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Estaduais no Brasil – extinção ou inovação?

Crédito imagem – César Greco/Palmeiras

Pensar nos campeonatos estaduais em pleno 2021, talvez se apresente para alguns como retrocesso ou nostalgia. Entretanto, acredito que a existência dessas competições locais pode ser a retomada do Brasil como país do futebol. Sim, a partir de uma visão ampliada, o esporte mais praticado no mundo pode resgatar a paixão do torcedor brasileiro que o acompanha há mais de um século.

Não há no país o entendimento de que o futebol pode promover o seu desenvolvimento econômico, tanto local, ou regional, como nacional. Tal entendimento poderia contribuir para que o futebol se tornasse um gerador de riquezas, melhorando a distribuição de renda e ainda sendo um catalisador para a geração de empregos. Para isso, sugiro ao leitor que esqueçamos – por alguns momentos – a percepção que, historicamente, nutrimos pelo futebol no Brasil, como sendo uma atividade unicamente ligada às nossas paixões. 

Esse jogo atrai milhões de espectadores pelos mais diferentes países do mundo e sua rentabilidade – crescente – alcança cifras em torno de bilhões de dólares por ano, representando parte significativa do PIB de muitos países, o que ainda não acontece no Brasil.

É preciso entender que, enquanto o mundo faz dinheiro com as mais diferentes atividades esportivas, seguimos perdendo oportunidades de ampliar a participação do nosso principal esporte na economia do país que – sob uma perspectiva mais estratégica – poderia ser um fator positivo na retomada da capacidade de novos investimentos; tanto públicos quanto privados.

Atualmente, o Brasil possui 691 clubes de futebol – segundo números atualizados existentes nos registros na CBF – muitos deles localizados no interior do país, mas que desenvolvem atividades econômicas, quando muito, em apenas seis meses por ano (durante a disputa dos campeonatos estaduais). No período restante, sobrevivem ‘por aparelhos’ após demitirem grande parte de seus jogadores para recontratá-los novamente no início de uma nova temporada. Sendo que, uma grande massa desses profissionais passa, a maior parte do ano, realizando atividades para as quais, muitas vezes, não estão capacitados ou engrossam as estatísticas de desempregados dentro do nosso país.

Gerenciar o interesse pelo esporte internamente, poderia ser lucrativo no momento no qual for oferecido um ambiente propício para esse segmento. A realização de um planejamento estratégico estruturado que contemple o mercado do futebol, possivelmente nos agregaria alguns pontos percentuais no PIB Nacional, pois induziria a um aumento significativo na arrecadação de impostos para o governo federal e na criação de novas receitas para estados e municípios. Outro ponto é que a promoção da prática esportiva tem a tendência a diminuir gastos com internações médicas, reduzir ociosidade infanto-juvenil e a evasão escolar. Já o oferecimento de novos postos de trabalho advindos da ampliação desse mercado resultariam em um incremento da população ativa.

Entender esse posicionamento economicamente mais competitivo é importante, pois temos as ferramentas para sermos líderes nesse rentável mercado – o mundo do futebol – mas, infelizmente, nos falta organização, planejamento estratégico e inovação criativa para estarmos preparados e lucrarmos nesse rico filão da indústria de entretenimento.

Nesse cenário, surgem as competições locais como um produto que pode ser melhorado e que está ao alcance de todos os estados brasileiros. Afinal, as rivalidades latentes entre as diferentes cidades mobilizam de uma forma mais intensa a atenção de torcedores. A proximidade geográfica faz com que se resgate esse sentimento histórico entre as populações envolvidas e, desde que não exista um incremento da violência entre torcidas, trata-se de algo desejável para o aumento do interesse desse público.

Entretanto, enquanto os torcedores dos times maiores almejam disputar torneios mais rentáveis no intuito de ver a expansão territorial e digital de seu clube de coração. Os apaixonados por clubes sem uma expressão nacional desejam apenas que a temporada se estenda por mais tempo do que apenas um semestre para que possam dar vazão à sua paixão pelo futebol. Surge então um ponto de atrito: uns querem menos datas por um calendário mais enxuto e rentável; os outros, buscam mais jogos para que consigam se manter ativos em uma maior parte do ano. A conversa não fecha. Apenas para esclarecer, atualmente, são 16 (dezesseis) datas reservadas para essas competições e muita reclamação de ambos os lados.

Todas as reflexões sobre esse assunto chegam até aqui sem uma solução. Então, nos próximos textos, será apresentado um redesenho para essas competições. Afinal, inovação no futebol não se resume apenas ao aspecto tecnológico; pensar ‘fora da caixa’ e propor novas formas de enxergar coisas antigas também é inovar! Delinearei isso não apenas de um ponto de vista esportivo, mas com um alcance macroeconômico. Onde serão reduzidas as datas exigidas para os clubes que disputam as principais séries nacionais e ampliadas a temporada de jogos para as equipes menores.

Estaduais no Brasil – Uma ideia apresentada

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A ponte entre o velho e o novo mundo do futebol

Com a seleção brasileira parada por tanto tempo havia pouco o que falar do técnico Tite, do seu trabalho e dos seus ‘selecionáveis’. Serão quase sete meses sem atuar. Mas com as Eliminatórias voltando e a convocação da última sexta-feira, não fica mais tão ‘forçado’ falar do comandante do time pentacampeão.

Isso porque Tite deu uma ‘sumida’ intencionalmente – nada do que ele faz é sem intenção (e isso é formidável!) – porém até o final do próximo ano, com a Copa do Mundo no Qatar, ele estará na ‘berlinda’.

Pra começo de conversa Tite é atualmente o melhor técnico nascido no Brasil. Disparado. Nem consigo pensar em quem é o segundo, tamanha a diferença que há. Isso não quer dizer que eu concorde com tudo que ele faz. Por exemplo, eu jamais convocaria Everton Ribeiro, do Flamengo. Não o vejo como jogador de seleção. Mas tudo bem…Mesmo com Tite fora dos holofotes, tenho recorrido ao trabalho dele em minhas reflexões sobre o momento do futebol e dos técnicos brasileiros. E a trajetória de Tite é algo muito interessante e que traz diversas lições. Mais do que saber cair e se levantar rapidamente – até porque a maioria dos treinadores também tem que obrigatoriamente possuir essa característica – a maneira com que ele reage aos reveses é digna de reflexão: Tite volta melhor depois de baques e decepções! 

No início dos anos 2000, as passagens dele por Grêmio, São Caetano, Corinthians, Atlético-MG, Palmeiras e Inter já demonstravam uma profunda assimilação dos erros cometidos e uma rápida correção de rota. E isso pra mim é louvável: quantos técnicos são demitidos sumariamente e voltam com o mesmo estilo de jogo, com as mesmas ideias, a mesma comunicação, estilo de liderança e até as mesmas entrevistas? 

O auge disso tudo é quando Tite ganha a Libertadores e o Mundial com o Corinthians em 2012 e após não ir para a seleção brasileira em 2014 como todos esperavam: ele de fato foi estudar em um ano sabático (e não apenas fazer selfies em CTs europeus). A prova é que voltou ganhando o Brasileirão de 2015 pelo próprio Corinthians, jogando um futebol melhor e com mais ideias do que o próprio time que havia batido o Chelsea no Japão três anos antes. A própria seleção brasileira atual mostra uma busca incessante de Tite em agregar os conceitos de jogo mais modernos ao seu repertório.

