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A Delloite soltou algumas informações sobre seu novo relatório a respeito das finanças dos clubes europeus. Pouca coisa mudou. Quer dizer, de modo geral, pouca coisa mudou, a não ser entrou muito mais dinheiro no caixa dos grandes clubes, pra variar, em especial os ingleses, para variar um pouco mais.
Na verdade, os clubes ingleses conseguiram uma receita de aproximadamente R$ 8 bilhões na temporada 07/08. E isso é dinheiro, muito dinheiro. Tanto dinheiro que corresponde a aproximadamente um quarto do total arrecadado por clubes em toda a Europa, que chegou à cifra de cerca de R$ 37 bilhões.
Entretanto, o aumento de receita significou também um aumento de gastos com salários e transferências, coisa que é quase regra no mundo do futebol. Se da temporada passada para a atual a receita dos clubes da Premier League subiu 11%, o gasto com salários e transferências cresceu 13%. O poder dos clubes ingleses fica cada vez mais visível no mercado e, não por acaso, esses clubes tendem a ter maiores chances de melhor desempenho em torneios continentais, como foi o caso da Champions League desse ano.
Mas se os clubes ingleses andam comprando muita gente de fora, eles também deixam cada vez mais de produzir jogador dentro de casa. Não por acaso, também, a Inglaterra está fora da Eurocopa e gerando reclamações do seu técnico, Fábio Capello, por conta da falta de opções disponíveis. Um relatório da BBC divulgado nesta semana comprova isso. Nesta temporada, os clubes da Premier League bateram recorde de não escalação de titulares ingleses. Dos 498 que entraram em campo no começo do jogo durante todo o campeonato, apenas 178, 34%, eram ingleses.
Outro relatório que menciona o baixo aproveitamento de talento local foi feito pelo Professional Football Player’s Observatory, que analisou os clubes e jogadores que disputaram a Champions League deste ano. O relatório afirma que de todos os jogadores que estavam registrados na competição, apenas 20% vinham das categorias de base de seus respectivos clubes e 60% eram jogadores estrangeiros.
Isso apenas colaborou ainda mais para a Fifa, mais especificamente o presidente Joseph Blatter, forçar o seu projeto dos 6+5 já tão falado por essas bandas. De acordo com ele, a idéia é proteger as seleções nacionais e os clubes menores. Com menos jogadores disponíveis para o mercado externo, a lógica é que o mercado local tende a se fortalecer. Blatter diz ter o apoio de todo mundo, inclusive das federações européias. Ou seja: o mundo do futebol está pronto para aceitar a regra.
O problema é que o mundo do futebol não é soberano, por mais que ele queira ser. Para que a regra do 6+5 seja aceita pelos clubes, ela tem que ser aceita pelas regras dos países nos quais esses clubes estão inseridos. Enquanto que boa parte do mundo deve aceitar isso sem maiores problemas, na Europa a coisa muda.
Tendo um passado recente de guerras étnicas que dizimaram gerações, a Comissão Européia rejeita qualquer hipótese de discriminação do indivíduo por conta do lugar em que ele nasceu, desde que dentro da Comunidade Européia. Portanto, não há, a princípio, qualquer possibilidade de que a regra do 6+5 seja aceita por aquelas bandas, uma vez que você irá cercear o direito de trabalho de um cidadão apenas por conta do lugar em que ele nasceu. E como bem disse Vladimir Spidla, comissário europeu do trabalho, “jogadores profissionais são trabalhadores”. E trabalhadores são livres para escolherem onde querem trabalhar.
Principalmente na Inglaterra, porque lá paga mais.
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Um novo discurso
“Não adianta. Vamos ficar aqui até amanhã procurando uma explicação e ela não existe. Nós perdemos porque é o futebol”…
Foi assim que um “nocauteado” Muricy Ramalho começou a responder à entrevista coletiva após a emocionante vitória do Fluminense sobre o São Paulo pela Libertadores. Derrota sem explicação, assim como a vitória é daquelas justificáveis apenas pela enorme força de vontade do time e, claro, pelo “Sobrenatural de Almeida”, o personagem criado por Nelson Rodrigues para explicar o inexplicável.
Mesmo assim, Muricy ficou cerca de 40 minutos respondendo a uma sabatina de perguntas, quase sempre chegando às mesmas respostas. Sem andar um passo à frente, sem questionar o planejamento do time para a temporada, sem ter o que falar ante um resultado simplesmente típico do futebol.
