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A tática do chutão

O “chutão” é cada vez mais elemento comum, presente em jogos de futebol das mais diversas categorias e competições.

Antes porém, em tempos remotos, sintoma e identidade de jogadores tidos como de qualidade técnica duvidosa; hoje, requisito necessário, solicitado e exigido de um jogador que “joga sério”. Que inocência!

Existem teorias e mais teorias que tentam justificar, explicar o que ora parece óbvio, ora inexplicável. O fato é que hoje em dia o futebol parece mais um “gol a gol” (ou uma briga de gigantes que disputam bolas aéreas) do que um jogo que possibilita diversas estratégias de construção, com toques de bola, dribles e movimentações envolventes.

Interessante notar que na maior parte das vezes que uma equipe (especialmente no Brasil) que marca pressão ou faz pressing, recebe como resposta adversária o “chutão”. Então o jogo acaba por se tornar um pressionar para que o adversário chute, se livre da bola, enfim, devolva-a da maneira menos arriscada possível.

Nada contra as formas incisivas e intensas de se recuperar a posse da bola. O problema na verdade é ter no chutão a única alternativa de jogo para romper com a pressão adversária.

No Brasil, muitas equipes exercem pressão alta sobre a bola e têm nessa estratégia característica importante na sua forma de jogar. O problema é que essa pressão muitas vezes não faz parte da arquitetura coletiva da equipe; é uma pressão individual. Como é individual, torna-se difícil admitir que o chutão seja a melhor opção para vencê-la (a pressão).

Em algumas equipes brasileiras, argentinas e européias a pressão dá lugar ao pressing e à sua elaboração coletiva; o que torna mais difícil a circulação da bola pela defesa adversária e por algumas vezes pode justificar o chutão como alternativa. Como o “muitas vezes” não quer dizer “sempre”, e como o chutão não é estatisticamente a ação mais eficiente para êxitos ofensivos, foram aparecendo especialmente nas equipes holandesas, inglesas e espanholas, estratégias de anti-pressing.

Todas as vezes que uma equipe recebe pressing, encontra, na maior parte das vezes, como melhor solução o chutão em profundidade (maior profundidade possível). Outras alternativas parecem ficar esquecidas (ou melhor escondidas, como se não existissem).

Na maioria das ações de pressing a equipe que a realiza consegue vantagem numérica na região próxima a bola, com limitação espaço-temporal imposta ao jogador que tem a posse da bola. Há também proteção organizada de áreas de jogo de maior importância e desequilíbrios controlados e propositais de regiões (posições de campo) tidas como menos valiosas – que ficam “menos cobertas”.

Essas regiões não sofrem ou sofrem menos pressão e tem portanto uma característica importante: possibilitam ações com bola de trânsito menos turbulento e congestionado.

Na prática, essas regiões de menor pressão acabam na maioria das vezes, presentes em faixas do campo opostas horizontalmente (em largura) àquelas que estão recebendo pressing (quando o pressing ocorre em profundidade). Quando o pressing é em largura, essas regiões acabam na maior parte das vezes ocorrendo entre a linha de zagueiros e a do goleiro.

E aí, será mesmo o chutão a melhor estratégia para desbravar pressings e pressões?

É claro que a idéia de tirar a bola da pressão, fazendo-a trocar de faixas do campo de jogo (da esquerda para a direita e da direita para a esquerda), com mobilidade vertical e horizontal é algo mais elaborado do que seqüências de chutões. Mas pode também ser mais eficiente no início da construção de ataques subseqüentes.

Obviamente que para dar chutões, uma equipe não necessita de treinamentos bem estruturados e elaborados, com grandes níveis de exigência e complexidade (ainda que existam pessoas que acreditam no contrário disso).

Obviamente também que alcançar novas possibilidades como criar estratégias para retirar a bola da zona de pressão e possibilitar construções de jogo mais consistentes necessita de uma compreensão do jogo mais elaborada e real. E isso custa mais (mais planejamento, mais conhecimento, melhor trabalho).

Claro, os chutões podem até ser uma boa resposta a uma ou outra situação-problema específica do jogo; mas não a única e tão pouco a melhor.

Afirmar que determinada ação vai ser sempre melhor, em detrimento de uma outra que normalmente é pior é tão imprudente quanto acreditar que dar chutões é mais eficiente para evitar riscos defensivos do que a construção de um jogo elaborado.

