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O fenômeno Micah Richards

Aconteceu ontem o fato mais importante da história do futebol brasileiro na Inglaterra, que ultrapassa até o jogo do Sócrates pelo Garforth Town. No amistoso da seleção inglesa com a Holanda, um passo foi dado para a transformação completa do futebol britânico, motivado diretamente pela influência tupiniquim: estreou na partida, substituindo o delongo Gary Neville, o novo fenômeno do futebol inglês, Micah Richards.
 
Ok. Bacana. E que diabos o Brasil tem a ver com isso?
 
Aparentemente, nada. Micah Richards é um jogador do Manchester City, de 1,80m de altura, que em 12 jogos da Premier League marcou um gol e levou um cartão amarelo. Entretanto, e aí entra a sua importância histórica para o Brasil, Richards é o primeiro jogador da seleção inglesa a ser formado pela Brazilian Soccer School, uma escola de futebol sediada na ilha britânica que se dispõe a ensinar seus alunos com os mesmos métodos aplicados em terras brasileiras, e isso se resume basicamente a trocar a bola normal pela bola de futebol de salão.
 
A Inglaterra, sabe-se muito bem, possui um grande apego às suas tradições futebolísticas, principalmente com relação ao método de treinamento e ao esquema tático, ambos bastante focados na coletividade e no desenvolvimento físico. Uma das primeiras frases do recém-lançado livro “The Italian Job”, escrito pelo italiano Gianluca Vialli, ex-jogador e técnico do Chelsea, pergunta: “Qual é o esquema que existe entre os ingleses e o 4-4-2?”, numa clara referência ao esquema tático empregado por quase todos os times em quase todos os níveis de quase toda a Inglaterra. Por isso, a Brazilian Soccer School pode ser entendida como uma revolução na idéia de construção do ideal inglês de futebol.
 
O projeto da Brazilian Soccer School é de autoria do jovem de trinta e poucos anos Simon Clifford. Ele é um dos personagens mais polêmicos do futebol inglês, que nunca teve muita relação com o futebol brasileiro, até conhecer um atleta que jogava por aquelas bandas e vir ao Brasil para entender qual era o negócio dos brasileiros com o seu estilo de jogar e por que os melhores jogadores quase sempre surgiam por aqui. Após a visita, Clifford concluiu que a raiz de todo o sucesso brasileiro no mundo do futebol está diretamente atrelada ao futebol do salão.
 
Com isso em mente, voltou pra Inglaterra e abriu a Brazilian Soccer School, uma escola de futebol que foca a estrutura de seu ensino em três aspectos chaves: no futsal, na ênfase no desenvolvimento das habilidades individuais, e no maior tempo de treinamento. Aparentemente, a idéia vem dando certo. Só na Inglaterra são 600 escolinhas, que somam quase 200 mil alunos de idades de 5 a 16 anos. Fora da Inglaterra, são 11 países com pelo menos uma escolinha da Brazilian Soccer School.
 
Simon Clifford crê que irá revolucionar o futebol britânico. O primeiro passo foi criar a Brazilian Soccer School. Depois, comprou o pequeno time Garforth Town, que ficou bem conhecido quando contratou o Sócrates pra uma partida, e criou um planejamento a longo prazo para a equipe, que culmina com o título da Premier League em 2028. E agora, Clifford colocou um jogador da sua escola como titular da seleção inglesa.
 
Micah Richards, volto a dizer, é um fenômeno. É o jogador mais jovem da sua posição a ter pisado em campo com a camisa inglesa. É cria de Simon Clifford. É um jogador formado por uma escola que ensina o jeito brasileiro de se jogar futebol.
 
Curiosamente, Micah Richards é um zagueiro.

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Treinador de futebol – O paradoxo de uma profissáo

O que é preciso para ser um treinador de futebol?
 
Não muita coisa, se tirarmos como exemplo o que fez a CBF há pouco tempo, quando escolheu um ex-jogador para dirigir uma das mais respeitadas e temidas seleções do planeta, a seleção brasileira.
 
Embora Dunga possua uma respeitável biografia como jogador de futebol e pelo que sabemos trata-se de uma pessoa idônea, a verdade é que nunca teve experiência e nem formação acadêmica para exercer essa função.
 
