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A liderança tática

Dia desses me fora perguntado qual era a importância do capitão de uma equipe para a manutenção do esquema tático determinado pelo treinador durante um jogo.

Pois bem. Frases prontas e senso comum deixados à parte, façamos uma reflexão sobre a questão.

Quando uma equipe tem estabelecido pelo seu treinador um plano de jogo, precisa invariavelmente de dinâmicas, estratégias e subsistemas que contemplem esse plano.

O plano de jogo por sua vez deve estar associado a um modelo de jogo já estabelecido e organizado. Com as dinâmicas, estratégias, subsistemas, plano e modelo de jogo definidos (concepção) bastará, em jogo, executá-los (ação).

E é aí, que aparentemente mora o “X” da questão que me fora feita: seria o capitão da equipe o líder campal responsável por gerir as ações dos seus companheiros para manutenção daquilo que fora estabelecido pelo treinador?

Na perspectiva do pensamento e do treinamento tradicional faria todo o sentido acreditarmos que dentro do campo o capitão é uma extensão do treinador (e que portanto seria imprescindível a “existência” pontual do mesmo para se garantir o bom desempenho tático da equipe).

No entanto olhemos em outra direção.

Quando dentro de um modelo de jogo estabelecido pelo treinador, o desenvolvimento de estratégias, dinâmicas e subsistemas para uma partida (enfim plano de jogo) é iniciado, ele (o modelo de jogo) pode ter sua construção realizada de forma conjunta entre treinador, comissão técnica e jogadores.

A elaboração, construída de forma conjunta, do plano de jogo (e também do modelo), guiada e gerida pelo treinador, mas com envolvimento direto de todos (dos que concebem e dos que executam), pode e será sustentada pela crença e pensamento coletivo da equipe. Isso quer dizer que quando os executores (os jogadores) também – (guiados pelo gestor principal: o treinador) -participam e contribuem com a concepção, a execução ganha qualidade auto-sustentada.

Então, ainda que seja importante ter um jogador em campo com ascendência sobre seus companheiros de equipe, com influência positiva, não dever-se-ia atribuir e depositar nele a condição essencial para o bom andamento tático da equipe que joga.

Quando se trabalha na perspectiva de criar situações-problema para provocar reflexões, despertando nos jogadores o interesse de fazer aquilo que é melhor (que resolve com mais qualidade e abrangência), há um crescimento constante da equipe na forma de se jogar.

Por isso, construir coletivamente o modelo e o plano de jogo é despertar nos jogadores, através dos treinamentos, o entendimento dos “o quês”, por quês” e “comos”, de tal forma que as soluções e conceitos de jogo sejam algo comum ao pensamento coletivo da equipe.

Então, quando coletivamente, acredita-se em algo e esse “algo” é concebido com a participação de todos, defendê-lo e trabalhar em prol dele passa a ser uma necessidade coletiva constante. Isso quer dizer que a todo o tempo, o tempo todo cada jogador estará fazendo o melhor para o objetivo comum, auxiliando e cobrando um ao outro a favor da meta coletiva associada ao jogar.

Esse processo de construção conjunta a partir da gestão do treinador/professor é algo que a pedagogia do esporte há muito tempo estuda, discute e chama a atenção – e que José Mourinho (treinador “dois passos à frente”, da Internazionale de Milão) atribuiu um nome próprio: “descoberta guiada”.

Independente do nome que se dá, importante é entender o conceito que aí está embutido.

O fato, que por motivos inerentes a “cultura futebolística”, em geral a construção de táticas, estratégias e etc e tal é algo unilateral, que parte de treinadores e comissões técnicas em direção aos jogadores e ponto.

Para muitas pessoas que “sobrevivem” do futebol, algo do tipo “construir em conjunto” é tido ou como fraqueza do treinador ou como a chance clara para que se perca a liderança sobre o grupo.

E eu vos digo meus amigos: é justamente o contrário.

Construir em conjunto, de forma guiada realmente não é para qualquer um. Simplesmente porque exige segurança e conhecimento sobre o processo – e são poucos os que têm as duas coisas. Mas acima de tudo, construir em conjunto, direcionando e gerindo o grupo é algo que reflete de forma sintomática a capacidade de gestão e o conhecimento técnico específico dos treinadores diante de suas equipes.

Em outras palavras, quem tem medo se esconde, se protege. Quem não tem se expõe, coloca à prova, se adianta.