Se fosse para destacar a principal competência de Tite em um resumo dessa incrível carreira que ele tem, eu colocaria as relações interpessoais. No meio do futebol é muito difícil encontrar alguém que não goste dele. Tite tem a maestria em fazer as pessoas e o ambiente trabalharem a favor dele. E isso ao passo que não é trivial de se conseguir é fundamental para sedimentar conquistas. Entretanto, quero destacar essa busca dele por melhorar. Em ir atrás do conhecimento e fazer diferente sempre. Que Tite seja um exemplo de que a inércia e a incapacidade de refletir são as grandes inimigas da evolução contínua.

*As opiniões de nossos colunistas parceiros não refletem necessariamente a visão da Universidade do Futebol

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Adriano – O futebol tem medo das pessoas?

O texto de Adriano no Player’s Tribune é o texto da semana. Para quem, como muitos de nós enxerga o futebol com a paixão de um torcedor ou de um jogador frustrado, as trajetórias de atletas como ele, o Imperador, e Ronaldinho Gaúcho, que atingiu o topo e não fez a menor questão de continuar por lá e tantos outros, sempre doem pelo que “poderia ter sido”, os relatos de Adriano ajudam a ter uma visão menos “nossa” e um pouco mais empática sobre os caminhos que esses e outros jogadores escolheram tomar.

Adriano começa o seu texto falando sobre como chegar ao topo do futebol mundial foi um teste ininterrupto de sobrevivência, o que lembra, inclusive, outra experiência de vida compartilhada no Player’s Tribune a de Romelu Lukaku. Não há espaço no processo de se tornar jogador para pensar ou se preocupar com o outro, a cada jogo você deve se destacar, a cada ano, dezenas de colegas ficam pelo caminho, é matar ou morre, às vezes quase literalmente. O quanto isso impacta na maneira como esses jogadores entendem o jogo? O quanto o senso de equipe vem sendo incentivado nos jogadores brasileiros? O texto de Adriano nos estimula a pensar sobre isso.

Outro ponto alto do texto é a montanha russa de emoções que o atacante viveu em 2004, entre a virada inesquecível sobre a Argentina na final da Copa América e a morte do pai, nove dias depois. Como conta Adriano, após o ocorrido, o futebol e a vida perderam o sentido, e a partir daí sua carreira tomou um rumo completamente diferente do que jornalistas e o público esperavam.

“Sim, talvez eu tenha desistido de milhões. Mas quanto vale a sua paz de espírito? Quanto você pagaria para ter de volta a sua essência?”

“Fiz uma coisa que eu quis fazer porque sabia que estava precisando” – Explica Adriano

Fundamental aqui fazer uma ressalva em relação à saúde mental dos jogadores, e de todos. Com um maior suporte nesse sentido Adriano teria encontrado razões para seguir jogando em alto nível por mais tempo? Jamais saberemos, mas o ponto é que Adriano, ao contrário das expectativas criadas ao redor de um jogador escolheu pelo que lhe fazia feliz, por sua essência nas palavras dele. Isso assusta demais quem quer ter os jogadores na palma de sua mão, sejam eles dirigentes, diretores de federações, agentes, ou patrocinadores. Um jogador “indomável” significa uma ameaça real à estrutura estabelecida que, obviamente é conveniente para todos os que se encontram em seus postos de comando.

O raciocínio aqui é parecido com o que já apresentamos sobre combatividade, muitas vezes excessiva, utilizada para analisar a trajetória de Maradona, que em muitas passagens de sua carreira foi uma pedra no sapato de quem comanda o futebol e escolheu mais por sua felicidade do que pelo que se esperava dele. Da mesma forma, causaria um baita incomodo jogadores se recusarem a atuar sob condições inaceitáveis como as que aconteceram ontem na partida entre América de Cali e Atlético, quando protestos ocorriam a metros do estádio, que teve que ser interrompida diversas vezes por conta do gás utilizado para conter os manifestantes que frequentemente invadia o campo, não havia nem condições nem clima para se jogar futebol ali!

Agora imagine o tamanho da encrenca se mais jogadores escolhessem pela sua “essência”, mais do que por mais dinheiro ou troféus? Messi, por exemplo, está cada vez mais próximo do fim do seu contrato com o Barcelona, o que o impede de realizar o sonho de sua infância e escolher defender as cores do Newell’s Old Boys, da cidade argentina de Rosario?

Quem perde e quem ganha com a realização de um sonho desse?

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Diferencial do futebol brasileiro – a cultura futebolística

Crédito imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Na primeira parte deste texto, busquei chamar a atenção para uma etapa da formação esportiva pouco estudada e debatida, os primeiros anos de vida da criança. Esta fase foi colocada como diferencial positivo do futebol brasileiro. Podemos ter outros diferenciais. Até devemos ter outros, alguns positivos, outros negativos. Mas nesta série de textos focaremos sobre este diferencial que a mim parece determinante para que o futebol brasileiro e os seus jogadores e jogadoras sejam ainda bastante respeitados no mundo.

A maioria de nós, profissionais do futebol, atuantes em diferentes setores da sua cadeia produtiva, e quase todos nós brasileiros, desde que nascemos, somos expostos a uma cultura que ama futebol e o incentiva desde então. Muitos de nós recebemos roupas de um clube antes mesmo de começarmos a andar. Nos Estados Unidos, talvez os pais ou familiares deem roupas de franquias de basquete, futebol americano, beisebol ou hóquei. Portanto o futebol não é algo natural, que está no nosso gene, mas sim, algo que é cultural e é nosso enquanto nação. Muito bem, mas por que esse assunto de cultura? O que ela tem a ver com o que queremos saber sobre o diferencial do futebol brasileiro? Tudo!

Os conhecimentos em pedagogia nos fazem observar os seres humanos desde muito cedo. Existe uma corrente teórica sobre a pedagogia, isto é, a teoria que estuda a educação humana, que diz que aprendemos a partir das interações da nossa organização atual, que compreende tudo o que já somos, com o meio em torno de nós, ambos (nossa organização e o meio) extremamente complexos. Portanto, em uma perspectiva da complexidade, a nosso respeito podemos citar a dimensão biológica (genética), nossa dimensão energética, nossa dimensão espiritual e todos os conhecimentos que adquirimos até um determinado momento da aprendizagem. Por outro lado, na perspectiva do ambiente, todos os fatores que compõem um ambiente social, logo, a cultura, o espaço físico, as pessoas inseridas nesse local, e a natureza de forma geral, entre outros. Esta forma de compreender a aprendizagem advém da corrente interacionista.

O parágrafo anterior teve o objetivo de mostrar que a aprendizagem depende da cultura. E a cultura brasileira favorece a aprendizagem do futebol. Mas como essa aprendizagem ocorre?

A forma mais eficaz de as crianças aprenderem, qualquer coisa, inclusive o futebol, é brincando, jogando. A criança, quando possui a liberdade de brincar e ser dona da própria brincadeira, não raro aprende muito. Há algumas décadas era possível ver com abundância as crianças brincando de futebol em ruas, praias, praças, terrenos baldios ou campinhos de várzea. Hoje é muito comum ver as crianças brincando de video game. Em ambos os casos elas aprendem, e aprendem muito bem. Por que será que elas aprendem tão bem quando aprendem brincando? E como é essa brincadeira? Como é o ambiente que envolve essa brincadeira?

