Categorias
Sem categoria

Código de Justiça Desportiva: penas muito severas ou aplicação mal feita?

Caros amigos da Universidade do Futebol,
 
Nessa semana, durante uma entrevista para um colega da mídia carioca, discutimos sobre o caso da final da Taça Guanabara e a possibilidade de serem aplicadas a jogadores e técnico do Botafogo penas muito severas pelo Tribunal de Justiça Desportiva.
 
Por conta da confusão ocorrida no final da partida contra o Flamengo, tais atletas e técnico foram levados a julgamento e poderiam receber suspensões que poderiam chegar a anos de inatividade (caso do técnico Cuca, por exemplo, que havia sido indiciado em três artigos diferentes e a somatória das penas poderia chegar a dois anos de suspensão).
 
A questão é interessante. As penas previstas no Código são muito rigorosas? O Código deveria ser revisto nesse sentido? Em nossa opinião, não.
 
Para que se entenda a dinâmica dos julgamentos, é preciso esclarecer que, caso os auditores do Tribunal entendam que o indivíduo praticou determinada conduta típica (prevista no Código), a correspondente pena lá prevista deve ser aplicada.
 
Portanto, em um primeiro momento, cabe aos auditores analisarem a descrição da conduta contida no Código e verificarem se o que aconteceu de fato corresponde à mesma ação.
 
Em caso afirmativo, o julgadores devem decidir qual pena deve ser aplicada ao agente da conduta típica.
 
Nessa segunda etapa do julgamento, a subjetividade é maior, uma vez que o código estabelece penas mínimas e máximas para cada conduta. Dependendo do nível de gravidade da conduta, e depois de aplicados os devidos atenuantes ou agravantes, o julgador aplica a pena para aquele caso específico.
 
Tudo isso para dizer que o auditor é vinculado ao que dispõe o Código. Não pode ele decidir dar pena menor ou maior do que aquela prevista, por entender que a conduta não foi grave, ou que foi mais grave do que imaginavam aqueles que elaboraram o Código.
 
Dessa forma, discutem alguns que as penas do Código são muito severas, e que o Código deveria ser revisto. Não entendo assim.
 
As penas devem ser mesmo severas para inibir a conduta não desejada por aqueles que atuam no espetáculo do futebol. Reduzir as penas poderia soar como um incentivo para o descumprimento do Código.
 
O centro da questão, na verdade, é a coerência dos julgamentos. É a maneira em que o Código é aplicado. Esse sim é o grande desafiio a ser atingido.
 
Não podemos mais tolerar que julgamentos sejam tendenciosos por conta da relevância das partes envolvidas, ou do certame analizado. O mesmo rigor aplicado a atletas de um time, deve ser imposto a atletas de outro time, ainda que os julgadores sejam outros.
Como vimos, por mais detalhado que seja o Código de Justiça Desportiva, sempre haverá subjetividade dos julgadores nas decisões.
 
Porém, não podemos permitir que essa subjetividade dê margem para os auditores não respeitarem decisões anteriores e não aplicarem o Código de forma uniforme a qualquer pessoa que o discumpra.
 
Nos dias de hoje, não se pode conceber um Tribunal que não tenha a imparcialidade e a independência ao aplicar o Código.
 
Assim, concluo que não temos que gastar nossos esforços para alterar o Código. O que temos que fazer, é fiscalizar os aplicadores do Código para que sejam absolutamente imparciais e coerentes nas decisões.
 
É desta forma que medidas como as conhecidas “viradas de mesa” deixam de existir. E, se alguém praticar uma conduta prevista no código, que pague com o cumprimento da justa pena.
 

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

É ruim, mas é bom

Existe uma espécie de ditado no mercado de futebol que diz que quanto mais ódio existe na relação entre dois clubes, melhor. Ou seja, quanto mais um torcedor de um time A odeia o torcedor de um time B, mais possibilidades de exploração mercadológica existem.
 
Natural, afinal o combustível, a essência mais básica do futebol é a rivalidade. Não existe jogo sem combate, não existe vitória sem derrota e não existe redenção sem a vontade de vingança. Quanto mais intensas forem essas características, mais intenso será o jogo e mais intensa será a ligação da torcida com o seu clube. E, obviamente, maior intensidade na relação torcida-clube significa maiores possibilidade de captação financeira dentro desse processo.
 
É claro que para uma observação mercadológica e social esse ódio precisa ser controlado sem que ultrapasse o tênue equilíbrio entre o respeito e a violência. Ódio é bom, violência é péssimo.
 
