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Diálogo social – da Europa para as Américas (parte 2)

Caros amigos da Universidade do Fubebol,

Como sabemos, o futebol atingiu na atualidade um nível muito alto de popularidade em todo o mundo. Em raríssimas exceções como nos Estados Unidos e Índia o futebol não é o esporte mais praticado e assistido pela sociedade.

E foi justamente por conta dessa popularidade que o esporte ganhou contornos comerciais relevantíssimos. Os melhores jogadores recebem altos salários, direitos de imagens são vendidos a preços aviltosos para empresas de mídia, e empresas pagam verdadeiras fortunas para estarem nos melhores lugares das melhores competições e clubes.

Quando o esporte chega a esse nível, o grande desafio passa a ser a manutenção da posição. Novos desafios passam a existir, ameaçando a atual situação de popularidade e comercialização do esporte.

Um deles, que gostaríamos de abordar nesta coluna, é a indústria das apostas e as atividades irregulares de manipulação de resultados. Esse problema se alastra pelo mundo. De diversas formas. A Juízes, jogadores, e, por vezes, a times inteiros, são oferecidas quantias e benefícios para distorcerem o desfecho natural de uma partida.

No Brasil tivemos recentemente descoberto um grande esquema de arbitragem e manipulação de resultados. Na Italia idem. Em Portugal, o famoso “processo do apito dourado” também está estampado em todos os jornais esportivos. O Caso do FC Porto é destaque atual (vide comentário abaixo).

Enfim, todos esses problemas causam um descrédito por parte de torcedores, telespectadores, etc, causando, em efeito cascata, um descrédito por parte de empresas patrocinadoras, meios de comunicação. Ao final das contas, é um “vírus” que pode levar a uma queda da popularida de futebol e uma perda econômica generalizada.

Vejam que as apostas ilegais conseguem ter piores efeitos do que outros problemas, como o doing por exemplo. Neste, os atletas tomam medicamentos irregulares para, ao menos, vencerem as competições (que é o princípio básico das competições). Naquele, os desvios de conduta levam atletas e times a perderem jogos, o que desvirtua completamente o esporte. 

Com essa visão sobre a importância deste problema, na Europa diversas medidas já estão sendo tomadas. Uma delas, acontece na organização em que atualmente estou envolvido. A Associação das Ligas Profissionais Européias vai assinar na próxima segunda-feira, uma cooperação com a ESSA (empresa que trabalha com segurança em apostas esportivas na Europa).

De acordo com esse acordo, qualquer irregularidade em padrões de apostas, ou qualquer conflito de interesses identificado nas casas de apostas, será imediatamente comuncado aos órgãos desportivos competentes para que, eventualmente, possa ser suspensa uma partida em que sejam constatados elementos suficientes para indicar “apostas irregulares”.

Essa é uma das iniciativas. Mas outras também podem ser pensadas, com base na cultura e costumes de cada país. No Brasil, as apostas são detidas pelo Estado, e não são como na Europa. 

O importante não é “como fazer”, mas sim “efetivamente fazer”. Para que o futebol continue representando um importante elemento na vida da grande maioria das pessoas que habitam este planeta.

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Viagem peculiar

Fui a Manaus por uns dias, e acabei me deparando com algumas coisas muito curiosas, em especial no dia que fui fazer um pequeno city tour pela cidade.

Vale a visita. Manaus é uma cidade peculiar. Primeiramente porque é quase uma metrópole e fica no meio da floresta amazônica, o que por si só já dá diversos subsídios para a compreensão dessa peculiaridade. Um segundo fato é que o único jeito de chegar de carro por lá é indo até Belém, pegar uma balsa e subir o rio com ela por cerca de cinco dias. Isso também torna Manaus uma capital bastante peculiar.

Mais interessante, porém – pelo menos para aquilo que interessa essa coluna, é a relação entre a cidade e o futebol. Não há dúvidas de que o esporte desempenha um importante papel na cidade. O como que ele faz isso é que é passível de discussão.

Eu tenho o estranho costume de, sempre que possível, comprar, ou pedir, camisas de clubes de menor expressão nacional. Foi assim que minha coleção pôde contar com réplicas do uniforme do Francisco Beltrão – PR, Juventus-SP, Jabaquara-SP, ABC-RN, entre outras. Uma das minhas missões em Manaus era conseguir uma camisa de algum time de lá, embora eu já tivesse a do Nacional, eu acho. Talvez seja a do São Raimundo, não lembro bem. A minha preferência era por uma camisa do Fast, mas qualquer outra tava valendo.