O fato, entretanto, não é uma exclusividade do Brasil ou do nosso futebol. Muito poucos treinadores possuem os requisitos mínimos básicos para ocuparem esse cargo com competência, seja qual for o país ou continente que escolhermos.
 
Até na Europa, tão badalada em muitos aspectos por nós brasileiros, são poucos os treinadores que têm formação consistente para serem considerados verdadeiramente profissionais, na sua mais completa acepção.
 
Diferentemente de outras profissões, o treinador de futebol, não só aqui como em tantos outros lugares do mundo, possui suas características próprias e peculiaridades.
 
Apesar de ser uma profissão bastante valorizada pelo mundo afora, aonde alguns chegam a ganhar em um mês aquilo que muitos trabalhadores não conseguirão ganhar em toda a sua vida, não se exige muitos pré-requisitos desses profissionais se os compararmos com outras funções executivas.
 
Embora, pela importância e complexidade de sua profissão, um treinador precisasse de consistente liderança, formação acadêmica, conhecimentos diferenciados sobre tática, pensamento estratégico, metodologia que incorporasse processos pedagógicos avançados, além de sólidos conhecimentos das ciências humanas para poder lidar com os atletas e todos aqueles que circundam seu trabalho (entre outros saberes), o fato é que a grande maioria nem passa perto destes requisitos mínimos.
 
Ressalvadas as exceções, na verdade o treinador de futebol que deveria estar em permanente busca de novos conhecimentos e desenvolvimento, parece estagnado e sem forças em busca de sua valorização.
 

Enfim, um paradoxo incompreensível que mereceria um estudo sociológico mais aprofundado.

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Náo pense em crise, trabalhe

Na década de 80, uma dessas frases anônimas que se tornam sábios ditos populares era uma que dizia: “Não pense em crise, trabalhe”. Não sei por que motivo, desde moleque tinha um adesivo com essa frase colado no parapeito da janela do quarto.
 
Na época da escola, crise mesmo era ver o time perder, ser gozado pelos colegas no dia seguinte, ter de agüentar a pilhagem dos amigos por torcer para a equipe perdedora. Mas mesmo assim a gente trabalhava, se esforçava, esperava o dia em que a sorte viraria a nosso favor.
 
Até hoje, nos momentos de dificuldade, lembro-me do adesivo no antigo quarto. Ele serve de motivação e até mesmo fonte de inspiração para trabalhar mais e mais para reverter situações de crise. Agora, já estou pensando em recriar tal adesivo e vender em grande escala para os clubes de futebol de nosso país.
 
Cada vez mais vemos que dirigentes, treinadores e jogadores se preocupam muito mais com a crise e, em vez de trabalharem, discutem e fomentam o problema, fazendo com que não se consiga sair dele de maneira alguma.
 
Palmeiras, Fluminense e Corinthians foram três clubes que se cansaram de fazer isso no Brasileirão. Com elencos bons, o trio sucumbiu por problemas internos, que foram se agravando e colocando o time na berlinda durante toda a competição. No Palmeiras, o problema foi o técnico. No Flu, a disparidade de tratamento dos jogadores contratados da Unimed daqueles revelados em Xerém. No Corinthians, a crise sempre foi o relacionamento da diretoria do clube com os gestores da MSI. E, na reta decisiva do campeonato, só o Corinthians deixou de pensar tanto na crise de sua tumultuada relação com a “parceira” MSI para trabalhar.
 
Na parte de cima da tabela, porém, o lema é totalmente diferente. Será que existe crise para São Paulo, Inter, Grêmio, Santos, Vasco e Paraná? Durante todo o campeonato esses times se mantiveram num grau de excelência em performance e, conseqüentemente, resultados.
 
Há três rodadas, o líder São Paulo, cada vez mais próximo do título, bobeou num facílimo jogo em casa e perdeu para a ameaçadíssima Ponte Preta, vendo diminuir sua vantagem para o Inter. Em vez de pensar em crise, o time resolveu trabalhar. Agora, está a uma vitória de seu quarto título nacional.

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A inveja européia

Demorou, mas aconteceu. Finalmente a Uefa baixou a bola e resolveu aceitar os fatos como eles são. Aconteceu aquilo que todos nós grandes nacionalistas sempre soubemos. Valeu a pena não desistir. Nunca. Jamais!
 
O futebol brasileiro é um exemplo para o mundo.
 