Bom. Tudo isso foi para falar sobre como as movimentações bélicas deflagradas por Venezuela, Equador e Colômbia podem afetar o futebol. Contemporaneamente, a América do Sul, pelo menos sob a perspectiva brasileira, não é um grande caldeirão de rivalidades pátrias. Obviamente existem discordâncias e afins, mas nada que signifique maiores tradições bélicas, com anos e anos de conquistas de territórios, mortes e coisas parecidas. Só uma guerrinha aqui, outra ali, mas nada que faça com que os habitantes de cada país manifestem seus desgostos em uma partida ou que motive dirigentes a fazerem declarações polêmicas na antecedência de algum confronto.
 
A coisa por aqui sempre foi meio tranqüila, principalmente se compararmos com Europa, Ásia ou, quiçá, África. Pelo menos até agora.
 
Futebol é notoriamente um dos grandes símbolos de uma nação, e isso toma muito corpo nas partidas entre seleções rivais. É, com o perdão do imenso clichê, uma batalha resumida a 90 minutos. E é em parte por isso que as pessoas gostam de futebol, porque ele permite que você xingue alguém sem que isso seja considerado uma ofensa pessoal. É coisa de jogo, é coisa de rivalidade. E, no mundo racional, o futebol possui essa permissividade.
 
É difícil acreditar que vá ocorrer um confronto de maiores proporções, mas certamente esse recente entrevero favorece, e muito, o recém começado campeonato continental. Mas é bom atentar que para o conflito ser benéfico, o ódio controlado é necessário não apenas entre nações, mas também entre cidadãos. Caso o problema seja apenas de ordem institucional, ou seja, caso ele não represente o real sentimento da população como um todo dos países envolvidos, as partidas dificilmente refletirão uma nova situação. Continuará tudo mais ou menos na mesma.
 
Levando-se em conta que o histórico da América Latina mostra que dificilmente uma população de um país é plenamente representada pelo seu governo, é provável que nada vai mudar e que a última hipótese tende a ser a verdadeira.
 

O que é ruim, mas é bom.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Quem acredita?

Dois meses. Esse foi o tempo que durou a paz de Adriano no São Paulo. Até que foi muito. Afinal, já são alguns jogos que o atacante não marca e também que o time paulista não engrena dentro de campo. Mas, se a imprensa estava até que paciente, bastou o primeiro deslize público para tudo desandar.
 
Desembarcar de viagem sem o uniforme do clube, chegar atrasado ao treino, ter o carro batido por um amigo, sair antes do treinamento após discutir com o superintendente de futebol do São Paulo.
 
De fato foi uma seqüência intensa, no melhor estilo “24 horas”, para um craque que perdeu o pé depois que, pelo visto, perdeu a cabeça pelas farras da vida que fazem parte de quem tem 20 e poucos anos. Mas que não devem, pelo menos publicamente, aparecer no cotidiano de um jogador de futebol. Ainda mais se ele for um atleta de primeira grandeza.
 
Adriano acertou ao trocar a badalada Milão pelo midiático São Paulo. O clima para ele na Itália não estava bom. Já em terras brasileiras ele foi recebido de braços bem abertos, prontos para dar o carinho que um atleta quer ter. Em troca, não se pedia muito. Apenas boas exibições, gols e, de preferência, a conquista de títulos para o campeoníssimo São Paulo.
 
O script era o melhor possível. Faltou ao ator principal ensaiar um pouco melhor a peça.
 
Adriano não está assessorado neste retorno ao país de origem. Não existe um conselheiro amigo, de confiança, preparado para dar o puxão de orelha necessário a quem está próximo de abrir mão de uma das mais promissoras carreiras desde o fenômeno Ronaldo, o Fenômeno.
 
Faltou ao atacante tricolor a ajuda de um assessor para preservar uma imagem já mundialmente desgastada. Se, desde o avião onde supostamente o atleta suou a ponto de ter de trocar de roupa, alguém bem preparado estivesse a seu lado, nenhuma crise teria acontecido.
 
Adriano teria esperado o furacão da mídia passar para então descer. Ou sairia ao lado do técnico Muricy Ramalho, explicando o motivo da troca de roupa ali, na hora, sem dar margem a suposições. Pior ainda foi a revolta no dia seguinte, durante o treino, quando além do atraso foi indagado sobre o acidente envolvendo seu carro, mas não a sua pessoa.
 
Resultado: mais um dia se passou, com a imprensa mundial malhando o imperador, até que viesse uma coletiva de imprensa para Adriano voltar no tempo até dezembro de 2006.
 