Parei em uma loja de esportes grande e fui pesquisar. O vendedor falou ‘Time daqui? Tem nada não. ‘ E não tinha mesmo. Nada. Aliás, em Manaus quase não há resquício do futebol local. Futebol lá é com os times do RJ, em especial o Flamengo. Chega a impressionar. Tudo bem que a fase do Flamengo ajuda, mas o número de pessoas vestindo a camisa do clube e as bandeiras espalhadas por toda a cidade poderiam fazer um turista geograficamente mais desorientado acreditar que o Rio de Janeiro estava logo ali, assim como a África do Sul, que também é logo ali.

As razões para esse fenômeno são variadas, mas principalmente pela disseminação do clube nos anos 70 e 80 como força nacional e também pelo fato de lá o futebol ser essencialmente um produto televisivo. O futebol local, fora o Peladão que é outra história, quase inexiste.

Assim como inexistia a camisa do time de lá. O vendedor acabou me indicando uma outra loja, algumas quadras além, em que pude encontrar uma bela réplica da camisa do digníssimo Atlético Rio Negro Clube. O interessante é que a loja vendia um monte de camisas do mundo inteiro, tudo pirata, e colocava a marca de um patrocinador, o mesmo que no modelo adquirido estampava a camisa do Rio Negro. O patrocinador do Rio Negro era o mesmo que o patrocinador do Milan, do Flamengo, do Olympique e até da Seleção Italiana.

Basicamente, o cara aproveitou que era tudo pirata mesmo e estampou a marca de uma determinada empresa. Imagino que essa empresa tenha pago pra isso. E isso configura uma nova forma de patrocínio/marketing de emboscada jamais vista antes. Pelo menos eu não tinha visto. E, diga-se, é uma forma bastante peculiar. Assim como Manaus. Nada mais justo.

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A arte do discurso

“Agora é o momento de especulações. Kaká, Ambrósio, Pedro ou Paulo. Agora é o momento”.

Em 40 minutos, os jornalistas ingleses puderam conhecer o estilo Felipão de ser. É o perfeito casamento. Na terra em que se pratica o jornalismo mais sensacionalista do mundo, está o mais carismático treinador de futebol dos últimos tempos.

É isso que espera Luiz Felipe Scolari em sua aventura inglesa. E serão com esses Pedros, Paulos e Ambrósios que os jornalistas terão de rebolar para conseguir tirar algo que não tenha sido milimetricamente calculado por Felipão em alguma entrevista ou “deslize” do treinador.

Sim, porque embora o passado revele entreveros de Felipão com a imprensa, o presente mostra a cada dia um treinador mais preparado para lidar com a pressão e muito mais consciente de que é um mal necessário à fama ter os jornalistas no seu encalço.

Quando li, em sites de todo o mundo, o relato do que havia sido a primeira entrevista coletiva de Felipão no Chelsea, senti aquela ponta de inveja. Inveja dos tempos em que ouvíamos e líamos Felipão com freqüência nos jornais, seja no Grêmio, Palmeiras, Cruzeiro ou seleção.

A habilidade de Felipão com as palavras tornou-se ainda maior nos tempos de Palmeiras, quando a imprensa paulistana caiu matando e teve de aturá-lo por três anos ganhando quase tudo o que tinha direito. Depois, os mineiros jogaram-se aos pés de Scolari, que em seguida calou a boca do país. Ou melhor, tirou o grito de pentacampeão mundial da garganta brasileira.

E, em seu primeiro dia na Inglaterra, Felipão se saiu com essa quando perguntaram se Kaká estava próximo de Stamford Bridge. Imaginei, na hora, como o tradutor para o inglês estaria se virando para falar “Peter, Paul and Ambrosio”, com o mais carregado dos sotaques para pronunciar uma palavra latina por excelência como Ambrósio.

Ledo engano. Felipão, já para ganhar a simpatia necessária, arranhou um inglês macarrônico para conquistar mais ainda a exigente imprensa britânica.

É o mesmo que amarrar cachorro com lingüiça. Ou, então, enfrentar Bambalas da vida. Na última semana, foi a vez de Felipão rechaçar qualquer rivalidade com Fabio Capello, o italiano que dirige a seleção inglesa. A pergunta, com a acidez costumeira dos britânicos, era sobre a não-classificação da Inglaterra para a Eurocopa. E a resposta? Bem, essa daí, mais felipônica impossível…

“Não sei o que aconteceu, porque não estava trabalhando com esses jogadores, não trabalho para a seleção inglesa. Mas eu gosto do time da Inglaterra e quero o melhor para ele, porque eu quero o melhor para Capello. Eu gosto muito dele, ele é um dos meus melhores amigos”.

