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A ética no jornalismo

Recentemente abordamos neste espaço a questão do famigerado “direito de resposta” a ser dado pela imprensa. A reclamação do relacionamento imprensa-fonte é corriqueira, ainda mais no meio do futebol, em que as assessorias de imprensa ainda não se tornaram tão eficientes quanto nos outros setores da nossa sociedade, para alegria dos jornalistas e desespero das fontes.
 
Na última terça-feira, enquanto o Corinthians apresentava o técnico Paulo Cesar Carpegiani, o diário “Lance!” destacava em sua capa a comissão de R$ 150 mil paga ao empresário Orlando da Hora, que intermediou as negociações entre treinador e clube.
 
Até aí, nada de errado na matéria, fruto da apuração da repórter Marília Ruiz, também repórter da TV Record e profissional com passagens por “Folha de São Paulo”, “Band” e “RedeTV!”, entre outros. O “Lance!” obtivera os detalhes do contrato e havia reproduzido no jornal, dando um belo furo em toda a concorrência.
 
O desenrolar da história, porém, se tornou um fato inédito da história do jornalismo esportivo brasileiro. Na terça-feira, o presidente do Corinthians, Alberto Dualib, anunciou que registrou um boletim de ocorrência acusando o diário de furto do documento.
 
Segundo o mandatário, no domingo houve uma coletiva de imprensa para veículos de televisão em sua casa. Na noite daquele dia, Dualib deu conta de que o documento havia sumido e chamou a polícia, que o aconselhou a esperar qual veículo daria a notícia para, então, registrar queixa do furto.
 
O “Lance!” reiterou que, de sua equipe, apenas a repórter Marília Ruiz, que também trabalha para a Record, esteve presente na casa de Dualib. Mas, em entrevista à rádio Bandeirantes, o editor Fernando Santos afirmou que as informações foram obtidas por uma fonte, sem que o documento reproduzido no jornal tivesse sido feito a partir do contrato original.
 
Cabe à polícia, agora, encontrar culpados para a história. O fato é que o estrago já está feito. O “Lance!” conseguiu a melhor história sobre a contratação de Carpegiani. Afinal, Orlando da Hora, que faturou R$ 150 mil, é o mesmo empresário que há quase um ano briga com a direção corintiana para tirar Nilmar do clube.
 
No final das contas, o furo foi dado, o jornal vendeu bastante e obteve grande repercussão com a história. Mas a que preço?
 
Imaginemos que, de fato, o documento original tenha sido furtado da casa do presidente Dualib e, depois, usado para fazer a matéria. Jornalisticamente, o material resultou numa grande reportagem, que mostra no mínimo um caso de pagamento de comissão a uma pessoa que faz de tudo para tirar um dos melhores jogadores do Corinthians há quase um ano. Agora, porém, o “Lance!” e a repórter poderão ter de responder criminalmente pela história revelada.
 
Mas o maior problema que se coloca é a questão da ética no jornalismo. Não existe, na profissão, um código de ética, como aquele que regula os trabalhos de médicos e advogados. Não há um manual de conduta para a busca por uma boa história.
 
Ou seja, a ética no jornalismo é, na realidade, a ética do jornalista. E isso faz toda a diferença. Afinal, valores morais são passados de pais para filhos e se modificam ao longo do tempo. Mais do que isso, variam de pessoa para pessoa.
 
Acostumamos a ver matérias em vídeo de denúncia a más condutas em postos de saúde, em pagamentos de propinas, etc. É ético fazer a gravação de imagens sem anunciar que se está com uma câmera? Eu não estaria invadindo a privacidade do outro? Eu não estaria infringindo a lei da mesma forma que quando um documento é furtado? É permitido fazer grampo telefônico para conseguir uma grande matéria?
 
A questão não é quem roubou o documento, se é que de fato ele foi roubado. Só precisamos saber quando haverá um guia de regras para fazer com que o exercício do jornalismo não seja norteado pelas noções éticas de cada um.

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A Importância da Universidade do Futebol

Como você pode ver, o site mudou. Pra melhor.
 
É um sinal claro de desenvolvimento do produto, conseqüência direta do importante papel que a Cidade do Futebol começou a desempenhar no ambiente do futebol brasileiro.
 