E não sou eu quem tá dizendo, é a Uefa.
 
Sim. Arregale os olhos e continue lendo, pois vou me repetir: a Uefa admitiu que o Brasil é um exemplo a ser seguido pelo mundo do futebol. Sério. Quem disse isso, na verdade, foi Andy Roxburgh, diretor técnico da Uefa, no editorial da quinta edição da Uefa Grassroots Newsletter.
 
Para contextualizar, Andy Roxburgh é diretor-técnico da Uefa desde 1994, cargo que começou a desempenhar um ano depois de ter largado o papel de técnico da seleção escocesa de futebol, que havia assumido em 1986, sucedendo o hoje Sir Alex Ferguson. E sim, as datas estão corretas. Andy Roxburgh foi de fato o técnico da seleção escocesa na Copa de 90, aquela que tinha sete titulares com o sobrenome MacAlgumacoisa, que enfrentou o Brasil de Lazaroni e foi derrotada por 1 a 0, gol de Muller aos 37 do segundo tempo.
 
Curiosamente, Andy Roxburgh enfrentou uma seleção que muitos consideram como a pior seleção brasileira da história do futebol moderno, que jogava de uma maneira extremamente desfigurada daquilo que se entende como o padrão brasileiro de futebol. Ainda assim, Roxburgh mostra-se um apaixonado pela capacidade nacional de revelar grandes talentos. Ou, pelo menos, mostra-se apaixonado pelo país. Diz ele no começo do seu texto:
 
“Pense no Brasil: sol, mar, samba e futebol. Pense no sorriso do Ronaldinho – um sorriso que epitomiza o amor do brasileiro pelo jogo e a alegria de jogar futebol. Pense no fato direto para o futebol europeu de que o país com o maior número de representantes na primeira rodada da Liga dos Campeões da Uefa desse ano foi o Brasil. Como reportado por um jornal alemão, a equipe titular das 32 equipes incluíam 65 brasileiros, 37 franceses, 24 portugueses, 22 italianos, e apenas 12 alemães. O Brasil pode não ter ganhado a Copa de 2006, mas sem dúvida alguma continua como o maior exportador de talento futebolístico do planeta. E, com o seu ambiente natural e sua população apaixonada, é um modelo para o desenvolvimento do futebol de base”.
 
Aí ele disserta sobre como é bacana estar na beira do mar e ver as pessoas com roupas de praia e jogando futebol por brincadeira. Depois pondera sobre a influência do futebol de praia e do futsal no jeito de jogar brasileiro. Nada lá de muito brilhante.
 
Mais pro final do editorial, Andy Roxburgh diz que – obviamente – “(…) poucos países na Europa podem reproduzir as condições do ambiente natural brasileiro. Mas, de qualquer maneira, lições podem ser aprendidas. Associações de futebol que são sérias quanto à saúde e o crescimento do jogo são necessariamente obrigadas a promover a participação e o interesse em massa. Futebol de base que age como veículo de integração social, saúde e alegria é o objetivo. Por conseqüência, talentos irão emergir. No Brasil, o amor pela bola, expressão pelos jogos em campos diminutos, e a alegria absoluta de jogar foram tão cultivados que a paixão e criatividade do futebol começaram a fazer parte do DNA da nação. A Europa pode ter tido os quatro finalistas da Copa de 2006, mas em um mundo altamente competitivo, complacência não é uma opção. É imperativo o desenvolvimento constante do jogo e a fundação de todo o crescimento e desenvolvimento do futebol está na sua base”.
 
Basicamente, Andy Roxburgh sugere que o Brasil tem tantos jogadores de futebol de qualidade por causa dos campos pequenos, das praias e da alegria do povo. Obviamente, não se preocupa em ver exatamente o que está por trás de todo esse processo. Mas tudo bem, afinal o cara é diretor-técnico da Uefa. Merece, pelo menos, algum respaldo em suas ponderações, leviandades ou não.
 
Mas que parece um papo típico de turista que chega na beira do mar, degusta uma caipirinha, petisca um camarão, pega um bronzeado pra ficar como um camarão, filosofa sobre como é bacana o lugar, como as pessoas são bonitas e como isso tudo se relaciona com o futebol, ah, isso parece.