Mas o ritual foi cumprido. A imprensa martelando na tentativa de encontrar um culpado. Muricy com cara de cansaço físico e mental respondendo da mesma maneira desconexa e desinteressada às questões.
Na sala ao lado, a mesma coisa. A imprensa em busca de uma história diferente dentro da entrevista para exaltar o brilhantismo do Fluminense. Renato Gaúcho, embriagado pela euforia de uma das mais lindas vitórias da história do Tricolor carioca, falando coisas desconexas.
No dia seguinte, em Santos, a história repetida, mas com um enredo um pouco diferente. Nem bem terminou o jogo e o time santista correu aos microfones para dizer que a eliminação para o América era culpa do árbitro da primeira partida, que havia mal anulado um gol no minuto final da partida.
E a imprensa? Bem, era preciso dar corda para essa história…
Os jornalistas necessitam de vitoriosos e vencidos, de mocinhos e bandidos, de culpados e inocentes. É assim desde o início do jornalismo, quando os primeiros “repórteres” eram pessoas que defendiam um ponto de vista e produziam as notícias conforme esse interesse.
Hoje, com o desenvolvimento dos meios de comunicação e do acesso às informações, o noticiário deixou de ser tão tendencioso. Mas a essência é a mesma. A imprensa precisa de uma história diferente para se sentir satisfeita. E, para isso, nada melhor do que uma decisão.
A emoção de um duelo como foi Fluminense x São Paulo é mais do que suficiente para que saiamos da mesmice. Do choro de Washington ao momento de reflexão no meio de campo de Renato, tudo é notícia. Mas e quando temos a derrota?
Aí o discurso é o mesmo. E os meios para obtê-los, idem. Uma saraivada de perguntas até a tentativa de um deslize, de uma declaração polêmica. Afinal, é daí que a notícia aparece, daquilo que sai da mesmice.
Mas para sair da mesmice, infelizmente, a imprensa segue o mesmo roteiro. E se, na coletiva de imprensa com Muricy, um jornalista ousasse perguntar a ele como faria para motivar o time a entrar de novo em campo no domingo? E se não ficassem apenas questionando sobre Adriano e a sua possível permanência mesmo com a saída da Libertadores?
Um novo discurso levaria provavelmente a uma nova notícia. Mas será que a imprensa está preparada para isso?
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Tenho um grande amigo que é da polícia. Mais especificamente de um grupo de elite da polícia que se envolve com ações táticas especiais. Sua equipe tem vinte homens que se revezam em operações das mais variadas. Em geral agem em quinze policiais. Através de um rodízio de trabalho cinco “descansam” em estado de alerta. Nos treinamentos os vinte treinam em formações que geralmente compõem um grupo de quinze ou em números reduzidos, múltiplos de três. Todos estão sempre bem preparados, prontos para qualquer chamado, alertas para qualquer ação.
Dia desses, conversando com “Mano Basílios” (mais um dos notáveis do Café) me lembrei desse meu amigo da polícia. E como conversa vai, conversa vem, como lembrança vai, lembrança vem, as reflexões sobre a organização e logística das ações policiais me levaram a reflexões futebolísticas sobre os recorrentes surgimentos dos times “tapa buracos de revezamento” (os “expressinhos”, os “times B” e os “catados”).
A primeira vez que assisti a um treinamento de uma equipe de futebol profissional no Brasil fiquei surpreso. Onze jogadores faziam um trabalho tático em campo com o treinador, enquanto os demais atletas da equipe, realizavam treino de “sprints” atrás do gol.
Como sempre digo aos meus alunos, não podemos avaliar o trabalho de um treinador fazendo simples observações de um dos seus treinos (sem compreender o processo e seus objetivos). Então voltei dias seguidos para observar novos treinos da equipe.
Quando o treino não era “físico”, lá estava o grupo separado. Algumas vezes junto dos onze (ou dez quando o goleiro não participava), alguns “sparrings” (entendamos sparrings por “jogadores que colaboram para a evolução do treinamento dos outros”).
Indo além nas minhas observações, conversando, perguntando, pesquisando e colhendo informações descobri que tal “modelo” de trabalho não era característica comum apenas daquela equipe. Era quase praxe no meio.
Interessante no Brasil, os desdobramentos gerados por tal prática.