Sim, quem estava acompanhando de perto o Campeonato Italiano sabe que Adriano já havia culpado a pressão da imprensa dizendo que ela só existe porque ele é ele, campeão de uma Copa América e de uma Copa das Confederações. E que a resposta viria com os gols e o bom futebol.
 
Roberto Mancini, técnico da Internazionale, agüentou um ano esse papo. Agora, pegou mal ele rebobinar a fita e só apertar a tecla SAP para falar em português. Quem acredita nesse discurso?
 
Pelo visto a tolerância do São Paulo está próxima do fim. E o abandono da gestão da imagem de Adriano leva ao desespero.
 
Alguém realmente acredita que ele possa voltar a ser o Imperador?
 

Talvez, nem ele.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

A tática do treinador-professor e a do treinador-adestrador… Até o meu cachorro sabe a diferença

Por quê o treinador de futebol é chamado, pelos seus atletas, de professor? Respeito, admiração, conhecimentos ímpares, imposição ou “esperteza disfarçada”?
 
Vejamos a seguir dois trechos interessantes da tese de doutorado do professor e pesquisador Hermes Balbino apresentada a faculdade de Educação Física da Unicamp.
 
Os jogos desportivos coletivos, como parte de modalidades integrantes do fenômeno complexo Esporte, têm se manifestado significativamente no cenário esportivo nacional e sua expressividade tem se confirmado com a participação significativa das seleções nacionais em eventos internacionais, com destaque para diversas conquistas de posições expressivas em Jogos Panamericanos, Campeonatos do Mundo e Jogos Olímpicos. Técnicos brasileiros de modalidades coletivas têm seus nomes ligados às conquistas das seleções nacionais e tomados como responsáveis diretos pelo sucesso das equipes”. (página xvii)
 
O treinamento esportivo é reconhecido como um processo complexo, em que o desempenho final do atleta ou da equipe é resultado da síntese de diversos fatores. Seu entendimento e explicação são gerados do domínio das informações das ciências do esporte, e fundamentalmente pela habilidade e competência que o técnico esportivo tem em tratar adequadamente esse conjunto de elementos presentes no ambiente de treinamento. Existe um jogo constante e dialético entre as teorias balizadoras do esporte, do treinamento esportivo, em seu relacionamento com as práticas dos técnicos. É de se considerar que o decorrer do processo de treinamento dos jogos coletivos desportivos, nosso objeto de estudo, evidencia cada vez mais o conhecimento das teorias que norteiam suas práticas, como também o desenvolvimento e estímulo constante das competências do técnico para interagir com os problemas que se apresentam”. (página 5)
 
O grande pedagogo Paulo Freire há muito apontou para o fato de que educar é mostrar caminhos.
 
Quer queiram ou não, treinadores de futebol deveriam ser professores. Sejam nas preleções pré-jogo ou nas conversas anteriores e posteriores a um treinamento tático, a troca de informações entre treinador e atletas é intensa. É preciso que existam estratégias que possam levar a todos o conhecimento. Se um jogador não compreende alguma informação, pode comprometer as estruturas táticas de sua equipe.
 
Um dos papéis do treinador é buscar alternativas para que todos no grupo possam entender as discussões que envolvem a tática e a estratégia de uma equipe.
 
No futebol os treinadores muitas vezes são tratados como grandes heróis. Como só uma equipe ganha o campeonato, é sempre maior o número de vilões do que de heróis. Muitas vezes a ele é atribuído o sucesso ou o fracasso de uma equipe. É o primeiro a perder o emprego em uma campanha desastrosa de jogos.
 
Se sua atuação e trabalho são tão importantes e de tamanha responsabilidade, é preciso que se entenda como ponto de partida que conhecimentos sobre táticas, estratégias, sistemas de jogo são primordiais, mas é também, dentre outros tantos, primordial compreender como desenvolver o que se pensa.
 
O jogador de futebol precisa aprender a ler o jogo taticamente. Aprender! Uma das atribuições do treinador de futebol é facilitar e potencializar esse aprendizado.
 
Apreciemos um trecho de um texto (texto que transcende o futebol) do professor João Batista Freire sobre algumas descobertas do pesquisador russo Vygotsky.
 