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A volta da fórmula do mata-mata: uma forma de premiar a incompetência

 

 

 

Para aqueles que gostam e acompanham o futebol, a ordem do dia é a discussão do formato de disputa dos campeonatos brasileiros.
 
O futebol por aqui já experimentou várias fórmulas ao longo do tempo.
 
Entre as diferentes opiniões há os que defendem o campeonato de pontos corridos nos moldes que vem sendo realizado deste 2003, com turno e returno, e os que defendem o chamado “mata-mata”, anterior a este período.
 
É bom deixar claro, antes de qualquer coisa, que ao se colocar o foco no modelo de disputa de nossos campeonatos não significa que, escolhida esta ou aquela fórmula, todos os problemas do nosso futebol estarão resolvidos.
 
Não há fórmula de campeonato que isoladamente vá tornar nosso futebol superavitário, organizado, bem administrado, com garantias de segurança e com boa qualidade técnica.
 
Enquanto não se resolver as questões estruturais que afetam a CBF, Federações, clubes e conseguirmos manter nossos melhores jogadores aqui no Brasil, dificilmente sairemos deste estado de verdadeiro sucateamento pelo qual passa o futebol do país, não obstante o retrospecto repleto de títulos mundiais conquistados pela seleção brasileira.
 
Mas, voltando ao formato de disputa dos campeonatos, todos os argumentos em favor do mata-mata, de que é mais motivante, causa mais emoção, dá oportunidade para os times que não estavam tão bem na primeira fase possam se recuperar e até tornarem campeões na segunda etapa, entre outras justificativas, não se sustentam simplesmente pelo fato de que esse formato geralmente provoca injustiças que poderiam muito bem ser evitadas.
 
Somente os campeonatos de pontos corridos valorizam o trabalho das equipes mais técnicas, preparadas e equilibradas e é capaz de destacar e premiar os clubes que possuem planejamento e organização.
 
Qualquer outra proposta fica parecendo casuísmo para premiar a incompetência, mesmo que garanta eventualmente mais emoção em sua fase final.

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O fator sorte no esporte

Diversas vezes abordamos aqui na Universidade do Futebol discussões sobre a profissionalização da gestão dos clubes. Quase sempre a conclusão é de que é preciso, quando se fala no trabalho dentro do esporte, que se tome atitudes racionais, mesmo num ambiente dominado pela emoção.
 
Exemplos que comprovem essa tese não faltam. Vão desde o mais óbvio, que é a questão de manter um trabalho com a manutenção de um treinador dentro do clube o maior tempo possível, até mesmo coisas mais detalhistas, como a necessidade de se fazer um trabalho integrado dentro e fora de campo para que uma equipe tenha um desempenho esportivo acima da média.
 
E, racionalmente, quanto mais os clubes investem nesse estilo de conduta fora de campo, mais resultados aparecem. Hoje, São Paulo, Inter e Santos são os clubes com as maiores receitas do Brasil. Será que isso acontece por eles serem os clubes que mantêm há mais tempo os seus treinadores, que investem na formação e contratação de atletas e, ainda, dão boas condições de treinamento a seus astros?
 
Bom, sem dúvida que tudo isso influencia. Mas, mesmo com essas evidências que os clubes no topo da tabela do Brasileirão nos trazem, muitas vezes o investimento no esporte não é norteado pela lógica do mercado. Se uma empresa é rentável, apresenta bons resultados e domina o mercado em que atua, eu vou querer investir nela. Se, ao contrário, ela só me traz prejuízo, não consegue bater a concorrência e tem apenas uma história de marca forte, não valeria tanto a pena investir meu dinheiro nela.
 
Se é assim na vida real da economia brasileira, por que não conseguimos que seja assim na realidade do patrocínio no futebol de nosso país? Aí é que entra o tal do fator sorte que envolve a competição esportiva.
 
São Paulo e Inter foram apostas feitas pela Reebok no começo de 2006. A empresa ia voltar ao mercado e decidiu investir pesado em alguns clubes. Encontrou o atual campeão do mundo à época, o São Paulo, em busca de um novo parceiro. Já no Colorado gaúcho viu a chance de colocar a marca num time que tinha potencial para ir longe na temporada.
 