Capitães são importantes sim; mas sob outra perspectiva.

E você, vai se esconder?

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

 

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Laudo Arbitral – Messi, Diego e Rafinha

Todos nós que acompanhamos o mundo do futebol vimos nesta semana um caso bastante interessante envolvendo a Fifa, o Comitê Olímpico Internacional e os Jogos Olímpicos de Beijing.
 
Os três jogadores em questão, todos menores de 23 anos, tiveram suas liberações para os Jogos questionadas por seus respectivos clubes empregadores. Por uma alegada deficiência nos regulamentos da Fifa, os clubes não estariam obrigados a ceder seus atletas para os Jogos Olímpicos.
 
De fato, caros leitores, de acordo com o Anexo 1 do Regulamento da Fifa sobre o Status e a Transferência de Jogadores, os clubes somente estariam obrigados a liberar seus atletas para jogos de seleções nacionais caso tais jogos constassem previamente do Calendário Internacional da Fifa, ou que houvesse deliberação nesse sentido tomada pelo Comitê Executivo daquela Federação Internacional.
 
Por um lapso da Fifa, ou por outro motivo que desconhecemos, a Fifa não incluiu os Jogos Olímpicos de Beijing em seu Calendário Internacional, bem como não tomou qualquer deliberação no seu Comitê Executivo para determinar a liberação dos jogadores.
 
De acordo com os depoimentos feitos pelo presidente da Fifa, Joseph Blatter, bem como nos termos do Ofício Circular da Fifa nº 1153, alegou-se que a omissão no Calendário foi proposital (dado a importância inconteste dos Jogos Olímpicos), e que tal fato não prejudicaria a obrigação dos clubes de liberar seus atletas em decorrência dos efeitos da lei de usos e costumes (customary law) – tento em vista que a obrigação já encontrava-se em vigor de forma informal nas últimas olimpíadas.
 
Ocorre que, bastava um exame superficial da questão para perceber que a alegação da lei de usos e costumes não restava bem fundada. Não existe, de fato, lacuna em legislação de hierarquia superior (regulamento escrito da Fifa), que havia sido editada e republicada em sua íntegra neste ano.
 
Desta forma, o Tribunal Arbitral do Esporte, uma vez provocado, decidiu de forma acertada, retirando a imposição aos clubes (especificamente com relação aos três clubes envolvidos) que havia sido determinada pela Fifa e confirmada pelo juiz singular do Players´ Status Committee.
 
Apesar da aparente contrariedade aos princípios do olimpiismo, verificou-se mais uma vez que o princípio da segurança jurídica no futebol está sendo buscado pelo CAS.
 
Tendo em vista que os três jogadores atuaram em suas primeiras partidas após a decisão do CAS, devemos aguardar o desenrolar dos fatos para checar se os clubes exercerão os seus direitos de terem de volta os jogadores, executando o laudo arbitral expedido.
 
Manteremos os leitores atualizados sobre mais essa interessante demanda.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Espírito olímpico

De onde eu lia dava para ouvir os gritinhos de Arnaldo, o bagre cego. Arnaldo e Oto, o morcego, viviam o entusiasmo da abertura dos Jogos Olímpicos em Pequim. Como eu não estava com humor para festas, procurei me concentrar no livro. Mas os ruídos de Arnaldo por cada coreografia não deixavam. Oto apenas suspirava: “Pouco me interessam os Jogos Olímpicos; quando muito, darei uma olhada no futebol”.
 
Aliás, quem idealizou as Olimpíadas foi um cidadão francês, o senhor Pierre de Freddy, mais conhecido como Barão de Coubertin, legítimo representante do machismo da época. Quando as mulheres entraram pela primeira vez nos jogos, em 1900, muitos dos homens do Comitê Olímpico ficaram indignados, principalmente o barão. Ele considerava a participação feminina uma traição ao ideal olímpico e acabou renunciando ao seu cargo no comitê em 1925, vencido por elas. De qualquer maneira, é preciso sempre lembrar que, na maioria dos casos, as mulheres praticam esportes criados para os homens, daí a nítida desvantagem que levam nos resultados. Elas deveriam criar seus próprios esportes.
 
