Categorias
Sem categoria

A importância do ídolo – 2

Na semana passada abordamos aqui neste espaço os retornos que um clube pode ter quando investe na manutenção de seus ídolos. Na última quarta-feira, deparei-me com uma nova e interessantíssima situação que mostra a falência que encontramos no modelo de gestão do futebol brasileiro.
 
No início deste ano, a cidade de Juiz de Fora, a mais carioca das cidades de Minas Gerais, recebeu um torneio das nações indígenas. A competição envolvia jogos de futebol entre tribos de índios dos mais diversos pontos do Brasil. O grupo de estudos em Comunicação, Sociologia e Esporte da Universidade Federal de Juiz de Fora fez um levantamento sobre o impacto da globalização do futebol no comportamento dos índios.
 
O maravilhoso documentário mostra que os índios são afetados diretamente pela mídia e, a partir disso, traçam o seu comportamento em relação ao futebol. Tanto é que o modelo, para os indígenas, são jogadores que estão na mídia o tempo todo.
 
Mas o que chamou mais atenção foi a vestimenta usada pelos atletas para disputar o campeonato. Em meio a camisas de futebol próprias, apenas um time usava um uniforme igual a de uma equipe conhecida mundialmente. Sim, isso mesmo. Havia um time inteiro usando o uniforme do Chelsea, da Inglaterra.
 
A camisa azul falsificada da Adidas. A marca da Samsung no peito. Nas costas, no lugar de nomes como Drogba, Schevchenko, Ballack e Lampard, as grafias dos craques da tribo.
 
Nenhum time, porém, usou a camisa de um Flamengo, Fluminense, Palmeiras, Vasco, Santos, São Paulo, Corinthians, Internacional, Grêmio, Atlético, Cruzeiro e tantos outros times que sempre permearam o imaginário popular.
 
Qual a explicação para esse “descaso” dos indígenas com os nossos times. A resposta, muito provavelmente, está em outro dado levantado pela pesquisa. Os ídolos dos jogadores são atletas como Ronaldinho Gaúxho, Kaká e Ronaldo. Beckham, Zidane e até Canavaro foram lembrados pelos indígenas.
 
O único jogador que atua no Brasil e teve seu nome citado foi Rogério Ceni.
 
Sem grandes atletas em atuação no país, até mesmo o povo indígena passa a torcer para os astros que estão lá fora. Desse jeito, o futuro do futebol no Brasil será torcer para Milan, Manchester, Barcelona. E, às vezes, ter um ídolo fugaz dentro do seu próprio clube.
 
Ídolo é importante não apenas para conquistar títulos. Mas, também, para fabricar sonhos e, conseqüentemente, gerar receita para os clubes que mantiverem os seus craques.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Os Conflitos da Copa do Mundo

Já existe no momento um certo movimento nacional em busca de estruturação para que a Copa do Mundo de 2014 possa ser realizada com sucesso no Brasil, apesar de até agora não haver nenhuma garantia maior que isso vai acontecer. A única coisa palpável até o momento é a palavra da FIFA, o que por si só não é certeza pra nada. Em 1998, o então presidente da FIFA, João Havelange, se reuniu com o primeiro ministro britânico, Tony Blair, e disse que era seu desejo pessoal que a Copa de 2006 fosse sediada na Inglaterra. A Copa de 2006, como bem se sabe, foi na Alemanha. Tudo bem que o presidente da FIFA era diferente e que o próprio cenário político interno da organização era outro, mas vale a menção como um alerta para a comoção que vem tomando conta do país.
 
Essa comoção é gerada, principalmente, por dois fatores. Primeiro por ser a Copa do Mundo considerada o maior evento global contemporâneo, o que faz com que qualquer lugar que a hospede seja visto, conhecido e destacado por quase todo o planeta. Para países como o Brasil, historicamente obcecado em se apresentar e ser reconhecido pelo mundo, a Copa é um prato cheio. O segundo fator que gera tanto burburinho em torno da possibilidade do país hospedar o evento é a própria constituição da sociedade brasileira, que nos idos tempos pós República Velha, teve o futebol como um dos principais pilares de construção da identidade nacional. Com esses dois fatores em mente, pode-se facilmente perceber que não foi à toa que já em 1950 a Copa do Mundo foi utilizada para disseminar para todo o planeta a idéia do Brasil-Potência, e que também não é por acaso que a possibilidade real de o país sediar o evento já gere tanta discussão, e discórdia, mesmo estando ele a sete anos de distância.
 
