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Você nunca andará sozinho

Um grupo de torcedores do Liverpool irá apresentar ainda hoje (quinta) uma proposta para comprar o clube.
 
Como todos sabem, clubes de futebol na Inglaterra são instituições de capital privado e possuem donos. E os donos, que afinal são donos, fazem o que bem entendem com aquilo que eles possuem. No caso, donos de clubes de futebol fazem o que bem entendem com clubes de futebol. Para ser dono de um clube de futebol inglês, porém, é preciso bastante dinheiro, e geralmente quem investe tanto para adquirir um clube quer ganhar ou mais dinheiro, ou o público que acompanha o clube.
 
Em alguns casos, é evidente a intenção do dono em adquirir um clube como forma de melhorar sua imagem. Os casos mais notáveis são o do Abramovich com o Chelsea e o do Shinawatra com o Manchester City. Ambos são cheios da grana e não precisam de mais dinheiro, mas precisam – e muito – conquistar o apreço de outros seres humanos de bom coração, afinal ambos são acusados de diversas atrocidades em seus países de origem. Para tanto, mudam-se para a Inglaterra, levam seu dinheiro e compram um clube de futebol. Dessa forma, criam uma legião de seguidores e conseguem, de certa, forma, fazer com que sua notoriedade diminua a possibilidade de ataques contra a sua honra e, principalmente, contra a sua vida.
 
Em outros casos, notadamente o dos norte-americanos, a idéia de comprar o clube é ganhar dinheiro, seja em cima do torcedor, da televisão, ou de uma futura revenda. E os americanos têm apostado bastante nisso, como mostram os Glazers e o Manchester United, Lerner e o Aston Villa, Hicks e Gillett e o Liverpool, e a recém acordada compra do Derby County pela GSE.
 
Obviamente que um processo como esse último sempre gera uma certa rejeição. Afinal, a aquisição de um clube de futebol por algum investidor em geral significa preços de ingressos e de produtos inflacionados e exclusão dos torcedores das camadas mais baixas da população. E quando um investidor compra um clube, não faz muitas contratações de peso, não consegue ajeitar o time e começa a brigar com o técnico que é amado pela torcida, aí a rejeição estoura.
 
Foi o que aconteceu com o Liverpool, Hicks, Gillett e Benítez.
 
Quando começaram a surgir boatos de que os novos donos do clube pensavam em trocar de treinador, a torcida ficou do lado mais fraco, e muitos torcedores de longa-data anunciaram que deixariam de ir às partidas e de comprar os pacotes para a temporada caso o espanhol deixasse o clube. Os novos donos foram ameaçados pelos seus consumidores com um boicote econômico. Obviamente, daí para a frente, a situação só piorou.
 
E agora o conflito chegou ao clímax. Às cinco horas inglesas da tarde de hoje, tradicional hora do chá – ainda que essa seja uma tradição falaciosa, um grupo de torcedores anunciará a intenção de comprar o Liverpool, e transforma-lo em um clube propriamente dito, de propriedade de seus associados. Espelham-se em clubes da Espanha, principalmente Real Madrid e Barcelona, e em clubes da Alemanha. A idéia do grupo chamado de “Share Liverpool FC” é conseguir 100.000 sócios e levantar 500 milhões de libras, algo em torno de 2 bilhões de reais, para comprar o clube e construir um estádio.
 
Caso consigam, poderá ser iniciado um novo processo de aquisições de clubes por torcedores, o que mudará significativamente o processo comercial desses clubes, resultando numa completa transformação da indústria como um todo, inclusive do Brasil.
 

Se isso vai acontecer ou não, já é outra história. Mas que pode, pode. E vai depender muito do sucesso dos torcedores do Liverpool. Talvez não seja a coisa mais ideal do mundo apostar no sucesso do time atual em uma partida, afinal o clube não anda muito bem das pernas em campo. Mas se for pra apostar na força da sua torcida, aí sim é possível colocar algumas fichas na mesa.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Quem tem rádio é rei

Matéria nesta Cidade do Futebol da última sexta-feira dá conta do enrosco em que se meteu o futebol catarinense. A associação das emissoras de rádio está na Justiça para ter os direitos de transmitir, sem qualquer contrapartida, os jogos do Estadual (veja mais aqui).
 
O resultado final está longe de sair e provavelmente só acontecerá depois que o campeão catarinense tiver sido decidido. E do jeito que é Justiça, talvez seja o campeão de 2010… Mas o fato é simples: os clubes começaram a acordar para um problema grave de ausência de receita.
 
A popularização do futebol no Brasil aconteceu nos anos 30 e 40 graças às ondas do rádio, que levavam aos torcedores a emoção do campo para dentro do lar. Só que foi exatamente por conta dessa origem da transmissão do esporte que o futebol hoje vive um de seus maiores problemas.
 
Quando folclóricos narradores, comentaristas e repórteres de campo tinham de subir no telhado de casas para poder narrar os jogos aos ouvintes, obtínhamos excelentes histórias para contar. Só que, ao cederem à insistência dos empresários da comunicação, os clubes criaram um monstro.
 
