Categorias
Sem categoria

O Vermelho da Discórdia

O Brasil nem sequer apresentou a candidatura oficial para a Copa de 2014 e as polêmicas e reclamações já começaram. É fácil prever o que vem pela frente.

 
Tudo por causa da logomarca do lançamento da candidatura oficial.
Na verdade, tudo por causa de uma cor na logomarca da candidatura oficial do Brasil para a Copa de 2014.
 
Se você não viu a logomarca ainda, eu descrevo pra você:
A primeira palavra, obviamente, é ‘Brasil’, escrita em azul, em letra normal, tipo Arial. Em baixo do ‘Brasil’, está o ano, 2014, escrito com uma letra mais estilizada, e com os números coloridos e sobrepostos. O 2 está em amarelo, o 0 é uma bola de futebol azul com uma faixa branca no meio, o 1 está em verde, e o 4, por fim, em vermelho. Embaixo disso tudo, uma frase diz “Bid Nation”.
 
A inovação fica pro termo “bid nation”, que eu confesso jamais ter visto antes. Tentei achar alguém que o tenha utilizado previamente, mas não obtive sucesso. É verdade que não existe exatamente um termo definido a ser utilizado para os países candidatos a sediar uma Copa do Mundo. Em geral, usa-se somente o nome do país e o ano da Copa, que deixa muito bem a entender o que se pretende. Nas Olimpíadas, as cidades finalistas costumam a usar o termo “Candidate City”. Para a Copa de 2010, Marrocos utilizou o termo “Candidate Country”, mas a maioria dos outros países optou apenas por utilizar a palavra “bid”, que literalmente significa “oferta”. Nesse contexto, a tradução para “Bid Nation” ficaria algo como “Nação das Ofertas”, que dado o número de candidaturas recentes do Brasil para eventos esportivos mundiais, não fica muito longe da verdade.
 
Entretanto, a maior contestação em relação à logomarca, até o momento, é a presença da cor vermelha no número 4. Afinal, todos os outros números representam as cores do país. E o vermelho, representa o quê?
 
A hipótese mais óbvia e conspiratória sugere que o vermelho representa a cor do partido do atual presidente, que também é a mesma cor do partido do atual ministro dos esportes. A colocação do vermelho seria uma espécie de homenagem aos gerentes do poder público atualmente legitimados pela sociedade, ainda que o número 14 lembre as cores de Portugal. Não obstante, é bom lembrar que a logo para a proposta da Copa de 2010 não possuía a cor vermelha, apenas as cores nacionais.
 
Ainda assim, não acho que a presença do vermelho seja grande coisa. Vermelho representa muitas coisas, e – por ser uma cor primária – sua presença não indica necessariamente um fato consolidado. Porém, apenas a grande especulação a respeito da cor da logomarca já indica como será difícil fazer uma Copa no Brasil. A todo o momento, em qualquer ação, suspeitas serão levantadas. Principalmente suspeitas de manipulação política, como o vermelho.
 
Afinal, vale muito bem lembrar, 2014 será ano de eleição pra governador e pra presidente. Ou seja, ainda que qualquer retórica apolítica seja adotada, vai ser difícil, muito, mas muito difícil desvincular a realização da Copa do Mundo de uma jogada em busca de votos. Falem o que quiser, mas eu e você sabemos que no Brasil, quiçá em todo o mundo, as coisas não funcionam desse jeito.
 
E também não vai ser difícil imaginar o estrago que eventuais motivações populistas poderão causar à racionalidade do evento, e principalmente ao seu legado estrutural. Isso, claro, pra não falar da variação orçamentária.
 
O tamanho da polêmica e da contestação em cima de apenas um número da logomarca da candidatura oficial do país para a Copa pode ser um sinal do que vem pela frente.
 
Curiosamente, o sinal é vermelho.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Globalização, rendimento e complexidade no futebol

 

 A globalização é considerada um fenômeno capitalista que estimula o processo de integração econômica e cultural entre os diferentes povos e países do mundo.