Poderia ter parado por aí. Mas não, Felipão não é apenas politicamente correto. Se ele gosta, ele gosta. E faz questão de explicar o porquê.

“Ele me deu confiança quando comecei a jogar com três zagueiros e, no Brasil, queriam me matar. Eu o encontrei em Roma e ele disse: ‘siga sua idéia’. Eu disse: ‘eles querem me matar’. Ele retrucou: ‘não há problemas. Siga a sua idéia’. Eu gostei dele porque ele me deu confiança quando precisei”.

Mais Felipão impossível. E, com essas e outras, começa a hora de Scolari se transformar no Big Phill inglês, reconhecido e idolatrado por todos. A começar pela imprensa mais exigente do mundo…

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A velocidade tática no futebol

Comecemos hoje com o conto do “Macaco que queria ser mais rápido do que o Guepardo”.
 
“Depois de muitos anos sem se ver (havia pelo menos três, desde a última conversa no zoológico), o “Macaco da Floresta” e o “Guepardo das Savanas” marcaram de se encontrar. Já na época do zoológico, os bichos mais chegados viviam desafiando os dois amigos a provar quem era o mais rápido. O guepardo, famoso pelas arrancadas nos descampados do zôo, nunca se incomodou; sempre teve claro para si que era o mais rápido. O macaco, por sua vez, acreditava que nenhum outro animal poderia ser mais rápido do que ele nos emaranhados labirintos de árvores da mini-floresta em que vivia.
 
Meio-dia era o horário do encontro; mas faltando cinco minutos, lá já estavam os dois a conversar. Falaram do passado, das saudades, da boa e velha amizade e (impossível não resgatar o assunto!) sobre o “desafio da velocidade”.
 
Os dois perceberam que se esperassem mais algum tempo, com a idade chegando, já não estariam aptos a desenvolver as grandes velocidades que os faziam famosos no zoológico. Como não sabiam quanto tempo mais levariam para se encontrar novamente resolveram enfim colocar em prova o desafio.
 
O guepardo, sem hesitar, logo propôs uma corrida de 300 metros numa savana próxima dali. O macaco, reflexivo, não gostou muito da idéia e disse que o melhor mesmo era que corressem por um trecho de 500 metros por uma floresta que os humanos chamavam de Amazônia.
 
Como não chegavam a um consenso, sabiamente resolveram fazer duas provas: uma na savana e uma na floresta.
 
Sem avisar os outros bichos (só a águia ficou sabendo), prepararam o desafio. No primeiro dia iriam à savana, e no outro à floresta.
 
Na savana, com mais de 15 segundos de diferença, o guepardo venceu tranqüilo e sorridente. O macaco, por mais que tenha se esforçado, não conseguiu chegar nem perto.
 
Na floresta, não teve jeito. O guepardo acelerava e logo dava de frente com uma árvore. A cada um ou dois segundos precisava desviar de um obstáculo. Resultado: com mais de 15 segundos o macaco chegou na frente.
 
Embaraçados e sem saber quem era o mais rápido, consultaram a velha e sábia águia, que sem pestanejar logo concluiu: vocês dois são os mais rápidos. Cada um no seu ambiente específico; cada um naquilo que faz diariamente no seu habitat.
 
O guepardo, insatisfeito com a conclusão da águia, resolveu consultar uma equipe de bichos fisiologistas acostumados a trabalhar com atletas. Depois de algumas fotocélulas e alguns “tiros” (leia sprints) de 30, 40, 100 e 400 metros a conclusão (os fisiologistas foram taxativos!) chegou nua e crua: o mais rápido era o guepardo.
 
Como o macaco e o guepardo eram amigos e não queriam ficar discutindo o assunto, foram até a casa do macaco na floresta beber uma “seiva”. E foi aí que ocorreu uma tragédia. Depois da queda de um balão a floresta ficou em chamas e o fogo rapidamente começou a se alastrar. Quando o macaco e o guepardo perceberam já era tarde e precisaram sair correndo (estavam a uns 30 segundos da clareira mais próxima).
 
Tinham que correr; rápido, 30 segundos talvez não fossem tempo suficiente. E realmente não foi. O macaco conseguiu escapar (em 10 segundos estava livre do fogo). O guepardo, pressionado pela necessidade de ser rápido e desorientado pelas mudanças de direção que fazia para não bater nas árvores, acabou virando cinzas junto com elas.
 
Ainda que isso tudo seja somente um “conto”, me traz boas reflexões a respeito do jogo de futebol.
 
