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Showman

“Vai ganhar, vai perder. Vai ganhar, vai perder. Vai ganhar, vai perder. Perdeu… Ganhou!!!!”. Foi dessa forma que mais da metade da população brasileira ouviu a narração da sétima medalha de ouro do americano Michael Phelps no “fantástico” Cubo D’Água, como ficou batizado o complexo aquático dos Jogos Olímpicos de Pequim.

O autor da pérola, misto de torcida com (des) informação, não poderia ser outro além de Galvão Bueno. O narrador principal da Globo já se tornou figurinha carimbada em algumas competições na China, não estranhamente sempre aquelas em que vão “ficar para a história das Olimpíadas”, como sempre faz questão de frisar.

A maneira como se comporta nas transmissões faz de Galvão uma espécie de ser eterno dentro do gênero de narração esportiva no Brasil. Por aqui, a técnica é o de menos. Mais importante do que alguém que tenha propriedade no assunto, é preciso uma pessoa que coloque emoção na garganta, que faça do “vai ganhar, vai perder” um estilo.

Dependendo da modalidade esportiva abordada, não restam dúvidas de que esse tipo de narração é adequado. Num jogo de futebol, por exemplo, em que a esmagadora maioria da população está acostumada a acompanhar, cabem aos telespectadores e aos comentaristas repararem nos detalhes técnicos. Tanto que o estilo “fulano passa para cicrano” não dá mais para engolir durante o rolar da bola. Muito mais divertido é o “manda o bambu daí” de Silvio Luiz.

Mas quando chegam as Olimpíadas, vemos uma nova realidade na transmissão esportiva brasileira. Afinal, com tanta modalidade em disputa, as emissoras têm de chamar toda a sua equipe para poder participar da transmissão. E aí o que vemos é uma salada de frutas de gêneros de narração.

Galvão entra na lista dos “imortais”, juntamente com Luciano do Valle e Silvio Luiz. Ícones da antiga escola da narração, os três inspiraram muitos que hoje estão por aí, mas que tentam fugir daquele estilo que virou grife. Afinal, não dá para imaginar alguém falando “pelo amor dos meus filhinhos” numa transmissão que não seja Silvio Luiz. Da mesma forma, comemorar uma medalha com um “ééééééééééééé… do Brasil” só pode ser privilégio de Galvão.

Com isso, em tempos olímpicos (e com TV a cabo, é claro) começamos a observar que esse antigo gênero de narração começa a virar espécie em extinção na TV brasileira. O “showman” acabou. Ou melhor, está próximo de acabar, quando se aposentar essa trinca de “monstros sagrados” do esporte brasileiro na televisão.

Nos outros canais, nas outras vozes, a emoção dá lugar à tecnicidade. Nada contra, pelo contrário, é uma evolução do conhecimento de quem transmite o esporte para nós. Mas com quem vamos nos irritar ou emocionar até chorar? A técnica exagerada faz do esporte algo sem a mesma emoção que tem.

Cléber Machado não consegue (e nem quer) ser Galvão Bueno. Tem muito mais conhecimento técnico. Sabe que quando um jogo está 3 a 0 para o adversário, o torcedor sabe que a chance de o Brasil virar é muito menor. Com isso, a vontade de narrar um ataque brasileiro é infinitamente inferior. E isso faz, muitas vezes, sua transmissão ser mais “pasteurizada”.

É preciso esperar para ver se o torcedor brasileiro estará acostumado a esse estilo mais sóbrio de narração. Se ele quiser um “showman”, não encontrará tão rápido alguém nessa nova geração. Sorte que essa trinca pode ter ainda mais umas duas ou três Copas do Mundo na bagagem.

Mas daqui a uns dez anos o “knowman” vai ocupar o espaço da transmissão esportiva. Será que isso representará o início de uma era mais preocupada com o conhecimento no esporte?

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Soluções de um jogo de futebol

Jogar futebol é bem diferente de jogar xadrez (não desanime pela obviedade!). A dinâmica do jogo de futebol nem de longe faz lembrar a dinâmica de um jogo de xadrez.

Um é jogo de estratégias simultâneas; o outro de seqüenciais. Porém ambos são “jogo”, e por mais que suas lógicas sejam regidas por equações bem distintas ou por variáveis pouco parecidas, o fato de serem jogos confere aos dois, certas peculiaridades inerentes ao jogar.