Passada a Copa do Mundo de 50, o Estado brasileiro passou a investir pesado na criação de uma estrutura nacional para a prática do futebol. Foi aí, mais precisamente nas décadas de 60 e 70, que houve um boom na proliferação de estádios por todo o país, sem que houvesse necessariamente um estudo de sustentabilidade do investimento. Ao somar o populismo da ocasião com uma certa demanda momentânea pelas praças esportivas, o resultado foi uma previsível superestruturação do futebol brasileiro. Construiu-se muito para pouco. O Estado entregou uma mansão para quem deveria ter ganhado uma kitnet. A partir disso, não foi nenhuma surpresa que os estádios brasileiros tenham ficado abandonados ou bastante subutilizados, o que colabora de maneira crucial para o baixo desenvolvimento da indústria do futebol nacional.
 
Quando se pensa em hospedar uma Copa do Mundo no Brasil, é preciso definir exatamente qual a linha de pensamento que será seguida: ou uma linha que se preocupa com a estrutura e o evento esportivo em si mesmo, ou uma outra linha que entende a Copa como um evento crucial para a afirmação mundial da sociedade brasileira, que, portanto, é assunto e objeto de todos inseridos no sistema democrático vigente.
 
Na linha esportiva, o ideal é que a racionalidade seja a maior direcionadora do processo decisório. As instalações a serem utilizadas devem obedecer a critérios que busquem a otimização dos espaços, a redução dos recursos empregados, a minimização dos riscos e a sustentabilidade do projeto como um todo. Dessa forma, o melhor seria utilizar estruturas que já ofereçam condições mínimas de sediar um evento e que demandem poucas mudanças, que eventualmente devem ser bancadas exclusivamente pelo setor privado. O problema, claro, é que reduzirá o apelo popular que as grandes inovações sempre atraem, além de jogar o nível da Copa para aquele que o Brasil de fato pode oferecer, que não é muito alto. Como resultado, têm-se instalações medianas, pra dizer muito, mas adequadas ao tamanho do mercado do futebol brasileiro.
 
Por outro lado, caso se busque na Copa do Mundo a afirmação do Brasil como nação super-desenvolvida, na mesma premissa da Copa de 1950, os projetos tenderão a ser maiores e pensados de forma efêmera, ou seja, com a sua utilização pautada exclusivamente para atender aos anseios de um evento de tamanho porte, e não com aquilo que virá depois. Aí sim, dentro desse contexto, o Estado pode colocar os tanques na rua para garantir a segurança, fazer alianças com movimentos sociais potencialmente perigosos e assim por diante, de modo que durante o um mês de Copa do Mundo, o Brasil consiga se maquiar para os olhares externos da maneira que bem lhe apetecer. É dentro dessa filosofia que se pode defender os projetos megalomaníacos, com estádios para tudo e para todos, e financiados pelo poder público, uma vez que possuem um fim político e não necessariamente financeiro. Aí sim se justifica um estádio novo, neutro e democrático, feito não para um time, mas para todos. Mesmo que ninguém venha o utilizar posteriormente.
 
Para clarificar esse conflito filosófico existente na estruturação para a Copa do Mundo, basta recorrer aos números. Historicamente, a média de público de um Campeonato Brasileiro da Primeira Divisão fica entre 10 e 15 mil pessoas. Em jogos da seleção brasileira no Brasil, a média sobe pra mais de 40 mil.Ou seja, por uma análise bastante superficial – porém lógica e apropriada -, se um estádio for feito pra Seleção jogar na Copa, assumindo assim um caráter público, ele deve ser erguido pensando em 40 mil lugares. Se ele for feito para servir o futebol brasileiro, assumindo então um caráter privado deve-se reduzir o seu tamanho pela metade.
 
Independente de qual for a escolha a ser seguida, é preciso que haja um comprometimento de todos em prol de uma concordância nas ações a serem tomadas. É uma excelente oportunidade para o país aprender a se portar como uma sociedade coesa, justa e racional. A Copa do Mundo é, de fato, um grande momento para se abrir as portas do país para a comunidade internacional. Entretanto, caso todas as partes envolvidas tentem aproveitar o momento para se beneficiar individualmente sem se importar muito com algum possível bem maior, o evento acabará trazendo diversos malefícios para si e outros com os quais todos da sociedade brasileira terão que arcar futuramente.
 