As rádios encontraram o caminho para a audiência e, conseqüentemente, para o faturamento publicitário, a partir da transmissão do futebol. Os clubes, no início, tentaram coibir o ganho elevado de dinheiro das emissoras proibindo-as de transmitir as partidas. O receio, à época, era perder dinheiro com a bilheteria. Quando perceberam, porém, que o público ia ao estádio mesmo com o jogo transmitido pelas ondas do rádio, os dirigentes baixaram a guarda. E aí que começou o problema.
 
Hoje, com o recurso da televisão, nem mesmo ir a uma partida é necessário. As narrações acontecem de dentro de um estúdio, ou até mesmo da sala da casa. Outro dia, aliás, em plenas férias do futebol no Brasil, o Real Madrid de Robinho era irradiado pelas ondas da AM paulistana.
 
A maior fonte de receita da Fifa na atualidade é a venda dos direitos de transmissão de seus eventos, em especial a Copa do Mundo. São quase US$ 2 bilhões em receita com a venda para mais de 200 países. Só que os direitos não se limitam à televisão. A rádio paga, e muito, para poder exibir ao vivo os 64 jogos do Mundial. E não chia.
 
Por que as rádios brasileiras continuam achando que é possível transmitir o futebol sem ter de pagar por isso? Os clubes ainda querem apenas como troca espaço na poderosa mídia da rádio. Mas nem isso os empresários parecem dispostos a ceder.
 
Só que, o que as emissoras não percebem, é que cada vez mais os clubes acordam para o aumento na fonte de receitas e nas estratégias de marketing para arregimentar torcedores e, a partir disso, dinheiro.
 

Na terra de cego, quem tem uma rádio é rei. Por enquanto.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Futebol brasileiro ou europeu?

Dia desses me perguntaram por que eu gosto tanto de falar sobre o futebol inglês e italiano, suas peculiaridades táticas e modelos de jogo e por que insisto em dar exemplos de equipes européias como referências para determinado aspecto da complexidade do jogo. As indagações vieram seguidas da afirmação de que as equipes brasileiras têm levado vantagem sobre as equipes européias nos últimos anos em jogos internacionais (e que, portanto, o futebol brasileiro é melhor tecnicamente e taticamente do que o europeu – vide e acrescente na argumentação o número de títulos mundiais da seleção brasileira).
 
Vivemos no “país do futebol”. E se isso é verdadeiro, é verdade também que nossas crianças tendem a nascer com o “dom para a coisa” (já nascem sabendo jogar).
 
Que pretensão! Deus realmente deve ter criado um selo especial para isso – fico só imaginado o Todo Poderoso na linha de produção (digo na fila de pessoas a nascer) dizendo: É brasileiro? Selo amarelo nos pés… Próximo…
 
Obviamente, ninguém nasce sabendo jogar futebol; assim como ninguém nasce sabendo sambar ou falar português. Falar português, sambar e jogar futebol são habilidades adquiridas no ambiente em que se vive. Não nascemos com maior tendência a falar português, sambar ou jogar futebol porque a dádiva natural do nascimento ocorreu em terras brasileiras. Claro, ao nascer aqui (ou não), sofrendo influência das “ocorrências” do meio daqui, estaremos adquirindo a cultura DAQUI!
 
Estranho ou trivial?
 
A menos que realmente acreditemos que o samba, o nosso idioma e/ou o futebol sejam obras divinas. Aí teremos obrigação de crer na teoria de que nós brasileiros já nascemos jogando futebol e que o Todo Poderoso, com tantas preocupações; duzentos e tantos países para cuidar, guerras, doenças… Ainda tem de atribuir habilidades para jogar futebol, dançar samba (tango, salsa, flamenco!?), cuidar de cada idioma a ser falado, sem nos esquecer ainda dos pedidos emergenciais dos nossos seres bons humanos…
 
O fato é que, por vezes, cegados pelo brilho de nossas crenças, nos tornamos incapazes de ver além do comum.
 
Certamente o futebol brasileiro tem coisas a ensinar taticamente. A questão é que vivemos no Brasil um paradigma diferente daquele que alguns países europeus tomam para seguir. Não porque ultrapassamos o paradigma alheio e já vivemos outro momento. Muito pelo contrário.
 
A questão aqui é que a maior parte dos treinadores e “especialistas” do futebol ainda vêem o jogo em fragmentos, atentando ao jogador fora do contexto coletivo da equipe. É como se para mudar uma tendência, corrigir um problema ou acentuar um desequilíbrio vantajoso em um jogo, a melhor e única solução estivesse sempre atrelada a substituição de um jogador que não está a render satisfatoriamente, e colocar em seu lugar outro que, quiçá, poderá ter desempenho melhor.
 
E como o jogador é parte do todo (que é a equipe), espera-se que a intervenção no “pedaço” resulte em grandiosas e positivas transformações no “bolo” (o todo).
 
Não que na Europa tenhamos o modelo “ideal”, o exemplo a ser seguido. Mas existem lá focos de outra visão sobre o jogo, sistêmica, que leva em conta a complexidade do futebol e que compreende que qualquer alteração em qualquer variável do sistema pode gerar amplificadas e transformadoras respostas no todo (e que portanto, não é necessariamente a substituição de um jogador a solução para os problemas).
 