Muitas das principais equipes brasileiras acabam por participar de mais de uma competição ao mesmo tempo. Para poucas todas as competições são muito importantes. A maioria das equipes acaba por privilegiar essa ou aquela. Em função disso é cada vez mais comum poupar jogadores em um jogo (de uma competição “menos importante”) para poder aproveitá-los melhor em outro (de uma competição “mais importante”).
Isso traz à tona rótulos que acabam por “taxar” as equipes que têm dois ou mais de seus “principais jogadores” poupados; e daí surgem os “expressinhos”, os “times B”, os “catados”, etc e tal. Pura e exclusivamente para salientar que a equipe em campo não é aquela mais forte, mais apta, a principal.
O rótulo é sempre reforçado quando a “equipe B” apresenta rendimento abaixo do esperado (e tem resultado negativo);e isso aumenta a cobrança para que as equipes joguem sempre com os seus principais atletas (o que leva a desgastes maiores, maior número de lesões e a óbvia performance a desejar).
M
as é claro! Como esperar bons resultados se o próprio processo de treinamento empregado corre em detrimento da idéia de se ter mais do que onze jogadores, aptos, entrosados, prontos e preparados para entenderem o mesmo jogo e jogarem pelo mesmo modelo de jogo? Se não se prioriza o grupo como um todo, não se conseguirá, ao se substituir um certo número de jogadores, manter um nível de excelência. Muitas vezes culpa-se aos jogadores que acabam entrando (para poupar outros) pelo baixo rendimento da equipe. Porém, se enquanto os poupados estão dentro de campo recebendo instruções táticas nos treinamentos os substitutos estão atrás do gol realizando treinos de sprint, fica inconcebível imaginar que terão eles a mesma competência dentro do jogo. Então, acabam sendo os próprios treinadores, vítimas dos seus próprios desconhecimentos; e os seus “expressinhos” os filhos de seus próprios descuidos. Muitos dirão que não é possível manter o nível de jogo substituindo jogadores que são titulares por jogadores de menor potencial. O fato é que a abordagem de treinos como é feita só serve para amplificar as possíveis diferenças já existentes no nível de jogo de atletas que são ou não titulares. Aliás, os conceitos de titular e reserva deveriam ser revistos. O pensamento deveria ser “quais são os melhores onze para iniciar o próximo confronto” e não “quais são os onze melhores jogadores do meu grupo para todo o campeonato“. Mais uma vez poderia eu, dar diversos exemplos de equipes fora do Brasil, que por compreenderem melhor o processo competitivo, jogam qualquer jogo de qualquer campeonato com força máxima mesmo com um sem número de jogadores diferentes de uma partida para outra (vide como exemplo mais recente a equipe do Manchester United enfrentando a Roma pela Liga dos Campeões 2007/2008 nas quartas-de-final, levando a campo no segundo jogo uma equipe com cinco jogadores diferentes daqueles que participaram do primeiro confronto – venceram os dois confrontos). “Todos sabem qual é a diferença entre as grandes equipes, como o Chelsea (na época de Mourinho), e as equipes de sucesso ocasional, como o Liverpool de Rafael Benitez: é que umas lutam pela vitória em qualquer terreno, sabendo que a derrota é um risco, e outras esgotam as suas energias numa competição, sabendo que, no resto, a derrota é o preço a pagar pela impotência de lutar por esse grande desígnio de dar sempre uma boa luta em qualquer competição que apareça pela frente” (trecho do livro do jornalista José Marinho (2007): José Mourinho, vencedor nato. pág. 75). Como diz meu amigo policial, ninguém do seu grupo pode estar “mais ou menos” apto ao trabalho. Ou se está pronto, ou não. E se não está não pode estar no grupo, nem em ação, nem descansando em alerta. Afinal de contas, em qualquer missão, cada um dos escalados tem nas mãos a vida do seu companheiro, um pelo outro, o tempo todo. Não há titulares ou reservas. Há quem está de serviço e quem não está. E ponto final!Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br
Caros amigos da Universidade do Fubebol,
Gostaria de tratar nesta coluna das relações de trabalho no futebol que, como sabemos, são muito peculiares e diferentes das relações em outros segmentos. Por exemplo, atletas profissionais de futebol trabalham com frequência durante finais de semana e também são obrigados a ficar concentrados, dias por vezes. Além disso, as relações com seus empregadores são também muito peculiares, pois ficam infelizmente sujeitos a frequentes atrasos salariais, transferências de local de trabalho, licenças para jogos de seleções nacionais, etc.