Infelizmente, já existem indícios de que este último cenário será o mais provável.
Sediar a Copa do Mundo de 2014 pode, enfim, mostrar ao mundo aquilo que verdadeiramente somos.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Santos, o campeão paulista de 2007

Um dos exercícios preferidos dos jornalistas esportivos, bem como de muitos torcedores, parece ser o de querer adivinhar o que vai acontecer numa partida de futebol, num campeonato; saber, enfim, quem vai ser o campeão.
 
Foi muito divertido acompanhar os campeonatos pelo Brasil afora e ouvir as previsões sobre os prováveis campeões. Afinal a recente lição sobre o favoritismo do Brasil na Copa de 2006 já foi totalmente esquecida.
 
Em São Paulo, por exemplo, estávamos ainda em janeiro, o campeonato paulista mal começando e já se ouvia, devido às boas vitórias nas primeiras rodadas, que Corinthians, São Paulo, Santos e Palmeiras, seriam os quatro semifinalistas. A diferença entre estes quatro grandes times e os demais, dizia-se, era enorme.
 
Não demorou muito para que Corinthians e Palmeiras começassem a tropeçar e aí os discursos também começaram a mudar. A partir daí os “experts” apostavam todas as suas fichas em Santos e São Paulo. Boas estruturas, bons treinadores, bons jogadores. Parece que não havia mais dúvidas, um dos dois seria o campeão.
 
Faltava apenas saber quem seria os outros dois semifinalistas. Num certo período do campeonato, Noroeste e Paulista de Jundiaí, por possuírem estruturas mais profissionais e estáveis, seriam os adversários de São Paulo e Santos.
 
E eis que chegam as semifinais. São Paulo e São Caetano e Santos e Bragantino enfrentam-se em duas partidas. Não havia mais qualquer sombra de dúvidas. Santos e São Paulo eram disparadamente os grandes favoritos e fariam a grande final.
 
Daí vem a realidade dos fatos e os dois grandes favoritos em quatro jogos não ganharam uma partida sequer. A final ficou para Santos e São Caetano.
 
Mas agora não há mesmo nenhuma dúvida. Santos, o melhor time durante toda a competição será o campeão. Ou será que não?
 
Bom, a verdade é que eu não tenho nenhum palpite.
 
Afinal, o favoritismo costuma desmobilizar os favoritos e desmoralizar os entendidos.

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

A ética no jornalismo

Recentemente abordamos neste espaço a questão do famigerado “direito de resposta” a ser dado pela imprensa. A reclamação do relacionamento imprensa-fonte é corriqueira, ainda mais no meio do futebol, em que as assessorias de imprensa ainda não se tornaram tão eficientes quanto nos outros setores da nossa sociedade, para alegria dos jornalistas e desespero das fontes.
 
Na última terça-feira, enquanto o Corinthians apresentava o técnico Paulo Cesar Carpegiani, o diário “Lance!” destacava em sua capa a comissão de R$ 150 mil paga ao empresário Orlando da Hora, que intermediou as negociações entre treinador e clube.
 
Até aí, nada de errado na matéria, fruto da apuração da repórter Marília Ruiz, também repórter da TV Record e profissional com passagens por “Folha de São Paulo”, “Band” e “RedeTV!”, entre outros. O “Lance!” obtivera os detalhes do contrato e havia reproduzido no jornal, dando um belo furo em toda a concorrência.
 
O desenrolar da história, porém, se tornou um fato inédito da história do jornalismo esportivo brasileiro. Na terça-feira, o presidente do Corinthians, Alberto Dualib, anunciou que registrou um boletim de ocorrência acusando o diário de furto do documento.
 
Segundo o mandatário, no domingo houve uma coletiva de imprensa para veículos de televisão em sua casa. Na noite daquele dia, Dualib deu conta de que o documento havia sumido e chamou a polícia, que o aconselhou a esperar qual veículo daria a notícia para, então, registrar queixa do furto.
 
O “Lance!” reiterou que, de sua equipe, apenas a repórter Marília Ruiz, que também trabalha para a Record, esteve presente na casa de Dualib. Mas, em entrevista à rádio Bandeirantes, o editor Fernando Santos afirmou que as informações foram obtidas por uma fonte, sem que o documento reproduzido no jornal tivesse sido feito a partir do contrato original.
 
