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Rasgando a declaração dos direitos da criança

João Batista Freire & Rafael Castellani

Assistimos recentemente a um vídeo em que alguns pais vaiavam um garotinho de uns seis anos, aproximadamente, porque ele, brincando de ser goleiro durante um jogo entre crianças, tomou um gol. Cenas como essa, lamentavelmente, são mais frequentes do que imaginamos.   

No decorrer de nossa trajetória profissional, de décadas, como professores de Educação Física, lidando com a formação, acadêmica e cidadã, de jovens na Universidade, de crianças em escolas da educação básica e escolas de esporte, de jovens esportistas e com treinamento de alto rendimento em diversas modalidades, principalmente no futebol, cansamos de assistir cenas semelhantes às do vídeo em que o garotinho é vaiado. São cenas de humilhação e de abuso.

Crianças são frequentemente abusadas no esporte, ou porque são humilhadas, ou porque são submetidas a treinamentos exaustivos e de especialização precocemente, ou porque passam a ser responsáveis, desde muito cedo, pelo sustento da família, ou porque são agredidas verbalmente por pais, professores, técnicos, torcida.

São inúmeras as situações presenciadas por nós que denotam o quão abusiva e humilhante é, ou pode ser, a prática esportiva realizada por crianças e jovens: O que pensar quando um pai pula o alambrado e invade o campo para bater em uma criança que tinha feito uma falta no filho dele?  Por sorte esse pai foi contido a tempo por algumas pessoas com juízo, mas a violência já estava manifestada. Ou então, outro fato muito frequente, vaias e xingamentos de alguns pais contra o professor das crianças ou até contra as próprias crianças da equipe adversária.

Em 24 de setembro de 1990 o Brasil ratificou a Convenção Sobre os Direitos da Criança, que foi adotada pela Assembleia Geral da ONU em 20 de novembro de 1989. No artigo 31 dessa convenção, lê-se que “Os Estados Partes reconhecem o direito da criança ao descanso e ao lazer, ao divertimento e às atividades recreativas próprias da idade, bem como à livre participação na vida cultural e artística.” (O Brasil é um Estado Parte). No Artigo 32, a Convenção declara que “Os Estados Partes reconhecem o direito da criança de ser protegida contra a exploração econômica e contra a realização de qualquer trabalho que possa ser perigoso ou interferir em sua educação, ou que seja prejudicial para sua saúde ou para seu desenvolvimento físico, mental, espiritual, moral ou social.”

Em nosso país, ratificamos solenemente a convenção, mas, na prática, pouco se fez. Em 1990 criamos no Brasil o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e, apesar da sua importância e do avanço que significou para a proteção de crianças e adolescentes, ainda são diariamente desrespeitados, passam fome, morrem de doenças que não deveriam mais existir, recebem educação de péssima qualidade, meninos e meninas (principalmente) são violentadas dentro das próprias famílias. Tivemos avanços, sem dúvidas, mas o prejuízo ainda é gigantesco. Já não se permite mais o trabalho antes dos 16 anos (embora ele exista em alguns lugares), mas, no esporte, é diferente. No futebol, por exemplo, uma criança de 14 anos, ou menos, pode ser submetida a treinamentos quase idênticos aos que realizam atletas profissionais adultos. Para dar conta das inúmeras sessões de treinamentos e competições, perdem dias, semanas e até meses de aulas. Crianças de 14 anos deixam suas residências, seus familiares e amigos para morar em alojamentos dos clubes com a missão de representar aqueles poucos (cerca de 3%) que conseguem a profissionalização no futebol. Antes mesmo dos 14 anos, algumas crianças arcam com a responsabilidade de garantir o sustento da família e alimentam a esperança de ascensão social. Crianças que possuem o sonho de tornar-se jogador ou jogadora profissional de futebol, podem sofrer abusos (inclusive, sexuais) no ambiente nem sempre confiável e seguro do futebol. Geralmente silenciam sua dor e escondem seu sofrimento com medo de terem que interromper esse sonho ou frustrarem seus familiares. 

Um futebol que foi forjado em brincadeiras de rua, nos clubes proíbe a brincadeira, em nítido desrespeito à convenção da ONU ratificada pelo Brasil. Cada vez mais cedo ocorre a especialização esportiva. Já existe a categoria de crianças de 6 anos de idade (sub 7). Daqui a pouco sub-6, 5, 4… aonde chegaremos? Há projetos em análise que diminuem para 12 anos a idade mínima para uma criança poder alojar-se em clubes. Contratos são feitos clandestinamente com as famílias para garantir aos agentes a exclusividade dos negócios, caso a criança se torne jogadora habilidosa e tenha seu potencial reconhecido no mundo do futebol.

No futebol brasileiro, criança não pode ser criança. Aquilo que foi escrito na Convenção Sobre os Direitos da Criança da ONU foi rasgado e jogado no lixo. Deveria ser um caso para o Ministério Público (MP), Conselho Tutelar, Unicef, não só no futebol, mas em qualquer modalidade esportiva. Com raras exceções, sobretudo a partir de denúncias grandes/graves e de viés jornalístico, MP, Conselho Tutelar e demais instâncias responsáveis por garantir a segurança e direitos das crianças e adolescentes pouco têm conseguido fazer.               