No fim do ano, a empresa contabilizará só lucros com o investimento inicial de R$ 11 milhões que fez nos dois clubes. Afinal, a disputa do título da Copa Libertadores, torneio televisionado para todo o mundo, envolveu São Paulo e Inter. Agora, o Brasileirão tem as duas equipes como únicas candidatas à conquista do campeonato. A boa fase dentro de campo reflete nas vendas da empresa fora das quatro linhas.
 
Na outra ponta da tabela, a Adidas, marca há mais tempo ligada ao futebol em todo o mundo, assiste os seus dois patrocinados, Palmeiras e Fluminense, lutarem desesperadamente contra o rebaixamento. E tão mal quanto os clubes ficam as vendas de camisas pela empresa.
 

Mas, antes de o ano começar, Palmeiras e Flu tinham, potencialmente, as mesmas chances de conquistas de São Paulo e Inter. Mas, ao longo da temporada, o Palmeiras foi eliminado na Libertadores pelo rival da capital paulista num jogo decidido pelo árbitro, que interrompeu um toque de bola e armou o contra-ataque fatal são-paulino. A partir daí, o time alviverde degringolou. E a sorte sorriu para São Paulo e Reebok.

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O clássico dos clássicos

Na última terça-feira aconteceu o maior clássico do futebol contemporâneo, e entenda a contemporaneidade mencionada como algo de três anos pra cá. Jogaram pela Champions League – até porque esse jogo não pode acontecer em nenhum outro campeonato (por favor esqueça a Copa da UEFA, se é que alguém se lembra dela) – Barcelona e Chelsea, o sexto confronto entre os dois times nos últimos três anos.
 
A grandeza desse confronto fica explícita na formação em campo, quando é possível enxergar boa parte da nata dos jogadores de todo o mundo. Além disso, as duas equipes são as atuais campeãs, e líderes, de seus respectivos campeonatos nacionais, que são também dois dos mais importantes campeonatos do planeta.
 
A rivalidade é nítida, e os últimos jogos entre as duas equipes têm correspondido à expectativa que se cria em torno dos grandes clássicos. Os jogos são pegados, corridos e nervosos. São dois times com características bem diferentes. O Chelsea é um time que faz um jogo muito físico e relativamente técnico, muito estruturado na mistura entre a escola européia com a escola africana. O Barcelona, por sua vez, faz um jogo muito técnico e relativamente físico, baseado na mistura entre a escola européia e a escola sul-americana. O conflito, entretanto, vai muito além do gramado.
 
Chelsea e Barcelona representam hoje duas realidades distintas e conflituosas existentes no mundo do futebol. São dois modelos de clubes baseados em estruturas e representações bastante diferentes.
 
O Barcelona gosta de dizer que é muito mais do que um clube, e talvez seja mesmo. São poucos os exemplos atuais que assumem tanta representação da comunidade na qual está inserido. O Barcelona é a Catalunha e a Catalunha é o Barcelona.
 
O Barcelona não tem dono, é comandado pelo corpo de mais de cem mil sócios, e não tem torcedores, tem membros. Quem torce pro Barcelona, de verdade, torce por um ideal, e não apenas pelo simples sucesso futebolístico. Sinal disso é que os jogadores que atuam no Barcelona são contratualmente obrigados a aprender catalão. Oleguer, jogador barbudo do clube que é meio zagueiro e meio lateral, é um atuante na política catalã de esquerda e em sua biografia recém lançada chega a fazer alguns devaneios a respeito da intromissão da Espanha nas guerras do Golfo. O Barcelona é a representação extrema do sucesso do modelo associativo dentro do futebol.
 
O Chelsea, por sua vez, não é nada mais do que um clube de futebol. Sequer isso. Mal possui torcedores, diga-se bem a verdade. A torcida do clube do bairro de Fulham nunca foi das maiores, e parte dela hoje rejeita o clube devido ao rumo tomado nos últimos anos. Uma nova leva de torcedores surgiu, mas mais influenciados pelos efeitos cosmopolitas de tantas estrelas reunidas em uma mesma camiseta do que exatamente por aquilo que o clube significa, que – como eu disse antes – é quase nada.
 
Um clube de relativamente pouca história e tradição, principalmente quando comparado ao exemplo citado no parágrafo acima, a equipe londrina estava afundada em dívidas e ameaçada de falência quando foi abocanhada por um bilionário russo que viu ali uma grande oportunidade de comprar simbolicamente sua cidadania inglesa e, dizem, o seu seguro de vida. Abramovich comprou o clube, os jogadores, e – indiretamente – os torcedores.
 
