Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br
Categoria: Sem categoria
Categorias
“Se você quiser ser jornalista no esporte, não vá para a televisão. Fique no jornal ou na revista”. Ouvi essa previsão durante um almoço em 1998, ainda com a careca que simboliza a entrada na faculdade (e não o sinal dos tempos) de meu tio, muito mais experiente e estabelecido na profissão.
O aviso desde então martela em minha cabeça. Jornalismo, no esporte, não existe na TV. Passados oito anos daquela “profecia”, é que cada vez mais claro que, na televisão, o esporte tem de ter o status de entretenimento.
Sim, com a importância que o esporte adquire nas grades de programação das emissoras, sem dúvida que o espaço para o jornalista diminui paulatinamente dentro das transmissões esportivas.
Não é difícil perceber isso no dia-a-dia. O que podemos falar sobre as mesas-redondas infindáveis dos domingos? Quantas informações são de fato transmitidas para os telespectadores nas noites de domingo? Apenas os gols da rodada são informativos. Do restante dificilmente extraímos alguma coisa.
E as transmissões esportivas são, cada vez mais, shows para entreter o público, para aumentar a audiência de quem transmite e assim ganhar a concorrência do filme, da mulher semi-nua do outro canal, do cinema com a namorada…
Por isso mesmo que, recentemente, a classe jornalística se pegou numa discussão sobre a proibição a comentaristas que são ex-jogadores de futebol. Por que eles não podem pegar os microfones e falar ao público com o gabarito de quem já esteve em campo?
Oras, deixemos a hipocrisia de lado. Qual a função do comentarista para a empresa que o contrata? Assegurar bons índices de audiência para o canal. Sendo assim, se na transmissão já existem dois repórteres de campo para levar as informações sobre os atletas, por que é preciso um jornalista para comentar e levar as mesmas informações ao telespectador? Não é melhor chamar alguém de renome para os comentários? Isso não garante índices maiores de audiência? Sem dúvida que sim…
Além disso, é importante lembrar que o futebol na TV, hoje, é um produto como é o filme da segunda-feira, o humorístico da terça e por aí vai. Ou seja, não é possível assumir uma visão crítica imparcial e detonar o produto, já que a emissora depende dele para ter receita com publicidade.
O esporte na televisão é, acima de tudo, um espetáculo de entretenimento. Resta ao jornalista ter discernimento para não cair na bobeira de achar que ele faz parte do show. Sua função é informar. Deixa a representação para outros palcos.
Caros e eventuais leitores,
Venho nesta minha primeira coluna conclamá-lo a fazer um ato público de cidadania. Bem se sabe que estamos no meio do período em que nos lembramos que vivemos em uma democracia direta e universal, e que precisamos estar conscientes de fazer o que estiver ao nosso alcance para que consigamos manter um sistema equilibrado que respeite a nossa liberdade e a do próximo, de modo a estabelecer uma convivência pacífica em uma sociedade organizada. Convoco-o, portanto, a exercer o seu papel de cidadão.
E se você é um brasileiro no pleno exercício de sua cidadania, que possivelmente não desiste nunca, não mais vá a jogos de futebol. Não se dê ao trabalho.
Não pelo alto risco envolvido para a segurança pessoal, não pelas dificuldades de acesso, não pela falta de estrutura, nada disso. Não vá porque não é pra você ir.
Acredite, você não precisa.
No Brasil, aparentemente, futebol não foi feito pra ser visto pela torcida, e a maior evidência desse fato acabou de ser aprovada por parte do Poder Legislativo e sancionada pelo Poder Executivo.
A Timemania, a tão falada nova loteria federal destinada a tirar os clubes de futebol do buraco, traz à tona o significado dos clubes de futebol para o Estado brasileiro e expõe, em parte, algumas razões do porquê do cenário atual da indústria do futebol local.
Na nova loteria, essencialmente, o apostador escolhe alguns escudos de alguns clubes e torce para que a combinação escolhida seja sorteada. É um pouco semelhante à Mega-Sena, a mais famosa das loterias nacionais, que possui uma probabilidade de acerto de 1/50.063.860. Não sei exatamente qual será a chance de acertar na Timemania, mas fácil não vai ser, nem um pouco. Possivelmente seja muito mais provável o Santa Cruz ser campeão brasileiro desse ano.