Sem contar a estupidez dos métodos. Professores e treinadores, alimentados pelo ego e orgulho de “revelar” grandes talentos, impulsionados por alguns agentes inescrupulosos, adestram pequenas crianças para que alimentem os lucros dos gananciosos que, sem qualquer pudor, arrancam o couro dos pequenos e pequenas, sugam-lhes as entranhas em busca do ouro que elas podem representar alguns anos adiante. É preciso que tratemos as crianças como crianças. Que devolvamos o jogo a elas. Que possam voltar a brincar e se divertir com o futebol e, acima de tudo, que sejam respeitadas e tenham os seus direitos garantidos.

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A “pedagogia da fila” em escolas de futebol

Rafael Castellani & João Batista Freire

Cansamo-nos de ler reportagens, artigos e comentários sobre o fim do futebol brasileiro, aquele futebol que conquistou o mundo por cinco vezes e em tantas outras o encantou, e que se parecia com os jogos de bola nas ruas e campinhos brasileiros. As pessoas falam sobre isso como se não houvesse uma razão para o fim do futebol que tanto fascinou o mundo todo. E quando essas pessoas se tornam responsáveis por ensinar futebol às crianças e adolescentes, quer seja nas chamadas Escolas de Futebol, projetos sociais ou nas equipes de base dos clubes profissionais, não sabem ou não querem que seus alunos aprendam a jogar futebol do mesmo modo como aprenderam nossos maiores craques.

Uma rápida caminhada pelas ruas é suficiente para ver que em muitos dos espaços onde, anos atrás, as crianças brincavam de futebol, quais sejam, os campinhos de várzea, as praças e as próprias ruas, atualmente vê-se escolas de esporte, as famosas “escolinhas” de futebol, com seus campos de grama sintética e mensalidades, muitas vezes, exorbitantes. Onde havia crianças se divertindo, driblando umas às outras, fazendo tabelinhas e gols, hoje há crianças em fila, esperando sua vez de driblar cones.   

Já falamos em textos anteriores sobre a “A diferença entre driblar e fintar um cone e uma pessoa”. Nosso objetivo, neste texto, é abordar as frequentes filas nas quais crianças e jovens aguardam sua vez para tocar e brincar com a bola. É impensável para nós, que apreciamos um futebol lúdico, livre e criativo, que professores/treinadores ainda tenham a fila como, praticamente, a base de sua pedagogia.

A fila, recurso pedagógico muito utilizado, inclusive, em escolas de educação formal, nos ciclos iniciais (Infantil e fundamental 1), é predominante em escolas de futebol e projetos sociais. Ao colocar seus alunos (e atletas) em filas, professores e treinadores buscam manter o controle sobre eles, garantindo uma determinada organização. Pretendem manter, a todo custo, a disciplina de seus alunos/atletas. Enquanto isso, crianças que vão às escolas de futebol para “brincar de bola”, aguardam ansiosamente o momento para tê-la aos seus pés, mesmo que por poucos segundos.   Há, certamente, ocasiões em que filas são necessárias. Reconhecemos que não é fácil manter uma disciplina mínima entre os alunos quando se trata de uma quantidade grande deles em uma turma. Porém, se for absolutamente necessário manter filas, que elas sejam formadas de modo a não tirar das crianças e jovens o tempo tão aguardado de contato com a bola. O que temos presenciado, principalmente, em escolas de futebol, é crianças, depois de aguardarem muitos minutos em uma fila, realizarem uma corrida controlando a bola e dando um chute ao gol para, em seguida, retornarem à fila. Isso é altamente frustrante e, sem dúvida, nada tem a ver com aprendizagem do futebol.

Imaginemos duas situações. Na primeira, uma professora tem uma turma de 30 alunos em uma escola de futebol e pretende, em uma determinada aula, ensinar condução de bola para as crianças, que possuem uma média de idade de dez anos, meninos e meninas. Ela decide organizá-los em uma fila única, atrás de uma sequência de oito cones. Ao sinal da professora, o primeiro aluno da fila sai correndo, contorna os cones e, ao final, recebe uma bola da professora, que ele deve chutar em direção a um gol vazio. Como se trata de trinta alunos, esse processo demorará, até que o último realize sua ação, cerca de oito minutos. A aula tem uma hora de duração. Se os alunos fizerem apenas esse exercício, cada um deles realizará a ação aproximadamente sete vezes.

