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Futebol, democracia e cidadania

A Democracia Corinthiana está completando 25 anos. O movimento liderado por alguns atletas como Sócrates, Wladimir e Casagrande no início dos anos 80 representou, talvez, a maior mobilização de caráter político já vista em um clube de futebol no Brasil.
 
O país vivia na época a fase final de um regime autoritário já agonizante. Diferentes camadas da sociedade clamavam por democracia e um movimento surgido no seio de uma instituição tão autoritária como o futebol teve grande repercussão.
 
Pena que o evento teve começo, meio e fim relâmpago. A experiência inédita terminou logo após a saída de seu grande artífice, Sócrates que resolveu desfilar sua arte em gramados italianos.
 
Mas passadas mais de duas décadas desta história e do final do regime militar, ainda não podemos dizer que vivemos num período plenamente democrático.
 
Não se pode considerar democrático um país com tanta desigualdade econômica e social que, apesar da evolução e progresso evidentes em muitos setores, ainda não consegue dar oportunidades de desenvolvimento a grandes parcelas de sua população.
 
No futebol, particularmente, ainda são poucas as experiências que buscam dar voz e participação mais efetiva aos atletas e funcionários dos clubes. Os dirigentes e muitas vezes os próprios treinadores, encarregam-se de definir quase que ditatorialmente o que deve e o que não deve ser feito no dia-a-dia de suas rotinas.
 
Tal relação inibe a possibilidade de criação de ambientes que favoreçam o desenvolvimento de atletas mais preparados, maduros e inteligentes que não só sejam capazes de promover espetáculos mais bonitos e interessantes, como também possam dar exemplos de cidadania.

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Queda de braço

A Espanha decidiu se rebelar contra o autoritarismo no futebol. Ou melhor, os jornalistas da Espanha se rebelaram contra a imposição dos atletas que dariam a entrevista coletiva após o treino da quarta-feira passada.
 
Na última semana, os jornalistas que cobrem o dia-a-dia do Barcelona, na Espanha, decidiram não ficar na sala de imprensa depois que souberam que teriam à disposição para falar apenas o zagueiro reserva francês Lilian Thuram. A decisão foi tomada como uma forma de protesto dos “coleguinhas” à imposição dos atletas escalados para dar entrevista.
 
A atitude foi um estopim na velha queda de braço entre jornalistas e assessores de imprensa dentro dos clubes de futebol. Com o objetivo de preservar os atletas, as assessorias têm criado limites para a participação dos jornalistas nas entrevistas.
 
Se, há 50 anos, jornalista e atleta eram companheiros de farra fora do campo, hoje são praticamente inimigos. O convívio dos dois só existe na hora da entrevista, seja ela após o treino ou a partida. Na época de Pelé e cia., jornalista e jogador saiam conversando após o treino, numa espécie de cumplicidade sadia entre eles. Atualmente não há espaço para isso.
 
A crescente profissionalização da imprensa e também do futebol levaram a um distanciamento dos artistas da bola dos “artistas” da comunicação. Com isso, as entrevistas coletivas depois dos treinos tornaram-se o tormento dos jornalistas. Antes, depois do bate-bola diário, falava quem queria, para quem quisesse ouvir. Isso assegurava a cada jornalista uma boa história para ser publicada, geralmente diferente da do colega que representava p veículo concorrente.
 
Agora, porém, tudo ficou estático. O jogador só dá entrevista quando quer e, às vezes, para quem quer. O jornalista só consegue perguntar uma ou duas vezes durante uma entrevista em que participam todos os colegas de outros jornais. Outra prática que se tornou quase uma regra. A assessoria de imprensa é que determina quem são os jogadores que darão a entrevista após o treinamento. Essa talvez seja a atitude que mais revolta a imprensa. Não é possível mais ao jornalista escolher o seu personagem para uma pauta. Ele deve “engolir” aquele que o clube manda.
 
Essa medida começou a ser implantada nos anos 90 pelo Manchester United, na Inglaterra. Com o objetivo de faturar mais, o clube usou o raciocínio mercantilista de que o jogador é uma celebridade, não deve ficar exposto o tempo inteiro na mídia. Para ser “inatingível”, o atleta deve ter de falar pouco. E isso só é possível quando ele se expõe menos. Desde Beckham, o Manchester limita aos jornalistas quem dará as entrevistas. Pouco após o clube lançar essa idéia, seus pares decidiram fazer disso uma regra.
 