 
A idéia da aldeia global, introduzida pelo pensador canadense Marshall McLuhan, desde a década de 60 do século passado, já antevia o que estava por vir nas décadas seguintes.
 
Podemos por distintas razões concordar ou discordar deste processo, mas a verdade é que ele vem provocando mudanças de toda espécie no seio da humanidade.
 
No esporte e particularmente no futebol a globalização também tem provocado seus efeitos.
 
Com as facilidades provocadas pela revolução tecnológica, os conhecimentos necessários à busca de altas performances estão progressivamente mais acessíveis a todos os profissionais que trabalham no futebol.
 
Hoje, com os fantásticos recursos dos meios de comunicação, podemos acompanhar em tempo real os jogos das mais destacadas equipes de futebol do mundo. Quase mais nada é estranho ou desconhecido, ao menos em termos técnicos.
 
Desta forma a diferença entre o primeiro e o segundo e até entre o primeiro e o último é cada vez menor. Os exemplos acontecem a toda hora para quem quiser enxergar.
 
A questão a ser enfrentada, daqui para frente, talvez seja a necessidade de se compreender melhor a essência humana para além de suas dimensões puramente técnicas.
 
No esporte, acredito que num futuro próximo, poucas chances terão aqueles que só se preocupam com os seus aspectos técnicos. O sucesso será daqueles que começarem a entender um pouco mais sobre a complexidade humana.
 
Afinal o atleta é, sobretudo, um ser humano e social. Compreendê-lo significa encontrar novos caminhos para o seu desenvolvimento integral.   

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Faz-de-conta

Mil, 900, 850, 733. O número é o de menos. O fuzuê que se transformou a busca de Romário pelo milésimo gol mostra, isso sim, que os fins prejudicam os meios. Especialmente os meios de comunicação.
 
Romário não fará mil gols na carreira. Não, seus 999 gols atuais não foram marcados ao longo da carreira como profissional. Lá estão gols de quando era juvenil, sub-17 e afins. Como profissional, são cem gols a menos, o que já nos dá a impressionante marca de quase 900 gols anotados em quase 20 anos com o Baixinho em campo.
 
Mas Romário quer dizer que fará mil gols. E a imprensa aceita isso, como se fosse fato consumado por que “Romário pode”. Oras, por que ele pode e eu não? Parece que toda a imprensa foi contaminada pela saga do “gol mil”, que já vitimou a própria Fifa. Sim, vale lembrar que, para manter acesa a chama de Romário, a entidade máxima do futebol rasgou seu livro de regras de transferência internacional. E isso levou outros clubes a contratarem jogadores e exigir o mesmo tratamento (casos de Mascherano, na Inglaterra, e Jorge Wagner, no São Paulo).
 
Mas, voltando à imprensa, está mais do que nítido que ela usa o “fator Romário” para vender mais. Sim, o Baixinho ajuda a levantar a audiência de qualquer produto da imprensa. Mas não podemos achar que, só por isso, teremos de esquecer a verdade. Ou, nas palavras de Sérgio Xavier, diretor de redação da Placar, o único grande veículo que levantou a bandeira sobre o “Faz-de-conta” que é o gol mil de Romário:
 
“…estou mais interessado (e impressionado) com o tratamento que o milésimo gol está recebendo da imprensa. Nos últimos dias, ouvi Galvão Bueno, José Trajano, Ricardo Boechat, Paulo Vinícius Coelho, Soninha, Milton Neves e muitos outros dizerem mais ou menos a mesma coisa: deixem Romário em paz. Ele tem a lista dele, está próximo dos mil gols e merece comemorá-la. Bastaria colocar um asterisco dizendo que alguns desses gols foram marcados como amador e em jogos festivos com características de treino e tudo bem. Lavamos as mãos e nossa missão jornalística estaria cumprida. Viva Romário!
 