Cabe à polícia, agora, encontrar culpados para a história. O fato é que o estrago já está feito. O “Lance!” conseguiu a melhor história sobre a contratação de Carpegiani. Afinal, Orlando da Hora, que faturou R$ 150 mil, é o mesmo empresário que há quase um ano briga com a direção corintiana para tirar Nilmar do clube.
 
No final das contas, o furo foi dado, o jornal vendeu bastante e obteve grande repercussão com a história. Mas a que preço?
 
Imaginemos que, de fato, o documento original tenha sido furtado da casa do presidente Dualib e, depois, usado para fazer a matéria. Jornalisticamente, o material resultou numa grande reportagem, que mostra no mínimo um caso de pagamento de comissão a uma pessoa que faz de tudo para tirar um dos melhores jogadores do Corinthians há quase um ano. Agora, porém, o “Lance!” e a repórter poderão ter de responder criminalmente pela história revelada.
 
Mas o maior problema que se coloca é a questão da ética no jornalismo. Não existe, na profissão, um código de ética, como aquele que regula os trabalhos de médicos e advogados. Não há um manual de conduta para a busca por uma boa história.
 
Ou seja, a ética no jornalismo é, na realidade, a ética do jornalista. E isso faz toda a diferença. Afinal, valores morais são passados de pais para filhos e se modificam ao longo do tempo. Mais do que isso, variam de pessoa para pessoa.
 
Acostumamos a ver matérias em vídeo de denúncia a más condutas em postos de saúde, em pagamentos de propinas, etc. É ético fazer a gravação de imagens sem anunciar que se está com uma câmera? Eu não estaria invadindo a privacidade do outro? Eu não estaria infringindo a lei da mesma forma que quando um documento é furtado? É permitido fazer grampo telefônico para conseguir uma grande matéria?
 
A questão não é quem roubou o documento, se é que de fato ele foi roubado. Só precisamos saber quando haverá um guia de regras para fazer com que o exercício do jornalismo não seja norteado pelas noções éticas de cada um.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

A Importância da Universidade do Futebol

Como você pode ver, o site mudou. Pra melhor.
 
É um sinal claro de desenvolvimento do produto, conseqüência direta do importante papel que a Cidade do Futebol começou a desempenhar no ambiente do futebol brasileiro.
 
Futebol, como bem defendido por aqui, é um fenômeno extremamente multidisciplinar. Primeiro pela sua própria constituição natural, em que inúmeras variáveis acabam incidindo sobre o sucesso ou o fracasso dos objetivos estipulados dentro do jogo, e também, talvez principalmente, pela imensa popularidade alcançada com pouco mais de um século de existência do seu formato moderno.
 
Tanta popularidade fez com que o futebol se tornasse um fenômeno de grande importância nas mais diversas áreas, como medicina, direito, economia, educação física, administração, fisioterapia, odontologia, psicologia, marketing, comunicação, et al. Nada mais natural, uma vez que a fama gera disseminação do conhecimento, que por sua vez tende a gerar mais demanda desse mesmo conhecimento.
 
Entretanto, o mundo do futebol tende a se enxergar de modo singular, sem ampliar o seu escopo. Reside na atmosfera a premissa de que futebol é uma coisa sólida e homogênea. Quem entende de futebol, supostamente entende de tudo que acontece nele. Quem entende de futebol, aparentemente, sabe analisar o posicionamento tático dos times que jogam determinada partida, as forças, as fraquezas e o potencial de um atleta, a estratégia de marketing de um clube, as entranhas dos processos contratuais e até problemas cardiológicos em esportes de alto rendimento. Obviamente que ninguém sabe de tudo isso. E se diz que sabe, é porque sabe pouco. E, provavelmente, sabe errado. Não se pode saber tudo de futebol. Nem sobre um só assunto, muito menos sobre todos os assuntos juntos. Não é porque você assiste a todos os jogos do seu time que você possui capacidade para julgar o melhor tratamento físico pra curar a lesão no joelho do atacante titular. Futebol, repito e repete-se, é multidisciplinar e essencialmente referencial, ou seja, não possui uma verdade absoluta, tampouco alguma teoria plena.
 