A cultura exerce o seu papel desde muito cedo e de diferentes maneiras, inclusive sobre o que as crianças querem brincar espontaneamente. Repare nos milhões de pais e mães que são apaixonados pelo futebol e já fazem os bebês recém-nascidos interagirem com esse esporte, fazendo-os gostar de algum clube de coração, até ver e ouvir jogos na televisão. Conforme crescem, têm a bola em seus diferentes tamanhos e cores como um brinquedo abundante em casa, ou mesmo levando as crianças a estádios e campos de várzea, assistindo jogos, brincando de bola entre família etc.

Quando a criança começa a se socializar fora do ambiente familiar, frequentando a escola e demais ambientes onde há mais crianças como ela, mais uma vez o futebol costuma estar presente e sendo incentivado pela cultura. Em ambientes escolares é comum as crianças brincarem de bola no recreio ou em aulas de educação física. Fora desses ambientes, o futebol tende a ser ainda mais forte, no quintal de casa, entre irmãos, primos, vizinhos. E, também, na rua ou na quadra mais próxima, com os amigos de bairro, onde as brincadeiras espontâneas, aquelas sem grandes influências de adultos nas suas organizações, começam a ficar maiores e mais complexas do ponto de vista do desenvolvimento infantil. E é nesse ponto que devemos parar e analisar o nosso contexto específico, com a devida atenção sobre o que acontece nesse ambiente de brincadeira informal entre as crianças brasileiras, que parece favorecer tanto a aprendizagem do futebol.

Vamos refletir exatamente sobre isso no próximo texto!

Até lá!

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O peso da transmissão ao vivo no esporte

Final da Copa do Mundo de 2022, no Qatar. Brasil x Argentina. Nossos eternos rivais abrem o placar com Lionel Messi logo aos 15 minutos. Apreensão da torcida brasileira diante da TV. Logo em seguida… ploft! O sinal digitaliza e some. Uma pane na central técnica do estádio Lusail interrompe a distribuição da transmissão para o restante do mundo. O jogo não pode parar e a virada verde e amarela é vista ao vivo apenas pelos 80 mil presentes no estádio.

Já pensou o tamanho do estrago?

É claro que isso nunca vai acontecer. Justamente pela importância da transmissão da partida no universo de um evento esportivo, todo tipo de redundância é providenciado para que este cenário seja impossível. Geradores para compensar a queda de energia. Distribuição de sinal por internet, satélites, fibras óticas. Tudo é feito para garantir que o evento seja entregue com segurança a cada canto do planeta.

O chamado “broadcast” é parte fundamental na roda de qualquer evento esportivo

Claro que existe a preocupação com a ponta final, o torcedor. Mas todas estas precauções com a segurança da transmissão estão muito mais relacionadas com os interesses financeiros, com quem sustenta a brincadeira toda. Uma Copa do Mundo só é possível graças ao dinheiro dos patrocinadores. E o que eles pretendem? Que a marca seja vista, atrelada a um acontecimento de prestígio, pelo maior número de pessoas possível.

Em 2018, a final entre França e Croácia, na Rússia, alcançou 1,2 bilhão de espectadores. Praticamente um a cada 6 habitantes do planeta assistiu a pelo menos um minuto da decisão ao vivo. Imagine se a mesma partida fosse assistida apenas pelos 78 mil que estavam dentro do Estádio Luzhniki naquele dia. Deixaria de ser uma Copa do Mundo? Não. Mas certamente traria menos prestígio aos campeões, menor investimento de patrocinadores e, com isso, não poderia ser possível promover tantas ações ao redor do evento.

Resumindo: qualquer evento esportivo, muito além de promover competição e coroar o melhor naquela modalidade, só faz sentido se for visto. Audiência traz repercussão. Repercussão traz prestígio. E audiência, repercussão e prestígio trazem o interesse das empresas em se colocar como parceiras.

E qual a melhor forma de alcançar o maior número de pessoas possível no mundo atual? Um estádio, uma arena, comportam um número limitado de pessoas. Uma transmissão em vídeo (hoje não podemos nos restringir à TV) permite que a ‘arquibancada’ seja muito maior. Se os ingressos se esgotarem, se as pessoas morarem em cidades distantes, em outro estado, ou até mesmo outro país, ainda terão uma alternativa para acompanhar o evento.

A mesma lógica vale para a plataforma de distribuição. Uma partida em canal fechado alcança um número limitado de pessoas, os assinantes. O mesmo evento transmitido em canal aberto permite que muito mais pessoas vejam – o que interessa muito mais a quem organiza.

Cabe aqui o exemplo prático e bastante atual da Liga dos Campeões da Europa, que no próximo triênio volta à TV aberta com o SBT. É claro que a emissora pagou pelos direitos de transmissão, mas a decisão da Uefa passa diretamente pela ambição de voltar à rede pública brasileira depois de 3 anos com transmissões pelo Facebook, que entrou na categoria em uma parceria com a Turner por ser acessível a qualquer espectador sem custo algum, enquanto o conglomerado ficava com a distribuição em televisão por assinatura.


O exemplo do Facebook traz a mais recente e democrática das alternativas para distribuição de sinal, conforme reforçado no meu artigo anterior: a Internet. Hoje é possível transmitir qualquer acontecimento pela rede mundial de computadores com a utilização de apenas um celular: de um casamento a uma partida, como se tornou comum durante a pandemia.

O cenário de isolamento atual, aliás, reforça importância que tem o broadcasting dentro do cenário. O público não pode ir às praças esportivas, as arquibancadas estão vazias, mas a competição acontece da mesma forma porque existem as câmeras de televisão, os sinais por satélite e internet para levarem o produto até o consumidor final. Está resolvida a questão dos portões fechados – e o torcedor “de estádio” também supre um pouco da falta, do não poder estar presente.

O poder de quem alcança mais

Numa disputa para ser visto, é fator primordial a abrangência de quem está transmitindo. 

Da mesma forma que o SBT alcança uma base maior de espectadores que a TV Gazeta, um canal grande no YouTube tem mais visualizações que a minha conta pessoal de Instagram. São cartas muito importantes no jogo da audiência e, por consequência, nas negociações. 

A concorrência pelos direitos vai além de quem paga mais, conta muito quem vai levar o evento para mais pessoas.

Dentro deste contexto, a Globo tem um poder de barganha maior. Estar na maior emissora do país leva qualquer produto a um outro patamar, empresta prestígio. Costumávamos brincar em redações, que se um campeonato de dominó estiver  na Globo, vai dar audiência. Mas existe também a dificuldade de espaço dentro de uma programação bastante rígida e estruturada. O preço de estar na platinada pode ser caro: restrição de horários. A faixa nobre é para poucos.

Quantas vezes não ouvimos reclamações sobre o tal “horário da TV”? Muito tarde para o futebol. Muito cedo para eventos programados para a janela do Esporte Espetacular. A verdade é que a decisão sobre horário cabe ao organizador e o sacrifício muitas vezes vale a pena. Em troca de audiência, prestígio e, por consequência, dinheiro.

Essa flexibilidade é outro fator importante deste jogo. Independente do canal de televisão. Há que se medir uma série de outros fatores. Por exemplo, a concorrência.

Programar qualquer coisa para um domingo, às 16h, horário tradicional do futebol em TV aberta, não é negócio. Para quem adquire direitos de campeonatos internacionais – que, além do fuso, obviamente não consideram o ecossistema brasileiro na definição de tabelas, é um desastre quando um grande clássico europeu acontece na mesma hora do Brasileiro. O potencial de audiência é reduzido em pelo menos 50% (sendo generoso).

Neste caso, não adianta reclamar com La Liga, com a Premier League ou quem seja. Nosso mercado, embora importante, não é prioridade deles. Mas também eles estão muito ligados nessa disputa pelo “ser visto”.