O fato é que ter nos chutões a primeira regra de ação em qualquer situação-problema como solução eficiente, contribui muito pouco para o jogo bem jogado e para a construção de possibilidades ofensivas mais eficazes.

Então dar chutões parece ser bom mesmo para o adversário que arma estratégias justamente para forçá-lo (forçar o chutão). E aí como diria não me lembro quem, “em terra de louco, quem é são; é louco”.

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Diálogo Social – da Europa para as Américas

Caros amigos da Universidade do Fubebol,

Temos acompanhado de perto a questão do diálogo social entre empregados e empregadores no setor do futebol na Europa. Como já comentamos no passado, o Tratado da União Européia atualmente em vigor estabelece que a Comissão Européia deve estabelecer diálogos sociais para discussão de assuntos de natureza trabalhistas nos mais diversos ramos de atividade.

Pois bem, havia uma discussão, de aproximadamente dois anos, para que o esporte, e em especial o futebol profissional, fosse também agraciado com o estabelecimento desse diálogo, a nível europeu. Durante esse período, a Comissão Européia procurou reconhecer as partes que seriam, a nível continental, os representantes dos empregados e dos empregadores para o estabelecimento do programa.

Foram então reconhecidas a FIFPro (federação dos atletas profissionais) como representante dos empregados, e a EPFL (associação das ligas profissionais de futebol) como representante dos empregadores. Além delas, foram também incluídas no diálogo social, porém não com o status de “social partners”, a UEFA (confederação européia de futebol) e a ECA (associação de clubes europeus).

Assim, no dia primeiro de julho próximo passado, juntamente com a troca da presidência semestral do Conselho da Europa para a França, foi inaugurado oficialmente, em Paris, o programa do diálogo social europeu no futebol.

Essa data passa a representar um marco na história das relações laborais entre atletas e seus empregadores, em um momento importante do futebol profissional, em que disputas trabalhistas em sede dos tribunais desportivos e arbitrais moldam as regras e a evolução das normas que regulam o esporte.

A expectativa é que, através do diálogo, quaisquer divergências sejam resolvidas de forma amigável entre as partes, evitando-se assim indesejáveis litígios, que na maioria das vezes afetam a tão buscada estabilidade contratual dos jogadores.

O primeiro projeto já foi lançado e será buscar a criação de um contrato de trabalho padrão, a ser negociado entre as partes a nível europeu e aplicado em todos os países aplicáveis. Essa será uma grande oportunidade para que as partes atualizem as cláusulas contratuais com relação às recentes decisões emitidas pela Corte Arbitral do Esporte (dentre elas, a decisão do caso Webster).

Finalmente, importante ressaltar que essa é uma iniciativa aplicável apenas à União Européia, mas que pode, e deve, ser espelhada em outros continentes. Na América do Sul, sabemos que as fronteiras dos países são muito mais definidas do que na Europa. Porém programas dessa natureza poderiam ser aplicadas igualmente ao Brasil apenas (que já teria grande desafio se estabilizasse as relações laborais dentre os seus estados membros).

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Dois Mundos

Poucas coisas demonstram mais a diferença entre o futebol brasileiro e latino-americano do futebol europeu do que uma comparação entre a Copa América e a Eurocopa.

No papel, as duas são essencialmente a mesma coisa. Ambas são os únicos campeonatos de seleções oficiais da confederação continental em questão. Mas se você olhar direitinho, vai ver que as diferenças são gritantes. Quer dizer, talvez a olhada não precise nem ser direitinha. Basta ser uma olhada qualquer que você ainda assim vai conseguir ver as enormes diferenças.

Apesar dos dois serem torneios continentais, existe uma grande diferença entre eles. A Eurocopa assume essa posição como evento continental e abre as portas como um grande evento de confraternização da Europa. Era possível ver, dentro e fora dos estádios, torcedores de todos os países, da Suécia à Turquia, cantando, gritando, confraternizando, bebendo e brigando. Mais ou menos nessa ordem.

O próprio evento em si foi muito bacana. Simples, mas bonito. Poucos novos estádios foram construídos para esse evento, as cerimônias, tirando o Enrique Iglesias, foram bacanas, e o evento veio e foi de forma tranqüila.

