente volta por cima no futebol brasileiro para que o treinador, que até então se tornara uma solução, mostrar-se também um pequeno foco de crise para ser administrada.
 
O gozo pela vitória transformou Leão numa pessoa difícil de se trabalhar. A ironia nas respostas, a necessidade de ter comando centralizado e irrestrito sobre o departamento de futebol, a vigilância constante sobre o trabalho de seus jogadores.
 
Aos poucos, Leão foi deixando de lado o “futebol-bailarino”, que havia pedido para a seleção e conseguido adotar no Santos, para o “futebol-militar”, com uma disciplina e centralização de comandos acima do normal.
 
A linha dura de Leão, ou a “ditadurazinha”, como ele mesmo afirmou ter o interesse de implantar junto com o “futebol-bailarino” da seleção, acabou se tornando também o grande problema do treinador.
 
Desde que deixou o Santos em 2004, por fadiga na relação dentro e fora do clube, Leão virou a solução para equipes em crise de relacionamento. E é justamente aí que mora o perigo.
 
No São Paulo, a linha dura de Leão comprometeu o talento de Falcão, que após a segunda tentativa frustrada no futebol de campo voltou para o futsal, onde é o melhor do mundo. Depois, foi a vez de Luizão decidir deixar o clube num protesto velado à linha dura imposta pelo treinador. No fim, foi Souza, o principal assistente do time virtual campeão nacional de 2006, quem quase deixou o São Paulo por não concordar com a geladeira imposta ao treinador.
 
Campeão paulista, Leão saiu por cima no São Paulo, mas provavelmente não teria conseguido ser campeão da Libertadores como foi seu sucessor, Paulo Autuori. No embarque para o Japão, Leão disse que tinha uma dívida com um amigo para saldar. Em menos de meio ano, já voltou para o Palmeiras, com a missão de recuperar o time e alçá-lo à Libertadores.
 
Missão cumprida no Palmeiras, mas nem um ano de casa completado e Leão já se viu às voltas com os jogadores, imprensa, direção, associados… E foi demitido. Leão então virou a salvação da lavoura desordenada do Corinthians.
 
Contratado a peso de ouro, Leão pegou um clube sem comando. Em todas as esferas. Do presidente ao roupeiro, o Corinthians estava sem dono. E logo na chegada Leão despachou os dois astros do time, Tevez e Mascherano. Em dois meses comando do time, o Corinthians melhorou. Saiu da última colocação e agora é o primeiro dos rebaixados. Mas, a cada entrevista, Leão cria mais polêmica, bota mais lenha na fogueira, gera mais crise.
 
Leão inventou moda nos anos 70 ao fazer anúncio de cuecas. Agora, inventa outra ao criar um novo jargão para o futebol. A do treinador-problema.

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Futebol brasileiro não passa de um grande fingimento

O futebol brasileiro, sabe-se muito bem, é mundialmente conhecido pela imensa técnica e habilidade de seus jogadores. É, também, mundialmente conhecido pelo talento inequívoco desses mesmos jogadores em cavar faltas e potencializar eventuais cartões amarelos e vermelhos para seus adversários.
 
Talvez o maior exemplo disso tenha acontecido na Copa do Mundo de 2002, na primeira partida contra a Turquia, quando Rivaldo – eleito o melhor jogador do mundo alguns anos antes – levou uma bolada na coxa, colocou a mão sobre o rosto, caiu no chão, e cavou a expulsão do jogador adversário. “Brasileiros fingidos!”, deve ter exclamado polidamente algum torcedor turco ao ver o replay detalhado do lance.
 
Vampeta, companheiro de Rivaldo na seleção pentacampeã, também acha isso. Quando ainda jogava no Flamengo, o jogador bigodudo foi perguntado qual era a razão do fraco desempenho da equipe. Vampeta então respondeu que o Flamengo fingia que pagava, e ele fingia que jogava. Era tudo, enfim, um grande fingimento. Sem saber, acho, ele criou um dos maiores provérbios da história dos recursos humanos, além de cravar uma máxima da administração esportiva que merece ser copiada, citada e referendada por um bom tempo.
 