E se é fato que o brilho de nossas crenças pode nos cegar, posso eu, ao invés de não estar vendo, estar enxergando brilho demais. Importante salientar que nossa vantagem (vantagem do futebol brasileiro em confronto com o europeu) não é tão grande assim (nos últimos cinco jogos contra equipes européias estamos à frente: 3 x 2). Será que o brilho nos deixa enxergar isso?
 
Mas como o assunto é futebol (e não “o brilho”), não posso deixar de escrever que o jogo, por ser jogo, é imprevisível; e jogar bem (que é diferente de dar espetáculo) não significa necessariamente ganhar (significa “somente” aumentar as chances).
 
E para quem ainda acredita que nossos bebês nascem fazendo gol, nada melhor do que intensificar as preces ou caprichar mais no “ato reprodutor”.
 
Para quem não acredita, melhor que os óculos escuros estejam sempre à disposição. Caso contrário, há sempre o risco de um brilho desavisado atrapalhar a visão…

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Fifa e seu próximo desafio

Como já comentei neste espaço algumas semanas atrás, o caso Bosman representou para a Fifa um grande (e desagradável) surpresa, uma vez que teve que reconhecer expressamente que não pode ficar à margem da justiça comum. Foi o primeiro grande caso em que uma decisão judicial (promovida pela ECJ – European Court of Justice) interferiu em seus negócios, dando liberdade aos jogadores desde que não tivessem contratos em vigor com os seus clubes.
 
Muito bem. Recentemente, tivemos uma decisão muito importante, e que deve, em nossa opinião, representar o próximo grande embate da Fifa, dessa vez com os os clubes de futebol.
 
A decisão a que me refiro, proferida administrativamente pela Fifa, deu mostras de que a entidade pretende ceder e auxiliar os clubes de futebol a serem ressarcidos pelo envio de seus jogadores às seleções nacionais de seus respectivos países.
 
De fato, foi celebrado um acordo entre Fifa e Uefa para que ambas juntem um total de US$ 252 mil para o pagamento das indenizações a clubes europeus. Esse acordo foi fruto de uma pressão em torno do caso Charlero/Albdelmajid. Atualmente em curso perante o Tribunal Arbitral do Esporte, o clube belga cobra da Fifa uma indenização pela contusão de seu jogador ocorrida enquanto ele defendia a seleção de Camarões.
 
O acordo firmado com a Uefa está longe de resolver o problema. Antes de mais nada, ainda restam ser definidos os critérios e as formas de pagamento desses valores. Mas, pior do que isso, ainda precisa ser definido como essa regra passará a valer em nos outros continentes.
 
Gostaria de analisar essa questão sob dois prismas. A questão de direito, e também a questão do desdobramento desse acordo na prática.
 
Em termos legais, essa é uma questão inserida em um contexto da especificidade do futebol como negócio. Sabemos que, a cada dia, o futebol se aproxima de um negócio como outro qualquer. Porém, existem peculiaridades que devem sempre ser respeitadas e relevadas para a tomada de determinadas decisões.
 
Jogadores de destaque representam hoje um grande patrimônio para os clubes. Eles custam caro, mas também podem gerar rendas fabulosas aos clubes. É nessa medida que os clubes não gostariam de serem ressarcidos por uma eventual desvalorização do jogador que atua por sua seleção. Aparentemente, um pleito legítimo.
 
Mas precisamos olhar por outro ângulo. Esses jogadores somente ganham notoriedade e passam a ser valorizados, quando atuam pela seleção nacional. Ronaldinho Gaúcho, por exemplo, passou a ser conhecido não porque atuava no Grêmio, mas sim porque fez belíssimas atuações pela seleção brasileira.
 
Assim, entendemos que faz parte do “pacote” desses jogadores a participação nas seleções. Em outras palavras, é um risco que o clube deveria assumir. É uma situação bastante peculiar com relação ao esporte. Mas entendo haver elementos que sustentariam uma defesa da Fifa contra os clubes.
 
Porém, como a questão ganha contornos políticos (mais relevantes do que os jurídicos), acredito que a Fifa cederá, como aliás já o fez no acordo com a Uefa.
 
Com relação aos contornos práticos da questão, existe um grande problema nesse processo, no desdobramento em continentes como a África. Certamente a Confederação Africana de Futebol – CAF, não conseguirá suportar (ainda que com ajuda da Fifa) as indenizações que seriam devidas a grandes clubes como Barcelona, que possui em seu elenco o Camaronês Samuel Eto’o.
 
Haverá um grande impasse, não tenho a menor dúvida. E o grande receio é que, em uma provável interferência da justiça comum, haverá uma grande descapitalização da Fifa para atender aos interesses desses clubes.
 
A tendência é que os clubes comecem a se organizar para pleitear individualmente essas indenizações. E quando isso acontecer, a Fifa e as Confederações Continentais vão ter que se movimentar.
 
A partir daí, vamos ver qual é o lado mais fraco da corda.
 
E então essa discussão poderá representar o próximo caso emblemático da FIFA, depois do caso Bosman.

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Política de resultados

No fim do ano, pouco tempo depois de Adriano ter sido confirmado como reforço estrelar do São Paulo, os jornais de São Paulo estamparam em suas manchetes mais uma polêmica em que o jogador havia se metido, após sofrer um acidente de carro no Rio de Janeiro.
 