É nesse ponto que pergunto: será que é essa a função do jornalismo esportivo? Será que o jornalismo esportivo é tão diferente do econômico ou do político? Quando o presidente Lula diz que o Brasil cresceu mais do que realmente cresceu, nós, jornalistas, deixamos por isso mesmo? Dizemos “ah, deixem o Lula em paz com suas contas” e vamos em frente? Quando Paulo Maluf afirma que não tem dinheiro nenhum nas Ilhas Jersey desconsideramos as contas dos promotores públicos e deixamos o hoje deputado federal em paz?”.
 
É isso mesmo, Serginho! Jornalismo é jornalismo em qualquer lugar e em qualquer ramo de atividade. Não é por que Romário foi um grande artilheiro que pode inventar as coisas. Não é por que temos que vender mais jornais ou levantar mais a audiência de nossos programas que vamos aceitar algo que não existe, que é um Faz-de-conta.
 
Desse jeito, o fim só prejudicará o meio.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Bem-vindo a Liverpool

Por razões de pesquisa, encontro-me no momento em Liverpool, onde não vou ficar por muito.
 
Ainda bem, diga-se de passagem. Por mais que sempre haja um certo glamour em se viajar para o exterior, em especial para paises como a Inglaterra, a verdade é que Liverpool pouco tem a oferecer, principalmente pra quem retorna.
 
A cidade, a princípio, parece ser muito maior do que realmente é. O mito que paira sobre a região é enorme, mas a realidade em pouco condiz com o imaginado. O fato de Liverpool ter sido berço de uma das maiores bandas da historia, e por ser casa e dar nome a um dos mais famosos times de futebol do planeta, faz com que Liverpool pareça uma metrópole.
 
Nem perto disso.
 
Liverpool é uma cidade mediana, como tantas outras na Inglaterra. Hoje é praticamente um subúrbio de Manchester. Sua população esta próxima de 400 mil habitantes. Em um passado distante e glorioso, foi uma cidade que teve uma importância muito grande durante a Revolução Industrial, devido a sua grande área litorânea que foi quase que inteiramente preenchida pelo porto. Estrategicamente, Liverpool servia muito bem ao comércio da Inglaterra com os Estados Unidos, e também como escoamento da produção industrial de Manchester. Por conta disso, desenvolveu um certo parque industrial voltado principalmente para os serviços marítimos.
 
Com o crescimento de Londres, com o desenvolvimento de novas tecnologias e com a decadência do império britânico, Liverpool foi perdendo sua importância. Desde o começo do século XX, a cidade amarga uma intensa recessão. Em uma pesquisa de 1998, foi considerada a pior cidade para se morar na Inglaterra, principalmente por causa da sua alta taxa de desemprego, violência e degradação. Hoje é uma cidade deprimida.
 
O futuro, porém, traz esperanças. Em 2008 será a capital européia da cultura. Por conta disso, obras de revitalização estão sendo realizadas por toda a cidade. Ruas e parques estão sendo reformados, e novos prédios e complexos comerciais estão sendo construídos. Entretanto, paira a incerteza sobre a eficácia das reformas. Há uma suspeita de que elas amenizem temporariamente a situação atual, mas que em alguns anos tudo pode voltar a ser como é hoje.
 
O clima também não ajuda em nada. Chove quase todo dia, e a media de temperatura não ultrapassa 20ºC durante o ano. Durante o inverno, faz frio, mas não tanto para que se tenha neve, ou seja, o inverno tem frio e chuva, alem de pouco mais de seis horas de sol por dia.
 
Não por acaso, os poucos espaços sociais disponíveis são muito valorizados, em especial os pubs, que são uma mistura de bar com hotel, e que servem como um grande centro agregado das comunidades locais.
 
É dentro desse cenário que cresce o futebol, que serve como uma espécie de escape pra boa parte das mazelas geográficas, econômicas e sociais. Não à toa os clubes são tão valorizados e os torcedores tão identificados com o time. Alguém certa vez disse que em Liverpool, “as mulheres são feias, a comida é ruim e o clima é horrível. Graças a Deus existe futebol”.
 
