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Birra de criança

Já, já vai acontecer uma grande tragédia no futebol brasileiro. Eu disse isso antes, digo agora e vou dizer mais algumas vezes até a tragédia acontecer, pra então lembrar a todos dizendo “eu não disse?”, coisa que eu não quero fazer porque vai parecer birra de criança.
 
O discurso está ficando batido, eu sei, mas é bem aí que mora o perigo. Como pouco, ou nada, aparentemente está sendo feito, a pouca relevância da minha retórica periga cair no esquecimento. E aí voltamos todos à estaca zero, se é que algum dia saímos de lá.
 
Dois exemplos recentes indicam que o perigo está muito mais próximo do que provavelmente se imagina.
 
O primeiro, e mais óbvio, acontece aqui do lado, logo ali, pulando o riacho. Devido à recente escalada da violência entre torcedores, notoriamente os organizados, o futebol argentino teve até a continuidade do seu campeonato nacional ameaçado. Torcedores brigando com torcedores, com jogadores, com dirigentes e com o poder público. Nada que seja lá muito diferente da situação aqui da terra de Santa Cruz, ou seja, é uma situação que pode perfeitamente acontecer por essas bandas. Apesar de essa ameaça ainda não ter se concretizado, o valor simbólico dela é de uma preocupação ímpar.
 
O outro exemplo que serve pra dar sustentação à minha teoria de que a tragédia no futebol brasileiro é iminente, é o triste episódio do acidente aéreo do avião da Gol, que matou um monte de gente. O exemplo não é exatamente o acidente em si, mas a série de eventos que permitiram que ele acontecesse.
 
Foi bastante noticiado essa semana o fato de terem acontecido recentemente pelo menos três quase-tragédias no espaço aéreo brasileiro. Salvaram-se por um triz. Esses três eventos foram devidamente relatados e reportados. Mas nada, porém, foi feito. Justamente porque no Brasil ainda impera a filosofia de que enquanto uma coisa não acontecer, tá tudo beleza.
 
Enquanto o prédio não cair, não tem por que se preocupar em saber se o pilar é de concreto, madeira ou isopor. Pra quê? Tá de pé, não tá? Se cair, é porque era pra cair. Tá tudo beleza.
 
Enquanto os aviões não se chocarem no ar, não tem por que se preocupar em melhorar as condições de tráfego aéreo. Pra quê? Tá tudo voando, não tá? E daí que três aviões quase bateram? ‘Quase’ não é ‘bater’, é? Então, não precisa mudar nada. Tá tudo beleza.
 
Enquanto não morrer mais de uma centena de pessoas ao mesmo tempo dentro de um estádio, não tem por que se preocupar com a segurança do futebol. Pra quê? Tá ganhando, não tá? Quem mais no mundo é pentacampeão? Desde quando segurança traz título? Além do quê, só vai pro estádio quem quer. Ninguém é obrigado, é? Que eu saiba não tá na Constituição. Além disso, não tá passando na televisão também? Então não reclama. Tá tudo certo. Tá tudo beleza.
 
Credo.

Parece desculpa de criança.

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Futebol e racismo

O Brasil celebrou em 20 de novembro o Dia da Consciência Negra. E como recomendam as pessoas que se preocupam com o crescimento e desenvolvimento de nosso país de forma justa e democrática, esta data é adequada para que façamos uma reflexão crítica sobre as condições de vida da população negra brasileira.
 
Aproveitando, portanto, o momento procurei refletir um pouco sobre alguns aspectos que envolvem a inserção do negro no futebol brasileiro.
 
Não são poucas as pessoas que afirmam não existir preconceito de cor ou racismo no Brasil. 
 
Há aqueles também que consideram o futebol como uma das instituições mais democráticas que possuímos e que não faz distinção de raça ou de classe social para abrir portas aos seus atores, desde que sejam talentosos.
 
E concluem afirmando que o futebol é um canal privilegiado que promove a inclusão e a justiça social, dando oportunidade a todo mundo, indistintamente.
 
Visto por certo ângulo até podemos dar alguma razão a tais argumentos.
 
De fato, se formos analisar a porcentagem da população negra e mulata de nosso país e compararmos com o número de atletas da raça que praticam futebol e nele se destacam como profissionais, vamos encontrar muitos deles nos clubes espalhados pelo Brasil.
 