“Para Vygotsky, a aprendizagem é fator de desenvolvimento. Nessa linha, a escola não tem que esperar pelo desenvolvimento para ensinar seus conteúdos para os alunos. Aquele pesquisador russo afirmava que a escola não existe para ensinar as crianças no nível de conhecimento em que estão, mas sim, no que ele chamou de próximo nível de desenvolvimento. Ou melhor, se a criança tem um certo nível de conhecimento, por exemplo, em pular corda, o que deve ser ensinado a ela é o próximo nível desse pular corda. Ao nível atual de conhecimento Vygotsky chamou de nível A; ao próximo de B. A zona entre A e B, é a zona onde deve atuar a escola. Ou seja, B é o nível superior a A, mas que inclui A. É o nível em que a atuação da criança torna-se momentaneamente insegura, indecisa, com erros eventuais, mas na direção dos êxitos”.
 
Esses conceitos não se aplicam somente as crianças; se aplicam aos seres humanos; se aplicam aos jogadores de futebol. “Se o jogador de futebol e sua equipe têm um certo nível de conhecimento sobre jogar futebol (taticamente e tecnicamente), o que deve ser ensinado-desenvolvido-trabalhado com eles é o próximo nível desse jogar futebol. Sobre esse aspecto temos um exemplo mais uma vez no treinador português José Mourinho. Após conquista da Taça da Uefa, pela equipe do Porto, resolveu estruturar um “próximo nível de jogo” a sua equipe. Já tendo consolidado ao longo da temporada o 4-3-3, resolveu implementar novas lógicas dentro do jogo a partir do 4-4-2 (forma de jogar que o treinador considera “mais desequilibrada, embora igualmente eficiente, e que como tal, necessita de maior concentração”). Então, ao treinador-professor cabe estruturar seu plano de ação, encorpado em todas as questões que julga importante no seu “projeto de treinamento”.
 
O treinamento técnico-tático não pode ser submetido a cultura do “adestramento” onde se mecaniza, se automatiza, onde se condiciona; e o que é pior a não pensar!
 
O treinamento técnico-tático deve buscar o “pensamento rápido”, a leitura imediata do jogo, as situações-problema que levarão o atleta a aprender a resolver problemas.
 
O conhecimento sobre sistemas, esquemas, táticas e estratégias de jogo é essencial. Compreender quais as nuances de equilíbrios e desequilíbrios são possí
veis por exemplo em um 3-5-2 ou no confronto entre o 4-4-2 e o 4-3-3 têm máxima importância nos construtos que devem preencher a bagagem de conhecimento de um treinador de futebol. O mesmo é verdadeiro para o entendimento das dinâmicas de ataque, dinâmicas de defesa, princípios ofensivos, defensivos ou operacionais.
 
Há no entanto de se entender que anterior a isso tudo, é necessário compreender as bases para o exercício dos conhecimentos mencionados. Então a compreensão sobre o PENSAR ou o AUTOMATIZAR, o ENSINAR ou o ADESTRAR, o TREINAR JOGANDO ou o TREINAR MECANIZANDO, o CONHECER e o SABER alicerçam essas bases.
 

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Proposta obriga estádios a instalar câmeras de vídeo

O Projeto de Lei 2494/07, do deputado Eugênio Rabelo (PP-CE), exige a instalação de câmeras de vigilância em estádios de futebol credenciados para realizar partidas oficiais. As câmeras deverão filmar, de maneira simultânea, todos os locais do estádio onde haja concentração de público.

Pela proposta, os administradores dos estádios terão um ano para se adequarem à norma. O governo federal regulamentará o valor das multas para o descumprimento da lei em 90 dias. Esse valor, de acordo com o projeto, não poderá ser superior a R$ 50 mil.

Eugênio Rabelo argumenta que brigas entre torcedores, invasões de campo e arremesso de objetos no gramado em direção a jogadores e árbitros atrapalham o futebol brasileiro. A dificuldade para identificar os responsáveis, explica o parlamentar, dificulta a punição dos responsáveis. "A experiência tem demonstrado que a medida [a instalação de câmeras] é eficaz na redução da violência nos estádios de futebol", afirma.

Rabelo acredita que, além de resolver o problema, a instalação de câmeras de vigilância evitaria punições injustas aos clubes mandantes das partidas. Isso porque o Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) prevê perdas de mando de campo e multas para casos em que objetos sejam arremessados em campo.

Tramitação
O projeto foi apensado ao PL 451/95, do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), que estabelece regras para prevenção e repressão de violência em estádios de futebol e competições esportivas. Os projetos tramitam em regime de urgência e estão prontos para análise do Plenário.

