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Em 1880, o cubano e genro de Karl Marx, Paul Lafargue publicou um texto clássico denominado “O Direito à Preguiça”, uma crítica contundente ao regime capitalista.
Os recentes pedidos de dispensa por parte dos atletas Kaká e Ronaldinho Gaúcho da Seleção Brasileira que irá disputar a Copa América 2007 nos próximos meses de junho e julho, provocaram algumas críticas e comentários questionando a atitude desses dois craques brasileiros e me fizeram lembrar deste ensaio.
Lafargue no final do século XIX queria combater os exageros do trabalho. Havia trabalhador que chegava a trabalhar 14, 15 e até 16 horas por dia. Um verdadeiro absurdo na opinião deste médico e militante socialista. Defendia que o ideal seria trabalhar cerca de 3 ou 4 horas por dia.
Na verdade um jogador de futebol, em média, não treina muito mais do que 3 ou 4 horas por dia. Entretanto a alta competitividade que cerca o futebol profissional neste século XXI exige muito mais de cada atleta do que as poucas horas que ficam dentro do campo. É preciso cuidados especiais com a alimentação, com o repouso, com a cabeça para enfrentar a enorme pressão e cobranças que vem de toda a parte, além claro das preocupações com inúmeros compromissos que cercam o profissionalismo hoje em dia.
Portanto, nada mais natural do que respeitar o direito que um jogador de futebol, famoso ou não, tem de usufruir de tempos em tempos de um merecido descanso ou férias, sem qualquer tipo de moralismos ou inveja.
O direito ao lazer, o direito ao ócio, ou se quiser o direito à preguiça é um direito de qualquer trabalhador. Por que não de um jogador de futebol?
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O poder do microfone
Uma das máximas que consagrou a imprensa mundialmente é aquela referente ao poder que o microfone exerce na vida das pessoas. Uma frase mal-colocada a um microfone pode, certamente, arruinar o autor da entrevista.
No futebol, a emoção que contagia uma partida acaba sendo um prato cheio para que o microfone passe a ter ainda mais poder na vida do esporte. Declarações repletas de emoção acabam sendo interpretadas de forma errônea ou, mais recentemente, servem de prova para julgar e condenar um atleta que fere o comportamento desportivo.
Na última quinta-feira, porém, o técnico Vanderlei Luxemburgo, do Santos, levou ao pé da letra o conceito do poder do microfone. Na entrevista coletiva para a imprensa após a suada vitória sobre o Caracas, assegurando vaga nas quartas-de-final da Copa Libertadores, Luxemburgo usou o microfone para protestar.
Após ser questionado sobre o jogo por um repórter da ESPN Brasil, Luxemburgo usou o momento que tinha para falar para abrir a boca contra um comentarista da emissora. Sem citar nomes, simplesmente aproveitou a presença de um repórter da ESPN para reclamar publicamente de críticas que lhe são feitas durante programas do canal.
A resposta ao repórter não foi feita. O protesto, também, soou como oportunismo barato do comandante santista, sem certamente surtir o efeito esperado. Afinal, as críticas não vão cessar, muito menos após uma reclamação pública contra elas.
O microfone tem poder, sem dúvida alguma. Mas esse poder só consegue ser efetivo quando usado com inteligência. Luxemburgo não soube ter calma para se comportar como o devido na entrevista coletiva. Seria mais simples se o comandante santista tivesse deixado para conversar com o repórter após a entrevista, tentando encontrar uma solução para o impasse. Uma resposta em público só serve para fomentar a antipatia.
O preço da vitória
Santos campeão paulista e classificado para as quartas-de-final da Libertadores. Grêmio campeão gaúcho e também com vaga nas quartas do torneio continental. Atlético-MG campeão mineiro e eliminado polemicamente na Copa do Brasil.