Futebol, como bem defendido por aqui, é um fenômeno extremamente multidisciplinar. Primeiro pela sua própria constituição natural, em que inúmeras variáveis acabam incidindo sobre o sucesso ou o fracasso dos objetivos estipulados dentro do jogo, e também, talvez principalmente, pela imensa popularidade alcançada com pouco mais de um século de existência do seu formato moderno.
 
Tanta popularidade fez com que o futebol se tornasse um fenômeno de grande importância nas mais diversas áreas, como medicina, direito, economia, educação física, administração, fisioterapia, odontologia, psicologia, marketing, comunicação, et al. Nada mais natural, uma vez que a fama gera disseminação do conhecimento, que por sua vez tende a gerar mais demanda desse mesmo conhecimento.
 
Entretanto, o mundo do futebol tende a se enxergar de modo singular, sem ampliar o seu escopo. Reside na atmosfera a premissa de que futebol é uma coisa sólida e homogênea. Quem entende de futebol, supostamente entende de tudo que acontece nele. Quem entende de futebol, aparentemente, sabe analisar o posicionamento tático dos times que jogam determinada partida, as forças, as fraquezas e o potencial de um atleta, a estratégia de marketing de um clube, as entranhas dos processos contratuais e até problemas cardiológicos em esportes de alto rendimento. Obviamente que ninguém sabe de tudo isso. E se diz que sabe, é porque sabe pouco. E, provavelmente, sabe errado. Não se pode saber tudo de futebol. Nem sobre um só assunto, muito menos sobre todos os assuntos juntos. Não é porque você assiste a todos os jogos do seu time que você possui capacidade para julgar o melhor tratamento físico pra curar a lesão no joelho do atacante titular. Futebol, repito e repete-se, é multidisciplinar e essencialmente referencial, ou seja, não possui uma verdade absoluta, tampouco alguma teoria plena.
 
Uma das grandes benesses do futebol à sociedade é justamente o fato de ele ser tão popular e passível de discussão. Por tal, ele desperta o interesse comum em torno de diversos objetos de estudo que servem para analisar o esporte, mas que também acabam sendo aplicados para a sociedade de um modo geral. Quer dizer, o futebol oferece isso, mas a sociedade não necessariamente o aceita como tal. E é bem aí que entra o importante papel que um portal como a Cidade do Futebol oferece. A Cidade acaba por reunir em um espaço, virtual e comum, diversos estudiosos do assunto, das mais diversas áreas de abrangência. Essas áreas muitas vezes não possuem uma ligação visível, mas o fator agregador do futebol permite que seja tudo colocado dentro do mesmo contexto, tal qual deve ser pensada a sociedade como um todo.
 
A Cidade do Futebol é um projeto ambicioso, que oferece uma oportunidade única para o universo do futebol brasileiro, e que tende a gerar diversos benefícios futuros. Espero e torço para que essa nova mudança seja mais uma etapa desse grande processo.

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As qualidades de um treinador

O papel do treinador em uma equipe de futebol tem sofrido mudanças ao longo dos tempos. Durante décadas foi um profissional eclético, um “sabe tudo”, onde além de ser um orientador natural na forma de jogar da equipe, era também, médico, nutricionista, psicólogo e assistente social.
 
Com a evolução dos conhecimentos no futebol, a responsabilidade pelo rendimento de uma equipe começou a ser dividida entre diferentes e inúmeros profissionais. Hoje há o preparador físico, os médicos especialistas, o fisioterapeuta, o fisiologista, o nutricionista, o psicólogo, o assistente social entre outros. Podemos assim dizer que a função do treinador neste início de século 21 começa a passar por uma metamorfose.
 
Na esteira da especialização o treinador, cada vez mais, tem que ser aquele profissional capaz de organizar a sua equipe, definindo um padrão de jogo e liderando seus atletas, sem abafar seu talento, mas ao mesmo tempo, disciplinando-os dentro de uma proposta tática.
 
Mas por outro lado, o treinador competente, tem que possuir uma visão de conjunto. Não pode mais ser aquele tipo de especialista que não entende ao menos um pouco a complexidade humana, cultural e social em que vive.
 
O treinador competente, portanto, para dar conta das demandas atuais do futebol contemporâneo, precisa de consistente liderança, formação acadêmica, conhecimentos diferenciados sobre tática, pensamento estratégico, metodologia que incorpore processos pedagógicos avançados, além de sólidos conhecimentos das ciências humanas para poder lidar com os atletas e todos aqueles que circundam seu trabalho.