A flexibilidade: estratégias em busca de exposição

O campeonato italiano, de uns anos para cá, passou a ter jogos na hora do almoço (deles, no caso, porque aqui é entre 7 e 8 horas da manhã com o fuso horário). Qual objetivo? Atender ao público asiático, responsável por boa parcela da audiência – e dos negócios, principalmente, de muitos clubes. Nunca é demais lembrar que o Milan, hoje, pertence a investidores chineses.

A questão do fuso horário é determinante ainda para a definição dos horários em Copa do Mundo. A cada quatro anos nos deparamos com a estranheza de jogos em horários bizarros nos países que organizam as competições. A Copa do Brasil teve jogo de 13h a 22h. Tudo para acomodar fusos horários de forma que mais pessoas possam assistir pela televisão – e pouco importa a experiência do jogador ou do torcedor local nestes casos.

Outra estratégia comum de uma Copa do Mundo, que foi muito bem espelhada pela Premier League nesta temporada, é a eliminação da “concorrência interna” por meio da distribuição de horários. Com exceção da última e decisiva rodada da fase de grupos, não existem partidas de Copa do Mundo acontecendo simultaneamente. Além de permitir ao torcedor assistir o máximo de jogos, a ideia é explorar ao máximo o potencial de visualização de cada partida e acumular números.

Citei o exemplo do campeonato inglês, que adotou o mesmo procedimento. Hoje é possível passar o sábado, ou o domingo, assistindo a Premier League por mais de nove horas seguidas (cada dia) e não perder nenhum jogo da competição ao vivo: 8h30, 11h, 14h30, 16h.  E mesmo quando há jogos de outras competições marcados para o final de semana estes horários são respeitados para que não haja sobreposição. 

Trata-se de uma estratégia genial para que nenhum detalhe seja perdido – e os detentores de direitos agradecem o maior número de alternativas para montar a grade de programação. É desesperador quando dois grandes jogos de um mesmo campeonato acontecem no mesmo horário e a televisão tem que fazer uma escolha ou dividir a própria audiência em dois canais (como nos casos de ESPN e Sportv, por exemplo, que possuem canais alternativos para dar vazão).

Boas ideias merecem ser copiadas. Imaginem por aqui. Dois jogos do Brasileirão na noite de sexta-feira, 19h e 21h. Três jogos no sábado: 15h, 17h e 19h. Quatro jogos no domingo: 14h, 16h, 18h, 20h. Um jogo na segunda-feira às 20h. A pluralidade permitiria ainda a negociação dos direitos com diferentes canais de televisão – não fosse o modelo hoje adotado em que os clubes tratam diretamente com as emissoras e corre-se o risco de ter jogos não transmitidos. Mas mesmo no caso de uma só emissora, ter a exclusividade no horário, sem concorrência, também é bom negócio.

Voltando do campo das ideias para a realidade, a NBB adotou um modelo semelhante desde 2018. Jogos praticamente todos os dias, não concorrentes entre si e distribuídos entre várias plataformas. Houve uma temporada que cada canal tinha o seu dia e horário. ESPN na terça, Twitter na quarta, Bandsports na quinta, Fox Sports na sexta, Band no sábado, Facebook na segunda. Atualmente as transmissões se espalham por ESPN, TV Cultura, TV Brasil, DAZN, Facebook e Twitch, além de televisões locais. O conceito é de que o torcedor tem toda opção para ver. Por consequência, novamente, o patrocinador tem mais oportunidades de ser visto.

Formatação e qualidade

E não é apenas na definição de horários de grade e no alcance do espectador que o peso do broadcast é sentido. A transmissão também é responsável pela qualidade do produto final. O show não é só do atleta, mas de quem leva para o público. A imagem do evento esportivo é diretamente influenciada pela forma como ele é apresentado. Da qualidade da imagem e do número de câmeras à capacidade do narrador de gerar envolvimento e engajamento, mas também passando por questões inerentes ao formato de competição.

A mídia tem as ferramentas e o expertise para manter a audiência conectada e este é um interesse também do organizador. Não basta chegar ao telespectador, é preciso que ele se mantenha envolvido. Foi assim que alguns esportes mudaram ao longo do tempo. No vôlei, caiu por terra a lei da vantagem, que tornava os jogos lentos e morosos, para adaptação à televisão.

Duas horas é uma conta mágica. É o tempo de grade de uma partida de futebol. Eventos mais longos encontram dificuldades para encontrar espaço na grade de programação, como também para segurar a atenção de quem assiste, sobretudo num ecossistema dinâmico como o de hoje com uma gama enorme de conteúdos sendo oferecidos. Vivemos a época do short-content, do vídeo de 15s da rede social. Prender qualquer audiência por mais de duas horas é impensável, salvo casos clássicos baseados na tradição, sobretudo nos esportes americanos, com os jogos intermináveis de beisebol, o futebol americano em pelo menos 3 horas e por aí vai. Mas nestes casos estamos falando de uma cultura diferente e já consolidada.

Até mesmo a Fórmula 1 mudou. O antigo treino classificatório, que tinha emoção apenas nos minutos finais, deu lugar ao formato de eliminatórias curtas de 10 minutos por recomendação da televisão. 

O poder de influência da televisão vai muito além da definição de tempos e formatos. Todo o entorno é importante. O envelopamento de arena, os cerimoniais, o posicionamento de cada elemento na arena, as cores utilizadas. É do interesse de quem transmite que o show esteja o mais plástico possível. Porque não estamos falando apenas de qualidade competitiva. Tem um quê de arte, de show. 

Algo muito bem percebido, por exemplo, pela indústria crescente dos Esports, que a cada semana ganham fatias mais significantes da audiência. Como transformar um jogo eletrônico em um esporte? Por mais que o core de competição esportiva seja o mesmo, muito além da organização de campeonatos profissionais, a resposta passa diretamente pelo tratamento de show, pela transmissão desenhada a partir de padrões que o público se acostumou a ver em TV. Isso empresta grandeza e credibilidade.

Por isso mesmo, os principais esportivos do mundo possuem dentro de sua estrutura empresarial um departamento de broadcast, que antecipa o trabalho das televisões e já entrega pronto o produto final. É assim na Fórmula 1, na Liga dos Campeões, na Copa do Mundo, no UFC, na NFL ou no campeonato mundial de surfe, a WSL. Uma transmissão já pronta para ser levada ao ar. A garantia do controle de qualidade sem depender do serviço de terceiros.

Não se faz esporte sem transmissão

Os organizadores das competições esportivas, maiores ou menores, parecem ter entendido a importância de se estruturar uma distribuição audiovisual, seja para internet ou televisão. Está não apenas na ponte entre o produto e o consumidor, no oferecimento de um serviço, mas na elaboração, na estratégia. 

Quem ganha é o mercado de transmissões esportivas, valorizado, superaquecido e não mais restrito a eventos mainstream.

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Sobre o jogo de futebol como espaço de contradição

Crédito imagem – Redes sociais Mesut Ozil

Por mais de uma vez, conversamos aqui sobre a importância não apenas de refinar o nosso pensamento sobre o jogo de futebol – mas isso se diz em todo lugar – mas especialmente de particularizar o nosso olhar: este é um tempo de homogeneidade, em que pensamos cada vez mais igual, falamos coisas cada vez mais parecidas, treinamos cada vez mais igual e, evidentemente, jogamos cada vez mais igual. A meu ver, o refinamento do olhar e do pensamento sobre o jogo de futebol e sobre a vida vivida é uma subversão, uma revolta, uma tentativa de pensar por si mesmo muito mais do que de pensar pelos outros. Não por acaso, aliás, não há uma forma universal de se pensar o futebol: há, na verdade, formas infinitas.

