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Estabilidade contratual – benefício do atleta e do clube

Prezados amigos da Universidade do Fubebol:

Hoje é feriado em Lisboa. Dia do padroeiro da cidade, Santo Antonio, o santo casamenteiro. Inspirado nesse feriado resolvi escrever sobre o “casamento” entre jogador e clube, e a conhecida estabilidade contratual dos jogadores. Essa fundamentação jurídica para a existência da estabilidade contratual decorre do principio da especificidade do esporte, que tanto comentamos em nossas colunas e que o mundo do direito tanto busca para garantir maior segurança jurídica nas relações desportivas.

O atleta profissional de futebol não é um empregado normal, como já mencionamos anteriormente. Trabalha nos finais de semana, concentra-se antes dos jogos e se sujeita a um mercado de transferências diferente de qualquer outro ramo de atividade. Por essa razão, a Fifa criou o conceito de estabilidade contratual dos atletas de futebol, de forma que, por exemplo, o clube não pode rescindir unilateralmente seu contrato de trabalho. Isso dá maior segurança para que o atleta profissional possa exercer suas atividades.

A intenção da Fifa foi de, justamente, reconhecer que o jogador é o lado mais fraco da relação, via de regra, e, portanto, merece proteção adicional para os casos de abusos de clubes. É preciso entender, por outro lado, que a regra acaba aplicando-se também aos jogadores, que não podem rescindir com os clubes unilateralmente durante a temporada em prol da estabilidade contratual.

Opção de renovação do clube
 
Recentemente também, um novo entendimento importante parece ser consolidado em Tribunais na Europa. Em uma relação de trabalho na Liga Portuguesa de Futebol, foi estabelecido que o clube possuía uma opção unilateral para renovação da relação de trabalho. Assim, às vésperas do término do contrato o clube exerceu a opção de renovação, contrariamente à intenção do jogador.

O caso foi para as Cortes, que determinaram que a cláusula de opção exclusiva do clube era nula, por tornar o empregado excessivamente vulnerável na relação de trabalho desportiva. Interessante notar que, no Brasil, essa prática é bastante comum. No Rio de Janeiro, tivemos notícia do caso envolvendo o atleta Leandro Amaral e o Vasco da Gama.

Os clubes costumam adotar esse tipo de cláusula justamente para ter o critério exclusivo de determinar a continuidade ou não do jogador no clube. Mas essa prática de fato não me parece correta (a menos que o mesmo direito de opção seja dado ao jogador).
 
Reflexos do Caso Webster
 
Ainda no tema da estabilidade contratual, o ex-jogador brasileiro do FC Porto, Paulo Assunção, rescindiu unilateralmente seu contrato finda a temporada, alegando semelhança de condições com o caso recentemente decidido pela Corte Arbitral do Esporte – CAS. O jogador alega não poder ser punido além do valor residual do contrato uma vez que, por ter ultrapassado o chamado protected period, previsto para contratos em que a estabilidade contratual é ainda mais acentuada.

O Caso Webster trata justamente dessa questão. Não podemos julgar o caso sem antes sabermos de todos os elementos do caso, inclusive os termos do contrato de trabalho em questão. O importante é sabermos que o caso Webster não pode ser aplicado diretamente a todos os casos semelhantes, como aconteceu com o Caso Bosman. O Caso Webster ocorreu por conta de diversos fatores específicos, e que podem não ser os mesmos de outros casos, como esse do Paulo Assunção.

Vamos aguardar uma posição do Porto a respeito.

Para finalizar, entendo que a estabilidade contratual deve ser sempre buscada, em prol de melhores relações de trabalho e de uma melhor qualidade do futebol, como resultado final. Só assim o casamento entre atleta e clube estará a salvo. E sem a ajuda de Santo Antonio.

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Paixão, não!

Hoje é Dia dos Namorados, como você deve bem saber. Afinal, são inúmeras mensagens te avisando sobre isso, sejam elas sendo emitidas pelas lojas, pelos shopping centers, pelas empresas de telefonia móvel ou pela sua mãe que não pára de te ligar falando que ta mais do que na hora de ela ter uma nora, ou um genro, de verdade.
 