Das previsões catastróficas feitas neste espaço na última semana, só mesmo a do Flamengo, que era quase caçapa cantada, se concretizou. Mostra de que o treinador é que sabe mesmo quais são os limites de sua equipe e qual jogador pode render mais ou menos. O jornalista pode até ter uma boa visão de fora de campo. Mas, dentro dele, quem sabe de todos os detalhes, sem qualquer dúvida, é o treinador.
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O Tapetão Inglês
Quando o West Ham anunciou a contratação de Tevez e Mascherano, no apagar das luzes da janela de transferência européia de verão, o mundo do futebol foi pego de surpresa. Afinal, ninguém esperava que os jogadores argentinos do fundo internacional MSI que atuavam no Corinthians do Brasil fossem parar num clube mediano da mais rica liga nacional de clubes do planeta, a Premier League inglesa. Um sinal da forte internacionalização do futebol mundial.
Depois de um começo conturbado, as coisas começaram a se ajeitar para os dois argentinos. Após apenas alguns jogos pelo West Ham, Mascherano foi repassado ao Liverpool, onde acabou assumindo a posição de titular e chegando à final da Liga dos Campeões. Tevez, por sua vez, permaneceu em Londres e assumiu posição de destaque da equipe, tendo sido inclusive escolhido pela torcida como o melhor jogador da temporada, e ajudou o time na escalada para escapar do rebaixamento. Aparentemente, depois da tormenta, havia enfim chegado a calmaria.
Entretanto, a calmaria parece ser apenas ilusória. No horizonte do West Ham, e do próprio campeonato inglês como um todo, começa a se formar uma densa e temerosa tempestade.
Logo após surpreendente transferência entre Corinthians, MSI e West Ham, a Premier League investigou como ela tinha transcorrido, e chegou à conclusão que algumas normas haviam sido quebradas, que papéis foram omitidos, e que mentiras foram contadas. O principal problema, aparentemente, foi o clube ter acordado uma transferência com jogadores que pertenciam a terceiros, o fundo de investimento, coisa que é proibida no regulamento do campeonato inglês. Com isso, a Premier League multou o West Ham em cinco milhões de libras, cerca de 20 milhões de reais, a maior multa já aplicada a um clube inglês.
Vinte milhões de reais podem parecer muita coisa. Porém, apesar do alto valor aplicado, alguns clubes ingleses acreditam que a punição foi muito branda, tudo porque a multa só foi financeira, e não teve dedução de pontos do time, o que contraria um certo padrão de punições da Premier League, que normalmente multa em dinheiro e deduz alguns pontos. Esses pontos que não foram deduzidos permitem que o West Ham possa ter a possibilidade de escapar do rebaixamento para a segunda divisão na próxima temporada, uma vez que ele está três pontos na frente do Wigan, o primeiro da lista da degola. O argumento de defesa da Premier League, e do West Ham, é que a multa de cinco milhões de libras já é uma punição suficientemente grande, e não há a necessidade de tamanha soma de dinheiro vir conjunta à dedução de pontos.
Entretanto, no ano que vem entra em vigor o novo contrato de transmissão da Premier League, o maior da história. Com ele, um clube com uma boa performance na próxima temporada pode receber até sessenta milhões de libras. E, mais importante pro assunto dessa coluna, um clube que cair de divisão nessa temporada deve perder em torno de vinte milhões de libras, quatro vezes mais do que o valor da multa aplicada ao West Ham.
Não é por acaso que o West Ham não vai recorrer da multa. E também não é por acaso que seis clubes da Primeira Divisão estão estudando maneiras de entrar na justiça contra o West Ham e contra a Premier League. Colocando de uma maneira resumida, caso a batalha jurídica realmente aconteça, será uma briga por oitenta milhões de reais. E brigas que envolvem tamanho montante tendem a não ser lá muito pequenas.
Essa briga, apesar de localizada, pode ter reflexos no mundo inteiro. Primeiro porque vai afetar o maior mercado de futebol do mundo, o que consequentemente já gera grandes efeitos para a rede integrada do mundo do futebol. Segundo que pode ser o princípio de alguma revolução maior no mercado de clubes, podendo inclusive dar margem a maiores rompimentos entre clubes, ligas e federações. E por último, e mais importante para o Brasil, o imbróglio pode levar os órgãos governamentais do futebol a tomar atitudes enérgicas para com a origem de toda essa confusão: os fundos de investimentos e a posse de direitos econômicos sobre transferência de jogadores.