Com esse novo panorama, os clubes conseguiram proteger gradualmente seu maior patrimônio, que é o atleta. Menos exposto, o craque concentra-se mais em jogar futebol, além de evitar cair nas armadilhas de uma entrevista. Só que, do outro lado, a sede da imprensa por novas notícias e grandes entrevistas é severamente prejudicada.
 
A queda de braço continua. E, pelo exemplo que vem de Barcelona, deverá lançar uma nova moda em breve…

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Ausência

Caro leitor,
 
Por problemas pessoais, o colunista Oliver Seitz não poderá publicar nesta quinta-feira o texto semanal.
 
Pedimos desculpas e garantimos que tudo voltará ao normal na próxima semana.
 
Sem mais,
 

Equipe Cidade do Futebol

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Gestão de carreiras no futebol

Caro leitor,
 
O colunista João Paulo Medina não pôde publicar seu texto semanal.
 
Enquanto ele estiver ausente, será substituído neste espaço por Antonio Afif, coordenador de gestão de carreiras do projeto Campus Pelé.
 
Formado em economia pela Universidade Mackenzie, Afif já foi diretor de marketing e assessor da presidência do Corinthians. Além disso, prestou assessoria e consultoria a diversos clubes do país e escreveu os livros “Futebol 100% Profissional”, em parceria com José Carlos Brunoro (1997), e “A Bola da Vez – O Marketing Esportivo como Estratégia de Sucesso” (2000).
 
A coluna de João Paulo Medina voltará dentro de algumas semanas.
 
 
No atual cenário do futebol brasileiro, em que a questão financeira parece se perpetuar na grande maioria das equipes, falar em gestão de carreiras para atletas pode soar como algo pretensioso ou totalmente fora de hora, mas não é.
 
Assim como ocorre em qualquer empresa, o maior patrimônio de um clube de futebol são seus funcionários e, em especial, seus jogadores, os artistas do espetáculo. Porém, há um certo paradoxo neste fato, pois o processo formativo dos futuros craques pouca atenção recebe por parte dos dirigentes.
 
É comum encontrarmos equipes de tradição no país com estruturas bastante precárias. Tal fato acarreta inúmeros problemas e, entre os mais graves, está a diminuição da auto-estima por parte dos jovens atletas. Esta sensação de abandono acaba refletindo no desempenho do atleta e, no final da história, atleta e clube saem prejudicados. Um jogo sem vencedores.
 
Dentro deste contexto as presenças de profissionais como psicólogo, assistente social e gestor de carreiras são praticamente imprescindíveis para os administradores esportivos que primam pela seriedade.
 
Uma das funções do gestor de carreiras é a de ajudar os jogadores (e até os profissionais técnicos) a encontrar o melhor caminho profissional, fazendo uma interface com os dirigentes do clube e até prestar algum tipo de aconselhamento de ordem pessoal.
 
Por outro lado, os jovens que não conseguiram se firmar na carreira esportiva saberão, ao menos, os próximos passos que terá de seguir, justamente por ter sido ajudado a encontrar outras aptidões que poderão ser desempenhadas no futuro.

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Hora do troco

Na última semana, o técnico Dunga convocou a seleção brasileira para dois jogos amistosos no final de março. No meio da tarde de quinta-feira, as emissoras de TV a cabo exibiram, ao vivo, a entrevista coletiva do treinador para anunciar os nomes e justificá-los.
 
Na TV, uma imagem que talvez apenas a esposa de Dunga esteja acostumada a ver: um close no treinador, de maneira tão absurda, que mal dava para ver o seu cabelo. Antes, só na intimidade do lar seria possível ficar tão próximo de uma pessoa. Hoje, a cobertura do esporte na televisão brasileira faz com que literalmente entremos nos olhos de nosso entrevistado.
 
O close exagerado em Dunga tinha um objetivo claro. No que restava de fundo da imagem, era possível ver apenas um borrão verde. Não dava para distinguir as marcas do Guaraná Antarctica, da Nike e da Vivo, patrocinadores da CBF e principais mantenedores de um dos maiores produtos comerciais do futebol tupiniquim.
 
Já virou regra para os esportistas brasileiros terem suas caras deflagradas e seus patrocinadores encobertos quando é preciso dar uma entrevista para a televisão. Em nome da “imparcialidade” jornalística, muitas vezes a TV desinforma o telespectador, enquanto deforma a cara do seu entrevistado. A exceção sempre é na corrida de São Silvestre, quando as marcas que estão no pódio também são parceiras das emissoras que exibem a corrida.
 