E o que faz o Dia dos Namorados ter importância para esta coluna em questão e, mais especificamente, para o futebol? Aliás, o que é que o namoro tem a ver com o futebol?
 
A resposta é até meio óbvia. Ambos, dizem, são movidos pela paixão. É a paixão que serve como o combustível principal de uma relação amorosa, principalmente na sua fase mais frágil e irresponsável, o caso do namoro. Quando a paixão acaba, o namoro se esfacela. Afinal, ainda não vieram os filhos, as pensões e as divisões de bens, então não há muito com o que se preocupar quando a relação é rompida.
 
No futebol, dizem que o combustível essencial da relação entre o clube e o seu torcedor também é a paixão. É ela que faz com que os torcedores cometam loucuras pelo seu time, que chorem, que gritem, que esperneiem e que comprem produtos, seja lá quais esses forem.
 
Toda vez que alguém fala sobre alguma coisa de anormal no futebol, o discurso de justificativa tende a ser “Ah… Isso é a paixão do futebol…”. Aí, quando um clube vai trabalhar o seu público, dizem que ele precisa saber explorar a paixão do torcedor, que ele precisa conseguir capitalizar esse sentimento tão nobre.
 
O problema é que a referida paixão é só uma nomenclatura que simplifica diversos outros laços entre o torcedor e o clube de futebol. Ninguém é apaixonado por uma equipe. A paixão verdadeira, o sentimento amoroso desencadeado por reações químicas, inexiste na relação clube-torcida. O que há, de fato, são outras tantas variáveis psico-sociais que fazem a intermediação do processo. Estudos sérios enumeram diversas, que passam por sentimentos de identidade, de idolatria e de cultura familiar. A paixão não é citada em momento algum.
 
Enquanto clubes e torcidas acreditarem que a relação se resume à paixão apenas, os clubes terão dificuldades em ativar o seu público e seus torcedores não terão suas reais necessidades supridas.
 
Nenhuma relação entre clube e torcida deve ter sua sustentação baseada na paixão. Aliás, nem um namoro deve funcionar dessa forma.
Portanto, compre um presente.

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Ausência

Caro internauta,
 
Informamos que o texto semanal do colunista Erich Beting não será publicado nesta segunda-feira.
 
Lamentamos o infortúnio e estamos trabalhando para que isso não se repita na semana que vem.
 
Agradecemos por sua compreensão.
 
Sem mais.
 
Equipe Cidade do Futebol
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Receita de bolo tática

Nos últimos dez anos, muitas foram as equipes que adotaram em seu modelo de jogo estratégias defensivas orientadas por ocupações de espaço que tiveram como regra básica a presença de nove ou dez jogadores atrás da linha da bola (mais o goleiro).
 
Ainda que mereça uma ou outra restrição e que não proporcione jogo tão atrativo em determinados momentos, não se pode negar que algumas dessas equipes, empenhadas na excelente execução do seu modelo de jogo, alcançaram resultados mais do que satisfatórios em jogos e campeonatos importantes.
 
Organizar o sistema defensivo de uma equipe tendo como norte ter o maior número de jogadores participando efetivamente das estratégias de marcação, atrás da linha da bola, não é de todo uma tarefa das mais complicadas.
 
Num jogo de futebol, o momento de maior perigo defensivo para uma equipe ocorre justamente quando ela ataca. Isso pode ser facilmente entendido se considerarmos que quando uma equipe está a atacar a maior parte dos seus processos sistêmicos está voltada para a construção de uma jogada, e uma “parte menor” simultaneamente para garantir que se acontecer algo de errado, a meta defensiva não estará demasiadamente exposta (balanço defensivo).
 
Como o balanço defensivo é uma estrutura do sistema defensivo orientada ao mesmo tempo pela evolução da jogada ofensiva (construída pela própria equipe) e pela ocupação espacial dada pelos jogadores da equipe que se defende, as possibilidades de, ao se perder a bola, correr riscos defensivos importantes são grandes.
 
Então ao se buscar o ataque, a maior parte do foco estará voltada para isso; e a “parte do foco” voltada para o balanço defensivo é orientada por nortes dinâmicos que podem potencializar as chances de erro.
 