O futebol apareceu pela primeira vez nos Jogos em 1900. Não constava do programa oficial, só que as coisas não eram tão organizadas assim e ele foi praticado à revelia da organização. O Brasil só se inscreveu nessa modalidade em 1952 e se deu mal. Caiu fora já nas quartas-de-final. De lá para cá fez pouquíssimo; nada que valesse a pena 90 minutos de torcida.
 
O futebol é um jogo, e todo jogo é egoísta. O jogador joga mais para si do que para os outros; no centro está o interesse do jogador de se beneficiar. Ele pensa menos no clube, na platéia, no país, do que no patrocinador. Porém, em segundo lugar vem aquele que o contrata, que o paga. Na época do amadorismo, em segundo lugar vinha o clube ou o país. Os tempos mudaram e o futebol virou uma mistura de jogo e trabalho. No que toca ao trabalho, o jogador tem patrão. Os jogadores profissionais de hoje, principalmente os mais famosos, são pagos pelos clubes e pelas grandes corporações: Nike, Reebok, Mizuno, Umbro, Adidas, etc. Se há alguma fidelidade da parte deles, é às corporações. Portanto, não me venham com essa história de dizer que fulano ou cicrano querem ir às Olimpíadas porque amam o Brasil. Que o amor que têm pelo Brasil transparece nos jogos da seleção brasileira. Que dizer da última Copa na Alemanha? Durante os jogos, quem ama, acima de tudo, o país, o clube, ou a cidade são os torcedores. Isso não quer dizer que os jogadores não amam muitas coisas além dos interesses corporativos: amam seus países, seus clubes, seus amigos. Na hora do jogo, entretanto, o interesse pessoal pesa mais, pelo menos no esporte profissional.
 
Era nisso que eu pensava quando bateram asas na porta da caverna. Saí para ver quem era e me deparei com Aurora.
 
“Não está vendo a abertura das Olimpíadas?”, perguntou a coruja.
 
“Não, não me interessa”, respondi.
 
“E a que você vai assistir?”, tornou Aurora a perguntar.
 
“O futebol”, eu disse.
 
“E o que você acha que a seleção brasileira vai conseguir?”, questionou a coruja com certa descrença em seu tom de voz.
 
“Talvez se saiam bem. São jovens, afinal, e os jovens são ardorosos e precisam de projeção. Nada melhor que os Jogos Olímpicos para lhes dar projeção”, concluí, não sem uma ponta de desânimo.
 
“Pois olha”, prosseguiu Aurora: “de minha parte já não acredito mais nisso. Prefiro menos hipocrisia; que os jogadores defendam aquilo que mais lhes interessa. Os jogos seriam Adidas contra a Nike, a Umbro contra a Fila, a Asics contra a Lotto, a Puma contra a Converse, e assim por diante. É por isso que durante as Olimpíadas assistirei ao canal Z33. Chega de hipocrisia”.
 
“Concordo com você, Aurora”, falei. “Também prefiro assim”.
 
Dias depois, enquanto Oto e Arnaldo soltavam seus “ais” e “uis”, o primeiro de indignação, o segundo de entusiasmo, enveredamos, eu e Aurora, pelo interior de sua toca até a sala daquela estranha TV. Sintonizamos no Z33. Nas escalações de Nike e Adidas, só nomes importantes. Foi surpreendente! Não tiramos os olhos do vídeo: um jogão! Nunca vi jogadores suarem tanto a camisa. Os prêmios eram dados em dinheiro na beira do campo, a cada gol, a cada jogada vistosa. Só não havia torcida; o povo, que ama os jogadores, que ama o país, que ama o clube não ama a Adidas. Quando muito, calça seus tênis.
 
Mas não importa, saímos da toca satisfeitos. Não havia hipocrisia, não havia Fifa, não havia COI, os jogadores não precisavam dar entrevistas e mentir dizendo que fariam de tudo pelo Brasil, ou pela Inglaterra, ou pela Alemanha. O que os movia, sinal dos tempos, era o dinheiro. Jamais recusariam uma boa oferta, mesmo que o dinheiro sobrasse. Portanto, esse era o mote do jogo. Que o assumissem! Bem mais ético do que fazer de conta que jogavam por outras coisas. Ah, e mais um detalhe: antes de começar o jogo, enquanto as bandeiras das empresas eram hasteadas, uma orquestra tocava os hinos das corporações em campo, e todos os jogadores sabiam cantá-los. Só a platéia, sem patrões, calava-se.
 

Quando voltei para minha caverna ainda pude ouvir o entusiasmo de Arnaldo: mais uma medalha de ouro para a China.