Nas transmissões internacionais, geralmente podemos ver os entrevistados mais “limpos” no ar, com um panorama de fundo. Mas isso só acontece porque as imagens são geradas pelos organizadores do evento.
 
Até hoje, talvez o único caso que isso não aconteça é com o iatista Roebrt Scheidt. Maior vencedor da categoria e maior bandeira de um dos esportes mais vitoriosos do país, Scheidt se deu ao luxo de enfrentar as televisões. Como seu sucesso independe da aparição na TV, o iatista deu um ultimato aos câmeras.
 
Recentemente, Scheidt afirmou que só daria entrevista se não fosse feito um retalho de sua cara para esconder a marca dos patrocinadores. E ainda foi além. Se sua exigência não fosse cumprida, ele nunca mais daria entrevista para a televisão. O iatista só começou a gravar a entrevista depois que conferiu o panorama dado a ele e ao backdrop com a marca dos seus patrocinadores.
 
Obviamente nenhum câmera irá correr o risco de não ter a imagem e a entrevista para colocar no ar. Como ele justificaria isso para o editor? Scheidt sabe da importância que tem no meio esportivo e decidiu bater o pé. Foi a hora do troco na “isenção” jornalística. Foi a hora de mostrar quem é mais importante. E não apenas por que ele é oito vezes campeão mundial…

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A Exportação, o Zico, o Pelé, o Bosman e o Maradona

 

Não é segredo para ninguém que o Brasil é um mercado exportador de matéria prima. Isso eu aprendi quando estava no primário, quase 20 anos atrás. De lá pra cá, o mercado se abriu, os processos de globalização avançaram, o país se desenvolveu economicamente, mas é bem verdade que pouco desse conceito mudou.
 
O Brasil exporta café, laranja, álcool, soja e jogadores de futebol. Aliás, exporta muitos jogadores de futebol, o que – imagino – também não seja segredo pra ninguém. Na média, são cerca de 800 jogadores por ano, analisando o período da Copa de 2002 até hoje.
 
Muitos acreditam que esse é um problema da falta de organização do futebol brasileiro. De fato, o caos que impera contribui bastante, mas não deve ser visto como uma razão preponderante. Mas nem de longe é a única razão para tal fenômeno.
 
Dirigentes em geral gostam de culpar a atual legislação, que supostamente acabou com o poder neo-escravocrata dos clubes sobre os jogadores. Dizem que foi a partir daí, da Lei Pelé, que a porteira se abriu. Mentira. Em parte, pelo menos.
 
Em algumas análises que fiz recentemente, e que talvez publique em breve, é possível perceber que de fato há uma grande diferença entre o número de transferências pré e pós Lei Pelé. Entretanto, essa diferença está diretamente atrelada à evolução cronológica do mercado. De 1989 até o início da Lei Zico, transferiam-se em média uns 190 jogadores por ano. Durante a Lei Zico, essa média pulou para 385, um acréscimo de mais de 100%. Do início da Lei Pelé até hoje, a média pulou para uns 750 jogadores por ano, ou seja, cresceu cerca de 95%. Portanto, olhando assim superficialmente, é possível concluir que qualquer crítica feita à Lei Pelé é falha e carece de base estatística confiável, uma vez que o mercado aumentou mais durante a época da Lei Zico.
 
Esse erro de análise dá uma medida do nível de desinformação e de estudo do futebol profissional brasileiro. Tudo bem que essa análise é bastante rasa, mas ela pelo menos oferece subsídios para se quebrar o argumento de que a grande responsável pela evasão de jogadores do futebol brasileiro é a Lei Pelé.
 
Como toda história tem que ter um culpado, é possível apontar outro fenômeno como a principal causa da transferência de jogadores, a Lei Bosman, uma lei que permite o livre trânsito de jogadores dentro da Comunidade Européia. Essa lei não é exatamente uma pioneira na libertação contratual de jogadores, coisa que já era regra na Inglaterra lá pelo meio do século XX, acho, mas ela foi a grande responsável pelo aumento do trânsito internacional de jogadores de futebol dentro e para o mercado europeu.
 
No Brasil não podia ser diferente. De 1989 até 1995, que foi quando teve início a Lei Bosman, transferiam-se aproximadamente 200 jogadores por ano para o exterior. Do início da Lei Bosman até hoje, a média saltou para aproximadamente 675 jogadores por ano, um acréscimo de cerca de 240%. Muito mais do que Zico, muito mais do que Pelé. Muito mais do que Zico e Pelé juntos.
 