Já a Copa América é um evento continental no nome, mas de abrangência local. Difícil supor que muitas pessoas viajaram para a Venezuela para acompanhar a sua seleção. O mais provável é que boa parte da torcida presente nos estádios fosse composta por venezuelanos e por expatriados residentes por aquelas bandas. O evento é das Américas, mas o uso é quase exclusivamente venezuelano.

Lógico que isso tem mais a ver com a estrutura dos continentes em questão do que propriamente com qualquer forma de competência organizacional. Afinal, não dá pra comparar uma viagem de Portugal à Áustria a uma viagem entre Uruguai e Venezuela.

E é aí, bem aí, que está o grande porquê da utilização dos dois eventos como forma de comparação entre a distância do futebol dos dois continentes. Não dá para comparar o futebol latino-americano com o futebol europeu. É impossível. Esqueça o ‘Ah, mas na Europa é assim ou assado’. E daí? São coisas completamente diferentes, não tem nem como chegar perto.

E isso se dá menos pela incompetência gerencial do que com a estrutura dos dois mercados. Tudo bem que uma coisa tem a ver com a outra, mas, de qualquer forma, se os organizadores da Eurocopa viessem trabalhar na Copa América, dificilmente ela ficaria mais atraente.

Até porque você não viu nenhuma seleção da Eurocopa jogando com o time reserva, viu?

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O peso do negócio

Na semana passada abordamos aqui neste espaço a influência que a notícia tem no cotidiano das pessoas, o quanto a mídia consegue influenciar os atos das pessoas a partir do retrato de acontecimentos do dia-a-dia. E não é que, durante a semana, temos um claro exemplo de como, quando o assunto é futebol, o negócio é capaz de atropelar a notícia dentro de uma grande emissora de televisão ou de rádio.

Quarta-feira, dia 25 de junho, LDU e Fluminense se enfrentaram na primeira final da Copa Libertadores. Em toda a programação das emissoras de TV e de rádio, quase só se falou nisso. Os jornais de São Paulo estamparam o tricolor das Laranjeiras em sua capa nos dois dias que antecederam a decisão. As rádios dedicaram parte de sua programação para falar do Flu. As Tvs mostravam imagens do treino, discutiam a tática adequada para jogar na cidade de Quito, etc.

Às 21h50 de quarta-feira, porém, o torcedor em São Paulo teve uma, digamos assim, surpresa ao ligar a TV ou sintonizar o rádio e deparar com Corinthians x Bragantino pela oitava rodada do Campeonato Brasileiro da Série B.

Bairrismo? Imprensa corintiana? Interesse de patrocinadores?

Nenhuma das alternativas anteriores. Pura e simplesmente o negócio falou mais alto que a notícia entre as emissoras que precisam da transmissão ao vivo para ter grandes anunciantes.

No contrato da Globo com seus patrocinadores do futebol, ou das rádios com seus anunciantes, existe um comprometimento para que o índice de audiência nos jogos transmitidos fique numa média pelo menos igual à dos últimos anos. Ou seja, quando o cotista da TV paga, por exemplo, mais de R$ 40 milhões para ser o anunciante do futebol da Globo, ele sabe que tem de haver um número x de televisores ligados para que o dinheiro valha a pena.

E, na cidade de São Paulo, o que é mais lógico? Assistir a um jogo do Fluminense, time que tem a 12ª maior torcida do Brasil ou a uma partida, mesmo que da Série B, do Corinthians, detentor da segunda maior massa de torcedores do país e da número 1 da cidade?

Não à toa, a média de audiência da partida corintiana em São Paulo foi de 26 pontos no Ibope, número que segue a tendência dos últimos anos na emissora. Para piorar, com a Record no encalço pela liderança nesse horário, nada melhor do que manter a audiência em alta.

No dia seguinte aos jogos, jornais paulistas destacaram a vitória da LDU da mesma forma que, em 95, celebraram a conquista do Grêmio na Libertadores, ou em 97 e 98 os títulos continentais de Cruzeiro e Vasco, respectivamente. Na TV e nas rádios, o jornalismonão também não foi abandonado, tendo espaço a cobertura do tricolor carioca e de sua missão para esta quarta, dia 2.