Para interagir com o autor: bernardo@universidadedofutebol.com.br

Leia mais:

Trocando as bolas
Aurora
Uma questão de critério
Sem intenção

* Bernardo, o eremita, é um ex-torcedor fanático que vive isolado em uma caverna. Ele é um personagem fictício de João Batista Freire..

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Esgoto, Cólera e Tuberculose

Esqueça a decisão do TAS que dá mais poder aos clubes e menos poder à FIFA, ou – pelo menos, ao COI. Se a FIFA quer que o COI tenha poder, aí é outra história, mas de qualquer maneira, esqueça isso. É um assunto muito óbvio pra essa coluna. Eu ia voltar a falar da já longa luta entre os principais clubes do mundo e os órgãos reguladores do futebol. Acho que já falei muito disso. Chega. Pelo menos por enquanto.

Um assunto muito menos óbvio acabou não ganhando a devida repercussão. Mas tem potencial para criar um estardalhaço absurdo. Não vai, mas que tem potencial, isso tem.

O caso foi o seguinte: na Itália, um torcedor do Nápoli ganhou na justiça uma ação em que a Internazionale terá que indenizá-lo em 1.500 euros. O motivo alegado pela justiça foi ‘danos existenciais’. Tudo porque torcedores da Inter colocaram faixas na partida disputada contra o Nápoli no estádio San Siro chamando os napolitanos de ‘Esgoto da Itália’, numa alusão ao problema que a cidade sofre com a coleta de lixo. Além disso, outras faixas diziam coisas como ‘Olá, sofredores de cólera’ e ‘Napolitanos têm tuberculose’. Aí o cara se sentiu ofendido, no caso existencialmente ofendido, enfiou um processo e vai levar uma pequena grana pra casa.

Ok, convenhamos que chamar alguém de ‘sofredor de cólera’ não é um negócio muito aplaudível. Ainda mais se a pessoa realmente teve algum problema do tipo, que não sei se é o caso. Entretanto, a ofensa mútua e bruta sempre foi um dos combustíveis do futebol. É quase que uma premissa do jogo. Você vai a uma partida para torcer, xingar e ser xingado. Quem acompanha futebol conhece essa regra não-escrita. É uma questão de costume, de tradição.

Pelo menos era assim. A sociedade e o futebol, por conseqüência, vêm sofrendo um processo de racionalização comportamental ao longo dos anos. Coisas que eram possíveis antes, hoje são reprimidas. Coisas possíveis hoje, serão reprimidas amanhã. Os esportes não fogem disso. Cada vez menos são permitidos os desvios comportamentais, principalmente de dirigentes, técnicos e jogadores. Tira um pouco da graça, claro, mas é uma transição socialmente imposta. Não tem muito o que fazer. Alguns chamam esse processo de ‘macdonaldização’, numa óbvia alusão à rede de fast-food estadunidense, que é essencialmente o processo em que as pessoas ficam tão preocupadas com o que os outros dizem que tudo acaba perdendo a graça, no caso o sabor. Tal qual um sanduíche feito em poucos minutos. Fica tudo meio pronto. Um tanto quanto previsível. Entretanto, essa limitação comportamental sempre ficou restrita aos atores do jogo, e não aos espectadores. Com essa imposição também migrando pro lado de fora do campo, a coisa toma outro rumo, que não necessariamente é legal.

Dá pra entender as razões que levam um juiz a dar uma sentença dessas, principalmente dada a onda de violência entre torcidas na Itália. Não acho que a moda vá pegar em outros lugares, mas – se pegar, o futebol certamente vai perder um pouco da sua graça e, talvez, um pouco do seu público. Futebol é um jogo, sim, mas a provocação entre torcidas faz parte do pacote. Tudo, obviamente, dentro dos limites aceitáveis. E o impasse todo talvez seja justamente esse. Cada dia que passa, o limite fica menor. Quanto o futebol irá agüentar sem mudar a sua essência?

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Tecnologia! A quarta dimensão na capacitação profissional

“O maior risco é não fazer nada quando o mundo está mudando rapidamente.” (Walter B. Winstron)

Caros amigos peço licença para o nosso colega e colunista aqui da Cidade do Futebol, Alcides Scaglia para aproveitar a temática levantada por ele na sua coluna do dia 27 de julho, na qual abordou tão bem a questão da formação do profissional que deve atuar no futebol.