Em um passado recente, o futebol fora dominado pelo raciocínio de que a “supremacia” física seria (além do fim do futebol arte) a solução imediata para conquistar êxitos nos resultados dos jogos. Jogadores mais fortes, velozes e resistentes levariam vantagem sobre seus pares não tão avantajados, e esse deveria ser o novo norte da preparação do jogo.
 
Sem a intenção de tornar essa discussão mais polêmica do que ela já é, discutirei esse raciocínio na perspectiva da velocidade do jogo; ou melhor, no quanto o jogo veloz pode ser vantajoso.
 
Já diria Verkhoshansky há mais de 20 anos que a velocidade é a variável mais importante no desporto de alto rendimento. Vence aquele que consegue realizar ações eficazes mais rapidamente. Então, no xadrez, vencerá aquele competidor que tiver maior velocidade para tomar decisões acertadas contrapondo o jogo adversário. Nos 100 metros rasos do atletismo, vencerá aquele que cumprir a tarefa de correr em linha reta em um tempo menor do que o dos adversários.
 
E no futebol, que velocidade é essa?
 
No futebol, assim como em outros esportes coletivos, ser mais veloz não significa correr mais rápido. Também não significa apenas pensar mais rápido. Nesse nosso artístico esporte, ser mais veloz significa ler muito bem e rapidamente o jogo (compreendendo sua lógica), tomar decisões rapidamente (em “milissegundos”) e transformar em ação o pensamento que apontou solução à situação-problema.
 
Pois bem. Muito do que se tem hoje como prática do treinamento desportivo é herança das práticas concebidas e desenvolvidas para serem aplicadas no atletismo. Muitos cientistas do desporto, preparadores físicos e treinadores de futebol (dentre tantos outros) passaram (e muitos permanecem até hoje) décadas transferindo para esportes como o futebol, conteúdos e conhecimentos nascidos no atletismo.
 
O problema, porém, é que tal transferência decorreu da preocupação com o treinar desvinculado do jogar. Em outras palavras, fracionaram o jogo nos elementos que o compõe (corridas, trotes, sprints, cabeceios, chutes, saltos, etc. e tal), na tentativa de ao juntá-los ter o jogo de futebol como resultado.
 
Como o argumento inicial de se trabalhar as partes com a finalidade de melhorar o todo fora incisivo, pontual e sedutor, acabou por contaminar diversas áreas viventes no entorno do futebol; ganhou forças e hoje custa a ser desconstruído.
 
Ainda hoje, tornar um jogador de futebol veloz é sinônimo de fazê-lo correr mais rápido. Alguns até já evoluíram dessa etapa, mas acabaram por recair na generalidade de tornar o ato motor mais rápido, seja ele qual for.
 
Pois bem. Pelo menos desde 1960 existem trabalhos científicos apontando que a possibilidade de melhora do tempo de reação em ações motoras que envolvem reações simples (sem tomadas de decisão que exijam qualquer nível de reflexão) pode chegar a 18%. Já àquelas que exigem análise para posterior tomada de decisão, cerca de 40% (dados das pesquisas de Simkin (1960), Hollmann, Hettinger (1980), Tanaka (1999), Shaff (2006)).
 
As pesquisas têm mostrado que o tempo total de uma ação motora (da percepção do estímulo até a ação propriamente dita) sofre acréscimo de meio segundo em exigências de decisão simples e de aproximadamente 1,5 segundos em ações que envolvem exigências complexas.
 
No jogo de futebol, a dinâmica tática coletiva traz intensa e grande complexidade às situações-p
roblema. Então, a tomada de decisão do jogador tem grande influência no tempo total da sua ação. Não que a manifestação física da sua tomada de decisão não seja importante (não é isso!). O fato é que se atingindo medianamente níveis de manifestação da velocidade da “ação física”, ter-se-á aptidão para cumprir outras manifestações da velocidade no jogo.
 
O futebol é tático-técnico-físico, e há de se entender como isso se manifesta no jogo.
 
Aumentar a velocidade do jogo não significa correr mais rápido, porque sob o ponto de vista tático não é necessário correr mais rápido; é necessário chegar primeiro.
Correr nas savanas não tem nada a ver com correr na floresta. Ser mais rápido nas savanas não significa ser mais rápido nas florestas.
 
Correr de um ponto a outro do campo de jogo em maior velocidade não significa ser rápido para jogar futebol.
 