O negócio da TV e da rádio é ter audiência. Para isso, precisam ter consciência de que, às vezes, aquilo que é notícia nem sempre é o melhor negócio. Nos jornais, em que o consumo da informação é parte do cotidiano das pessoas, o que é notícia geralmente está à frente do que é negócio…

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4-3-3, 11-0, 1-4-4-2 ou 1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1?

Comumente as plataformas de jogo são expressas numericamente por três linhas: a de defesa, a de meio-campo e a de ataque (nessa mesma ordem). Já discutimos aqui nesse espaço a utilização ou não do “1″ (que representaria o goleiro) e suas interessantes implicações táticas.

Pois bem, hoje discutiremos a “divisão” da defesa, meio-campo e ataque em três linhas quando se representa numericamente a plataforma de jogo e as implicações disso nas estratégias defensivas das equipes.

Verticalmente, ao analisarmos o campo de jogo notaremos que quanto menor o número de linhas que orientam a lógica de uma equipe, maior o espaço vertical “descoberto” presente no campo. Por outro lado, ao analisarmos a distribuição horizontal, notaremos que o número menor de linhas faz com que elas possam ficar mais longas, o que em “largura” pode promover uma melhor ocupação do espaço de jogo.

Ainda que pouco explorada, a ocupação do espaço através de um número maior de linhas pode proporcionar possibilidades ímpares.

Por exemplo, como distinguir, sob a perspectiva da lógica defensiva (através do entendimento das linhas) um 2-1-4-1-2 de um 3-4-3?


O 2-1-4-1-2, alcança maior profundidade na ocupação do espaço de jogo, respeitando e mantendo os princípios estruturais de defesa “compactação” e “bloco”. No entanto em largura (ocupação horizontal) abrange áreas menores e ocasiona, em tese, maior região descoberta.

Já o 3-4-3 no caso apresentado, ao contrário, abrange horizontalmente uma área maior, mas em profundidade, mantendo-se “bloco” e “compactação”, tem a ocupação limitada.

Isso reflete então, no 2-1-4-1-2, especialmente numa marcação zonal, perspectivas interessantes para equipes que iniciam sua marcação próximas a área de defesa adversária. Cada linha garante pelo menos 10 metros a mais em distribuição espacial vertical “compacta” e em “bloco”. Então em tese cinco linhas possibilitariam uma marcação logo na saída de bola, garantindo um bloco compacto de aproximadamente 45 metros (10 metros de distância entre cada linha mais 5 metros de área de flutuação).

No 3-4-3, o reflexo das três linhas se dá especialmente na possibilidade de uma ocupação compacta vertical de menor tamanho, logo de menor profundidade. Isso significa que para uma marcação em zona, “atacar” a bola, próximo a defesa adversária pode criar áreas desprotegidas em regiões atrás da última linha de defesa da equipe (a linha de zagueiros).

Obviamente quando observamos o princípio estrutural defensivo do “equilíbrio” (que se refere a ocupação horizontal das regiões distantes da bola) defender em três linhas pode garantir mais eficiência do que em cinco. Isso não significa que não é possível manter o equilíbrio horizontal com um número maior de linhas, bem como que não é possível marcar em profundidade ao se jogar com três.

Claro também que ao se optar por mais linhas pode-se potencializar possibilidades que esse tipo de opção pode proporcionar, apostando-se até em um desequilíbrio horizontal proposital para que se efetive alguma estratégia. Da mesma forma, abrir mão de uma boa ação defensiva vertical (em profundidade) também pode fazer parte da estratégia para potencializar determinadas ações e situações defensivas.

Então, preparar uma equipe sob a orientação de mais ou de menos linhas requisitará estratégias que tirem vantagens desta orientação e que minimizem, de certa forma, os riscos que se pode correr por haver um número maior ou menor dessas linhas.

Por fim, o mais importante é que haja entendimento da complexidade, variáveis e nuances que a plataforma de jogo e o número de linhas podem trazer para o cumprimento efetivo de um modelo de jogo.

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Caso FC Porto e sua importância para o direito desportivo

Caros amigos da Universidade do Fubebol,

Temos acompanhado o caso da participação do Porto na Liga dos Campeões, e verificado um desenrolar interessante, cujas peculiaridades gostaria de comentar na coluna de hoje.

Como já sabemos, o Porto havia sido condenado pela Federação Portuguesa de Futebol por corrupção e manipulação de resultados. O clube, que recebeu pena pecuniária relativamente branda e redução de pontos no campeonato português que não afetava sua posição de campeão nacional, decidiu por não recorrer da decisão.