Com a Timemania, o governo federal descobriu um jeito de desemperrar parte do caixa dos clubes sem ter que perdoar a enorme dívida pública que eles contraíram ao longo dos anos. É uma situação em que, aparentemente, todos saem vencendo. Mas como pra alguém ganhar um outro alguém precisa invariavelmente perder, sobrou pro de sempre, pro cidadão brasileiro. É ele que, através da ilusão do enriquecimento simples e fácil, pagará pelas improbidades administrativas cometidas pelos clubes ao longo de diversas gerações.
Isso porque eu tenho uma firme convicção de que quem eventualmente comprar uma cartela da Timemania estará se preocupando bulhufas em ajudar os clubes. Aliás, é provável que uma boa parte dos apostadores da Timemania sequer gostem de algum clube de futebol e jamais tenham ido a um estádio na vida. Ninguém vibrará com jogadas de efeito e gols, apenas com símbolos sorteados. No fim, o que interessa mesmo é o dinheiro da premiação, principalmente para as classes mais desfavorecidas da população, que tendem a ser as grandes consumidoras de loterias. E dinheiro é o que também, no fim, interessa ao governo, que sabe que dificilmente conseguirá reaver a dívida de outra forma.
Curiosamente, a Timemania não envolve em momento algum o jogo de futebol em si, apenas as marcas dos clubes. E isso demonstra claramente o papel que os clubes de futebol exercem hoje no país: meros símbolos. Um fomento ao jogo de azar. Um instrumento de um esquema ilusório que faz uso da omissão estatística, do débil ambiente nacional e das quase intransponíveis barreiras de escalada social para pagar a conta de terceiros.
No Brasil, clubes de futebol existem apenas para existirem. Não precisam se estruturar, não precisam oferecer um serviço que seja adequado ao valor pago, não precisam nada, talvez nem mais disputar uma partida de futebol minimamente decente. Não, basta existir.
Aqui, também, o torcedor sequer precisa se preocupar em comprar um ingresso e ir ao estádio. Afinal, quem paga a conta do futebol não é ele, é o cidadão comum. Se possível, na lotérica mais próxima.
Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br
Categorias
Futebol, democracia e autoritarismo
Tivemos no Brasil, durante o transcorrer do século 20, alguns períodos onde o autoritarismo imperou enquanto regime político. O primeiro período foi de 1930 a 1934. O segundo durou de 1937 a 1945. O mais recente, e provavelmente o mais trágico, foi o que durou oficialmente de 1964 a 1985. Depois disso o Brasil começou a viver um período chamado democrático.
Mas analisando o futebol brasileiro nesta perspectiva política fico em dúvida se realmente vivemos um período que possa autenticamente ser considerado como democrático.
Não obstante à evolução e progresso evidentes em muitos setores de nossa sociedade, a instituição futebol insiste, em pleno século 21, em continuar extremamente autoritária.
E este autoritarismo pode ser observado a todo momento nas atitudes dos dirigentes, dos treinadores e até dos jogadores de futebol.
E isso ocorre porque a mentalidade democrática não é algo que se instaura por decreto. Sabemos que a democracia, por si só, não faz milagres e nem surge do nada. É algo que tem que ser construido por todos, coletivamente, dentro de todas as contradições em que vivemos.
Em termos de futebol e rendimento, temos que reconhecer até que, em certas circunstâncias, é justamente a atitude autoritária que consegue resultados mais imediatos. Daí a dificuldade da implantação de propostas mais abertas, modernas e humanas para o futebol brasileiro.
Particularmente não vejo como as posturas autoritárias podem ser superiores às democráticas no sentido de se estimular as decisões grupais, as participações coletivas, a criatividade, a espontaneidade e a inovação, ingredientes tão essenciais para o futebol deste novo século.
Se quisermos manter a hegemonia do futebol brasileiro no cenário mundial temos que caminhar na direção do processo de democratização de nossas instituições, das quais o futebol faz parte.
Adaptando aquilo que nos ensinou o estadista inglês Winston Churchill, a democracia pode ser a pior forma de governo existente, só que ainda não descobrimos nada melhor para construirmos uma sociedade mais saudável, justa e criativa.
Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br
Amoroso chegou ao Corinthians e chamou o clube de “Sociedade Esportiva Corinthians”. O nome remete ao maior rival alvinegro, o Palmeiras, que é a única “Sociedade Esportiva” dos grandes clubes paulistas. Os principais veículos de imprensa da capital paulista chamaram a atenção para o fato, e destacaram a gafe do jogador.