É óbvio que isso não explica sozinho o fenômeno do grande número de transferências, mas indica algumas variáveis que precisam ser analisadas. O fenômeno do movimento internacional de jogadores não é restrito apenas às leis, tampouco ao mercado brasileiro e europeu. Muito mais fatores influenciam esse panorama, mas pelo fato de a UEFA ser o destino de 56% das transferências e pelo fato do Brasil ser o grande exportador mundial de jogadores, essas questões precisam ser analisadas com bastante seriedade.
 
E é justamente essa seriedade que falta para que se consiga perceber e disseminar o panorama do fenômeno completo, de modo que possam se achar as soluções para contornar o suposto problema, se é que ele é de fato um problema. Uma seriedade que falta quando se deposita toda a culpa da falta de estrutura do futebol brasileiro unicamente em uma pretensa falha legislativa.
 
Não é possível chegar a conclusões apenas por esses limitados dados apresentados, mas ao que parece, na situação aqui exposta, Bosman é muito mais importante do que Pelé e Zico. Juntos.
Coisa que qualquer brasileiro demora a digerir.
Imagine se fosse na Argentina.
Imagine se fosse o Maradona.

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Argentinos superam brasileiros nas negociações de atletas

Caro leitor,
 
O colunista João Paulo Medina não pôde publicar seu texto semanal.
 
Enquanto ele estiver ausente, será substituído neste espaço por Antonio Afif, coordenador de gestão de carreiras do projeto Campus Pelé.
 
Formado em economia pela Universidade Mackenzie, Afif já foi diretor de marketing e assessor da presidência do Corinthians. Além disso, prestou assessoria e consultoria a diversos clubes do país e escreveu os livros “Futebol 100% Profissional”, em parceria com José Carlos Brunoro (1997), e “A Bola da Vez – O Marketing Esportivo como Estratégia de Sucesso” (2000).
 
A coluna de João Paulo Medina voltará dentro de algumas semanas.

 
A Deloitte, uma das mais conceituadas empresas de consultoria financeira em todo o mundo, divulgou seu relatório anual (base 2006) da movimentação do futebol na América Latina, intitulado “Latin American Football Money League”. O documento faz uma análise das informações patrimoniais e financeiras dos clubes da primeira divisão de cinco países: Argentina, Brasil, Chile, México e Uruguai.
 
De acordo com o relatório, a América Latina ocupa “posição preponderante no plano esportivo e também no que se refere à indústria do futebol, sobretudo como exportadora de jogadores de futebol para as equipes economicamente mais poderosas do mundo”.
 
O estudo da Deloitte apresenta dados referentes aos valores obtidos com transferência de jogadores, direitos de TV, venda de ingressos e publicidade, entre outros.
 
Os times argentinos faturaram US$ 160 milhões com transferência de jogadores, contra US$ 100 milhões dos clubes tupiniquins. Este tópico no balanço dos clubes representa a principal fonte de divisas, tanto das agremiações argentinas (50% do total da receita), quanto brasileiras (30%).
 
Outro item de peso na renda dos clubes é a televisão. Na Argentina este tópico representa 22% do faturamento dos times, enquanto que no Brasil este número varia de 15% a 40%, de acordo com o porte do clube.
 
O relatório elaborado pelo Sport Business Group da Deloitte recomenda que os envolvidos com o esporte na América Latina “tenham consciência de que, para conseguir que os torcedores lotem os estádios e que haja novas oportunidades de negócios para os clubes, é necessário investir na consolidação de suas bases patrimoniais e financeiras”.
 
Fácil, né?

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Com que roupa?

Fatal Surf, Ongobongo, Radical… As marcas são as mais variadas e, geralmente, não têm absolutamente nada a ver com o futebol. Todos nós já vimos, pelo menos uma vez, durante um interminável programa de debates, os jogadores de futebol vestidos com roupas dessas marcas. Nessas horas, esqueçam o patrocinador pessoal, o do clube ou até mesmo o bom senso na hora de se vestir.
 
A invasão dessas roupas de surfe nos jogadores de futebol que participam das mesas-redondas no domingo à noite revela, mais do que uma espécie de falta de amor à camisa ao estilo Dunga, o descaso com que as assessorias de imprensa, do clube e dos jogadores, tratam o seu ativo mais valioso.
 
Apenas quando Carlitos Tevez apareceu numa coletiva de imprensa do Corinthians usando um agasalho do Manchester United, em 2005, que a discussão sobre como o jogador deve se vestir na hora de dar entrevista para a televisão foi levantada.
 