Não quero aqui tratar de questões técnicas envolvendo especificidades do direito do trabalho. Mais importante do que isso, gostaria de discutir soluções mais genéricas que, independentemente de disposições legais aplicáveis, poderiam tornar as relações empregatícias mais harmoniosas.
É sempre mais fácil queixarmos das leis mal feitas, ou de decisões aparentemente equivocadas do nosso judiciário (ou de tribunais desportivos). Porém as medidas mais eficazes são aquelas tomadas pela pró-atividade das partes envolvidas, através principalmente do diálogo e da transparência nas relações.
Assim, entendo que clubes e jogadores, através de entidades representativas das classes nas qualidades de empregadores e empregados, respectivamente, devem se reunir em uma mesma mesa, e discutir questões críticas e procurar soluções que visem mitigar os problemas atualmente existentes.
Tomo como exemplo o que atualmente existe na Europa. A Comissão da União Européia, presidida pelo português Durão Barroso, instituiu um programa denominado Social Dialogue (diálogo social). Através desse programa, procura-se trazer à baila empregados e empregadores de diversos setores da economia, em busca de relações de trabalho mais humanas. As relações de trabalho são o fiel da balança em um determinado setor. Se não houver equilíbrio, dificilmente haverá prosperidade. Essa é a base para a criação do programa por parte da EU Commission.
No âmbito do futebol, clubes ligas e jogadores, a nível nacional, bem como entidades representativas como a FIFPro (representando atletas profissionais europeus) e EPFL (representando as ligas profissionais) a nível continental, encontram-se discutindo, no âmbito do Social Dialogue, formas de melhorar o relacionamento entre as partes. Dentro do escopo das discussões encontram-se temas como padronização de contratos de trabalho, proteção a menores, home-grown players (como discutido em nossa última coluda), estabilidade contratual, entre outros temas de grande relevância.
Nessa medida, o mesmo deveria ocorrer no Brasil. Temos que encontrar meios de conversas entre as partes, com a mediação ou mesmo observação de autoridades competentes, para que haja uma melhora espontânea nas relações de trabalho, levando inevitavelmente a uma melhora na qualidade dos serviços prestados (o jogo do futebol).
Isso levará a uma última análise a um melhor espetáculo, levando a um maior interesse do público, e, por fim, maior desenvolvimento de nosso produto do futebol.
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Quem é melhor, mesmo?
Eis que o Manchester United ganhou a Champions League.
E, por causa do Anelka, devem levar pra casa uma bagatela de R$ 320 milhões, conforme indica um estudo da Mastercard sobre o quanto vale ganhar uma Champions League.
É, de longe, o campeonato que melhor paga pro vencedor.
Singela ironia que o título tenha vindo justamente do jogador mais caro do mundo, vai saber lá o porquê disso, Nicholas Anelka.
E o jogador mais caro do mundo também deve ajudar a eleger o melhor jogador do mundo, que eu aposto que vai ser o Ronaldo, Cristiano, a não ser que algo de assombroso aconteça na Eurocopa, que deve ser ganha pela República Tcheca, diz o relatório do banco suíçoUBS, que costuma acertar bastante suas previsões. Se bem que de acordo com o UBS, Portugal não deve passar nem da primeira fase, o que pode eventualmente danificar as chances de Ronaldo, Cristiano ganhar o prêmio da Fifa.
Voltando à Champions League e ao Manchester, vale salientar que o clube deve usar boa parte do dinheiro gerado para pagar as dívidas contraídas pelo Glazer, conforme mencionado na semana passada. O que eu não havia mencionado, porém, é que o Chelsea também está em dívidas, muitas dívidas, que giram em torno de R$ 3 bilhões. A maior parte, curiosamente, é devida para o próprio dono, Abramovich, que depositou pouco mais de R$ 2 bilhões para tirar o clube do ostracismo. Entretanto, esses R$ 2 bilhões foram emprestados sem juros, ou seja, se Abramovich for embora, ele pede só, só, o dinheiro que ele emprestou, sem correções nem nada mais.
Curiosamente, é a situação inversa do Manchester, cujo dono contraiu dívidas para comprar o clube e repassou as dívidas ao próprio clube, com juros de uns R$ 240 milhões por ano, e que só tende a aumentar.