Faça o exercício de verificar em algumas revistas especializadas, álbuns de figurinhas ou mesmo sites dos diferentes clubes brasileiros e você vai notar que há um número razoável de atletas negros e mulatos em grande parte das equipes.   
 
Entretanto, se formos analisar um pouco mais profundamente, verificaremos que esta democracia e os canais de inserção ou inclusão social não são tão amplos assim.
 
Se tiver um pouco de paciência tente, por exemplo, descobrir quem são os treinadores que dirigem os diferentes times. Pegue os 40 clubes que disputam as séries A e B do Campeonato Brasileiro e vai descobrir que não há mais do que 2 ou 3 treinadores negros ou mulatos dirigindo essas equipes.
 
Mais difícil para pesquisar, mas também interessante é verificar quantos dirigentes negros ou mulatos possuímos no futebol brasileiro. Infelizmente vamos descobrir que eles são em números muito reduzidos.
 
Seria isto simples coincidência ou o reflexo do preconceito e racismo ainda vigente entre nós?
 

Eu, particularmente, não tenho dúvida alguma quanto à resposta.

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O exemplo vem de cima

São Paulo e Atlético Paranaense são, sem dúvida, os dois clubes que apresentam o melhor modelo de gestão hoje do futebol brasileiro. Recentemente, o Inter também entrou nessa dança, mas não dá para duvidar que Tricolor e Furacão ainda são soberanos quando falamos de gestão racional, planejamento, ações de marketing, etc.
 
Os dirigentes de São Paulo e Atlético são, também, aqueles que mais cobram da imprensa uma atitude coerente e profissional no dia-a-dia da cobertura do clube. O Atlético, por exemplo, se vê às voltas com a questão da Kyocera Arena. Volta e meia seus dirigentes se reúnem com representantes da imprensa para mostrar o quão importante é mencionar o nome do patrocinador quando se fala, escreve ou mostra o estádio do Furacão.
 
Só que, na última semana, São Paulo e Atlético deram mostras de que, se o discurso sobre a modernização do futebol está na ponta da língua de seus dirigentes, ainda há algumas falhas gravíssimas que são cometidas pelas pessoas que estão no cotidiano dos clubes.
 
Na última quarta-feira, dia 15, quando o Atlético sofreu a inesperada derrota para o Pachuca, em plena Kyocera Arena, o técnico Osvaldo Avarez, o Vadão, cometeu um grave pecado na entrevista coletiva após o revés. Ao falar sobre o estádio do Atlético, Vadão disse “Arena da Baixada”. Ignorou o nome do patrocinador, tal qual faz a imprensa e tal qual reclamam os dirigentes aos jornalistas.
 
Já no domingo, dia 19, enquanto os atletas festejam o quarto título brasileiro do São Paulo, o supervisor de futebol, Marco Aurélio Cunha, participava do programa “Mesa Redonda”, da TV Gazeta. Vestido com uma camisa da Reebok, patrocinadora do clube, o dirigente fazia uma afronta ao departamento de marketing do clube, tendo ao seu lado um daqueles chapéus em forma de estrela, que são vendidos na porta do estádio e que, obviamente, não é um produto oficial do clube. De que adiantava a camisa do patrocinador (que não tinha o escudo do clube), se o chapéu ao lado era um produto falsificado?
 
São Paulo e Atlético têm se preocupado demais em patrulhar o trabalho da imprensa, numa correta busca pela profissionalização do pensamento dos jornalistas sobre o marketing esportivo. Mas têm de ter a consciência de que o exemplo deve ser dado dentro de casa. Os funcionários do clube, pelo visto, ainda têm de passar pela mesma aula que geralmente é dada à imprensa.

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O fenômeno Micah Richards

Aconteceu ontem o fato mais importante da história do futebol brasileiro na Inglaterra, que ultrapassa até o jogo do Sócrates pelo Garforth Town. No amistoso da seleção inglesa com a Holanda, um passo foi dado para a transformação completa do futebol britânico, motivado diretamente pela influência tupiniquim: estreou na partida, substituindo o delongo Gary Neville, o novo fenômeno do futebol inglês, Micah Richards.
 
Ok. Bacana. E que diabos o Brasil tem a ver com isso?
 