É difícil dizer o que vai acontecer. Prevendo as possíveis danosas conseqüências de tudo isso, o ministro dos esportes britânico, Richar Carbon, urgiu os clubes a tentarem chegar a um acordo comum e não procurarem a justiça para resolver a discussão. É um sinal de que os efeitos dessa briga podem ser maiores do que se imagina.
O horizonte é tenebroso na Inglaterra. Os efeitos da tempestade são imprevisíveis para o mundo. E a origem disso tudo, curiosamente ou não, está no futebol brasileiro.
Culpa da globalização.
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Os campeões e os vices
Santos, Paranavaí, Grêmio, Atlético Mineiro, Atlético Goianiense, Flamengo, Vitória, Sport de Recife são alguns dos campeões estaduais de futebol em 2007. São Caetano, Paraná Clube, Juventude, Cruzeiro, Goiás, Botafogo, Bahia, Náutico são os vices.
Mas bem que poderia ser o contrário. E caso isso acontecesse, haveria justificativas para todos os resultados. Entretanto essas justificativas ou explicações são, quase sempre, anunciadas após os fatos consumados. As previsões antes dos eventos são quase sempre superficiais e inconsistentes.
São poucos os observadores, jornalistas ou aficionados, que procuram analisar todos os elementos que compõem a complexidade do futebol e buscam luzes para conscientemente prever o futuro.
Como se pode ler no livro “Desafio aos Deuses – A Fascinante História do Risco” de Peter Bernstein “a idéia revolucionária que define a fronteira entre os tempos modernos e o passado é o domínio do risco: a noção de que o futuro é mais do que o capricho dos deuses e de que homens e mulheres não são passivos diante da natureza”.
O futebol, como tudo na vida, é um sistema complexo e dinâmico. E para entendermos o que isso significa talvez precisássemos estudar um pouco mais sobre as teorias que analisam o risco e o caos.
Essa teoria tenta nos explicar como e por que as coisas acontecem. E sinaliza no sentido de que os resultados, embora instáveis, são passíveis de previsão. A simples formação de uma nuvem no céu, por exemplo, é conseqüência de vários fatores como o calor, o frio, os ventos, o clima, a evaporação da água entre outros e, portanto, passível de ser prevista.
E assim também pode ser um jogo de futebol. Seu resultado pode ser causado por um incidente na concentração, uma palavra bem ou mal colocada pelo treinador, um placar positivo ou negativo no jogo anterior, um lance inesperado da equipe adversária e assim por diante.
Provavelmente é a somatória desses fatores objetivos e subjetivos que determinam o resultado final de uma partida. Bastaria conhecê-los para que pudéssemos prever que Santos, Paranavaí, Grêmio, Atlético, Flamengo, Vitória, Sport, seriam os campeões estaduais de 2007.
Mas será que quando isso puder acontecer o futebol não perderá um pouco do seu encanto?
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O preço da vitória
Santos, Grêmio, Flamengo e Atlético-MG sagraram-se campeões estaduais na tarde do último domingo. Nem mesmo três dias depois de festejarem a conquista, os jogadores desses quatro times entrarão em campo para mais uma decisão: a classificação para a fase seguinte das competições que disputam.
O Santos se desgastou para alcançar os 2 a 0 no São Caetano. O Grêmio passeou no Olímpico em cima do Juventude. O Atlético se preocupou com a derrota por 2 a 0 para o baleado Cruzeiro, atropelado na semana anterior. O Flamengo só superou o Botafogo nos pênaltis numa eletrizante decisão no Maracanã.
Talvez è exceção do Galo mineiro, os outros três times não puderam pensar em poupar jogadores e muito menos se pouparem dentro de campo para a disputa das decisões no meio de semana. E por que isso acontece?