Sem que precisemos ir a fundo no tema e nem filosofar a respeito, farei hoje uma exposição de uma estratégia aplicada em uma partida de futebol (ocorrida recentemente – e que não vou mencionar qual) em que os “movimentos táticos” empregados pelos treinadores se pareceram com a construção de um xeque-mate de uma partida de xadrez.

Um a zero em favor do time da “casa” (chamemos a equipe da casa de equipe “A”). Dez minutos do 2º tempo. O treinador da equipe visitante (chamemos a equipe visitante de equipe “B”) faz uma substituição: troca um jogador de meio-campo (um volante) por um atacante e adianta um dos seus três zagueiros para o meio; sai do 1-3-5-2 e passa a jogar no 1-4-3-3.

A equipe “B” tinha aparente intenção de com três atacantes, “forçar” a equipe “A” (que estava com três zagueiros – jogava no 1-3-5-2) a recuar mais um jogador (ou de meio-campo ou alas) para manter a “sobra”, garantindo vantagem numérica defensiva.

Quase que imediatamente após a intervenção do treinador da equipe “B”, o da equipe “A” fez uma substituição inusitada (inusitada?): tirou um zagueiro e colocou um atacante; saiu do 1-3-5-2 e foi para um 1-4-3-3.

No tabuleiro (o campo de jogo), o confronto de duas equipes que se enfrentavam no 1-3-5-2 ganhou novos lances (1-4-3-3 vs 1-4-3-3)

Interessante notar que, normalmente (quase receita de bola; quer dizer, de bolo…), uma equipe que está vencendo tende, após uma mudança desse tipo que mencionei (quando o adversário que está perdendo aumenta o número de atacantes em campo), a aumentar suas precauções defensivas, tentando por exemplo, de alguma forma manter a “sobra” defensiva e a vantagem numérica no confronto defesa versus ataque (em resumo, tende a se “fechar”).

Mas num lance típico de xadrez, onde o “ataque é a melhor defesa”, o treinador da equipe “A” percebendo a chance de reverter a situação a seu favor colocou mais um atacante em campo.

Raciocínio simples; com a intervenção do treinador da equipe “B” poderia ocorrer uma das três possibilidades mais comuns à seguir:

1)     A equipe “B”, com a substituição que realizou, tinha intenção de “forçar” o recuo de mais um jogador da equipe “A”, aumentando seu número de jogadores de ataque e diminuindo o número de jogadores de ataque adversários no seu campo de defesa.  Como “A” também aumentou o número de atacantes, se nenhuma das duas equipes cedesse, o jogo ficaria aberto e logo poderiam ocorrer gols de ambos os lados.

2)     A equipe “B”, preventivamente, recuaria um jogador para auxiliar a marcação e manter vantagem numérica na defesa. Esse jogador, fatalmente viria do meio campo ou da lateral (ou dos dois), o que de certa forma exigiria da equipe um tipo de jogo vertical, direto entre defesa e ataque, sem grandes construções ofensivas e sem poder aproveitar as possibilidades que o 1-4-3-3 poderia lhe oferecer.

3)     Mesmo com a substituição e com a intenção bem definida, a equipe “A” poderia ter que ceder a estratégia adversária e acabar ela (a equipe “A”) a ter que recuar mais um jogador e jogar de forma mais direta.

Pois bem. A equipe “A”, com o balanço defensivo bem definido, mesmo com a alteração da plataforma de jogo em pouco tempo fez o segundo gol. Logo em seguida fez o terceiro e o quarto.

Não demorou muito e outra substituição na equipe “B” sacramentava: ela, rendida a estratégia da equipe “A”, voltava ao seu 1-3-5-2 (no final do jogo a equipe “A” também retomara o 1-3-5-2 e fechara o jogo com mais um gol).

A equipe “A” vencera a partida. Goleada. “Especialistas” comentando; elogios ao treinador (outrora o “burro”). Há porém um fato interessante. Logo após (um minuto aproximadamente) a equipe “A” alterar a plataforma para o 1-4-3-3, a equipe “B” tivera uma chance real de empatar o jogo (grande goleiro! – e o que seria do treinador?). Depois, foi quase um jogo de ataque contra defesa; “A” atacando, “B” defendendo.