Aparentemente, nada. Micah Richards é um jogador do Manchester City, de 1,80m de altura, que em 12 jogos da Premier League marcou um gol e levou um cartão amarelo. Entretanto, e aí entra a sua importância histórica para o Brasil, Richards é o primeiro jogador da seleção inglesa a ser formado pela Brazilian Soccer School, uma escola de futebol sediada na ilha britânica que se dispõe a ensinar seus alunos com os mesmos métodos aplicados em terras brasileiras, e isso se resume basicamente a trocar a bola normal pela bola de futebol de salão.
 
A Inglaterra, sabe-se muito bem, possui um grande apego às suas tradições futebolísticas, principalmente com relação ao método de treinamento e ao esquema tático, ambos bastante focados na coletividade e no desenvolvimento físico. Uma das primeiras frases do recém-lançado livro “The Italian Job”, escrito pelo italiano Gianluca Vialli, ex-jogador e técnico do Chelsea, pergunta: “Qual é o esquema que existe entre os ingleses e o 4-4-2?”, numa clara referência ao esquema tático empregado por quase todos os times em quase todos os níveis de quase toda a Inglaterra. Por isso, a Brazilian Soccer School pode ser entendida como uma revolução na idéia de construção do ideal inglês de futebol.
 
O projeto da Brazilian Soccer School é de autoria do jovem de trinta e poucos anos Simon Clifford. Ele é um dos personagens mais polêmicos do futebol inglês, que nunca teve muita relação com o futebol brasileiro, até conhecer um atleta que jogava por aquelas bandas e vir ao Brasil para entender qual era o negócio dos brasileiros com o seu estilo de jogar e por que os melhores jogadores quase sempre surgiam por aqui. Após a visita, Clifford concluiu que a raiz de todo o sucesso brasileiro no mundo do futebol está diretamente atrelada ao futebol do salão.
 
Com isso em mente, voltou pra Inglaterra e abriu a Brazilian Soccer School, uma escola de futebol que foca a estrutura de seu ensino em três aspectos chaves: no futsal, na ênfase no desenvolvimento das habilidades individuais, e no maior tempo de treinamento. Aparentemente, a idéia vem dando certo. Só na Inglaterra são 600 escolinhas, que somam quase 200 mil alunos de idades de 5 a 16 anos. Fora da Inglaterra, são 11 países com pelo menos uma escolinha da Brazilian Soccer School.
 
Simon Clifford crê que irá revolucionar o futebol britânico. O primeiro passo foi criar a Brazilian Soccer School. Depois, comprou o pequeno time Garforth Town, que ficou bem conhecido quando contratou o Sócrates pra uma partida, e criou um planejamento a longo prazo para a equipe, que culmina com o título da Premier League em 2028. E agora, Clifford colocou um jogador da sua escola como titular da seleção inglesa.
 
Micah Richards, volto a dizer, é um fenômeno. É o jogador mais jovem da sua posição a ter pisado em campo com a camisa inglesa. É cria de Simon Clifford. É um jogador formado por uma escola que ensina o jeito brasileiro de se jogar futebol.
 
Curiosamente, Micah Richards é um zagueiro.

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Treinador de futebol – O paradoxo de uma profissáo

O que é preciso para ser um treinador de futebol?
 
Não muita coisa, se tirarmos como exemplo o que fez a CBF há pouco tempo, quando escolheu um ex-jogador para dirigir uma das mais respeitadas e temidas seleções do planeta, a seleção brasileira.
 
Embora Dunga possua uma respeitável biografia como jogador de futebol e pelo que sabemos trata-se de uma pessoa idônea, a verdade é que nunca teve experiência e nem formação acadêmica para exercer essa função.
 
O fato, entretanto, não é uma exclusividade do Brasil ou do nosso futebol. Muito poucos treinadores possuem os requisitos mínimos básicos para ocuparem esse cargo com competência, seja qual for o país ou continente que escolhermos.
 
Até na Europa, tão badalada em muitos aspectos por nós brasileiros, são poucos os treinadores que têm formação consistente para serem considerados verdadeiramente profissionais, na sua mais completa acepção.
 
Diferentemente de outras profissões, o treinador de futebol, não só aqui como em tantos outros lugares do mundo, possui suas características próprias e peculiaridades.
 
Apesar de ser uma profissão bastante valorizada pelo mundo afora, aonde alguns chegam a ganhar em um mês aquilo que muitos trabalhadores não conseguirão ganhar em toda a sua vida, não se exige muitos pré-requisitos desses profissionais se os compararmos com outras funções executivas.
 