Mas uma forma particularmente interessante de pensar o futebol, sobre a qual gostaria de falar, é pensar o futebol como espaço de contradição. Acho interessante quando vejo e ouço pessoas dizendo que esperam ‘coerência’ dos outros, como sinal de avaliação moral, porque embora seja de fato necessária uma certa dose de coerência entre o que se diz e o que se faz ao longo do tempo, também é preciso considerar que ninguém é uma entidade estática: as pessoas estão em movimento, e as contradições da vida vivida não deixam de ser sinais de movimento, de fluidez e da contingência da vida. De um modo que a incoerência, dependendo do ponto de vista, pode perfeitamente ser uma virtude, mais do que um vício. Bom, no jogo de futebol acho que se passa um fenômeno muito parecido – com as suas particularidades, é claro.

Duas nítidas da contradição inerente ao jogo estão nessas passagens atribuídas ao Guardiola: uma, mais antiga, sobre a intenção de se atacar propositalmente por um lado para, mais tarde, finalizar do outro – como se os corredores laterais, que aparentemente poderiam ser opostos, negações um do outro, fossem na verdade complementos, condições de existência um do outro. Outra passagem, essa mais recente, é aquela em que ele diz que ‘se quero chegar adiante, passo para trás’ – ou algo do tipo. Reparem que se trata da mesma situação anterior: o passe para trás não é uma negação da verticalidade, mas eventualmente uma condição, um requisito da subida no campo. Quando falo desse caráter contraditório do jogo (e nem sei se contradição é a melhor palavra), falo justamente dessa intencionalidade do fazer X em busca de Y – mas dessas interações e retroações que existem entre um e outro, inclusive de um modo que, mais tarde, pode-se perfeitamente fazer o contrário.

Se nos exemplos anteriores pensamos a contradição a partir do espaço, me parece que também podemos pensá-la a partir do tempo. Aceleração e a pausa não são variáveis mutuamente excludentes, mas muito mais faces integradas entre si. De um ponto de vista prático, acho um tema particularmente importante, porque vivemos num tempo de culto à intensidade e de falência da pausa. Se entendermos que a pausa é apenas e tão somente uma recusa da intensidade – ao invés, por exemplo, de um espaço de criação – vamos seguir com problemas para interpretar um jogador como Mesut Ozil, para citar um estrangeiro, ou Jean Pyerre, para citar um brasileiro. O tempo do jogo, o ritmo de uma certa elaboração ofensiva, ou mesmo o ritmo de uma transição (seja ela ofensiva ou não), não aumenta ou diminui como fim nele mesmo, ou melhor, não precisa ser assim: o aumento e diminuição do tempo do jogo pode ser um recurso com fins de contradição, ou seja, aumento o tempo do jogo num setor, justamente para reduzi-lo em outro (o que pode ser particularmente interessante na saida da pressão numa transição ofensiva, por exemplo), da mesma forma como baixo o tempo do jogo para atrair um ou mais adversários e logo depois subir o tempo em zonas mais vulneráveis do campo. O que quero dizer é que o futebol, como espaço de expressão humana, não me parece que pune a contradição individual e coletiva (e claro que falo de um ponto de vista especialmente tático-técnico) mas a premia: o futebol sabe do peso do engano, e sabe que a contradição pode ser mais virtude do que vício.

De um ponto de vista estrutural, acho que também há expressões bastante claras desse viés de diferença e de contradição. Vejam o problema da amplitude, por exemplo. Embora o jogo de futebol tenha um alvo relativamente pequeno (em comparação com a área de jogo) e centralizado – o que faz com o que o futebol tenha uma certa característica endógena e centrípeta, tenha uma tendência ao centro – reparem que uma das soluções que criamos na fase ofensiva foi a abertura do campo em largura. A amplitude, como sabemos, não bem é sinônimo de abrir o campo em largura máxima: amplitude é a distância entre os dois jogadores mais abertos de uma dada equipe no espaço efetivo de jogo. Ou seja, amplitude não é apenas amplitude máxima. É perfeitamente possível lançar mão de amplitudes submáximas – e mesmo assim jogar bem futebol. Mas se levarmos em conta aquela homogeneidade de pensamento de que falávamos no começo, não surpreende que seja tão comum encontrar equipes que abram o campo muito e sempre, como forma de criar espaços por dentro, nos vazios intrasetoriais do adversário. Abre-se o campo para, mais tarde, fechá-lo.

Mas o jogo vai criando mecanismos de homeostase, e um deles, que me parece cada vez mais claro, é um preenchimento maior da linha-base de defesa, com equipes se defendendo não apenas em linhas de cinco, mas em linhas de seis. Nesse caso particular, reparem que o argumento de abrir o campo para buscar espaços intrasetoriais perde força, porque a linha de seis é naturalmente densa por dentro e larga por fora, de um modo que abrir o campo apenas por hábito pode ser menos um veneno e muito mais um remédio para a defesa: é justamente o que ela quer. Nesses casos – e podemos falar disso muito mais detalhadamente num outro momento – sinto que uma das soluções está justamente na contradição da contradição, não mais em mecanismos de ataque cujo fundamento está em abrir para fechar, mas que fecham para eventualmente abrir: restringem a largura para eventualmente inutilizar os dois extremos-laterais da linha de seis. Percebem as contradições? Se a linha defensiva é mais curta, abrimos o campo; mas se a linha defensiva é mais longa e preenchida por dentro, podemos fechá-lo. A diferença não como negação, mas como afirmação.

Sinto que ainda não esgotamos o tema por aqui, mas por hoje é suficiente. Enquanto isso, pensem que o tema não se restringe ao futebol – na verdade, é mais fácil trazermos o entendimento das contradições da vida vivida para o futebol do que o contrário.

O que, sendo via de mão dupla, não deixa de ser uma possibilidade de novas contradições.

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Atacar bem: o próximo passo do futebol brasileiro

Crédito imagem – Ricardo Stuckert/CBF

O próximo passo da evolução do jogo no Brasil está ligado a formas mais elaboradas de atacar. Já aprimoramos nossos sistemas defensivos. Até porque, por diversas razões, o futebol é um jogo em que é mais fácil defender do que atacar: o gol é pequeno em comparação ao tamanho do campo, há uma regra diferente para um jogador em específico (o goleiro) evitar os gols, gerenciar apenas o espaço e não o espaço e a bola também torna defender mais simples, além de inúmeros outros fatores. Neste jogo em que a defesa sobressai ao ataque – podemos ter cem ações ofensivas para apenas um, ou às vezes, nenhum gol marcado – é necessário um refinamento muito grande para levar a bola ao alvo adversário. E na medida em que o jogo fica mais veloz e com espaços mais reduzidos se exige ainda mais capacidade individual e coletiva para cumprir a lógica e objetivo do jogo.

Já temos muito bem consolidado nas principais equipes brasileiras conceitos ofensivos como amplitude, profundidade, mobilidade e etc – algo que compõem ideias coletivas da escola portuguesa, embrulhadas no termo modelo de jogo. Porém o que se vê de mais contemporâneo é o jogo voltando a ser estudado e treinado a partir do indivíduo para o coletivo. Um jogador com boa percepção para entender os problemas do jogo e capacidades técnica e cognitiva para resolvê-los ajudará a compor uma equipe melhor. A própria escola espanhola já contextualiza tão bem as vantagens (numéricas, posicionais, qualitativas, dinâmicas e de entrosamento) que o jogo de posição oferece como base, mas que podem ser muito bem utilizadas por qualquer outro jeito de jogar. 