Talvez Vampeta não tenha chegado a alcançar o status de craque do futebol brasileiro, mas – sem dúvida alguma – Vampeta é um gênio. E não só por ter sido um dos últimos jogadores a usar bigode e nem por ter dado cambalhotas na rampa do Planalto. Não. Vampeta é um gênio porque conseguiu simplificar o futebol brasileiro em uma única frase. Coisa que só os gênios são capazes de fazer.
 
É triste admitir, mas é verdade. O futebol brasileiro não passa de um grande fingimento. Os clubes fingem que pagam e que se mobilizam pelas reformas estruturais mais básicas. Os jogadores fingem que jogam e que querem ficar no clube, e não se transferir pra algum mercado que pague melhor. A torcida, principalmente a organizada, finge que vai pro estádio pra assistir um jogo e não pra descarregar suas agruras e sair no sopapo com o cara do lado, ou com a polícia. A polícia finge que vai pro jogo pra servir e proteger, e não pra descarregar suas agruras saindo no sopapo com o cara do lado, ou com a torcida. A imprensa finge que se preocupa com o estado primário da organização interna do seu produto. E o governo, por fim, finge que vai atuar seriamente pra mudar o estado caótico e não lá muito otimista em que as coisas atualmente se encontram.
 
É tudo um baita de um fingimento danado.
 
Como eu mesmo faço parte desse ambiente, admito tristemente que também estou dentro de todo esse fingimento. É verdade. Eu finjo que estou realmente preocupado e que vou fazer alguma coisa pra melhorar isso tudo. Eu até quero, mas sei que não vou. Não confio nas minhas capacidades a ponto de achar que o meu esforço valha a pena e que dará algum tipo de resultado. Eu finjo que é possível, mas sei que não é. Não sou um gênio.
 
Talvez seja hora de eu deixar crescer um bigode.

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Sociedade, futebol e preconceitos

É incrível como o mundo chamado civilizado entra no século 21 ainda tão cheio de preconceitos.
 
O preconceito, como o próprio nome indica, é um pré-conceito sobre determinados assuntos que não compreendemos muito bem, mas que temos opiniões aparentemente conclusivas sobre eles, fazendo-nos comportar de maneira injusta diante do outro, diante do ser humano que nos cerca.
 
É, enfim, uma atitude de discriminação que costuma indicar desconhecimento pejorativo de alguém diferente de nós nos aspectos social, racial ou sexual.
 
Há preconceitos de toda ordem. Para ficarmos nos principais, observamos preconceito à outra cor de pele (racismo), preconceito às outras religiões, preconceito em relação às mulheres (machismo), preconceito de classe social, preconceito contra pessoas de outras orientações sexuais (homossexuais e bissexuais) e até preconceito contra pessoas de outras nacionalidades.
 
Neste contexto é curioso observar que o futebol, como esporte mais popular do mundo, e que bem poderia ser um poderoso instrumento de educação, cultura e desenvolvimento, é paradoxalmente uma das instituições mais conservadoras e que concentra preconceitos.
 
Lembro-me que certa vez, como membro da comissão técnica de um famoso clube de futebol brasileiro, com o intuito de melhorar a performance e equilíbrio emocional da equipe, tentava introduzir técnicas alternativas de preparação dos atletas, por meio de aulas de yoga.
 
Eram aulas semanais e optativas, ou seja, nenhum atleta era obrigado a fazê-las. Mas aos poucos vários deles passaram a se interessar e se beneficiar dessa prática. E isso começava a incomodar alguns atletas mais preconceituosos.
 