Imagine se Vanderlei Luxemburgo abrisse mão de escalar todos os titulares na árdua tarefa santista de derrubar o fantasma azul de São Caetano. Ou, então, que Mano Menezes deixasse Lucas de fora da batalha regional no Olímpico. Que Levir Culpi entrasse com o time reserva depois de enfiar quatro no primeiro jogo. E, por fim, que o Flamengo abrisse mão da conquista carioca para estraçalhar o Defensor na quarta-feira.
Choveriam críticas ao comportamento “antiesportivo” dos treinadores dessas equipes. Pelo menos até o meio de semana, quando o time vencesse e, então, os treinadores seriam transformados em gênios.
Normalmente a imprensa critica a falta de planejamento e de trabalho de longo prazo dos clubes de futebol. Não faltam vozes para desancar o dirigente que demite o treinador só porque os resultados não aparecem. Mas quem é o primeiro a se levantar contra a falta de resultados de uma equipe?
A pressão exercida pela imprensa no dia-a-dia da cobertura dos clubes de futebol é, sem dúvida alguma, uma das grandes responsáveis pela falta de cumprimento ao planejamento dentro dos clubes.
Muricy Ramalho foi duramente criticado pelos jornalistas por não mudar o time do São Paulo no empate contra o São Caetano na primeira semifinal do Campeonato Paulista. Talvez Muricy estivesse pensando no jogo da quarta-feira seguinte, quando, com o time reserva (que estava descansado), bateu o Alianza Lima e ficou em primeiro do seu grupo, em posição de vantagem para decidir a vaga em casa e pronto para enfrentar o Azulão.
Mais fácil dizer que Muricy era “teimoso” ao manter o time jogando daquela forma do que tentar ouvir dele uma explicação plausível para a “teimosia”.
A obrigação dos resultados é, acima de tudo, uma exigência que a opinião pública coloca para dentro dos clubes de futebol. É raro vermos um jornalista defender um treinador quando ele poupa o seu time numa partida decisiva pensando numa decisão futura.
Imagine o estardalhaço que seria se o Santos tivesse optado por deixar escapar o título paulista e preservasse seus atletas para seguir firme na Libertadores? Será que a imprensa entenderia isso?
Obviamente que o torcedor age de maneira irracional quando vê seu time perder uma decisão. Mas, às vezes, é melhor estabelecer prioridades. E já passou da hora de a imprensa entender isso quando vai criticar a decisão de um treinador…
Do contrário, a vitória sempre terá o ônus do cansaço para a decisão da partida seguinte.
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O Exemplo do Leeds United
Dias atrás, foi confirmada a queda do Leeds United para a Terceira Divisão do Campeonato Inglês. Sim, o Leeds. Aquele que certa vez contratou o Roque Júnior e que entrou na disputa pra levar o Ronaldinho Gaúcho do Grêmio. O mesmo Leeds que há seis anos atrás brigava com o Valencia nas semifinais da Liga dos Campeões. Há seis anos, o Leeds era pro mundo esportivo o que hoje são Liverpool, Chelsea, Manchester United e Milan. Hoje, parece mais com o Bahia.
O declínio do Leeds é resultado da convergência de uma série de fatores técnicos, mas todos derivados essencialmente de uma questão econômica.
Na temporada seguinte após a surpreendente chegada às semifinais da Liga dos Campeões, o Leeds se reforçou em campo. Para tal, colocou em campo jogadores como Paul Robinson, Woodgate, Rio Ferdinand, Danny Mills, Dacourt, Bowyer, Robbie Fowler, Robbie Keane, Viduka, Kewell e Alan Smith. A aposta era ir bem no Campeonato Inglês e conseguir a classificação para a Champions League da temporada seguinte.