Pois bem. Se maiores são os riscos defensivos que uma equipe sofre quando ela está atacando, maiores serão as chances de conseguir êxito em um jogo se esse momento de risco puder ser mais bem aproveitado pela equipe que está se defendendo.
 
E é aí que o “marcar” com maior número de jogadores possível atrás da linha da bola se torna uma estratégia promissora: quanto mais jogadores, em um espaço reduzido (meio campo defensivo), menos brechas e corredores para penetração adversária. A dificuldade de penetração induz a uma previsível circulação de bola de um lado ao outro do campo de jogo. A maior circulação horizontal da bola desencadeia maior número de “zonas de interceptação”, e isso, um maior número de interceptações. Mais interceptações, com uma boa estratégia de transição ofensiva pode levar a ataques rápidos e promissores na retomada da posse de bola.
 
Então (pela enésima vez), se no futebol a defesa sobressai ao ataque, adotar como plano de ação defensivo básico um grande número de jogadores atrás da linha da bola pode ser um reforço pouco elaborado, porém aparentemente eficiente para o sistema de defesa.
 
A eficiência desse modelo de jogo ganha forças na medida em que no futebol há uma identificação positiva satisfatória entre “treinador de sucesso” e “treinador que arma bem as defesas de suas equipes”. Então, sem muitas elaborações, garantir uma defesa que sofre poucos ou nenhum gol pode ser um “marketing” eficiente para treinadores e suas equipes.
 
Com relação às transições ofensivas, também nada muito complicado. Onze defendem, recuperam a bola e quatro ou cinco saem rapidamente no contra-ataque. A jogada deve terminar em finalização. Se houver perda da bola, interrompe-se a jogada imediatamente (falta); a equipe se reequilibra defensivamente, e começa tudo de novo.
 
Você conhece alguma equipe que joga assim? Abra o olho…

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A especificidade do esporte – conceito fundamental para o futebol

Caros amigos da Universidade do Fubebol,
 
Todos nós sabemos que o esporte nos dias de hoje (e principalmente o futebol, na grande maioria dos países) é tido como um ramo de atividade econômica como qualquer outro. Não é mais um simples passatempo. Mais do que isso, é um verdadeiro negócio.
 
No entanto, trata-se de um ramo muito específico. Tão específico, que deve ser tratado, e de fato é, de forma diferenciada pelos vários stakeholders do meio.
 
O esporte merece uma seção especial em todos os jornais de notícias do mundo. A concorrência entre as entidades de prática não é a mesma da concorrência de empresas em outros ramos. No esporte, os clubes dependem dos outros para sobreviverem. Os consumidores do esporte são imbuídos da paixão no consumo dos respectivos bens.
 
Enfim, o esporte é diferente. E no mundo jurídico acontece da mesma forma. As decisões judiciais, em qualquer nível, devem respeitar essa diferença. Por exemplo: os lutadores de boxe, no âmbito de suas lutas, não são condenados por lesão corporal ao adversário.
 
Essa diferenciação jurídica entre o esporte e os demais segmentos é chamada de “especificidade do esporte”, que hoje muito se discute. No futebol, a questão não poderia estar mais em voga.
 
Recentemente a Fifa aprovou a regra do 6+5, como comentamos há algumas colunas. A Uefa lançou há poucos anos a também já comentada regra do home-grown player. Agentes de futebol na Bélgica discutem atualmente a aplicação (ou a não aplicação) das regras da Fifa com relação à intermediação de jogadores. Atletas profissionais que se transferem de um clube a outro discutem multas rescisórias. Todas essas questões estão sendo entregues às mãos do judiciário em diversas partes do mundo. E para todas essas questões, inter alia, a definição e os limites do conceito da especificidade do esporte são cruciais. Só depois de consolidados tais conceitos é que, enfim, teremos maior segurança jurídica para todas essas questões no desporto.
 