Uma das grandes benesses do futebol à sociedade é justamente o fato de ele ser tão popular e passível de discussão. Por tal, ele desperta o interesse comum em torno de diversos objetos de estudo que servem para analisar o esporte, mas que também acabam sendo aplicados para a sociedade de um modo geral. Quer dizer, o futebol oferece isso, mas a sociedade não necessariamente o aceita como tal. E é bem aí que entra o importante papel que um portal como a Cidade do Futebol oferece. A Cidade acaba por reunir em um espaço, virtual e comum, diversos estudiosos do assunto, das mais diversas áreas de abrangência. Essas áreas muitas vezes não possuem uma ligação visível, mas o fator agregador do futebol permite que seja tudo colocado dentro do mesmo contexto, tal qual deve ser pensada a sociedade como um todo.
 
A Cidade do Futebol é um projeto ambicioso, que oferece uma oportunidade única para o universo do futebol brasileiro, e que tende a gerar diversos benefícios futuros. Espero e torço para que essa nova mudança seja mais uma etapa desse grande processo.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

As qualidades de um treinador

O papel do treinador em uma equipe de futebol tem sofrido mudanças ao longo dos tempos. Durante décadas foi um profissional eclético, um “sabe tudo”, onde além de ser um orientador natural na forma de jogar da equipe, era também, médico, nutricionista, psicólogo e assistente social.
 
Com a evolução dos conhecimentos no futebol, a responsabilidade pelo rendimento de uma equipe começou a ser dividida entre diferentes e inúmeros profissionais. Hoje há o preparador físico, os médicos especialistas, o fisioterapeuta, o fisiologista, o nutricionista, o psicólogo, o assistente social entre outros. Podemos assim dizer que a função do treinador neste início de século 21 começa a passar por uma metamorfose.
 
Na esteira da especialização o treinador, cada vez mais, tem que ser aquele profissional capaz de organizar a sua equipe, definindo um padrão de jogo e liderando seus atletas, sem abafar seu talento, mas ao mesmo tempo, disciplinando-os dentro de uma proposta tática.
 
Mas por outro lado, o treinador competente, tem que possuir uma visão de conjunto. Não pode mais ser aquele tipo de especialista que não entende ao menos um pouco a complexidade humana, cultural e social em que vive.
 
O treinador competente, portanto, para dar conta das demandas atuais do futebol contemporâneo, precisa de consistente liderança, formação acadêmica, conhecimentos diferenciados sobre tática, pensamento estratégico, metodologia que incorpore processos pedagógicos avançados, além de sólidos conhecimentos das ciências humanas para poder lidar com os atletas e todos aqueles que circundam seu trabalho.

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

A importância do ídolo

Leonardo foi ídolo do Flamengo e do São Paulo. Já se passaram 20 anos desde que ele surgiu no Rubro-Negro. E outros dez desde suas conquistas no São Paulo. Mesmo assim, os dois clubes costumam cativar Leonardo, conversam com ele, deixam-no informado sobre tudo o que acontece nos bastidores.
 
Muitos clubes consideram esse tipo de atitude desnecessária. Festas para ex-atletas, homenagens para os jogadores ainda em atividade. Utilização de ídolos em promoções para os torcedores. Tudo isso, para muitos clubes, parece um gasto desnecessário, um resgate de um passado que às vezes não foi tão brilhante assim.
 
Mas não para o São Paulo, por exemplo. O clube promove, há quase uma década, um encontro de ex-atletas no Centro de Treinamentos. Leva ídolos do passado para assistir aos ídolos do presente no estádio do Morumbi. Faz festa para antigos atletas.
 
E o que o São Paulo ganha com isso?
 
Além de manter seus ídolos próximos, o clube do Morumbi mostrou, na última semana, a importância que há em manter um ex-jogador ligado à vida do clube por onde passou.
 
O São Paulo anunciou na última quarta-feira, dia 11 de abril, o primeiro acordo de licenciamento exclusivo de sua marca com a Warner Bross. Por três anos e meio de parceria, o clube receberá R$ 2,9 milhões em luvas e ficará com 50% da receita obtida pela maior empresa do mundo em licenciamento de produtos.
 
A marca do clube do Morumbi será explorada no Brasil e no Japão num primeiro momento. Depois, poderá invadir outros países. Linha infantil, artigos para as mulheres e outros produtos para os adultos, além do uso da força da Warner no segmento de vídeo. Tudo faz parte de um complexo projeto que pretende romper com os trabalhos de licenciamento esportivo existentes no Brasil.
 
E onde é que entra Leonardo nessa história toda?
 