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A importância do ídolo

Leonardo foi ídolo do Flamengo e do São Paulo. Já se passaram 20 anos desde que ele surgiu no Rubro-Negro. E outros dez desde suas conquistas no São Paulo. Mesmo assim, os dois clubes costumam cativar Leonardo, conversam com ele, deixam-no informado sobre tudo o que acontece nos bastidores.
 
Muitos clubes consideram esse tipo de atitude desnecessária. Festas para ex-atletas, homenagens para os jogadores ainda em atividade. Utilização de ídolos em promoções para os torcedores. Tudo isso, para muitos clubes, parece um gasto desnecessário, um resgate de um passado que às vezes não foi tão brilhante assim.
 
Mas não para o São Paulo, por exemplo. O clube promove, há quase uma década, um encontro de ex-atletas no Centro de Treinamentos. Leva ídolos do passado para assistir aos ídolos do presente no estádio do Morumbi. Faz festa para antigos atletas.
 
E o que o São Paulo ganha com isso?
 
Além de manter seus ídolos próximos, o clube do Morumbi mostrou, na última semana, a importância que há em manter um ex-jogador ligado à vida do clube por onde passou.
 
O São Paulo anunciou na última quarta-feira, dia 11 de abril, o primeiro acordo de licenciamento exclusivo de sua marca com a Warner Bross. Por três anos e meio de parceria, o clube receberá R$ 2,9 milhões em luvas e ficará com 50% da receita obtida pela maior empresa do mundo em licenciamento de produtos.
 
A marca do clube do Morumbi será explorada no Brasil e no Japão num primeiro momento. Depois, poderá invadir outros países. Linha infantil, artigos para as mulheres e outros produtos para os adultos, além do uso da força da Warner no segmento de vídeo. Tudo faz parte de um complexo projeto que pretende romper com os trabalhos de licenciamento esportivo existentes no Brasil.
 
E onde é que entra Leonardo nessa história toda?
 
Bom, partiu de Leonardo, que também foi jogador ex-dirigente do Milan, da Itália, a iniciativa de aproximar o São Paulo da Warner. Após conhecer o trabalho do grupo com o time italiano, Leonardo decidiu levar a idéia para o Brasil. E, especificamente, para São Paulo e Flamengo, clubes por onde passou e onde tem grande simpatia.
 
Ídolo é importante para a vida de um clube. Tanto durante quanto depois de sua trajetória dentro do clube.
 
Direito de Resposta
 
Há algumas semanas temos abordado aqui neste espaço a questão do direito de resposta que as pessoas têm no relacionamento com a imprensa. Como lembra o leitor Diogo Paiva dos Santos, na última semana tivemos um bom exemplo de como acontecem as coisas para quem recorre às vias judiciais para obter o direito de resposta.
 
Segue o trecho da reportagem de Carolina Elustondo no site da Globo.com:
 
“Edmundo ganhou a capa da revista “Veja” mais uma vez. Agora, a publicação terá que se retratar com o jogador do Palmeiras por decisão judicial. O atacante ganhou uma ação que movia contra a revista por causa de uma reportagem feita em 1999, cujo assunto era o envolvimento de pessoas famosas em acidentes de trânsito.
 
O atacante entrou com uma ação por danos morais não pelo conteúdo da matéria, mas pela publicidade utilizada na divulgação desta. Na capa da revista, foi estampada uma foto do jogador fazendo cara de mau, que havia sido tirada para ilustrar uma reportagem sobre um clássico paulista. A “Veja” ainda estampou a capa em outdoors, com a seguinte frase: “Alguns animais tinham que ficar atrás das grades.” A Justiça considerou que a publicação abusou do direito de liberdade de expressão, e condenou esta a pagar R$ 75 mil ao atacante, além de ter que fazer uma capa com a sentença”.
 
Ou seja, o conteúdo da reportagem não foi o motivo do direito de resposta. Mas sim a publicidade em torno da matéria. Mas valeu o grito do Animal, que agora terá o espaço da capa novamente destinado a ele. Resta saber, porém, se a decisão já é definitiva…

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A bolha do mercado internacional de jogadores

Nos últimos cinco anos, quase 4 mil jogadores de futebol do Brasil foram transferidos para o exterior, que dá uma média de quase 800 jogadores por ano. Desses, mais de 50% se transferiram para o mercado europeu, e um pouco mais de 20% foram para o mercado asiático. Conmebol, Concacaf e CAF são responsáveis por dividir entre si o quarto restante do total de atletas.
 