Como contribuição para a discussão, entendemos que o conceito de especificidade do esporte deve girar em torno de três pilares:
 
(i)      Regras das competições propriamente ditas. É o caso, por exemplo, do lutador de boxe, que não pode ser punido por acertar um soco no adversário (no futebol, aplicar-se-ia o mesmo princípio para o caso de uma lesão fruto de um “carrinho” não faltoso);
(ii)      Integridade das competições. Sob esse prisma, podemos justificar a restrição de um mesmo empresário deter participação em dois clubes em uma mesma competição; e
(iii)     Manutenção de uma competição justa e balanceada entre os clubes. Aqui estaria incluída a discussão da legalidade da restrição de jogadores estrangeiros em uma determinada competição, ou à regra do home-grown player.
 
Essas são apenas idéias que podem contribuir para uma discussão mais aprofundada sobre o tema. Não temos a menor dúvida que, em se encontrando um denominador comum para a questão, entidades do esporte e o Judiciário (em sentido lato), conviverão em maior harmonia.
 
Essa harmonia é o que atualmente mais se busca no mundo do futebol mundial.
 
Punição ao FC Porto
 
O FC Porto, de Portugal, recebeu punição da Uefa de uma temporada de suspensão por não se enquadrar nas regras de admissibilidade de competições européias de clubes. Segundo o regulamento da Liga dos Campeões, o clube, por ter sido condenado recentemente pelos tribunais desportivos portugueses por manipulação de resultados, não reúne condições de participar da competição (artigo 1.04d).
 
Os princípios que embasam a punição são absolutamente legítimos, principalmente considerando que o Porto não recorreu da decisão prévia, em Portugal (tornando-a definitiva). Em termos legais, existe certa controvérsia na letra estrita da norma da Uefa.
 
O prejuízo não é apenas do clube, que deixa de faturar ao menos 8,4 milhões de euros. Os principais patrocinadores, Nike e Portugal Telecom, perdem cerca de 15% a 25% do retorno do investimento feito (de acordo com a consultoria Cision).
 
O importante, porém, será manter a mesma linha caso algum clube com mais peso a nível europeu enquadrar-se na mesma hipótese, e servir de exemplo para os demais clubes do mundo na luta pela integridade do futebol.

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Mudar é preciso

Permita-me regredir um pouco no tempo e voltar ao último domingo, mais precisamente aos acontecimentos do jogo entre Náutico e Botafogo.
 
As cenas que agitaram os noticiários e os comentaristas não devem surpreender ninguém. Afinal, todo mundo sabe que esse tipo de coisa acontece a todo o tempo por todo o país. Estranhamente, o Brasil não parece ter um tipo de segurança preparada para lidar com eventos e multidões, seja segurança pública ou privada.
 
De qualquer maneira, o que se viu em Recife não me parece ser muito anormal. Já vi outras vezes, em outras situações. Muitas outras vezes, muitas outras situações. Pesquisadores e intelectuais dizem que uma das principais soluções a serem adotadas para solucionar o problema de violência brasileiro é a desmilitarização da polícia. Quando se vê o batalhão de choque agindo em um campo de futebol para prender jogadores, talvez eles não estejam errados.
 
Fato é que a violência no Brasil continua preocupando, seja por esse acontecimento ou pela pesquisa do IBGE recém-publicada que aponta o crescente número de homicídios. Ou até pela própria percepção pública, que não me parece caminhar em outro sentido diferente.
 
Esse problema é possivelmente um dos maiores desafios para a Copa no Brasil. Questões estruturais, a princípio, parecem ser algo mais simples de se resolver. Basta construir, o que é um trabalho mais concreto, previsível e exato. Agora, para conseguir fazer com que a sociedade fique menos violenta é necessário um trabalho muito mais árduo e arriscado.
 
Talvez o que mais preocupe não seja necessariamente a violência da população em si, mas sim o método de repressão aos inúmeros problemas e manifestações de massa que ocorrem durante uma Copa do Mundo. Como irá a polícia reagir aos hoolingans? E aos barra-bravas argentinos? E aos turistas que beberem e quiserem gritar e agitar no meio do centro da cidade? E aos brasileiros tirando sarro dos franceses?
 
Esse é o tipo de coisa que as pessoas tendem a ignorar, mas que pode facilmente gerar uma imensa repercussão negativa. Logo, é o tipo de coisa que pode comprometer todo o evento.
 