Essa decisão acabou não sendo a melhor estratégia, uma vez que a UEFA, através de seu órgão disciplinar, decidiu afastar o clube da próxima edição da Liga dos Campeões, já que um dos critérios de admissibilidade da competição é o não envolvimento em casos dessa natureza.

Pois bem, os advogados o FC Porto, muito habilmente apresentaram defesa no órgão de “segunda instância” da UEFA em duas frentes de argumentação. A primeira delas, alegando que, por conta de recursos apresentados à Federação Portuguesa por outros clubes (igualmente envolvidos), a decisão contra o Porto não era definitiva e, portanto, não poderia ser considerada pela UEFA. Além disso, alegaram o princípio da retroatividade para esclarecer que, à época em que os fatos envolvendo o Porto ocorreran, não havia ainda o dispositivo em questão nos regulamentos da UEFA (art. 1.04,d do Regulamento da Liga dos Campeões).

Desta forma, a UEFA decidiu devolver o caso para a comissão disciplinar de primeira instância, que não vai decidir sobre o caso em tempo de hábil, o que devolve o FC Porto à competição em sua próxima edição.

Com esse desenrolar, pudemos tirar as duas conclusões abaixo, de grande relevância para o meio jurídico/desportivo na Europa. Elas dão indícios da tendência mundial para resolução de casos na esfera relacionados ao esporte na esfera administrativa:

  1. Independência dos órgãos judicias desportivos. Em recente declaração, o Presidente da UEFA não teve receios de dizer que é radicalmente contra a decisão tomada, e que, por ele, o FC Porto permaneceria fora da competição. Veja, isso demonstra que nem o Presidente da associação tem poder para manipular qualquer decisão para atender finalidades políticas ou de convicções próprias.
  2. A decisão tomada levou em consideração a estrita legalidade da aplicação das penalidades aos fatos ocorridos, dentro de uma lógica jurídica de interpretação e aplicação da regulação. A fundamentação jurídica mostrou-se fundamental para a decisão tomada.

Desta forma, concluímos que essa é uma tendência que temos verificado nos tempos atuais. Os órgãos desportivos buscam, ao máximo, o reconhecimento da justiça para tomar suas próprias decisões, com estrita observância dos princípios da especificidade do esporte, subsidiariedade e autonomia dos órgãos desportivos. E é através dessa independência e legalidade das decisões, que esse objetivo vai ficando cada vez mais próximo de ser alcançado na sua plenitude.

Todos nós sabemos que o mercado Europa infesta-se de jogadores de futebol brasileiros. E não é a toa. Nossos jogadores, via de regra, mostram no velho continente que possuem uma qualidade técnica que em média é muito superior aos demais jogadores, eu diria, do mundo (exceção talvez feita aos jogadores argentinos).

De toda forma, o que temos notado é que aqueles jogadores formados fora da Europa terão, a cada dia, maior dificuldade de atuar em clubes europeus.

A UEFA (confederação continental européia) tem grande preocupação com a formação de jogadores europeus (os chamados “home-grown players”). Para se ter uma idéia, durante a temporada 08/09 nas suas principais competições de clubes (Liga dos Campeões e Taça UEFA), adotar-se-á a regra de que, do limite de 25 jogadores que podem ser inscritos, 8 obrigatoriamente devem ser formados na Europa (entenda-se formado na Europa, em linhas gerais, o jogador que tenha sido registrado por um clube europeu durante 3 temporadas no período entre seus 15 e 21 anos).

O número parece pequeno de home-grown players, porém tem sido gradualmente elevado. Na temporada 06/07 era de 4. Na temporada 07/08, foi aumentado para 6.

A FIFA também apoia essa iniciativa. Vimos o Presidente Blatter dizer na cerimônia de entrega de da Copa de 14 ao Brasil: “jogadores brasileiros, fiquem em seu país.”. A grande justificativa é o receio de que se perda a identidade local dos clubes, com o exceço de jogadores que, por terem sido formados fora daquele país, não colaborariam para manter viva a cultura local através do futebol.