Em linhas gerais, todos diziam a mesma coisa. Adriano já começa o ano aprontando. São Paulo já vive primeira crise com Adriano. Polêmica volta a rondar a vida de Adriano.
 
Na última semana, após pouco mais de uma semana de trabalho, Adriano finalmente estreou com a camisa 10 tricolor. Contra o Guaratinguetá, fez os dois gols da magra vitória de virada do São Paulo. No dia seguinte, a capa não poderia ser outra:
 
“O Imperador está de volta!”.
 
Nem tanto ao céu, nem tanto ao inferno.
 
Adriano fez uma boa estréia, mas nada que surpreendesse. Da mesma forma que Alex Mineiro estreou no Palmeiras com dois gols contra o Sertãozinho. Assim como o Corinthians venceu bem o Guarani. Resultados e desempenhos absolutamente dentro do normal e que de maneira alguma podem revelar uma tendência do jogador ou do time para a temporada.
 
Afinal, Adriano e Alex Mineiro tiveram atuações medianas contra Rio Preto e Santos, respectivamente, e o Corinthians perdeu para o São Caetano no ABC.
 
Ou seja, nada de novo. Até mesmo no comportamento da imprensa, que a cada dia que passa se revela passional e dependente do resultado dentro das quatro linhas, tal qual o torcedor da arquibancada.
 
É impressionante como o jogador não pode ter oscilações na visão tacanha da cobertura jornalística. E o pior é que o fenômeno (não o Ronaldo, muito menos o bom Alexandre Pato) é mundial, vide o que os jornais da Itália mandaram de repórteres para Guaratinguetá!
 
O trabalho de Adriano no São Paulo é impossível de ser avaliado. Não existe, em nenhuma profissão, um empregado que em uma semana de trabalho já tenha obrigação de dar plenos resultados. O cara teve um bom começo, mas isso não significa que ele seja a solução daquela empresa.
 
Imagine se dentro das redações o ambiente de exigência fosse o mesmo do que os jornalistas impõem aos atletas, treinadores e dirigentes dentro das quatro linhas. Ia ter estagiário virando chefe numa semana e editor sendo demitido a cada erro produzido ou atraso na entrega do material…
 
A política de resultados da imprensa atrapalha o futebol. É ela quem faz o dirigente mal preparado ceder à tentação das análises emotivas e botar tudo a perder numa contratação, demissão, decisão, etc. Ou a imprensa mostra frieza e capacidade analítica no que faz, ou continuaremos a ter heróis e vilões a cada rodada, sem sair da superfície.

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O Serviço de “Inteli-tátic-gência” atuando no futebol

Um “Serviço de Inteligência” é em geral um departamento de governo voltado para a defesa do “Estado” (de sua sociedade, poder e soberania). Seu trabalho se dá através da captação, interceptação e aquisição de informações que podem auxiliar em ações inteligentes que garantam maior eficácia e sucesso na atuação do próprio “Estado”. Alguns Serviços de Inteligência ficaram muito famosos através da indústria do cinema (exemplos disso são o Serviço de Inteligência dos Estados Unidos (a CIA) e o da antiga União Soviética (a KGB)).
 
Ter posse de certas informações é privilégio e obrigação que nenhuma nação pode abrir mão. Por isso, seja a Abin no Brasil, a CIA nos Estados Unidos, a Mossad em Israel, ou MI6 no Reino Unido, não há nos dias de hoje “Estado”, que ao buscar soberania, autonomia e ordem possa abrir mão de estruturar um Serviço de Inteligência.
 
E se a informação é importante aos Estados, também é para qualquer instituição em diversos e diferentes níveis de operação. E como não poderia deixar de ser, é crucial e determinante também no futebol (necessidade máxima!).
 
Mas será que as equipes, em especial no Brasil, estão preparadas para tal necessidade?
 
Será que estão estruturadas para coletar, interceptar e adquirir informações? (e mais: será que, antes mesmo de ter a informações, as equipes de futebol estão preparadas para receber tais informações?)
 
Bom, existe no futebol um discurso de que não mais é possível preparar estratégias para surpreender os adversários, pois “nesse mundo globalizado, com internet e transmissões de jogos e treinos ao vivo tudo se sabe”. No máximo um “treininho a portas fechadas” para ensaiar jogadas secretas.
 
É por isso que no futebol, antes mesmo de se pensar em um “Serviço Futebolístico de Inteligência” é preciso encontrar pessoas inteligentes (que vão atuar no campo, nos vestiários, no departamento de finanças, marketing, etc.) para saber quais informações buscar e como aproveitá-las de maneira, digamos, inteligente (e como a inteligência é algo circunstancial, ainda tenho esperanças…).
 
Não adianta ter a CIA a disposição se não houver capacidade de entender que informação é “inteligência” e não “produção de relatórios coloridos impressos para serem deixados sobre a mesa” – algo comum, e que talvez só perca para a pequena confusão que se faz entre serviço de inteligência (ou informação) com serviço de informática – fico só imaginando; ao invés de Agência Central de Inteligência (CIA), “Agência Central de Informática”, ou ao invés de Agência Brasileira de Inteligência (Abin), “Agência Brasileira de Informática”. É só ter alguns computadores sobre a mesa, uma impressora e telefone que logo o que deveria ser serviço de inteligência e informação se transforma, aos olhares desavisados, em serviço de informática.
 