800 jogadores por ano é um número absurdamente grande. O Brasil é, de longe, o principal exportador de jogadores do mundo. Pra se ter uma idéia, em cinco anos, o número total de jogadores transferidos internacionalmente pela Argentina não chega a 400. Ou seja, em cinco anos o Brasil transferiu mais de 10 vezes que a Argentina, também notoriamente conhecida como um dos grandes produtores de talento do futebol mundial.
 
A razão pra tamanho montante de saída de jogadores do Brasil é essencialmente econômica, seja lá qual for o lado que se tome partido. Da perspectiva dos jogadores, o mercado externo tende a pagar o mesmo ou mais do que paga o interno. Como boa parte dos jogadores devem se transferir almejando um maior passo na carreira, entende-se que mesmo que o mercado de destino pague pouco no momento da transferência, ele pode ser um trampolim para maiores receitas futuras. Não à toa jogadores vão para mercados como a Estônia, que não tem lá muito futebol, mas é da Comunidade Européia. O mercado pode ser pequeno, mas também não necessariamente indica um retrocesso na carreira do jogador, que muitas vezes está ligado a um time pequeno no Brasil, sem muitas perspectivas de se mudar para um time maior por aqui. No fim, a incerteza sobre o sucesso no exterior é muito mais válida do que a certeza sobre o insucesso nacional.
 
Para os clubes, ou pseudo-clubes, do Brasil, a exportação de jogadores também é uma questão econômica. Na falta de vínculos comunitários, e consequentemente na falta de receita interna, clubes brasileiros hoje desempenham um papel de produtor de mão de obra especializada para maiores organizações internacionais. Essencialmente, clubes brasileiros funcionam para o mercado do futebol como universidades funcionam para o mercado comum, ou seja, buscam, selecionam e treinam pessoas para então entrega-los ao mercado, onde enfim irão desempenhar sua atividade profissional. Enquanto não chegam lá, ficam brincando de trabalhar, na esperança de construir um currículo que agrade os melhores empregadores. Igualzinho fazem os jogadores por aqui que almejam o sucesso internacional.
 
Dos clubes que mais transferiram jogadores internacionalmente, destacam-se o Atlético Paranaense e o Corinthians Alagoano, cada um com mais de 70 jogadores transferidos nos últimos cinco anos. Assim como o Corinthians Alagoano, outros clubes pequenos também figuram entre os que mais vendem jogadores, como o Grêmio Esportivo Anápolis, antigamente conhecido como Inhumense, que transfere internacionalmente em média 12 jogadores por ano. No último ano, houve uma grande ascensão de transferências por parte de clubes notadamente pequenos. Dos 20 maiores exportadores em 2006, sete clubes não figuram sequer na Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro.
 
Esse fenômeno, entretanto, é facilmente compreendido. Devido ao grande histórico de conquistas do selecionado nacional, é natural que o jogador brasileiro seja internacionalmente valorizado. Adicione a isso o fato de que das últimas 13 eleições da Fifa para melhor jogador do mundo, 7 foram vencidas por brasileiros. Ainda mais importante, de 1996 pra cá apenas em 2001 um jogador do Brasil não ficou entre os três melhores do mundo. Nesse cenário, a valorização internacional do talento brasileiro fica facilmente compreensível.
 
Tamanha valorização, nesse caso, potencializa a demanda de importação, e transforma o jogador brasileiro quase em uma commodity. Mercados por todo o mundo enxergam o Brasil como fonte produtora de mão de obra especializada, barata e de qualidade. O passaporte brasileiro funciona como uma espécie de marca que valoriza o produto, ainda que ele não seja necessariamente melhor do que o da concorrência. É difícil afirmar que o jogador brasileiro seja tão melhor do que os jogadores do próprio país importador. Porém, o excesso de oferta de jogadores brasileiros derruba o preço para baixo, o que tende a tornar o investimento mais rentável do que a aquisição de jogadores do próprio mercado local com qualidade semelhante.
 