Interessante notar que essa regra nada diz respeito com relação a questão da cidadania do jogador. Ou seja, o que importa é que a quota mínima de jogadores tenha sido treinada na Europa, podendo ser de outra nacionalidade. Brasileiros poderia “driblar” essa regra caso tenham sido treinados pelo menos 3 temporadas nas suas formações em clubes europeus.

Para a questão da cidadania, lembramos que existe outra regra que limita o número de estrangeiros dentro das quatro linhas, dependendo da competição.

A questão intessante a se pensar é até que ponto chegará esse limite mínimo de home-grown players que vem crescendo a cada temporada? Poderá um dia haver uma tentativa de não se admitir jogadores formados no exterior? Além disso, questões de ordem legal saltam aos nossos olhos: não seria uma regra que limitaria o direito de trabalhar dos jogadores? E o direito a livre concorrência? Ou essas questões estariam cobertas pela especificidade do esporte?

E não seriam apenas os jogadores os prejudicados. Do outro lado da balança temos os clubes e as ligas européias, que obviamente querem times mais competitivos, e portanto recheados de estrangeiros de qualidade. Essas partes igualmente se oporiam a uma limitação exagerada de jogadores formados no exterior.

Até onde temos notícia, não há julgados nas Cortes européias sobre essa matéria. Mas, certamente, caso o limite mínimo de home-grown players continue a subir, muitos casos deverão surgir.

Vendo a questão pelo lado do mercado brasileiro, essa potencial confusão jurídica pode dar mais uma deixa para que os clubes e federações aproveitem para manter bons jogadores por maior período no Brasil, e assim colaborar para o desenvolvimento do futebol pátrio.

Mais do que isso, todas as partes envolvidas, incluindo os operadores do direito desportivo, terão maior segurança jurídica nas suas atividades.

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Ausência

Caro leitor,
 
Informamos que a coluna de Oliver Seitz não será publicada nesta quinta-feira e aproveitamos o espaço para pedir desculpas pelo infortúnio.
 
Esperamos que a situação seja normalizada na próxima semana e estamos trabalhando para isso.
 
Obrigado!
 
Equipe Cidade do Futebol
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O peso da notícia

Sempre fui contra a mania, criada pelos ingleses e rapidamente adotada pela Fifa, de sonegar imagens de vandalismo nos jogos de futebol. Desde a década de 90 que os britânicos não mostram pela televisão torcedores invadindo o campo, violência entre torcidas, etc.

 

Onde fica o jornalismo nessa história? Até que ponto é correto, para quem está em casa, não saber que o jogo está paralisado por uma invasão ao gramado? Ou, ainda, que ninguém consiga entender porque os jogadores estão mais preocupados com o que se passa na arquibancada do que com a bola?

 

Afinal, na final do Mundial de Clubes de 2005, o mundo inteiro mostrou as fotos do torcedor corintiano que invadiu o campo de um dos jogos do São Paulo e entregou a Rogério Ceni um bicho de pelúcia do personagem bambi. Menos quem estava em casa, acompanhando ao vivo a partida, conseguiu ver a provocação.

 

Nas últimas semanas, porém, finalmente consegui entender o motivo de tamanha precaução dos ingleses.

 

Desde o início do ano que o Brasil tem acompanhado uma série de notícias sobre pessoas que resolvem andar com seus carros pela contramão de uma estrada ou avenida muito movimentada. Não lembro ao certo o número, mas lembro de ter lido pelo menos umas seis notícias diferentes com o mesmo enredo.

 

Recentemente, foi a vez de o relato da fuga das amigas adolescentes em direção a Buenos Aires ganhar os jornais. Mesmo com o caso resolvido, poucos dias depois mais um adolescente sumiu com a idéia de desbravar algum lugar distante.

 

E como fica o papel do jornalista nessa história? É correto divulgar a notícia? Sem dúvida que é. Mas será que é válido publicar a matéria e, indiretamente, encorajar outros a tomarem o mesmo tipo de atitude?

 

É isso que os ingleses decidiram abolir, em nome do futebol-espetáculo. Mostrar ao mundo um jogo limpo, sem invasões de campo, sem duelos entre torcedores, com o foco apenas na qualidade do espetáculo, na festa da torcida, no grito de gol do craque.

 

Por mais que exista razão jornalística, o peso da notícia deve ser considerado. Afinal, antes de ser jornalista, a pessoa é um ser humano. Deve estar sempre consciente do que é fato jornalístico e do que deve ser também um ato cidadão.