“Penso que tem de haver no fundo de tudo, não uma equação, mas uma idéia extremamente simples. E para mim essa idéia, quando por fim a descobrirmos, será tão convincente, tão inevitável, que diremos uns aos outros: Que maravilha! Como poderia ter sido de outra maneira?” (John Archibald Wheeler)

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Palavras do presidente…

Caros amigos da Universidade do Fubebol,

Ontem o mundo do futebol ouviu as palavras do Presidente da FIFA Sepp Blatter na Sky Sports, sobre o caso da possível transferência do atacante português Cristiano Ronaldo do Manchester United para o Real Madrid. 

Segundo Blatter, o Manchester não pode segurar o jogador caso não seja sua vontade permanecer no clube. Além disso, sugeriu haver uma “escravidão moderna” dos jogadores com relação a seus clubes.

Essas declarações são, no mínimo, surpreendentes. Desde o caso Bosman, e suas consequências no mundo das transferências de jogadores, todos os clubes reclamam ter havido uma abertura excessiva das transferências, uma vez que se extinguiu com o chamado “passe” do jogador. O final dos contratos, os jogadores poderiam trocar de clubes livremente e sem qualquer pagamento ao clube anterior.

Mais do que isso, com o recente caso Webster, exaustivamente comentado na mídia e inclusive por nós, os jogadores que ultrapassarem o chamado “período de proteção”, que varia de dois a três anos contados da data da assinatura do contrato de trabalho, dependendo da situação específica do jogador, podem ser transferidos sem que se aplique qualquer sansão desportiva, mediante o pagamento de apenas os valores pendentes para o término do contrato.

Agrega-se ainda o fato de que poucos clubes conseguem efetivamente indenizações justas por formação de jovens talentos, uma vez que as leis e regulamentos são de difícil execução prática. O que normalmente acontece é a tomada hostil desses jovens talentos por parte de clubes com maior poderio econômico.

Com todos esses eventos, os clubes devem fazer uma verdadeira ginástica jurídica para serem recompensados pelos gastos efetivamente empenhados na formação e manutenção de seus atletas. E por melhor que seja sua administração, por conta da forte concorrência e enorme pressão existente, é praticamente impossível para um clube profissional de futebol manter um balanço positivo.

É justamente com esse cenário que o Presidente da FIFA alega ainda existir uma escravidão moderna dos atuais jogadores de futebol profissional. Ouvir é fácil. Difícil é concordar.

Caso FC Porto

Está marcada para a próxima segunda-feira o julgamento, no Tribunal Arbitral do Esporte, o caso envolvendo a participação do FC Porto na Liga dos Campeões, edição 08/09.

Nossa próxima coluna trará o desenrolar desse caso, que pode também trazer conteúdo emblemático em futuros casos similares, tratando de questões de suma importância para o futuro do nosso esporte, tais como corrupção e manipulação de resultado de jogos.

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Notas, muitas pequenas notas

Quatro, para ser mais preciso. Vamos a elas:

1-    Notícias cada vez mais freqüentes dão sinais de que a ampla oferta de crédito recente no mercado brasileiro começa a gerar problemas para a população de menor renda. Muitas dívidas aliadas à crescente inflação dos setores mais básicos de consumo, principalmente alimentação, implicam em dificuldades em continuar adimplente. Menos dinheiro disponível afeta, obviamente, o setor de recreação e lazer. Menos dinheiro disponível para o lazer, menos dinheiro disponível para o futebol. Não que isso vá ter um efeito devastador no futebol brasileiro, mas certamente afeta as projeções de crescimento do mercado para os próximos anos. E faz com que planos para estádios e afins fiquem sujeitos a possíveis revisões.

2-    Um importante jogador de um importante clube de futebol brasileiro disse em entrevista esses dias acreditar que o verdadeiro torcedor é aquele que vai ao estádio independente de tudo, que por vezes deixa de comprar comida para ir ao estádio, e que ele acha isso super bacana. Não, não é nada bacana. Não mesmo.

3-    Joan Laporta está se segurando por um fio na presidência do Barcelona. Dois anos atrás, quando o Barcelona ganhava tudo, ninguém ousaria questioná-lo. Quiçá o considerariam o melhor presidente do mundo. Depois de dois anos sem ganhar nada, a coisa mudou e a destituição do cargo parece iminente. São as maravilhas do regime associativo. Há quem goste. O Laporta, nesse momento, certamente odeia.