No final da temporada, cinco míseros pontos separaram o Leeds da Liga dos Campeões. Com o quinto lugar do campeonato, o time conseguiu apenas a classificação para a Copa da Uefa. Foi o começo do desastre. Tão logo o time perdeu a vaga, a diretoria anunciou que no começo da temporada, ela havia realizado um empréstimo gigantesco para conseguir bancar as contas do time. A idéia era que tal time conseguiria a classificação para a Liga dos Campeões, e o empréstimo eventualmente seria pago com a enorme soma de dinheiro que viria de patrocinadores, direitos de televisão e dos dias de jogos. Foi uma aposta arriscada. Que não deu certo.
O time perdeu a vaga e, consequentemente, toda a receita futura projetada. No final das contas, o time não conseguiu bancar o empréstimo e muito menos o salário dos jogadores. Como resultado, atletas foram vendidos por conta do desespero fiscal, que implica diretamente em menor poder de barganha, e os novos contratados correspondiam à realidade do caixa do clube. Deu-se início a um espiral de declínio. O clube entrou num ciclo vicioso de péssima performance e péssimo fluxo de caixa.
O Leeds até conseguiu escapar do rebaixamento na temporada imediatamente seguinte. Mas na outra não deu. O time caiu pra segunda divisão e, com o enorme montante de dívidas, que quase bateu nos R$ 500 milhões, começou a ser passado de mão em mão, de dono em dono.
Com alguns sacrifícios, a direção do clube resolveu zerar a dívida, ou seja, fechou a torneira para maiores pagamentos. No sistema futebolístico um pouco mais racional que é o futebol inglês, isso significa em imediata perda de performance. Culminou, agora, com o rebaixamento para a terceira divisão.
A idéia, porém, é que o clube possa se reerguer em breve, com as dívidas zeradas, e alcançar a glória de outrora. Talvez tenha chegado ao fundo do poço, mas foi a conseqüência natural de uma aposta financeira extremamente arriscada. Qualquer pessoa que pense com o mínimo de lógica dentro do mundo do futebol sabe que não se contrai dívidas pensando que estas serão pagas a partir da receita gerada pelos resultados em campo. Contrai-se dívida que possam ser controladas, em investimentos mais palpáveis e não tão dependentes da ação do acaso.
O Leeds é um caso clássico que uma boa parte dos maiores clubes do Brasil deveria prestar atenção. Eles pagam um preço caro por uma atitude racionalmente errada, mas que tende a não ser tão incomum por terras tupiniquins.
É claro que uma dívida aqui talvez não signifique a mesma coisa que uma dívida por lá. Porém, com a ascensão do mercado financeiro por essas bandas e com a responsabilidade fiscal passando a desempenhar um intenso papel no mercado nacional, os clubes que ainda se arriscam nesse tipo de aposta podem começar a pagar caro, assim como o Leeds vem pagando há um bom tempo.
Esqueçam o Manchester United, o Chelsea, o Liverpool ou o Arsenal. O melhor exemplo do futebol inglês para o futebol brasileiro, acredite, é o Leeds United.
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Em minha coluna da semana passada brinquei com os leitores da Universidade do Futebol dizendo que o Santos seria o campeão paulista de 2007. A idéia, na verdade era questionar as análises simplistas que costumam fazer os aficionados do futebol, prevendo os resultados dos jogos com certezas que quase sempre não correspondem à realidade. E comentei que o favoritismo no futebol costuma desmobilizar os favoritos e desmoralizar os entendidos.
Não sei se o favoritismo do Santos desmobilizou o time para o jogo com o São Caetano, mas que desmoralizou alguns entendidos, isso não tenho dúvidas.
É interessante constatar que fazer previsões, definir favoritos, adivinhar o que vai ocorrer numa partida parece ser tão estimulante quanto o jogo de futebol propriamente dito.
E estas reflexões sobre favoritismo no futebol nos remete a pensar um pouco sobre a afirmação de que o futebol é uma coisa muito simples.
Sob certo ponto de vista o futebol, como fenômeno cultural e humano, pode ser considerado tão complexo quanto entender o significado da própria vida.