À medida que a internacionalização dos elementos que envolvem o futebol cresce, o Brasil vai se consolidando essencialmente como o grande produtor mundial de jogador. Tal qual de café, cana etc. Esses processos mais sedimentados de mercado global tendem a ter pouca oscilação, uma vez que a interdependência entre diversas organizações do mundo é muito forte. No caso do futebol, porém, isso não acontece. O futebol é um fenômeno mundial, mas de funcionamento essencialmente local. No mercado em que funciona a transação internacional de jogadores, os clubes são quase que independentes do mundo, principalmente no mercado mais desenvolvido e que possui mais demanda de jogadores, a Europa. Essa independência torna o mercado internacional de jogadores bastante frágil, uma vez que bastam algumas mudanças internas na Europa para que todo o sistema entre em colapso.
 
Outras mudanças, como o desenvolvimento do futebol asiático e, principalmente, do futebol africano e de outros países sul-americanos, podem eventualmente afetar, e muito, o ambiente atualmente favorável à exportação de jogadores brasileiros.
 
Provavelmente, boa parte das pessoas que hoje trabalham dentro desse meio no Brasil não possui lá muita preocupação com isso, uma vez que os trabalhos desenvolvidos dentro da área tendem a buscar resultados maximizados e imediatos. Sustentabilidade tende a ser uma palavra ausente do ambiente. Além disso, existe um claro sobredesenvolvimento de profissionais na área. De acordo com a CPI do Futebol, em 2001 existiam 20 agentes licenciados pela Fifa atuando no Brasil. De acordo com a Fifa, hoje são 138, ou seja, um crescimento de aproximadamente 700% em seis anos e sem sinal de que vai parar por aí. Curiosamente, enquanto nesse período o número de agentes cresceu 700%, o mercado de transferências cresceu apenas 10%.
 
Ainda que isso possa ser considerado um sinal de profissionalização do mercado de agenciamento, é bastante possível que também seja um sinal que o mercado está bastante desequilibrado. E quando se soma o desequilíbrio estrutural com a desestabilidade da demanda, o cenário tende a ser não muito otimista. A bolha, uma hora ou outra, vai estourar.
 
E quando isso acontecer, acredite, vai ser bom para o futebol nacional. Pode se preparar.

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Nelinho x Vanderlei Luxemburgo

Dias atrás pude acompanhar em um programa de televisão, troca de opiniões entre o ex-lateral direito do Cruzeiro e Seleção Brasileira, Nelinho, atualmente comentarista esportivo, e o competente treinador de futebol Vanderlei Luxemburgo.
 
Nelinho defendia que a influência do treinador no resultado de uma partida é muito menor do que alardeiam hoje parte da imprensa e dos próprios treinadores.
 
Luxemburgo, não querendo demonstrar prepotência, até admitiu que o treinador pode não ganhar jogo, mas é fundamental para que uma equipe ganhe campeonatos ou títulos.
 
 Em outra parte da conversa chegou-se até a quase um consenso de que o treinador tem cerca de 30% de participação no resultado, ficando os outros 70% para os jogadores.
 
Achei muito engraçado e até surpreendente que profissionais tão destacados e inteligentes como Nelinho e Luxemburgo colocassem a questão desta forma tão simplista. Como se fosse possível precisar, matemática ou estatisticamente, situações tão complexas presentes em um jogo ou uma partida de futebol.
 
Numa reflexão mais filosófica sobre o tema, talvez possamos encontrar melhores explicações para este tipo de visão, se entendermos um pouco o papel dos pensamentos mecanicista, cartesiano e positivista na formação de nossa cultura.
 
Tais modelos de pensamento que até o século 20 tiveram, em diferentes proporções, inegável influência no desenvolvimento do conhecimento e das ciências, já não dão conta de compreender e interpretar a realidade de forma mais ampla.
 
É preciso buscar novos referenciais se quisermos continuar desvendando os mistérios que cercam os diferentes seres humanos que vivem em diferentes sociedades.
 
São, sem dúvida, estes novos referenciais que também permitirão uma melhor leitura sobre a complexidade na qual está envolta uma aparentemente simples partida de futebol.   

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A profissionalização da imprensa

 

Na semana passada abordamos aqui neste espaço sobre a necessidade de os dirigentes de futebol tornarem-se cada vez mais profissionais. Mas a crítica à atitude dos pseudo-profissionais da bola passa, também, por um processo de autocrítica do trabalho da imprensa brasileira.
 