Mas poucos se lembraram de que a gafe só pode ser do Sport Club Corinthians Paulista.
Afinal, o alvinegro é o único reincidente nessa história de o jogador errar o nome do time no qual se apresenta. Antes de sua conturbada apresentação no Corinthians, Amoroso nunca havia errado o nome do clube em que jogava. Mas o Corinthians já havia visto situação quase igual e nada fez para mudá-la.
Em 2005, o lateral-esquerdo Gustavo Nery trocou também as bolas e chamou o clube de “Corinthians Futebol Clube”, talvez um pouco confuso pelo fato de que os outros dois grandes clubes paulistas por que passou serem, de fato, um “Futebol Clube”. Mas o ex-jogador de São Paulo e Santos levou a fama por uma gafe que poderia ter sido evitada.
Considerando que Nery e Amoroso estavam no exterior quando foram contratados, não custava nada pedir para eles lerem um pequeno livro quando estivessem no vôo de volta para o Brasil.
Esse livro poderia ser uma espécie de guia com “regras de etiqueta” para o jogador do Corinthians, tratando desde a grafia e pronúncia correta do nome do clube até a maneira como se vestir antes do embarque da delegação.
Na primeira vez que isso aconteceu com Nery, a área de comunicação do clube deveria ter ficado atenta ao fato e preparado um manual para ser entregue ao novo contratado do time de futebol. Assim, enquanto faz o vôo de volta para o Brasil, o atleta aprende o que pode ou não fazer em seu novo ambiente de trabalho.
Jogador de futebol não é burro. Às vezes, pode até se fazer parecer para evitar dar entrevistas e, principalmente, evitar cometer qualquer gafe. Logicamente que o nível cultural dos atletas brasileiros está longe do ideal, assim como está o nível da educação em todo o país.
Mas, nos episódios Nery e Amoroso, a assessoria de imprensa do Corinthians deveria voltar à faculdade. Errar uma vez até pode, mas insistir no erro…
Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br
Ocupar uma posição destacada e de hegemonia no cenário do futebol mundial é algo que deixa uma grande parcela de brasileiros orgulhosos, mas paradoxalmente nos faz muito mal.
A prepotência e auto-suficiência que em certas ocasiões tomam conta de jornalistas esportivos, torcedores, profissionais, dirigentes e atletas de futebol, muitas vezes criam um clima que impedem o melhor desenvolvimento desta modalidade esportiva entre nós.
Como nos ensina Bernardinho, o nosso hexacampeão do vôlei, uma equipe vitoriosa é aquela formada por pessoas permanentemente insatisfeitas e inconformadas. A busca da superação é sempre o grande combustível que as leva para frente em busca de novas conquistas e que requer também certa dose de humildade.
Quando vamos entender que além dos talentos que possuímos em grande quantidade, precisamos de organização, planejamento e pensamento interdisciplinar? Enfim, uma abordagem capaz de integrar, com sabedoria, os esforços de todos: atletas, comissão técnica e responsáveis administrativos.
Hoje em dia são muitas as áreas que interferem e podem contribuir no rendimento esportivo de um atleta e da equipe como um todo.
O Milan, por exemplo, inaugurou em 2002, o chamado Milan Lab, um centro de pesquisa, acompanhamento e orientação para otimizar a performance esportiva e prolongar a vida útil de seus atletas. Não é por acaso que atletas como Inzaghi, 33, Serginho, 35, Cafu, 36, Maldini, 38 e Costa Curta, 40 anos, têm participado de conquistas importantes do clube nestes últimos anos.
A idéia básica é integrar, dentro de um pensamento interdisciplinar, os conhecimentos disponíveis nas áreas da fisiologia, bioquímica, medicina esportiva, psicologia, nutrição, tecnologia, além das questões técnico-táticas evidentemente.
Mas idéias como estas, infelizmente, soam como estranhas em nosso meio. Apesar de possuirmos grandes profissionais em diferentes áreas que dão apoio ao trabalho da comissão técnica no futebol, ainda estamos muito longe de conseguirmos realizar atividades que integrem verdadeiramente todas estas áreas em busca de melhores resultados.
Tomara que não esperemos perder a hegemonia para começarmos a agir.
Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br
Quando o Atlético Paranaense sagrou-se campeão nacional em 2001, uma série de tabus foi quebrada pelo pequeno clube do Paraná. Com torcida menor que a do rival Coritiba no estado, o Furacão recorreu ao planejamento estratégico para conseguir o que parecia impossível: repetir o feito de seu maior rival e ganhar um Brasileirão.