Por se tratar de uma atividade bastante diferente dos mais tradicionais e rudes exercícios das rotinas dos jogadores e devido ao fato das aulas serem ministradas por uma mulher, um dos atletas (que por sinal hoje é um famoso treinador brasileiro) me questionou mais ou menos desta forma: “Professor, vai ter aula de yoga amanhã? Eu respondi: “Sim, vai… Por quê? Você vai querer fazer a aula?” Ao que ele me respondeu: “Não, não… é que vou pedir pro roupeiro preparar os colans cor-de-rosa e as sapatilhas para que a bonequinhas possam fazer a aula”.
 
Exemplos como esse e de outros preconceitos, infelizmente ainda são comuns no futebol e em nossa sociedade, e as chances de os superarmos definitivamente ainda são remotas.
 
Isto me faz lembrar a frase do físico e pensador Albert Einstein que concluiu ser mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito.

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Futebol e política

Futebol e política sempre se misturaram. Não é de hoje e não acabará nunca. Afinal, quer melhor instrumento de manipulação das massas do que o esporte que reúne o maior número de adeptos, com quase 3 bilhões de fiéis seguidores?
 
Se cerca da metade da população mundial faz de tudo por uma bolinha, por que nossos políticos não podem fazer dela uma boa condição de se aproximar do eleitor? E foi isso que Lula fez quando, a três dias das eleições, recebeu o presidente da Fifa, Joseph Blatter, para uma conversa sem nexo sobre a possibilidade de a Copa do Mundo de 2014 ser no Brasil.
 
Sem nexo porque a realidade política no Brasil não está para se discutir a Copa de 2014. Sem nexo porque o Brasil é virtualmente o país-sede escolhido politicamente para abrigar o Mundial. Sem nexo porque não dá mais para se discutir sobre a Copa de 2014 no Brasil.
 
Não dá para discutir porque é preciso, mais do que nunca, trabalhar, e muito, para que o país consiga fazer um Mundial dentro de sua realidade. Se a vontade política (dentro e fora do país) já está estabelecida, porque não termos vontade de trabalhar?
 
A Alemanha se preparou desde 1993 para a Copa de 2006. A África do Sul só conversou desde 1998 (quando estranhamente perdeu para a Alemanha a disputa para 2006) para o Mundial de 2010. O resultado pode ser visto agora, com aumento no orçamento, dificuldade em cumprir o cronograma de obras de infra-estrutura, etc.
 
A mistura de futebol e política continuará a existir, mas o que não podemos esquecer é o trabalho, que sempre acompanha os projetos vencedores. Enquanto não houver uma disciplina no que se refere ao planejamento para organizar a Copa do Mundo no Brasil, só haverá política para fazer o sonho do Mundial vingar.
 

E, do jeito que a mistura tem sido feita, o sonho da Copa de 2014 se materializará num terrível pesadelo para o futebol. No Brasil e no mundo.

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De novo

Pelo portão de desembarque do Aeroporto Afonso Pena, localizado em São José dos Pinhais – cidade satélite de Curitiba – desembarcam diariamente centenas e centenas de pessoas. Passam pelas portas que se abrem automaticamente, graças a alguns sensores de movimento, trabalhadores em busca de rápida hospedagem na capital paranaense, jovens estudantes retornando das mais diversas partes do país e do mundo, e outros indivíduos indo visitar algum parente ou conhecido, ou então para tratar de algum assunto que bem lhe caiba. À espera de todos esses, estão lá os motoristas de empresas segurando suas pequenas placas ou folhas de papel em que se lê o nome de algum desconhecido, as famílias aos prantos carregando balões, flores e faixas de boas vindas, e os parentes e/ou amigos saudosos em reencontrar velhos companheiros.
 
Nessa quarta-feira, porém, algumas coisas estavam um pouco diferentes. O cenário continuava igual: o mesmo aeroporto, a mesma porta automática com os mesmos sensores, e a mesma idéia de pessoas estarem esperando por outras pessoas. Mas essas pessoas eram diferentes. Os trabalhadores pertenciam a uma superclasse profissional, a de jogadores de futebol. E as pessoas saudosas também pertenciam à outra escala de qualificação. Primeiro porque elas eram torcedores, e depois porque elas não estavam tão saudosas assim.
 