E o futebol com isso? O crescimento da modalidade como negócio passa pela profissionalização da exposição do esporte. E, entre uma bela jogada ou uma pisada de bola da torcida, não há dúvida do que é melhor para o negócio…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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4-4-2 x 1-4-4-2 e o jogo de 'chutões'

No futebol, é comum e normal representar a plataforma de jogo (leia-se esquema tático) através de uma seqüência de três números. Da defesa para o ataque são então representados o 4-4-2, o 3-5-2, o 4-3-3 dentre tantos outros.
 
O goleiro não aparece, sob o típico argumento de que não é preciso representá-lo (porque ele vai ser o “1” que sempre estará ali).
 
Pois bem. Faz muito tempo que a função típica do goleiro em uma partida de futebol é defender a meta com qualquer parte do corpo; evitar o gol. Não tão óbvio quanto parece, esse pensamento (de que a função do goleiro é “defender a bola”) acaba por desencadear avanços e retrocessos táticos importantes na forma de jogar das equipes de futebol.
 
Basta assistir a alguns jogos da Uefa Euro 2008 para notarmos diferentes propostas trazidas pelas equipes para “o jogar” e o quanto parte dessas propostas estão atreladas ao goleiro.
 
Para trazer mais clareza a minha explanação vou reproduzir parte de uma pergunta feita a mim por um correspondente holandês depois de assistir a um jogo do Campeonato Paulista juvenil (sub-17):
 
“Em muitos momentos o jogo ficou feio de assistir. Muitos chutões por parte das duas equipes. Daqui alguns anos esses jogadores estarão em uma equipe profissional. Não é preocupante que os jogadores que estão sendo formados na base não consigam um jogo de toques de bola e precisem usar o tempo todo chutões para se livrar do perigo”?
 
Claro!
 
Que bom ouvir uma pergunta dessas de alguém que se relaciona com a imprensa esportiva (porque aqui no Brasil na grande maioria das vezes o nível dos comentários e perguntas dos “especialistas esportivos” na TV, no jornal, no rádio ou na internet são… bom, deixa “pra lá”).
 
Grandes equipes européias de sucesso estão a utilizar, já há algum tempo, o goleiro como 11º jogador de linha da equipe. E aí seja para controlar o jogo, defender com bola ou tirá-la da pressão em uma jogada qualquer, as alternativas e possibilidades se enriquecem bastante.
 
Com as seleções nacionais da Europa, a mesma coisa. Na Uefa Euro 2008 temos equipes que incorporaram em suas estratégias para o jogar a ação efetiva do goleiro como um jogador que além de ser bom com as mãos para defender é eficiente com os pés para participar da construção do jogo.
 
Como nossos “grandes comentaristas esportivos” devem gostar do jogo de chutões e devem estar enraizados no conceito de que o goleiro está ali para defender o gol e ponto final, acabam por se “desesperar” quando a bola é recuada para o goleiro. Como são formadores de opinião, não é incomum perceber o “frisson” das grandes massas e torcidas quando ocorre o fato e se está a assistir ao jogo ao vivo.
 
É claro que o chutão às vezes pode ser necessário. Se a melhor (mais inteligente, efetiva e eficaz) solução para uma situação do jogo for um chutão, é claro que ele precisa ocorrer. Mas garanto que na maioria das vezes ele não é necessário (principalmente no Brasil, onde o “pressing” é um conceito distante, e a “pressão” em grande parte das vezes é desorganizada e não-coletiva).
 
Porém, muitas vezes a sensibilidade de quem assiste ao jogo não dá conta de perceber essas coisas. E aí, reproduz-se o que sempre se reproduziu, pensa-se o que sempre se pensou.
 
E o que vale para o goleiro, vale para os zagueiros, laterais, volantes ou qualquer outro jogador pressionado em seu campo de defesa.
 
O problema é que talvez no Brasil a dificuldade para construir essa idéia se solidifique no ciclo vicioso criado pela disseminação de uma leitura sobre o jogo que muitas vezes se distancia do próprio jogo. Então, jovens jogadores nas categorias de base, contaminados pelo ciclo e gerenciados por treinadores já “viciados”, não conseguem se desprender do doente processo.
 