O sociólogo e pensador francês Edgar Morin nos ensina que complexidade é efetivamente o tecido dos acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações e acasos, que constituem o nosso mundo.
Se o futebol é parte constituinte deste mundo em que vivemos, não temos como fugir à constatação que de que entender o futebol é tão complexo quanto entender o mundo.
Portanto, para aqueles que achavam que o Santos seria o campeão, resta buscar novas explicações e fazer novas previsões.
Com a vitória contundente por 2 a 0 no primeiro jogo da final, já há pesquisas de opinião demonstrando que mais de 80% das pessoas acham que o São Caetano será o campeão paulista deste ano.
Mas seja lá quem for o novo campeão o fato é que estas discussões e previsões só conseguem nos mostrar o quanto é complexo entender realmente o que é o futebol.
E de qualquer forma quero dar os parabéns ao São Caetano que sendo campeão ou vice nos permitiu refletir um pouco sobre o fenômeno da complexidade que envolve o futebol.
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A importância do ídolo – 2
Na semana passada abordamos aqui neste espaço os retornos que um clube pode ter quando investe na manutenção de seus ídolos. Na última quarta-feira, deparei-me com uma nova e interessantíssima situação que mostra a falência que encontramos no modelo de gestão do futebol brasileiro.
No início deste ano, a cidade de Juiz de Fora, a mais carioca das cidades de Minas Gerais, recebeu um torneio das nações indígenas. A competição envolvia jogos de futebol entre tribos de índios dos mais diversos pontos do Brasil. O grupo de estudos em Comunicação, Sociologia e Esporte da Universidade Federal de Juiz de Fora fez um levantamento sobre o impacto da globalização do futebol no comportamento dos índios.
O maravilhoso documentário mostra que os índios são afetados diretamente pela mídia e, a partir disso, traçam o seu comportamento em relação ao futebol. Tanto é que o modelo, para os indígenas, são jogadores que estão na mídia o tempo todo.
Mas o que chamou mais atenção foi a vestimenta usada pelos atletas para disputar o campeonato. Em meio a camisas de futebol próprias, apenas um time usava um uniforme igual a de uma equipe conhecida mundialmente. Sim, isso mesmo. Havia um time inteiro usando o uniforme do Chelsea, da Inglaterra.
A camisa azul falsificada da Adidas. A marca da Samsung no peito. Nas costas, no lugar de nomes como Drogba, Schevchenko, Ballack e Lampard, as grafias dos craques da tribo.
Nenhum time, porém, usou a camisa de um Flamengo, Fluminense, Palmeiras, Vasco, Santos, São Paulo, Corinthians, Internacional, Grêmio, Atlético, Cruzeiro e tantos outros times que sempre permearam o imaginário popular.
Qual a explicação para esse “descaso” dos indígenas com os nossos times. A resposta, muito provavelmente, está em outro dado levantado pela pesquisa. Os ídolos dos jogadores são atletas como Ronaldinho Gaúxho, Kaká e Ronaldo. Beckham, Zidane e até Canavaro foram lembrados pelos indígenas.
O único jogador que atua no Brasil e teve seu nome citado foi Rogério Ceni.
Sem grandes atletas em atuação no país, até mesmo o povo indígena passa a torcer para os astros que estão lá fora. Desse jeito, o futuro do futebol no Brasil será torcer para Milan, Manchester, Barcelona. E, às vezes, ter um ídolo fugaz dentro do seu próprio clube.
Ídolo é importante não apenas para conquistar títulos. Mas, também, para fabricar sonhos e, conseqüentemente, gerar receita para os clubes que mantiverem os seus craques.
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Os Conflitos da Copa do Mundo
Já existe no momento um certo movimento nacional em busca de estruturação para que a Copa do Mundo de 2014 possa ser realizada com sucesso no Brasil, apesar de até agora não haver nenhuma garantia maior que isso vai acontecer. A única coisa palpável até o momento é a palavra da FIFA, o que por si só não é certeza pra nada. Em 1998, o então presidente da FIFA, João Havelange, se reuniu com o primeiro ministro britânico, Tony Blair, e disse que era seu desejo pessoal que a Copa de 2006 fosse sediada na Inglaterra. A Copa de 2006, como bem se sabe, foi na Alemanha. Tudo bem que o presidente da FIFA era diferente e que o próprio cenário político interno da organização era outro, mas vale a menção como um alerta para a comoção que vem tomando conta do país.
