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Zezinho do Scout traz uma análise da aplicação do scout no jogo São Paulo x Cruzeiro

Meus amigos, aproveitando a época de eleições, eu assumo aqui uma promessa… sic… quero dizer, um compromisso com vocês, caros eleitores …sic.. digo, leitores. Mas é um compromisso que, espero, possa nos trazer muita discussão e reflexão. Em toda última terça-feira de cada mês, eu pretendo trazer aqui nosso personagem principal: Zezinho do Scout. 

Zezinho fará uma análise do scout de um jogo de destaque na semana, utilizando os recursos tecnológicos da ScoutOnline para uma análise em tempo real, e tentará mostrar como uma ferramenta de scout pode contribuir com os profissionais do futebol, seja do ponto de vista da dinâmica, velocidade e informação em tempo real, ou seja, do olhar rigoroso e cientifico de um instrumento metodologicamente validado.

Isso (o rigor e validação das informações) é importante ressaltar, haja visto que scout não é simplesmente levantamento de dados quantitativos, mas sim, um cruzamento de informações qualitativas em relação aos fenômenos do jogo. E sem rigor e padrão cientifico, podemos cair em “achismos” ou ainda pensar que qualquer um pode fazer. Ou ainda, o que não é muito incomum, que cada um consegue adaptar os dados encontrados conforme suas expectativas, para que as informações não denunciem seus equívocos. O que é diferente de adequá-lo às suas necessidades e forma de analisar e interpretar os jogos, essas sim peculiares e ajustáveis a cada treinador e comissão técnica.

Para não me alongar na apresentação do Zezinho do Scout, e aproveitarmos esses espaço que ele terá todo mês, deixamos para conceituar e discutir outras questões numa outra semana. Fala Zezinho:

Olá pessoal, não vou ficar de blá blá blá, já fui apresentado, vamos logo ao que interessa. Vou usar dados e imagens da Prancheta Eletrônica da ScoutOnline* que eu usei durante o jogo do Cruzeiro x São Paulo. Como existem várias formas de análise e discussão, vou a cada análise utilizar algumas possibilidades, para que possamos melhor compreendê-las e não ser muito superficial. Assim, mostro para vocês também um pouco de como eu tiro minhas conclusões.

Uma das análises que gosto de fazer é situar os jogadores que são mais acionados em momentos do jogo e ver quanto eles representam efetivamente nas ações da equipe. No caso abaixo, nos primeiros 15 minutos de jogo temos 3 jogadores tanto do São Paulo quanto do Cruzeiro como responsáveis por cerca de 50% da circulação de bola de suas equipes.


* Cruzeiro atacando para esquerda e São Paulo atacando para direita

Fonte rica de informações:

Num primeiro momento, podemos olhar para imagem e não significar nada, ou questionarmos porque que eu selecionei essa imagem. Vamos lá: observando a tabela de ocorrências verifiquei a informação de que 50% dos passes de cada equipe concentrava-se nos pés desses jogadores.

Como gosto de fazer sempre essas conexões, já deixo sempre uma visualização pronta, já que durante o jogo não dá para ficar perdendo tempo, tenho que ver a informação de forma rápida para que possa pensar em alternativas, caso fosse eu um dos técnicos do jogo, concordam?

Assim observei os campogramas mostrados acima. Oras, um indicativo significativo do que vinha ocorrendo no jogo, São Paulo concentrava seu jogo na direita, e com jogadores que não eram tido como seus principais articuladores, enquanto o Cruzeiro já concentrava suas ações em jogadores que costumeiramente armam e articulam as jogadas.

Observando essas questões imediatamente pensei no que isso significa de fato: pelo São Paulo, os jogadores de defesa mantinham mais a posse de bola e apresentavam dificuldades de fazê-la passar pelos seus principais jogadores, o que era inverso no Cruzeiro. Esse tipo de analise já nos mostra uma série de tendências sobre posicionamento e marcação, e com certeza, me forçaria a modificar ou explorar mais algumas possibilidades surgidas.

Seguindo até o fim do 1º tempo, notei uma modificação, ao invés de três, as equipes concentraram 50% dos seus passes em quatro jogadores. Pelo São Paulo começam a aparecer mais no jogo Hugo e Jorge Wagner, enquanto no Cruzeiro Jonatas e Henrique também assumem papel importante.

Isso me alertou um pouco para os cuidados que o Cruzeiro deveria tomar. Com Hugo e Jorge Wagner, há uma inversão de lado da atuação do São Paulo e uma melhor distribuição pelo campo, com jogadores mais técnicos, enquanto que o Cruzeiro permanecia com sua proposta oferecendo dificuldade ao adversário com jogadores ofensivos e seus alas na articulação ofensiva.

Ainda poderíamos mostrar as informações detalhadas do 2º tempo, imagino que muitos prefiram vê-las do que ler meus comentários, mas quero aqui mostrar que a tecnologia é uma ferramenta e que a analise vem de quem lê e interpreta antes de aplicar.

Muitos poderiam dizer, mas todos sabemos que o São Paulo tem sua força pela esquerda com Jorge Wagner e Hugo, não nos surpreende eles terem assumido a responsabilidade na parte final do primeiro tempo. 