Nada contra a informática, pelo contrário, mas confundir uma coisa com a outra é a mesma coisa de apertar parafuso com o dedo e rosquear botão de “power” com chave de fenda.
 
Interessante como o mundo evolui e o futebol, sob algumas perspectivas, teima em não acompanhar (“a gente tá na lanterna, do tempo que virá”). É claro que isso não cabe para todo mundo. Mas como poucos entendem realmente porque essa ou aquela equipe vence, ou porque esse ou aquele projeto dá certo, cada vez mais quem vence e dá certo vencerá mais e dará mais certo. Quando os outros acordarem, já terão levado embora a mesa do café da manhã e do almoço.
 
Muitas são as informações que em diversas esferas podem colaborar para o sucesso de uma equipe dentro de campo (e fora também).
 
Imaginemos por exemplo, um treinador, que ao entrar em campo sabe detalhes longitudinais de avaliações físico-técnico-táticas-mentais dos jogadores adversários, seus históricos e características; imaginemos a possibilidade de que seus jogadores possam conhecer exatamente o perfil do árbitro responsável pela partida, suas características, comportamento e padrões, e a partir disso definir certas estratégias de atuação; imaginemos que ele (o treinador) possa quase que prever quais serão as condutas do treinador adversário de acordo com cada situação do jogo, decisões e alterações; e que ele (o treinador) ainda conheça tudo sobre o ambiente do jogo e saiba exatamente o que dizer nas entrevistas pré e pós partida, de maneira planejada, e de forma que isso possa se reverter a favor de sua equipe. Quanto amplificadas ficariam as chances de vencer?
 
Seja qual for a esfera; do Gerente Executivo na sala de administração de um departamento profissional ao jogador de futebol dentro do campo, a informação privilegiada é fator determinante do êxito ou do fracasso.
 
Hoje, o VENCER o jogo dentro de campo taticamente começa fora do campo, com inteligência, com informações que “evitem tiros e economizem balas pegando o bandido antes dele agir”.
 
E para não parecer apenas um devaneio, posso dizer que os Serviços de Inteligência no futebol já existem (ainda que sejam pouquíssimos). E com maior ou menor competência e “inteligência” têm colaborado para que os êxitos de algumas equipes nas competições e na sua saúde financeira não sejam “anarquias do acaso”.
 
UMA DEIXA
 
Tive o privilégio de acompanhar de perto o trabalho do mais competente, inteligente e criativo Serviço de Inteligência voltado para o futebol que existe no Brasil (não tenho dúvidas que em breve será o mais completo e inteligente dentre todos de todos os continentes, com um banco de informações fabuloso – não estou exagerando – será o MI6 do futebol). Logo vamos ouvir falar dele.
 
Porém, por enquanto, como todo Serviço de Inteligência que se preze, faz um trabalho quase secreto (e também por enquanto, vai ficar assim).
 
Como está no futebol, obviamente, com freqüência é confundido com serviço de informática. Mas como ressaltam os “agentes” “Dyandrady”, “O Bald” e “Sugarfree” (do mencionado Serviço de Inteligência), faz parte da estratégia permitir essa “confusão”.
 
É que no final eles sabem que o que precisam mesmo, é repassar a informação para quem pode recebê-la. E quem pode sabe bem a diferença entre o que é importante e o que é relevante, entre o que é prioridade e o que é emergencial, entre inteligência e informática.
 
Então como canta Lulu Santos; “Olha meu bem o céu; Vê quanta luz, quanta estrela; Quase todas mortas; Só não é chegado para nós o tempo que se apagarão; A gente tá na lanterna, do tempo que virá”.
 

Para interagir com o autor: rodrigo@149.28.100.147

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O Serviço de "Inteli-tátic-gência" atuando no futebol

Um “Serviço de Inteligência” é em geral um departamento de governo voltado para a defesa do “Estado” (de sua sociedade, poder e soberania). Seu trabalho se dá através da captação, interceptação e aquisição de informações que podem auxiliar em ações inteligentes que garantam maior eficácia e sucesso na atuação do próprio “Estado”. Alguns Serviços de Inteligência ficaram muito famosos através da indústria do cinema (exemplos disso são o Serviço de Inteligência dos Estados Unidos (a CIA) e o da antiga União Soviética (a KGB)).
 
Ter posse de certas informações é privilégio e obrigação que nenhuma nação pode abrir mão. Por isso, seja a Abin no Brasil, a CIA nos Estados Unidos, a Mossad em Israel, ou MI6 no Reino Unido, não há nos dias de hoje “Estado”, que ao buscar soberania, autonomia e ordem possa abrir mão de estruturar um Serviço de Inteligência.
 
E se a informação é importante aos Estados, também é para qualquer instituição em diversos e diferentes níveis de operação. E como não poderia deixar de ser, é crucial e determinante também no futebol (necessidade máxima!).
 
Mas será que as equipes, em especial no Brasil, estão preparadas para tal necessidade?
 
Será que estão estruturadas para coletar, interceptar e adquirir informações? (e mais: será que, antes mesmo de ter a informações, as equipes de futebol estão preparadas para receber tais informações?)
 