Bom, partiu de Leonardo, que também foi jogador ex-dirigente do Milan, da Itália, a iniciativa de aproximar o São Paulo da Warner. Após conhecer o trabalho do grupo com o time italiano, Leonardo decidiu levar a idéia para o Brasil. E, especificamente, para São Paulo e Flamengo, clubes por onde passou e onde tem grande simpatia.
 
Ídolo é importante para a vida de um clube. Tanto durante quanto depois de sua trajetória dentro do clube.
 
Direito de Resposta
 
Há algumas semanas temos abordado aqui neste espaço a questão do direito de resposta que as pessoas têm no relacionamento com a imprensa. Como lembra o leitor Diogo Paiva dos Santos, na última semana tivemos um bom exemplo de como acontecem as coisas para quem recorre às vias judiciais para obter o direito de resposta.
 
Segue o trecho da reportagem de Carolina Elustondo no site da Globo.com:
 
“Edmundo ganhou a capa da revista “Veja” mais uma vez. Agora, a publicação terá que se retratar com o jogador do Palmeiras por decisão judicial. O atacante ganhou uma ação que movia contra a revista por causa de uma reportagem feita em 1999, cujo assunto era o envolvimento de pessoas famosas em acidentes de trânsito.
 
O atacante entrou com uma ação por danos morais não pelo conteúdo da matéria, mas pela publicidade utilizada na divulgação desta. Na capa da revista, foi estampada uma foto do jogador fazendo cara de mau, que havia sido tirada para ilustrar uma reportagem sobre um clássico paulista. A “Veja” ainda estampou a capa em outdoors, com a seguinte frase: “Alguns animais tinham que ficar atrás das grades.” A Justiça considerou que a publicação abusou do direito de liberdade de expressão, e condenou esta a pagar R$ 75 mil ao atacante, além de ter que fazer uma capa com a sentença”.
 
Ou seja, o conteúdo da reportagem não foi o motivo do direito de resposta. Mas sim a publicidade em torno da matéria. Mas valeu o grito do Animal, que agora terá o espaço da capa novamente destinado a ele. Resta saber, porém, se a decisão já é definitiva…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

A bolha do mercado internacional de jogadores

Nos últimos cinco anos, quase 4 mil jogadores de futebol do Brasil foram transferidos para o exterior, que dá uma média de quase 800 jogadores por ano. Desses, mais de 50% se transferiram para o mercado europeu, e um pouco mais de 20% foram para o mercado asiático. Conmebol, Concacaf e CAF são responsáveis por dividir entre si o quarto restante do total de atletas.
 
800 jogadores por ano é um número absurdamente grande. O Brasil é, de longe, o principal exportador de jogadores do mundo. Pra se ter uma idéia, em cinco anos, o número total de jogadores transferidos internacionalmente pela Argentina não chega a 400. Ou seja, em cinco anos o Brasil transferiu mais de 10 vezes que a Argentina, também notoriamente conhecida como um dos grandes produtores de talento do futebol mundial.
 
A razão pra tamanho montante de saída de jogadores do Brasil é essencialmente econômica, seja lá qual for o lado que se tome partido. Da perspectiva dos jogadores, o mercado externo tende a pagar o mesmo ou mais do que paga o interno. Como boa parte dos jogadores devem se transferir almejando um maior passo na carreira, entende-se que mesmo que o mercado de destino pague pouco no momento da transferência, ele pode ser um trampolim para maiores receitas futuras. Não à toa jogadores vão para mercados como a Estônia, que não tem lá muito futebol, mas é da Comunidade Européia. O mercado pode ser pequeno, mas também não necessariamente indica um retrocesso na carreira do jogador, que muitas vezes está ligado a um time pequeno no Brasil, sem muitas perspectivas de se mudar para um time maior por aqui. No fim, a incerteza sobre o sucesso no exterior é muito mais válida do que a certeza sobre o insucesso nacional.
 
Para os clubes, ou pseudo-clubes, do Brasil, a exportação de jogadores também é uma questão econômica. Na falta de vínculos comunitários, e consequentemente na falta de receita interna, clubes brasileiros hoje desempenham um papel de produtor de mão de obra especializada para maiores organizações internacionais. Essencialmente, clubes brasileiros funcionam para o mercado do futebol como universidades funcionam para o mercado comum, ou seja, buscam, selecionam e treinam pessoas para então entrega-los ao mercado, onde enfim irão desempenhar sua atividade profissional. Enquanto não chegam lá, ficam brincando de trabalhar, na esperança de construir um currículo que agrade os melhores empregadores. Igualzinho fazem os jogadores por aqui que almejam o sucesso internacional.
 