Construir um estádio não é das coisas mais fáceis. Mudar o comportamento da população e da polícia em seis anos é pior ainda.

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Estado de choque

Outro dia um amigo meu sentenciou a causa do péssimo relacionamento entre torcida e polícia nos estádios brasileiros: “o maior problema é que o policial que vai ao jogo é do batalhão de choque. Para ele, bandido e torcedor é a mesma coisa!”.
 
Achei a tese interessante, mas sinceramente achava que ainda carecia de mais estudo. Mas, depois deste domingo, definitivamente ficou comprovado que, enquanto o futebol brasileiro não repensar quem deve ser o responsável por garantir a segurança nos estádios, a evolução do esporte como negócio é algo ainda longe de alcançarmos.
 
Sim, sem dúvida André Luís errou e feio no jogo. Expulso com justiça, perdeu a cabeça e a compostura ao deixar o sempre nervoso campo do estádio dos Aflitos. Explosão de raiva que nunca se justifica, ainda mais quando parte de um jogador experiente como André, mais do que acostumado aos insultos dos torcedores, onde quer que seja, aqui ou em Bagdá.
 
Mas até aí o que ele fez (responder com agressividade aos insultos) não é caso de polícia. Muito menos para um festival inconseqüente como o que foi visto em Recife na tarde do último domingo.
 
Abuso de autoridade, uso excessivo da força, agressão moral e física. Tudo isso foi visto por parte dos “policiais” que estavam nos Aflitos como responsáveis por garantir a segurança do jogo entre Náutico e Botafogo. Para melhorar, a responsável pela “voz de prisão” a André Luís aproveitou os microfones das rádios e televisões ávidas para explicar a confusão para justificar sua decisão, colocando ainda mais lenha na fogueira.
 
Não bastasse a truculência na “dominação” do “meliante”, os policiais mostraram o quanto são despreparados ao levarem André Luís para fora do estádio por um portão que passava pelo meio da torcida do Náutico.
 
Teoricamente os policiais tinham de proteger público, jogadores, árbitros e demais profissionais envolvidos na cobertura do jogo. Mas o que fizeram foi gerar um dos maiores estados de revolta dos últimos anos num estádio brasileiro, fazendo dos Aflitos um campo de irresponsabilidade administrativa.
 
E aí voltamos para a conclusão de meu amigo, feita há cerca de um mês. Nos estádios, é o pior tipo de policial que está presente para garantir a segurança do espetáculo. Ele é aquele que parte da tese de que primeiro tem de bater para depois perguntar. É aquele que coloca o Brasil nas estatísticas dos piores países em eficiência policial. É aquele que ajuda a aumentar os índices de morte no país no confronto entre “policiais” e “bandidos”.
 
O batalhão de choque da PM de Recife deixou não apenas o Botafogo em estado de choque. Que pelo menos o lamentável episódio sirva de exemplo para mostrar que, enquanto o futebol brasileiro não souber tratar a todos com respeito, viveremos em constante estado de choque, perplexos com a falta de solução para um problema tão simples que é tratar torcedor como consumidor e jogador como estrela. Enquanto isso não acontecer, o futebol continuará a ser um circo. Com o palhaço mudando de figura a cada rodada…