4-    Platini está encabeçando uma nova encruzilhada. A bola da vez é a busca pelo esfriamento do mercado de salários e transferências europeu, que cada vez mais ruma ao insustentável. Para isso, ele adotou a estratégia mais básica para esse tipo de controle, que é a instituição de um teto salarial para o futebol europeu. Historicamente, outras organizações, como a Football League até os anos 60, já adotaram essa prática. Nunca deu muito certo no mundo globalizado, uma vez que o futebol em geral é um mercado aberto. Teto salarial é bom pra ligas fechadas, como as americanas, por exemplo. Em ligas abertas, em que o mercado dos jogadores é amplo e não controlado, fica quase impossível instituir um teto salarial. Com um máximo de salário em um mercado, a tendência é que os jogadores busquem maiores salários em outras ligas. Caso instituíssem um teto no mercado inglês, por exemplo, os melhores jogadores se transfeririam para outros mercados que estivessem dispostos a arcar com maiores custos, como o espanhol. Fechando o mercado europeu como um todo, as portas estariam abertas para o oriente médio e, talvez, os Estados Unidos e México. Não por acaso, a Premier League já disse que é contra a idéia. O Platini está aproveitando que a França acabou de assumir a presidência do Conselho da União Européia para ver se consegue viabilizar politicamente o projeto. É uma medida meio batida e que dificilmente vai dar em alguma coisa. Mas se der, vai mudar muita coisa.

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Morrendo pela boca

Renato Gaúcho assumiu publicamente a bronca de ser, como treinador de futebol, o mesmo cara polêmico e irreverente que era como jogador. Comprou a briga com toda a imprensa ao dizer que o Fluminense faria quantos gols fossem necessários para ser campeão da Libertadores.

O problema é que seus comandados fizeram apenas o necessário para levar o jogo para os pênaltis. Aí…

Renato morreu pela boca. Falou tanto antes que, ao final, só restou mesmo dizer que havia sido “nocauteado”. A derrota, em pleno Maracanã, após um primeiro tempo arrasador, um início de segundo muito bom e mais 60 minutos (entre o jogo estar 3 a 1 e encerrar a prorrogação) de pernas cansadas, revelou que técnico não é jogador.

Dos ex-grandes jogadores da história e bons técnicos do presente, Renato se mostra ser um deles. Por mais que se reclame das entrevistas com óculos escuros, do estilo marrento de ser, das polêmicas declarações, Renato mostra cada vez mais que sabe comandar uma equipe.

Mas agora, por falar demais, Renato começa a ser bombardeado pela opinião pública. Enquanto o Flu ia bem, dar entrevista de óculos escuros era “estilo”. Se o time ganhava tal qual ele prometia, era “carisma”. E Renato já começava a ter o nome ventilado para a Copa de 2014!!!!

Agora tudo mudou. Renato é infantil, não sabe separar o gramado da área técnica, ainda pensa que pode falar como quando era jogador, etc.

Mais uma vez a imprensa mostra que trabalha com o resultado. Sem o título, Renato se transformou em vilão. Seu estilo, até então elogiado, passou a ser visto como precipitado, fanfarrão, fora do padrão para um treinador de ponta.

Renato Gaúcho é excelente treinador. Teve ótimos resultados com Vasco e Fluminense, levou um desacreditado Tricolor do Rio ao vice-campeonato da Libertadores. Mostrou que sabe trabalhar tanto com um time mediano, como era o Vasco de dois anos atrás, quanto com uma equipe estrelar, como foi o Flu destes dois últimos anos.

Mas agora, infelizmente, a batata começou a assar. Corretamente o Flu priorizou a conquista continental para então começar a pensar no Campeonato Brasileiro. Renato já disse que colocará o time entre os quatro primeiros. Mas, até agora, ele é o primeiro dos últimos.

O estilo Renato é de continuar a falar que é possível. Mas precisa ver se a imprensa está madura o suficiente para ver o discurso como uma forma de motivar os atletas e tirar o foco de outras eventuais picuinhas que podem surgir. Se não, ninguém garante Renato até o final da temporada…

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A tática do chutão

O “chutão” é cada vez mais elemento comum, presente em jogos de futebol das mais diversas categorias e competições.

Antes porém, em tempos remotos, sintoma e identidade de jogadores tidos como de qualidade técnica duvidosa; hoje, requisito necessário, solicitado e exigido de um jogador que “joga sério”. Que inocência!

Existem teorias e mais teorias que tentam justificar, explicar o que ora parece óbvio, ora inexplicável. O fato é que hoje em dia o futebol parece mais um “gol a gol” (ou uma briga de gigantes que disputam bolas aéreas) do que um jogo que possibilita diversas estratégias de construção, com toques de bola, dribles e movimentações envolventes.