Mas grande diferença de um jogo pode não estar nas questões óbvias, às vezes está num período específico do jogo em que a equipe está estruturada, seja por questões de opção ou força das ocasiões do jogo. Como o São Paulo nos primeiros 15 minutos, que concentrou ações em jogadores mais defensivos e pela direita, que acabou por surpreender o adversário.

Muitas vezes um técnico prevê uma atuação do adversário e durante o jogo,  o mesmo comporta-se de maneira diferente. Se posso me valer de recursos que identificam essas tendências e padrões instantaneamente, fica mais fácil fazer uma intervenção, não preciso tomar um gol para validar a informação, tenho que confiar que a informação já é validada.

Só para constar, do inicio do 2º tempo até o momento do gol de André Dias, o São Paulo tinha três jogadores que detinham praticamente 50% das ações de passe da equipe, eram eles Joilson, Andre Dias e Jean (veja no campo abaixo).

O São Paulo já mostrava uma tendência de jogo pela direita, reforçada pela entrada de Jancarlos (imediatamente antes do gol) para ocupar o setor. O escanteio originou-se de um passe de Hugo pelo meio campo para a direita com Jancarlos, conquistando o escanteio.

Após o gol Jorge Wagner e Hugo passaram a ser responsáveis por 46% dos passes certos da equipe tricolor, principalmente pelo setor esquerdo, ou seja, o São Paulo voltou a usar a estratégia de segurança. E não por acaso, numa roubada de bola de Jorge Wagner pela esquerda, passa (ainda que travado) para Hugo…falta recebida. Gol de falta de Jancarlos!

Eis um bom exemplo para diferenciarmos scout de estatística. Na estatística, o São Paulo ganhou com gols de bola parada. No scout, mostrei um exemplo do que fui vendo no decorrer do jogo e que foi  determinante para que as
tais bolas paradas acontecessem. Essa análise é baseada em uma das muitas e variadas possibilidades, e olha que nem combinei muitos dados (alias praticamente quase nada), apenas trabalhei em cima de informação numérica e pela área de atuação.

É isso ai pessoal, espero que tenham gostado, e desafio o amigo leitor a me enviar suas análises, para que possamos debater e ver como podemos enxergar e tirar conclusões diferentes dos dados a partir de um mesmo recurso. Isso é enriquecedor, lembrando do fato citados por nós na coluna Google e o egoísmo no futebol brasileiro sobre times ingleses rivais compartilharem informações estratégicas e uso de recursos tecnológicos, apostando nas diferenças de interpretações e análises em cima dos mesmos dados.

Abraço a todos

Zezinho do Scout.

* ferramenta para acompanhamento de scout do jogo em tempo real da ScoutOnline.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Quem quer centroavante?

Você pode torcer pelo Romário Futebol Clube e ainda ficar lamentando a ausência de um camisa nove. De um “matador”. Goleador. Artilheiro. Centroavante. Pivô. Referência de área. Um comandante de ataque. Um fazedor de gols. Aquele grosso que empurra a bola para dentro com qualquer parte da anatomia. Aquele jogador que não faz o gol quando a bola passando pela área. Aquele pé que falta para balançar a rede.

Você sabe de quem estou falando e sonhando. Mas, na boa: é realmente preciso sempre ter um centroavante para ser feliz?

Para ficar em um só ótimo exemplo da história do futebol brasileiro: o São Paulo multicampeão de 1991 a 1993 não tinha centroavante: jogassem três à frente (Muller, Macedo e Elivélton) ou duplas de atacantes ou meias (Muller e Elivélton; Macedo e Muller; Cafu e Muller; Palhinha e Muller), não havia um nove típico no ataque são-paulino bicampeão sul-americano e mundial. O Telêcolor do Morumbi virou referência de time a ser reverenciado por não ter a tal de referência de área. Um time que funcionava e chegava a encantar. Sem centroavante.


Telê não tinha um centroavante típico no time campeão mundial

(Não foi a primeira vez que Telê Santana “revolucionara” na genial carreira de boleiro e técnico; em campo, nos anos 50, ele foi um ponta-que-não-era-ponta; no banco, em 1982, instituiu inspirado rodízio de craques pela ponta direita brasileira na Copa da Espanha, apesar da birra da imprensa de então, e até de um personagem do Jô Soares).

A França-98 ganhou de um Brasil de Ronaldo com um atacante de área. Ou pior: com um camisa nove nota zero: Guivarc’h tinha alguma noção do que deveria fazer com a bola, mas jamais entendeu que aquele retângulo branco defendido por um goleiro com uniforme diferente do dele era para ser molestado. A França ganhou o mundo metendo três gols no Brasil com um centroavante medíocre. Para ser gentil.


Guivarc’h era o centroavante campeão mundial. Era mesmo?

Equipes boas têm artilheiros como o incansável Túlio Maravilha, que será o goleador da Série B, e deverá levar o Vila Nova de volta à primeira divisão nacional. Mas um time já foi rebaixado no Brasileirão mesmo fazendo o artilheiro da competição: no BR-07, Josiel, hoje centroavante do Flamengo, fez 20 gols pelo Paraná. E não conseguiu salvá-lo da segunda dos infernos.