O que nós vemos no dia-a-dia é uma salada de marcas, estilos e vestimentas usadas pelos atletas, especialmente aos domingos, quando eles são convidados para irem às mesas-redondas. Mas quem perde e quem ganha com isso?
 
Bom, sem dúvida que os maiores beneficiados são essas marcas que, em troca da entrega de roupas aos jogadores, conseguem uma grande exposição na TV. Antes, não sabíamos sequer que determinadas fabricantes existiam. Hoje, lembramos facilmente de seu logotipo e do nome da empresa.
 
Para o atleta, o maior risco que existe é associar a sua imagem a um produto de baixa qualidade, que não condiz com sua classe em campo ou até mesmo com o seu estilo de vida. Em troca de roupas para a família inteira, ele acaba prejudicando até mesmo negócios mais interessantes para ele, que envolvesse, além de roupa, dinheiro.
 
O clube e seus patrocinadores, porém, acabam sendo os maiores prejudicados com toda a história. Afinal, no momento em que teriam uma grande exposição de suas marcas, eles vêem os atletas renegarem seus símbolos.
 
Deveria ser uma norma do clube exigir que o atleta, quando representasse a instituição em programas de TV ou entrevistas, trajasse o uniforme do próprio clube. Afinal, o salário do jogador é pago pelo clube, que por sua vez consegue dinheiro dos seus patrocinadores. Nessa hora, o atleta daria uma recompensa de exposição às marcas a ele ligadas.
 
Deveria ser uma preocupação do atleta saber qual é a impressão que os torcedores e, especialmente, os patrocinadores, têm desse estilo de roupa. Será que vestir roupas tão extravagantes não acaba prejudicando a imagem desse atleta?
 
Deveria ser uma preocupação dos assessores (de imprensa e de marketing) dos atletas e dos assessores do próprio clube determinar qual tipo de roupa o jogador deve usar quando está a serviço do seu empregador.
 
Não à toa, os jogadores que mais faturam no mundo são atletas que têm contratos severos de exploração de imagem. Kaká e Ronaldo, por exemplo, só usam roupas do estilista Giorgio Armani quando estão fora do Milan. Julio Baptista tem acordo semelhante com a Hugo Boss. E todos esses contratos foram fechados quando esses jogadores atuavam no Brasil.
 
Faz parte do marketing pessoal do atleta preocupar-se com o tipo de roupa que ele tem de usar durante as entrevistas na televisão. Parece tolice, mas a imagem ainda é mais importante do que o conteúdo. Infelizmente.

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Talvez a razão de todos os problemas

Sabe todos aqueles problemas do futebol brasileiro?
 
Não?
 
Relembro: violência, estádios mal cuidados, falta de estrutura, fraco atendimento, fraco rendimento, corrupção, escândalos, jogos fracos, péssimos horários, falta de acessibilidade, falta de transparência e por aí vai.
 
Lembrou?
 
Legal. Agora esqueça.
 
Sim, esqueça.
 
Quer dizer, ou esqueça, ou tolere, ou crie e lidere um movimento radical por mudanças.
Afinal, nada vai se transformar – pelo menos dentro de um curto espaço de tempo.
 
Os problemas do futebol brasileiro estão profundamente ligados a todos os problemas que pairam sobre o nosso país. Achar que o futebol será diferente do resto é acreditar que existe uma espécie de aura protetora ao redor do esporte. Se existe, ela não está funcionando.
 
Toda vez que se debate algum aspecto da estrutura do futebol nacional, sugere-se exemplos do além-mar. Algumas vezes, faz-se menção ao exemplo do funcionamento do esporte-entretenimento norte-americano. Em outras, utiliza-se o exemplo europeu como um estudo de caso. Mas são raras as vezes em que o próprio Brasil é utilizado como referencial, que seria de fato a coisa mais óbvia a se fazer.
 
De qualquer maneira, o meu argumento de que nada vai mudar tão cedo parte do princípio de que o desenvolvimento do futebol é uma conseqüência de outras mudanças sociais. Não a causa, como alguns preferem entender. Não. Jamais. Futebol vem depois. Primeiro as coisas mais básicas: saúde, segurança e educação. Depois uma outra montoeira de coisas, para que então todas essas elementares evoluções forneçam a conjuntura sobre a qual o ambiente do futebol brasileiro possa se desenvolver.
 