Na última semana Emerson Leão finalmente deixou o comando do Corinthians. Finalmente porque a relação já estava desgastada, como aquele namoro de infância que todos já sabem que não terá outro destino a não ser o melancólico fim.
 
Na sede pela notícia, jornalistas dos mais diversos meios saíram em desabalada carreira atrás do nome do novo treinador corintiano. Abel Braga, Paulo Autuori, Carlos Alberto Parreira. Esses foram os três alvos prediletos da imprensa paulista. E, invariavelmente, os três treinadores deram praticamente a mesma declaração nos mais diferentes meios: “não fui procurado, fico lisonjeado com o possível interesse, o Corinthians é um grande clube, mas quero continuar meu projeto de trabalho”.
 
Essa vontade de descobrir o novo treinador corintiano comprova que, para a esmagadora maioria da imprensa, expressões como planejamento, racionalidade e trabalho de longo prazo são apenas parte de um discurso bonito quando se quer fazer uma crítica.
 
Durante os pouco mais de dois anos da turbulenta parceria Corinthians-MSI, as maiores críticas da imprensa são de que o clube não tem comando, planejamento, projeto. Tudo parece que seria resolvido em questão de segundos com a injeção do dinheiro que não sairá mais dos suspeitos cofres da parceira. E nada mais.
 
Quando o resultado não chega, a imprensa cobra contratações, troca de treinador, promoção dos atletas da categoria de base, etc. E não pára para discutir se existe, de fato, todo um projeto por trás dessa história.
 
A certeza que dá é que a imprensa não está preparada para a profissionalização do futebol. Afinal, ela é a primeira a exigir resultados dentro de campo antes mesmo de o time ter sido formado, antes de o treinador começar a implantar seu sistema de jogo, a recuperar-se da perda de parte do time, a planejar o semestre seguinte.
 
E, nessa miopia geral da cobertura, o dirigente que não é profissional paga o pato, sendo obrigado a querer os resultados que não cairão dos céus. Desesperado com o “péssimo trabalho” de seu treinador, ele acaba sentindo a pressão de fora e muda tudo. Para ter um recomeço ainda mais complicado.

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O Lemão e o Futebol

O Lemão e o Futebol
 
Como você bem deve saber, e eu sei que você sabe, o Big Brother Brasil acabou nesta terça-feira, com a vitória do Diego, vulgo Alemão.
 
Eu assisti, e é bem provável que você também tenha assistido.
Não precisa ficar com vergonha, pode admitir.
 
Você também não era o único.
 
Afinal de contas, de acordo com o Ibope, aproximadamente 70% dos televisores estavam ligados no programa pra ver quem iria enfim levar o montante pra casa.
 
O Big Brother Brasil é um formato de entretenimento que caiu nas graças do gosto brasileiro.
Também pudera.
 
A cultura latina, de um modo geral, é muito influenciada pela dramaturgia, e o Big Brother possui todos os elementos básicos de uma boa novela, adicionado ainda mais pela falta de um roteiro definido e pela possibilidade dos espectadores definirem o caminho a ser tomado pelo programa.
 
Tudo isso, é claro, sem ter que sair do conforto da sua casa.
 
O futebol também possui sua estrutura dramatúrgica, quase que nos mesmos moldes do Big Brother. Heróis, vilões, crimes, pecados, castigos, falsidades, redenções e tudo mais.
 
No Big Brother, entretanto, a possibilidade de você achar que está interferindo no resultado final está a um telefonema ou a um clique de mouse de distância. É lá que você dá o seu voto, que cria a idéia de que você está ajudando a interferir no resultado. Na verdade não está. Afinal, o seu um voto dificilmente vai fazer alguma diferença quando somado a tantos outros milhões. Mas dá o conforto de que você ajudou a definir o resultado do jogo.
 
No futebol, a possibilidade de interferência no resultado da partida dificilmente pode ser realizada dentro de casa. É preciso ir ao estádio e torcer para ajudar seu time. De nada adianta ficar em casa assistindo. Se você quer mesmo ter a ilusão de que está ajudando a construir o resultado do jogo, é preciso ir ao estádio, pra gritar, cantar e empurrar o time pra frente. Oferecer aos jogadores aquela energia a mais que falta para alcançar os objetivos.
 
Só que tem que sair de casa.
 