Investir em bons trabalhos, com pessoas realmente competentes é possível.
A partida que o correspondente holandês assistiu, felizmente foi atípica, pelo menos para uma das equipes (porque o chutão não é uma solução padrão para ela).
 
Porém, talvez seja uma das poucas remando contra a maré; e remar contra a maré é para os fortes (e esses não são muitos)!
 
Que o processo mude, e rápido, porque pelo menos para nós brasileiros se isso não acontecer, não estará longe o tempo em que ficaremos fora de nossa primeira Copa do Mundo (e longe ficará o tempo que entenderemos porque a França nos venceu em 1988 e 2006).
 
Por fim, que um dia o 4-4-2 e o 1-4-4-2 (ou o 4-3-3 e o 1-4-3-3, ou o 3-5-2 e o 1-3-5-2, etc. e tal) tenham realmente significados práticos diferentes, e que os nossos formadores de opinião da imprensa especializada, em geral, possam ver o jogo mais próximo do que ele realmente é.
 
Au revoir…

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O futebol e a proteção de menores

Muitos clubes do Brasil e do mundo reclamam reiteradamente a perda de seus jogadores das categorias de base, sem que tenham em contrapartida uma compensação justa. Essa tem sido uma constante no futebol brasileiro sendo, de fato, um pleito legítimo.

Desde a sentença do caso Bosman na Europa, e sua repercussão no resto do mundo (no Brasil com a extinção do instituto do passe), a transferência hostil, assim considerada a transferência sem o consentimento do clube de origem, principalmente de jovens jogadores, tornou-se muito comum.

Esta coluna pretende abordar essa questão, porém não do ponto de vista dos clubes. Pretendemos aqui tratar de intermediários que abusam de jovens atletas promovendo transferências prematuras na busca irrestrita pelo melhor negócio, sem observância da questão humanitária necessariamente presente.

Esse ambiente pós-Bosman fez com que esse mercado dos agentes de futebol fosse desenvolvido com grande agressividade.

Gostaríamos de esclarecer que existem no meio do futebol excelentes agentes, sem os quais muitos jogadores não teriam chegado onde chegaram. Os agentes são responsáveis, via de regra, pela tranqüilidade do jogador fora dos campos, para que ele possa desenvolver seu trabalho da melhor maneira possível.

Porém, sabemos que muitos oportunistas passaram a realizar grandes lucros com a indústria da transferência de jogadores, sem qualquer ética. Basta vermos os registros da CBF para perceber que muitos jogadores jovens, que poderiam estar atuando em clubes nacionais em prol do nosso campeonato pátrio, arriscam suas carreiras em mercados em desenvolvimento, ou subdesenvolvidos (sob o ponto de vista futebolístico). Esses atletas acabam muitas vezes abandonados por seus “agentes”, e vêem transformar seus sonhos em tristes ilusões.

E a cada ano, esses jogadores transferidos são cada vez mais jovens.

Diversas soluções já foram apresentadas em todos os níveis para tentar-se erradicar o problema. Regras para limitar transferências de menores, normas para obrigar o desenvolvimento de categorias de base, home-grown player, e mesmo a regra do 6+5 da Fifa.

Sob o prisma analisado, uma das soluções mais importantes é a regulação da atuação de agentes de futebol. Porém a aplicação dessa solução não é tão simples assim. Existe grande pressão para que a atividade não tenha qualquer restrição. Atualmente, por exemplo, há um pleito judicial de grande relevância por parte de diversos agentes na Bélgica para que as regras desportivas que limitam suas atuações fossem desconsideradas. A questão deve ser encarada com cuidado.

A regulação da atividade pela Fifa e por outros órgãos desportivos, em nossa opinião, é legítima. Não podemos simplesmente aplicar a lei comum a esses agentes de futebol, da mesma forma que ela é aplicada a agentes em outros ramos de atividade. Estamos a tratar de contratos envolvendo seres humanos (e não mercadorias). E, no caso específico do futebol, quanto mais jovem for o atleta, melhor pode ser o negócio, o que acaba promovendo esse abuso sobre jovens atletas.

Por essa razão, entendemos que os agentes de futebol devem ser controlados e que esse controle deva ser levado em consideração pelos legisladores, no Brasil e no exterior, para a definição de especificidade do esporte e da amplitude de aplicação da lei ao esporte.

Só desta maneira teremos dentre o rol de agentes de futebol, apenas agentes de futebol.

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