Um pouco antes da equipe do Coritiba desembarcar no Aeroporto Afonso Pena, a torcida já se aglomerava em frente ao portão de desembarque, com a excitação típica daqueles que aguardam ansiosamente o retorno de alguém. As faixas e cartazes, tão comuns a essa área, faziam-se presente. Porém, ao invés de mensagens de boas-vindas, podia-se ler em uma delas “Nosso time é pior que o Tabajara”. Não é exatamente o tom hospitaleiro que se espera de pessoas que aguardam saudosamente por alguém. O mesmo tom não hospitaleiro que se ouvia quando a torcida gritava o bastante famoso “Vergonha, vergonha, time sem vergonha”.
 
Assim que as portas com sensor de movimento se abriram e os jogadores do Coritiba apareceram, começaram os protestos da torcida. De repente, o aeroporto – um dos maiores símbolos de modernidade de uma cidade – virou cenário de uma peleja medieval. De um lado, torcedores organizados. De outro, jogadores e dirigentes de uma equipe de futebol profissional. No meio, nada. Por ordem, aconteceram os gritos, as provocações, os pedidos, os gritos, as provocações, os pedidos, os gritos, as provocações, os gritos, os gritos, as provocações e as provocações. Aí veio a primeira porrada. Depois, várias outras. Alguns pontapés. Uma lixeira voando. Alguns pedaços do aeroporto também voando. Por fim, caos. Que só teve fim quando os jogadores de futebol – profissional, vale sempre lembrar – recuaram e o sensor de movimento não sentiu mais nenhum movimento e fechou o portão de desembarque. Ninguém foi preso, nem advertido, nem nada.
 
Era um problema que estava anunciado. No dia anterior, era possível ler no site de uma torcida que “Grupos de torcedores do Coritiba estão se organizando para receber a delegação que viaja na manhã desta quarta-feira de Fortaleza rumo a Curitiba”. Não precisa ser vidente pra antever que essa recepção não seria das mais afetuosas. Deu no que deu.
 
Mais uma vez o futebol brasileiro voltou a flertar com o perigo, no antigo, longínquo e velho conflito entre a torcida organizada e os jogadores de futebol. Parecem, em casos como esses, duas gangues adversárias. Difícil acreditar que as ambas as partes tão freqüentemente conflituosas estão supostamente trabalhando por um bem comum. Há algo de muito errado nisso tudo, e não me parece que algo vai mudar num futuro próximo.
 

Sempre digo que uma grande tragédia está à espera do futebol brasileiro. Cada vez mais tenho certeza disso. Infelizmente, parece que as coisas só mudarão quando ela acontecer. E, tenha certeza, essa espera causará danos muito maiores do que a espera das torcidas organizadas nos aeroportos.

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Política, futebol e Copa do Mundo

Dois temas têm ocupado o espaço nas conversas de boa parcela dos brasileiros nos últimos tempos.
 
Um dos temas centrais, neste período eleitoral, como não poderia deixar de ser, refere-se à preocupação sobre a forma mais adequada de se buscar dias melhores para todos nós e a construção de uma sociedade mais desenvolvida e justa. Por conseqüência, discutimos como podemos escolher melhores representantes políticos que sejam capazes de contribuir para a superação da atual situação de nossa economia, política, cultura, educação e saúde.
 
Outro tema, principalmente para aqueles que gostam e acompanham o futebol, tem sido sobre a possibilidade de o Brasil poder ou não sediar a realização da Copa do Mundo de 2014.
 
Embora os temas pareçam diferentes são, na verdade, bastante convergentes.
 