Mesmo os campeões nem sempre consegue fazer os artilheiros: Dario (Atlético-MG, 1971), Roberto Dinamite (Vasco, 1974), Flávio (Inter, 1975), Dario (Inter, 1976), Zico (Flamengo, 1980 e 1982), Careca (São Paulo, 1986), Túlio (Botafogo, 1995), Paulo Nunes (Grêmio, 1996), Edmundo (Vasco, 1997) e Romário (Vasco, 2000). Apenas 11 campeões fizeram os goleadores do Brasileirão, desde 1971. Neste século, nenhum time conseguiu. Ainda.

Nem por isso eles podem ser desprezados. Artilheiros como os veteranos Kléber Pereira e Alex Mineiro (campeões brasileiros pelo Atlético Paranaense, em 2001) fazem ótimo BR-08 por Santos e Palmeiras. Promessas como Keirrison e Guilherme (mais um meia-atacante que um goleador) desempenham muito bem. São nomes fortes de mercado e objeto de consumo imediato. Mas não são premissas básicas para grandes campanhas. O Grêmio faz um campeonato além da encomenda com Perea e Marcel na frente, que não arrancam suspiros nem dos professores das pranchetas.

Mas não é preciso ter um Evair ou um Jardel para brigar por títulos. (Embora fosse muito mais fácil explicar os canecos nas galerias).

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br

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O canto da Iara

A lenda amazônica diz que a Iara é aquela sereia do canto irresistível. Sedutora, seu canto atrai o caçador que, ao se deixar levar pela beleza da voz de Iara, é atraído para uma armadilha mortal. 

Pois parece que Robinho deve ter visto que estava caindo no canto de Iara desde a sua polêmica transferência para o Real Madrid, em 2005. Semana passada, acredito até que, sem o devido alarde da imprensa, o jogador anunciou o rompimento de seu contrato com o empresário Wagner Ribeiro.

Considerado um “herói” na negociação do atacante com o Real Madrid, Ribeiro perdeu seu encanto com a malfadada ida de Robinho para o “saco de pancadas” Manchester City. O atacante tinha espaço de sobra em Madrid e poderia continuar a pedalar pelo Santiago Bernabéu. Só que a simples especulação da imprensa sobre a contratação de Cristiano Ronaldo fez com que Ribeiro decidisse tirar Robinho do Real, clube que então “não o merecia”.

Foi mais ou menos o mesmo enredo da transferência de Santos para Madrid. Recém-conquistado o título da Copa das Confederações pela seleção, Robinho foi convencido pelos amigos Roberto Carlos e Ronaldo de que seu ciclo no futebol brasileiro havia chegado ao fim. 

Na volta da seleção, ele decidiu parar de treinar. Nesse meio tempo, Wagner Ribeiro tentava acertar os detalhes da transferência para o Real Madrid. Demorou mais do que o esperado, até por insistência do Santos de que não precisava vender seu maior astro desde Pelé. Robinho teve de voltar a treinar e jogar. Até para que não ficasse 30 dias fora do clube e caracterizasse, assim, abandono de emprego.

Mas no fim Robinho conseguiu ir para Madri. No último dia da janela de transferências internacionais, o jogador custou 30 milhões de euros aos cofres do Real. À época, Ribeiro foi visto com o maior articulador dessa jogada. Pouco se discutiu o que ele fez com os 7 milhões de euros a que teve direito com a negociação.

Agora, três anos depois, o filme se repete. Robinho não é liberado para disputar as Olimpíadas com a seleção e a imprensa começa a dizer que Cristiano Ronaldo deve desembarcar no Santiago Bernabéu. É a senha para que Iara comece de novo o seu canto. O Real passa, de uma hora para outra, a significar um clube que não merece Robinho. O destino mais especulado do astro é o Chelsea, já que Felipão agora está por lá.

Assim como no episódio Santos-Real, a transferência demora a se concretizar. As negociações se arrastam e, por fim, se concluem. Mas com o inexpressivo Manchester City, clube figurante na Inglaterra e recém-adquirido por trilionários (sim, trilionários!) dos Emirados Árabes. Ou seja, clube em que gastar dinheiro não é problema algum. Por quase 100 milhões de euros, Robinho deixa o Real Madrid e vai para o lugar que, pretensamente, lhe “merece”.

Parece que, na semana passada, Robinho percebeu o canto de Iara em que havia se metido. Talvez por ver que não adianta só ter ele, Elano e Wright Phillips dentro do time. Ainda mais numa liga de time estrelares, como o Manchester United, de Cristiano Ronaldo, que deveria ter colocado Robinho no banco do Real Madrid…

De fato Iara cantou mais uma vez. E embolsou outros milhões de euros com mais uma saída conflituosa de Robinho do antigo time. Se o Santos havia projetado Robinho para o futebol, o Real ajudou-o a se tornar jogador de renome internacional. E o canto de Iara fez o atacante deixar de lado toda essa relação com os dois clubes e suas duas torcidas por um punhado a mais de dinheiro. 

Mas agora Iara deve ter desafinado no canto. Resta saber se não é tarde demais.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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O jogar fazendo “pressing” e o jogar fazendo “pressão”

Alguns pesquisadores (que escrevem sobre tática no futebol) habitualmente não diferenciam, na perspectiva da organização defensiva, o “fazer pressão” e o “fazer pressing”. O principal argumento é de que boa parte da literatura sobre o assunto atribui ao pressing e a pressão características similares, os diferenciando apenas através do fato de que um é uma ação coletiva e o outro uma ação individual.