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Velhas bobagens táticas

“O Futebol realmente é um esporte diferenciado. Não pela estrutura, dimensões do campo ou quantidade de dinheiro envolvido em competições. É sim diferenciado porque tem um “montão” de “especialistas”. Todo mundo acha que pode ser técnico (com soluções para qualquer problema tático do jogo), mas poucos são os que se entendem para definir o que realmente é melhor ou pior para uma equipe.
Certamente alguém deve ter razão em alguma coisa, tamanha a quantidade de teorias e bobagens que se escuta por aí. Não é possível que tanta coisa possa ser jogada fora. O fato é que mesmo quem devia saber algo mais, acaba não trazendo nada de novo.
Outro dia no Café dos Notáveis, que me rende momentos muito interessantes, presenciei uma acirrada discussão sobre o que era mais importante no Futebol: a armação tática da equipe ou a habilidade técnica individual dos jogadores. Mais ao longe na conversa ainda explanaram, quase que em conclusão, que certamente a insistente melhora do rendimento físico e a exagerada preocupação tática dos técnicos estava desprivilegiando os talentos individuais.
Pois bem, cartas postas na mesa, tive a plena convicção de que realmente as más informações contaminaram e por muito tempo continuarão contaminado gerações de terráqueos.
Para expor meu ponto de vista sobre o assunto, falarei brevemente de outra modalidade, já que se caminhar pelo Futebol corro o risco de causar irritação e descontentamento antes mesmo da argumentação final. Isto realmente não seria bom, pois idéias erradas poderiam contribuir para que as más informações se fizessem ainda mais fortes.
Comecemos então com um pensamento rápido. Qual o melhor basquete do mundo? É muito provável que você tenha pensado no Basquete da NBA. Se assim não foi, realmente pode parar a leitura por aqui. Nada poderei te acrescentar que você não duvide tanto, que não seja capaz de acreditar.
Na NBA diversas jogadas que assistimos podem ser chamadas de Arte. É inegável a grande qualidade técnica de diversos jogadores do Basquete norte-americano. Algumas regras das competições contribuem para que o espetáculo seja sempre surpreendente e empolgante. Pois bem, sem esquecer estas colocações, não nos deixemos iludir; lá a preparação física é coisa muito séria e os jogadores, cientes de serem atletas são tratados como tal. Taticamente não é preciso nem dizer; dos esportes coletivos, talvez seja o Basquete um dos mais táticos ofensivamente e defensivamente.
Então pense rápido novamente. Por que na NBA existe uma preparação física de ponta, uma modelação tática bem definida e jogadores talentosos dentro de um mesmo ingrediente?
Desta vez a resposta é mais simples ainda; jogadores técnicos e talentosos podem coexistir com uma preparação física privilegiada dentro de esquemas táticos definidos simplesmente porque a preparação física e tática permitem a evidência das qualidades técnicas dos jogadores, e não o contrário.
Jogadores bem preparados fisicamente podem realizar tarefas motoras com menor gasto energético, raciocinam melhor e ainda podem explorar todo seu talento. Taticamente, a habilidade técnica, sob meu ponto de vista, é quem permite o desfecho com êxito ou fracasso de algo previamente pensado.
Sendo assim, no Futebol, existem dois erros na discussão que presenciei no Café dos Notáveis. O primeiro, creio que já fora esclarecido. O segundo está na afirmação de que “a preocupação tática exagerada dos técnicos acabam por desprivilegiar talentos individuais”.
Meus amigos, bem já disse e expliquei a relação entre tática e técnica (então não é sobre este aspecto que tenho mais a falar). O que quero dizer agora é que não existe preocupação exagerada por parte da maioria dos técnicos de Futebol sobre o aspecto tático. Como podem se preocupar com uma coisa que não dominam, simplesmente reproduzem. É fato que talentos, nas mãos de grandes técnicos se sobressaem. Sabe por quê? Justamente porque grandes técnicos realmente entendem o significado de “esquemas táticos”.
ATENÇÃO! ATENÇÃO!
Ainda que essa discussão toda sobre a preparação física, técnica e tática (como fora colocada) já fora há muito superada, para alguns ainda soa como novidade. Para os outros, a periodização tática, a desfragmentação do treino e a teoria do jogo são os nortes atuais de um “antigo futebol atual“.

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O congresso da Fifa e a nova regra do 6+5

Caros amigos da Universidade do Fubebol,
 
Como de costume, os olhos de todas as pessoas e entidades ligadas de alguma forma com o mercado do futebol mundial estão focados no Congresso Anual da Fifa, realizado nesta semana na Austrália, e nas decisões tomadas nessa reunião pelos dirigentes da entidade máxima do futebol.
 
Dentre todas as decisões passadas, a que merece destaque em nossa coluna é a regra do 6+5 aliada a uma alteração na regra de alteração de cidadania (aumentando o prazo de dois para cinco anos de residência para que o jogador possa atuar pela seleção local). Tais mudanças visam descentralizar o poderio das ligas mais fortes (nomeadamente inglesa, alemã, francesa, italiana e espanhola), e, em última instância, fortalecer as diversas seleções nacionais.
 