Dessa forma, clubes oferecem mais a comunidade do que meramente o jogo do futebol. Pelo contrario, clubes são efetivamente parte da comunidade. Alguns dizem que a comercialização recente afastou os clubes de seus torcedores, e que hoje o papel comercial e o papel social são conflitantes. Outros argumentam que, na verdade, a melhora estrutural dos clubes permitiu que eles passassem a oferecer mais a comunidade agora do que antes. O comercial de fato ajudou o social.
 
Seja lá qual for o seu ponto de vista, e fato que a relação dos torcedores com os clubes na Inglaterra, e seus diversos significados, diferem muito daquela dos torcedores com os clubes no Brasil. Ou na Alemanha. Ou na China. Ou na Argentina. Ou na Guatemala.
 
E é justamente por isso um dos fatores pelo qual não se deve levar o exemplo do futebol inglês muito a risca quando se pensa no futebol brasileiro. Ou qualquer outro exemplo do mundo.
 
Não é que o futebol inglês seja melhor que o brasileiro.
E também não é que ele seja pior.
Não é uma questão de juízo de valor.
É uma questão de realidades completamente diferentes.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Futebol, democracia e cidadania

A Democracia Corinthiana está completando 25 anos. O movimento liderado por alguns atletas como Sócrates, Wladimir e Casagrande no início dos anos 80 representou, talvez, a maior mobilização de caráter político já vista em um clube de futebol no Brasil.
 
O país vivia na época a fase final de um regime autoritário já agonizante. Diferentes camadas da sociedade clamavam por democracia e um movimento surgido no seio de uma instituição tão autoritária como o futebol teve grande repercussão.
 
Pena que o evento teve começo, meio e fim relâmpago. A experiência inédita terminou logo após a saída de seu grande artífice, Sócrates que resolveu desfilar sua arte em gramados italianos.
 
Mas passadas mais de duas décadas desta história e do final do regime militar, ainda não podemos dizer que vivemos num período plenamente democrático.
 
Não se pode considerar democrático um país com tanta desigualdade econômica e social que, apesar da evolução e progresso evidentes em muitos setores, ainda não consegue dar oportunidades de desenvolvimento a grandes parcelas de sua população.
 
No futebol, particularmente, ainda são poucas as experiências que buscam dar voz e participação mais efetiva aos atletas e funcionários dos clubes. Os dirigentes e muitas vezes os próprios treinadores, encarregam-se de definir quase que ditatorialmente o que deve e o que não deve ser feito no dia-a-dia de suas rotinas.
 
Tal relação inibe a possibilidade de criação de ambientes que favoreçam o desenvolvimento de atletas mais preparados, maduros e inteligentes que não só sejam capazes de promover espetáculos mais bonitos e interessantes, como também possam dar exemplos de cidadania.

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Queda de braço

A Espanha decidiu se rebelar contra o autoritarismo no futebol. Ou melhor, os jornalistas da Espanha se rebelaram contra a imposição dos atletas que dariam a entrevista coletiva após o treino da quarta-feira passada.
 
Na última semana, os jornalistas que cobrem o dia-a-dia do Barcelona, na Espanha, decidiram não ficar na sala de imprensa depois que souberam que teriam à disposição para falar apenas o zagueiro reserva francês Lilian Thuram. A decisão foi tomada como uma forma de protesto dos “coleguinhas” à imposição dos atletas escalados para dar entrevista.
 
A atitude foi um estopim na velha queda de braço entre jornalistas e assessores de imprensa dentro dos clubes de futebol. Com o objetivo de preservar os atletas, as assessorias têm criado limites para a participação dos jornalistas nas entrevistas.
 
Se, há 50 anos, jornalista e atleta eram companheiros de farra fora do campo, hoje são praticamente inimigos. O convívio dos dois só existe na hora da entrevista, seja ela após o treino ou a partida. Na época de Pelé e cia., jornalista e jogador saiam conversando após o treino, numa espécie de cumplicidade sadia entre eles. Atualmente não há espaço para isso.
 