Aproveitando as 3 dimensões de conteúdos levantados por Alcides como pressupostos para a formação do sócio-educador-esportivo (conceitual, procedimental e atitudinal), poderíamos falar de uma 4º dimensão, a atualização tecnológica, que dialoga e está inserida nas demais, mantendo ao mesmo tempo suas peculiaridades.

Pode parecer modismo ou assunto batido dizer que o profissional atual deve utilizar a tecnologia na sua rotina de trabalho. Mas é necessário enfatizar que o que chamamos de atualização tecnológica transcende o simples aprender a usar o computador, enviar email ou assistir um DVD. Ainda que para alguns isso já se configure como um grande avanço.

Para tanto permito-me fazer um gancho para um almoço recente com um professor de importante e referenciada universidade inglesa, numa recente visita ao Brasil para debater futebol e ciência.

Longe de fazer comparações culturais e estruturais que com certeza influenciam na construção e desenvolvimento de uma área de conhecimento no seu campo prático de formação e capacitação, mas com um olhar sobre pontos interessantes que merecem ser pensados e refletidos por nós aqui no Brasil, tento reproduzir algumas das idéias trocadas.

No anseio de trocar impressões e experiências a cerca de como são formados os profissionais que atuam no futebol, tanto aqui como lá, entramos nas especificidades curriculares.

Um dos temas debatidos que mais me chamaram atenção foi a questão da análise e compreensão do jogo e o uso da tecnologia como parte desse processo.

Ao longo do curso de bacharelado os alunos são intensamente estimulados a estudarem, desenvolverem e aplicarem instrumentos de análise do futebol, que vão desde a compreensão do jogo em si, de seus elementos fundamentais, princípios técnicos, táticos, de planejamento e estratégia até ao estudo de tecnologia, de conceitos e estruturas, de processos, enfim, das etapas de desenvolvimento de um recurso tecnológico.

E porque estudar tecnologia? Ou como fazer isto? A primeira questão é que o computador é uma realidade, os recursos e otimização trazidos são, sem dúvidas , (e isto lá já foi superado) parceiros e não “dedos- duros” ou complicadores do trabalho. Desta forma o contato deve ser estimulado cotidianamente para criar-se uma familiaridade com a realidade tecnológica.

Sem o receio da competição com as máquinas, os ingleses já se dedicam a habituar-se e tornar-se experts no domínio delas, isto significa tornar-se apto para tirar o máximo de proveito dos recursos que podem nos fornecer, e o fazem de maneira estruturada, curricular, com uma série de disciplinas que desenvolvem o hábito e estimulam a capacidade de interpretação de informações e aplicação no campo prático.

Não nos aprofundaremos tanto para não nos alongar por demais, mas essa preocupação em inserir o aprendizado sobre e com tecnologia na formação do profissional, não vem desvinculado de uma proposta de um profissional moderno que deve, sobretudo, atentar para o que professor português Julio Garganta certa vez disse sobre a necessidade de recorrer à algum instrumento para ajudar na leitura e registro das informações do jogo, por mais que se tenha experiência.

Por isso acredita-se na necessidade da atualização tecnológica, não como um mero apreender a mexer nos equipamentos, mas sim aprender o processo no qual ela é desenvolvida e será inserida, compreendendo as possibilidades e estimulando a extração e aplicação de todo o recurso em prol do próprio trabalho, lembrando que tecnologia é recurso e processo a serviço do homem.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Espécie em extinção

Como pode um time que acaba de ganhar de 6 a 1 de um adversário entrar em crise? Pois é. O Vasco que goleou o Atlético-MG na quinta-feira conseguiu a proeza de, mesmo com um placar elástico sobre um tradicional adversário, ver seus jogadores em discussões após a partida.

E tudo graças a uma declaração de Edmundo, que não gostou de ser substituído e acusou alguns jogadores do time de fazer “corpo mole”, emperrando uma atuação de gala do clube carioca e que tinha de tudo para ficar gravada na história como uma daquelas goleadas impiedosas do futebol.

Só que o Vasco não quis. E Edmundo não pegou leve, como geralmente fazem os jogadores quando seu time goleia. Ainda mais dentro de casa.

“Eu sei que isso vai dar polêmica. Mas eu estou aqui para isso”, declarou após disparar contra colegas de time e dizer que não entraria em campo no domingo contra o São Paulo.