Para interagir com o autor: lino@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Caso Leandro Amaral

A notícia que tivemos nesta quinta a respeito do caso envolvendo o atleta profissional de futebol Leandro Amaral e o Vasco da Gama pode criar importante precedente no Brasil.
 
O juiz da 33ª Vara Cível do Tribunal Regional do Trabalho (TRT-RJ) julgou improcedente a ação proposta pelo jogador em face do clube de São Januário, em que era pleiteada a rescisão do respectivo contrato de trabalho.
 
Em síntese, o atleta assinou contrato de trabalho com o clube por um ano, o qual poderia ser prorrogado por igual período a exclusivo critério do Vasco. Ao final desse primeiro ano, o atleta pretendia trocar de clube, ao passo que o Vasco exerceu o seu direito de renovação do contrato.
 
Resultado: o atleta recorreu à Justiça Comum, e obteve antecipação de tutela para ser transferido livremente a qualquer outro clube. E, de fato, assinou contrato com o Fluminense, onde jogou e treinou até a última quarta-feira.
 
Para sua surpresa, após trâmite regular do processo em primeira instância, o juiz entendeu por bem não ratificar a decisão anteriormente tomada, indeferindo o pedido de Leandro Amaral.
 
O que ocorre é que Leandro Amaral terá que se entender imediatamente com os dirigentes do Vasco uma vez que, mesmo que recorra da decisão, não haverá efeito suspensivo da decisão recém proferida. Para todos os efeitos, o atleta é hoje jogador do Vasco.
 
Resta agora acompanhar o caso, para saber quais foram os argumentos utilizados na sentença, que podem ser importantes na consolidação de jurisprudência sobre o tema.
 
Confusão no FUTSAL
 
Esta semana, também tivemos uma notícia bastante controvertida no mundo do Futsal no Brasil.
 
A Procuradoria do STJD/CBFS ofereceu denúncia, por requerimento da própria CBFS (Confederação Brasileira de Futsal), contra o atleta Falcão, os clubes SC Corínthians Paulista e Malwee/Jaraguá, bem como a Federação Paulista de Futsal.
 
Motivo? O atleta Falcão participou de jogo amistoso e comemorativo entre Corinthians e o clube argentino Pinocho em prol da campanha “FUTSAL – Um Sonho Olímpico”, que visa incluir o futsal no programa dos jogos olímpicos do COI.

Só que Falcão, que é atleta da Malwee, atuou pelo Corinthians, que foi seu clube formador, com o exclusivo intuito de promover o esporte e trazer maior atenção de torcedores e mídia em torno da festa.
 
CBFS e a Procuradoria entendem que, para a participação de um jogador nessas condições, ainda que em um jogo amistoso, somente pode ser realizada mediante a transferência interestadual de atletas perante as federações estaduais competentes.
 
Ou seja, a Malwee/Jaraguá deveria ter entrado com a documentação de transferência de Falcão ao Corinthians que, após a partida, deveria promover nova transferência do atleta de volta ao clube catarinense!!!
 
Nem a Federação Paulista escapou da denúncia, o que torna a medida ainda mais inusitada.
 
Isso porque o jogo foi idealizado com o único propósito de promover o esporte internacionalmente e incluí-lo nas próximas edições dos jogos olímpicos (o que traria um aumento incalculável de receita à própria CBFS).
 
Dá pra entender?
 

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Quem manda sou eu

Como era previsível, a Premier League não deu muita bola para as manifestações contrárias ao tal ‘Game 39’ e manteve o seu plano de dominância mundial. Nada mais natural, volto a dizer, para a Liga mais rica do planeta.
 
Obviamente, um monte de gente não gostou da idéia, em particular a Fifa, como eu também já disse na minha última coluna. Mas o que pega é que a Fifa não gostou tanto que já existem rumores sobre um possível boicote do órgão com relação à candidatura inglesa para sediar a Copa de 2018. Com isso, conseguiu jogar ainda mais a população e o poder público da Inglaterra contra a Premier League.
 
Esse fato mostra um pouco como o principal órgão do futebol mantém o seu controle. A estratégia da Fifa é bem clara. Quando há qualquer ameaça relevante, ela tende a colocar em jogo o registro da seleção nacional, ou seja, ameaça banir o selecionado nacional do país em que o problema acontece de qualquer competição internacional. Dessa forma, ela consegue inibir um símbolo que é chave para uma boa parte dos países do mundo, a seleção nacional de futebol, e assim fazer com que governantes e população pensem duas vezes antes de continuar qualquer tentativa de conflito com o establishment.
 