O Chelsea é um clube de um homem só, e se bobear pode virar o clube de uma mulher só. A esposa do bilionário russo descobriu esses dias atrás uma escapadinha sua e entrou com processo de divórcio que pode custar algo em torno de cinco bilhões e meio de libras ao décimo primeiro homem mais rico do mundo. Isso pode eventualmente incluir o clube de futebol. Por causa de uma loira de vinte e três anos, o Chelsea pode mudar de dono, e de rumo. Mas, no momento, ninguém contesta a solidez financeira do clube. O Chelsea é a representação extrema do sucesso do modelo empresarial contemplado com o investimento de um benfeitor.
 
Chelsea contra Barcelona é um contra a rapa. É o dinheiro do suor dos trabalhadores das indústrias siderúrgicas da Rússia contra o dinheiro do suor dos trabalhadores da Catalunha. É a nova onda do futebol contra o seu sentido tradicional contemporâneo.
 
Chelsea contra Barcelona é, de longe, o maior clássico do planeta.
 

Pelo menos enquanto a mulher do Abramovich não ganhar seus bilhõezinhos na justiça.

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Habilidades, conhecimentos e atitudes

É comum associarmos o talento de um jogador de futebol quase que exclusivamente à sua habilidade corporal. Ou seja, a sua capacidade de executar alguns gestos técnicos, como driblar, chutar, controlar, dominar e passar a bola.
 
Num sentido mais amplo, entretanto, a habilidade envolve muitos outros aspectos. Segundo Howard Gardner, famoso psicólogo americano, há pelo menos oito tipos de habilidades as quais ele chamou de inteligências múltiplas. São elas: as inteligências lógico-matemática, verbal-lingüística, espacial, musical, corporal-cinestésica, intra e interpessoal, naturalista e existencial.
 
Daniel Goleman, outro psicólogo americano, completando este rol de habilidades, popularizou os conceitos de inteligência emocional e mais recentemente o conceito de inteligência social.
 
Portanto quando falamos em habilidades, se pretendemos desvendar um pouco da complexidade humana e em particular entender o atleta, temos que superar algumas simplificações que costumamos fazer no futebol.
 
Outro componente necessário para que um jogador possa expressar sua competência e suas habilidades é o conhecimento. Conhecer regras, normas e valores que norteiam o futebol, por exemplo, é fundamental para se obter o sucesso.
 
Mas, como os antigos já nos ensinavam, “a coisa principal da vida não é o conhecimento, e sim o uso que fazemos dele”. Isto quer dizer que talvez a mais importante qualidade necessária a um atleta não seja nem suas habilidades, nem seus conhecimentos, mas as suas atitudes. Atitude aqui entendida como a predisposição para reagir aos diferentes estímulos de maneira positiva ou negativa.
 

O atleta ou qualquer pessoa que não tenha atitudes proativas, adequadas e necessárias à superação de seus limites, dificilmente conseguirá projetar e alcançar metas ambiciosas, por mais amplo que sejam seus conhecimentos ou por mais aguçadas que sejam suas habilidades.

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O abismo brasileiro

Domingo de eleição em São Paulo. Enquanto Luiz Inácio Lula da Silva comemorava sua reeleição à presidência da República, o teatro Abril ficava relativamente cheio para mais uma exibição da peça O Fantasma da Ópera. Com 1.533 lugares, a sala deveria, às 20h do domingão de votação, estar com pelo menos 65% da capacidade lotada.
 
Nas cadeiras, um grupo da cidade catarinense de Criciúma esperava atentamente o início do espetáculo. Era uma família com cerca de dez pessoas. Irmãos, primos, tios, pais e o avô, feliz por poder proporcionar aos familiares um final de semana que se encerraria com chave de ouro. O preço de cada um daqueles ingressos? Cento e dez reais.
 
Só aquela família deve ter deixado cerca de mil reais no teatro. Outros milhares nas passagens aéreas. Mais umas centenas de reais no hotel. Isso sem contar os restaurantes e lojas de uma cidade gigantesca como São Paulo, que a cada dia aprende a explorar o potencial de consumo que tem, tal qual Nova York sabe fazer.
 