Ou seja. Edmundo estava com a cabeça fresca quando tomou tal atitude. Sabia do que estava falando e pelo visto não se arrependia disso. Alegria dos jornalistas, admirado pelos torcedores apaixonados, não tão bem visto, especialmente em situações como essa, pelos colegas de trabalho.

Edmundo é, cada vez mais, uma espécie em extinção no futebol mundial. Será sempre um ídolo da torcida que defende. Porque quase sempre não consegue demonstrar pouco caso com seu clube. Mas será que cabe no futebol de hoje um profissional assim?

Com o êxodo de atletas, o que vemos a cada dia que passa é a baixa identificação do jogador com o clube que o revelou. Existe um certo conformismo entre os torcedores de que o ídolo é aquele que vai jogar no exterior. Por isso mesmo, é difícil encontrar uma relação de cumplicidade como a que existia entre clube e atleta anos a fio, como nos mostraram Pelé, Ademir da Guia, Zico, Junior e muitos outros.

Por isso mesmo quando um jogador torna-se uma personificação do torcedor de arquibancada, ele logo cai nas graças da torcida. Kléber é assim no Palmeiras. Jogador de técnica, forte e com raça. Mas que muitas vezes confunde força de vontade com violência. A torcida o idolatra, mas a imprensa não perdoa a cada novo deslize.

Existem outros por aí. Quase sempre esse cara será um grande ídolo. Mas sua vida dentro do futebol é cercada por polêmicas. Às vezes, isso rende frutos. Que o diga Eric Cantona, símbolo máximo da intempestividade dentro de campo e que, por conta disso mesmo, foi banido do futebol após desferir golpes de luta marcial num torcedor em pleno jogo do Campeonato Inglês!

Cantona é ídolo do Manchester United até hoje. E, também, garoto-propaganda da Nike, simbolizando a irreverência e “rebeldia” da marca. Só que Cantona soube trabalhar sua mente para isso. É muito mais fácil ser um bonzinho como Kaká ou David Beckham para conseguir ter dinheiro e sucesso no futebol.

O jogador que só fala a verdade é uma espécie em extinção. E quem perde com isso é o próprio futebol. Por mais paradoxal que pareça.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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De repente

Passado aqueles históricos momentos que marcaram entre nós a presença do Encontro Canarinho, verdadeiros deuses desta pátria de chuteiras, na expressão de Nelson Rodrigues, pairam no ar algumas perguntas…

 

Trago a mesma dúvida que assaltou Mino Carta (ISTO É nº 232) por ocasião do Mundialito: será que pode entregar-se à emoção da torcida quem deseja um Brasil dada por ele? Não, não pode. O futebol é o ópio da nação. A vitória futebolística interessa aos donos do poder, porque o povo, ao festejá-lo, já não sente que o estômago está vazio. O povo perde de vista o essencial e os donos do poder ganham segurança.

 

De fato, quem assistiu àquelas cenas incríveis no Aeroporto do Tirirical, ou àquelas outras na entrada do Hotel Vila Rica, onde centenas de pessoas se aglomeravam na doce ilusão de, num instante de sorte, desfrutar da suprema emoção de olhar um Sócrates, abraças um Júnior, tocar num Zico, só pode chegar a esta conclusão.

 

Porém, quem esteve presente ao “Elefante Branco”, ah…, me desculpem… Castelão, por ocasião do jogo Brasil x Portugal, pode repetir gostosamente a frase de um amigo meu: Rapazes… Eu vi! De repente eu vi o povo totalmente indiferente aos desesperados apelos do locutor do estádio pedindo palmas para Sua Excelência o Governador do Estado; De repente eu vi o surgir de uma estrepitosa vaia quando o mesmo locutor anunciou euforicamente a presença, na tribuna de honra, do Presidente do PDS. De repente, eu vi quando o povo que lotava os 71 000 lugares do Estádio caiu em contagiante gargalhada quando o já angustiado locutor anunciava a presença nas tribunas do Governador do Século.