Analisando a partir dessa ótica, fica fácil prever um futuro não muito brilhante para o esporte nacional. O carro-chefe disso é o fato de que o público do futebol profissional brasileiro, no seu sentido defendido por legisladores, articuladores e afins, está cada vez mais deixando de existir.
 
Há no Brasil uma clara defesa de que o futebol é um produto subvalorizado, na mão de administradores incompetentes, e que carece de uma série de melhorias para que o público possa voltar aos estádios.
 
Bom, primeiro é preciso quebrar essa idéia de que o público um dia vai voltar aos estádios. Isso é mentira. O público nunca foi ao estádio. Salvo alguns raros anos, que podem muito bem ser entendido como exceção, a média de público dos campeonatos brasileiros não é muito maior do que a de hoje. Quatro ou cinco mil, no máximo, talvez. Nada de muito exuberante. Em geral, a média sempre foi pífia, ou seja, o público nunca foi muito chegado em ir ao estádio, por mais que afirme gostar de futebol.
 
Mas por que isso?
 
Basicamente porque o futebol, desde que ganhou contornos mais comerciais a partir do fim do século passado, passou a se sustentar na classe média, aquele limbo que fica entre a pobreza e a riqueza. E não só na Europa. Processos de globalização e evolução tecnológica fizeram com que esse caráter fosse assumido por todos os lugares onde existe futebol profissional que se preze, inclusive o Brasil.
 
A classe média é a classe essencial para o futebol profissional atual, pois é nela que residem pessoas com poder aquisitivo e tempo suficientes para conseguir consumir produtos relacionados ao seu clube de futebol regularmente, mas que não têm muito mais tempo e dinheiro para gastar com outras formas de entretenimento mais atraentes – como viagens, por exemplo.
 
E o problema é que no Brasil a classe média vem diminuindo cada ano mais. Não são muitos os que estão por aí. É um número muito baixo para sustentar toda a estrutura do futebol nacional. Além disso, existe uma série de outros empecilhos que inibem o potencial de consumo desse já escasso público. Essa, por exemplo, é a classe econômica que mais sofre com as tributações, ou seja, tem menos dinheiro livre para aplicar onde bem entender. Futebol, no caso.
 
Enquanto o Brasil não conseguir se resolver socioeconomicamente, o futebol não vai evoluir. Não tem como.
 
Se você quer lutar pelo futebol brasileiro, lute pela classe média.
 
Ou lute pela melhoria das condições sócio-econômicas.
 
Mas lute com afinco. Afinal, você é brasileiro.
 
E brasileiro…
 
Bom, você sabe o resto.

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Qual é a do Leão?

Caro leitor,
 
O colunista João Paulo Medina não pôde publicar seu texto semanal.
 
Enquanto ele estiver ausente, será substituído neste espaço por Antonio Afif, coordenador de gestão de carreiras do projeto Campus Pelé.
 
Formado em economia pela Universidade Mackenzie, Afif já foi diretor de marketing e assessor da presidência do Corinthians. Além disso, prestou assessoria e consultoria a diversos clubes do país e escreveu os livros “Futebol 100% Profissional”, em parceria com José Carlos Brunoro (1997), e “A Bola da Vez – O Marketing Esportivo como Estratégia de Sucesso” (2000).
 
A coluna de João Paulo Medina voltará dentro de algumas semanas.

 
O empresário Paulo Garcia, da Rede Kalunga, é o novo diretor de futebol do Corinthians. Sua entrada é uma aposta para conter os ímpetos destemperados de Leão com a mídia.
 
Porém, o buraco é mais embaixo. A verdade é que não há mais clima para o técnico continuar à frente do time do Corinthians. Leão mostrou suas limitações na função. Treinos táticos parecem não ser do agrado do treinador mosqueteiro, num momento em que a equipe precisa contar com o dedo estratégico de um treinador.
 
Não é segredo que Leão não é fã da fisiologia do esporte e também da tecnologia. Certa vez o técnico corintiano chegou a dizer que não era “computadorizado”. Aliás, o Corinthians é um dos poucos clubes que possui um setor bem equipado para dar apoio ao futebol.
 
Aí fica a pergunta: será que ainda há espaço no futebol para um técnico que não consegue dar um padrão de jogo num time que possui um bom elenco (ou não?), que pouco se preocupa em treinar as variantes táticas que podem acontecer num jogo, que não utiliza os recursos humanos e tecnológicos à sua disposição e sempre arranja um culpado para os resultados negativos?
 
Como no futebol o que vale ainda é o resultado, esperemos então pelo clássico contra o Palmeiras.

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