Quatro anos depois da façanha, quase que o Atlético conseguiu um título jamais pensado em sua história: a conquista da Copa Libertadores da América, mais cobiçada competição do continente. Se o título ficou na trave do pênalti desperdiçado por Fabrício quando o São Paulo ganhava por 1 a 0 (depois viriam mais três na incontestável goleada tricolor), o mesmo não se pode dizer do futebol paranaense.
O Atlético conseguiu criar um círculo virtuoso no planeta bola de seu estado. O sucesso do projeto do Furacão fez com que seus rivais locais despertassem para a nova realidade do esporte. Hoje, a estrutura do Atlético não deve nada a nenhum time da Europa de alto escalão.
Para não ficarem defasados em seu estado e não verem seus torcedores debandarem para outro clube, os demais times do Paraná decidiram apostar na mesma fórmula do Furacão: dar carinho e conforto à torcida.
Até o final do mês o Paraná deve estrear seu novo estádio. Moderno, confortável, com boa localização e fácil acesso ao público, o local é um concorrente do Atlético. Da mesma forma, desde 2004 o Coritiba injeta dinheiro em melhorias do Couto Pereira.
Pode até ser que essas ações não resultem em novas conquistas para as torcidas dos dois times. Mas, para o povo paranaense, sem dúvida que ir aos estádios no final de semana deixou de ser um programa para aventureiros.
Locais confortáveis, estacionamento amplo, lojas de conveniência. Tudo e mais um pouco tem nos três estádios do Paraná. Por que? Porque a rivalidade do futebol impulsiona a concorrência salutar entre os clubes. E o torcedor é o principal beneficiado, já que isso significa novos e melhores serviços para ele, tal qual acontece com a quebra de monopólio nos diversos setores de nossa indústria.
Agora, tal qual acontece no mundo capitalista, resta trabalhar para fazer com que os grandes e ambiciosos projetos apareçam e se concretizem. Não apenas esperar o rival para lançar uma cópia de um projeto com uma outra cara um pouco diferente a princípio, mas que não muda na essência.
Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br
No último domingo a seleção brasileira de voleibol, comandada pelo brilhante Bernardinho, conquistou o hexacampeonato da Liga Mundial. Apesar do orgulho brasileiro pela conquista, fica uma pontinha de inveja daqueles que gostam mais do futebol do que do vôlei. Bem que este título poderia ter sido do futebol.
Mas a explicação do por que a nossa seleção não conquistou o hexacampeonato na Alemanha foi dada pelo próprio treinador Bernardinho muito antes da Copa ser realizada.
Em dezembro de 2005 no II Fórum Internacional de Futebol, realizado no Rio de Janeiro, o consagrado treinador de voleibol, convidado para falar aos treinadores de futebol, já dava as dicas de como se pode ganhar um hexa.
Em sua palestra destacou que os resultados só podem ser conseguidos através de uma gestão competente das pessoas. Transformar um grupo de pessoas em um verdadeiro time exige sacrifícios individuais na busca de objetivos que sejam comuns a todos.
“Não é só o talento que leva ao sucesso. Se fosse assim por que o Brasil ficou entre 1970 e 1994 sem conquistar nenhum título mundial?”, colocou o treinador, referindo-se ao rendimento da seleção brasileira de futebol neste período de mais de 20 anos sem conquistas.
Um dos pontos altos da fala de Bernardinho, entretanto, foi quando comentou sobre as armadilhas que o sucesso pode acarretar em uma equipe como a do Brasil, ampla favorita para conquistar a última Copa do Mundo. E justificou dizendo que o sucesso do passado não garante o sucesso no futuro. “Vencer como favorito é muito mais difícil”, pois entre outras coisas pode causar a acomodação, neutralizando a capacidade de mobilização dos atletas.
Pregou ainda que o treinador eficaz tem que saber como tirar os jogadores de sua “zona de conforto”. Criar “zonas de desconforto” é fundamental para alavancar o trabalho na direção das superações que fortalecerão a equipe.
E finalizou dizendo que ser treinador é uma relação de parceria que revela e liberta o potencial das pessoas de forma a maximizar suas performances. O líder não é só aquele que comanda. É também aquele que estuda e se prepara constantemente. Além do mais, precisa ser capaz de estimular paixão, alimentar necessidades e até provocar inconformismo em seus atletas.