Essa comoção é gerada, principalmente, por dois fatores. Primeiro por ser a Copa do Mundo considerada o maior evento global contemporâneo, o que faz com que qualquer lugar que a hospede seja visto, conhecido e destacado por quase todo o planeta. Para países como o Brasil, historicamente obcecado em se apresentar e ser reconhecido pelo mundo, a Copa é um prato cheio. O segundo fator que gera tanto burburinho em torno da possibilidade do país hospedar o evento é a própria constituição da sociedade brasileira, que nos idos tempos pós República Velha, teve o futebol como um dos principais pilares de construção da identidade nacional. Com esses dois fatores em mente, pode-se facilmente perceber que não foi à toa que já em 1950 a Copa do Mundo foi utilizada para disseminar para todo o planeta a idéia do Brasil-Potência, e que também não é por acaso que a possibilidade real de o país sediar o evento já gere tanta discussão, e discórdia, mesmo estando ele a sete anos de distância.
Passada a Copa do Mundo de 50, o Estado brasileiro passou a investir pesado na criação de uma estrutura nacional para a prática do futebol. Foi aí, mais precisamente nas décadas de 60 e 70, que houve um boom na proliferação de estádios por todo o país, sem que houvesse necessariamente um estudo de sustentabilidade do investimento. Ao somar o populismo da ocasião com uma certa demanda momentânea pelas praças esportivas, o resultado foi uma previsível superestruturação do futebol brasileiro. Construiu-se muito para pouco. O Estado entregou uma mansão para quem deveria ter ganhado uma kitnet. A partir disso, não foi nenhuma surpresa que os estádios brasileiros tenham ficado abandonados ou bastante subutilizados, o que colabora de maneira crucial para o baixo desenvolvimento da indústria do futebol nacional.
Quando se pensa em hospedar uma Copa do Mundo no Brasil, é preciso definir exatamente qual a linha de pensamento que será seguida: ou uma linha que se preocupa com a estrutura e o evento esportivo em si mesmo, ou uma outra linha que entende a Copa como um evento crucial para a afirmação mundial da sociedade brasileira, que, portanto, é assunto e objeto de todos inseridos no sistema democrático vigente.
Na linha esportiva, o ideal é que a racionalidade seja a maior direcionadora do processo decisório. As instalações a serem utilizadas devem obedecer a critérios que busquem a otimização dos espaços, a redução dos recursos empregados, a minimização dos riscos e a sustentabilidade do projeto como um todo. Dessa forma, o melhor seria utilizar estruturas que já ofereçam condições mínimas de sediar um evento e que demandem poucas mudanças, que eventualmente devem ser bancadas exclusivamente pelo setor privado. O problema, claro, é que reduzirá o apelo popular que as grandes inovações sempre atraem, além de jogar o nível da Copa para aquele que o Brasil de fato pode oferecer, que não é muito alto. Como resultado, têm-se instalações medianas, pra dizer muito, mas adequadas ao tamanho do mercado do futebol brasileiro.
Por outro lado, caso se busque na Copa do Mundo a afirmação do Brasil como nação super-desenvolvida, na mesma premissa da Copa de 1950, os projetos tenderão a ser maiores e pensados de forma efêmera, ou seja, com a sua utilização pautada exclusivamente para atender aos anseios de um evento de tamanho porte, e não com aquilo que virá depois. Aí sim, dentro desse contexto, o Estado pode colocar os tanques na rua para garantir a segurança, fazer alianças com movimentos sociais potencialmente perigosos e assim por diante, de modo que durante o um mês de Copa do Mundo, o Brasil consiga se maquiar para os olhares externos da maneira que bem lhe apetecer. É dentro dessa filosofia que se pode defender os projetos megalomaníacos, com estádios para tudo e para todos, e financiados pelo poder público, uma vez que possuem um fim político e não necessariamente financeiro. Aí sim se justifica um estádio novo, neutro e democrático, feito não para um time, mas para todos. Mesmo que ninguém venha o utilizar posteriormente.