 

Neste momento percebo que a resposta à minha pergunta pode ser outra. Noto que embora alegre, o povo estava atento, ciente da inquietante favela que ali ao lado via, sem entender, a presença daquele gigantesco monumento; ciente dos motivos eleitoreiros que levaram à construção daquele monstro de concreto armado; ciente do desrespeito a ele, povo, quando do “globalmente” divulgado desaparecimento das 5000 cadeiras distribuídas generosamente pelos dirigentes aos seus eleitos (ou eleitores?); ciente de que o preço de uma cadeira correspondia a 15% do novo salário mínimo da região; ciente de que enquanto se gasta trinta mil cruzeiros por dia na conservação do maravilhoso tapete verde, famílias vivem em condições sub-humanas bem próximas dali. Enfim… De repente percebo que o povo, ainda entregue à alegria do momento de glória futebolística, nem por isso deixará de reivindicar os seus direitos.

Para interagir com o autor: lino@universidadedofutebol.com.br

*Lino Castellani Filho é Doutor em Educação, docente da Faculdade de Educação Física/Unicamp, pesquisador-líder do “Observatório do Esporte” – Observatório de Políticas de Educação Física, Esporte e Lazer – CNPq/Unicamp, e foi Presidente do CBCE (1999/2003) e Secretário Nacional de Desenvolvimento do Esporte e do Lazer/Ministério do Esporte (2003/06).


 

[1] Publicado no Cadernos do Terceiro Mundo, nº 49, out/nov/1982.

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No que você acredita?

Peço hoje (e mais uma vez) licença para falar de coisas que também são futebol, mas que não são sobre futebol. Não é tático, não é físico, não é técnico, nem é mental (até porque essa é somente uma divisão didática – não se pode dizer onde começa uma coisa e termina outra).
 
Gostaria de começar (sem a pretensão de querer ser o que não sou) adiantando apenas que vou extrapolar os limites que me são dados na formalidade do pensamento escrito e no bom senso.
 
Realmente o meu desejo é de, através desse espaço que tenho, protestar. Queria ser poeta, filósofo… Queria poder ter as palavras certas (e saber usar as palavras certas!).
 
Hoje estou como sempre. Concentrado, dedicado, determinado, atento e diria, num “estado de flow” bastante satisfatório (escrevo isso para deixar claro que o protesto independe dos meus estados de humor, autoconfiança ou qualquer outra coisa).
 
O que está diferente hoje é outra coisa. Não sei bem definir o quê.
 
Posso dizer que estou um tanto quanto assombrado com a capacidade de nós seres humanos de, em detrimento aos ideais, conhecimentos e paixão por aquilo que fazemos, mudar o rumo das coisas em nome de uma pseudo-estabilidade momentânea (pseudo-estabilidade em várias direções – social, econômica, no trabalho, etc.).
 
Honra, lealdade, coragem e respeito parecem ter se tornado apenas palavras bonitas para serem ditas em discursos vazios de realidade. O que se fala, não se escreve. O que se cobra, só se cobra para criar efeitos formais e impressionar.
 
Impressiona-me a incapacidade que nós seres humanos temos de defender aquilo que realmente acreditamos em momentos em que realmente somos submetidos a algum tipo de risco (porque é óbvio: sem risco, “andando conforme toca a banda”, em condições favoráveis é fácil defender um ponto de vista).
 
Parece que apoiando-se em muletas pode-se justificar certas incapacidades (sem buscar estórias ou metáforas e lugares distantes, não foi Pedro quem negou Cristo por três vezes? – sobrevivência?).
 
Oh instinto de sobrevivência, seria você necessariamente desprovido de caráter e convicções (as mesmas convicções que outrora, por diversos momentos se manifestara para apontar caminhos)?
 
Na música Vila do Sossego, Zé Ramalho canta:
 
“Oh, eu não sei se eram os antigos que diziam; em seus papiros Papillon já me dizia; que nas torturas toda carne se trai. Que normalmente, comumente, fatalmente, felizmente; displicentemente o nervo se contrai, oh, com precisão”.
 
Será que nascemos para trair na tortura que nos é imposta?
 
Será que os lobos em pele de cordeiro não podem ser devorados pelos próprios cordeiros?
 
Os seres humanos realmente me impressionam. O “futebol humano” realmente me impressiona.
 
Mas realmente o que mais me impressiona é o caminho de passividade e de desprendimento total de valores pelo qual tem percorrido a humanidade.
 
E por mais que não pareça:
 
“O tempo passa…”
 
Com certa freqüência acreditamos e deixamos de acreditar em coisas outrora incontestavelmente certas (ou incertas). Caímos, levantamos. Crescemos, nos apaixonamos. Novas verdades surgem, velhas mentiras deixam de existir.
 