Dessa forma faria mais sentido, subdividir um ou outro, em individual e coletivo (exemplo: pressing coletivo, pressing individual) e não dar nomes distintos.

Há porém de se lembrar que se buscarmos na língua inglesa a palavra pressure (pressão), ela nos remetera a um conceito da Física de uma força que comprime; aperta, opõe. Já pressing, a algo urgente, premente, de necessidade imediata.

Então, numa reflexão não necessariamente muito filosófica, ao olharmos a “pressão” e o “pressing” pelos óculos do futebol, poderíamos propor, supor e considerar que o fazer pressão tem relação com a ação individual e/ou coletiva de oposição ao adversário atacando a bola (“apertando” e “incomodando” o adversário de posse da bola na tentativa de tentar roubá-la).

Sob a mesma perspectiva, fazer pressing, seria então uma ação individual e/ou coletiva (na maior parte das vezes coletiva) que visa diminuir em tempo e espaço a ação adversária, limitando as opções do adversário com bola e induzindo-lhe à pressa, gerando erro ou recuperando diretamente a posse da bola.

Considerar e entender as reais diferenças entre “pressão” e “pressing” não é apenas uma questão de vocabulário (como muitos devem achar!); é principalmente uma questão de modelo de jogo, e portanto da forma de se “treinar-jogar”.

Então, pressão: apertar. Pressing: causar pressa.

Nas boas equipes brasileiras, o mais comum quando ocorre, é o jogar a fazer pressão. Na maioria das equipes (ainda do Brasil), das boas às não tão boas, o mais comum de se ver é a pressão individual. Na Europa, em especial nos países que têm equipes que se destacam no futebol mundial, cada vez mais o que se vê é a utilização e o aperfeiçoamento do pressing.

Se existem as diferenças conceituais, na prática dos treinamentos elas acabam por se amplificar, e aí surgem as dificuldades para se alcançar certas organizações defensivas atribuindo ao jogador (e não ao treino, como deveria ser) a responsabilidade-culpa, pelo fracasso no cumprimento de determinados princípios de jogo.

O errado entendimento conceitual a respeito do pressing por exemplo, pode acabar por gerar sérias diferenças entre o jogar e o como se pretende jogar.

Não é incomum no caso do pressing, em vários níveis de treinamento e formação do jogador de futebol, tratá-lo como pressão. Isso já sabemos. Mas tão comum quanto, é o equívoco de “exercitá-lo”, ou sem considerar a complexidade de sua totalidade, ou considerando seus pedaços como “partes” de um todo e não fractais de uma grande “imagem”.

Para conseguir causar “pressa” quando se marca, é preciso lembrar que isso deve ocorrer sob a perspectiva do tempo e do espaço.

Então os treinamentos para se conseguir um pressing eficaz deveriam contemplar, “fractalmente” (de fractal) atividades que:

a)    por vezes potencializassem a necessidade de recuperar a bola reduzindo o tempo do adversário para estruturar a ação;

b)    que por vezes potencializassem a recuperação da bola reduzindo o espaço (em largura, profundidade, altura e apoio), ou melhor, as opções espaciais do adversário para estruturar a ação;
c)    e que por vezes (volto a salientar, “fractalmente”) potencializassem em mesmo grau de importância e necessidade da recuperação da bola através da redução de tempo e espaço do adversário (causando-lhe “pressa”).
 
Certamente mais comprometedor e grave do que não saber a diferença entre o que é pressão e o que é pressing, é conhecê-la (a diferença), mas não saber na prática, estimular um e/ou outro (pressão e pressing).

Mas essa é uma outra discussão.

Por fim, como diria o pensador Tedtage Noarie, nem tudo que acho que vejo; vejo. Porque nem tudo aquilo que vejo é o que realmente vejo. Então as vezes escolho fechar os olhos; as vezes ser enganado por eles…

Para interagir com o autor: rodrigo@149.28.100.147

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O jogar fazendo "pressing" e o jogar fazendo "pressão"

Alguns pesquisadores (que escrevem sobre tática no futebol) habitualmente não diferenciam, na perspectiva da organização defensiva, o “fazer pressão” e o “fazer pressing”. O principal argumento é de que boa parte da literatura sobre o assunto atribui ao pressing e a pressão características similares, os diferenciando apenas através do fato de que um é uma ação coletiva e o outro uma ação individual.

Dessa forma faria mais sentido, subdividir um ou outro, em individual e coletivo (exemplo: pressing coletivo, pressing individual) e não dar nomes distintos.

Há porém de se lembrar que se buscarmos na língua inglesa a palavra pressure (pressão), ela nos remetera a um conceito da Física de uma força que comprime; aperta, opõe. Já pressing, a algo urgente, premente, de necessidade imediata.

Então, numa reflexão não necessariamente muito filosófica, ao olharmos a “pressão” e o “pressing” pelos óculos do futebol, poderíamos propor, supor e considerar que o fazer pressão tem relação com a ação individual e/ou coletiva de oposição ao adversário atacando a bola (“apertando” e “incomodando” o adversário de posse da bola na tentativa de tentar roubá-la).