Embora, pela importância e complexidade de sua profissão, um treinador precisasse de consistente liderança, formação acadêmica, conhecimentos diferenciados sobre tática, pensamento estratégico, metodologia que incorporasse processos pedagógicos avançados, além de sólidos conhecimentos das ciências humanas para poder lidar com os atletas e todos aqueles que circundam seu trabalho (entre outros saberes), o fato é que a grande maioria nem passa perto destes requisitos mínimos.
 
Ressalvadas as exceções, na verdade o treinador de futebol que deveria estar em permanente busca de novos conhecimentos e desenvolvimento, parece estagnado e sem forças em busca de sua valorização.
 

Enfim, um paradoxo incompreensível que mereceria um estudo sociológico mais aprofundado.

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Náo pense em crise, trabalhe

Na década de 80, uma dessas frases anônimas que se tornam sábios ditos populares era uma que dizia: “Não pense em crise, trabalhe”. Não sei por que motivo, desde moleque tinha um adesivo com essa frase colado no parapeito da janela do quarto.
 
Na época da escola, crise mesmo era ver o time perder, ser gozado pelos colegas no dia seguinte, ter de agüentar a pilhagem dos amigos por torcer para a equipe perdedora. Mas mesmo assim a gente trabalhava, se esforçava, esperava o dia em que a sorte viraria a nosso favor.
 
Até hoje, nos momentos de dificuldade, lembro-me do adesivo no antigo quarto. Ele serve de motivação e até mesmo fonte de inspiração para trabalhar mais e mais para reverter situações de crise. Agora, já estou pensando em recriar tal adesivo e vender em grande escala para os clubes de futebol de nosso país.
 
Cada vez mais vemos que dirigentes, treinadores e jogadores se preocupam muito mais com a crise e, em vez de trabalharem, discutem e fomentam o problema, fazendo com que não se consiga sair dele de maneira alguma.
 
Palmeiras, Fluminense e Corinthians foram três clubes que se cansaram de fazer isso no Brasileirão. Com elencos bons, o trio sucumbiu por problemas internos, que foram se agravando e colocando o time na berlinda durante toda a competição. No Palmeiras, o problema foi o técnico. No Flu, a disparidade de tratamento dos jogadores contratados da Unimed daqueles revelados em Xerém. No Corinthians, a crise sempre foi o relacionamento da diretoria do clube com os gestores da MSI. E, na reta decisiva do campeonato, só o Corinthians deixou de pensar tanto na crise de sua tumultuada relação com a “parceira” MSI para trabalhar.
 
Na parte de cima da tabela, porém, o lema é totalmente diferente. Será que existe crise para São Paulo, Inter, Grêmio, Santos, Vasco e Paraná? Durante todo o campeonato esses times se mantiveram num grau de excelência em performance e, conseqüentemente, resultados.
 
Há três rodadas, o líder São Paulo, cada vez mais próximo do título, bobeou num facílimo jogo em casa e perdeu para a ameaçadíssima Ponte Preta, vendo diminuir sua vantagem para o Inter. Em vez de pensar em crise, o time resolveu trabalhar. Agora, está a uma vitória de seu quarto título nacional.

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A inveja européia

Demorou, mas aconteceu. Finalmente a Uefa baixou a bola e resolveu aceitar os fatos como eles são. Aconteceu aquilo que todos nós grandes nacionalistas sempre soubemos. Valeu a pena não desistir. Nunca. Jamais!
 
O futebol brasileiro é um exemplo para o mundo.
 
E não sou eu quem tá dizendo, é a Uefa.
 
Sim. Arregale os olhos e continue lendo, pois vou me repetir: a Uefa admitiu que o Brasil é um exemplo a ser seguido pelo mundo do futebol. Sério. Quem disse isso, na verdade, foi Andy Roxburgh, diretor técnico da Uefa, no editorial da quinta edição da Uefa Grassroots Newsletter.
 
Para contextualizar, Andy Roxburgh é diretor-técnico da Uefa desde 1994, cargo que começou a desempenhar um ano depois de ter largado o papel de técnico da seleção escocesa de futebol, que havia assumido em 1986, sucedendo o hoje Sir Alex Ferguson. E sim, as datas estão corretas. Andy Roxburgh foi de fato o técnico da seleção escocesa na Copa de 90, aquela que tinha sete titulares com o sobrenome MacAlgumacoisa, que enfrentou o Brasil de Lazaroni e foi derrotada por 1 a 0, gol de Muller aos 37 do segundo tempo.
 