Talvez se “B” convertesse a chance em gol logo depois da alteração feita pela equipe “A” a história do jogo tivesse sido outra.

Em um jogo de futebol com grandes lances de xadrez, quem cede primeiro pode acabar perdendo a partida (“Futebol de Influência®“).

E aí; vai ced
er?

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

 

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A especificidade do esporte

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Como temos salientado, repetidas vezes, o esporte tornou-se, nas últimas décadas, um ramo de atividade econômica como tantas outras. Verificamos diversos partes envolvidas com grandes interesses econômicos, incluindo não só clubes, atletas e federações, como também mídia e empresas patrocinadoras e parceiras.

Porém o esporte é, ao mesmo tempo, diferente de todas as outras atividades, pela sua natureza extremamente específica. É o que conhecemos por “especificidade do esporte”. Esse termo, caso devidamente reconhecido pelos diversos tribunais do mundo, permite que algumas atitudes aparentemente não aceitáveis passem a ser permitidos no âmbito desportivo. 

É o caso, por exemplo, da venda coletiva de direitos de imagem a emissoras de TV (vis-à-vis a legislação concorrencial), ou a liberação de jogadores por clubes para defenderem suas seleções nacionais.

Nas últimas semanas, tivemos uma decisão tomada pela Corte Européia de Justiça (European Court of Justice) que pode influenciar decisivamente a evolução e aceitação do conceito da especificidade do esporte.

Em uma decisão, ainda preliminar, em um caso envolvendo a organização de evento de corrida de motocicletas na Grécia, aquela corte superior européia menciona que o esporte é uma atividade como outra qualquer, chegando a compará-la com o mercado de supermercados. E conclui que organizadores de eventos esportivos não podem gozar de exceções da legislação pela justificativa da especificidade.

A decisão, em especial, discute a questão da estrutura piramidal do esporte, em que federações são classificadas como únicas entidades autorizadas a organizar competições de determinada modalidade, o que pode colocar, dependendo da extensão da decisão, todo o atual sistema da organização desportiva em cheque.

Apesar de uma decisão ainda preliminar, ela demonstra que as cortes européias ainda vêem com grandes reservas a questão da especificidade do esporte. 

Como sabemos que as decisões européias sempre acabam a influenciar as decisões no resto do mundo (como aconteceu no caso Bosman), temos que ficar atentos para elas.

É claro que não se deseja aqui sugerir o drible da lei por conta do esporte. Porém temos que defender que o esporte tem peculiaridades que precisam ser entendidas e respeitadas pelas autoridades que legislam e julgam em todos os cantos do mundo.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Mercado morno

Estamos chegando à metade de agosto e faltam apenas mais duas semanas para fechar a janela de transferências de jogadores para a Europa. Estranhamente, porém, o mercado parece estar bastante frio, tanto mundialmente quanto no Brasil.
 
Na Europa, por exemplo, não houve até o momento nenhuma grande transferência que venha a causar furor na imprensa. Na Inglaterra, as maiores novidades são Luiz Felipe Scolari no Chelsea e a renovação do Cristiano Ronaldo com o Manchester United. Fora isso, muito pouco. Teve o Jô indo pro Manchester City, o Keane indo pro Liverpool, e uma ou outra coisa além disso. Muitos boatos, sempre, mas pouca coisa de concreto. A bola da vez, que na verdade já era desde o fim da temporada passada, é a ida do Berbatov pro United por uns R$ 100 milhões. Robinho e Kaká ainda podem aparecer no Chelsea, mas nada disso passa de uma possibilidade.
 
No resto da Europa, muito pouco também parece estar acontecendo. Talvez a grande exceção seja o Barcelona, que vendeu algumas peças chaves e se renovou, principalmente, com Daniel Alves, Hleb e Keita. Outro brasileiro que também é um dos maiores protagonistas da atual janela de transferências é o Mancini, que finalmente saiu da Roma e foi para a Inter. Uma transferência interna do mercado italiano certamente importante, mas que também não adiciona muito à morosidade atual.
 
Essa morosidade pode ser especialmente sentida no mercado brasileiro, pelo menos por enquanto. São poucos, pouquíssimos os jogadores mais importantes da Série A que saíram até agora. O Grêmio, por exemplo, não teve nenhuma limpa no seu elenco. Nem o Palmeiras, nem o Vitória, nem o São Paulo e tampouco o Coritiba. Pelo menos até o momento.
 