Na segunda situação, a professora organiza os alunos em seis filas com cinco deles em cada uma. Três filas de frente para três gols defendidos por três goleiros e três filas à frente dos gols. As três filas de frente para os gols serão de alunos atacantes; as três à frente dos gols serão de defensores. Ao sinal da professora, os três primeiros atacantes das três filas sairão conduzindo uma bola. Os três primeiros defensores se colocarão à frente dos atacantes e, sem tirar-lhes a bola, atrapalharão a condução dos atacantes. Os atacantes conduzem a bola por cerca de dez metros, ao final dos quais levam a bola para a direita ou para a esquerda e finalizam ao gol. Nessa situação, os alunos cumprirão uma roda completa de exercícios em apenas um minuto, aproximadamente. Em seguida os papéis são trocados e os defensores viram atacantes. Em uma aula de 60 minutos repetiriam os movimentos cerca de 30 vezes. Portanto, não precisariam fazer somente esse exercício, bastaria que gastassem, nele, apenas vinte minutos, por exemplo.

A primeira situação é um exemplo de mau uso da fila. Os alunos nada aprendem de futebol, primeiro, pelo pequeno número de repetições, o que faz com que o contato do praticante com a bola seja muito reduzido. Em segundo lugar, é consenso na literatura do campo da pedagogia do esporte a necessidade de ruptura com práticas pedagógicas como a que serviu de exemplo, tipicamente de natureza analítica/tecnicista, que fragmentam o jogo, a partir do entendimento de que o ensino do futebol se dá a partir da soma das partes que compõem o jogo, ou seus fundamentos. E isso em nada ajuda o atleta a resolver os problemas que o jogo impõe. Por fim, aprenderão aquilo que fazem, isto é, a esperar em uma “interminável” fila e a contornar cones, objetos que, num jogo de bola, não existem. Fintar cones não tem relação alguma com fintar pessoas. Não se trata, portanto, de uma escola para ensinar futebol.

Na segunda situação, a professora continua usando a fila, mas apresenta um exemplo de bom uso dela. As crianças não deixam de brincar de jogar bola, fazem uma brincadeira que adoram fazer, que é driblar. Driblam pessoas e não cones. A condução da bola com um adversário atrapalhando faz sentido para o jogo de bola, e tudo isso é feito para atingir o objetivo de chutar ao gol. O número grande de repetições dessa ação favorece a aprendizagem, neste caso, de meios técnico-táticos (condução de bola, drible/finta, defesa e finalização) que atuam em conjunto, e os ajudam a lidar com situações típicas de um jogo de futebol. Em uma aula, repetir a ação 30 vezes é bem diferente de repeti-la 7 vezes. Além disso, quando não estão conduzindo bolas e atacando, os alunos estão defendendo. Sem contar a atuação dos goleiros. Realizar conduções de bola, defesas, fintas e finalizações na segunda situação faz muito mais sentido que realizar ações apenas para obedecer aos comandos da professora.

As filas podem ser usadas, embora possamos lançar mão de outras alternativas mais lúdicas. Porém, como buscamos discorrer neste texto, é possível recorrer às filas, desde que elas não prejudiquem a aprendizagem e tampouco diminuam o prazer e interesse da criança pelo jogo de bola.

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O que faz de uma competição esportiva um produto valorizado? A competitividade em jogo

Rafael Castellani e Lucas Alecrim

O título que trouxemos para esse texto não reflete, de fato, nosso maior interesse com as discussões e reflexões que pretendemos trazer. Afinal, nosso intuito maior não é saber ou discutir se o que faz de uma competição esportiva ser mais valorizada é a qualidade do gramado, a audiência (e, consequentemente, o que gera de direitos de transmissão), o “match day”, o número de torcedores nos estádios, o quanto ela gera de receitas aos clubes, patrocinadores e emissoras de televisão, dentre outros aspectos que, certamente, são muito importantes para fazer desta competição um produto valorizado. Nosso objetivo, é analisar um dos critérios que também nos ajuda a responder a essa questão, entretanto, que tem mais relação com os clubes/equipes e torcedores/espectadores do que com os “players” mais relacionados ao mercado: a competitividade entre as equipes.

Quão competitivo foi o Campeonato Brasileiro de Futebol Masculino, o Brasileirão 2023, em relação às principais competições do futebol europeu? Não há como discordar que, como produto, Bundesliga (Alemanha), La liga (Espanha), Premier League (Inglaterra), Serie A Tim (Itália) e Ligue 1 (França), estão muito à frente do Campeonato Brasileiro. No entanto, do ponto de vista da competitividade, nenhuma das competições citadas teve, ao menos nesta última temporada (nosso foco de análise), a quantidade de equipes disputando o título, buscando acesso às competições internacionais e lutando pela permanência na série principal, tal qual que vimos no Campeonato Brasileiro em 2023.

Nenhuma das grandes competições do futebol (as “big five” da Europa) europeu chegou às duas rodadas finais com CINCO equipes disputando o título. Nenhuma chegou à última rodada com três equipes “fugindo” da zona de rebaixamento. Longe disso!

E a competitividade¹ que estamos buscando valorizar neste texto não se restringe às chances de título. Afinal, em nenhuma dessas competições nomeadas de “Big Five”, tantos clubes “lutavam”/disputavam nas duas últimas rodadas para não serem rebaixados à série inferior. SEIS equipes ainda tinham chances reais de ficarem com as duas últimas vagas de clubes rebaixados na penúltima rodada. Na última rodada, tendo 3 clubes já matematicamente rebaixados, outros três clubes ainda tentavam garantir a permanência na série A.