É possível treinar um jogador para tomar melhores decisões. É possível fazer com que ele tenha a percepção das vantagens que o jogo vai oferecendo e qual a melhor maneira de aproveitá-las. Ou até mesmo um aperfeiçoamento do que esse atleta tem de melhor em proveito da equipe –  é vantajoso cruzar muitas bolas na área se o nosso centroavante for o Lewandowski, que cabeceia cada vez com mais qualidade, porém se o nosso ‘9’ for o Gabriel Jesus é melhor um jogo por baixo. 

Enfim, partindo do indivíduo ou do coletivo, o que não cabe mais é um jeito aleatório de atacar. Deixar o talento por si só resolver. Já passamos da época – faz tempo, graças a Deus – de que o bom treinador era aquele que armava a defesa e não ‘atrapalhava’ a criatividade dos homens de ataque.

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Como medir sucesso no futebol?

Crédito imagem – Site oficial/Premier League

O nome Valeriy Lobanovskyi pode soar pouco familiar no cenário atual, mas os fãs do futebol europeu seguem reconhecendo-o como o mentor de Shevchenko, o cientista da bola ou o ilustre treinador vice-campeão da Eurocopa em 1988 (cuja final coroou a Holanda de Rinus Michels com Ruud Gullit, Marco van Basten e Ronald Koeman). Efetivamente gravado na história do esporte, Lobanovskyi representa um dos maiores pensadores que já interpretaram o jogo, contribuindo com os primeiros registros de futebol coordenado ainda durante o período de isolamento sociocultural e econômico que o distanciara da Europa ocidental pela Cortina de Ferro, levando-o a se tornar o treinador com maior influência no regime soviético (sua trajetória, aliás, fora brilhantemente resumida por Jonathan Wilson no livro A Pirâmide Invertida). Devoto a uma abordagem metódica e científica no treinamento de suas equipes, Lobanovskyi tratava o futebol como um sistema integrado, composto por 22 elementos que se movimentavam dentro de uma área delimitada no campo de jogo e estavam sujeitos a regras enquanto buscavam seus objetivos. Ao raciocinar os padrões de comportamento de sua equipe e dos adversários, ele superava o efeito externo emocional por meio da antecipação de movimentos no jogo, estimulando a memória coletiva de seus jogadores e revelando a importância do pensamento crítico dentro e fora de campo. Seu foco prioritário, entretanto, não eram vitórias ou títulos, mas sim deixar uma marca registrada no intelecto do futebol. Um legado intangível.

Ainda que existam exemplos que tentam fugir da normalidade, o pensamento convencional que acompanha o futebol até hoje persiste em traduzir sucesso esportivo única e exclusivamente por meio de gols, vitórias, títulos, prêmios, posições em tabelas ou ranking. Superficialmente, o sucesso é medido pelo produto-final, mesmo que ele seja momentâneo.

Porém, quando paramos para nos questionar, será que os fins justificam os meios? Será que as vitórias efetivamente representam sucesso ou na verdade escondem equívocos que ocorrem nos bastidores? Será que não conquistar o produto-final se traduz em falta de resultados ou seria essa uma grave ineficiência de avaliação?

Ponderar métricas limitadas (e tangíveis em seu sentido figurado) com medidas intangíveis (e muitas vezes invisíveis ao público) pode ser uma prática benéfica ao processo de avaliação construtiva no futebol. Afinal, seja em uma competição de longo prazo ou em um torneio eliminatório, inevitavelmente apenas uma equipe pode se tornar campeã em cada uma das disputas. Enquanto um campeonato nacional de 38 rodadas não termina na sétima, tampouco na vigésima quinta rodada, uma copa eliminatória não reflete necessariamente fracasso aos participantes que não atingiram a primeira colocação. Para distintas realidades, torna-se necessário diferentes réguas.

Apoiados justamente nessa linha de raciocínio, distanciando-nos de gols, pontos e troféus, como é possível medir sucesso esportivo no futebol?

  • Fortalecendo a identidade.
    • Em treinos e competições, existe uma (tentativa de) construção gradual em torno dos princípios de jogo desenhados pela comissão técnica?
    • Nas sessões de treinamento (independente da metodologia), há consistência prática de conceitos teóricos nos exercícios, equilibrando as ideias às circunstâncias de elenco, estrutura e tempo disponíveis?
    • Dentro e fora de campo, jogadores, profissionais e dirigentes se comportam segundo os valores defendidos pela agremiação? Quando o resultado não é positivo, todos sabem perder ou pelo menos reconhecer os adversários?
  • Incentivando expectativas realistas.
    • Antes de especular vitórias, qual é a realidade do clube? Quem são os reais concorrentes no contexto atual?
    • Considerando o desempenho em anos recentes e a projeção almejada, quais seriam os objetivos viáveis em curto e longo prazo?
    • Entre os supervisores do comando técnico, há conhecimento e paciência para monitorar, apoiar e respaldar o processo durante a temporada?
Diego Simeone esclarece a relação entre expectativa e realidade no Atlético de Madrid.
  • Valorizando o capital humano.
    • O clube investe em seleção, avaliação e sucessão de profissionais? Ou há sinais de apadrinhamento, nepotismo, favorecimentos políticos?
    • Dada a complexidade no ambiente de alto rendimento, existe valorização multidisciplinar? Sobretudo nas áreas de saúde e desempenho, há autonomia e integração para aprimorar o fluxo de informações?
    • Ao visualizar a organização estrutural, fomenta-se o intercâmbio de ideias e o desenvolvimento coletivo (respeitando a hierarquia)?
  • Estruturando a conversão de talentos.
    • Como tem sido a transição e a maturação de talentos provenientes das categorias de base no aproveitamento prático com a equipe profissional?
    • Quando jogadores são vendidos, o incentivo se volta a otimizar os talentos que já haviam sido antecipados ao elenco ou prioriza-se novas transferências para reposições imediatas? 
    • Há espaço, paciência e confiança para recuperar e projetar talentos outrora desacreditados (seja pela idade, frustração no exterior, inatividade por lesão, problemas pessoais)?
  • Promovendo transparência financeira.
    • Como se encontra a saúde financeira do clube ao analisar a antecipação de receitas, acúmulo de dívidas, empréstimos, inadimplências? Até que ponto as ações têm comprometido o potencial econômico e esportivo?
    • Quais são as reais diferenças na alocação de salários, bônus, comissões? Quanto cada jogador e seus intermediários efetivamente recebem comparado aos funcionários que atuam na operação do clube?
    • Se examinados de forma imparcial, seria possível identificar conflitos de interesse, benefícios pessoais ou desvios de receita nas decisões financeiras dentro do clube? Quantos dirigentes (estatutários e executivos) sairiam intactos de uma auditoria que rastreasse o seu histórico de participação na entidade?
Atalanta: reflexo de sucesso esportivo

“A vontade de se preparar tem que ser maior do que a vontade de vencer. Vencer será consequência da boa preparação.” – Bernardinho

O excesso de perguntas talvez tenha causado algum desvio de atenção, mas elas servem para ilustrar como o sucesso esportivo, enfim, não se limita ao resultado que enxergamos de forma isolada (durante ou ao fim de uma competição). É possível definir o sucesso, e até mesmo dividi-lo em ângulos que se completem, estimulando objetivos que se ajustem à realidade contextual de cada clube.