Talvez o mercado esteja mudando. Talvez o mercado esteja buscando jogadores mais jovens. Talvez os jogadores brasileiros estejam muito caros. Mas talvez esteja todo mundo aguardando mais um pouco para liberar a verba.
 
Essas duas próximas semanas prometem.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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E ai tecnologia, vai encarar ou o que…?

“Nossa tecnologia passou a frente de nosso entendimento, e a nossa inteligência desenvolveu-se mais do que a nossa sabedoria.” (Roger Revelle)

Calma caro amigo, você não está louco, nem o link estava errado, não estamos numa página que trata desse importante tema ambiental. Apenas recorremos à frase sobre tecnologia desse fabuloso cientista, pioneiro no estudo sobre o aquecimento global.

 

Na coluna anterior falávamos da necessidade que o profissional do futebol tem de desenvolver habilidades e competências a respeito do uso e possibilidades dos recursos tecnológicos na sua prática e planejamento.

Com base nessa frase de Roger Revelle, acrescentamos àquela discussão um cuidado que deve ser tomado quando busca-se a atualização tecnológica.

Os recursos e evoluções constantes que ocorrem nessa era tecnológica, ou Infoera, como gostam alguns, são tantos e tão dinâmicos que às vezes parece que são extremamente exagerados.

Quem nunca se pegou manuseando algum equipamento e ficou com a impressão de que ele faz mais coisa do que devia, e justamente aquilo que queremos… não conseguimos fazer?

Esse é o cuidado que está explícito na fala do cientista: os recursos tecnológicos são tantos que ultrapassam nossa capacidade de lidar com eles, de compreendê-los e desta forma atender as nossas necessidades.

O ser humano é inteligente o suficiente para desenvolver sistemas e equipamentos fantásticos, porém o saber utilizá-los parece sempre defasado, desenvolve-se primeiro e depois tentamos descobrir que podemos fazer com isso tudo.

No futebol inúmeros recursos vêm, com maior ou menor resistência, quebrando barreiras e preconceitos e se colocando à disposição dos profissionais. Ressaltamos aqui a questão de que o profissional não deve intimidar-se, pelo contrário deve capacitar-se perante as possibilidades ofertadas.

Desta forma aprofundar-se na atualização tecnológica é também fazer parte desse processo, de transformar a inteligência e essa capacidade tecnológica em sabedoria prática.

Neste ponto está o que consideramos como o profissional atualizado tecnologicamente, que consegue através de suas convicções, de sua habilidade de interpretar, analisar e extrair informações, ou seja, através de sua sabedoria, utilizar de forma inteligente toda a tecnologia possível. Com a iniciativa de buscar, inovar, explorar as possibilidades. Sem o equívoco de considerar uma filmagem específica de um jogo como alta tecnologia, mas sim o entendimento que ele próprio aplica sobre ela, e em como transforma isso em intervenção.

É uma questão de como encarar a tecnologia, e sobretudo como se posicionar frente a ela.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Monocultura

A realização dos Jogos Olímpicos em Pequim reforça a monocultura esportiva brasileira. Não, o problema não é o país penar para figurar nas finais de algumas modalidades, ou então suar para se colocar alguns segundos atrás dos melhores do mundo. A maior dificuldade para o torcedor numa edição de Olimpíada é conhecer o esporte que está na tela.

Com a cultura do futebol impregnada na transmissão esportiva, entender uma “nova” modalidade é cada vez mais complicado para o torcedor que quer apenas sentir a vibração que é a realização das Olimpíadas.

O ufanismo aflora em cada disputa brasileira e, para piorar, deflagra o despreparo que o país tem em tratar de qualquer esporte como objeto da informação. Até mesmo do futebol!

Sim, porque durante Brasil x Coréia do Norte, no futebol feminino, todas as emissoras que exibiram a partida só se “esqueceram” de lembrar que o time norte-coreano era o mesmo que foi campeão mundial sub-20 em 2006. E daí o 2 a 1 ter sido encarado como uma vitória “magra”.

E o que fazer quando saímos do campo e vamos para as águas? Tudo bem, o mundo inteiro sabe que o Michael Phelps é um absurdo. Só que parece que isso não é levado em conta quando Thiago Pereira cai na mesma piscina que o americano…

Da mesma forma que as competições do judô, em que muitas vezes nos pegamos torcendo tão bem quanto quem está narrando as partidas.