¹ Apesar de não ser nosso foco para este texto, poderíamos também valorizar a competitividade do Brasileirão 2023 a partir do equilíbrio entre as equipes nas partidas. Ter equipes campeãs do Campeonato Brasileiro lutando para não serem rebaixadas. O campeão Palmeiras, inclusive, perdeu pontos para equipes da “zona de baixo” da tabela.

O gráfico abaixo nos ajuda a visualizar esses dados e entender esse cenário que faz do Campeonato Brasileiro de 2023 o mais competitivo mundialmente na atual temporada.

Ao pensarmos em título, as únicas competições que mantinham até a penúltima rodada uma incerteza quanto à equipe que seria campeã foram a alemã e a inglesa. Na Bundesliga (Alemanha), o Borussia Dortmund e o Bayern de Munique travaram, como de costume, uma “batalha” recorrente pelo título. Esse duelo só foi finalizado na última rodada, na qual o time de Dortmund não aproveitou a chance jogando em casa contra o Mainz e permitiu que o Bayern de Munique sagrasse campeão e continuasse com sua hegemonia de onze anos em território germânico.

Já naquele que é considerado por grande parte dos especialistas o melhor campeonato de futebol do mundo, a Premier League, Arsenal e Manchester City duelaram acirradamente até a 37a rodada, na qual o time de Pep Guardiola garantiu o título da temporada 2022/23 ao vencer o clássico conta a equipe do Chelsea.

Mesmo o time inglês fazendo do último jogo da competição nacional de forma festiva, nas outras competições exemplificadas, os campeões já realizavam suas comemorações nas rodadas com maior antecedência: Barcelona – La Liga (Espanha), Napoli – Serie A Tim (Itália) e PSG – Ligue 1 (França). Para quem tem o hábito de acompanhar os principais campeonatos europeus, sabe que a última temporada do futebol europeu não fugiu muito do usual. Apenas na Itália que houve o time do Napoli regressando ao topo após mais de 20 anos.

Por sua vez, a competição brasileira tinha, com chances de títulos ao início da penúltima rodada, Palmeiras, Flamengo, Atlético Mineiro, Grêmio e a equipe que por mais rodadas esteve na liderança, chegando a abrir 13 pontos de vantagem sobre o segundo colocado, o Botafogo. Na última rodada, no entanto, ao empatar em casa com a equipe do Cruzeiro, restou ao Botafogo disputar com o Grêmio, em partida contra o Internacional, a última vaga de acesso direto à Libertadores da América.

Quem diria que o clube que possuía 13 pontos de vantagem para o segundo colocado iria sequer brigar pelo título na última rodada e ter que “se contentar” em ficar com a vaga indireta para a Taça Libertadores? Esse é o futebol. E é justamente por ser um jogo², e consequentemente imprevisível, que é tão apaixonante.

² João Batista Freire e Rafael Castellani, um dos autores deste escrito, publicaram texto recentemente sobre esse assunto, intitulado “Os falsos profetas no futebol”. Texto disponível em: https://universidadedofutebol.com.br/2023/11/22/os-falsos-profetas-do-futebol/

Na parte de baixo da tabela, o gráfico acima nos mostra que na penúltima rodada das competições exemplificadas, muitas equipes já estavam matematicamente destinadas às séries inferiores de suas respectivas competições. Por exemplo, no Brasileirão 2023, mesmo tendo três times já rebaixados antes da última rodada, três equipes disputaram seu último jogo do campeonato perspectivando não ocupar essa última vaga em aberto. Em relação aos “big five”, a exceção é a La Liga (Espanha) que, mesmo tendo duas equipes já rebaixadas ao término da penúltima rodada (Espanyol e Elche), seis equipes tiveram chances verdadeiras de irem para a divisão inferior do torneio: Valladolid, Celta de Vigo, Almería, Getafe, Valencia e Cádiz.

A competitividade do Brasileirão 2023 foi tamanha que, se não bastasse a inesperada perda do título por parte da equipe do Botafogo que chegou a abrir 13 pontos de vantagem para o segundo colocado na virada do turno, ainda corria na última rodada o risco de ficar fora da “zona direta de libertadores”, algo concretizado ao seu término, afinal, disputava com o Grêmio a última vaga de acesso direto à próxima edição da competição sul-americana.

Esperamos que a próxima temporada do Campeonato Brasileiro possa ser tão competitiva quanto a de 2023, sem deixar de continuar evoluindo para que se torne, também, um produto melhor para clubes, patrocinadores e investidores e, principalmente, outro grande desafio, mais assegurado como direito de acesso ao esporte e lazer para os torcedores, independente da classe social.