E sair do conforto de casa, no Brasil, é uma atividade de risco.
 
Sair do conforto de casa pra ir a um estádio de futebol, então, nem se fala.
 
Trânsito, violência, roubos e outros tantos problemas.
 
Pra quê?
 
O jogo é ruim, o estádio é ruim e é difícil conhecer os jogadores.
 
Melhor ficar em casa, vendo Big Brother, que é muito mais tranqüilo.
 
E essa comparação entre futebol e Big Brother é extremamente benéfica.
 
Basta imaginar como seria o Big Brother caso ele sofresse dos mesmos problemas do futebol nacional.
 
Acabaria a novela, e começaria o programa.
 
No cenário fora da casa, não teria quase ninguém nas arquibancadas das torcidas, que não alguns poucos vestidos com uma camiseta com uma caricatura demoníaca do candidato que eles conhecem, além de estarem carregando faixas, bandeiras e sinalizadores.
 
Haveria uma bateria no meio de cada torcida.
 
Entre a arquibancada e o palco do apresentador, um fosso, policiais e cachorros.
Aí o apresentador começaria a falar ao vivo.
 
As torcidas começariam a ofendê-lo em coro.
 
Alguém tacaria um copo.
 
Alguns policiais passariam a proteger o apresentador com um escudo.
 
Depois, as torcidas passariam a se ofender mutuamente, com coros recheados de palavrões e palavras de morte.
 
Alguém eventualmente arremessaria uma bomba caseira.
 
Dentro da casa, faltaria água no banheiro.
 
Eventualmente, as transmissões teriam de ser interrompidas por falta de luz.
 
E seguranças teriam que estar de prontidão para conter possíveis invasões de pessoas de fora, que tentariam ou abraçar o jogador mais popular, ou bater no mais impopular.
 
Além disso, na hora de anunciar o resultado da eliminação, o apresentador seria intimidado pelos torcedores.
 
Assim que o resultado saísse, a torcida do eliminado o ameaçaria de morte e alguém tentaria invadir o palco.
 
Quando o eliminado saísse, o próprio partiria pra cima do apresentador.
 
Seria engraçado, não fosse triste.
 
Se bem que se o Big Brother fosse mesmo igual ao futebol, Diego, Íris, Alberto, Fani e Bruna estariam participando de algum Big Brother europeu.
 
Por aqui, ficariam todos aqueles que eu não lembro do nome.
 
Aí a graça cairia pela metade.

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Leão, um modelo de liderança

Liderança costuma ser entendida como a capacidade que certas pessoas possuem de conduzir um grupo, estimulando-o a conseguir seus objetivos ou metas.
 
No futebol podemos notar destacadamente duas formas distintas de liderança: uma autocrática e outra democrática. Na prática observamos que muitas vezes estas duas tendências se confundem na complexidade e dinâmica das ações necessárias para se conduzir um grupo ou equipe na direção de suas metas, ou seja, na direção das vitórias e das conquistas.
 
Emerson Leão, o conhecido treinador que acaba de deixar o Corinthians, é um dos bons exemplos de líder autocrático. Suas habilidades e competências são sempre no sentido de chamar toda a atenção e poder para si, cobrando obediência irrestrita de seus comandados e com pouca margem para diálogo e questionamentos por parte dos atletas ou quem quer que trabalhe ao seu redor.
 
Suas intervenções, quase sempre autoritárias, costumam funcionar bem em ambientes de crise, mas sempre por períodos muito curtos de tempo. O que facilita este modelo de liderança no futebol é que os clubes, de forma geral, através de seus dirigentes, são também bastante autoritários. Portanto, enquanto os interesses não são conflitantes o caminho para este tipo de treinador é bastante facilitado.
 
Outro aspecto facilitador, que abre espaços ao líder autocrático, é que, muitas vezes, os próprios jogadores aceitam e até cobram de seus comandantes estas atitudes autoritárias.
 
Por outro lado os treinadores mais abertos e que adotam uma linha mais democrática de comando, não raramente, encontram muita dificuldade para administrar suas equipes neste ambiente. É preciso muita habilidade e competência para conseguir a cooperação, o envolvimento e compromisso de todos, através do convencimento e do diálogo.
 
É por isso que, apesar das enormes vantagens que a liderança democrática possui, permitindo um maior desenvolvimento, liberdade, autonomia e espaços à improvisação e criatividade dos atletas, o modelo autocrático ainda prevalece na maioria dos clubes de futebol.