Interessante notar que na maior parte das vezes que uma equipe (especialmente no Brasil) que marca pressão ou faz pressing, recebe como resposta adversária o “chutão”. Então o jogo acaba por se tornar um pressionar para que o adversário chute, se livre da bola, enfim, devolva-a da maneira menos arriscada possível.

Nada contra as formas incisivas e intensas de se recuperar a posse da bola. O problema na verdade é ter no chutão a única alternativa de jogo para romper com a pressão adversária.

No Brasil, muitas equipes exercem pressão alta sobre a bola e têm nessa estratégia característica importante na sua forma de jogar. O problema é que essa pressão muitas vezes não faz parte da arquitetura coletiva da equipe; é uma pressão individual. Como é individual, torna-se difícil admitir que o chutão seja a melhor opção para vencê-la (a pressão).

Em algumas equipes brasileiras, argentinas e européias a pressão dá lugar ao pressing e à sua elaboração coletiva; o que torna mais difícil a circulação da bola pela defesa adversária e por algumas vezes pode justificar o chutão como alternativa. Como o “muitas vezes” não quer dizer “sempre”, e como o chutão não é estatisticamente a ação mais eficiente para êxitos ofensivos, foram aparecendo especialmente nas equipes holandesas, inglesas e espanholas, estratégias de anti-pressing.

Todas as vezes que uma equipe recebe pressing, encontra, na maior parte das vezes, como melhor solução o chutão em profundidade (maior profundidade possível). Outras alternativas parecem ficar esquecidas (ou melhor escondidas, como se não existissem).

Na maioria das ações de pressing a equipe que a realiza consegue vantagem numérica na região próxima a bola, com limitação espaço-temporal imposta ao jogador que tem a posse da bola. Há também proteção organizada de áreas de jogo de maior importância e desequilíbrios controlados e propositais de regiões (posições de campo) tidas como menos valiosas – que ficam “menos cobertas”.

Essas regiões não sofrem ou sofrem menos pressão e tem portanto uma característica importante: possibilitam ações com bola de trânsito menos turbulento e congestionado.

Na prática, essas regiões de menor pressão acabam na maioria das vezes, presentes em faixas do campo opostas horizontalmente (em largura) àquelas que estão recebendo pressing (quando o pressing ocorre em profundidade). Quando o pressing é em largura, essas regiões acabam na maior parte das vezes ocorrendo entre a linha de zagueiros e a do goleiro.

E aí, será mesmo o chutão a melhor estratégia para desbravar pressings e pressões?

É claro que a idéia de tirar a bola da pressão, fazendo-a trocar de faixas do campo de jogo (da esquerda para a direita e da direita para a esquerda), com mobilidade vertical e horizontal é algo mais elaborado do que seqüências de chutões. Mas pode também ser mais eficiente no início da construção de ataques subseqüentes.

Obviamente que para dar chutões, uma equipe não necessita de treinamentos bem estruturados e elaborados, com grandes níveis de exigência e complexidade (ainda que existam pessoas que acreditam no contrário disso).

Obviamente também que alcançar novas possibilidades como criar estratégias para retirar a bola da zona de pressão e possibilitar construções de jogo mais consistentes necessita de uma compreensão do jogo mais elaborada e real. E isso custa mais (mais planejamento, mais conhecimento, melhor trabalho).

Claro, os chutões podem até ser uma boa resposta a uma ou outra situação-problema específica do jogo; mas não a única e tão pouco a melhor.

Afirmar que determinada ação vai ser sempre melhor, em detrimento de uma outra que normalmente é pior é tão imprudente quanto acreditar que dar chutões é mais eficiente para evitar riscos defensivos do que a construção de um jogo elaborado.

O fato é que ter nos chutões a primeira regra de ação em qualquer situação-problema como solução eficiente, contribui muito pouco para o jogo bem jogado e para a construção de possibilidades ofensivas mais eficazes.

Então dar chutões parece ser bom mesmo para o adversário que arma estratégias justamente para forçá-lo (forçar o chutão). E aí como diria não me lembro quem, “em terra de louco, quem é são; é louco”.

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Diálogo Social – da Europa para as Américas

Caros amigos da Universidade do Fubebol,

Temos acompanhado de perto a questão do diálogo social entre empregados e empregadores no setor do futebol na Europa. Como já comentamos no passado, o Tratado da União Européia atualmente em vigor estabelece que a Comissão Européia deve estabelecer diálogos sociais para discussão de assuntos de natureza trabalhistas nos mais diversos ramos de atividade.