Curiosamente, Andy Roxburgh enfrentou uma seleção que muitos consideram como a pior seleção brasileira da história do futebol moderno, que jogava de uma maneira extremamente desfigurada daquilo que se entende como o padrão brasileiro de futebol. Ainda assim, Roxburgh mostra-se um apaixonado pela capacidade nacional de revelar grandes talentos. Ou, pelo menos, mostra-se apaixonado pelo país. Diz ele no começo do seu texto:
 
“Pense no Brasil: sol, mar, samba e futebol. Pense no sorriso do Ronaldinho – um sorriso que epitomiza o amor do brasileiro pelo jogo e a alegria de jogar futebol. Pense no fato direto para o futebol europeu de que o país com o maior número de representantes na primeira rodada da Liga dos Campeões da Uefa desse ano foi o Brasil. Como reportado por um jornal alemão, a equipe titular das 32 equipes incluíam 65 brasileiros, 37 franceses, 24 portugueses, 22 italianos, e apenas 12 alemães. O Brasil pode não ter ganhado a Copa de 2006, mas sem dúvida alguma continua como o maior exportador de talento futebolístico do planeta. E, com o seu ambiente natural e sua população apaixonada, é um modelo para o desenvolvimento do futebol de base”.
 
Aí ele disserta sobre como é bacana estar na beira do mar e ver as pessoas com roupas de praia e jogando futebol por brincadeira. Depois pondera sobre a influência do futebol de praia e do futsal no jeito de jogar brasileiro. Nada lá de muito brilhante.
 
Mais pro final do editorial, Andy Roxburgh diz que – obviamente – “(…) poucos países na Europa podem reproduzir as condições do ambiente natural brasileiro. Mas, de qualquer maneira, lições podem ser aprendidas. Associações de futebol que são sérias quanto à saúde e o crescimento do jogo são necessariamente obrigadas a promover a participação e o interesse em massa. Futebol de base que age como veículo de integração social, saúde e alegria é o objetivo. Por conseqüência, talentos irão emergir. No Brasil, o amor pela bola, expressão pelos jogos em campos diminutos, e a alegria absoluta de jogar foram tão cultivados que a paixão e criatividade do futebol começaram a fazer parte do DNA da nação. A Europa pode ter tido os quatro finalistas da Copa de 2006, mas em um mundo altamente competitivo, complacência não é uma opção. É imperativo o desenvolvimento constante do jogo e a fundação de todo o crescimento e desenvolvimento do futebol está na sua base”.
 
Basicamente, Andy Roxburgh sugere que o Brasil tem tantos jogadores de futebol de qualidade por causa dos campos pequenos, das praias e da alegria do povo. Obviamente, não se preocupa em ver exatamente o que está por trás de todo esse processo. Mas tudo bem, afinal o cara é diretor-técnico da Uefa. Merece, pelo menos, algum respaldo em suas ponderações, leviandades ou não.
 
Mas que parece um papo típico de turista que chega na beira do mar, degusta uma caipirinha, petisca um camarão, pega um bronzeado pra ficar como um camarão, filosofa sobre como é bacana o lugar, como as pessoas são bonitas e como isso tudo se relaciona com o futebol, ah, isso parece.

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A volta da fórmula do mata-mata: uma forma de premiar a incompetência

 

 

 

Para aqueles que gostam e acompanham o futebol, a ordem do dia é a discussão do formato de disputa dos campeonatos brasileiros.
 
O futebol por aqui já experimentou várias fórmulas ao longo do tempo.
 
Entre as diferentes opiniões há os que defendem o campeonato de pontos corridos nos moldes que vem sendo realizado deste 2003, com turno e returno, e os que defendem o chamado “mata-mata”, anterior a este período.
 
É bom deixar claro, antes de qualquer coisa, que ao se colocar o foco no modelo de disputa de nossos campeonatos não significa que, escolhida esta ou aquela fórmula, todos os problemas do nosso futebol estarão resolvidos.
 
Não há fórmula de campeonato que isoladamente vá tornar nosso futebol superavitário, organizado, bem administrado, com garantias de segurança e com boa qualidade técnica.
 
Enquanto não se resolver as questões estruturais que afetam a CBF, Federações, clubes e conseguirmos manter nossos melhores jogadores aqui no Brasil, dificilmente sairemos deste estado de verdadeiro sucateamento pelo qual passa o futebol do país, não obstante o retrospecto repleto de títulos mundiais conquistados pela seleção brasileira.
 