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A profissionalização do dirigente

O time do São Paulo desembarcou às 15h12 no estádio do Morumbi para o clássico contra o Palmeiras, pelo Campeonato Paulista. Nas ondas da rádio Bandeirantes, logo após a chegada e confirmação da escalação da equipe são-paulina, o superintendente de futebol do clube do Morumbi, Marco Aurélio Cunha, passou a dar uma entrevista para justificar o uso de muitos jogadores considerados reservas.
 
“Não são reservas. São coadjuvantes”, brincou o bem-humorado dirigente. Com essa frase, Cunha conseguiu desarmar qualquer crítica e, ainda, mostrou o sentimento de orgulho pelo fato de o São Paulo ter um grupo formado por bons jogadores, com capacidade de defender a seleção brasileira. Numa atitude inteligente ele, ao mesmo tempo, deu mais moral aos seus atletas e ajudou a mostrar que o clube trabalha de forma profissional, priorizando competições e trabalhando no longo prazo.
 
Mas Cunha poderia ter parado por aí. Na seqüência, o dirigente quis deixar sua posição e usar o cargo que tem para se mostrar um torcedor são-paulino. O momento ocorreu minutos depois da genial afirmação do time coadjuvante, quando Cunha foi instigado a comentar o reconhecimento dado pela Fifa à conquista da Copa Rio de 1951 pelo Palmeiras como o primeiro título mundial de clubes. Torneio que, à época, foi comemorado por são-paulinos, corintianos e palmeirenses como uma vitória do Brasil, maltratado e mastigado pelo Maracanazzo do ano anterior.
 
“A comemoração será na Consolação, onde os italianos gostam de enterrar seus familiares. Mas não haverá festa. Será um silêncio completo”, ironizou o dirigente. A referência clara à região dos cemitérios São Paulo e Araçá, onde se concentra a maioria dos jazigos de italianos da capital paulista, soou como uma brincadeira de mau gosto.
 
Como superintendente de futebol do São Paulo, Cunha deveria ter deixado tal afirmação para o torcedor da cadeira cativa, das sociais, das gerais do Morumbi. Nunca poderia partir de um dirigente de futebol tamanha provocação e desrespeito à história de um outro clube, por maior que seja a rivalidade entre eles.
 
Ainda mais sendo Marco Aurélio Cunha um diretor de futebol que prega, nos lugares por que passa, a profissionalização do futebol e, especialmente, do dirigente esportivo. Cunha que se orgulha de ter dirigido Avaí e Figueirense em épocas distintas, mas com a mesma seriedade em que trabalha no São Paulo.
 
Mas o show ainda não estava completo. Durante a partida, o dirigente se viu novamente envolvido numa polêmica. Nas cadeiras cativas do Morumbi, espaço dividido por palmeirenses e são-paulinos num acordo com a Federação Paulista de Futebol, Cunha teve de se envolver numa briga entre torcedores, iniciada segundo alguns por seu filho, que começou a provocar os rivais com a iminente derrota por 3 a 1.
 
E, por volta das 18h45, o mesmo Marco Aurélio Cunha deu a seguinte declaração à mesma rádio Bandeirantes:
 
“Eu, como dirigente do São Paulo e pessoa pública, nunca me envolvo nessas brigas de torcida. Eu tento sempre apartar”, afirmou após negar a participação de qualquer parente seu na discussão que deixou alguns palmeirenses feridos.
 
Quer dizer que, quando ocorre uma briga, Marco Aurélio Cunha deixa de ser torcedor e se transforma em dirigente. Esse mesmo Cunha que gosta de menosprezar a história dos clubes rivais, instigando o ódio e semeando a mesma violência?
 
A profissionalização do futebol passa, necessariamente, pela profissionalização dos gestores do esporte. Não é possível que, ainda hoje, pessoas que se dizem profissionais do esporte alimentem a rivalidade que existe entre os clubes. A época do dirigente folclórico, de pouca ação e muita história para contar tem de fazer parte do passado do futebol. O profissionalismo não pode ser apenas da boca para fora. Ou, o que é pior, não pode ser defendido apenas quando o dirigente amador se sente acuado. E a primeira atitude a ser tomada é aprender a falar. Para, depois, não ter de se explicar.

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