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A importância de uma curadoria de cultura institucional nos clubes de futebol

Crédito imagem: Vitor Silva/Botafogo

Não é de hoje que percebemos o desnivelamento técnico e estrutural entre o futebol brasileiro e o europeu. Algumas iniciativas possíveis e promissoras, como a Liga Brasileira de Clubes (Libra) e as Sociedades Anônimas do Futebol (SAF´s), nos mostram possibilidades interessantes para tornar este esporte um produto mais rentável e de melhor qualidade aos olhos do público local e global. Entretanto, o cenário colocado para estas iniciativas se consumarem ainda se encontra nebuloso: para a Libra, é necessário criar um consenso de grupo e, os clubes de maior torcida são resistentes em perder certos benefícios que possuem no atual modelo de cotas televisivas, por exemplo; e, em relação à SAF, grande parte dos clubes interessados em abandonar o modelo associativo estão com suas finanças comprometidas e com estruturas desportivas deficitárias, afastando a possibilidade de negociações vantajosas junto aos investidores.

Quando colocamos uma lupa sobre muitos clubes brasileiros, também é possível perceber uma característica oposta ao que se observa no mercado europeu e que compromete o desenvolvimento institucional: a grande rotatividade de profissionais nos mais diversos setores, tanto os ligados ao esporte em si, quanto à sua administração. Além da falta de continuidade nos projetos, essa característica impacta diretamente na reprodução da cultura interna da instituição.

A cultura organizacional é a representação do modus operandi e da imagem compartilhada por uma instituição e pode ser percebida tanto pelo seu público interno (colaboradores), quanto externo (clientes, fornecedores, imprensa, parceiros e a sociedade como um todo). Por exemplo, quando um colaborador é contratado, ele traz experiências de outros lugares que atuou e pode levar um tempo até que possa compreender, se adaptar e reproduzir a cultura da sua atual instituição. Já, quando ocorre uma demissão em massa em um setor, os novos colaboradores não terão uma referência de conduta clara e possivelmente criarão uma cultura paralela que pode se chocar com a cultura esperada.

Obviamente, qualquer cultura organizacional está sujeita a produzir aspectos positivos e negativos na forma como as pessoas se relacionam e desenvolvem as suas atividades. Por isso, é importante que a cultura seja a todo momento avaliada, para que os gestores possam perceber se ela está alinhada aos pressupostos presentes na missão, visão e valores da instituição.

Quando um novo presidente toma posse de um clube e a filosofia de trabalho é alterada, será necessário avaliar quais colaboradores se encaixam e quais terão dificuldades em atuar no novo cenário. Por outro lado, o clube que mantem a mesma lógica de trabalho perpassando por diferentes gestões, tende a ter uma cultura corporativa mais ajustada e marcante, gerando maior confiança e adaptabilidade dos novos colaboradores.

Para que a cultura corporativa seja um item de diferenciação positiva em um clube de futebol, diversas inciativas precisam ser adotadas, mas destacamos duas: 1) aumento do número de profissionais capacitados para atuar em todas as áreas do futebol, diminuindo a necessidade de substituição de talentos devido à oferta de propostas financeiras mais vantajosas de outros clubes; 2) o desenvolvimento de políticas de retenção e capacitação interna dos colaboradores, os quais tendem a criar maior vínculo e identidade com as cores e a história do clube em que atuam, servindo como guardiães de sua cultura organizacional.

Na verdade, muitos outros fatores e detalhes invisíveis compõem a cultura organizacional, tais como o acervo de valores, crenças, ética e atitudes que caracterizam uma instituição. Assim como a agulha de uma bússola é capaz de revelar uma direção, todas essas características auxiliam a direcionar as práticas de trabalho e a forma como as pessoas se relacionam, tanto interna quanto externamente à empresa.

Os clubes, principalmente àqueles cuja intenção é aderir à modalidade SAF, devem pensar na implantação de uma curadoria de cultura institucional, a fim de valorizar sua história e adaptá-la às prerrogativas impostas pelas mudanças constantes da tecnologia, da informação e das novas demandas do mercado. Do ponto de vista etimológico, curadoria significa o ato, processo ou efeito de curar, cuidar. A função desta curadoria nos clubes é subsidiar todos os seus setores na pesquisa, seleção e compartilhamento de informações que mantenham a espinha dorsal da instituição alinhada às suas tradições e aos seus objetivos. Sem esta estrutura, um investidor ao assumir o comando de um clube pode transformá-lo de tal forma que não será mais possível reconhecer sua tradição e características. Precisamos lembrar que o futebol e seus clubes não são feitos apenas de cifras financeiras, mas também, de traços culturais subjetivos que dão identidade à lugares e a milhares de pessoas.

As grandes empresas geralmente possuem manuais de conduta, os quais contém informações sobre a postura e atitudes esperadas dos seus colaboradores em diferentes situações cotidianas, envolvendo tanto o público interno quanto externo. Trata-se de um ótimo mecanismo de registro, porém, não servirá ao seu propósito se ficar armazenado dentro de gavetas ou se o colaborador contratado não possui o perfil esperado. Nesse sentido, de forma estratégica é possível selecionar e formar multiplicadores capazes de difundir entre os colegas a vivência de uma cultura institucional rica e pujante, capaz de integrar pessoas e equipes e estimular a criatividade e a ousadia responsável por tornar determinado clube único e admirável. Parafraseando o ditado romano antigo atribuído à Júlio César: “um clube de futebol não basta ser organizado, tem que parecer organizado”.