Mas, voltando ao formato de disputa dos campeonatos, todos os argumentos em favor do mata-mata, de que é mais motivante, causa mais emoção, dá oportunidade para os times que não estavam tão bem na primeira fase possam se recuperar e até tornarem campeões na segunda etapa, entre outras justificativas, não se sustentam simplesmente pelo fato de que esse formato geralmente provoca injustiças que poderiam muito bem ser evitadas.
 
Somente os campeonatos de pontos corridos valorizam o trabalho das equipes mais técnicas, preparadas e equilibradas e é capaz de destacar e premiar os clubes que possuem planejamento e organização.
 
Qualquer outra proposta fica parecendo casuísmo para premiar a incompetência, mesmo que garanta eventualmente mais emoção em sua fase final.

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O fator sorte no esporte

Diversas vezes abordamos aqui na Universidade do Futebol discussões sobre a profissionalização da gestão dos clubes. Quase sempre a conclusão é de que é preciso, quando se fala no trabalho dentro do esporte, que se tome atitudes racionais, mesmo num ambiente dominado pela emoção.
 
Exemplos que comprovem essa tese não faltam. Vão desde o mais óbvio, que é a questão de manter um trabalho com a manutenção de um treinador dentro do clube o maior tempo possível, até mesmo coisas mais detalhistas, como a necessidade de se fazer um trabalho integrado dentro e fora de campo para que uma equipe tenha um desempenho esportivo acima da média.
 
E, racionalmente, quanto mais os clubes investem nesse estilo de conduta fora de campo, mais resultados aparecem. Hoje, São Paulo, Inter e Santos são os clubes com as maiores receitas do Brasil. Será que isso acontece por eles serem os clubes que mantêm há mais tempo os seus treinadores, que investem na formação e contratação de atletas e, ainda, dão boas condições de treinamento a seus astros?
 
Bom, sem dúvida que tudo isso influencia. Mas, mesmo com essas evidências que os clubes no topo da tabela do Brasileirão nos trazem, muitas vezes o investimento no esporte não é norteado pela lógica do mercado. Se uma empresa é rentável, apresenta bons resultados e domina o mercado em que atua, eu vou querer investir nela. Se, ao contrário, ela só me traz prejuízo, não consegue bater a concorrência e tem apenas uma história de marca forte, não valeria tanto a pena investir meu dinheiro nela.
 
Se é assim na vida real da economia brasileira, por que não conseguimos que seja assim na realidade do patrocínio no futebol de nosso país? Aí é que entra o tal do fator sorte que envolve a competição esportiva.
 
São Paulo e Inter foram apostas feitas pela Reebok no começo de 2006. A empresa ia voltar ao mercado e decidiu investir pesado em alguns clubes. Encontrou o atual campeão do mundo à época, o São Paulo, em busca de um novo parceiro. Já no Colorado gaúcho viu a chance de colocar a marca num time que tinha potencial para ir longe na temporada.
 
No fim do ano, a empresa contabilizará só lucros com o investimento inicial de R$ 11 milhões que fez nos dois clubes. Afinal, a disputa do título da Copa Libertadores, torneio televisionado para todo o mundo, envolveu São Paulo e Inter. Agora, o Brasileirão tem as duas equipes como únicas candidatas à conquista do campeonato. A boa fase dentro de campo reflete nas vendas da empresa fora das quatro linhas.
 
Na outra ponta da tabela, a Adidas, marca há mais tempo ligada ao futebol em todo o mundo, assiste os seus dois patrocinados, Palmeiras e Fluminense, lutarem desesperadamente contra o rebaixamento. E tão mal quanto os clubes ficam as vendas de camisas pela empresa.
 

Mas, antes de o ano começar, Palmeiras e Flu tinham, potencialmente, as mesmas chances de conquistas de São Paulo e Inter. Mas, ao longo da temporada, o Palmeiras foi eliminado na Libertadores pelo rival da capital paulista num jogo decidido pelo árbitro, que interrompeu um toque de bola e armou o contra-ataque fatal são-paulino. A partir daí, o time alviverde degringolou. E a sorte sorriu para São Paulo e Reebok.