Bom, existe no futebol um discurso de que não mais é possível preparar estratégias para surpreender os adversários, pois “nesse mundo globalizado, com internet e transmissões de jogos e treinos ao vivo tudo se sabe”. No máximo um “treininho a portas fechadas” para ensaiar jogadas secretas.
 
É por isso que no futebol, antes mesmo de se pensar em um “Serviço Futebolístico de Inteligência” é preciso encontrar pessoas inteligentes (que vão atuar no campo, nos vestiários, no departamento de finanças, marketing, etc.) para saber quais informações buscar e como aproveitá-las de maneira, digamos, inteligente (e como a inteligência é algo circunstancial, ainda tenho esperanças…).
 
Não adianta ter a CIA a disposição se não houver capacidade de entender que informação é “inteligência” e não “produção de relatórios coloridos impressos para serem deixados sobre a mesa” – algo comum, e que talvez só perca para a pequena confusão que se faz entre serviço de inteligência (ou informação) com serviço de informática – fico só imaginando; ao invés de Agência Central de Inteligência (CIA), “Agência Central de Informática”, ou ao invés de Agência Brasileira de Inteligência (Abin), “Agência Brasileira de Informática”. É só ter alguns computadores sobre a mesa, uma impressora e telefone que logo o que deveria ser serviço de inteligência e informação se transforma, aos olhares desavisados, em serviço de informática.
 
Nada contra a informática, pelo contrário, mas confundir uma coisa com a outra é a mesma coisa de apertar parafuso com o dedo e rosquear botão de “power” com chave de fenda.
 
Interessante como o mundo evolui e o futebol, sob algumas perspectivas, teima em não acompanhar (“a gente tá na lanterna, do tempo que virá”). É claro que isso não cabe para todo mundo. Mas como poucos entendem realmente porque essa ou aquela equipe vence, ou porque esse ou aquele projeto dá certo, cada vez mais quem vence e dá certo vencerá mais e dará mais certo. Quando os outros acordarem, já terão levado embora a mesa do café da manhã e do almoço.
 
Muitas são as informações que em diversas esferas podem colaborar para o sucesso de uma equipe dentro de campo (e fora também).
 
Imaginemos por exemplo, um treinador, que ao entrar em campo sabe detalhes longitudinais de avaliações físico-técnico-táticas-mentais dos jogadores adversários, seus históricos e características; imaginemos a possibilidade de que seus jogadores possam conhecer exatamente o perfil do árbitro responsável pela partida, suas características, comportamento e padrões, e a partir disso definir certas estratégias de atuação; imaginemos que ele (o treinador) possa quase que prever quais serão as condutas do treinador adversário de acordo com cada situação do jogo, decisões e alterações; e que ele (o treinador) ainda conheça tudo sobre o ambiente do jogo e saiba exatamente o que dizer nas entrevistas pré e pós partida, de maneira planejada, e de forma que isso possa se reverter a favor de sua equipe. Quanto amplificadas ficariam as chances de vencer?
 
Seja qual for a esfera; do Gerente Executivo na sala de administração de um departamento profissional ao jogador de futebol dentro do campo, a informação privilegiada é fator determinante do êxito ou do fracasso.
 
Hoje, o VENCER o jogo dentro de campo taticamente começa fora do campo, com inteligência, com informações que “evitem tiros e economizem balas pegando o bandido antes dele agir”.
 
E para não parecer apenas um devaneio, posso dizer que os Serviços de Inteligência no futebol já existem (ainda que sejam pouquíssimos). E com maior ou menor competência e “inteligência” têm colaborado para que os êxitos de algumas equipes nas competições e na sua saúde financeira não sejam “anarquias do acaso”.
 
UMA DEIXA
 
Tive o privilégio de acompanhar de perto o trabalho do mais competente, inteligente e criativo Serviço de Inteligência voltado para o futebol que existe no Brasil (não tenho dúvidas que em breve será o mais completo e inteligente dentre todos de todos os continentes, com um banco de informações fabuloso – não estou exagerando – será o MI6 do futebol). Logo vamos ouvir falar dele.
 
Porém, por enquanto, como todo Serviço de Inteligência que se preze, faz um trabalho quase secreto (e também por enquanto, vai ficar assim).
 
Como está no futebol, obviamente, com freqüência é confundido com serviço de informática. Mas como ressaltam os “agentes” “Dyandrady”, “O B
ald” e “Sugarfree” (do mencionado Serviço de Inteligência), faz parte da estratégia permitir essa “confusão”.
 
É que no final eles sabem que o que precisam mesmo, é repassar a informação para quem pode recebê-la. E quem pode sabe bem a diferença entre o que é importante e o que é relevante, entre o que é prioridade e o que é emergencial, entre inteligência e informática.
 
Então como canta Lulu Santos; “Olha meu bem o céu; Vê quanta luz, quanta estrela; Quase todas mortas; Só não é chegado para nós o tempo que se apagarão; A gente tá na lanterna, do tempo que virá”.
 

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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A Timemania e a isonomia dos clubes

Como já é de amplo conhecimento dos leitores da Universidade do Futebol, este ano está previsto o lançamento da loteria federal conhecida como Timemania, que auxiliará, dentre outras coisas, os clubes de futebol a saldarem suas dívidas com a Receita Federal, INSS e FGTS.
 