No sábado, véspera da eleição, nenhum time de futebol jogou em São Paulo pela Série A do Campeonato Brasileiro. No dia em que toda a cidade não viajou por conta das eleições, nenhum clube ficou na capital para receber o seu público. E a culpa não poderia nem ser atribuída à tabela armada pela CBF. Afinal, para a 31ª rodada do Brasileirão estava programado o clássico Corinthians x Palmeiras.
 
O confronto, remarcado para a quarta-feira, dia 25, atendeu às exigências da televisão. Por isso, foi realizado às 22h e teve um público de 16.593 torcedores pagantes, cerca de 20% da capacidade do estádio do Morumbi. Isso gerou uma renda bruta de R$ 229.770,00. Com os descontos, o Corinthians, mandante da partida, arrecadou pouco mais de R$ 35 mil.
 
Naquele mesmo final de semana que uma família de Criciúma gastou no mínimo cerca de R$ 5 mil para assistir a uma peça de teatro em São Paulo, jogadores de Palmeiras e Corinthians descansavam após o jogo da quarta-feira, sem ter o que fazer.
 
Num exemplo banal como esse que se percebe o abismo que separa a gerência do futebol brasileiro daquela que é aplicada em todas as outras áreas do país. Inclusive no próprio futebol, em que o investimento em qualificação se refere apenas ao profissional que atua diretamente dentro de campo.

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Descanso de Ronaldinho evidencia diferenças entre Brasil e Europa

Ronaldinho Gaúcho pediu, a diretoria e a comissão técnica do Barcelona aceitaram, e o jogador iniciou nesta semana um trabalho de recondicionamento físico. Sentindo uma queda de rendimento físico, Ronaldinho fez algo que raramente um jogador de futebol pede publicamente, que é ficar sem atuar para trabalhar a parte física.
 
Mas, dentro da comissão técnica da seleção brasileira, a atitude tomada pelo camisa 10 do Barcelona não é uma surpresa. Ronaldinho apenas fez algo comum aos atletas brasileiros que atuam na Europa, mesmo que informalmente.
 
“Muitas vezes os jogadores conversam pela gente por e-mail e pedem para passarmos um exercício que geralmente damos na seleção, para fazer algum trabalho de fortalecimento”, afirma Odir de Souza, fisioterapeuta da seleção brasileira na última Copa do Mundo.
 
Segundo o preparador físico do time sub-20 brasileiro, Paulo Camello, quando o atleta é convocado para a seleção, o primeiro trabalho feito em conjunto com a comissão técnica é o de readequação do jogador para a realidade de treinamento implantada no Brasil.
 
“Na Europa os times treinam em apenas um período, geralmente pela manhã, e depois os jogadores são liberados, só voltando a fazer algum trabalho de condicionamento no dia seguinte”, diz.
 
Durante apresentação no Congresso Carioca de Educação Física, organizado pelo Fiep-RJ, Camello afirmou que tão logo o atleta se junta ao grupo, a primeira providência é fazer uma avaliação geral de todos os jogadores. Na seqüência, os convocados são divididos em alguns subgrupos, com o objetivo de condicioná-los conforme o nível que estão.
 
“Além disso, fazemos um trabalho de reforço muscular. Os jogadores intercalam os treinos com exercícios de musculação. Eles não gostam muito, mas depois entendem que é importante”, afirma Odir de Souza.
 
Segundo os dois profissionais envolvidos no trabalho da seleção brasileira, outro grande problema que existe na Europa é a falta de investimento na formação de uma comissão técnica com profissionais das mais diversas áreas.
 
“Muitas vezes é o treinador ou o seu auxiliar que executa o treinamento físico, sem saber se o atleta pode ser submetido àquela carga de exercícios”, diz Camello.
 
Além da falta de profissionais de outras áreas nas comissões técnicas européias, os especialistas afirmam haver uma falta de cultura dos dirigentes e jogadores europeus para entender a importância de se investir num novo estilo de treinamento físico.
 
“O Vanderlei [Luxemburgo, ex-técnico do Real Madrid e atualmente no Santos] tentou fazer isso na Espanha, fazer o time treinar em dois períodos, dar mais exercícios físicos, mas acabou, em pouco tempo, sendo boicotado”, afirmaram os dois em suas palestras.

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