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A zona de conforto no futebol

Crédito imagem: Divulgação/Atlético MG

‘Mais difícil do que chegar ao topo é se manter nele’. Você já deve ter ouvido essa frase, que ao mesmo tempo que está batida se mostra extremamente verdadeira e contemporânea no futebol. 

A mobilização de um grupo de jogadores, de um staff técnico e até da parte diretiva de um clube é algo muito subliminar e que demanda inúmeros fatores para acontecer. Depois de um sucesso, então, se torna ainda mais refinado e de difícil obtenção. É da natureza humana entrar na zona de conforto depois de uma meta conquistada. A mesma meta, sendo no caso do futebol um mesmo campeonato, vencê-lo novamente, por exemplo, pode não motivar a todos. 

A maioria dos jogadores aqui no Brasil não aceitam as mesmas cobranças depois de um título. Os dirigentes acreditam que fazendo a mesma coisa que funcionou irão continuar sendo vencedores. Os próprios técnicos, em muitos casos, apostam no mesmo modelo e nas mesmas estratégias. E fazendo o que sempre foi feito não só é garantia de estagnação como o fracasso se torna uma natural consequência. Se você não está evoluindo, você está piorando!

Por isso defendo no Brasil a troca constante de uma parte do grupo de jogadores a cada temporada. Tanto após derrotas como após vitórias. Nossa cultura não permite ciclos muito longos. A simples troca de ambiente traz ao próprio jogador uma motivação diferente. São poucos aqueles que sustentam uma visão a médio prazo de refinamento do processo para continuar no topo. 

Repare que nos três clubes grandes da cidade de São Paulo em seus mais recentes ciclos vitoriosos isso aconteceu de maneira até natural. O São Paulo campeão mundial em 2005 era diferente do que concluiu o tricampeonato nacional em 2008. O Corinthians campeão brasileiro de 2017 passou por mudanças com relação ao time que conquistou o Mundial de 2012. O próprio Palmeiras atual foi se alterando paulatinamente desde o início dessas conquistas todas em 2015. A cultura vencedora por trás das vitórias é o que sustenta todo o processo. Por isso se faz necessária essa troca constante de personagens. Apego ao passado afasta, ao invés de aproximar, a conquista de novos troféus. 

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Rótulos no futebol: forma de jogar

Crédito Imagem: Kid Junior/SVM

Não há nem certo e nem errado no futebol. O objetivo do jogo é fazer mais gols do que o adversário. E a graça está nas inúmeras maneiras de se atingir isso. Convencionou-se, sobretudo no futebol brasileiro, de que o jogar bem e/ou bonito – coisas extremamente subjetivas e relativas – estão ligados intimamente a ter mais posse de bola do que o adversário. Aqui nem vou entrar na seara de pormenorizar a estatística fria da posse, relativizando em que parte do campo se encontra a maior porcentagem desse controle da bola. Porque o meu objetivo aqui é ponderar, por exemplo, de que é possível defender bem e de maneira elaborada fazendo da defesa a principal arma para cumprir a lógica do jogo e há, sim, muita beleza nisso. Nada de rótulos! Nada de pré-conceitos!

Até os termos proativo e reativo estão sendo usados para simplificar e até reduzir essa própria questão da posse de bola. Ser proativo no jogo de futebol não está necessariamente ligado a ficar mais tempo atacando. Uma equipe pode não ter a posse e mesmo assim ser extremamente proativa dominando o espaço de jogo e induzindo o adversário a atacar nas faixas do campo que lhe for mais conveniente.

Não podemos esquecer, também, a virtude que há em criar vantagens no jogo tirando o que cada jogador oferece de melhor. De nada adianta partir de uma ideia pré-concebida e desprezar a natureza de cada atleta. Até porque mesmo nos times mais endinheirados e também em seleções há algumas limitações e nunca haverá exatamente cem por cento de um grupo de mais de vinte jogadores programados para executar um suposto ideal de jogo do treinador em questão.

O caminho será sempre pensarmos em excelência e eficiência. Excelência em cumprir bem todas as fases do jogo. Eficiência para gastar a energia necessária (nem mais e nem menos) para resolver os problemas do jogo.  Ficarmos rotulando times ou de retranqueiros ou faceiros e coisas do gênero não enriquece a discussão. É mais ou menos como o famigerado “ganhou é bom, perdeu não serve”. A evolução do futebol brasileiro passa por avaliações mais criteriosas. Sem estereótipos. Sem falsas verdades absolutas.

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A força do treino no futebol

Crédito imagem: Leonardo Moreira/Fortaleza

Não quero repetir que contratar técnico estrangeiro não é garantia de sucesso. Se tivermos vinte treinadores de fora no Brasileirão, ainda assim, apenas um será campeão e quatro serão rebaixados. Já critiquei dirigentes que vão no modismo, tentando surfar na onda do sucesso de outros clubes, desprezando totalmente o contexto – não é porque deu certo trazer um técnico estrangeiro no time A que necessariamente o time B será vencedor usando do mesmo expediente.