Como também já explicamos anteriormente, de acordo com o Decreto n. 6.187/07, determinados clubes foram escolhidos com base em um critério objetivo criado pelo Governo Federal para que cedessem suas imagens, logo, hino, etc, ao governo, em troca de percentual na arrecadação da loteria.
 
Também foi facultado aos clubes parcelarem suas dívidas com aquelas autoridades públicas (Receita, FGTS e INSS) em até 240 meses, o que possibilitaria a obtenção das necessárias Certidões Negativas (ou positivas com efeito de negativas).
 
Diante desse cenário, tivemos a oportunidade de opinar acerca da possibilidade de outras agremiações terem acesso à Timemania, além daquelas já elencadas no Decreto.
 
Entendemos que, pelo princípio da isonomia, os clubes poderiam pleitear eventual possibilidade de parcelamento de suas dívidas da mesma forma que os clubes elencados pelo Governo Federal. A princípio não existe diferença suficiente entre o grupo de clubes da Timemania e os demais clubes brasileiros que permitissem o Governo de realizar essa distinção.
 
Ressalte-se que, em nossa opinião, uma vez tendo sido estabelecido o critério, os demais não teriam o direito de participar da loteria, mas, tão somente, do benefício do parcelamento de débitos previsto no decreto em questão.
 
Aliado a essa opinião legal, transmito também minha discordância com o critério estabelecido pelo Governo. Nitidamente, a escolha foi feita de forma que os clubes que possuissem mais dívidas (aqueles tradicionais) fosse incluídos, não beneficiando, portanto, aqueles novos clubes, organizados, e com suas contas em dia.
 
De toda forma, em termos legais, temos que os clubes que não preenchem os requisitos legais, não teriam efetivamente chances de participar do concurso.
 
Essa semana, foi noticiado na mídia um caso envolvendo o Brasil de Pelotas que, aparentemente, teria pleiteado em juízo a inclusão na Timemania sem preencher os requisitos legais.
 
Em sede de liminar, o Superior Tribunal de Justiça indeferiu o pedido do clube. Segundo foi veiculado, o STJ, na pessoa do Ministro Raphael de Barros Monteiro Filho, não entendeu que existiam os pressupostos para a concessão da liminar. A linha de argumentação do ministro, bem como o exato pedido do clube gaúcho, entretanto, não foram divulgadas.
 
Caso o clube tenha pedido a inclusão do clube no prognóstico, temos nossa opinião confirmada pelo STJ. Resta saber se o clube também pedirá, de forma alternativa, a inclusão no benefício do parcelamento, e qual será o posicionamento do Judiciário.
 

Temos que acompanhar com atenção esse desenrolar, para informar aos nossos leitores as tendências de nossos tribunais com relação a essa questão.

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Round One, Fight!

Uma das minhas primeiras contribuições aqui para a Universidade do Futebol foi sobre o caso Charleroi e o seu possível impacto no mundo do futebol. No caso, o Royal Charleroi, um clube belga, levou a Fifa à justiça por conta da contusão de um dos seus principais jogadores, Abdelmajid Oulmers, em um amistoso da seleção marroquina contra Burkina Faso. Devido à contusão, o Charleroi não conseguiu se classificar para a Champions League e acabou deixando de ganhar uma soma considerável de dinheiro. Como alguém tinha que pagar a conta, o Charleroi foi pra justiça.
 
Sabendo do caso, o G-14 não perdeu tempo e correu pra apoiar o Charleroi, afinal o julgamento seria no mesmo país que revolucionou o mundo do futebol com o Caso Bosman. E se no Caso Bosman o caso se resumia a jogadores querendo mais poder dentro do sistema do futebol, o caso Charleroi fazia o mesmo para os clubes. A idéia por trás do intenso apoio do G-14 ao caso era tirar mais poder da Fifa e outras federações e fazer com que elas passassem a levar os clubes mais em conta. A Fifa estava começando a ganhar muito dinheiro, e os clubes, como legais detentores dos contratos dos jogadores, queriam a sua parte. Queriam dinheiro e poder.
 
Com as armas em punho, clubes e federações foram à luta. Uma longa e complicada luta. Oulmers se machucou em novembro de 2004. Três anos e dois meses depois, soou o gongo final. E ninguém sabe direito quem ganhou.
 
Anteontem, Fifa, Uefa e os principais clubes da Europa por fim chegaram a um acordo, ainda a ser consolidado, que basicamente acarreta na dissolução do G-14 e na fundação de um novo órgão de governança, chamado de Associação Européia de Clubes (European Club Association), que será constituído por mais de 100 clubes de todas as 53 associações reconhecidas pela Uefa. A organização será reconhecida tanto pela Fifa quanto pela Uefa, mas funcionará de forma independente.
 
Teoricamente, é um claro sinal do aumento do poder dos clubes de futebol em relação às federações nacionais e internacionais, o que na verdade pode ser entendido como a racionalização do sistema mercantil dentro do ambiente do futebol. Faz todo o sentido clubes terem o direito de poder se sentar à mesa junto com os órgãos governamentais e demandar que parte do bolo seja repartido também com eles.
 