A crescente profissionalização da imprensa e também do futebol levaram a um distanciamento dos artistas da bola dos “artistas” da comunicação. Com isso, as entrevistas coletivas depois dos treinos tornaram-se o tormento dos jornalistas. Antes, depois do bate-bola diário, falava quem queria, para quem quisesse ouvir. Isso assegurava a cada jornalista uma boa história para ser publicada, geralmente diferente da do colega que representava p veículo concorrente.
 
Agora, porém, tudo ficou estático. O jogador só dá entrevista quando quer e, às vezes, para quem quer. O jornalista só consegue perguntar uma ou duas vezes durante uma entrevista em que participam todos os colegas de outros jornais. Outra prática que se tornou quase uma regra. A assessoria de imprensa é que determina quem são os jogadores que darão a entrevista após o treinamento. Essa talvez seja a atitude que mais revolta a imprensa. Não é possível mais ao jornalista escolher o seu personagem para uma pauta. Ele deve “engolir” aquele que o clube manda.
 
Essa medida começou a ser implantada nos anos 90 pelo Manchester United, na Inglaterra. Com o objetivo de faturar mais, o clube usou o raciocínio mercantilista de que o jogador é uma celebridade, não deve ficar exposto o tempo inteiro na mídia. Para ser “inatingível”, o atleta deve ter de falar pouco. E isso só é possível quando ele se expõe menos. Desde Beckham, o Manchester limita aos jornalistas quem dará as entrevistas. Pouco após o clube lançar essa idéia, seus pares decidiram fazer disso uma regra.
 
Com esse novo panorama, os clubes conseguiram proteger gradualmente seu maior patrimônio, que é o atleta. Menos exposto, o craque concentra-se mais em jogar futebol, além de evitar cair nas armadilhas de uma entrevista. Só que, do outro lado, a sede da imprensa por novas notícias e grandes entrevistas é severamente prejudicada.
 
A queda de braço continua. E, pelo exemplo que vem de Barcelona, deverá lançar uma nova moda em breve…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Ausência

Caro leitor,
 
Por problemas pessoais, o colunista Oliver Seitz não poderá publicar nesta quinta-feira o texto semanal.
 
Pedimos desculpas e garantimos que tudo voltará ao normal na próxima semana.
 
Sem mais,
 

Equipe Cidade do Futebol

Categorias
Sem categoria

Gestão de carreiras no futebol

Caro leitor,
 
O colunista João Paulo Medina não pôde publicar seu texto semanal.
 
Enquanto ele estiver ausente, será substituído neste espaço por Antonio Afif, coordenador de gestão de carreiras do projeto Campus Pelé.
 
Formado em economia pela Universidade Mackenzie, Afif já foi diretor de marketing e assessor da presidência do Corinthians. Além disso, prestou assessoria e consultoria a diversos clubes do país e escreveu os livros “Futebol 100% Profissional”, em parceria com José Carlos Brunoro (1997), e “A Bola da Vez – O Marketing Esportivo como Estratégia de Sucesso” (2000).
 
A coluna de João Paulo Medina voltará dentro de algumas semanas.
 
 
No atual cenário do futebol brasileiro, em que a questão financeira parece se perpetuar na grande maioria das equipes, falar em gestão de carreiras para atletas pode soar como algo pretensioso ou totalmente fora de hora, mas não é.
 
Assim como ocorre em qualquer empresa, o maior patrimônio de um clube de futebol são seus funcionários e, em especial, seus jogadores, os artistas do espetáculo. Porém, há um certo paradoxo neste fato, pois o processo formativo dos futuros craques pouca atenção recebe por parte dos dirigentes.
 
É comum encontrarmos equipes de tradição no país com estruturas bastante precárias. Tal fato acarreta inúmeros problemas e, entre os mais graves, está a diminuição da auto-estima por parte dos jovens atletas. Esta sensação de abandono acaba refletindo no desempenho do atleta e, no final da história, atleta e clube saem prejudicados. Um jogo sem vencedores.
 