Nenhum dos dois modelos é propriamente a coisa mais indicada a ser seguida. Mas se tiver que escolher, o do Chelsea é melhor.
Só que quem é melhor, na verdade, é o Manchester.
Vai entender.
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A lógica da bola
Manchester United e Chelsea fazem na próxima quarta-feira uma das mais midiáticas finais de Liga dos Campeões da Europa dos últimos tempos. O jogo é visto como a consagração inglesa. Mas, sinal dos tempos, essa consagração acontece não por causa do estilo de jogo dos britânicos.
A primeira final inglesa da liga é a coroação do estilo inglês de gerenciar equipes de futebol. Desde a metade os anos 90, os ingleses estão na vanguarda da administração de clubes. Inicialmente era apenas o Manchester United quem se apresentava na liderança do gerenciamento de um clube como empresa. Agora, num outro modelo, o Chelsea também comprova a superioridade britânica.
Mas a decisão inédita na Europa mostra algo que, em gramados latino-americanos, podemos comprovar cada vez mais. A lógica da bola tem seguido a lógica da grana dos clubes. Dos oito finalistas da Libertadores, existe apenas um intruso, que é a LDU, do Equador. Os outro sete times são, logicamente, equipes de Brasil, Argentina e México, os três países com mais dinheiro em seus clubes.
A modernização do futebol tem feito com que cada vez menos um clube tenha sucesso fazendo tudo da maneira errada. Gastar mais do arrecadar, não investir em infra-estrutura, não ter um departamento técnico preparado e atualizado. Tudo isso já faz parte hoje das premissas para se formar uma equipe vencedora.
É impossível um clube imaginar-se na disputa de títulos se não fornecer estrutura de treinamento aos atletas. Se não der a eles condições boas para se recuperar de lesões, se não tiver profissionais capacitados em cada uma das áreas, desde a administração até a psicologia.
O futebol hoje é uma complexa empresa, que para piorar depende em demasia de um fator externo que foge a toda essa gestão organizada: o resultado.
Sem ele, é muito difícil manter a casa em ordem. Uma empresa pode perder um pouco de dinheiro num ano e se recuperar no outro. No futebol, a pressão da mídia e da torcida fazem com que a derrota muitas vezes signifique a necessidade de mudança de rumo na estruturação de uma equipe.
Ou seja, a bola tem cada vez mais lógica. Mas, ainda assim, permanece sem lógica. Por isso que é tão contagiante…
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Tenho um grande amigo que é da polícia. Mais especificamente de um grupo de elite da polícia que se envolve com ações táticas especiais. Sua equipe tem vinte homens que se revezam em operações das mais variadas. Em geral agem em quinze policiais. Através de um rodízio de trabalho cinco “descansam” em estado de alerta. Nos treinamentos os vinte treinam em formações que geralmente compõem um grupo de quinze ou em números reduzidos, múltiplos de três. Todos estão sempre bem preparados, prontos para qualquer chamado, alertas para qualquer ação.
Dia desses, conversando com “Mano Basílios” (mais um dos notáveis do Café) me lembrei desse meu amigo da polícia. E como conversa vai, conversa vem, como lembrança vai, lembrança vem, as reflexões sobre a organização e logística das ações policiais me levaram a reflexões futebolísticas sobre os recorrentes surgimentos dos times “tapa buracos de revezamento” (os “expressinhos”, os “times B” e os “catados”).
A primeira vez que assisti a um treinamento de uma equipe de futebol profissional no Brasil fiquei surpreso. Onze jogadores faziam um trabalho tático em campo com o treinador, enquanto os demais atletas da equipe, realizavam treino de “sprints” atrás do gol.
Como sempre digo aos meus alunos, não podemos avaliar o trabalho de um treinador fazendo simples observações de um dos seus treinos (sem compreender o processo e seus objetivos). Então voltei dias seguidos para observar novos treinos da equipe.
Quando o treino não era “físico”, lá estava o grupo separado. Algumas vezes junto dos onze (ou dez quando o goleiro não participava), alguns “sparrings” (entendamos sparrings por “jogadores que colaboram para a evolução do treinamento dos outros”).
Indo além nas minhas observações, conversando, perguntando, pesquisando e colhendo informações descobri que tal “modelo” de trabalho não era característica comum apenas daquela equipe. Era quase praxe no meio.
Interessante no Brasil, os desdobramentos gerados por tal prática.