Sob a mesma perspectiva, fazer pressing, seria então uma ação individual e/ou coletiva (na maior parte das vezes coletiva) que visa diminuir em tempo e espaço a ação adversária, limitando as opções do adversário com bola e induzindo-lhe à pressa, gerando erro ou recuperando diretamente a posse da bola.

Considerar e entender as reais diferenças entre “pressão” e “pressing” não é apenas uma questão de vocabulário (como muitos devem achar!); é principalmente uma questão de modelo de jogo, e portanto da forma de se “treinar-jogar”.

Então, pressão: apertar. Pressing: causar pressa.

Nas boas equipes brasileiras, o mais comum quando ocorre, é o jogar a fazer pressão. Na maioria das equipes (ainda do Brasil), das boas às não tão boas, o mais comum de se ver é a pressão individual. Na Europa, em especial nos países que têm equipes que se destacam no futebol mundial, cada vez mais o que se vê é a utilização e o aperfeiçoamento do pressing.

Se existem as diferenças conceituais, na prática dos treinamentos elas acabam por se amplificar, e aí surgem as dificuldades para se alcançar certas organizações defensivas atribuindo ao jogador (e não ao treino, como deveria ser) a responsabilidade-culpa, pelo fracasso no cumprimento de determinados princípios de jogo.

O errado entendimento conceitual a respeito do pressing por exemplo, pode acabar por gerar sérias diferenças entre o jogar e o como se pretende jogar.

Não é incomum no caso do pressing, em vários níveis de treinamento e formação do jogador de futebol, tratá-lo como pressão. Isso já sabemos. Mas tão comum quanto, é o equívoco de “exercitá-lo”, ou sem considerar a complexidade de sua totalidade, ou considerando seus pedaços como “partes” de um todo e não fractais de uma grande “imagem”.

Para conseguir causar “pressa” quando se marca, é preciso lembrar que isso deve ocorrer sob a perspectiva do tempo e do espaço.

Então os treinamentos para se conseguir um pressing eficaz deveriam contemplar, “fractalmente” (de fractal) atividades que:

a)    por vezes potencializassem a necessidade de recuperar a bola reduzindo o tempo do adversário para estruturar a ação;

b)    que por vezes potencializassem a recuperação da bola reduzindo o espaço (em largura, profundidade, altura e apoio), ou melhor, as opções espaciais do adversário para estruturar a ação;
c)    e que por vezes (volto a salientar, “fractalmente”) potencializassem em mesmo grau de importância e necessidade da recuperação da bola através da redução de tempo e espaço do adversário (causando-lhe “pressa”).
 
Certamente mais comprometedor e grave do que não saber a diferença entre o que é pressão e o que é pressing, é conhecê-la (a diferença), mas não saber na prática, estimular um e/ou outro (pressão e pressing).

Mas essa é uma outra discussão.

Por fim, como diria o pensador Tedtage Noarie, nem tudo que acho que vejo; vejo. Porque nem tudo aquilo que vejo é o que realmente vejo. Então as vezes escolho fechar os olhos; as vezes ser enganado por eles…

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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Influência de “terceiros” nos direitos económicos dos jogadores

Caros amigos da Universidade do Fubebol,

Um dos grandes asuntos do momento é a preocupação com a interferência de terceiros no business do futebol profissional. Com “terceiros” queremos dizer investidores que não fazem parte historicamente do futebol e que, com uma série de evoluções desse mercado, resolveram investir de alguma forma “na bola”.

É claro que, antes de mais nada, é preciso dizer que novos investimentos são, e devem sempre ser, vistos com bons olhos. Como dissemos na coluna passada, “fresh money” faz a indústria crescer, gerar novos empregos, etc. Porém, atenção deve ser redobrada para que os princípios básicos do esporte sejam sempre mantidos.

Na coluna passada falamos sobre os novos investimentos na aquisição de clubes de futebol. Problemas da multi-ownership, conflito de interesses, etc. Hoje, vamos tratar de outra modalidade de interferência de terceiros: a aquisição dos direitos econômicos dos jogadores.

A essa modalidade de negócios (alienação de direitos econômicos pelos clubes a terceiros) é prática comum na América Latina. Mas ganhou dimensão internacional principalmente depois do caso Tevez na Premier League, quando o West Ham utilizou esse jogador, juntamente com Mascherano, que pertenciam, em parte, à MSI.

Por essa utilização irregular, o West Ham foi punido pela Liga. E esta semana, recebeu outra “pancada”. Deverá indenizar o Sheffield, que foi relegado para a segunda divisão daquela temporada por motivos diretamente relacionados com a atuações daqueles jogadores. O caso agora foi encaminhado ao Tribunal Arbitral do Esporte, em Lausanne, Suiça.

A Fifa reagiu ao tema, e neste ano alterou seus regulamentos para tratar da questão. Hoje, oficialmente, nenhum clube poderia celebrar acordo com terceiros que de alguma forma interferissem na no contrato de trabalho, independência ou transferência dos jogadores, sob pena ter ter contra si a imposição de uma pena disciplinar.

A legislações nacionais, incluindo a brasileira, não proibe o negócio. Nem poderia. Trata-se de um contrato que, em princípio, preenche todos os requisitos para ter sua validade no mundo jurídico.