A política como ciência, arte e atividade que interfere nas condições básicas da existência humana, deveria estar presente, pelo menos como pano de fundo, na maior parte dos temas que elegemos para debater.
 
Lamento quando ouço pessoas dizerem que tem nojo de política e que não querem discuti-la. Na verdade poderiam dizer que têm nojo dos políticos que desempenham mal o seu papel, sem ética e sem competência. Mas nunca dizerem que desprezam a política em si.
 
Como nos ensina o dramaturgo, poeta e pensador alemão Bertolt Brecht, o pior analfabeto é o analfabeto político, pois não é capaz de ler criticamente as condições sociais que interferem em quase todos os setores e aspectos de nossas vidas, e com isso se incapacita no sentido de ajudar na superação deste estado de coisas.
 
Evidentemente podemos discutir se o São Paulo ou o Grêmio vão ser campeões brasileiros ou se Corinthians ou Flamengo vão ser rebaixados para a Série B, sem que isso tenha qualquer conotação política. Entretanto seria ingênuo querer discutir sobre a estrutura e destino do nosso futebol e dos próprios clubes, sem entendermos minimamente os meandros políticos que costuram nossas relações institucionais e sociais.
 
Da mesma forma, discutir os prós e contras da realização de uma Copa do Mundo no Brasil sem considerarmos seriamente as questões políticas e econômicas que cercam um evento deste porte, significa rebaixar o tema a uma simples e descompromissada conversa de botequim.

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Base é primeiro desafio de Parreira na África

Carlos Alberto Parreira já detectou seu primeiro desafio como treinador da África do Sul. O técnico do país anfitrião da próxima Copa do Mundo pressionou a federação local para que as categorias de base da seleção sul-africana sejam desenvolvidas.
 
“Será preciso começar do primeiro passo, que é criar uma boa base dentro do país. A África não tem divisão de base. Então precisamos criar times sub-20 e sub-17. Categorias mais jovens não precisam, já que para a Copa não dá tempo de formar um jogador”, disse Parreira.
 
Segundo o treinador, a federação local se prontificou a estruturar em conjunto com ele uma liga local para os jogadores mais jovens.
 
“Será a reserve league, que é a liga dos jogadores reservas. É até uma exigência deles para dar motivação, criar uma competição. E isso vai ajudar o time na Copa”.
 
Além de criar uma liga para categorias de base, Parreira quer dar mais bagagem internacional a seus jogadores. Para isso, o treinador quer que a África jogue o maior número de partidas amistosas possíveis contra seleções fortes.
 
“Não tem que se preocupar com o resultado, mas sim jogar contra times como Brasil, França, Itália, Alemanha”, afirmou.
 
Outro desafio que Parreira acredita ter na África é em relação ao time principal. Para ele, haverá problemas semelhantes aos enfrentados na seleção brasileira no que diz respeito aos jogadores convocados.
 
“Assim como no Brasil, a maior parte dos jogadores atua no exterior. São 70 jogadores atuando fora. E a África fica muito ao sul do continente, o que faz com que qualquer viagem para lá dure 11 horas”.

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West Ham não é mais o mesmo depois da chegada dos argentinos

Quando Tevez e Mascherano ainda se encontravam no Corinthians, era muito comum ver e ouvir relatos sobre confusões nos vestiários e rachas no elenco. As últimas colocações do time no Campeonato Brasileiro não eram surpresa pra ninguém. Porém, por causa daquelas forças capitais que não precisam ser enumeradas, os dois foram transferidos e, ao que tudo indica, o Corinthians começou a ter mais paz, respirar melhores ares e conseguiu momentaneamente escapar da área da degola para a segunda divisão.
 