Sabemos que um jogo de futebol contém dinâmica, variáveis e características muito distintas do voleibol, mas qualquer treinador de futebol que busca competência deveria estar atento aos conselhos e exemplos dados pelo hexacampeão mundial Bernardinho.
Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br
Categorias
Quem não comunica…
Se Chacrinha estivesse vivo, sem dúvida nenhuma ele olharia para o Corinthians e teria a dizer uma de suas geniais frases: “Quem não comunica, se estrumbica”. Um dos maiores problemas hoje do Corinthians é a falta de comunicação que existe no clube. Ou, melhor, a falha de comunicação.
Imagine que você tenha uma empresa em que seus funcionários não tenham um bom relacionamento. Para piorar, existe uma crise no Conselho Administrativo. E, para deixar a situação caótica, o seu diretor mais gabaritado e importante resolve falar o que lhe vêm à cabeça, sem se preocupar com o impacto daquilo que transmite para a imprensa.
Pois é assim que está o Corinthians atualmente. Um time que vive um estado de entropia, pronto para explodir por pressões internas, pelo caos absoluto que impera dentro de sua casa. E qual o reflexo que isso tem para quem está do lado de fora?
Sem dúvida alguma a falha na comunicação do clube é o mais gritante ponto, e isso reflete o desempenho dentro de campo. Afinal, ainda não está claro quem é que manda no futebol do Corinthians. É o presidente Alberto Dualib? É o seu parceiro MSI? Ou é Emerson Leão?
Das três alternativas, pelo menos de uma podemos ter alguma certeza. Apesar de ser contratado a peso de ouro, de ter certa autonomia para a tomada de decisões e de ter um currículo invejável no futebol, Emerson Leão nada mais é do que um funcionário.
Funcionário que tem de dar expediente, que precisa prestar contas a um patrão, que não pode fazer o que lhe vem à cabeça.
A partir do momento que Leão passa a falar o que bem entende em sua casa, o castelo começa a desmoronar. Não existe uma hierarquia de comando e, principalmente, não existe uma preocupação por parte do treinador de se preservar e preservar a imagem do local de trabalho de Leão.
Assim como fez no São Paulo, quando havia barrado Luizão. No Palmeiras, quando tentou brecar Edmundo, Leão havia preparado o bote. O alvo: Carlitos Tevez. O motivo: qualquer um. Leão não soube ter tato para trabalhar a imprensa. Ou, melhor, não se preocupou com o impacto que a retirada da braçadeira de capitão de Tevez teria no orgulho do jogador.
Leão jogou fora um investimento de US$ 22 milhões da parceria Corinthians-MSI. O mercado europeu será fechado brevemente. E Tevez não tem mais clima para voltar ao clube paulista.
E onde estão Corinthians e MSI para gerenciar essa crise? Como convencer Carlitos a regressar ao seu time? Ao seu empregador?
Leão não soube dizer como fazer. E os dirigentes e a assessoria de imprensa do clube e do MSI sem dúvida estão preocupados com alguma outra coisa mais importante do que o time se estapear verbalmente pelos microfones de todo o pais.
Se houvesse um planejamento de comunicação, a crise já teria sido contornada. Ou, ainda, Leão teria se colocado no seu devido lugar: como o competente técnico que já mostrou ser.
Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br
Categorias
Fogueira das vaidades
Vivemos numa sociedade cuja cultura é dualista, dicotômica e maniqueísta. Neste cenário não conseguimos muitas vezes distinguir as nuances e gradações entre o bem e o mal, o belo e o feio, o certo e o errado, o adequado e o inadequado. Nossa lógica cartesiana não admite contradições, ou combinações de opostos. Ou algo é ou não é. Não existe meio termo.
Nesta linha de raciocínio, os recentes episódios ocorridos no Corinthians, protagonizados pelos responsáveis da empresa investidora, diretoria do clube, treinador e seus jogadores, nos remetem a algumas reflexões.
Necessitando de uma intervenção forte num ambiente minado por interesses divergentes e, principalmente, onde a vaidade sobrepôs aos objetivos comuns e convergentes de um clube de futebol, para superar os catastróficos resultados dentro de campo, a opção foi contratar um treinador com pulso firme o suficiente para botar a casa em ordem.
O paradoxo é que para conter as vaidades o clube escolheu alguém cuja característica maior não é a humildade. Ao contrário, o escolhido foi o polêmico e vaidoso Émerson Leão.