Entretanto, uma das grandes ameaças do G-14 ao sistema atual era a criação de uma liga européia de clubes independentes, o que certamente alteraria todo o cenário atual e possivelmente enfraqueceria os órgãos reguladores. Com o acordo a ser selado, essa possibilidade praticamente deixa de existir, uma vez que o novo órgão dificilmente manterá a coesão e solidez do G-14, além de aparentemente se tratar de uma ação amigável entre todas as partes.
 
A independência dos maiores clubes europeus era a maior ameaça que existia para o império global da Fifa, e consequentemente da Uefa. Talvez por isso que Blatter e Platini tenham saído com um sorriso tão grande da reunião e anunciado que “uma coisa muito especial aconteceu”. Alguns analistas dizem que a formação da Associação Européia de Clubes é o acontecimento político mais importante desde a formação da própria Uefa.
 
Difícil acreditar que o G-14 deixe de exercer o seu poder dentro da nova associação e que clubes menores consigam impedir que clubes maiores acabem tomando decisões que os favoreçam. Além disso, não dá pra ser preciso em afirmar que os clubes vão ganhar ou perder poder com a criação da Associação e com a dissolução do G-14, uma organização cuja capacidade de coesão interna dificilmente poderá ser nivelada pelo novo órgão criado. Pode ser uma jogada da Fifa e pode também ser uma jogada dos clubes. Como os objetivos dos dois lados continuarão conflitantes, é ingenuidade acreditar que as medidas pacificarão os conflitos existentes. O tempo vai dizer quem ganhará a queda de braço.
 

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A fé é cega

Kaká é indiscutivelmente o melhor do mundo. Já falamos sobre isso em outras colunas, já lembramos todas as características que fazem dele o craque do momento. Bom moço, boa família, bom caráter, cabeça no lugar, desempenho dentro de campo insuperável.
 
Mas Kaká não é perfeito, apesar de mais uma atuação sua no último domingo pelo Milan ter sido simplesmente digna de nota máxima.
 
A promoção de Kaká a melhor jogador do mundo ampliou ainda mais a mídia sobre ele, que já era gigantesca desde o gol que decidiu o título do Rio-São Paulo de 2001 para o São Paulo e alçou o então Cacá ao estrelato no futebol do Brasil.
 
Hoje, tudo o que Kaká faz torna-se motivo de manchetes nos jornais do mundo inteiro. Obviamente sem o frenesi de David Beckham, mas tão impactante quanto o meia do LA Galaxy e futuro astro de Hollywood. Por conta dessa mídia exacerbada sobre ele, Kaká não pode escorregar em nenhuma coisa que faz.
 
E Kaká, cada vez mais, parece que não dá motivo para escândalos e destruição de sua imagem. Não há noitada regada a mulheres e bebida. Não há nem mesmo comparecimento a festas em que estejam presentes celebridades do mundo da moda de Milão.
 
Kaká é avesso à badalação. É um cara família, caseiro, daqueles que, se não fosse jogador de futebol, iria ser o típico pai de família de classe média. Assim como é seu Bosco, o pai de Kaká. Mas dessa união familiar de Kaká pode surgir, hoje, o grande problema para a imagem do melhor jogador do mundo na atualidade.
 
Não por maldade, muito menos por falta de caráter, mas por fé.
 
Kaká nunca escondeu sua devoção a Jesus Cristo. Desde a maneira como celebra seus gols, erguendo as mãos aos céus como se estivesse sendo abençoado por mais uma conquista, até à celebração de Ano Novo na igreja que o acolheu, confortou e ajudou no momento mais difícil da vida, quando corria o risco de ficar paraplégico.
 
O problema é que a igreja que Kaká sempre freqüentou, ajudou e ajuda até hoje está envolvida num escândalo mundial de lavagem de dinheiro. Seus fundadores, o casal Hernandes, são acusados ainda de estelionato e falsidade ideológica, estando atualmente presos nos Estados Unidos.
 
A fé de Kaká o permite que acredite na inocência de Sonia e Estevam Hernandes. Tanto que o atleta já declarou publicamente apoio incondicional a ambos. Afinal, a família de Kaká sempre esteve próxima de ambos, por amor ao filho, por crença em Jesus Cristo, assim como outros milhões em todo o mundo.
 
Só que, hoje, para o bem de sua profissão e sossego, Kaká deveria manter sua imagem afastada da igreja. Isso não significa abandoná-la, muito menos publicamente mostrar repulsa à religião. Afinal, isso não combina nada com ele. Assim como um escândalo de lavagem de dinheiro, estelionato e falsidade ideológica.
 
Mas Kaká, por ter uma família tão bem estruturada, é o único jogador eleito o melhor do mundo na última década que não tem um staff de profissionais auxiliando-o no gerenciamento de sua imagem. Sempre saiu do bom senso de sua família e dele mesmo as principais decisões de como fazer para sempre ser visto como o craque que é.
 
Só que a fé é cega. E, hoje, essa fé pode prejudicar a imagem de um jogador, que até então, parece ter tudo para ser um dos mais completos da história do futebol mundial.
 

Kaká pode ser visto como um menino ingênuo que se meteu numa fria. Mas hoje seria muito melhor que ele orasse de casa mesmo. Só para não dar mais trela a um caso que, hoje, é questão para ser resolvida pelas polícias do Brasil e dos Estados Unidos.

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