Dentro deste contexto as presenças de profissionais como psicólogo, assistente social e gestor de carreiras são praticamente imprescindíveis para os administradores esportivos que primam pela seriedade.
 
Uma das funções do gestor de carreiras é a de ajudar os jogadores (e até os profissionais técnicos) a encontrar o melhor caminho profissional, fazendo uma interface com os dirigentes do clube e até prestar algum tipo de aconselhamento de ordem pessoal.
 
Por outro lado, os jovens que não conseguiram se firmar na carreira esportiva saberão, ao menos, os próximos passos que terá de seguir, justamente por ter sido ajudado a encontrar outras aptidões que poderão ser desempenhadas no futuro.

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Hora do troco

Na última semana, o técnico Dunga convocou a seleção brasileira para dois jogos amistosos no final de março. No meio da tarde de quinta-feira, as emissoras de TV a cabo exibiram, ao vivo, a entrevista coletiva do treinador para anunciar os nomes e justificá-los.
 
Na TV, uma imagem que talvez apenas a esposa de Dunga esteja acostumada a ver: um close no treinador, de maneira tão absurda, que mal dava para ver o seu cabelo. Antes, só na intimidade do lar seria possível ficar tão próximo de uma pessoa. Hoje, a cobertura do esporte na televisão brasileira faz com que literalmente entremos nos olhos de nosso entrevistado.
 
O close exagerado em Dunga tinha um objetivo claro. No que restava de fundo da imagem, era possível ver apenas um borrão verde. Não dava para distinguir as marcas do Guaraná Antarctica, da Nike e da Vivo, patrocinadores da CBF e principais mantenedores de um dos maiores produtos comerciais do futebol tupiniquim.
 
Já virou regra para os esportistas brasileiros terem suas caras deflagradas e seus patrocinadores encobertos quando é preciso dar uma entrevista para a televisão. Em nome da “imparcialidade” jornalística, muitas vezes a TV desinforma o telespectador, enquanto deforma a cara do seu entrevistado. A exceção sempre é na corrida de São Silvestre, quando as marcas que estão no pódio também são parceiras das emissoras que exibem a corrida.
 
Nas transmissões internacionais, geralmente podemos ver os entrevistados mais “limpos” no ar, com um panorama de fundo. Mas isso só acontece porque as imagens são geradas pelos organizadores do evento.
 
Até hoje, talvez o único caso que isso não aconteça é com o iatista Roebrt Scheidt. Maior vencedor da categoria e maior bandeira de um dos esportes mais vitoriosos do país, Scheidt se deu ao luxo de enfrentar as televisões. Como seu sucesso independe da aparição na TV, o iatista deu um ultimato aos câmeras.
 
Recentemente, Scheidt afirmou que só daria entrevista se não fosse feito um retalho de sua cara para esconder a marca dos patrocinadores. E ainda foi além. Se sua exigência não fosse cumprida, ele nunca mais daria entrevista para a televisão. O iatista só começou a gravar a entrevista depois que conferiu o panorama dado a ele e ao backdrop com a marca dos seus patrocinadores.
 
Obviamente nenhum câmera irá correr o risco de não ter a imagem e a entrevista para colocar no ar. Como ele justificaria isso para o editor? Scheidt sabe da importância que tem no meio esportivo e decidiu bater o pé. Foi a hora do troco na “isenção” jornalística. Foi a hora de mostrar quem é mais importante. E não apenas por que ele é oito vezes campeão mundial…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

A Exportação, o Zico, o Pelé, o Bosman e o Maradona

 

Não é segredo para ninguém que o Brasil é um mercado exportador de matéria prima. Isso eu aprendi quando estava no primário, quase 20 anos atrás. De lá pra cá, o mercado se abriu, os processos de globalização avançaram, o país se desenvolveu economicamente, mas é bem verdade que pouco desse conceito mudou.
 