Pois bem, havia uma discussão, de aproximadamente dois anos, para que o esporte, e em especial o futebol profissional, fosse também agraciado com o estabelecimento desse diálogo, a nível europeu. Durante esse período, a Comissão Européia procurou reconhecer as partes que seriam, a nível continental, os representantes dos empregados e dos empregadores para o estabelecimento do programa.

Foram então reconhecidas a FIFPro (federação dos atletas profissionais) como representante dos empregados, e a EPFL (associação das ligas profissionais de futebol) como representante dos empregadores. Além delas, foram também incluídas no diálogo social, porém não com o status de “social partners”, a UEFA (confederação européia de futebol) e a ECA (associação de clubes europeus).

Assim, no dia primeiro de julho próximo passado, juntamente com a troca da presidência semestral do Conselho da Europa para a França, foi inaugurado oficialmente, em Paris, o programa do diálogo social europeu no futebol.

Essa data passa a representar um marco na história das relações laborais entre atletas e seus empregadores, em um momento importante do futebol profissional, em que disputas trabalhistas em sede dos tribunais desportivos e arbitrais moldam as regras e a evolução das normas que regulam o esporte.

A expectativa é que, através do diálogo, quaisquer divergências sejam resolvidas de forma amigável entre as partes, evitando-se assim indesejáveis litígios, que na maioria das vezes afetam a tão buscada estabilidade contratual dos jogadores.

O primeiro projeto já foi lançado e será buscar a criação de um contrato de trabalho padrão, a ser negociado entre as partes a nível europeu e aplicado em todos os países aplicáveis. Essa será uma grande oportunidade para que as partes atualizem as cláusulas contratuais com relação às recentes decisões emitidas pela Corte Arbitral do Esporte (dentre elas, a decisão do caso Webster).

Finalmente, importante ressaltar que essa é uma iniciativa aplicável apenas à União Européia, mas que pode, e deve, ser espelhada em outros continentes. Na América do Sul, sabemos que as fronteiras dos países são muito mais definidas do que na Europa. Porém programas dessa natureza poderiam ser aplicadas igualmente ao Brasil apenas (que já teria grande desafio se estabilizasse as relações laborais dentre os seus estados membros).

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Dois Mundos

Poucas coisas demonstram mais a diferença entre o futebol brasileiro e latino-americano do futebol europeu do que uma comparação entre a Copa América e a Eurocopa.

No papel, as duas são essencialmente a mesma coisa. Ambas são os únicos campeonatos de seleções oficiais da confederação continental em questão. Mas se você olhar direitinho, vai ver que as diferenças são gritantes. Quer dizer, talvez a olhada não precise nem ser direitinha. Basta ser uma olhada qualquer que você ainda assim vai conseguir ver as enormes diferenças.

Apesar dos dois serem torneios continentais, existe uma grande diferença entre eles. A Eurocopa assume essa posição como evento continental e abre as portas como um grande evento de confraternização da Europa. Era possível ver, dentro e fora dos estádios, torcedores de todos os países, da Suécia à Turquia, cantando, gritando, confraternizando, bebendo e brigando. Mais ou menos nessa ordem.

O próprio evento em si foi muito bacana. Simples, mas bonito. Poucos novos estádios foram construídos para esse evento, as cerimônias, tirando o Enrique Iglesias, foram bacanas, e o evento veio e foi de forma tranqüila.

Já a Copa América é um evento continental no nome, mas de abrangência local. Difícil supor que muitas pessoas viajaram para a Venezuela para acompanhar a sua seleção. O mais provável é que boa parte da torcida presente nos estádios fosse composta por venezuelanos e por expatriados residentes por aquelas bandas. O evento é das Américas, mas o uso é quase exclusivamente venezuelano.

Lógico que isso tem mais a ver com a estrutura dos continentes em questão do que propriamente com qualquer forma de competência organizacional. Afinal, não dá pra comparar uma viagem de Portugal à Áustria a uma viagem entre Uruguai e Venezuela.

E é aí, bem aí, que está o grande porquê da utilização dos dois eventos como forma de comparação entre a distância do futebol dos dois continentes. Não dá para comparar o futebol latino-americano com o futebol europeu. É impossível. Esqueça o ‘Ah, mas na Europa é assim ou assado’. E daí? São coisas completamente diferentes, não tem nem como chegar perto.

E isso se dá menos pela incompetência gerencial do que com a estrutura dos dois mercados. Tudo bem que uma coisa tem a ver com a outra, mas, de qualquer forma, se os organizadores da Eurocopa viessem trabalhar na Copa América, dificilmente ela ficaria mais atraente.

Até porque você não viu nenhuma seleção da Eurocopa jogando com o time reserva, viu?

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br