Muitas das principais equipes brasileiras acabam por participar de mais de uma competição ao mesmo tempo. Para poucas todas as competições são muito importantes. A maioria das equipes acaba por privilegiar essa ou aquela. Em função disso é cada vez mais comum poupar jogadores em um jogo (de uma competição “menos importante”) para poder aproveitá-los melhor em outro (de uma competição “mais importante”).
Isso traz à tona rótulos que acabam por “taxar” as equipes que têm dois ou mais de seus “principais jogadores” poupados; e daí surgem os “expressinhos”, os “times B”, os “catados”, etc e tal. Pura e exclusivamente para salientar que a equipe em campo não é aquela mais forte, mais apta, a principal.
O rótulo é sempre reforçado quando a “equipe B” apresenta rendimento abaixo do esperado (e tem resultado negativo);e isso aumenta a cobrança para que as equipes joguem sempre com os seus principais atletas (o que leva a desgastes maiores, maior número de lesões e a óbvia performance a desejar).
Mas é claro! Como esperar bons resultados se o próprio processo de treinamento empregado corre em detrimento da idéia de se ter mais do que onze jogadores, aptos, entrosados, prontos e preparados para entenderem o mesmo jogo e jogarem pelo mesmo modelo de jogo?
Se não se prioriza o grupo como um todo, não se conseguirá, ao se substituir um certo número de jogadores, manter um nível de excelência.
Muitas vezes culpa-se aos jogadores que acabam entrando (para poupar outros) pelo baixo rendimento da equipe. Porém, se enquanto os poupados estão dentro de campo recebendo instruções táticas nos treinamentos os substitutos estão atrás do gol realizando treinos de sprint, fica inconcebível imaginar que terão eles a mesma competência dentro do jogo.
Então, acabam sendo os próprios treinadores, vítimas dos seus próprios desconhecimentos; e os seus “expressinhos” os filhos de seus próprios descuidos.
Muitos dirão que não é possível manter o nível de jogo substituindo jogadores que são titulares por jogadores de menor potencial. O fato é que a abordagem de treinos como é feita só serve para amplificar as possíveis diferenças já existentes no nível de jogo de atletas que são ou não titulares.
Aliás, os conceitos de titular e reserva deveriam ser revistos. O pensamento deveria ser “quais são os melhores onze para iniciar o próximo confronto” e não “quais são os onze melhores jogadores do meu grupo para todo o campeonato“.
Mais uma vez poderia eu, dar diversos exemplos de equipes fora do Brasil, que por compreenderem melhor o processo competitivo, jogam qualquer jogo de qualquer campeonato com força máxima mesmo com um sem número de jogadores diferentes de uma partida para outra (vide como exemplo mais recente a equipe do Manchester United enfrentando a Roma pela Liga dos Campeões 2007/2008 nas quartas-de-final, levando a campo no segundo jogo uma equipe com cinco jogadores diferentes daqueles que participaram do primeiro confronto – venceram os dois confrontos).
“Todos sabem qual é a diferença entre as grandes equipes, como o Chelsea (na época de Mourinho), e as equipes de sucesso ocasional, como o Liverpool de Rafael Benitez: é que umas lutam pela vitória em qualquer terreno, sabendo que a derrota é um risco, e outras esgotam as suas energias numa competição, sabendo que, no resto, a derrota é o preço a pagar pela impotência de lutar por esse grande desígnio de dar sempre uma boa luta em qualquer competição que apareça pela frente” (trecho do livro do jornalista José Marinho (2007): José Mourinho, vencedor nato. pág. 75).
Como diz meu amigo policial, ninguém do seu grupo pode estar “mais ou menos” apto ao trabalho. Ou se está pronto, ou não. E se não está não pode estar no grupo, nem em ação, nem descansando em alerta. Afinal de contas, em qualquer missão, cada um dos escalados tem nas mãos a vida do seu companheiro, um pelo outro, o tempo todo. Não há titulares ou reservas. Há quem está de serviço e quem não está. E ponto final!
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Caros amigos da Universidade do Futebol,
Todos nós sabemos que o mercado Europa infesta-se de jogadores de futebol brasileiros. E não é à toa. Nossos jogadores, via de regra, mostram no Velho Continente que possuem uma qualidade técnica que em média é muito superior aos demais jogadores, eu diria, do mundo (exceção talvez feita aos jogadores argentinos).
De toda forma, o que temos notado é que aqueles jogadores formados fora da Europa terão, a cada dia, maior dificuldade de atuar em clubes europeus.