Dos clubes que mais transferiram jogadores internacionalmente, destacam-se o Atlético Paranaense e o Corinthians Alagoano, cada um com mais de 70 jogadores transferidos nos últimos cinco anos. Assim como o Corinthians Alagoano, outros clubes pequenos também figuram entre os que mais vendem jogadores, como o Grêmio Esportivo Anápolis, antigamente conhecido como Inhumense, que transfere internacionalmente em média 12 jogadores por ano. No último ano, houve uma grande ascensão de transferências por parte de clubes notadamente pequenos. Dos 20 maiores exportadores em 2006, sete clubes não figuram sequer na Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro.
 
Esse fenômeno, entretanto, é facilmente compreendido. Devido ao grande histórico de conquistas do selecionado nacional, é natural que o jogador brasileiro seja internacionalmente valorizado. Adicione a isso o fato de que das últimas 13 eleições da Fifa para melhor jogador do mundo, 7 foram vencidas por brasileiros. Ainda mais importante, de 1996 pra cá apenas em 2001 um jogador do Brasil não ficou entre os três melhores do mundo. Nesse cenário, a valorização internacional do talento brasileiro fica facilmente compreensível.
 
Tamanha valorização, nesse caso, potencializa a demanda de importação, e transforma o jogador brasileiro quase em uma commodity. Mercados por todo o mundo enxergam o Brasil como fonte produtora de mão de obra especializada, barata e de qualidade. O passaporte brasileiro funciona como uma espécie de marca que valoriza o produto, ainda que ele não seja necessariamente melhor do que o da concorrência. É difícil afirmar que o jogador brasileiro seja tão melhor do que os jogadores do próprio país importador. Porém, o excesso de oferta de jogadores brasileiros derruba o preço para baixo, o que tende a tornar o investimento mais rentável do que a aquisição de jogadores do próprio mercado local com qualidade semelhante.
 
À medida que a internacionalização dos elementos que envolvem o futebol cresce, o Brasil vai se consolidando essencialmente como o grande produtor mundial de jogador. Tal qual de café, cana etc. Esses processos mais sedimentados de mercado global tendem a ter pouca oscilação, uma vez que a interdependência entre diversas organizações do mundo é muito forte. No caso do futebol, porém, isso não acontece. O futebol é um fenômeno mundial, mas de funcionamento essencialmente local. No mercado em que funciona a transação internacional de jogadores, os clubes são quase que independentes do mundo, principalmente no mercado mais desenvolvido e que possui mais demanda de jogadores, a Europa. Essa independência torna o mercado internacional de jogadores bastante frágil, uma vez que bastam algumas mudanças internas na Europa para que todo o sistema entre em colapso.
 
Outras mudanças, como o desenvolvimento do futebol asiático e, principalmente, do futebol africano e de outros países sul-americanos, podem eventualmente afetar, e muito, o ambiente atualmente favorável à exportação de jogadores brasileiros.
 
Provavelmente, boa parte das pessoas que hoje trabalham dentro desse meio no Brasil não possui lá muita preocupação com isso, uma vez que os trabalhos desenvolvidos dentro da área tendem a buscar resultados maximizados e imediatos. Sustentabilidade tende a ser uma palavra ausente do ambiente. Além disso, existe um claro sobredesenvolvimento de profissionais na área. De acordo com a CPI do Futebol, em 2001 existiam 20 agentes licenciados pela Fifa atuando no Brasil. De acordo com a Fifa, hoje são 138, ou seja, um crescimento de aproximadamente 700% em seis anos e sem sinal de que vai parar por aí. Curiosamente, enquanto nesse período o número de agentes cresceu 700%, o mercado de transferências cresceu apenas 10%.
 
Ainda que isso possa ser considerado um sinal de profissionalização do mercado de agenciamento, é bastante possível que também seja um sinal que o mercado está bastante desequilibrado. E quando se soma o desequilíbrio estrutural com a desestabilidade da demanda, o cenário tende a ser não muito otimista. A bolha, uma hora ou outra, vai estourar.
 