Porém, entendemos que esse assundo deve recair dentro do escopo da especificidade do esporte e, por se potencialmente prejudicial, deve merecer um tratamento jurídico específico.

A questão ainda está se iniciando. Algumas ligas européias já tratam da questão em seus regulamentos, como a inglesa e francesa. Mas, na maioria dos casos, a questão ainda é omissa, recaindo apenas na proibição imposta pela Fifa. Mas como essa nova disposição dos regulamentos da Fifa ainda não foi aplicada na prática, resta saber se na prática vai “colar”.

No próximo mês, as ligas européias estarão reunidas em Londres para discutir diversos assuntos em sua assembléia geral. Este será certamente um deles.

Vamos acompanhar o andamento e manter nossos leitores informados, como sempre.

Para interagir com o autor: megale@149.28.100.147

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Influência de "terceiros" nos direitos económicos dos jogadores

Caros amigos da Universidade do Fubebol,

Um dos grandes asuntos do momento é a preocupação com a interferência de terceiros no business do futebol profissional. Com “terceiros” queremos dizer investidores que não fazem parte historicamente do futebol e que, com uma série de evoluções desse mercado, resolveram investir de alguma forma “na bola”.

É claro que, antes de mais nada, é preciso dizer que novos investimentos são, e devem sempre ser, vistos com bons olhos. Como dissemos na coluna passada, “fresh money” faz a indústria crescer, gerar novos empregos, etc. Porém, atenção deve ser redobrada para que os princípios básicos do esporte sejam sempre mantidos.

Na coluna passada falamos sobre os novos investimentos na aquisição de clubes de futebol. Problemas da multi-ownership, conflito de interesses, etc. Hoje, vamos tratar de outra modalidade de interferência de terceiros: a aquisição dos direitos econômicos dos jogadores.

A essa modalidade de negócios (alienação de direitos econômicos pelos clubes a terceiros) é prática comum na América Latina. Mas ganhou dimensão internacional principalmente depois do caso Tevez na Premier League, quando o West Ham utilizou esse jogador, juntamente com Mascherano, que pertenciam, em parte, à MSI.

Por essa utilização irregular, o West Ham foi punido pela Liga. E esta semana, recebeu outra “pancada”. Deverá indenizar o Sheffield, que foi relegado para a segunda divisão daquela temporada por motivos diretamente relacionados com a atuações daqueles jogadores. O caso agora foi encaminhado ao Tribunal Arbitral do Esporte, em Lausanne, Suiça.

A Fifa reagiu ao tema, e neste ano alterou seus regulamentos para tratar da questão. Hoje, oficialmente, nenhum clube poderia celebrar acordo com terceiros que de alguma forma interferissem na no contrato de trabalho, independência ou transferência dos jogadores, sob pena ter ter contra si a imposição de uma pena disciplinar.

A legislações nacionais, incluindo a brasileira, não proibe o negócio. Nem poderia. Trata-se de um contrato que, em princípio, preenche todos os requisitos para ter sua validade no mundo jurídico.

Porém, entendemos que esse assundo deve recair dentro do escopo da especificidade do esporte e, por se potencialmente prejudicial, deve merecer um tratamento jurídico específico.

A questão ainda está se iniciando. Algumas ligas européias já tratam da questão em seus regulamentos, como a inglesa e francesa. Mas, na maioria dos casos, a questão ainda é omissa, recaindo apenas na proibição imposta pela Fifa. Mas como essa nova disposição dos regulamentos da Fifa ainda não foi aplicada na prática, resta saber se na prática vai “colar”.

No próximo mês, as ligas européias estarão reunidas em Londres para discutir diversos assuntos em sua assembléia geral. Este será certamente um deles.

Vamos acompanhar o andamento e manter nossos leitores informados, como sempre.

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Uma questão de honestidade

Uma coisa que é amplamente difundida no Brasil e ninguém faz mais muita questão de esconder é a chamada ‘propriedade de terceiros’ de um jogador de futebol. Aquele esquema: o clube tem um pedaço, um agente tem outro, uma empresa tem outro. E assim por diante. É fácil achar declarações na imprensa sobre isso e até extensas matérias sobre o assunto. E ninguém reclama.

Essa prática foi utilizada, explicitamente, pela MSI, que comprou diversos jogadores e colocou no Corinthians, mas nunca chegou a dar ao clube a propriedade sobre esses jogadores. Logo, os jogadores do Corinthians eram propriedades de terceiros. E eles chegaram e foram embora quando a MSI bem quis, o mesmo acontecendo em diversas outras situações, envolvendo outros clubes e outras empresas.

Pois eis que os jogadores da MSI foram a Inglaterra, que – a princípio – não aceitava muito bem a idéia da ‘propriedade de terceiros’. A Premier League defende que ninguém além do clube deve ter o direito de dizer como, quando e por quanto um jogador poderá ser transferido. É a tal da regra U-18, que não adiantou muito, porque o Tevez e o Mascherano foram pro West Ham e acabaram salvando o clube do rebaixamento. Mais o Tevez do que o Mascherano, bem verdade. Tanto que o Tevez fez um dos gols que salvou a pátria.