A Uefa (confederação continental européia) tem grande preocupação com a formação de jogadores europeus (os chamados “home-grown players”). Para se ter uma idéia, durante a temporada 08/09 nas suas principais competições de clubes (Liga dos Campeões e Taça Uefa), adotar-se-á a regra de que, do limite de 25 jogadores que podem ser inscritos, oito obrigatoriamente devem ser formados na Europa (entenda-se formado na Europa, em linhas gerais, o jogador que tenha sido registrado por um clube europeu durante três temporadas no período entre seus 15 e 21 anos).
O número parece pequeno de home-grown players, porém tem sido gradualmente elevado. Na temporada 06/07 eram quatro. Na temporada 07/08, foi aumentado para seis.
A Fifa também apóia essa iniciativa. Vimos o Presidente Blatter dizer na cerimônia de entrega de da Copa de 2014 ao Brasil: “Jogadores brasileiros, fiquem em seu país.”. A grande justificativa é o receio de que se perda a identidade local dos clubes, com o excesso de jogadores que, por terem sido formados fora daquele país, não colaborariam para manter viva a cultura local através do futebol.
Interessante notar que essa regra nada diz respeito com relação à questão da cidadania do jogador. Ou seja, o que importa é que a quota mínima de jogadores tenha sido treinada na Europa, podendo ser de outra nacionalidade. Brasileiros poderiam “driblar” essa regra caso tenham sido treinados pelo menos três temporadas nas suas formações em clubes europeus.
Para a questão da cidadania, lembramos que existe outra regra que limita o número de estrangeiros dentro das quatro linhas, dependendo da competição.
A questão interessante a se pensar é até que ponto chegará esse limite mínimo de home-grown players que vem crescendo a cada temporada? Poderá um dia haver uma tentativa de não se admitir jogadores formados no exterior? Além disso, questões de ordem legal saltam aos nossos olhos: não seria uma regra que limitaria o direito de trabalhar dos jogadores? E o direito a livre concorrência? Ou essas questões estariam cobertas pela especificidade do esporte?
E não seriam apenas os jogadores os prejudicados. Do outro lado da balança temos os clubes e as ligas européias, que obviamente querem times mais competitivos, e, portanto, recheados de estrangeiros de qualidade. Essas partes igualmente se oporiam a uma limitação exagerada de jogadores formados no exterior.
Até onde temos notícia, não há julgados nas Cortes européias sobre essa matéria. Mas, certamente, caso o limite mínimo de home-grown players continue a subir, muitos casos deverão surgir.
Vendo a questão pelo lado do mercado brasileiro, essa potencial confusão jurídica pode dar mais uma deixa para que os clubes e federações aproveitem para manter bons jogadores por maior período no Brasil, e assim colaborar para o desenvolvimento do futebol pátrio.
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The Champions
Tava demorando para a Inglaterra conseguir encaixar dois clubes na final do principal campeonato de clubes do planeta. Tava demorando, mas não tardaria. Como não tardou.
Tanto o Manchester quanto o Chelsea são dois dos mais ricos clubes do planeta que, aliados ao fato de estarem dentro da Liga mais poderosa do mundo, também se tornam duas das maiores potências do futebol mundial. O Real Madrid é, de fato, o clube mais rico do mundo. Entretanto, a La Liga sofre com a falta de dinheiro dos outros clubes, principalmente quando comparada com a Premier League, o que naturalmente compromete o fortalecimento de mercado dos clubes que fazem parte dela. Por conta disso, e de tantas e tantas outras coisas, ninguém consegue competir muito com os clubes ingleses. A única imprevisibilidade que se dá na Champions League é originária do formato eliminatório. Fosse pontos corridos, normalmente daria Inglaterra na cabeça.
Apesar desse poderio econômico e fortalecimento mercadológico, nem o Manchester e muito menos o Chelsea podem ser considerados grandes modelos a serem seguidos.