Porém, observando atentamente declarações de jogadores e desses próprios técnicos, além de vídeos oficiais das atividades internas (o acesso da imprensa segue restrito por conta da pandemia), tem me chamado a atenção a valorização do treinamento por parte desses profissionais. É comum ouvirmos atletas falando que nunca aprenderam tantas coisas novas. Pronto! Aqui temos um diferencial!

A nossa cultura nunca valorizou o treino. Sempre aceitou-se por aqui treinar de qualquer jeito. Pular sessão de treino. Como se fosse algo normal. E não é! Não existe jogo de qualidade sem um treino de qualidade. Não é um estádio lotado que fará o jogador, por exemplo, ser intenso e agressivo nas ações com e sem a bola. Não adianta o treinador ficar a beira do campo berrando, cobrando isso. Tem que ser algo treinado! Tem que estar no inconsciente do atleta. Tem que ser comportamento! E sem uma metodologia muito clara e bem executada durante a semana nenhum princípio de jogo será transferido pro jogo de domingo.

Claro que há treinadores brasileiros que dominam conhecimentos avançadíssimos de treino. Mas falo aqui de uma cultura. Nossa “escola” de treinadores é super recente. Temos pouquíssima literatura nacional a respeito do tema. Afinal, no futebol “antigo” o bom treinador era aquele que não atrapalhava. Os nossos jogadores eram os melhores do mundo, então para que treinar?

O sucesso no futebol é constituído de inúmeras variáveis. O treino é uma delas. Se essa onda de profissionais estrangeiros servir para elevar o nível e a consciência a respeito do treinamento por aqui já terá sido de grande valia. Treinadores vão, mas a cultura fica. E pelo nível do nosso futebol hoje já deu pra perceber que as fórmulas do passado não funcionam no presente e muito menos funcionarão no futuro.

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Heróis e vilões no futebol

Crédito imagem: Valquir Aureliano/Portal Bem Paraná

Semana triste com casos de violência no futebol brasileiro. Absurdos que nem registrarei com pormenores para não dar ainda mais visibilidade aos agressores. O que quero, sim, é jogar luz em alguns elementos nocivos no enxergar o jogo de futebol que estão transformando os necessários apaixonados em alguns bandidos invasores, delinquentes que cometem atentado contra trabalhadores.

Claro que temos que colocar que o futebol está inserido na sociedade, que é um sistema maior. E quanto mais esse sistema for disfuncional mais seus elementos sofrerão. Já falamos que nossa sociedade tem suas violências e impunidades. Porém isso está se somando aos ingredientes impaciência e intolerância dos dias atuais, fazendo com a panela de pressão exploda mais rápido e mais forte! Hoje tudo tem que ser pra ontem. Ou no máximo para agora. Precisamos ter verdades absolutas em fração de segundos. A internet julga e cancela. Mesmo que em muitos casos não tenha solidez e embasamento para esses tais vereditos.  No futebol isso é transferido aos personagens. Técnicos, jogadores e até dirigentes são individualmente valorizados e ridicularizados na mesma proporção em função de alguns poucos resultados. Ignoramos contexto, processo e todo o ecossistema que sustenta, positiva e negativamente, o resultado. Ganhou é gênio. Perdeu não presta. 

Nada justifica a violência. Nada! E futebol não é um mundo à parte. O que é da esfera policial transcende as quatro linhas. Contudo nós do futebol podemos ter uma visão mais ampla, entendendo que dentro de um clube, por exemplo, é mais importante a criação sistêmica de uma cultura ou do sucesso ou do fracasso que permeia todo o processo. O impacto de um jogador e de um treinador é pequeno frente ao que o clube produz como um todo. Vou continuar propagando essas ideias, mesmo tendo muito pessimismo sobre a real assimilação disso da parte de quem pratica um atentado com bomba contra quem está exercendo um ofício…

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As redes sociais e a saúde emocional dos atletas

Crédito imagem: Reprodução/Instagram/José Mourinho

A “era da informação” é um termo utilizado para se referir a todo aparato de tecnologia digital responsável pela mediação das relações humanas e das interações entre máquinas, que são cada vez mais autônomas. O futebol recebeu grande influência dessa evolução tecnológica, tanto na questão técnica e preparação física de atletas quanto na mercadológica, passando a constituir um evento midiático de grande interesse econômico por parte dos seus agentes e patrocinadores.

A partir da década de 1980, um grande fluxo de atletas brasileiros passou a se dirigir à Europa, pois esse mercado era (e continua sendo) atrativo pela possibilidade de altos salários e pela qualidade de vida que oferece aos seus cidadãos. Quando isso acontecia, geralmente o atleta caia no esquecimento do torcedor local, salvo quando demonstrava um rendimento acima da média em seus clubes estrangeiros e acabava convocado para servir à Seleção Brasileira. Atualmente, porém, muitos atletas fazem questão de expor suas vidas privadas nas redes e, mesmo os mais discretos, podem ser expostos por veículos midiáticos especializados em “fofocas em troca de cliques”.