O Brasil exporta café, laranja, álcool, soja e jogadores de futebol. Aliás, exporta muitos jogadores de futebol, o que – imagino – também não seja segredo pra ninguém. Na média, são cerca de 800 jogadores por ano, analisando o período da Copa de 2002 até hoje.
 
Muitos acreditam que esse é um problema da falta de organização do futebol brasileiro. De fato, o caos que impera contribui bastante, mas não deve ser visto como uma razão preponderante. Mas nem de longe é a única razão para tal fenômeno.
 
Dirigentes em geral gostam de culpar a atual legislação, que supostamente acabou com o poder neo-escravocrata dos clubes sobre os jogadores. Dizem que foi a partir daí, da Lei Pelé, que a porteira se abriu. Mentira. Em parte, pelo menos.
 
Em algumas análises que fiz recentemente, e que talvez publique em breve, é possível perceber que de fato há uma grande diferença entre o número de transferências pré e pós Lei Pelé. Entretanto, essa diferença está diretamente atrelada à evolução cronológica do mercado. De 1989 até o início da Lei Zico, transferiam-se em média uns 190 jogadores por ano. Durante a Lei Zico, essa média pulou para 385, um acréscimo de mais de 100%. Do início da Lei Pelé até hoje, a média pulou para uns 750 jogadores por ano, ou seja, cresceu cerca de 95%. Portanto, olhando assim superficialmente, é possível concluir que qualquer crítica feita à Lei Pelé é falha e carece de base estatística confiável, uma vez que o mercado aumentou mais durante a época da Lei Zico.
 
Esse erro de análise dá uma medida do nível de desinformação e de estudo do futebol profissional brasileiro. Tudo bem que essa análise é bastante rasa, mas ela pelo menos oferece subsídios para se quebrar o argumento de que a grande responsável pela evasão de jogadores do futebol brasileiro é a Lei Pelé.
 
Como toda história tem que ter um culpado, é possível apontar outro fenômeno como a principal causa da transferência de jogadores, a Lei Bosman, uma lei que permite o livre trânsito de jogadores dentro da Comunidade Européia. Essa lei não é exatamente uma pioneira na libertação contratual de jogadores, coisa que já era regra na Inglaterra lá pelo meio do século XX, acho, mas ela foi a grande responsável pelo aumento do trânsito internacional de jogadores de futebol dentro e para o mercado europeu.
 
No Brasil não podia ser diferente. De 1989 até 1995, que foi quando teve início a Lei Bosman, transferiam-se aproximadamente 200 jogadores por ano para o exterior. Do início da Lei Bosman até hoje, a média saltou para aproximadamente 675 jogadores por ano, um acréscimo de cerca de 240%. Muito mais do que Zico, muito mais do que Pelé. Muito mais do que Zico e Pelé juntos.
 
É óbvio que isso não explica sozinho o fenômeno do grande número de transferências, mas indica algumas variáveis que precisam ser analisadas. O fenômeno do movimento internacional de jogadores não é restrito apenas às leis, tampouco ao mercado brasileiro e europeu. Muito mais fatores influenciam esse panorama, mas pelo fato de a UEFA ser o destino de 56% das transferências e pelo fato do Brasil ser o grande exportador mundial de jogadores, essas questões precisam ser analisadas com bastante seriedade.
 
E é justamente essa seriedade que falta para que se consiga perceber e disseminar o panorama do fenômeno completo, de modo que possam se achar as soluções para contornar o suposto problema, se é que ele é de fato um problema. Uma seriedade que falta quando se deposita toda a culpa da falta de estrutura do futebol brasileiro unicamente em uma pretensa falha legislativa.
 
Não é possível chegar a conclusões apenas por esses limitados dados apresentados, mas ao que parece, na situação aqui exposta, Bosman é muito mais importante do que Pelé e Zico. Juntos.
Coisa que qualquer brasileiro demora a digerir.
Imagine se fosse na Argentina.
Imagine se fosse o Maradona.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br