Capturado pelo visionário e multicampeão Bernardinho em sua obra Transformando suor em ouro, a verdadeira vantagem competitiva no esporte provém do processo cíclico de desenvolvimento. Muito além do sucesso, torna-se prioritário entender a busca constante pela excelência esportiva.

Afinal, o futebol, antes de ser competitivo, é colaborativo.

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Carga de treino e de competição – Um olhar prático para sua aplicação

Crédito imagem – Manchester City

Do ponto de vista físico, o futebol é uma modalidade caracterizada por sua intermitência de esforços e por sua elevada necessidade para que os atletas suportem elevadas intensidades. Somado a isso, podemos adicionar as constrições dos calendários competitivos, dos jogos em sequência e do imenso tempo despendido em viagens especialmente no caso do nosso país que possuí dimensões continentais.

Neste quadro, a manutenção da alta performance dos atletas e dos seus níveis de saúde parece vital para que uma equipe consiga o sucesso competitivo e que tenha disponíveis os seus melhores jogadores no maior tempo da competição. Se na alta performance e no futebol profissional, a gestão do esforço e o controle da carga do treino é fundamental, também na formação ela assume um papel importante sobretudo para construir programas de treinamento de longo prazo.

Com cada vez mais tecnologias disponíveis para o controle do treinamento, é possível selecionarmos uma ampla gama de instrumentos, protocolos e estratégias para administrar as cargas de treino sobre diferentes perspectivas, com implicações positivas na maneira como se pensa e prescreve o treinamento, unindo o conhecimento e informação teórica com a aplicação prática para: reduzir ou atenuar o risco de lesão, reduzir infecções do trato respiratório, administrar o processo de recuperação pós-lesão ou ainda abordagens mais tradicionais como compreender as dinâmicas de treinamento e a relação entre as cargas de competição com as cargas de treinamento.

Duas grandezas que se complementam: A carga interna e externa de treinamento


Dentro da grande área do controle da carga de treino e competição, podemos identificar duas grandezas que se relacionam, completam e são fundamentais para nossa compreensão de dose e efeito da prescrição de treino: a carga interna e a carga externa de treinamento. Se a primeira é aquela que nos dá um parâmetro de como os jogadores realizaram o treinamento ou competiram, a segunda nos dá parâmetros de quantidade de maneira objetiva.

De maneira sucinta e objetiva, podemos definir a carga interna de treinamento como uma resposta fisiológica para uma carga determinada e planejada de treino oferecida ao atleta. Os indicadores da carga interna de treino podem ser considerados como marcadores das respostas psicofisiológicas ao treinamento e competição e são influenciadas e dependentes de alguns fatores como: as características individuais dos atletas, o seu status de treino, o seu status psicológico, sua saúde e estado nutricional, assim como o ambiente e fatores genéticos.

Do ponto de vista do planejamento e controle do treino, alguns autores como Impellizzeri recomendam que a carga interna de treino deverá sempre ser a nossa primeira preocupação quando construímos sistemas de controle do treino, uma vez que correspondem a resposta individualizada para uma carga de treino. Um exemplo que podemos utilizar se refere a uma determinada carga de treino planejada de maneira semelhante para o grupo mas com respostas individuais diferentes, influenciadas pelo status competitivo dos atletas e seu grau de treinabilidade.

Dentre os instrumentos mais comumente utilizados para essa grandeza do treino, temos a escala de Percepção Subjetiva de Esforço, que pode ser empregada de diferentes maneiras e nos dá diferentes métricas de importante utilização, como por exemplo: percepção de esforço para determinados exercícios da sessão, percepção de esforço subjetiva da sessão (para quantificar o treino de maneira geral), para além de ratios de carga aguda e crônica dos atletas. Outro instrumento amplamente utilizado é o monitoramento da Frequência Cardíaca através de monitores cardíacos que podem ser mais ou menos avançados, com diferentes níveis de margem de erros na aquisição dos dados e que estão amplamente relacionados a Percepção Subjetiva de esforço.

Para compreendermos as dimensões da carga interna de treino, é preciso que tenhamos também elementos de controle da carga externa de treinamento e competição, que nos dão uma dimensão mais objetiva e fácil para planificar e monitorar o treinamento. Podemos afirmar inclusive que essas medidas são absolutas, uma vez que se relacionam ao trabalho realizado pelo atleta, de maneira independente às suas manifestações internas.

As medidas de controle da carga externa do treinamento se tornaram muito populares e tem ganho muita relevância na discussão científica e na atuação prática sobretudo desde que os dispositivos de Global Positioning System (GPS) foram autorizados para utilização em jogos oficiais. Dentre as muitas variáveis que os dispositivos de GPS nos dão, autores como Buchheit afirmam que podemos categorizá-las em três níveis: Nível 1 – distâncias totais percorridas e distâncias percorridas em diferentes intervalos de velocidade de deslocamento (absolutos ou relativos); Nível 2 – eventos relacionados as mudanças de velocidade (acelerações e desacelerações); Nível 3 – Dados derivados de sensores inerciais e acelerômetros (i. e. Player Load ou Force Load).

As pesquisas e a prática sugerem que as manipulações das condições de treino influem diretamente nessas métricas, algo a se ter em conta quando buscamos construir o processo de treino e oferecer cargas que preparam, recuperam ou mantém a performance dos nossos atletas. Fatores como o tamanho das áreas de jogo nos diferentes exercícios de treino, o número de jogadores, a duração dos estímulos e o status competitivo dos nossos atletas influenciarão exponencialmente a carga externa de treino, com implicações no ganho ou manutenção da performance, alterações a nível da força muscular, capacidade aeróbia e composição corporal.

Integrar e Aplicar

De maneira habitual, para que tenhamos um processo de controle eficaz é preciso que adotemos duas ou mais ferramentas para monitorarmos o treino e a competição, uma que contemple a dimensão da carga interna e outra que contemple a dimensão da carga externa. As utilizações integradas dessas duas ferramentas permitem aos treinadores, preparadores físicos e cientistas do esporte construir uma relação de dose e resposta para sua equipe e para cada um dos atletas.

Há um ditado que diz que só podemos planejar aquilo que controlamos, portanto uma vez que tenhamos claros quais elementos são mais importantes para compreendermos nosso processo de treino e competição, podemos traduzir essa informação de maneira fácil e aplicada, sustentável do ponto de vista prático e que nos permite atender e informar atletas, treinadores e demais membros do staff para uma tomada de decisões mais eficaz sobre métodos e meios de treinamento para a performance e formação.

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O seu time é um clube formador?

Crédito imagem – João Normando/EC São José

A Universidade do Futebol tem por característica estar sempre atualizada quanto aos principais temas que envolvem o futebol. Nos artigos anteriores abordamos conteúdos muito importantes para você leitor que quer entender um pouco mais sobre este universo gigantesco que trás um leque de oportunidades bastante amplo.

Pensando nisso, nesse compromisso de trazer temas relevantes para o debate, vamos abordar neste artigo um tema que está diretamente ligado com o desenvolvimento do futebol brasileiro e que no futuro permitirá a redução da discrepância existente atualmente com o futebol de outros países, em especial o futebol europeu bem como reduzirá a enorme diferença existente entre clubes aqui no Brasil.