E quando isso acontecer, acredite, vai ser bom para o futebol nacional. Pode se preparar.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Nelinho x Vanderlei Luxemburgo

Dias atrás pude acompanhar em um programa de televisão, troca de opiniões entre o ex-lateral direito do Cruzeiro e Seleção Brasileira, Nelinho, atualmente comentarista esportivo, e o competente treinador de futebol Vanderlei Luxemburgo.
 
Nelinho defendia que a influência do treinador no resultado de uma partida é muito menor do que alardeiam hoje parte da imprensa e dos próprios treinadores.
 
Luxemburgo, não querendo demonstrar prepotência, até admitiu que o treinador pode não ganhar jogo, mas é fundamental para que uma equipe ganhe campeonatos ou títulos.
 
 Em outra parte da conversa chegou-se até a quase um consenso de que o treinador tem cerca de 30% de participação no resultado, ficando os outros 70% para os jogadores.
 
Achei muito engraçado e até surpreendente que profissionais tão destacados e inteligentes como Nelinho e Luxemburgo colocassem a questão desta forma tão simplista. Como se fosse possível precisar, matemática ou estatisticamente, situações tão complexas presentes em um jogo ou uma partida de futebol.
 
Numa reflexão mais filosófica sobre o tema, talvez possamos encontrar melhores explicações para este tipo de visão, se entendermos um pouco o papel dos pensamentos mecanicista, cartesiano e positivista na formação de nossa cultura.
 
Tais modelos de pensamento que até o século 20 tiveram, em diferentes proporções, inegável influência no desenvolvimento do conhecimento e das ciências, já não dão conta de compreender e interpretar a realidade de forma mais ampla.
 
É preciso buscar novos referenciais se quisermos continuar desvendando os mistérios que cercam os diferentes seres humanos que vivem em diferentes sociedades.
 
São, sem dúvida, estes novos referenciais que também permitirão uma melhor leitura sobre a complexidade na qual está envolta uma aparentemente simples partida de futebol.   

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

A profissionalização da imprensa

 

Na semana passada abordamos aqui neste espaço sobre a necessidade de os dirigentes de futebol tornarem-se cada vez mais profissionais. Mas a crítica à atitude dos pseudo-profissionais da bola passa, também, por um processo de autocrítica do trabalho da imprensa brasileira.
 
Na última semana Emerson Leão finalmente deixou o comando do Corinthians. Finalmente porque a relação já estava desgastada, como aquele namoro de infância que todos já sabem que não terá outro destino a não ser o melancólico fim.
 
Na sede pela notícia, jornalistas dos mais diversos meios saíram em desabalada carreira atrás do nome do novo treinador corintiano. Abel Braga, Paulo Autuori, Carlos Alberto Parreira. Esses foram os três alvos prediletos da imprensa paulista. E, invariavelmente, os três treinadores deram praticamente a mesma declaração nos mais diferentes meios: “não fui procurado, fico lisonjeado com o possível interesse, o Corinthians é um grande clube, mas quero continuar meu projeto de trabalho”.
 
Essa vontade de descobrir o novo treinador corintiano comprova que, para a esmagadora maioria da imprensa, expressões como planejamento, racionalidade e trabalho de longo prazo são apenas parte de um discurso bonito quando se quer fazer uma crítica.
 
Durante os pouco mais de dois anos da turbulenta parceria Corinthians-MSI, as maiores críticas da imprensa são de que o clube não tem comando, planejamento, projeto. Tudo parece que seria resolvido em questão de segundos com a injeção do dinheiro que não sairá mais dos suspeitos cofres da parceira. E nada mais.
 
Quando o resultado não chega, a imprensa cobra contratações, troca de treinador, promoção dos atletas da categoria de base, etc. E não pára para discutir se existe, de fato, todo um projeto por trás dessa história.
 
A certeza que dá é que a imprensa não está preparada para a profissionalização do futebol. Afinal, ela é a primeira a exigir resultados dentro de campo antes mesmo de o time ter sido formado, antes de o treinador começar a implantar seu sistema de jogo, a recuperar-se da perda de parte do time, a planejar o semestre seguinte.
 
E, nessa miopia geral da cobertura, o dirigente que não é profissional paga o pato, sendo obrigado a querer os resultados que não cairão dos céus. Desesperado com o “péssimo trabalho” de seu treinador, ele acaba sentindo a pressão de fora e muda tudo. Para ter um recomeço ainda mais complicado.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br