A grande vantagem da Fifa nesse processo é que os agentes que tomam as atitudes conflituosas tendem a ter um suporte das ações focado apenas e tão somente dentro do mundo do futebol. Entretanto, quando a Fifa faz qualquer ameaça contra o símbolo da nação, a represália se dá para um público muito maior, o que faz com que as pressões inicialmente internas sejam ampliadas para todos os ambientes. Como o ambiente externo ao futebol também tende a não entender muito das questões específicas do esporte em si, mas se preocupar bastante com o macro-jogo, ou seja, as seleções, o poder de barganha da Fifa fica quase que inigualável. A maioria das pessoas possivelmente não entende o motivo da revolta, mas compreende perfeitamente o efeito da punição. E foi isso que a Fifa fez com a Inglaterra, a ponto de sequer ter se sentado para discutir qualquer coisa com a Premier League.
 
Com práticas como essa, a Fifa consegue manter a estrutura hierárquica do futebol, ainda mais globalmente, uma vez que acaba por ser beneficiada pelos desequilíbrios econômicos e sociais presentes no mundo como um todo. Entretanto, a indústria do futebol cresce e se fortalece cada dia mais, o que favorece a abertura do processo de governança global e permite que novos e fortes agentes comecem a tomar parte do sistema. Lógico que isso não vai acontecer nem hoje e nem amanhã. Mas um dia vai.
 

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

A inteligência no futebol

Durante anos propagou-se no país a máxima de que todo jogador de futebol era burro. Independentemente da idade, time, local de nascimento, o fato era que o atleta não estava preparado para falar às câmeras da TV ou aos microfones da rádio. Ao longo do tempo, colecionaram-se exemplos verídicos dessa “ignorância coletiva” do futebol.
 
Hoje continuam-se os exemplos, turbinados por You Tube e similares, de escorregadas e trapalhadas de craques da bola e pernas-de-pau do microfone. Mas é cada vez mais claro que a falta de inteligência não pode mais ser atribuída a toda classe futebolística.
 
Falar na TV ou no rádio não é fácil. Quem já teve a experiência sabe disso. Dar uma entrevista, sem saber a pergunta que virá pela frente, também é motivo para um certo “travamento” de quem vai falar. Recentemente a onda era dizer que “o time está bem eeee…”. A brincadeira pegou entre os meninos letrados que viram a propagação do futebol pela televisão nas duas últimas décadas.
 
Mas não dá para culpar o jogador pela falta de tutano. Geralmente as perguntas feitas a eles são envoltas de muito mistério e complexidade.
 
“Seu time está perdendo, e agora?”.
 
“Agora é levantar a cabeça, partir para cima eee…”.
 
Por acaso teria sido melhor o jogador dizer qual era a tática armada para surpreender o adversário e, com isso, poder vê-la neutralizada? Definitivamente o jogador não é burro.
 
E uma prova disso foi a atitude tomada ontem, domingo, pelos botafoguenses vice-campeões da Taça Guanabara, no Rio. Diante de uma platéia de repórteres, os atletas roubaram a cena do campeão Flamengo. Juntos, reclamaram da arbitragem, se emocionaram, mostraram indignação com a derrota.
 
Não tem o que se criticar no lance do pênalti sobre Fábio Luciano, tem muito o que se contestar de diversos outros lances da partida que o árbitro Marcelo de Lima Henrique apitou turbulentamente. Mas a única coisa boa que se pode tirar de todo o episódio, além da demonstração de união do time botafoguense, é a mostra de muita inteligência que todos mostraram.
 
É raro você ver um time inteiro tomar uma decisão de ir à entrevista para a imprensa, visivelmente emocionados, prestar depoimentos aos jornalistas. Muito mais raro é você ver uma sala de imprensa atônita, sem esboçar reação diante dos discursos de Tulio e Lucio Flávio, os dois porta-vozes dos jogadores na coletiva-desabafo. Mas é uma pena que tudo isso tenha sido motivado pelo árbitro.
 
A começar pela preocupação dos clubes com a formação de seus atletas de base, passando pela profusão dos assessores de imprensa, o futebol nas últimas décadas assistiu a uma sensível evolução no preparo dos jogadores para a entrevista.
 
Muitas vezes o conteúdo é atrapalhado por perguntas esdrúxulas e por atletas concentrados, que fingem que ouvem o que lhe é perguntado e respondem de forma padronizada, para não se comprometer e não comprometer o time. Mas é bom ver sinal de inteligência no futebol. É isso que faz cair a barreira do preconceito e permitirá que, no futuro, tenhamos mais Kakás, Raís, Sócrates, Leonardos e Rogérios, que além de craques em campo são hábeis com o microfone.
 