O fato é que, a cada quatro anos, fica ainda mais claro que o país não tem uma cultura esportiva. Desde pequenos não somos ensinados a entender todos os esportes, a estudar regras e maneiras de praticar, a conhecer movimentos, estilos, performances.

Isso tudo fez do Brasil o “país do futebol”, mas que até mesmo quando trata desse assunto vê a imprensa cometer exageros e realizar análises superficiais, muitas vezes deturpadas por uma falta de conhecimento técnico do assunto.

Nas Olimpíadas, não ter ex-atleta como comentarista é uma espécie de heresia para os veículos de comunicação. Afinal, parece que quando o assunto é outra modalidade além do futebol, torna-se obrigatória a presença de um “especialista”.

Enquanto isso, numa partida de tênis, só falta o narrador, depois de gritar “pra foooora” num erro do tenista, se esbaldar no grito de “goooool” quando a bola estufar a rede!

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Tabelinha entre pai e filho

Passou o campeonato estadual e a Copa do Brasil. A Libertadores também teve seu vencedor. O campeonato brasileiro segue a todo vapor com os melhores times do Brasil se alternando na liderança da competição em busca do tão cobiçado título.

Porém, se aproxima também o segundo domingo de agosto, ou melhor, o dia do jogo mais importante do ano. Importante para aqueles homens privilegiados e abençoados por receberem de Deus a oportunidade de compartilhar e usufruir da companhia de um filho por várias temporadas.

Nossa atenção se guia única e exclusivamente pelas laterais desta data que comemora o Dia dos Pais. Portanto, pouco importa se alguns as consideram apenas como mais uma data em que crianças, adolescentes e adultos saem apressados pelas ruas e shoppings em busca de presentes.

Neste dia a preleção será dada por nós, filhos, loucos por futebol e carinho dos pais, a fim de agradecer por esta oportunidade de participar deste jogo tão disputado, confuso, truncado, embolado que é a oportunidade de viver.

Nós, filhos, meros coadjuvantes desta partida tão linda, plástica, empolgante e suscetível a jogadas maravilhosas, queremos agradecer pela convocação feita com tanto carinho, expectativa, ansiedade, alegria, amor, paixão e cobrança quando pisamos pela primeira vez num estádio repleto de paredes com tonalidades e texturas suaves, alguns mascarados higienizados, enfermeiras e muitos familiares, além é claro, de meu técnico e professor: papai.

Realmente esta foi a primeira e mais emocionante jogada que fizemos nos primeiros minutos em campo, pois durante nove meses foi solicitada e esperada nossa chegada. Assim, comemore, papai!

Técnico, professor, treinador, pai e papai aqui estou eu, vestindo o uniforme de nossa família, calçando as chuteiras da sabedoria, meiões que vestem as pernas que ajudastes a dar os primeiros e desengonçados passos para lhe parabenizar pelo dia que todo e qualquer estádio ficaria lotado e de pé para aplaudir e reverenciar seu vigor físico quando chega cansado do trabalho e ainda brinca comigo, quando usa de sua habilidade técnica para lidar com minhas teimosias, dúvidas, curiosidades e crises infantis.

Sendo assim, papai, espero que este jogo nunca chegue na prorrogação para que eu lhe peça desculpas por meus erros, falhas e defeitos. Mas que eu saiba aproveitar o tempo normal para deixar minha marca de forma positiva, criativa, infantil, levada, ousada e com forte características do jeito de jogar que fora herdado deste seu estilo único e elegante de atuar no jogo da vida e ainda marcar um golaço a cada abraço e sorriso.

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br

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A liderança tática

Dia desses me fora perguntado qual era a importância do capitão de uma equipe para a manutenção do esquema tático determinado pelo treinador durante um jogo.

Pois bem. Frases prontas e senso comum deixados à parte, façamos uma reflexão sobre a questão.

Quando uma equipe tem estabelecido pelo seu treinador um plano de jogo, precisa invariavelmente de dinâmicas, estratégias e subsistemas que contemplem esse plano.

O plano de jogo por sua vez deve estar associado a um modelo de jogo já estabelecido e organizado. Com as dinâmicas, estratégias, subsistemas, plano e modelo de jogo definidos (concepção) bastará, em jogo, executá-los (ação).