Antes de tudo, é necessário explicar exatamente a regra e distingui-la de outras semelhantes. De acordo com essa nova regra, aprovada por unanimidade pelas federações nacionais durante o Congresso da Fifa, os clubes deveriam iniciar as partidas com um “onze” composto por, ao menos, seis jogadores elegíveis para atuar na seleção nacional do país em que o clube esteja localizado.
 
Temos que diferenciar essa regra da regra relativa ao home-grown player (comentada por nós há duas colunas), em vigor na Euriopa. Essa última regra propõe um mínimo de jogadores no escrete formados pelo clube (treinados no mínimo por três temporadas no seus períodos de formação), não importando por qual seleção nacional eles possam atuar.
 
Na Europa, as duas regras (6+5 e home-grown player) deveriam ser obedecidas concomitantemente pelos clubes.
 
De toda forma, com a regra do 6+5 e com a alteração da troca de cidadania, a Fifa pretende manter um razoável número de jogadores atuando nas ligas de seus países, afastando o excessivo número de estrangeiros atualmente existentes nas principais ligas, e também promovendo uma maior força nas seleções nacionais (já que jogadores deixariam de trocar de clube com o propósito de requerer outras cidadanias para atuar em seleções de outros países).
 
Cabe-nos na discutir se tais mudanças de fato poderão surtir o efeito esperado.
 
Interessante artigo publicado por Matt Slater e Simon Austin nesta semana no site da BBC sobre o tema traz importantes dados a serem discutidos. O artigo mostra, por exemplo, como pode ocorrer uma discrepância verificada na Inglaterra, onde se encontram os clubes mais ricos do planeta. Na última edição da Champions League, três dos quatro finalistas eram ingleses. Por outro lado, a Inglaterra não se classificou para a Copa Européia de Seleções que acontecerá no próximo mês na Suíça e Áustria.
 
Curiosamente, a Liga Inglesa aponta índices mais baixos de atletas elegíveis para a seleção inglesa nos “onze”: média de quatro por clube.
 
Outros países, como Itália, Alemanha e Espanha, apresentam melhores índices: 7,3; 4,9 e 6,9, respectivamente. E essas seleções são aquelas apontadas como favoritas para vencerem a Eurocopa.
 
Tais números dão forças para que a Fifa implemente as novas regras.
 
Por outro lado, existem argumentos contrários. A própria Liga Inglesa, através do artigo supracitado, alega, entre outros argumentos, que o índice verificado em outras oportunidades era maior do que quatro jogadores por clube, e que a seleção também não apresentava bons resultados.
 
Do ponto de vista legal, entendo que a regra pode ser questionada do ponto de vista concorrencial e também trabalhista. Dentre o espírito das normas européias aplicáveis, tal regra pode ser entendida como limitação ao livre movimento de trabalhadores, bem como uma limitação ao direito de exercer a profissão. Tais pontos, de toda forma, somente serão concretizados caso a norma seja efetivamente questionada no Tribunais Europeus.
 
O fato é que a maior efetividade estaria em uma reforma estrutural, que já vem ocorrendo na Europa, com as categorias de base dos clubes. Normas de garantia de que os clubes desenvolvam trabalhos em suas bases, como as normas de club licensing, são mais efetivas e mais difíceis de serem questionadas em juízo.
 
As mudanças são necessárias, e as preocupações absolutamente legítimas. Mas é preciso estar sempre atento à legalidade de todas as formalidades, para que o tiro não acabe saindo pela culatra.

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Champions League

O nome comercial da Liga dos Campeões da Europa é grafado em inglês. Nada mais justo pelo que se viu em 2007-08. Três dos semifinalistas eram da ilha que não é mais uma ilha no futebol.
 
Os pais do futebol criaram o rebento, em 1863, e depois não souberam o que fazer com ele. Viram o entusiasmo por kops (arquibancadas) e pubs (bares), mas, bola boa, mesmo, não viam nos maravilhosos gramados ingleses. Vai ver que os campos eram lindos justamente pelo pouco contato da bola com a grama.
 
De tanto a bola voar nas quermesses da ligação direta defesa-ataque, nada além de carrinhos (os “tackles”) molestavam a grama.
 