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Trabalhos táticos 'inteligentes'

Vejamos a seguinte passagem do livro “Liderança: as lições de Mourinho”, de Luís Lourenço e Fernando Ilharco (página 37):
 
“O trabalho tático que promovo não é um trabalho em que de um lado está o emissor e do outro o receptor. Eu chamo-lhe a “descoberta guiada”, ou seja, eles descobrem segundo as minhas pistas. Construo situações de treino para os levar por um determinado caminho. Eles começam a sentir isso, falamos, discutimos e chegamos a conclusões”.
 
Durante uma partida de futebol ocorrem inúmeras situações de confronto. O ataque buscando desequilibrar a defesa, a defesa tentando se manter em equilíbrio e desequilibrar o ataque. As possibilidades táticas e estratégicas dentro do jogo são inúmeras.
 
Preparar uma equipe de futebol no nível em que se joga futebol hoje é desenvolver e trabalhar a complexidade do jogo detalhadamente em sua totalidade. Isso significa que dentro de um esporte em que é infinito o número de situações possíveis no jogo, torna-se necessário que uma organização científica inteligente norteie o treinamento.
 
Vejamos um trecho de um texto que escrevi em 2002: “O jogo de futebol, antes de ser futebol é jogo. E por ser jogo é imprevisível. Ainda que se controlasse a maior parte das variáveis que estruturam a lógica do jogo, seria impossível apontar no início de uma partida o vencedor. Se a imprevisibilidade é “princípio” do jogo, há tempos tornou-se necessário estruturar o treinamento de equipes de futebol no contexto da imprevisibilidade. E como treinar algo que não se sabe o que vai ser? Criando estratégias que garantam um diversificado número de possibilidades imprevisíveis, através de situações-problema que estimulem o jogador a compreender o jogo no contexto do próprio jogo. Então, ao se aumentar as possibilidades de respostas às situações-problema, aumenta-se também a possibilidade de se ter uma solução adequada ou próxima dela a uma situação nova e desconhecida”.
 
O treinamento técnico-tático a partir da perspectiva da “complexidade do imprevisível” resolve-se na medida em que treinadores tornem-se capazes de estruturar práticas de treinamentos que contemplem desafios mais próximos possíveis do jogo.
 
Daí, chegamos às situações-problema.
 
As situações-problema são situações que ocorrem no jogo, que desafiam o equilíbrio técnico-tático de uma equipe e que requerem resposta individual-coletiva imediata, exata e precisa.
 
Como estão presentes nas partidas de futebol, podem ser trabalhadas técnica e taticamente nos treinos a partir de jogos com regras adaptadas e orientadas para gerar situações-problemas específicas.
 
No trecho do livro sobre a liderança de José Mourinho, o próprio aponta a “descoberta guiada” (termo utilizado pelo treinador) em que cria situações no treino que apontam caminhos para serem discutidos e apreendidos pelos jogadores da equipe.
 
Vamos à uma história sobre um outro esporte que pode nos ajudar na compreensão das situações-problema no futebol:
 
“Um grande “levantador” que jogou Vôlei por muitos anos pela seleção do seu país, certa vez teve todas as suas ações mapeadas por uma equipe adversária com a qual jogaria em uma final de torneio. Buscavam identificar um padrão de jogo para poderem marcá-lo. Depois de várias análises, constataram que o tal “padrão” que buscavam não existia. Era um grande número de ações que não seguiam uma ordem aparentemente definida, e que pior (para eles), tinha um maciço número de sucessos (acertos). As bolas eram levantadas de vários pontos da quadra para vários pontos da rede (ou fora dela), e ainda às vezes com “viradas” de segunda bola. Realmente, um repertório imenso que deixava o bloqueio e defesa adversária atordoados”.
 
O nosso “levantador” possuía uma habilidade imensa de solucionar “problemas de jogo”. Todas as vezes em que a bola chegava às suas mãos, uma análise rápida da situação (posicionamento e movimentação do adversário e da sua equipe) e pronto; solução pontual.
 
Se transferirmos a analogia do levantador do jogo de vôlei para o jogo de futebol, compreenderemos, por exemplo, que os treinos de futebol de finalização em que o jogador passa a bola para o treinador, recebe na entrada da área e depois de driblar um cone chuta a gol (faz isso pelo menos dez vezes) não estão em nada colaborando para a finalização como ela é no contexto do jogo (uma situação-problema a ser resolvida).
 