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O clássico dos clássicos

Na última terça-feira aconteceu o maior clássico do futebol contemporâneo, e entenda a contemporaneidade mencionada como algo de três anos pra cá. Jogaram pela Champions League – até porque esse jogo não pode acontecer em nenhum outro campeonato (por favor esqueça a Copa da UEFA, se é que alguém se lembra dela) – Barcelona e Chelsea, o sexto confronto entre os dois times nos últimos três anos.
 
A grandeza desse confronto fica explícita na formação em campo, quando é possível enxergar boa parte da nata dos jogadores de todo o mundo. Além disso, as duas equipes são as atuais campeãs, e líderes, de seus respectivos campeonatos nacionais, que são também dois dos mais importantes campeonatos do planeta.
 
A rivalidade é nítida, e os últimos jogos entre as duas equipes têm correspondido à expectativa que se cria em torno dos grandes clássicos. Os jogos são pegados, corridos e nervosos. São dois times com características bem diferentes. O Chelsea é um time que faz um jogo muito físico e relativamente técnico, muito estruturado na mistura entre a escola européia com a escola africana. O Barcelona, por sua vez, faz um jogo muito técnico e relativamente físico, baseado na mistura entre a escola européia e a escola sul-americana. O conflito, entretanto, vai muito além do gramado.
 
Chelsea e Barcelona representam hoje duas realidades distintas e conflituosas existentes no mundo do futebol. São dois modelos de clubes baseados em estruturas e representações bastante diferentes.
 
O Barcelona gosta de dizer que é muito mais do que um clube, e talvez seja mesmo. São poucos os exemplos atuais que assumem tanta representação da comunidade na qual está inserido. O Barcelona é a Catalunha e a Catalunha é o Barcelona.
 
O Barcelona não tem dono, é comandado pelo corpo de mais de cem mil sócios, e não tem torcedores, tem membros. Quem torce pro Barcelona, de verdade, torce por um ideal, e não apenas pelo simples sucesso futebolístico. Sinal disso é que os jogadores que atuam no Barcelona são contratualmente obrigados a aprender catalão. Oleguer, jogador barbudo do clube que é meio zagueiro e meio lateral, é um atuante na política catalã de esquerda e em sua biografia recém lançada chega a fazer alguns devaneios a respeito da intromissão da Espanha nas guerras do Golfo. O Barcelona é a representação extrema do sucesso do modelo associativo dentro do futebol.
 
O Chelsea, por sua vez, não é nada mais do que um clube de futebol. Sequer isso. Mal possui torcedores, diga-se bem a verdade. A torcida do clube do bairro de Fulham nunca foi das maiores, e parte dela hoje rejeita o clube devido ao rumo tomado nos últimos anos. Uma nova leva de torcedores surgiu, mas mais influenciados pelos efeitos cosmopolitas de tantas estrelas reunidas em uma mesma camiseta do que exatamente por aquilo que o clube significa, que – como eu disse antes – é quase nada.
 
Um clube de relativamente pouca história e tradição, principalmente quando comparado ao exemplo citado no parágrafo acima, a equipe londrina estava afundada em dívidas e ameaçada de falência quando foi abocanhada por um bilionário russo que viu ali uma grande oportunidade de comprar simbolicamente sua cidadania inglesa e, dizem, o seu seguro de vida. Abramovich comprou o clube, os jogadores, e – indiretamente – os torcedores.
 
O Chelsea é um clube de um homem só, e se bobear pode virar o clube de uma mulher só. A esposa do bilionário russo descobriu esses dias atrás uma escapadinha sua e entrou com processo de divórcio que pode custar algo em torno de cinco bilhões e meio de libras ao décimo primeiro homem mais rico do mundo. Isso pode eventualmente incluir o clube de futebol. Por causa de uma loira de vinte e três anos, o Chelsea pode mudar de dono, e de rumo. Mas, no momento, ninguém contesta a solidez financeira do clube. O Chelsea é a representação extrema do sucesso do modelo empresarial contemplado com o investimento de um benfeitor.
 
Chelsea contra Barcelona é um contra a rapa. É o dinheiro do suor dos trabalhadores das indústrias siderúrgicas da Rússia contra o dinheiro do suor dos trabalhadores da Catalunha. É a nova onda do futebol contra o seu sentido tradicional contemporâneo.
 
Chelsea contra Barcelona é, de longe, o maior clássico do planeta.
 

Pelo menos enquanto a mulher do Abramovich não ganhar seus bilhõezinhos na justiça.

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