Entre posturas e intervenções assumidas pelo treinador em seu início de trabalho para conter o ímpeto egocêntrico de certas individualidades que compõem o elenco corintiano, Leão tomou uma atitude que pode fazer todo o sentido em um aspecto, mas que em outro se mostrou de eficácia, no mínimo, duvidosa.
Ao destituir Tevez do papel de capitão do time, fato absolutamente comum e corriqueiro no futebol, o treinador, entretanto, cometeu um equívoco ao justificar que estava retirando a tarja de capitão do craque argentino por que é difícil entender o que ele fala.
Um princípio básico da psicologia comportamental que qualquer comandante deve levar em conta para manter o respeito diante de seus atletas é o de jamais menosprezar ou diminuir em público qualquer de seus comandados e em especial aqueles que possuem certa liderança ou ascendência sobre os demais do grupo.
A não ser que a sua intenção fosse mesmo a de deliberadamente afastar Tevez do clube, o fato é que a atitude de Leão poderá dificultar em muito um trabalho que parecia promissor no curto prazo.
Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br
Categorias
A comunicação nos clubes de futebol
A bola para o debate foi levantada mais uma vez nas últimas semanas dentro da imprensa paulista. O repórter da rádio Bandeirantes, Eduardo Affonso, fez questão de agradecer no ar à assessoria de imprensa do Internacional o tratamento dispensado aos diversos veículos de comunicação nos dias que antecederam ao jogo Inter e São Paulo, que decidiu a Libertadores. Os colegas da imprensa paulista ficaram felizes em poder entrevistar “todo e qualquer jogador do Inter”, sem restrição de horário ou de atleta.
Aqui em São Paulo, virou regra o controle às entrevistas de jogadores. Acabou aquela história de que todos podem falar após o treino, ou então de que o repórter tem livre acesso ao jogador antes, durante e depois dos jogos. No Sul, a felicidade foi poder entrevistar desde Renan, goleiro reserva de Clemer, até Rafael Sobis, o astro da primeira final.
O discurso dos jornalistas, porém, é curioso. Reclama-se de que não se pode entrevistar todos os jogadores. O argumento é de que, assim, não se consegue preparar um material diferenciado do da concorrência. O argumento é até coerente. Sim, de fato é complicado ter poucas fontes para se falar. Ainda mais quando não é o jornalista quem escolhe o entrevistado, mas sim o entrevistado que é “disponibilizado” para ser a fonte.
Só que não é o jornalista quem mais bate na tecla de que os clubes têm de ser profissionais, assim como os atletas? Então não se pode criticar a restrição às entrevistas.
Em qualquer grande empresa, a comunicação é parte integrante e fundamental do plano estratégico de crescimento. Por que num time de futebol tem de ser diferente?
O conceito foi desenvolvido pelo Manchester United, no início dos anos 90, quando o francês Eric Cantona criava uma crise a cada hora. Na concepção do clube, o jogador, para ser bom dentro de campo e bom vendedor fora dele também, tem de adquirir o status de superstar.
E como fazer isso? Dando uma exposição qualificada a ele na imprensa. Foi a partir disso que o Manchester fechou os treinos de seu time e passou a permitir que no máximo dois jogadores e o treinador concedessem entrevista diariamente. No começo, sem dúvida, os britânicos chiaram da decisão. Depois, porém, a imprensa inglesa incorporou o espírito e passou a se desdobrar para trabalhar numa nova realidade.
No Brasil, vivemos o início desse processo, quase 15 anos depois. Agora, os treinos são restritos, o acesso livre da imprensa aos atletas é dificultado por diversos assessores. No começo, em São Paulo, as restrições geraram polêmica. Mas, depois de quase cinco anos nessa nova realidade, as coisas começam a se arrumar.
No esporte e, principalmente, num clube de futebol, a comunicação é peça-chave para o sucesso de um projeto. É preciso haver unidade na transmissão da informação. É preciso tomar cuidado para não cair nas armadilhas de uma divergência de entrevistas.
Para isso, é fundamental filtrar a maneira como o clube se comunica com a imprensa. É duro para o jornalista não ter a mesma liberdade de antes. Mas é muito menos dolorido para o clube saber quem está falando e quando está falando.
Que o digam Corinthians e MSI, díspares nos pensamentos e nas declarações à imprensa. Será que a crise no Parque São Jorge não poderia ter sido menor se a comunicação estivesse integrada e funcionando harmonicamente?
Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br