E é aí, que aparentemente mora o “X” da questão que me fora feita: seria o capitão da equipe o líder campal responsável por gerir as ações dos seus companheiros para manutenção daquilo que fora estabelecido pelo treinador?

Na perspectiva do pensamento e do treinamento tradicional faria todo o sentido acreditarmos que dentro do campo o capitão é uma extensão do treinador (e que portanto seria imprescindível a “existência” pontual do mesmo para se garantir o bom desempenho tático da equipe).

No entanto olhemos em outra direção.

Quando dentro de um modelo de jogo estabelecido pelo treinador, o desenvolvimento de estratégias, dinâmicas e subsistemas para uma partida (enfim plano de jogo) é iniciado, ele (o modelo de jogo) pode ter sua construção realizada de forma conjunta entre treinador, comissão técnica e jogadores.

A elaboração, construída de forma conjunta, do plano de jogo (e também do modelo), guiada e gerida pelo treinador, mas com envolvimento direto de todos (dos que concebem e dos que executam), pode e será sustentada pela crença e pensamento coletivo da equipe. Isso quer dizer que quando os executores (os jogadores) também – (guiados pelo gestor principal: o treinador) -participam e contribuem com a concepção, a execução ganha qualidade auto-sustentada.

Então, ainda que seja importante ter um jogador em campo com ascendência sobre seus companheiros de equipe, com influência positiva, não dever-se-ia atribuir e depositar nele a condição essencial para o bom andamento tático da equipe que joga.

Quando se trabalha na perspectiva de criar situações-problema para provocar reflexões, despertando nos jogadores o interesse de fazer aquilo que é melhor (que resolve com mais qualidade e abrangência), há um crescimento constante da equipe na forma de se jogar.

Por isso, construir coletivamente o modelo e o plano de jogo é despertar nos jogadores, através dos treinamentos, o entendimento dos “o quês”, por quês” e “comos”, de tal forma que as soluções e conceitos de jogo sejam algo comum ao pensamento coletivo da equipe.

Então, quando coletivamente, acredita-se em algo e esse “algo” é concebido com a participação de todos, defendê-lo e trabalhar em prol dele passa a ser uma necessidade coletiva constante. Isso quer dizer que a todo o tempo, o tempo todo cada jogador estará fazendo o melhor para o objetivo comum, auxiliando e cobrando um ao outro a favor da meta coletiva associada ao jogar.

Esse processo de construção conjunta a partir da gestão do treinador/professor é algo que a pedagogia do esporte há muito tempo estuda, discute e chama a atenção – e que José Mourinho (treinador “dois passos à frente”, da Internazionale de Milão) atribuiu um nome próprio: “descoberta guiada”.

Independente do nome que se dá, importante é entender o conceito que aí está embutido.

O fato, que por motivos inerentes a “cultura futebolística”, em geral a construção de táticas, estratégias e etc e tal é algo unilateral, que parte de treinadores e comissões técnicas em direção aos jogadores e ponto.

Para muitas pessoas que “sobrevivem” do futebol, algo do tipo “construir em conjunto” é tido ou como fraqueza do treinador ou como a chance clara para que se perca a liderança sobre o grupo.

E eu vos digo meus amigos: é justamente o contrário.

Construir em conjunto, de forma guiada realmente não é para qualquer um. Simplesmente porque exige segurança e conhecimento sobre o processo – e são poucos os que têm as duas coisas. Mas acima de tudo, construir em conjunto, direcionando e gerindo o grupo é algo que reflete de forma sintomática a capacidade de gestão e o conhecimento técnico específico dos treinadores diante de suas equipes.

Em outras palavras, quem tem medo se esconde, se protege. Quem não tem se expõe, coloca à prova, se adianta.

Capitães são importantes sim; mas sob outra perspectiva.

E você, vai se esconder?

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

 

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Espírito olímpico

De onde eu lia dava para ouvir os gritinhos de Arnaldo, o bagre cego. Arnaldo e Oto, o morcego, viviam o entusiasmo da abertura dos Jogos Olímpicos em Pequim. Como eu não estava com humor para festas, procurei me concentrar no livro. Mas os ruídos de Arnaldo por cada coreografia não deixavam. Oto apenas suspirava: “Pouco me interessam os Jogos Olímpicos; quando muito, darei uma olhada no futebol”.
 