Trabalhar utilizando nos treinamentos “situações-problema” significa criar atividades que desafiem os atletas a compreender o jogo de futebol, em toda sua complexidade, de tal forma que a equipe seja capaz de desempenhar estratégias e táticas de jogo, resolvendo problemas táticos “propostos” pelos adversários, mantendo-se em grande nível de competitividade.
 
Como compreender isso não é trivial, muitos de nossos treinadores vão continuar acreditando que os jogadores de futebol precisam mecanizar as ações táticas da equipe, de forma automática, para que não precisem pensar naquilo que devem fazer!
 
Então, para terminar, continuemos a seguir em frente. Como cantaria Caetano Veloso: “caminhando contra o vento, sem lenço, sem documento, no sol de quase dezembro, eu vou…”
 
Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br  
Categorias
Sem categoria

A crise energética e a Copa do Mundo na África do Sul

Caros amigos da Universidade do Futebol,
 
Todos sabemos que a próxima Copa do Mundo será realizada na África do Sul. Trata-se de uma copa muito especial, por tratar-se da primeira delas no continente africano, e, mais, por tratar-se de um país que teve seu processo de democratização realizado há pouco mais de dez anos.
 
Será mais do que nunca a oportunidade para a Fifa ratificar a ideologia de que o futebol une as pessoas para um mundo melhor. Na mesma linha que fez com que a Fifa alterasse sua frase de “for the good of the game” para “for the game, for the world”.
 
Muito bem, no âmbito do contrato que cosumeiramente se assina entre Fifa e LOC (Local Organizing Committee), representando o país-sede, a entidade teria até o presente ano para decidir trocar o país sede por descumprimento do encarte de exigências da Copa do Mundo.
 
E, pelo que tudo indica em termos de investimentos e esforço político, não restaria dúvidas que a Fifa confirmaria a África do Sul como o país-sede.
 
Ocorre que, este ano, fomos surpreendidos com a notícia da crise energética no país, que já ganha hoje contornos seríssimos e muito preocupantes. Pior do que isso, segundo o que se tem visto na mídia, não teria qualquer solução até aproximadamente o ano de 2013.
 
A estatal energética da África do Sul, Eskom, pronunciou-se recentemente alegando que o próprio governo não esperava um crescimento econômico como o que foi visto nos últimos anos no país, e que, portanto, não dispensou a atenção devida no que se refere a construção de estações de geração de energia que suportasse tal crescimento.
 
A questão é histórica. O regime do apartheid também contribuiu para o atual problema, já que seus governantes à época paralisaram todos os projetos de geração de novas energias e mais, permitiu um programa desenvolvido pela Eskom de fornecimento de energia para o continente africano.
 
Hoje, o que se vê, é o fornecimento da Eskom para a África, sendo que não há capacidade suficiente nem para atender a demanda nacional. E mais, as providências que foram tomadas até agora se resumem na orientação para que a população economize energia e na construção de novas plantas que estarão prontas para funcionameento apenas três anos depois da realização da Copa do Mundo.
 
Segundo notícia recentemente veiculada no jornal Finacial Times, a Eskom terá que desvendar a seguinte equação: a capacidade de geração de energia pode apenas crescer 2% ao ano até 2012, enquanto o crescimento da demanda de energia no país no mesmo período crescerá em torno de 4 a 4.5%.
 
Em algum momento, essa bomba vai estourar.
 
O governo está bastante preocupado com a questão, e tem plena consciência que isso poderá afetar inclusive a realização da Copa do Mundo (o que seria um desastre para a popularidade do Governo de Mbeki).
 
Para se ter uma idéia, diversas minas tiveram suas atividades suspensas por conta da falta de energia (e notem que a mineração é uma das principais atividades econômicas do país).
 
Para confirmar a relação entre a crise energética no país e a realização da Copa do Mundo, a Ministra de Minas e Energia, Sra. Buyelwa Sonjica, em assembléia do Parlamento sulafricano realizado em janeiro deste ano, terminou seu discurso com a seguinte frase: “we are confident that we have the ability to turn the situation around. We reassure the South African community and the world at large that the 2010 Fifa World Cup is not under threat”.
 
Vamos acompanhar o desenrolar dos fatos. E torcer para que a Copa seja de fato realizada na África do Sul, ainda que os jogos tenham que ser realizados de dia, quando o governo e o LOC poderão contar com a iluminação solar gratuita…
 

Para interagir com o colunista: megale@universidadedofutebol.com.br