Quase num passe de mágica deixamos de ter nossos heróis para nos tornarmos nossos próprios heróis. Desafios, conflitos, dificuldades, gente, solidão.
 
Amadurecemos!
 
Derrotas e vitórias, triunfos e desastres, tristezas e conquistas… à vida.
 
O tempo passa e para alguns de nós chega o dia em que nos damos conta de que não estamos onde imaginávamos estar 20 anos atrás. Nos damos conta de que por desatenção “demos conta” tarde demais de que a trilha tomada estava errada (quando é tarde demais?).
 
Vencer não é difícil. Difícil é a disciplina para vencer.
 
Ah, seres humanos estranhos que somos. Reclamamos da vida e das coisas que deixamos de fazer. Nos arrependemos, mas poucas vezes percebemos que no tempo do presente estava o segredo do tempo do futuro; no tempo do treino, o tempo da guerra; no tempo dos limites intrínsecos, o tempo das conquistas exteriores…
 
Todos querem vencer. Poucos querem se preparar para o dia da vitória.”
E por mais que não pareça, estou falando sobre futebol; porque por fim, ao invés de defendermos posições estáveis deveríamos defender ideais.
 
“(…) E há tempos/ nem os santos têm ao certo/ A medida da maldade/ E há tempos são os jovens/ Que adoecem/ E há tempos/ O encanto está ausente/ E há ferrugem nos sorrisos/ Só o acaso/ estende os braços/ A quem procura/ Abrigo e proteção (…)” (Dado Villa-Lobos/ Renato Russo/ Marcelo Bonfá)
 
O que está diferente hoje é outra coisa. Não sei bem definir o quê. Só sei que não é o futebol…

Para interagir com o colunista: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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Ausência

Caro leitor,

Informamos que a coluna de André Megale não será publicada nesta sexta-feira e aproveitamos o espaço para pedir desculpas pelo infortúnio.

Esperamos que a situação seja normalizada na próxima semana e estamos trabalhando para isso.

Obrigado!

Equipe Cidade do Futebol

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Queda desigual

Uma pesquisa publicada recentemente Centre for the International Business of Sport da Universidade de Coventry, da Inglaterra, fez um levantamento sobre as razões que levam os clubes de futebol ingleses a decretar falência. Os números impressionam.

Para se ter uma idéia, de 1986 a 2008, 56 clubes ingleses pediram falência. O clímax aconteceu em 2002, temporada em que os 03 clubes que foram rebaixados da Premier League faliram logo em seguida. Isso porque houve o colapso da ITV Digital, que prometia salvar a segundona britânica, e que serviu também como catalisador para a falência de 17 clubes entre 2001 e 2003.

Apesar de eventos externos também servirem como motivador da falência, como foi o caso da ITV Digital, a grande culpa ainda reside com os clubes. O estudo apontou que as principais razões que levam os clubes a pedirem falência são o rebaixamento de divisão, que acarreta em grandes perdas de receita, a inabilidade em reduzir custos, principalmente com salário de jogadores, e, por fim, a má administração do clube em si. 

Apesar de aparentemente saudável, o futebol inglês acumulou perdas somadas de mais de 01 bilhão de libras de 2001 a 2006, em todas as suas divisões, que conta com um total de 92 clubes. A saúde do negócio, portanto, não é tão boa quanto parece.

É claro que quando você olha pros 04 maiores, Manchester United, Chelsea, Liverpool e Arsenal, tudo parece muito bonito e muito bacana. Quando você olha o todo, porém, o buraco é mais embaixo. Bem mais embaixo. E esse é um problema que precisa ser administrado urgentemente.

Os clubes grandes, ganham muito dinheiro. Os pequenos, perdem muito dinheiro. Os clubes grandes não sobrevivem sem os clubes pequenos. Os pequenos não conseguem competir com os grandes. O desequilíbrio financeiro é gigantesco, e o sistema tende a gerar mais e mais perdas. O único jeito é fechar todas as portas de um jeito que todo mundo ganhe mais ou menos a mesma coisa e, dessa forma, você equilibra os ganhos e diminui muito as perdas individuais. Quem faz isso são as Ligas fechadas, notadamente as estadunidenses, como NBA, NFL e MLB. Ninguém entra, ninguém sai e todo mundo ganha a mesma coisa.

Será esse o futuro da Premier League?

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