Aliás, quem idealizou as Olimpíadas foi um cidadão francês, o senhor Pierre de Freddy, mais conhecido como Barão de Coubertin, legítimo representante do machismo da época. Quando as mulheres entraram pela primeira vez nos jogos, em 1900, muitos dos homens do Comitê Olímpico ficaram indignados, principalmente o barão. Ele considerava a participação feminina uma traição ao ideal olímpico e acabou renunciando ao seu cargo no comitê em 1925, vencido por elas. De qualquer maneira, é preciso sempre lembrar que, na maioria dos casos, as mulheres praticam esportes criados para os homens, daí a nítida desvantagem que levam nos resultados. Elas deveriam criar seus próprios esportes.
 
O futebol apareceu pela primeira vez nos Jogos em 1900. Não constava do programa oficial, só que as coisas não eram tão organizadas assim e ele foi praticado à revelia da organização. O Brasil só se inscreveu nessa modalidade em 1952 e se deu mal. Caiu fora já nas quartas-de-final. De lá para cá fez pouquíssimo; nada que valesse a pena 90 minutos de torcida.
 
O futebol é um jogo, e todo jogo é egoísta. O jogador joga mais para si do que para os outros; no centro está o interesse do jogador de se beneficiar. Ele pensa menos no clube, na platéia, no país, do que no patrocinador. Porém, em segundo lugar vem aquele que o contrata, que o paga. Na época do amadorismo, em segundo lugar vinha o clube ou o país. Os tempos mudaram e o futebol virou uma mistura de jogo e trabalho. No que toca ao trabalho, o jogador tem patrão. Os jogadores profissionais de hoje, principalmente os mais famosos, são pagos pelos clubes e pelas grandes corporações: Nike, Reebok, Mizuno, Umbro, Adidas, etc. Se há alguma fidelidade da parte deles, é às corporações. Portanto, não me venham com essa história de dizer que fulano ou cicrano querem ir às Olimpíadas porque amam o Brasil. Que o amor que têm pelo Brasil transparece nos jogos da seleção brasileira. Que dizer da última Copa na Alemanha? Durante os jogos, quem ama, acima de tudo, o país, o clube, ou a cidade são os torcedores. Isso não quer dizer que os jogadores não amam muitas coisas além dos interesses corporativos: amam seus países, seus clubes, seus amigos. Na hora do jogo, entretanto, o interesse pessoal pesa mais, pelo menos no esporte profissional.
 
Era nisso que eu pensava quando bateram asas na porta da caverna. Saí para ver quem era e me deparei com Aurora.
 
“Não está vendo a abertura das Olimpíadas?”, perguntou a coruja.
 
“Não, não me interessa”, respondi.
 
“E a que você vai assistir?”, tornou Aurora a perguntar.
 
“O futebol”, eu disse.
 
“E o que você acha que a seleção brasileira vai conseguir?”, questionou a coruja com certa descrença em seu tom de voz.
 
“Talvez se saiam bem. São jovens, afinal, e os jovens são ardorosos e precisam de projeção. Nada melhor que os Jogos Olímpicos para lhes dar projeção”, concluí, não sem uma ponta de desânimo.
 
“Pois olha”, prosseguiu Aurora: “de minha parte já não acredito mais nisso. Prefiro menos hipocrisia; que os jogadores defendam aquilo que mais lhes interessa. Os jogos seriam Adidas contra a Nike, a Umbro contra a Fila, a Asics contra a Lotto, a Puma contra a Converse, e assim por diante. É por isso que durante as Olimpíadas assistirei ao canal Z33. Chega de hipocrisia”.
 
“Concordo com você, Aurora”, falei. “Também prefiro assim”.
 
Dias depois, enquanto Oto e Arnaldo soltavam seus “ais” e “uis”, o primeiro de indignação, o segundo de entusiasmo, enveredamos, eu e Aurora, pelo interior de sua toca até a sala daquela estranha TV. Sintonizamos no Z33. Nas escalações de Nike e Adidas, só nomes importantes. Foi surpreendente! Não tiramos os olhos do vídeo: um jogão! Nunca vi jogadores suarem tanto a camisa. Os prêmios eram dados em dinheiro na beira do campo, a cada gol, a cada jogada vistosa. Só não havia torcida; o povo, que ama os jogadores, que ama o país, que ama o clube não ama a Adidas. Quando muito, calça seus tênis.
 