Mas quando um não é rebaixado, outro é. No caso, foi o Sheffield United. Acho que eu já contei toda a história aqui antes, então não vale muito a pena cair em detalhes. Fato é, porém, que o Sheffield reclamou que o Tevez estava registrado irregularmente e que quem devia ser rebaixado era o West Ham, e não eles. A Premier League até aceitou os argumentos do Sheffield, mas disse que tava tudo muito perto do final do campeonato e que seria injusto punir os torcedores com o rebaixamento do West Ham, então aplicou uma multa de uns vinte milhões de reais pro clube, que pagou sem reclamar.

Mas eis que o Sheffield não se deu por satisfeito e buscou seus direitos na Federação Inglesa. Processou o West Ham em uns cento e poucos milhões de reais. E ganhou. Afinal, o jogador tem contrato com o clube, e este – e mais ninguém – tem o direito sobre este contrato. Pelo menos na Inglaterra é assim.

Obviamente que o processo ainda vai longe. Existem agora discussões sobre a jurisdição da corte, sobre os precedentes e assim por diante. O negócio ainda vai longe, mas certamente esse novo fato fomenta ainda mais a discussão sobre o modelo que tem tomado o mercado de transferências.

Obviamente, também, que muita coisa ainda acontece na Premier League por baixo dos panos. Alguns empréstimos de off-shores aqui, algumas hipotecas sobre os próprios jogadores acolá, e assim por diante. Muda na fachada, mas no fundo continua quase tudo igual.

Pelo menos nós por aqui somos mais sinceros.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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O magro das pistas

Para os adeptos do uso de drogas, foi uma decepção: um magro ganhou a competição. Bolt, comprido e fino, não faz o modelito anabolizado dos sprinters; menos ainda o das ciências do esporte. E para os sisudos, sejam técnicos, pesquisadores ou dirigentes, outro recado: o esporte ainda diverte; o jamaicano Usain Bolt correu brincando. Nos próximos anos os laboratórios tentarão decifrar o fenômeno – ôpa, fenômeno não, dá azar e engorda, vamos chamá-lo de mago – que apagou a mancha produzida por seu compatriota Ben Johnson em Seul. Porém, como magia não é coisa de ciência, mas de inquisição, acho que vão deixar por isso mesmo. 

– Ele fez propaganda ostensiva da Puma –  interrompeu-me Aurora, e eu concordei.

– Foi isso mesmo, e daí? É a Puma que lhe paga o salário, e os artistas precisam de mecenas. Na Idade Média, o maior dos atletas foi Guilherme Marechal; o grande vencedor das justas terminou a vida dono de castelos – e Aurora ainda lamentou o futebol masculino, e eu lhe disse que não me causou surpresas.

– Foi o de sempre, letárgico, medroso, e nem deveria ser olímpico, tal o desinteresse que desperta, no público e nos jogadores; o feminino, ao contrário, é bonito de se ver.

Eu dizia essas coisas para Aurora, a coruja, que me ouvia com atenção olímpica, quando ouvi gritos entusiasmados no fundo da caverna; vinham de Arnaldo, o bagre cego. Surpreendi-o em lágrimas, sacudindo uma bandeirinha verde e amarela; na tela da TV a delegação brasileira desfilava no encerramento das Olimpíadas. Aguardei que o Ariidae se acalmasse e perguntei-lhe a razão de tamanha euforia.

– Porque somos uma potência olímpica – ele disse.

– Potência o quê? – insisti – ficamos pior que em Atlanta e Sidney. 

– Mas o Seu Nuzman disse que foi a melhor participação do país em toda a história – disse o bagre, agitando os bigodes. 

– Se houvesse competição de malabarismo o Seu Nuzman seria medalha de ouro – retruquei. 

– Mas temos que considerar – insistiu Arnaldo – os sacrifícios que nossos atletas fazem para chegar às Olimpíadas, verdadeiros heróis. Veja o número de participantes, um recorde. E as mulheres, cento e trinta e três. – e Arnaldo dizia isso brandindo a bandeirinha do Brasil. 

– Sabe Bernardo, a gente precisa aprender a reconhecer os méritos dos grandes dirigentes. 

– Mas, é só você olhar os números Arnaldo! Gastamos quase tanto quanto a Inglaterra e eles se deram bem melhor que nós – eu disse. Arnaldo, no entanto, não desistia, e com os olhos injetados despejou seus números. 

– Derrubamos o comunismo Bernardo. Em Pequim nossa delegação saiu-se melhor que Cuba, vencendo-os no ouro, e melhor ainda que a China, outro comunistão.

– Que a China? – indignei-me. 

– Sim, que a China – o bagre insistiu – para uma população de um bilhão e trezentos milhões de habitantes eles conseguiram 100 medalhas, uma para cada treze milhões de habitantes. Quanto ao Brasil, conseguimos 15 medalhas, uma para cada doze milhões e seiscentos mil habitantes. 

– Ora, mas se for para pensar assim – falei – a Jamaica arrebentou. Ganhou 11 medalhas para dois milhões e setecentos mil habitantes, basta fazer as contas. 

– E eu, que até chorei quando o Ciello chorou! – guinchou Oto, entrando na conversa.

– Ele vale nossas lágrimas, falei; a Maurren também. 

– Mas, e o futebol masculino, que vergonha! – indignou-se Oto. O Dunga não é técnico, não sabe mexer no time! 