Ambos, como se bem sabe, rumaram para a Inglaterra, também em busca de melhores ares e, possivelmente, maiores cifrões. Curiosamente, tanto para mim quanto para você e, principalmente, para os ingleses, os dois foram anunciados como reforços do West Ham, clube londrino também conhecido como “Martelos”, que tem muita tradição em revelar jogadores de suas categorias de base. Tanta tradição que se proclama “A Academia do Futebol”. Não pra menos, afinal do clube já saíram diversos figurões do futebol inglês. Basta ver que na seleção inglesa da Copa de 2006, três dos principais jogadores haviam sido revelados por eles: Frank Lampard, Joe Cole e Rio Ferdinand. Além desses, destacam-se atualmente na Premier League, Michael Carrick, do Manchester United, e Jermaine Defoe, do Tottenham.
 
É natural que um time que revele tantos jogadores também possua uma política muito clara para privilegiar os jogadores formados em casa. E é exatamente aí que começam os problemas entre Tevez, Mascherano e West Ham. Do mesmo jeito que começaram os problemas no Corinthians.
 
Já está sendo noticiado que o vestiário do West Ham não é mais o mesmo depois da chegada dos argentinos. Primeiro porque o West Ham é um time de base, ou seja, não está lá muito acostumado a jogadores estrangeiros. Dos 27 jogadores do atual elenco, nada menos do que 22 são britânicos. E a Grã-Bretanha e a Argentina não são exatamente dois países amigos, tanto que entraram em guerra na década de 80 por causa de uma ilha.
 
Mas tudo bem, rivalidade regional por rivalidade regional, possivelmente o ambiente brasileiro seja pior e os dois argentinos se deram relativamente bem por essas bandas. Mas esse não é o pior problema, nem de longe. Pra variar, o problema está justamente no lugar que foi a solução do West Ham ao longo de sua história: as categorias de base.
 
Com a súbita chegada das duas estrelas, os jogadores formados na casa se sentiram desprestigiados. Nada de inesperado. Afinal, foram eles que na temporada passada ralaram pra conseguir uma vaga pra Copa da Uefa e chegar à final da Copa da Inglaterra, que escapou entre os dedos nos pênaltis para o Liverpool.
 
Alan Pardew, técnico da equipe londrina, diz que o problema todo está na adaptação para o futebol inglês e assim que os seus jogadores latinos se adequarem ao sistema, começarão a produzir o futebol de qualidade que se espera deles. É bom que ele esteja certo e que essa adaptação seja rápida, porque os resultados indicam que o problema talvez seja maior do que o imaginado.
 
O início dos Martelos na temporada não é dos melhores. Em seis jogos somou apenas cinco pontos, uma vitória, dois empates e três derrotas. Antes da chegada de Tevez e Mascherano, o clube havia ganhado uma, empatado outra e perdido uma. Depois dos dois, apenas um empate na primeira partida, que Tevez entrou como substituto e Mascherano não jogou, e duas derrotas. Mascherano, até agora, só perdeu. E, enquanto Tevez esteve em campo, o West Ham ainda não marcou um gol sequer.
 
Aliás, o clube não tem marcado muitos gols até agora. Em seis partidas, o West Ham marcou apenas seis gols. Bobby Zamora, companheiro de Tevez no ataque, foi responsável por cinco deles. Curiosamente, ou não, Zamora é cria da “Academia do Futebol”.
 
É difícil dizer exatamente onde a parceria entre o West Ham e a MSI pode levar o clube e os jogadores, mas é fato que algumas tradições no futebol mundial estão sendo rompidas, e isso não significa necessariamente uma coisa boa. É uma clara demonstração do poder do capital dos grupos de investimento, que se antes tinha tamanha explicitação reservada a mercados periféricos como o nosso, agora começa a dar as caras até no campeonato nacional de clubes mais poderoso do mundo.
 
E já que as tradições daqui estão sendo levadas para lá, é bom o Alan Pardew começar a ficar preocupado e dar um jeito do time mostrar serviço logo. Em mais de cem anos de história, o West Ham só teve dez técnicos diferentes. Em menos de dois anos de parceria com a MSI, o Corinthians já teve seis.

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