Além de toda a pressão emocional a que estão sujeitos para o alcance do alto rendimento esportivo, atletas também começam desde muito jovens a construir a necessidade de trabalhar a sua imagem pública por meio das redes sociais, buscando alcançar o maior número de seguidores possível. No geral, quanto mais populares, maiores as chances de obter ganhos com investimentos de marketing e patrocínio de marcas, o que pode, inclusive, facilitar a sua contratação pelos clubes. Mas, não é só isso: muitos atletas passaram a depender emocionalmente das redes e da aceitação social que seus seguidores lhes proporcionam. Essa realidade tem produzido nos últimos anos uma verdadeira epidemia de depressão e outros transtornos psíquicos e emocionais em um grande espectro de pessoas que utilizam a internet para a autopromoção, como youtubers, influencers, atores, cantores, atletas, entre outros.

Longe de querer encerrar o assunto e tirar conclusões precipitadas sobre esse cenário, é importante compreendermos que estamos diante de um fato econômico, social e cultural, com importantes desdobramentos na forma como vivemos em sociedade.  A vida moderna passa a ser estruturada em torno de objetivos provisórios, superficiais que são confundidos com os fins. O indivíduo vive pressionado, tenso, esperando algo que nunca parece chegar e, suas finalidades últimas se perdem no horizonte.

O dinheiro e uma noção ilógica de poder se colocam entre o homem e o que ele quer, como se fossem facilitadores, criando a ilusão de que tudo pode ser alcançado através deles. O consumo desenfreado estimula a ansiedade, reproduzindo a ilusão que aquilo que vai lhe dar trégua pode ser obtido facilmente na posse de uma determinada quantia ou posição social. As propagandas são exemplos que parecem ser bem apropriados: elas exploram o universo simbólico dos consumidores sempre de forma hiperbólica, pois talvez do contrário, sem este estímulo adicional, não obtivessem o resultado desejado. Nesse momento de concretização do que o escritor Guy Debord ainda no séc. XX chamou de “sociedade do espetáculo” e em que vários clubes adotam o modelo de Sociedade Anônima do Futebol (SAF), mais do que nunca, as relações de trabalho com os atletas serão mediadas a partir de índices e métricas de “investimento x lucratividade”. Por isso, os clubes formadores e a sociedade como um todo deverão estar muito atentos à educação emocional dos nossos jovens atletas, para que possam desenvolver uma base sólida capaz de equilibrar o rendimento esportivo e a satisfação perante a vida.

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Rótulos e modismos no futebol brasileiro

Crédito imagem: Divulgação/Al-Duhail

Dezembro de 2016. O Corinthians ainda sentia a ausência do técnico Tite, que alguns meses antes havia saído do clube para assumir a seleção brasileira. Sem treinador, o Corinthians não sabia muito bem que rumo tomar. Tentou alguns nomes, cada um com um perfil, ouviu alguns nãos, e de repente, muito de repente mesmo, sem qualquer tipo de convicção, com a temporada 2017 prestes a começar, pinçou o então auxiliar Fábio Carille. Uma solução barata, acessível e que faria os dirigentes ganharem tempo na busca por um nome de mais peso. 

Mas Carille tinha qualidade. Passou muito tempo aprendendo com Tite e Mano Menezes. A solidez defensiva que marcou a década vitoriosa do clube tinha o dedo de todos e Carille soube transportá-la ao seu trabalho autoral. Pelo tempo de casa, ele conhecia muito bem o clube, o ambiente interno e a torcida. E os resultados positivos passaram a acontecer. De quarta força a campeão Paulista e Brasileiro. 

Vendo o Corinthians vitorioso com essa “fórmula” os outros times passaram a copiá-la. Oras, se deu certo lá pode dar certo aqui, pensaram vários dirigentes pelo país. A moda então passou a ser apostar em técnicos jovens. Vindos da base ou auxiliares permanentes… só que pouca gente entendeu que o contexto vitorioso de Carille no Corinthians era extremamente único. Como todo contexto é: não dá para desprezar as relações internas e externas, a identidade, a história, as finanças, enfim, cada cenário é de uma forma e pede uma intervenção única. 

Como não se tratou de apenas uma temporada, em 2018 o campeão brasileiro foi o Palmeiras com o experiente Luis Felipe Scolari no comando. Adivinha qual foi a tendência? Exato, técnicos medalhões. Com vivência. Que conseguiam dominar o vestiário, coisa que os mais jovens não sabiam… veja que aí o exemplo de Carille em 2017 já não valia…

Nesta linha do tempo, está mais do que claro porque todo mundo quer em 2022 um técnico português… isso mesmo, porque as últimas três Libertadores foram vencidas por Abel Ferreira e Jorge Jesus. 

Enquanto não houver qualificação profissional, convicção, visão de médio e longo prazo e embasamento técnico em quem tem a caneta nas mãos, o futebol brasileiro seguirá refém de rótulos e modismos.