– Sem dúvida – eu disse – ele é só um estagiário da CBF. 

– Estágio na seleção? – espantou-se Oto. 

– Sim – respondi – a CBF pensa no futuro. 

Nesse ponto notei, na expressão de Arnaldo, tons de entusiasmo misturados aos de loucura. 

– O que você me esconde? – perguntei-lhe. E ele me disse que era segredo, mas que para mim ele dizia, pois precisava reparti-lo com alguém; o bagre estava escrevendo, há algum tempo, a biografia do presidente da Confederação Brasileira de Futebol, seu ídolo, Sr. Ricardo Teixeira. Estupefato quis saber se ele ia escrever tudo, mas tudo mesmo sobre esse senhor, e ele disse que sim, que queria mostrar ao mundo a que ponto pode um homem se sacrificar pelo esporte de seu país. 

– Qual país? – perguntei ao bagre, mas ele nem me ouviu. Seu entusiasmo por essa tarefa era tanto que ele ainda me confessou que, motivado pelos feitos dos atletas brasileiros em Pequim, decidiu escrever também a biografia do Sr. Carlos Artur Nuzman, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro. E, em seguida, desfiou todas as virtudes desse senhor, suas façanhas, seus méritos e contribuições inesquecíveis para a grandeza do esporte brasileiro. Percebi, com pesar, a incrível confusão mental de meu amigo bagre quando ele, entre outras coisas, disse que o ministro do esporte, Sr. Orlando Silva, era funcionário do Comitê Olímpico Brasileiro. 

Por mais que eu insistisse, o bagre não cedia. Cansado, a noite avançava, meus olhos teimavam em se fechar, declinei do debate. Já me retirava quando lembrei de perguntar. 

– Mas você acredita mesmo em tudo isso Arnaldo? – e ele me respondeu, um tanto constrangido. 

– Não é que eu acredite Bernardo, é que eu preciso acreditar.

Para interagir com o autor: bernardo@universidadedofutebol.com.br

Leia mais:

Espírito olímpico
Trocando as bolas
Aurora
Uma questão de critério

Sem intenção

* Bernardo, o eremita, é um ex-torcedor fanático que vive isolado em uma caverna. Ele é um personagem fictício de João Batist
a Freire.

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Árbitros e futebol x profissionalismo e tecnologia

A discussão do tema, não é novidade. Peço desculpas aos amigos por ocupar vosso tempo com mais um blá blá blá sobre a utilização, ou melhor, a não utilização da tecnologia pelos árbitros de futebol.

O problema é mais complexo. Supúnhamos que era falta de visão de nós brasileiros, e depois chegamos a conclusão que é tudo culpa dos velhinhos da International Board. Nossa esperança eram os modernos e dinâmicos gestores da Uefa, afinal, cá para nós do futebol, eles sempre trazem novidades. Falaremos delas num momento propicio.

“Mas eis que chega a roda viva” e num simples giro temos uma contradição com uma manchete do inicio do ano, extraída do próprio site da Uefa, na qual informam a decisão dos árbitros apoiando a questão da linha de meta inteligente (aquela que indicaria se a bola passou ou não a linha do gol) e posicionando-se contrários a utilização de imagens pelo quarto arbitro para dirimir as dúvidas.

Eis o trecho da notícia sobre o apoio a linha inteligente:

“Questionados acerca da possibilidade de a integração da tecnologia da linha de gol poder ser uma má idéia, nem um dos 51 árbitros respondeu que sim”.

Eis os argumentos de Andy Roxburgh (diretor técnico da UEFA) em apoio aos árbitros, que desaprovaram o uso das imagens:

“Aquilo que fazem (os árbitros), num sentido de liderança, pode ajudar o futebol a evoluir, pelo que são uma dimensão importante neste desporto”.

“O futebol é mais do que grandes treinadores e jogadores, é também um jogo com grandes árbitros”.

Complexo né! Não é uma questão de tecnologia, o problema é que os árbitros são seres humanos (ou deveriam ser considerados como tal) e, como seres humanos que são… Estão sujeitos a erros, não… Pelo contrario, não os árbitros do futebol, justo eles! A coisa é séria. Será que Freud explica? 

Calma, amigo. Esse “treco” é confuso mesmo. Acho que até Freud ia pedir replay para tentar explicar.

Que mal pode causar o uso de imagens para evitar lances duvidosos no futebol? O principal argumento é sobre a interrupção das partidas. Mas será que as interrupções necessárias para dirimir as dúvidas demorariam mais do que as atuais reclamações, ameaças, empurra-empurra por parte dos jogadores insatisfeitos com a marcação do arbitro? 

Eu hein! Cada vez que começo a refletir sobre a temática, a impressão que tenho é que estou num daqueles filmes de conspiração e que se eu continuar a pensar que é possível aplicar a tecnologia como instrumento de auxilio aos árbitros, que isso é benéfico e continuar defendendo essa idéia, seja bem capaz de aparecerem umas pessoas aqui de preto e ao soar de um apito, podem fazer com que eu desapareça.

Alias, tem alguém chegando, é melhor eu parar de defender a tecnologia como ferramenta do arbitro. E vou ver se consigo achar algum discípulo de Freud para me ajudar…

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br