O primeiro, o Manchester, foi comprado a alguns anos atrás por um investidor americano, o tal do Glazer. A princípio, imaginava-se que ele tinha uma grana e que tava pensando em fazer dinheiro. Depois, descobriu-se que ele não tinha tanta grana assim, mas que tava pensando em fazer dinheiro. Basicamente, Glazer convenceu um monte de instituição a lhe emprestar dinheiro para comprar o Manchester. Quando ele comprou, ele transferiu a dívida que ele havia contraído para o próprio clube. Hoje, a dívida do Manchester é gigantesca. Só de juros, são quase 250 milhões de reais por ano. A previsão pro futuro, entretanto, permanece otimista. O problema é que caso haja maiores conseqüências na crise de crédito americana, os efeitos podem migrar para o Reino Unido e aumentar ainda mais os juros e os montantes devidos. Aí, se o time começa a perder e as pessoas começam a deixar de ir ao jogo, a receita diminui e deixa de cobrir a despesa. Aí gera problema, que gera problema, que gera problema. Nada que sirva de exemplo para o mundo.
O segundo, o Chelsea, também serve como exemplo para pouca coisa. Era um clube a beira da falência, próximo de fechar as portas, quando foi salvo por um tetralionário que não parou de injetar dinheiro até transformar o clube numa das grandes potências do futebol europeu e mundial. Ainda não tem uma torcida forte, tampouco serve como modelo de desenvolvimento sustentável de um clube de futebol. Talvez em dez anos sirva como modelo de gestão. Hoje, não. Definitivamente não.
Que o melhor conquiste o tão cobiçado título, mas que ninguém acredite que o campeão de Europa deverá servir de modelo para alguma coisa.
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A importância da concentração
A psicologia já é uma realidade no dia-a-dia do esporte há muitos anos. No futebol, venceu a barreira do preconceito e se torna, hoje, fundamental para aqueles que enxergam a modalidade de uma maneira profissional, completa, integrada. Não é possível falar em equipe vencedora sem antes imaginar a presença de um psicólogo para auxiliar na preparação dos atletas.
Talvez só um psicólogo pudesse explicar o que se passou entre Carlos Alberto e Fábio Santos na concentração são-paulina. Ou só ele conseguisse evitar uma situação dessas dentro de uma equipe.
Felipão fez excelente uso, na Copa do Mundo de 2002, das informações de psicólogos sobre o perfil de seus atletas, sobre o que serviria como motivação para uns e o que seria contra-producente para outros. Mas fez isso do próprio bolso, depois de em vão tentar convencer a CBF a separar uma verba para um profissional da psicologia em sua equipe.
O psicólogo não é a finalidade numa equipe de futebol, mas sem dúvida pode ser visto como um meio importante para se alcançar uma vitória. Afinal, suas análises podem ser usadas para se saber quando um atleta corre o risco de desiquilibrar, para o bem ou para o mal, numa partida. E, principalmente, seu trabalho é o suporte para manter a equipe com o foco no jogo, no campeonato, no alcance de um objetivo.
E para quem acredita que, por ser um esporte coletivo, o futebol não necessita tanto da concentração absoluta de todos os seus jogadores, façamos um exercício de análise. Vou tomar como exemplo algumas partidas que aconteceram no país nas últimas semanas e que mostram o quanto o fator concentração interfere no desempenho de uma equipe.
O exemplo mais bem acabado é o Maracanazzo flamenguista na Libertadores. Fizeram tanta festa antes da saída de Joel que o time esqueceu que ainda faltava enfrentar o América mexicano. Resultado: humilhante derrota por 3 a 0 e queda na mais ganha oitavas-de-final da competição.
Mais ou menos o mesmo efeito sedativo que tomou conta do Palmeiras, em meio à disputa da final do Paulistão, contra o já campeão pernambucano Sport. Um 0 a 0 insosso dentro de casa e uma goleada fora: 4 a 1, com direito a olé e eliminação da Copa do Brasil.
O mesmo Sport enfrentou depois o Inter, pós título gaúcho com 8 a 1 na final sobre o Juventude. No primeiro jogo, no Beira-Rio, apenas 1 a 0, e a sensação de que o time não rendeu nada do que seria possível.
Situações que também ilustram o sentimento da importância da concentração dos jogadores num time foram as derrotas de São Paulo e Santos no final de semana de estréia do Nacional. Cabeça na Libertadores = derrota no Brasileiro.
Para alcançar a vitória, uma equipe precisa estar consciente do objetivo, ter a firmeza do que é preciso ser feito dentro de campo para isso. A psicologia ajuda. Por ela é possível saber o perfil de cada atleta, o atalho para deixá-lo concentrado em sua meta. Sem ela, tudo vira “achismo”, e a falta de concentração pode custar a cabeça de muita gente. Além da dor de cabeça no torcedor…
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