Mas isso vem mudando. De modo silencioso (ou barulhento), desde o Liverpool do final dos anos 80, passando pelas grandes equipes multinacionais deste século. Ou melhor, desde 1992, com a criação da Premier League. Quando os ingleses reinventaram o negócio do futebol. Fazendo um entretenimento mais saudável, seguro, visível, rentável. E mais aberto. Em campo e fora dele.
 
Em Moscou, na enorme decisão entre Manchester United e Chelsea, apenas dez ingleses começaram o jogo. Dirigidos por um escocês e um israelense, regiamente pagos por um americano de origem russa e por um russo de origem (de dinheiro) desconhecida.
 
Dos dez ingleses titulares, alguns são típicos como Brown e Carrick. Mas outros como Lampard, Rooney, Terry, Ferdinand, Scholes, Joe Cole, Hargreaves e Ashley Cole, sem perder o sotaque, são cidadãos e jogadores planetários. Sabem jogar e entender um jogo que muda como hoje se muda de clube e de país.
 
 

CHELSEA: O 4-1-4-1 de Avram Grant: com a bola, Joe Cole e Malouda se
juntavam a Drogba, no ataque, virando um 4-3-3.
 
Mas o que há de mais britânico nisso reside no banco de reservas. Quase por usucapião. Usucampeão. Sir Alex Ferguson é manager do Manchester desde 6 de novembro de 1986. Na primeira temporada, chegou com a bola rolando, com um elenco de bom nível, mas indisciplinado. Terminou o campeonato inglês em 11º lugar. Contratou bem para a temporada seguinte e foi vice-campeão, nove pontos atrás do Liverpool. Mas não passou do 11º lugar em 1989. Na temporada seguinte, a pressão da torcida e da imprensa foi grande pela demissão de Ferguson. Em dezembro de 1989, depois de seis derrotas e dois empates, nem sir Alex imaginava que seria uma boa continuar em Old Trafford.
 
 
 
MANCHESTER: O esquema que começou a decisão contra o Chelsea. Ronaldo para
conter o apoio de Essien.
 
O que se imaginava seria o jogo da demissão, pela FA Cup, em 1990, contra o então forte Nottingham Forest, foi o da manutenção. O Manchester seguiu adiante e ganhou o primeiro título com Ferguson. Três anos depois de ter chegado ao clube. Mas ainda faltava o mais esperado. O título inglês, que o clube não conquistava desde 1967. E só foi ganhar em 1993, no primeiro ano da Premier League.
 
Perdão por me alongar em Ferguson. Mas só para dizer que o treinador que conquistou um mundial, duas Ligas dos Campeões da Europa, uma Copa da Uefa, dez títulos da Liga Inglesa, cinco FA Cup (a Copa da Inglaterra) e duas Copas da Liga ainda quer mais. Muito mais. E quer porque aprendeu a querer saber mais.
 
Ele e o francês Arsène Wenger, do Arsenal, mudaram a cara, o jogo, e o pebolim inglês. Veja o belo jogo do Manchester desde 2007. Ou melhor: veja os belos jogos das várias equipes de Ferguson. Mudam constantemente, mas sem mudar a tônica do jogo bonito, pelo chão, com técnica e velocidade, com Cristiano Ronaldo como winger à direita, ou à esquerda. Como meia-atacante atrás de um só centroavante. Como um dos atacantes. Como o melhor do mundo em 2008.
 
Um time que muda com os mesmos jogadores. Como todo o Manchester da bandeira Giggs. Um winger canhoto do 4-4-2 de totó que, hoje, joga dos dois lados, joga como meio-campista central (não “volante”, que isso não existe no United), que joga de atacante, que joga até atrás do atacante, como fez em Moscou, ao completar seu jogo 759 pelo Manchester, superando sir Bobby Charlton.
 
Se há um time que não joga por apenas uma cartilha é o do veterano, “ultrapassado” e “conservador” Alex Ferguson. Vinte e dois anos de Manchester. Lenda e prova vivas de que o bom trabalho merece continuidade. Ou até mesmo um não mais que razoável trabalho nos primeiros três anos.

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