Mas não importa, saímos da toca satisfeitos. Não havia hipocrisia, não havia Fifa, não havia COI, os jogadores não precisavam dar entrevistas e mentir dizendo que fariam de tudo pelo Brasil, ou pela Inglaterra, ou pela Alemanha. O que os movia, sinal dos tempos, era o dinheiro. Jamais recusariam uma boa oferta, mesmo que o dinheiro sobrasse. Portanto, esse era o mote do jogo. Que o assumissem! Bem mais ético do que fazer de conta que jogavam por outras coisas. Ah, e mais um detalhe: antes de começar o jogo, enquanto as bandeiras das empresas eram hasteadas, uma orquestra tocava os hinos das corporações em campo, e todos os jogadores sabiam cantá-los. Só a platéia, sem patrões, calava-se.
 

Quando voltei para minha caverna ainda pude ouvir o entusiasmo de Arnaldo: mais uma medalha de ouro para a China.

Para interagir com o autor: bernardo@universidadedofutebol.com.br

Leia mais:

Trocando as bolas
Aurora
Uma questão de critério
Sem intenção

* Bernardo, o eremita, é um ex-torcedor fanático que vive isolado em uma caverna. Ele é um personagem fictício de João Batista Freire..

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Laudo Arbitral – Messi, Diego e Rafinha

Todos nós que acompanhamos o mundo do futebol vimos nesta semana um caso bastante interessante envolvendo a Fifa, o Comitê Olímpico Internacional e os Jogos Olímpicos de Beijing.
 
Os três jogadores em questão, todos menores de 23 anos, tiveram suas liberações para os Jogos questionadas por seus respectivos clubes empregadores. Por uma alegada deficiência nos regulamentos da Fifa, os clubes não estariam obrigados a ceder seus atletas para os Jogos Olímpicos.
 
De fato, caros leitores, de acordo com o Anexo 1 do Regulamento da Fifa sobre o Status e a Transferência de Jogadores, os clubes somente estariam obrigados a liberar seus atletas para jogos de seleções nacionais caso tais jogos constassem previamente do Calendário Internacional da Fifa, ou que houvesse deliberação nesse sentido tomada pelo Comitê Executivo daquela Federação Internacional.
 
Por um lapso da Fifa, ou por outro motivo que desconhecemos, a Fifa não incluiu os Jogos Olímpicos de Beijing em seu Calendário Internacional, bem como não tomou qualquer deliberação no seu Comitê Executivo para determinar a liberação dos jogadores.
 
De acordo com os depoimentos feitos pelo presidente da Fifa, Joseph Blatter, bem como nos termos do Ofício Circular da Fifa nº 1153, alegou-se que a omissão no Calendário foi proposital (dado a importância inconteste dos Jogos Olímpicos), e que tal fato não prejudicaria a obrigação dos clubes de liberar seus atletas em decorrência dos efeitos da lei de usos e costumes (customary law) – tento em vista que a obrigação já encontrava-se em vigor de forma informal nas últimas olimpíadas.
 
Ocorre que, bastava um exame superficial da questão para perceber que a alegação da lei de usos e costumes não restava bem fundada. Não existe, de fato, lacuna em legislação de hierarquia superior (regulamento escrito da Fifa), que havia sido editada e republicada em sua íntegra neste ano.
 
Desta forma, o Tribunal Arbitral do Esporte, uma vez provocado, decidiu de forma acertada, retirando a imposição aos clubes (especificamente com relação aos três clubes envolvidos) que havia sido determinada pela Fifa e confirmada pelo juiz singular do Players´ Status Committee.
 
Apesar da aparente contrariedade aos princípios do olimpiismo, verificou-se mais uma vez que o princípio da segurança jurídica no futebol está sendo buscado pelo CAS.
 
Tendo em vista que os três jogadores atuaram em suas primeiras partidas após a decisão do CAS, devemos aguardar o desenrolar dos fatos para checar se os clubes exercerão os seus direitos de terem de volta os jogadores, executando o laudo arbitral expedido.
 
Manteremos os leitores atualizados sobre mais essa interessante demanda.

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