Você sabe que a adequada formação do atleta é fundamental para que este atue com excelência no futebol moderno e para que isso ocorra, faz-se necessário que os clubes invistam nas categorias de base melhorando cada vez mais a estrutura oferecida. Isso porque a formação do atleta deverá envolver não apenas sua capacidade desportiva como atleta profissional, mas também sua formação como cidadão e sua inserção na sociedade.

Com a realização dos investimentos nas categorias de base e cumprimento de uma série de obrigações impostas pela Confederação Brasileira de Futebol – CBF, que serão abordadas ao longo deste artigo, o clube poderá receber o certificado de “clube formador”, documento que trará uma série de garantias aos clubes de futebol.

Você já ouviu falar sobre clube formador? Sabe quais são os direitos e deveres dos clubes formadores e as regras de proteção aos clubes? Saberia dizer de que forma o clube deve se preparar para ser considerado um clube formador e como isso pode ser benéfico? Todos estes temas sobre clube formador e muito mais são tratados com maiores detalhes em nosso curso de Direito Desportivo, mas neste artigo trazemos um pouco do que você estudará com a Universidade do Futebol.

Bom, não é novidade que para o atleta se tornar um profissional diferenciado para atuar no futebol moderno é preciso mais que habilidade, é preciso que este esteja amparado por uma equipe multidisciplinar que permitirá que o atleta atue em seu mais alto nível e quanto mais cedo este atleta estiver amparado melhor será seu desenvolvimento e sua formação, por isso a importância dos investimentos nas categorias de base.

Em um breve histórico sobre o tema deste artigo lembramos que desde a extinção do passe dos jogadores de futebol (anterior à Lei Pele – Lei nº 9.615/98), surgiu nos clubes de futebol uma grande preocupação de se protegerem quando são o clube formador de determinado atleta. Pensando nisso, foram criadas diversas formas de Indenizações que visavam proteger os clubes, mas até então sem existir expressamente na legislação a figura do clube formador.

Neste sentido, entre os anos de 1998 e 2011 diversas foram as regras que previam indenizações caso atletas se transferissem para outros clubes bem como as obrigações as quais os clubes deveriam seguir para serem considerados formadores de atleta e os direitos do Clube Formador.

Visando trazer melhorias para o esporte e buscando atender a uma reivindicação dos clubes de futebol brasileiro, em especial os clubes de maior poder financeiro, em 2011 a Lei 12.395 alterou a Lei 9.615/98 mais conhecida como Lei Pelé e foi responsável por especificar alguns pontos como o contrato de formação desportiva e a preferência do clube na assinatura do primeiro contrato profissional desportivo, criando, assim, a figura do “Clube Formador”.

Em seguida, a CBF regulamentou as alterações desta Lei por meio da Resolução da Presidência nº 01/2012 que traz em seu anexo II os procedimentos, critérios e diretrizes para certificação de clube formador e que será abordado mais adiante. No nosso material complementar você pode conferir a íntegra dessa Resolução da CBF.

Mas o que é um clube formador? Em síntese, CLUBE FORMADOR é “aquela agremiação que oferece a um atleta em idade de formação (até 21 anos) toda a infraestrutura para desenvolvimento esportivo e social (como cidadão). (ROSIGNOLI; RODRIGUES, Manual de Direito Desportivo, 2017, p. 80), ou seja, é o clube que preenche os requisitos previstos no art. 29, §2º da Lei Pelé de forma a comprovar que tem condições de oferecer ao atleta uma formação completa, garantindo tratamento médico/psicológico, moradia, alimentação, educação, dentre outros.

Ressaltamos que apenas atendendo aos requisitos (seja obrigações trazidas pela legislação, seja cumprindo as resoluções administrativas da CBF) os clubes recebem o chamado Certificado de Clube Formador (CCF) que nada mais é do que um documento emitido pela CBF e a partir daí passam a contar com uma proteção normativa que irá garantir que o investimento feito nas categorias de base tenha o retorno financeiro esperado no futuro.

Posto isso, para ser caracterizado como clube formador, conforme previsto no § 3º do art. 29 da Lei nº 9.615/98 (Lei Pelé), caberá à entidade nacional de administração do desporto (no caso a CBF), certificar como entidade de prática desportiva formadora aquela que comprovadamente preencha os requisitos estabelecidos na lei, de modo a fazer jus aos direitos assegurados na legislação, ou seja, sem o Certificado de Clube Formador (CCF) emitido pela CBF, a entidade não poderá ser considerada um Clube formador de modo que se verá impedida de assinar o Contrato de formação desportiva com o atleta e com isso não poderá assinar o primeiro contrato especial de trabalho desportivo.

Ainda, de acordo com a Resolução da Presidência nº 01/2012 (CBF), o clube interessado deverá providenciar “pedido formal de verificação das condições para a obtenção de certificação como clube formador”, que nada mais é do que a confirmação de que o clube atende aos requisitos e, nos termos do Decreto nº 7.984/2013, caso sejam atendidos os requisitos, o clube não poderá ter negado seu pedido de certificação de entidade de prática desportiva formadora, assim como do registro do contrato de formação desportiva.

Neste sentido, a CBF determinou que a emissão do Certificado de Clube Formador – CCF poderá ser de duas categorias, sendo:

  • Categoria “A” – para os clubes que preencherem requisitos comprovadamente acima das exigências mínimas, concedido com validade de dois (2) anos;
  • Categoria “B” – para os clubes que preencherem os requisitos mínimos, concedidos com validade de um (1) ano.

Cumprindo os requisitos essenciais para serem considerados formadores de atletas os clubes receberão o certificado que garantirá segurança jurídica por meio de Direitos conferidos a estes clubes como o direito de assinar o primeiro contrato de trabalho desportivo de no máximo 05 anos com o atleta a partir de 16 (dezesseis) anos, o direito de preferência para a primeira renovação do contrato e à indenização pela Formação do atleta.

Para finalizar, apresentamos a seguir a lista de clubes formadores atualizada pela CBF em abril de 2021. Perceba que clubes grandes no cenário nacional não são considerados formadores, destaque para clubes da série A que estão ausentes na lista: Atlético Goianiense (GO), Corinthians (SP), Cuiabá (MT) e Sport (PE) e o Athletico (PR) que saiu da lista da CBF neste ano e perdeu o certificado de clube formador pela primeira vez desde 2012, quando a entidade começou a definir critérios. Veja abaixo se o seu time do coração é um clube formador.

Clubes formadores no Brasil em 2021

Associação Esportiva Dinamo Esporte Clube (MG); Associação Chapecoense de Futebol (SC); América Futebol Clube (MG); Botafogo de Futebol e Regatas (RJ); Ceará Sporting Club (CE); Clube Atlético Mineiro (MG); Clube de Regatas do Flamengo (RJ); Coritiba Foot-ball Club (PR); Criciúma Esporte Clube (SC); Desportivo Brasil Participações Ltda (SP); Esporte Clube Bahia (BA); Esporte Clube Juventude (RS); Figueirense Futebol Clube Ltda (SC); Fortaleza Esporte Clube (CE); Fluminense Football Club (RJ); Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense (RS); Gremio Novorizontino (SP) Guarani Futebol Clube (SP); Goiás Esporte Clube (GO); Ituano Futebol Clube (SP); Sport Club Internacional (RS) Sociedade Esportiva Palmeiras (SP); Avaí Futebol Clube (SC); Guarani de Palhoça Futebol Ltda (SC); Retrô Futebol Clube Brasil (PE); Red Bull Bragantino (SP); Santos Futebol Clube (SP); São Paulo Futebol Clube (SP).