Para clarificar esse conflito filosófico existente na estruturação para a Copa do Mundo, basta recorrer aos números. Historicamente, a média de público de um Campeonato Brasileiro da Primeira Divisão fica entre 10 e 15 mil pessoas. Em jogos da seleção brasileira no Brasil, a média sobe pra mais de 40 mil.Ou seja, por uma análise bastante superficial – porém lógica e apropriada -, se um estádio for feito pra Seleção jogar na Copa, assumindo assim um caráter público, ele deve ser erguido pensando em 40 mil lugares. Se ele for feito para servir o futebol brasileiro, assumindo então um caráter privado deve-se reduzir o seu tamanho pela metade.
Independente de qual for a escolha a ser seguida, é preciso que haja um comprometimento de todos em prol de uma concordância nas ações a serem tomadas. É uma excelente oportunidade para o país aprender a se portar como uma sociedade coesa, justa e racional. A Copa do Mundo é, de fato, um grande momento para se abrir as portas do país para a comunidade internacional. Entretanto, caso todas as partes envolvidas tentem aproveitar o momento para se beneficiar individualmente sem se importar muito com algum possível bem maior, o evento acabará trazendo diversos malefícios para si e outros com os quais todos da sociedade brasileira terão que arcar futuramente.
Infelizmente, já existem indícios de que este último cenário será o mais provável.
Sediar a Copa do Mundo de 2014 pode, enfim, mostrar ao mundo aquilo que verdadeiramente somos.
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Santos, o campeão paulista de 2007
Um dos exercícios preferidos dos jornalistas esportivos, bem como de muitos torcedores, parece ser o de querer adivinhar o que vai acontecer numa partida de futebol, num campeonato; saber, enfim, quem vai ser o campeão.
Foi muito divertido acompanhar os campeonatos pelo Brasil afora e ouvir as previsões sobre os prováveis campeões. Afinal a recente lição sobre o favoritismo do Brasil na Copa de 2006 já foi totalmente esquecida.
Em São Paulo, por exemplo, estávamos ainda em janeiro, o campeonato paulista mal começando e já se ouvia, devido às boas vitórias nas primeiras rodadas, que Corinthians, São Paulo, Santos e Palmeiras, seriam os quatro semifinalistas. A diferença entre estes quatro grandes times e os demais, dizia-se, era enorme.
Não demorou muito para que Corinthians e Palmeiras começassem a tropeçar e aí os discursos também começaram a mudar. A partir daí os “experts” apostavam todas as suas fichas em Santos e São Paulo. Boas estruturas, bons treinadores, bons jogadores. Parece que não havia mais dúvidas, um dos dois seria o campeão.
Faltava apenas saber quem seria os outros dois semifinalistas. Num certo período do campeonato, Noroeste e Paulista de Jundiaí, por possuírem estruturas mais profissionais e estáveis, seriam os adversários de São Paulo e Santos.
E eis que chegam as semifinais. São Paulo e São Caetano e Santos e Bragantino enfrentam-se em duas partidas. Não havia mais qualquer sombra de dúvidas. Santos e São Paulo eram disparadamente os grandes favoritos e fariam a grande final.
Daí vem a realidade dos fatos e os dois grandes favoritos em quatro jogos não ganharam uma partida sequer. A final ficou para Santos e São Caetano.
Mas agora não há mesmo nenhuma dúvida. Santos, o melhor time durante toda a competição será o campeão. Ou será que não?
Bom, a verdade é que eu não tenho nenhum palpite.
Afinal, o favoritismo costuma desmobilizar os favoritos e desmoralizar os entendidos.
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